jovem afegão relata os desafios de sua nova vida em São Paulo
por
Francisco Barreto
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29/04/2025 - 12h

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao Brasil. A maioria se estabeleceu no estado de São Paulo, especialmente na região metropolitana. Estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam que cerca de 28% residem na capital paulista e 20% em Guarulhos. Aos 20 anos, Habibullah Shariatee carrega em sua trajetória a força de quem precisou recomeçar a vida longe da terra natal. Natural do Afeganistão, ele chegou ao Brasil há três anos, fugindo da instabilidade provocada pela retomada do poder pelo grupo terrorista Talibã. Confira a entrevista exclusiva à AGEMT

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
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04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Monarca mais longeva da história do Reino Unido. Elizabeth II morreu aos 96 anos, após 70 anos de reinado.
por
Luan Leão
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08/09/2022 - 12h

"The London Bridge is down" - A ponte de Londres caiu, esse era o código definido para que o secretário pessoal da rainha Elizabeth II informasse a Primeira-Ministra do Reino Unido, Liz Truss, sobre o falecimento da monarca. Aos 96 anos, Elizabeth Alexandra Mary Windsor faleceu na tarde desta quinta-feira (08), em Balmoral, na Escócia.
 

Morre Elizabeth II
Arco-íris se formou na frente do Palácio de Buckingham, em Londres, nesta quinta-feira (08). Foto: Frank Augstein / AP

O comunicado oficial por parte do Palácio de Buckingham ocorreu por volta das 14h30 (horário de Brasília), 18h30, horário local de Londres, através de uma rede social. "A Rainha morreu pacificamente em Balmoral esta tarde. O rei e a rainha consorte permanecerão em Balmoral esta noite e retornarão a Londres amanhã", disse o anúncio.
 

Morre Elizabeth II
Rede BBC anunciou a morte com imagem da rainha ao som do hino do Reino Unido. Foto: Andre Couldrige / REUTERS

Os filhos de Elizabeth II, Charles, Anne, Andrew e Edward, estavam todos reunidos no Castelo de Balmoral desde o começo do dia, quando a assessoria do Palácio informou que a rainha estava sob supervisão médica, e que inspirava cuidados.

"Após uma avaliação nesta manhã, os médicos da rainha estão preocupados com a saúde da Sua Majestade e recomendaram que ela permaneça sob supervisão médica. A rainha permanece confortável e em Balmoral", dizia o comunicado. 

Com a morte de Elizabeth II, o príncipe Charles, o seu filho mais velho, e sucessor direto, assume como novo rei do Reino Unido e de mais 14 países. Em pronunciamento a imprensa, cerca de 30 minutos depois do anúncio do falecimento, a Primeira-Ministra Liz Truss informou que Charles usará o nome de Rei Charles III.

Charles Phillip Artur George será o monarca mais velho a tomar posse, aos 73 anos. Charles tem dois filhos, os príncipes William e Harry, fruto de seu casamento com a princesa Diana, cinco netos; George, Charlotte, Louis, Archie e Lilibet, e é casado com a agora rainha consorte, Camilla Parker. 

 

Morre Elizabeth II
Rei Charles III será o rei mais velho a assumir o trono. Foto: Ben Stansall / AFP

Em seu primeiro pronunciamento como Rei Charles III, ele lamentou a morte da mãe. "A morte da minha querida mãe, a majestade a rainha, é um momento de grande tristeza para mim e para os membros da minha família. Nós lamentamos profundamente o falecimento de uma querida soberana e uma mãe que foi muito amada. Eu sei que a perda dela será muito sentida no país, na Commomwealth e por incontáveis povos no mundo", disse o texto. 

Seguindo o protocolo de morte da monarca Elizabeth II e ascensão ao poder de Charles III, as bandeiras do Reino Unido estão a meio mastro e um anúncio de falecimento foi afixado no portão do Palácio de Buckingham. A BBC, rede estatal, suspendeu a programação e transmitirá apenas informações sobre a despedida da rainha. 

 

Morre Elizabeth II
Anúncio afixado na porta do Palácio de Holyroodhouse. Foto: Lee Smith / REUTERS

A transmissão do BBC News Special está sendo conduzida pelo âncora Huw Edwards. Desde o início da cobertura, ainda sem a confirmação da morte, o âncora, repórteres e analistas usam roupas em tons escuros e gravata preta - essa é uma etiqueta da rede para os momentos em que um membro da família real morre.

Candidato da esquerda é eleito com margem mínima e emplaca o primeiro governo de esquerda do país. Francia Márquez será a primeira vice-presidente negra do país.
por
Luan Leão
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20/06/2022 - 12h

No domingo (19), em uma eleição com cerca de 22 milhões de votos, a Colômbia escolheu o novo chefe do executivo. O economista e senador Gustavo Petro, de 62 anos, candidato da coalizão Pacto Histórico, foi o vencedor do pleito obtendo 50,50%; contra 47,16% do empresário Rodolfo Hernández, de 77 anos, candidato de ultradireita, da Liga de Governantes Anticorrupção. A diferença entre os dois candidatos foi de 717 mil votos.

O resultado apertado já era o que apontavam as pesquisas, as projeções, porém, mostravam leve favoritismo de Hernández, que saiu derrotado. Petro obteve 11.281.013 milhões de votos ante 10.580.412 de seu adversário. 

Na sua terceira vez concorrendo ao cargo, Petro liderou as pesquisas de intenção de voto durante boa parte da campanha, e foi o candidato mais votado do 1° turno, tendo 40,32% dos votos. Já Hernández, por sua vez, foi a surpresa desta eleição, desbancando a direita tradicional, grupo político do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe (2000-2010), que governou o país até este ano, tendo Iván Duque como representante.

A vitória de Gustavo Francisco Petro Urrego é um fato histórico para o bloco de esquerda no país, que pela primeira vez integrará o comando executivo nacional. O ex-prefeito da capital Bogotá e ex-integrante do grupo de guerrilheiros Movimento 19 de abril (M-19) governará o país de 2023 a 2026. Através das redes sociais o agora presidente eleito agradeceu os eleitores e disse que era o dia "das ruas e das praças". 

 

"Hoje é dia de festa para o povo. Que se festeje a primeira vitória popular. Que tantos sofrimentos se amorteçam na alegria que hoje inunda o coração da pátria. Essa vitória para Deus e para o povo e sua história. Hoje é o dia das ruas e das praças" - Gustavo Petro.

 

Outro ponto inédito que a disputa deste domingo (19) proporcionou foi a eleição de Francia Elena  Márquez Mina, de 40 anos, advogada e primeira mulher negra a ocupar o cargo de vice-presidente no país. Márquez Mina é figura conhecida pelo seu ativismo ambiental, tendo conquistado o Prêmio Ambiental Goldman, considerado o “Nobel do Meio Ambiente'', em 2018. 

Francia Márquez, nova vice-presidente da Colômbia
Francia Márquez é a primeira vice-presidente negra da Colômbia. Foto: Reprodução / Twitter

Em suas redes sociais, Márquez agradeceu aos eleitores que foram às urnas. "Obrigada às colombianas e aos colombianos que saíram massivamente a votar hoje com dignidade, vencendo o medo e com esperança", disse após a divulgação do resultado. 

Atual presidente, Iván Duque também se pronunciou após a divulgação do resultado falando em transição "harmoniosa, institucional e transparente".  "Liguei para @PetroGustavo para parabenizá-lo como presidente eleito dos colombianos. Concordamos em nos reunir nos próximos dias para iniciar uma transição harmoniosa, institucional e transparente", escreveu o presidente. 

Menos de uma hora após o resultado ser anunciado, Hernández reconheceu a vitória de Petro por meio de um vídeo publicado nas redes sociais. "Colombianos, hoje a maioria dos cidadãos escolheu o outro candidato. Como eu disse durante a campanha, eu aceito os resultados dessa eleição", afirmou o candidato derrotado. 

Conhecido como “Trump Colombiano”, Hernández também mandou um recado para Petro. “Peço ao doutor Gustavo Petro que seja fiel ao seu discurso contra a corrupção e que não decepcione os que confiaram nele”, disse. 

 

“A mudança consiste em deixar o ódio para trás”

Em seu discurso da vitória ao lado de sua esposa, Veronica Alcocer, Petro falou em “política do amor”. “A política do amor não é uma mudança para nos vingarmos, não é uma mudança para construir mais ódio ou aprofundar o sectarismo na sociedade colombiana. Nossos pais e avós nos indicaram o que significa o sectarismo. A mudança consiste em deixar o ódio para trás”, disse o presidente eleito. 

Gustavo Petro, presidente eleito da Colômbia
Gustavo Petro presidente eleito da Colômbia. Foto: Reprodução / Twitter

Na fala, Petro também mencionou um acordo nacional para assegurar a paz e o direito das pessoas, em um aceno aos grupos de guerrilheiros que ainda não baixaram as armas. O presidente eleito também falou sobre seu próprio passado, dizendo que lutou “contra a injustiça, contra um mundo que não deveria ser, contra a discriminação, contra a desigualdade”. 

 

“Quanta gente morreu, quanta gente está presa hoje, quantos jovens tratados como bandoleiros só porque tinham esperança, só porque tinham amor” - Gustavo Petro 

Reforçando temas abordados na campanha, Petro falou sobre uma maior integração na América Latina, destacou a importância do país na luta contra as mudanças climáticas, dizendo que é preciso salvar a Amazônia para salvar a humanidade, e tornou a falar de um maior diálogo nas Américas, incluindo até conversas com os Estados Unidos. O discurso também tratou sobre o fortalecimento da economia popular. 

 

Irregularidades 

De acordo com a Missão de Observação Eleitoral (MOE), até o encerramento da votação foram registradas 310 denúncias de crimes eleitorais. A entidade informou que ao menos 83 denúncias eram sobre a liberdade do voto. A MOE disse também que recebeu denúncias de coação por parte de empregadores que obrigaram ou ameaçaram seus trabalhadores a votarem em determinado candidato de sua preferência. 

Segundo o relatório, os locais com mais supostos relatos de irregularidades foram: Antioquia, Valle Del Cauca, Atlântico, Risaralda e Bogotá. 

 

Panorama nas Américas 

A vitória de Gustavo Petro faz a Colômbia se unir a outros países da América Latina com governos de esquerda. A virada à esquerda começou em 2018, com a eleição de Manuel López Obrador, no México. Em seguida,  Alberto Fernández foi eleito na Argentina, em 2019, e Luis Arce, em 2020, na Bolívia. Em 2021 foi a vez do Peru, com Pedro Castillo; o Chile, com Gabriel Boric; e Honduras, com Xiomara Castro. 

Segundo documento divulgado pelo Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Eleitoral (Idea), em 2020, a última década foi marcada por polarização na região, e em 2010, com a crise das commodities (matéria-prima), o continente teve uma virada à direita. Agora, com o impacto da pandemia da COVID-19, o movimento é inverso. 

Em entrevista exclusiva à Agemt, Rodrigo Augusto, mais novo doutor do departamento de Relações Internacionais da PUC-SP, analisa o papel dos Estados Unidos no contexto global e os reflexos das dinâmicas internacionais na América Latina e no Brasil
por
Camilo Mota
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01/06/2022 - 12h
Interconexões do mundo globalizado.
Imagem de TheAndrasBarta. Fonte: Pixabay 

Rodrigo Augusto é Professor Doutor em Relações Internacionais da PUC-SP e membro do Grupo de Estudos de Conflitos Internacionais (GECI), coordenado pelo professor Reginaldo Nasser, do departamento de RI. No último mês, o grupo lançou o livro Revoltas, Conflitos e os Novos Caminhos da Geopolítica: Interconexões Entre Oriente Médio e América Latina, com análises das dinâmicas internacionais e o papel dos Estados Unidos nas duas regiões.

Um dos capítulos é o do professor Rodrigo, escrito em conjunto com o professor Reginaldo, e sucede o tema da sua tese de doutorado “Dinâmicas de Poder dos EUA no Iraque pós-Saddam: A articulação entre o governo norte-americano e as elites do poder iraquiano”, defendida por Augusto no dia 11 de maio, pelo Programa de Pós-graduação em Relações Internacionais (PPGRI) San Tiago Dantas da Unesp, Unicamp e PUC-SP. O autor conversou sobre o assunto com a AGEMT.

 

AGEMT: No livro Revoltas, Conflitos e os Novos Caminhos da Geopolítica, organizado pelo professor Reginaldo Nasser e lançado no dia 7 de maio, são abordadas as Interconexões Entre Oriente Médio e América Latina. Um dos pontos abordados é a forma de poder exercido pelos Estados Unidos sobre essas regiões, que é abordado no seu capítulo com o professor Reginaldo. Quais são as proximidades entre essas regiões?

RA: Esse livro é dividido em duas partes, uma parte especificamente para trabalhar revoltas, geopolítica, temas contemporâneos da agenda política regional da América Latina, e do Oriente Médio, então dividido em duas partes. A ideia geral é demonstrar como essas duas regiões, que em princípio parecem tão diferentes, na verdade revelam dinâmicas sociais sociopolíticas muito semelhantes. Muitos dos recortes que os autores e autoras fizeram nesse livro tem como propósito dar esse destaque, particularmente quando a gente olha para a América Latina de 2018 e 2019, recheada de protestos espalhados particularmente pelo Cone Sul. Eu lembro um dos capítulos, o da professora Terra, que foi sobre as revoltas no Chile e como temporalmente é semelhante a diversas outras revoltas que aconteceram no Oriente Médio e no Iraque, particularmente, que gerou também a derrubada de um governo. Isso para demonstrar que da nossa perspectiva latino-americana o Oriente Médio não é tão diferente assim. Nas nossas lutas, ainda que tenhamos especificidades, temos grandes semelhanças: desigualdade social, pobreza, corrupção e desemprego. Pautas comuns e que geram mobilizações. Isso por um aspecto social e que gera movimentações que muitas vezes se espalham para a região, geram movimentos que vão ser transnacionais, vão mobilizar espíritos revolucionários revoltosos em outras regiões. Aí você menciona o último capítulo, que é aquele que eu pude escrever em conjunto com o professor Reginaldo, destacando um pouco mais a área específica da minha pesquisa, que são os estudos sobre política internacional no Oriente Médio, particularmente dos Estados Unidos e a nossa proposta ali naquele capítulo era justamente demonstrar como o governo Trump também recentemente lidou politicamente com esse aliado, que é um novo aliado, pensando que a partir de 2003 a partir da derrubada do Saddam Hussein o Governo iraquiano, Estado iraquiano, se torna um parceiro importantíssimo para a lógica de poder norte-americana na região. É geopolítica. A importância dessas interlocuções para contenção do Iraque e Irã.

 

AGEMT: No dia 11 você defendeu sua tese de doutorado que fala sobre as dinâmicas de poder dos Estados Unidos com relação à intervenção, especificamente, no Iraque. Você faz esse recorte no livro, que fala sobre o governo Trump, mas seu artigo remonta o período a partir de 2003 quando os Estados Unidos utilizam o Iraque como justificativa de resposta ao 11 de setembro, a chamada Guerra ao Terror. Também é abordada a aplicação do Soft e Hard Power, conceitos das Relações Internacionais, que se diferem do Sticky Power (poder pegajoso), termo de Walter Russell Mead que emerge no governo Trump. Olhando especificamente sobre os Estados Unidos, como que eles atuam nesse sentido e como o Stick Power se dá na prática?

RA: Russell Mead, que é um pesquisador conservador norte-americano particularmente crítico às ações intervencionistas dos Estados Unidos desde o governo Bush e que se estende pelo governo Obama, Trump e agora no governo Biden. Ele estabelece esse conceito de Sticky Power com o propósito de tentar demonstrar de uma maneira prática e metafórica esse poder pegajoso econômico, que não é propriamente um poder coercitivos militar forte. Ele também é isso, mas ele é muito mais do que isso. Ele tem como grande objetivo ter essa estrutura Econômica Liberal internacional presente nos Estados do Oriente Médio e as transformações que foram perpetradas a partir do 11 de setembro no Oriente Médio: políticas, econômicas; e que dialogo na minha tese. O Iraque, por exemplo, que é meu caso de estudo, um Estado de economia nacionalizada e fechado. O governo Baath estava há 40 anos no poder. Os americanos tinham um termo bastante utilizado nos anos 2000, o Nation Building, a ideia de reconstrução de uma nação e que naquele momento, obviamente não era consenso nos Estados Unidos, mas predominou essa narrativa, iniciou um projeto intrusivo largo no Médio tanto que os dados atuais apontam para quase oito trilhões de dólares de investimento na tal Guerra ao Terror, uma cifra enorme, que vai trazer mecanismos militares, para retirar esses poderes antigos e para manter um novo status quo, mecanismos de ajuda internacional, articulação com novos bancos criados na região. Acho que a grande coisa do início dos anos 2000 é que isso foi uma aposta e quando a gente olha para isso de uma perspectiva contemporânea, entrando na terceira década do século XXI, evidentemente que as críticas são muito maiores do que naquela época, justamente porque temos a continuidade desses processos intervencionistas, não se tem uma transformação completa desses Estados tendo em vista até o tema do livro, essas revoltas, essa insatisfação popular desses novos Estados reformados. Mas por outro lado você tem sim a presença dessas normativas liberais do capitalismo incipiente, que revela que você tem uma penetração, mas que não é total. Por isso que na minha tese eu prefiro utilizar o arcabouço teórico neogramsciana para tentar explicar sobre esse mecanismo de poder norte-americano no Iraque. Essa equação que combina força de um lado, então poder militar, que vai lá e derruba o Saddan Hussein em pouco tempo e o Poder consensual, muito mais difícil, que aquele que vai ser conquistado através das transformações constitucionais e políticas, mas que tem que ser incorporado pela sociedade. Se não for incorporado pela sociedade gera repudio, gera afastamento, e quando olhamos para  o Iraque, Afeganistão e outros Estados em crise no Oriente Médio, isso fica evidente. Até hoje nós temos constantes revoltas, não estão necessariamente ligadas aos processos de intervenção lá de 2000, 2003, mas são consequências disso. E a expressão mais clara dessa insatisfação, desse modelo não penetrado é o Estado Islâmico. A gente pode afirmar que esse é um elemento que inclusive no governo Trump, tema do capítulo, é um grande desafio. Como combater esse grupo político transnacional, que tem um projeto retrógrado para o Oriente Médio, reacionário que visa o poder islâmico conservador com leis bastante severas e que uma parte da sociedade até interpreta como um positivo? Ou seja, essas batalhas de narrativas.

 

AGEMT: A teoria neogramisciana também fala sobre a existência dessa reação, de grupos contra hegemônicos, que vão questionar esses modelos de dominação e temos visto, como por exemplo o Caso do Chile, onde uma estrutura foi fortemente questionada, inclusive a partir da atuação do movimento estudantil, que é o capítulo da Profa. Terra. Esse movimento consegue romper com um modelo que estava ali estruturado

RA: Enquanto tem poder, tem reação. As reações podem vir da própria estrutura da Elite, como é o caso do Iraque quando eu observo a intervenção norte-americana pontualmente apoiando uma elite de oposição ao governo do Saddam Hussein e de maneira bem-sucedida consegue reverter a ordem política nesse sentido, mas sem dúvida nenhuma a melhor forma de você transformar é você incorporando a sociedade, você trazendo as forças contra a elite. Isso, sem dúvida nenhuma, é uma boa estratégia. No caso do Chile essa força contra a elite vem da própria sociedade. E a gente não pode afirmar plenamente que é uma revolução no sentido estrito do termo, porque não se trata de um rompimento do tecido social e da estrutura de poder. A estrutura de poder chilena é uma democracia, permanece democracia e foi eleita democraticamente, mas é uma reforma que vem da base, que vem da do movimento estudantil, que tem como liderança presidencial uma dessas representações da sociedade, o Boric. Tem no seu corpo político ministros e ministras que faziam parte desse movimento e todas essas dinâmicas revelam na verdade como as relações internacionais, como a política internacional se faz e refaz através dessas dinâmicas de poder e de luta interna, às vezes incorporando agentes externos, às vezes os agentes externos tendo predominância como é o caso do Iraque e os Estados Unidos.

 

AGEMT: E qual a análise você faz do papel atual dos Estados Unidos, não apenas no Oriente Médio, mas no contexto geopolítico atual, visto que os EUA foram um dos principais atores insistentes na disputa política e que culminou na invasão da Ucrânia? A nível global, qual a sua influência?

RA: Estamos vivendo uma crise Global iniciada pela intervenção russa na Ucrânia porque os efeitos são globais, economicamente. Isso atinge o Brasil inclusive, quando olhamos não só os preços do petróleo, preço de produtos de commodities que aumentam, somado obviamente a um governo brasileiro que tem a maior parcela da culpa das inflações, mas além desse cenário interno e negativo, esse conflito também traz elementos econômicos que nos afetam. É um conflito que tem implicações globais e sem dúvida a perspectiva de incorporação da Ucrânia na Otan, pensando que a Ucrânia é um dos Estados que faz fronteira com a Rússia, ex-União Soviética, que faz parte desse cinturão geográfico e que afasta a Otan do território russo, historicamente sempre foi um tema de debate e sempre foi um elemento em que a Rússia bateu a tecla dizendo que nenhum Estado no meu entorno vai fazer parte desse organismo. Quando a gente olha para narrativa do governo Putin, isso fica latente. Há algumas semanas ele fez uma declaração mediante ao Dia da Vitória, o dia que os russos comemoram a vitória da Segunda Guerra Mundial, e insistiu no mesmo assunto, que a culpa da guerra, para eles, é dos norte-americanos. Eles que forçaram essa vontade de entrada da Ucrânia na Otan e obviamente que os outros países da Otan assinaram embaixo. Um pouco temerário no início, mas depois foram com tudo, tanto que boa parte desses países da Otan, Alemanha, França, estão auxiliando militarmente a Ucrânia e podemos dizer que se a Ucrânia não tivesse esse apoio militar dos Estados Unidos, dos seus aliados da Europa Ocidental, já teria sido devastada pela capacidade militar russa, que é histórica. Essa intervenção se inicia por uma razão particularmente liberal, o princípio de autodeterminação dos povos, então os russos vão falar que estão iniciando as intervenção para dar legitimidade ao povo de Donbass, duas repúblicas autônomas, Luhansk e Donetsk, e se expande à medida em que os dias passam. No terceiro, quarto dia de intervenção, russos já estavam atingindo os territórios para além de Donbass. Uma guerra que tem dimensões globais, mas que acho que é importante destacar, não é batalhada de maneira global, ela não é uma terceira guerra. É uma guerra de nível local, regional entre Russos e ucranianos, mas cuja presença norte-americana vem através dos auxílios, do sistema de sanções, não podemos esquecer também que são formas indiretas econômicas de você tentar prejudicar o seu inimigo, no caso os russos, que sentem no bolso essas sanções econômicas e que geram um grande impasse há mais de 2 meses de conflito. De um lado uma Ucrânia que só tem capacidade de se manter mediante o apoio internacional, e do outro uma Rússia que está cada vez mais enfraquecida economicamente. Acho que o ator que acabamos não mencionando, mas que vale a pena trazer é a própria China, mais afastado, mas que bate na narrativa também de que esse conflito é culpa do ocidente, do Biden. Isso é muito curioso, começamos falando do capítulo que eu escrevo com o prof. Reginaldo tentando fazer um balanço do governo Trump para o Iraque, é até engraçado olharmos em perspectiva, mas é muito mais moderado o governo Trump e talvez até mais consciente de suas ações em termos de não criar crises internacionais tão graves do que o governo Biden, que já no seu primeiro ano mediante a ascensão do Talibã gera uma crise no Oriente Médio em que os Estados Unidos abrem mão. E quando trazemos a cifra de trilhões de dólares gastos – na guerra ao terror, iniciada como justificativa ao 11 de setembro -, a pergunta é para quê? Para sair no final de 20 anos depois de um lado, e do outro uma segunda crise motivada também por implicações estratégicas no mínimo curiosas. No segundo ano de mandato do Biden é isso que vemos. Não podemos simplesmente fechar para as narrativas ideológicas do partido Democrata ou do Partido Republicano. Quando a gente olha para a ação norte-americana em perspectiva internacional, existe na verdade uma constância das ações inclusivas, uma constância no projeto hegemônico de manter o seu poder global quase a qualquer custo e isso é um ponto fundamental a ser observado.

 

AGEMT: E para finalizar, como o GECI se insere nesse contexto, o Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP, no atual contexto brasileiro, inclusive acompanhando a própria cobertura da guerra na Ucrânia, onde há muitos deslizes, uma crítica para o próprio jornalismo quando não há tanto uma formação sobre a complexidade desses atores envolvidos e precisamos olhar muito mais o fator cultural desses povos para entender um mínimo ali do conflito. Mas o papel desse grupo de estudo também no acadêmico para o Brasil e para as Relações Internacionais?

RA: Acho que como qualquer grupo de estudos, o Geci não é diferente, vivemos num contexto particularmente mais difícil em termos de pesquisa, produção e incentivo com relação ao governo federal. O trabalho dos grupos de estudos depende particularmente de investimento, de fomento. Aqui na PUC a gente não pode esquecer que existem fontes de financiamento internas, assessoria de pesquisa é muito importante na manutenção dessas atividades, desses grupos, da possibilidade de escrever um livro, da possibilidade de fazer projetos como nós fizemos no próprio Al Janiah ano passado, um projeto muito interessante em que a gente fez um diálogo com os funcionários do restaurante que vieram refugiados, então entender essas trajetórias. Tudo isso é importante a nível de São Paulo e a nível de Brasil. Transformar os nossos conhecimentos acadêmicos em conhecimentos sociais é uma responsabilidade da academia, uma visão particular minha e que é compartilhada entre nós no Geci, que é um grupo que existe desde 2015 e foi mobilizado a partir de um propósito muito específico de desenvolver a pesquisa, leitura e que hoje é muito mais amplo do que isso. Nós temos programas de TV, temos podcast, temos página no Instagram, página no Facebook, onde divulgamos esses nossos trabalhos e acho que a grande tarefa nossa é tentar trazer luz para os debates que acendem a sociedade em termos de conflitos internacionais, particularmente, de uma maneira a incorporar as nossas pesquisas, mas também tornar mais fácil de compreender. É uma via de dois lados, de um, trazer luz para debates que acabam sendo muito esvaziados, às vezes, sobre os conflitos, falamos antes da gravação que no passado o grande tema era o Talibã, então nós estivemos – membros do Geci - em alguns programas falando sobre isso, trazendo luz a esse debate e agora é a mesma coisa quando a falamos do conflito russo-ucraniano. É importante estarmos nesses lugares, é importante falar, estar presente. Isso é um elemento fundamental, papel dos grupos de pesquisa, papel do acadêmico, do pesquisador ter essa interlocução com a sociedade. E nada mais satisfatório quando conseguirmos trazer essa introdução e tornar isso legível essa nossa linguagem.

 

A grande cobertura midiática da Guerra na Ucrânia trouxe à tona o questionamento a respeito da cobertura de guerras no Oriente: será que é dada a mesma atenção?
por
Letícia Coimbra
Mariana Luccisano
|
05/05/2022 - 12h

Desde o início do conflito, a Guerra na Ucrânia tem tido grande cobertura midiática com atualizações diárias ocupando boa parte do noticiário. Porém, essa situação trouxe à tona o seguinte questionamento: todas os conflitos são tratados com a mesma atenção? 

Sem dúvidas o conflito russo-ucraniano merece a devida atenção, porém, várias outras guerras, como a no Iêmen, que dura mais de oito anos, não tem a mesma visibilidade. Nesse sentido, é impossível não pensar que, infelizmente, o grau de importância de algum conflito - que é baseado em poder e interesses comerciais - varia de acordo com o que está sendo disputado e o local onde está acontecendo.

Clique aqui para acessar o podcast onde é feita uma reflexão a partir dessa questão.

 

Marcas internacionais e personalidades manifestam repúdio ao conflito e fortalecem a influência social e política da moda
por
Beatriz Tiemy Nichioka
Ricardo Dias de Oliveira Filho
|
26/04/2022 - 12h
Reprodução: @vogueczechoslovakia / @brunakazinoti (Instagram)
Reprodução: @vogueczechoslovakia / @brunakazinoti (Instagram)

“Uma guerra que já havia sido cantada pela Rússia há muito tempo, tanto pela anexação de territórios quanto pela aproximação cada vez maior da Ucrânia em relação à OTAN e à União Europeia, esses são os principais motivos para o início do conflito", relatou Carla Cristina Garcia, mestre e Doutora em Ciências Sociais.

A invasão da Ucrânia por tropas russas ocorreu no dia 24 de fevereiro, em plena Semana de Moda de Milão. O papel político e social da moda como meio de transmitir uma mensagem ao mundo se concretizou nos desfiles. Giorgio Armani, por exemplo, demonstrou apoio à Ucrânia desfilando sua coleção em completo silêncio que, segundo o designer, foi uma ação em respeito às pessoas envolvidas na tragédia no país. Mais um exemplo notável foi o desfile da grife espanhola Balenciaga, que fez referências a refugiados, com a presença de peças práticas de serem vestidas, dobradas e reduzidas, como trench-coach. A praticidade e facilidade de compactação e armazenamento sugerem uma vida em constante movimento ou, até mesmo, nômade. Outras referências foram a bolsa desfilada, que se assemelha a um saco de lixo, e modelos desfilando de toalha e peças íntimas, assimilando a pessoas que tiveram que deixar suas casas às pressas - correlação direta à situação entre Rússia e Ucrânia.

Além das manifestações no grande palco midiático das passarelas e desfiles, a moda se faz presente como uma importante ferramenta de mobilização em períodos de conflitos, guerras e crises. Empresas e marcas ligadas aos setores da moda optaram por responder ao conflito suspendendo suas atividades na Rússia. A revista Vogue ucraniana fez uma publicação nas redes sociais, pedindo o embargo à exportação de todo tipo de itens de moda e bens de luxo, que serviu como apelo para grandes marcas e grifes citadas tomarem um posicionamento diante de toda a situação. A grife Hermes foi a primeira a se pronunciar e anunciar o fechamento de suas lojas russas, além de paralisar todas as suas atividades no país. A Chanel, que também fechou suas lojas em território russo, doou dois milhões de euros com intuito de ajudar refugiados nas fronteiras da Ucrânia. A Adidas suspendeu a parceria com a União Russa de Futebol, além de doar cem mil euros, roupas e calçados para institutos que oferecem apoio às crianças refugiadas.

A especialista em História da Moda, Laura Ferrazo, ressalta que a moda possui diversas maneiras de manifestação: “Eu acho que o mundo da moda tem muita influência, é importante a manifestação de muitas formas. Os desfiles que fazem referências, homenagens ou críticas à guerra, mas também os boicotes às vendas de produtos e importação de matérias-primas”. 

Membros da indústria da moda iniciaram um manifesto contra a guerra, contando com um abaixo-assinado firmado por mais de 1.500 profissionais de todos os ramos, desde a fotografia até a direção criativa: "Como designers, estilistas, fotógrafos, professores, estudantes, pesquisadores, modelos, artistas, designers gráficos, diretores criativos, agentes, escritores e editores, lutamos continuamente por um mundo onde a expressão criativa, o intercâmbio cultural e a colaboração possam florescer. A violência da invasão na Ucrânia vai contra tudo o que defendemos. Esta guerra não traz nada além de destruição, sofrimento e tristeza", diz o manifesto.

“A moda tem poder. A moda é uma indústria de trilhões de dólares, com gigantesca influência cultural, econômica e até política. Em tempos de crise, é fácil descartar esse poder, chamá-lo de supérfluo, frívolo, surdo, hipócrita ou não-essencial. Mas nossas cadeias de suprimentos conectam países em todo o mundo, nossa mídia alcança massas de seguidores em todos os lugares, nossa linguagem compartilhada de criatividade é universal. Somos uma indústria repleta de talentos, habilidades, redes e conexões. Essas ferramentas sempre podem melhorar a vida das pessoas ao nosso redor – seja em larga escala ou íntima. Onde quer que você esteja hoje, não vire as costas, não feche os olhos”, ressalta o texto.