Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
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13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
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10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

Sob pretexto de "verdades econômicas", Trump usa tarifas para punir decisões judiciais do Brasil e ignora a lógica comercial
por
Victória Rodrigues
Maria Clara Palmeira
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13/08/2025 - 12h

 

Começou a valer na última quarta-feira (6) o tarifaço com taxas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. Itens como suco, polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves para uso civil, polpa de madeira, celulose, metais nobres e produtos de energia, foram isentos de taxas. Em contrapartida, café, frutas e carnes serão afetados pelo teto tarifário, 50%. 

O tarifaço anunciado por Donald Trump em abril propunha a taxação de países de acordo com o déficit da nação com os EUA. Para o Brasil estava previsto tarifas de 10% sobre os produtos exportados. No entanto, em julho deste ano, após a cúpula dos BRICS, Trump enviou uma carta ao chefe da nação brasileira aumentando o valor.

Em parte por causa dos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos norte-americanos, a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos.” escreveu o presidente.

Uma de suas alegações na carta, foi o julgamento do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). Segundo Trump, Bolsonaro está sofrendo “acusações criminais injustificadas”. Além disso, as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a rede social X também o motivou na imposição de taxas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, no domingo (3), que não tem a intenção de “provocar os Estados Unidos”, mas que o Brasil não deve ser visto como uma nação insignificante e não desistirá de usar moedas alternativas ao dólar.

Em entrevista a AGEMT, a internacionalista Julia Masquieto conta que será difícil implementar uma nova moeda. "Na prática é complicado efetivar essa nova moeda do BRICS, pois o dólar é usado há muito tempo em trocas comerciais. Mas acho que é uma oportunidade para os países do Brics intensificarem o comércio entre si, já que as barreiras são mais livres e não tão rígidas como o Trump está fazendo". 

A profissional comenta que o fortalecimento do bloco político exige uma ação global do mercado. "Com a instabilidade geopolítica que vivemos, é uma tendência que talvez os países procurem outros mercados, mas essa mudança exige um padrão global difícil de alcançar, entretanto, o BRICS poderia ter um alcance regional interessante." completa Julia. 

As taxas impostas pelo presidente americano não interferem diretamente sobre os preços no mercado do consumidor brasileiro. A princípio, pela baixa demanda para exportação, os preços cairão no mercado interno. No entanto, com uma menor demanda de venda externa, a produção também diminuirá, resultando em uma possível alta novamente. 

Para tentar minimizar os efeitos dessa medida, Lula se encontrou nesta segunda-feira (11) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado
Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado

O objetivo foi alinhar os últimos detalhes de um plano de contingência contra o tarifaço norte-americano, que será divulgado nesta quarta (13), em cerimônia de divulgação no Palácio do Planalto.

Esse pacote deve incluir linhas de crédito para empresas afetadas, o adiamento do pagamento de tributos federais por até dois meses e compras públicas de produtos perecíveis, como peixes, frutas e mel. A sobretaxa impacta cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA, mesmo assim, 694 produtos, como suco de laranja e aeronaves, continuam com tarifas reduzidas de 10%, estabelecida em abril

Sobreviventes relembram o ocorrido e alertam sobre o risco dos atuais conflitos no Oriente Médio e Europa.
por
Annanda Deusdará
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07/08/2025 - 12h

Em agosto de 1945, os Estados Unidos bombardearam as duas cidades. Em decorrência da explosão e dos efeitos da radiação, cerca de 200 mil pessoas morreram. A expectativa com os ataques era fazer o governo Japonês se render - único país do Eixo que faltava ser derrotado - e, desta forma, terminar a 2° Guerra Mundial que ocorria desde 1939. 

Nos dias 6 e 9 deste mês, o Japão realiza um evento anual em Hiroshima e Nagasaki com o objetivo de relembrar ao mundo dos horrores causados pelos ataques e da importância de evitar que esse tipo de tragédia volte a se repetir.

Com expectativa da participação de aproximadamente 180 países convidados, as celebrações contam com homenagens às vítimas, discursos contra o armamento nuclear e exigências para que o Estado reconheça as necessidades das vítimas sobreviventes e forneça os auxílios necessários.

 

Contexto dos bombardeios

Em 1942, o Japão atacou a base naval americana de Pearl Harbor, o que levou os EUA a entrarem na guerra como forma de retaliação. Três anos depois, no dia 26 de julho, o presidente Harry Truman exigiu a rendição do Japão, sob ameaça de “destruição total e imediata”. Apesar de não haver menção ao uso de bombas nucleares, o armamento fazia parte do Projeto Manhattan e integrava o arsenal dos EUA, que pretendia encerrar o conflito com o uso delas, se fosse necessário.

Como o presidente do Japão não se rendeu, Hiroshima, que até então tinha escapado dos bombardeios, foi atacada na manhã de 6 de agosto de 1945. A explosão gerou uma onda de calor de mais de 4.000 °C em um raio de aproximadamente 4,5 km ². Estimativas apresentam números que entre 50 mil e 100 mil mortos no mesmo dia e cerca de 60 mil edifícios destruídos.

No dia 9, foi a vez da cidade de Nagasaki, que não era o alvo inicial devido ao seu terreno montanhoso e a proximidade de um campo de prisioneiros aliados de guerra. Entretanto, devido ao mau tempo em Kokera, que impossibilitou a visão dos pilotos, foi feita uma mudança de planos. Apesar da explosão ter sido mais forte que em Hiroshima, as montanhas da cidade ajudaram a diminuir o impacto, que destruiu 7,7 km². Após ambos os ataques, o Imperador Hirohito declarou sua rendição em 15 de agosto de 1945. O documento que confirmava sua decisão foi assinado em 2 de setembro, encerrando assim a 2° Guerra Mundial.

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​​Estátuas e construções, após a bomba atingir a cidade de Nagasaki. Imagem: Foto/Getty Imagens

Em 1946, o Japão adotou a “Constituição da Paz”, na qual se comprometeu a não entrar em outras guerras e em 1967, embora não tenham sido os japoneses a lançar uma bomba nuclear sobre um território, o país implementou os “Princípios Não Nucleares”, que consistem na rejeição da posse e importação de armamentos nucleares.

Apesar de terminado o conflito, os sobreviventes viveram sequelas. A exposição à radiação causada pelas bombas ocasionou náuseas, vômitos, sangramento e queda de cabelo em milhares de pessoas.

Com o passar do tempo, algumas pessoas também tiveram problemas de longo prazo como catarata e diversos tipos de câncer. De acordo com pesquisas do Life Span Study (LSS), os casos de leucemia entre os moradores de ambas as cidades aumentaram significativamente após os ataques.

 

Como estão as cidades atualmente?

Diferente da cidade soviética de Chernobyl, que até hoje segue inabitável após o famoso acidente em sua usina nuclear, Hiroshima e Nagasaki foram reconstruídas e povoadas em segurança. Segundo John Luxat, especialista em segurança nuclear da Universidade McMaster, em entrevista à BBC Mundo, isso foi possível por dois fatores cruciais, o tipo de reação química que houve nos dois eventos e a altitude. 

A bomba atômica tem uma fissão de cadeia rápida entre os explosivos com o intuito de causar mais estragos, o que torna a vida útil da radiação menor, quando comparada à provocada pela usina de Chernobyl, que teve uma reação mais lenta. Outro fator foi a altura em que as bombas foram detonadas, o fato disso ter ocorrido acima da cidade, permitiu que as partículas de radiação se dissipassem na atmosfera, ao invés de penetrarem na terra, como ocorreu em Chernobyl, onde a explosão aconteceu no nível do solo. 

Sendo a 11ª cidade com mais moradores no Japão, Hiroshima tem 905,08 km² e uma população estimada em dois milhões de habitantes. A região é um polo industrial com empresas que vão desde indústrias pesadas, como a construção naval, até setores de ponta, como máquinas elétricas e peças eletrônicas. Desde 1947, o Sino da Paz toca no dia 6 de agosto às 8h15 (dia e horário em que a bomba estadunidense atingiu a cidade), uma cerimônia também é realizada em homenagem às vítimas nesta data. 

Em 1949, foi aprovada uma lei que permitia a construção de novas casas em Nagasaki, entretanto, alguns escombros foram deixados para lembrar o ocorrido. Em homenagem às vítimas, nos anos 1990, foi fundado o Museu da Bomba Atômica, que conta a história da Guerra e do uso de armas nucleares.

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Memorial da Paz de Hiroshima, o domo foi destruído pela bomba mas foi mantido desta forma como lembrança dos horrores do ataque. Imagem: Foto/ Pixabay

 

Memória e os desafios da reparação

Milhares de moradores de Hiroshima e Nagasaki que estavam nas cidades nos dias dos ataques dos EUA, não são reconhecidos de maneira oficial como vítimas dos bombardeios atômicos. O motivo é o Estado japonês só considerar quem estava próximo ao centro do impacto, onde a radiação foi mais intensa. A decisão negou e nega acesso gratuito a cuidados médicos para os demais afetados. 

A justificativa do governo é que essas pessoas que estavam em pontos mais afastados não sofreram sequelas e, por isso, não têm direito aos benefícios como as vítimas oficiais. A decisão é interpretada como discriminação geográfica.

De acordo com o prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, a argumentação não têm sentido, pois todas as pessoas que estavam em um raio de até 2 Km do ponto de impacto foram afetadas pela radiação. Durante as comemorações, as vítimas exigem que as autoridades corrijam este equívoco. A associação Hidankyo, que reúne os sobreviventes e recebeu o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2024, também fez esse apelo neste ano.

Toshiyuki Mimaki, copresidente da associação, comentou alertou sobre as guerras que estão ocorrendo em países com poder nuclear como Rússia e Israel e o perigo que isso representa. A comunidade pede que os países lutem pelo fim do armamento nuclear com base nos relatos das vítimas e fomentando e frequentando espaços como o do Memorial, que conta a história desse período histórico.

Os sobreviventes temem que, com a falta da lembrança viva dos horrores causados pelos ataques atômicos, o mundo volte a fazer uso desse tipo de armamento. O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, também endossou as preocupações do grupo e reiterou que a busca de potências mundiais para aumentar seu poder bélico em busca de amedrontar outros países e resolver conflitos, prejudica a conquista da paz mundial.

A cerimônia, que ocorreu nesta quarta-feira (6) em Hiroshima, contou com representantes de 120 países e regiões, segundo autoridades locais. No entanto, países com armamento nuclear como China e Paquistão não enviaram equipes.

Neste sábado (9), outra cerimônia aconteceu na cidade de Nagasaki com um grande número de países presentes, incluindo a Rússia, que não participava do encontro desde a invasão da Ucrânia, em 2022. 

A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
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16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Voluntários foram vítimas de sequestro ilegal em alto mar
por
Maria Mielli
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11/06/2025 - 12h

Nesta segunda-feira (9), o barco Madlen — batizado em homenagem a primeira e única mulher pescadora de Gaza — que levava Greta Thunberg, Thiago Ávila e outros ativistas ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade foi interceptado e sequestrado pelas forças israelenses.

Os voluntários, que tinham como missão romper o bloqueio de Israel a faixa de Gaza e transportar ajuda humanitária até o povo palestino, foram alvos de drones e soldados que impossibilitam a chegada de qualquer tipo de ajuda à região. 

“A conexão foi perdida no Madleen. O exército israelense abordou o navio” foi a última mensagem dos ativistas, em seu canal de comunicação no Telegram. 

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Bombardeio no dia 1 de junho em Gaza/ Foto: Jehad Alshrafi
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Terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv (Israel) e conta com o apoio da embaixada brasileira que assiste o caso de perto. O esperado era que ele e os demais ativistas fossem deportados para seus respectivos países, mas até o momento da publicação dessa matéria, Thiago e outros 8 voluntários, como a deputada franco-palestina Rima Hassan, seguem sob prisão política de Israel. Greta foi a única verdadeiramente deportada. Os demais se recusaram a assinar o termo proposto pelos israelenses e foram enviados para prisão em Givon. Thiago aderiu greve de fome e Rima foi enviada a confinamento solitário após escrever "Palestina livre" em parede da prisão. 

“Eles cometeram um ato ilegal nos sequestrando em águas internacionais e contra nossa vontade nos trazendo para Israel, nos mantendo no fundo do barco, não nos deixando sair e assim por diante. Mas essa não é a história real aqui. A verdadeira história é que há um genocídio acontecendo em Gaza e uma campanha de fome sistemática” afirma a ativista Greta, em vídeo divulgado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Em janeiro deste ano, o site de notícias BBC, apurou que, até então, o número de palestinos mortos passava da casa dos 46 mil. Fora a destruição local, no qual diversos hospitais e escolas, e seus respectivos frequentadores (crianças e profissionais da saúde) foram também vítimas dos ataques de Israel. 

A guerra que dura mais de 2 anos é marcada por ser uma das mais violentas e desonestas da história, repleta de crimes de guerra. Israel não ataca somente os palestinos, mas também aqueles que demonstram apoio e/ou estão tentando exercer seu trabalho, como é o caso da imprensa. Em abril deste ano, durante a madrugada, tendas de imprensa do hospital Nasser, localizado no sul da Faixa de Gaza, foram vítimas de bombardeios. O ataque assassinou os jornalistas Helmi al-Faqawi e Yusef al-Jazindar e deixou outros sete feridos. 

Fatma Hassona, fotojornalista palestina responsável por divulgar diversas barbáries, foi outra vítima do exército israelense e morreu ao lado de nove membros da sua família. O cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar No other land — que expõem as vivências dos palestinos — foi vítima de um sequestro que o deixou algemado por uma noite sendo torturado numa base militar, segundo o colega e diretor do filme, Yuval Abraham. 

O jornalista palestino Ahmed al-Naouq, em entrevista realizada no dia 3 de junho ao canal Piers Morgan Uncesored, afirmou: “Essa não é uma guerra religiosa. É uma guerra entre colonização e colonizados. Entre ocupantes e um povo sob ocupação”. Para o presidente da Fepal, Ualid Rabah, esse genocídio é a maior matança de crianças desde a Segunda Guerra. Ainda em recentes postagens, a federação emitiu uma nota oficial no Instagram: "Se a humanidade parou a Alemanha nazista e destruiu seu regime, é nosso dever histórico parar o Israel sionista e destruir seu regime".