A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

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Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
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O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Macron enfrenta dificuldade para lidar com manifestantes
por
Chloé Dana
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17/09/2025 - 12h

 

Na terça-feira da semana passada,a (9) o primeiro-ministro, François Bayrou, perdeu o voto de confiança no Parlamento e renunciou ao cargo. A decisão foi tomada pela Assembleia Nacional com 364 votos contrários e 194 a favor, após o fracasso de Bayrou em obter apoio para o plano orçamentário de 2026. 

O presidente, Emmanuel Macron, já nomeou no dia seguinte o novo primeiro-ministro Sébastien Lecornu e foi o suficiente para gerar mobilizações. Os manifestantes tomaram as ruas de várias cidades, bloquearam rodovias, queimaram lixeiras e entraram em confronto com a polícia. O movimento, denominado “Bloqueie Tudo”, tomou força no verão europeu deste ano, ao motivar os cidadãos a se manifestarem contra uma redução no orçamento de 44 bilhões de euros divulgada pelo ex-primeiro-ministro François Bayrou. 

Entre as demandas estão um aumento nos recursos para serviços públicos, tributos para os mais ricos, a suspensão do aumento dos aluguéis, contra a classe política e cortes orçamentários, e a saída de Macron do cargo. Na quarta-feira (10), 80 mil forças de segurança foram acionadas em todo o território nacional, com 6 mil apenas em Paris. Conflitos foram registrados em lugares como Rennes, Nantes, Montpellier e Toulouse, além da cidade capital.

A crise atual se aprofundou com a recente renúncia de seu primeiro-ministro, François Bayrou. Essa foi a quinta mudança de primeiro-ministro em menos de dois anos, evidenciando fragilidade no governo.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária. 

Além disso, o problema não se limita apenas ao primeiro-ministro, mas também alcança o presidente. “Os ministros representam um obstáculo, mas a verdadeira questão é Macron e sua maneira de liderar. Ele deve se afastar”, declarou Fred, líder do sindicato de transportes em Paris, para um jornal francês. Especialistas em política na França sugerem que a crise revela a exaustão do modelo político de Macron, que está sob pressão tanto da direita quanto da esquerda, e que pode enfrentar, nos próximos meses, seu maior teste de governabilidade desde 2018.

A maior parte da oposição optou por votar contra a moção de confiança e expressou satisfação com o resultado. Isso era o que se esperava, após duas semanas de negociações diretas com o primeiro-ministro, que não trouxeram mudanças significativas à proposta orçamentária.

 

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Manifestantes vão à rua em protesto. Foto: Julia Braun, BBC 

 

Manifestações escalaram após bloqueio de redes, levando à renúncia do premiê
por
Kimberlly Ramos
Maria Clara Palmeira
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18/09/2025 - 12h

Protestos massivos liderados por jovens nepaleses da Geração Z (1995 - 2010), reivindicam o fim da corrupção generalizada e criticam a desigualdade social nepalesa. O país atravessa sua pior crise política desde o fim da monarquia, em 2008.

O estopim da revolta ocorreu na quinta-feira (4), com o bloqueio de mais de 20 redes sociais (entre elas Instagram, Whatsapp e X) no país, sob a alegação do governo de que as normas de regulamentação nepalesas não estavam sendo cumpridas pelas plataformas e também como meio para evitar a propagação de notícias falsas e discursos de ódio. As autoridades afirmaram ainda que prezam pela liberdade de expressão, mas que precisam que as plataformas tenham responsabilidade e sejam bem administradas, com a nomeação de representantes legais no país. 

A medida foi tomada durante uma campanha que estava viralizando nas mídias sociais, intitulada “nepo kids”, que denunciava a corrupção política no Nepal e a vida de ostentação exibida por filhos de governantes; isso, em contraste com as dificuldades que o restante da população enfrenta para sobreviver, segundo a trend. A proibição das redes foi recebida com revolta e foi vista pelos jovens como forma de silenciar as denúncias contra a corrupção. Os manifestantes se uniram contra o decreto, tomaram as ruas da capital nepalesa Katmandu e marcharam até o Parlamento em 8 de setembro. Em resposta ao movimento, a polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo, canhões de água e balas de borracha durante confronto para tentar conter a multidão; 19 pessoas morreram apenas no primeiro dia.

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Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X
Manifestantes nas ruas contra o bloqueio das redes sociais. Reprodução: @TheDailyPioneer/X

As mortes levaram à intensificação dos protestos no dia 9, provocando incêndios em prédios do governo e no Parlamento Federal. Residências de políticos também foram incendiadas pelos manifestantes, como a do ex-primeiro-ministro Jhala Nath Khanal, resultando na morte de sua esposa, que estava dentro da casa no momento do ataque.

Com a escalada do conflito, o primeiro-ministro Khadga Prasad Oli renunciou ao cargo e o número de mortes foi atualizado para 25. O bloqueio das redes foi revogado, como meio de conter a revolta, mas as manifestações seguiram, com a insatisfação dos jovens nepaleses se ampliando em relação às práticas corruptas. 

Na sexta-feira (12), o presidente Ramchandra Paudel dissolveu o Parlamento e convocou novas eleições para 5 de março de 2026. Simultaneamente, Paudel nomeou Sushila Karki, ex-presidente da Suprema Corte, como primeira-ministra interina, tornando-se a primeira mulher a liderar o governo do Nepal. Karki, conhecida por decisões judiciais contra casos de corrupção e pela promoção da igualdade de gênero, recebeu apoio direto dos manifestantes, que debatiam os próximos passos em plataformas digitais como Discord.

No dia 13, a normalidade começava a retornar a Katmandu: lojas reabriram, veículos voltaram às ruas e a presença militar foi reduzida. Karki visitou jovens feridos e recebeu pedidos de familiares das vítimas, que exigiam reconhecimento dos mortos e compensações financeiras. Organizações internacionais de direitos humanos pedem que o novo governo acabe com a “impunidade do passado” e investigue os responsáveis pelas mortes.

O desafio de Karki será recuperar a confiança da população, conduzir as eleições em março e entender as reivindicações da juventude, que desempenhou papel central nas recentes mobilizações. Com 22% dos jovens entre 15 e 24 anos desempregados e um quinto da população vivendo na pobreza, a Geração Z nepalesa já demonstrava frustração. O bloqueio das redes sociais foi a faísca de um descontentamento acumulado.

“O tempo está passando rápido. Diariamente dezenas de palestinos são assassinados", afirma professor Rodrigo Amaral, da PUC-SP
por
Renata Bittar
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02/09/2025 - 12h

Em meio a tensões políticas e crises diplomáticas, o conflito entre Israel e Gaza se intensifica. Recentemente, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, anunciou a intenção de assumir o controle total da Faixa de Gaza. Embora a operação ainda não tenha sido confirmada, o governo de Israel afirma que o objetivo seria expulsar o Hamas (Movimento de Resistência Islâmica) e instaurar um governo civil no território. Em entrevista à BBC, Netanyahu declarou que Israel busca “libertar o povo de Gaza do terrível terror do Hamas”.

O Estado de Israel mantém os bombardeios e ataques contra Gaza. A recusa de um cessar-fogo imediato resultou em um aumento no número de mortes, destruição de cidades inteiras e no agravamento de uma crise humanitária de grande proporção.

Em entrevista exclusiva à AGEMT, o professor de Relações Internacionais da PUC-SP Rodrigo Amaral, pesquisador especializado em Estados Unidos e Oriente Médio, avaliou que a imagem de Israel no cenário internacional tem se deteriorado. “Mesmo que Israel mantenha fortes relações, sobretudo comerciais, com diversos países, o debate sobre boicotes — antes distante do imaginário internacional — começa a ganhar força”, afirmou.

Nos últimos meses, países como Canadá e França passaram a reconhecer a Palestina como um Estado legítimo. A decisão, vinda de nações com peso político relevante, chamou atenção e fortaleceu o movimento palestino. Para Amaral, o gesto reforça a percepção de que a comunidade internacional demonstra, de forma mais concreta, a intenção de apoiar a criação de um Estado palestino autônomo. “É um marco para esses países reconhecerem a Palestina, sobretudo por serem nações tradicionalmente alinhadas à lógica norte-americana”, destaca o professor.

Ao contextualizar o conflito, Amaral lembra que eventos como a Primeira Guerra Mundial, a Guerra Fria e a Crise de Suez contribuíram para o deslocamento forçado dos palestinos à Faixa de Gaza. Questionado sobre a possibilidade de o território voltar à “normalidade”, ele pondera que “nunca existiu normalidade em um espaço onde a população vive confinada”. “Gaza é controlada por autoridades estrangeiras, Israel e Egito. Dentro dessa realidade sociopolítica, tenta-se construir uma vida cotidiana, mas os palestinos sempre foram empurrados para esse território”, afirma.

Entre o impasse político e as operações militares, as ações de ambos os lados se intensificam. O próximo passo declarado por Netanyahu seria a desocupação total de Gaza pelos palestinos que ainda vivem no local e a busca por outros territórios que os recebam. “É importante lembrar que Gaza já era um espaço de refúgio, pois a maioria dos palestinos que vive lá não é originária do território”, acrescenta Amaral. Segundo ele, a tendência é a manutenção de um controle militar em Gaza, provavelmente acompanhado de presença ativa de Israel durante o processo de reconstrução.

 

Nova operação de Israel intensifica bombardeios na Cidade de Gaza em 28/08/2025 Imagem: Reprodução/Reuters/ Dawoud Abu Alkas

 

 

 

 

Apesar do apoio crescente de diversos países à causa palestina, o cenário das relações internacionais ainda é fortemente influenciado pelas grandes potências ocidentais. Esses atores exercem papel decisivo na definição da ordem global e, frequentemente, detêm o poder de determinar os rumos das ações multilaterais. Segundo Rodrigo Amaral, é incomum observar um consenso entre nações como Canadá, França e Austrália ao se posicionarem contra a ofensiva israelense em Gaza. Por meio de mecanismos intergovernamentais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), esses países podem contribuir propondo cessar-fogo e planos de retirada militar da região.

Além da pressão diplomática, Amaral aponta que as nações contrárias à atuação de Israel podem adotar boicotes econômicos como forma de protesto. Essa medida, explica ele, visa prejudicar setores estratégicos da economia israelense e pressionar o governo pelo encerramento das operações militares. “O tempo está passando rapidamente. Diariamente, dezenas de palestinos são assassinados. Ações concretas ainda não foram tomadas; pelo contrário, observamos um aumento dos impasses diplomáticos”, afirma o professor.

Atualmente, estima-se que a ocupação militar israelense em Gaza já abrange quase 90% do território. O governo de Benjamin Netanyahu mantém a meta de ampliar o controle e promover a retirada total dos palestinos que ainda vivem na região. De acordo com Amaral, o número de vítimas ultrapassa 60 mil palestinos desde o início do conflito. “A tendência é que o desfecho desse confronto resulte na consolidação dos interesses israelenses. Apesar do posicionamento da comunidade internacional e das pressões de movimentos sociais transnacionais, persiste um cenário de impunidade e continuidade das ações militares de Israel”, conclui.

 

 

A recente aprovação marca um momento histórico no conflito e muda o tom do posicionamento dos EUA em relação a Guerra
por
Luane França
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27/03/2024 - 12h

O Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) aprovou, nesta segunda-feira (25), uma proposta de cessar-fogo imediato no conflito entre Israel e Hamas. A medida recebeu o apoio de 14 países, enquanto os Estados Unidos optaram pela abstenção. É a primeira resolução admitida após cinco meses e quinze dias de conflito que já deixou mais de 30 mil mortos apenas na Faixa de Gaza. 

A iniciativa, encabeçada por Moçambique, foi proposta por um grupo de países que integram os assentos rotativos na organização, incluindo Argélia, Coreia do Sul, Equador, Eslovênia, Guiana, Japão, Malta, Moçambique, Serra Leoa e Suíça. Por outro lado, China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos representam os assentos permanentes do conselho, com direito a veto.

A resolução articulada tem como objetivo garantir um período de tranquilidade durante o restante do mês sagrado do Ramadã, iniciado em 11 de março deste ano e que se estenderá até 10 de abril, momento de significativa importância para os seguidores do Islamismo.

Durante o Ramadã, um período de reflexão e oração sagrada para os muçulmanos, sendo considerado um dos pilares do Islã, os fiéis jejuam diariamente do nascer ao pôr do sol, como uma forma de expressar devoção e buscar purificação espiritual.

Além disso, a proposta sugere uma interrupção imediata e duradoura do conflito, com o intuito de possibilitar a libertação de todos os reféns mantidos pelo Hamas e garantir o acesso à ajuda humanitária em Gaza. 

Contextualização do conflito entre Israel e Palestina em Gaza. 

Em meio a um histórico marcado por conflitos e tensões políticas, a disputa territorial entre Israel e Hamas se intensificou em 7 de outubro de 2023, após ataques terroristas cometidos pelo grupo islâmico palestino em território israelense. 

O grupo extremista lançou uma série de ataques de natureza variada, com o objetivo recuperar o território palestino ocupado por Israel. A ofensiva militar incluiu bombardeios em cidades israelenses, sequestros de reféns e ações que culminaram na morte de civis.    

Em resposta aos ataques, o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu declarou que o país estava em guerra e, logo após, ordenou um bombardeio à Faixa de Gaza, território controlado pelo grupo Hamas. Isso resultou na morte de cidadãos palestinos que, predominantemente, residiam na região.  

O impacto humanitário diante dessas tensões crescentes e do conflito resultante tem sido profundo. Segundo o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), o número de vítimas reflete a gravidade da situação. Este conflito prolongado entre Israel e o grupo terrorista foi identificado como o mais mortal em território israelense desde 2008 e o mais letal na Faixa de Gaza desde 2015.

O Ministério da Saúde palestino, controlado pelo grupo Hamas, divulgou, quatro meses após o início do conflito, a situação alarmante na Faixa de Gaza. Os contínuos ataques israelenses resultaram na perda de 27.708 vidas, incluindo mulheres e crianças, destacando a natureza devastadora do conflito. 

Adicionalmente, aproximadamente 67.147 pessoas foram gravemente feridas durante os confrontos. Isso reforça a urgente necessidade de intervenções humanitárias para aliviar o sofrimento da população afetada.

Mulher adulta e uma criança caminham de mãos dadas em meio a destroços. Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas/CNN Conteúdo
Mulher adulta e criança caminham de mãos dadas entre destroços. ​​Foto: REUTERS/Dawoud Abu Alkas/CNN Conteúdo

 

O impacto prático da resolução de cessar-fogo na guerra

A ocupação do território palestino por Israel já dura 75 anos. Segundo Rodrigo Amaral, professor de Relações Internacionais na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com foco na Política Internacional, esse fator, somado ao apoio dado pela comunidade internacional ocidental, violou profundamente a soberania e autonomia da Palestina e é um dos principais obstáculos a serem enfrentados para a resolução do conflito.

A proposta de cessar-fogo aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU pode ser considerada um avanço significativo no campo diplomático, uma vez que é a primeira resolução a ser admitida durante o confronto. A aprovação demonstra o esforço conjunto da comunidade internacional em busca de uma solução para o conflito. 

Entretanto, apesar de aprovada pela maioria dos membros do Conselho de Segurança, Amaral acredita que a resolução não terá efeito imediato. O professor acrescenta que, a médio prazo, pode ser que ela inspire outras resoluções que levem ao fim do conflito, mas que nesse momento "a grande questão é em que medida ainda haverá tolerância da comunidade internacional às ações de crime humanitário".

Michel Gherman, doutor em História Social e professor no Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), também não acredita que a resolução do Conselho de Segurança da ONU irá garantir um cessar-fogo imediato. 

“Israel e o Hamas, cada um em seu lado, têm se mostrado contrários a qualquer tipo de negociação que leve ao fim, porque o fim significa o fim da guerra e o fim da guerra significaria a substituição dos dois agentes importantes dessa guerra, que são o Hamas e o próprio Benjamin Netanyahu’, acrescenta Gherman . 

Com vitória expressiva, o mandatário fica no poder até 2030.
por
Artur Maciel Rodrigues
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19/03/2024 - 12h

O presidente, Vladimir Putin, de 71 anos, foi reeleito para o seu 5° mandato no último domingo (18), na Rússia. O mandatário disputou as eleições contra três candidatos escolhidos: Nikolai Kharitonov (Partido Comunista),  Leonid Slutsky (Partido Liberal) e Vladislav A. Davankov (New People). 

 

A votação ocorreu por todo território russo, incluindo parte da Ucrânia, país que tem territórios invadidos e ocupados pela Rússia desde fevereiro de 2022. A eleição ocorreu um mês após a morte de Aleksei  Navalny, principal opositor de Putin.

 

O resultado divulgado pela Comissão Eleitoral Central, ainda no domingo, indicou uma vitória esmagadora de Putin, que conquistou 87% dos votos válidos. A vitória do presidente russo foi contestada por opositores, entre eles, Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, que chamou Putin de “ditador” e a eleição russa de “farsa”.

 

“É claro para todos no mundo que este indivíduo, como tantas vezes aconteceu na história, está simplesmente doente de poder e está a fazer tudo o que pode para governar para o resto da vida. Não há mal que ele não cometerá para prolongar seu poder pessoal. E não há ninguém no mundo que esteja imune a isso”, disse Zelensky.


 

Rodrigo Amaral, Professor de Relações Internacionais da PUC-SP,  explicou que esse movimento já era esperado. “É evidente que existem visões bastante críticas a respeito da veracidade desses números, e com essa vitória, ele vai ser o maior líder russo desde Stalin o que demonstra essa hegemonia explícita, que reflete o contexto populista da Rússia”. 

 

Desde o fim da União Soviética em 1991, a Rússia teve oito mandatos presidenciais distribuídos entre 3 presidentes. Boris Yeltsin, que governou de 1991 a 1999 renunciou à presidência, após má popularidade durante o segundo termo. 

 

Quem assumiu após a renúncia foi o próprio Vladimir Putin, o primeiro-ministro da época. Depois de ser presidente interino, ele concorreu e ganhou as eleições de 2000, e se manteve na presidência até 2008. Durante o governo de Dmitry Medvedev (2008 até 2012) voltou ao cargo de primeiro- ministro e em 2012, reassumiu a presidência.  

 

O ex-agente da KGB, está no poder na Rússia há pelo menos 24 anos, com os resultados e com a recente mudança na constituição do país, ele pode concorrer (e ganhar) mais um termo se mantendo presidente até 2036. Caso isso se confirme, Putin irá ultrapassar o recorde de 29 anos do governo de Joseph Stalin. 

 

Eleições em tempo de guerra

 

Apesar das eleições no país, as ofensivas contra a Ucrânia não pararam. Em resposta aos ataques ucranianos antes das eleições no dia 15 de março, o país revidou com um ataque onde morreram 16 pessoas e outras 20 ficaram feridas. 

 

Destruição pelos ataques russos em Mykolaiv, Ucrânia. Foto: Serviço de imprensa do Serviço
de Emergência do Estado da Ucrânia na região de Mykolaiv / Reuters 


 

A guerra da Rússia contra a Ucrânia completou 2 anos em fevereiro. Com a adição da Suécia na OTAN ,e indicativos de tropas francesas na Ucrânia. A tensão está em um ponto crítico, com Putin falando do uso de armas nucleares: “Do ponto de vista técnico-militar, claro que nós estamos prontos, estamos constantemente em estado de alerta, é reconhecido que o nosso Tríade nuclear é o mais moderno”. 

 

Amaral, argumenta que mesmo com a paz impossível, por causa das duas concepções de mundo distintas e guerra improvável, por que a chance de conflito nuclear é baixa, é algo caro para todos os lados. 

 

“Talvez seja o maior teste, através de uma guerra interestatal, uma guerra que envolve grandes potências. E existe essa questão do perigo nuclear,  ela sempre volta, mas que explicitamente é a história da Guerra Fria, particularmente, mostra que não existe”, complementa. 

 

Putin comenta sobre a morte de Navalny durante discurso 

 

Em seu discurso de domingo à noite, Putin rompeu o costume de não falar sobre a morte de Alexey Navalny, opositor do mandatário que morreu em fevereiro deste ano em uma colônia penal no Árctico. A família do e os apoiadores de Navalny acusaram Putin de ser o responsável, mas as alegações foram rejeitadas pelo Kremlin. 

 

“Quanto ao Sr. Navalny – Sim, ele faleceu. É sempre um acontecimento triste. E houve outros casos em que pessoas nas prisões faleceram. Isso não aconteceu nos Estados Unidos? Aconteceu, e nem uma vez”, disse.

 

Putin assumiu que poucos dias antes da morte de  Navalny foi informado uma proposta para trocá-lo por prisioneiros detidos em países ocidentais “A pessoa que falou comigo ainda não havia terminado a frase quando eu disse que concordo, mas, infelizmente, [a morte de Navalny] aconteceu, só  havia uma condição de trocá-lo para ele não voltar. Bem, essas coisas acontecem. Não há nada que você possa fazer sobre isso, isso é a vida”. 


 

Aleksei Navalny em Moscou, 2019. Foto: Sefa Karacan/Anadolu /Getty Images. 


 

Aleksei Navalny  durante anos demonstrou em seu blog as corrupções do Kremlin. Em 2021 ele fez uma reportagem onde ele falava do “maior suborno da história” uam mansão com o valor de 1,4 bilhões de dólares, localizado à beira do mar negro. Aleksei foi preso várias vezes, sofreu pelo menos 3 tentativas de envenenamento. E tentou concorrer à eleição na Rússia em 2018 mas foi impedido pelo Kremlin. 

 

A coligação de centro-direita conquistou a maioria das cadeiras no Parlamento, mas precisará fazer aliança para governar
por
Octávio Alves
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12/03/2024 - 12h
Luís Montenegro discursando
Líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, em discurso após as eleições portuguesas . Foto: Pedro Nunes/Reuters

 

Portugal elegeu, no último domingo (10), os deputados para a Assembleia da República, o Parlamento do país. A Aliança Democrática, coalizão de partidos de centro-direita, obteve a maior parte das cadeiras disponíveis (79) e superou a soberania do Partido Socialista (PS) que esteve à frente da Casa nos últimos nove anos. O PS conquistou 77 assentos nessas eleições.
Já foram contabilizados 99.01% dos votos, faltando apenas os votos do exterior que devem ser apurados até o fim da semana. 226 das 230 cadeiras já foram ocupadas. 

O partido de extrema-direita, Chega, liderado pelo político André Ventura conquistou 48 cadeiras. O resultado mostra uma ascensão da extrema-direita desde a última eleição, o número de deputados eleitos pela legenda quadruplicou neste ano. 

“Não sabemos ainda como é que esta noite ficará conhecida na história de Portugal, mas há um dado que já temos a certeza: esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal”, disse Ventura após o resultado. 

Gráfico
Na última eleição o Chega, partido de extrema direita, tinha conquistado apenas 12 cadeiras. Fonte: Jornal Público Portugal/ Reprodução. 

As eleições legislativas estavam previstas, originalmente, para  2026, mas foram antecipadas após a renúncia do primeiro-ministro António Costa  (PS), acusado de corrupção pelo Ministério Público português. As acusações se mostraram infundadas uma semana depois e o MP veio a público dizer que o acusado não era o político socialista, mas um homônimo.

Como funciona as eleições em Portugal? 

O país vive sob um regime semipresidencialista. O presidente, Marcelo de Sousa, exerce a função de Chefe de Estado e governa juntamente com o primeiro-ministro.

Os votos são por partido e não por candidato, caso a legenda consiga eleger pelo menos 116 deputados ganha o controle do legislativo. Se isso não ocorrer, a sigla que conseguiu maior número de cadeiras  pode se agrupar com partidos menores até chegar no número mínimo de  assentos necessários. O primeiro-ministro poderá ser, inclusive, de um desses partidos. 

Os próximos passos

Os principais candidatos
Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega) — Foto: Reuters

Como o Aliança Democrática, liderado por Luís Montenegro, não conseguiu o número de assentos necessários, a legenda precisará fazer alianças para governar.

O que pode se revelar um desafio, já que Montenegro havia mencionado que não faria alianças com o Chega e reiterou isso após o resultado: "Nunca faria a mim próprio, ao meu partido e à democracia portuguesa tamanha maldade que seria incumprir compromissos que assumi de forma tão clara” disse.

Por outro lado, Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista disse que apesar de não impedir a constituição de um governo minoritário da AD, não irá contribuir para uma aliança entre as legendas:  "A AD que não conte com o PS para governar. Não é a nós que [os deputados da aliança] têm de pedir para suportar um governo [da AD]”, declarou. 

O líder do Chega, André Ventura, que se mostrou favorável à uma coligação de direita,  se manifestou sobre a recusa de Luís Montenegro à formação de uma aliança: " Só um líder e um partido muito irresponsáveis deixarão o PS governar quando temos na nossa mão a possibilidade de fazer um governo de mudança”. 

O presidente, Marcelo de Sousa, anunciou que irá convidar o líder do partido vencedor para tentar formar um governo. A consulta que teve início nesta terça-feira (12) se prolongará até 20 de março. Se até lá os partidos não apresentarem nenhuma aliança que garanta o número mínimo de assentos, o chefe de Estado pode convocar novas eleições. 

O direito ao aborto está na Carta Magna e passa a ser irreversível no país. França é o primeiro país a consolidar este direito.
por
Mohara Ogando Cherubin
Sônia Xavier
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08/03/2024 - 12h

 

A decisão de tornar o direito ao aborto constitucional foi tomada no ínicio dessa semana (4). A aprovação alcançou a maioria necessária de pelo menos três quintos dos votos dos parlamentares para que a Constituição de 1958 fosse revista e a lei de direito ao aborto incluída.

A inscrição “A lei determina as condições de que a mulher tenha a liberdade garantida de recorrer ao aborto” foi adicionada nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, no atrigo 34 da Constituição francesa em cerimônia ao ar livre em Paris. 

A decisão torna, agora, o direito ao aborto irreversível no país segundo Macron. Ainda durante seu discurso, o presidente anunciou que pretende lutar para que o direito se expanda pela União Europeia. 

Projeção na Torre Eiffel diz: Meu corpo minha escolha
Projeção  na Torre Eifel  diz: “Meu corpo, Minha Escolha” após votação na segunda-feira (4) para constitucionalização do aborto. Foto: Abdul Saboor/Reuters

 

Por que recorrer à constitucionalização do aborto?

O aborto é permitido na França desde 1975. A lei já teve seu texto alterado nove vezes, a última modificação, ocorrida em 2022, passou a permitir abortos até a 14ª semana de gravidez, financiados pelo sistema de seguridade social francês e sem necessidade de justificativas. 

A decisão de incluir o direito ao aborto na Constituição do país surgiu após a deliberação da Suprema Corte dos Estados Unidos de revogar o direito federal ao aborto, revertendo o julgamento de Roe v. Wade. A decisão da Corte norte-americana delegou a tribunais e autoridades estaduais o poder de restringir ou proteger o acesso das mulheres ao aborto legal. 

A advogada Juliana Tanno, explicou, em entrevista à AGEMT que “aquilo que é permitido perante a lei ainda pode ser questionável se violar os princípios e disposições da Constituição”. "A Constituição é a lei fundamental que define a estrutura do governo e os direitos fundamentais do cidadão, ou seja, é a lei suprema de um país", complementa. 

Mulheres segurando cartazes e faixas em manifestação a favor do aborto
Manifestação na França a favor da constitucionalização do aborto após decreto dos EUA. Foto: Reprodução/Reuters

 

Temendo que a França fosse influenciada por esse decreto dos Estados Unidos e pelo avanço da extrema-direita no país, feministas e políticos progressistas passaram a levantar a discussão a cerca da constitucionalização do aborto, com objetivo de assegurar o direito das mulheres de realizar o procedimento. Foram apresentados no Parlamento francês mais de cinco projetos de lei pela inclusão do direito na Carta Magna.

"Liberdade garantida" 

O projeto da presidente do La France Insoumise (LFI), Mathilde Panot, até então aprovado pela Assembleia Nacional no ano anterior, passou por alterações em seu texto em fevereiro de 2023. 

Através de ações de partidos de direita, o termo "direito" foi substituído por "liberdade" da mulher de realizar um aborto. Essa modificação no documento enfureceu os movimentos feministas do país, tendo em vista que o Governo francês poderia restringir o acesso ao procedimento com mais facilidade, pois a ação deixava de ser um direito.

O projeto de Panot demandaria novamente a aprovação da Assembleia, sem demais modificações, e por ser uma iniciativa do Parlamento, precisaria da validação de um referendo também. 

Após pressão dos movimentos feministas, o presidente Emmanuel Macron elaborou seu próprio texto, agora com o termo “liberdade garantida”. O projeto foi enviado ao Parlamento em outubro de 2023, a Assembleia Nacional aprovou em janeiro e o Senado no dia 18 de fevereiro. 

 

A luta pelo direito da mulher na França: um contexto histórico

A decisão de incluir o aborto na Constituição francesa é marcada por séculos de enfrentamento dos movimentos feministas. A busca por direitos iguais se inicia no século XV com a escritora Christine de Pizan, que defendia em suas obras os direitos das mulheres à educação, tal como a escrita e a independência feminina. 

Mais tarde, no século XVIII, a ativista Olímpia de Gouges proclamou na "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã" que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que, desse modo, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente, da formulação das leis e da política em geral após a exclusão das mulheres da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” durante Revolução Francesa. 

Em 1949, Simone de Beauvoir publicou a obra "O Segundo Sexo", que aborda um novo modelo de pensamento sobre a mulher na sociedade, juntamente à definição de feminismo moderno a partir da opressão sofrida pela figura masculina.

Confusão entre mulheres e policiais em marcha pelo aborto na França em 1972
Manifestação a favor da legalização do aborto na França em 1972. Foto: Reprodução/ Getty Images

 

No ano de 1971 foi realizado o “Movimento das 343”, divulgado pelo Nouvel Observateur, no qual centenas de mulheres assinaram uma petição para legalizar o aborto no país e adimitiram já ter interrompido ilegalmente uma gestação. 

Em 1973, surgiu o MLAC (Movimento pela Liberalização do Aborto e da Contracepção) que reúne tanto as feministas quanto os membros da classe médica que passam a praticar aborto seguro, ainda que ilegal. Posteriormente, em 1974, a Ministra da Saúde e sobrevivente do Holocausto, Simone Veil, aprovou um projeto de lei que descriminalizou o método de aborto no país, e por fim, em 1975, a interrupção voluntária da gravidez foi legalizada perante a lei francesa. A Lei Veil representou um avanço da legislação sobre o aborto na França e um vitória após anos de luta dos movimentos feministas.

Entenda o que é, como surgiu e de que modo funciona o grupo islâmico responsável pela ofensiva no início de outubro de 2023
por
Luan Leão
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06/05/2024 - 12h

No dia 07 de outubro de 2023, integrantes do grupo Hamas realizaram uma ofensiva contra Israel, com uma incursão pelo sul do país. O resultado foi a morte de cerca de mil israelenses e outros 200 foram feitos reféns. Em resposta, a contraofensiva israelense - que já dura mais de seis meses - resultou na morte de mais de 30 mil palestinos, além de um cerco à Faixa de Gaza.

Para entender o conflito de décadas, a AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Nesta reportagem você vai ver como surgiu o grupo Hamas, a influência política e o impacto na resistência Palestina. Além do Hamas, vamos falar sobre o Hezbollah, grupo que atua no sul do Líbano, também contrário a Israel.

Grupo Hamas tem atuação política na Palestina
Hamas surgiu na década de 1980, com atuação pelo bem-estar social.
Foto: Mohammed Abed/Getty Images

Hamas: resistência armada, política e bem-estar social

O grupo tem origem ideológica na Irmandade Muçulmana, maior e mais antiga organização islâmica do Egito, e surgiu no contexto da Primeira Intifada, em 1987. Fundado pelo Xeque Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Rantissi, Hamas é um acrônimo para Harakat al-Muqawama al-Islamiya (Movimento de Resistência Islâmica), e significa zelo. No seu emblema, o Hamas tem o Domo da Rocha de Jerusalém, bandeiras palestinas e o contorno de um Estado palestino, incluindo o território de Israel.

No estatuto da sua criação, o Hamas definiu o território da Palestina histórica, incluindo a atual Israel, como terra islâmica. Segundo o documento, o grupo também exclui a possibilidade de paz permanente com o Estado de Israel. Ainda pelo estatuto, o Hamas é acusado de antissemitismo, já que trechos atacam aos judeus enquanto povo. No documento, por exemplo, o grupo palestino se comprometia com a destruição do Estado de Israel.

Inicialmente, o Hamas pretendia se fortalecer em duas frentes: o braço armado contra Israel, com as Brigadas Izz al-Din al-Qassam (IQB), e a promoção de bem-estar social aos palestinos como uma espécie de entidade social com construção de escolas, hospitais, distribuição de comida e etc. Na fundação, o grupo não demonstrava interesse em manter um braço político, o que aconteceu anos mais tarde.


Dawah

Apesar da forte associação com a luta armada, o Hamas possui um braço de serviços sociais chamado Dawah. A atuação se dá, em sua maioria, na região da Faixa de Gaza, região de alta concentração populacional e bastante empobrecida. O Dawah atua na gestão de escolas, orfanatos, restaurantes populares e clubes esportivos. Assim como feito pela Irmandade Muçulmana no Egito, o Hamas entende que a assistência social está na religião e é parte da resistência.

Dawah, em tradução literal, significa “chamado de Deus”. Pela religião, este chamado obriga os fiéis a ajudar uns aos outros por meio de obras de caridade. Para entender a atuação do Dawah, em 1990, cerca de 85% do orçamento do Hamas foi destinado para assistência social. Já em 2000, 40% das instituições sociais divididas entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, eram dirigidas pelo grupo.

Em 2005, a organização ajudava financeiramente cerca de 120 mil pessoas em Gaza. Dois anos depois, com apoio do Irã, o Dawah ofereceu um auxílio mensal de 100 dólares para 100 mil trabalhadores e 3 mil pescadores, impedidos de trabalhar por restrições de Israel à pesca. A concessão dos subsídios, no entanto, têm rigorosa avaliação de custo-benefício de como os beneficiados poderão apoiar o Hamas.


Brigadas Qassam

As brigadas Izz al-Din al-Qassam são o maior e mais organizado grupo armado palestino, mantendo atividades não apenas em Gaza, território em que hoje o Hamas atua, como também nos territórios ocupados na Cisjordânia. O braço militar foi fundado no começo da década de 1990, por Salah Shehadeh, morto por forças militares israelenses em um ataque aéreo em 2002. No início, se utilizou de diversos atentados suicidas para atacar Israel.

Em 1996, realizou uma série de atentados em ônibus, que culminou na morte de cerca de 60 israelenses. Os atentados foram uma resposta a morte de Yahya Ayyash, fabricante de bombas do Hamas, em 1995. A escalada de ataques do grupo foi tida como determinante para que o jovem político de direita Benjamin Netanyahu - contrários aos acordos de Oslo - fosse eleito primeiro-ministro de Israel, se distanciado das tratativas de paz na região e intensificando a expansão dos assentamentos israelenses e a repressão ao povo palestino.

O nome do braço militar é inspirado no combatente sírio Ezzedine Al-Qassam, que lutou contra colonizadores europeus durante o levante. Após ser expulso pelos franceses, assumiu a causa palestina, recorrendo à resistência armada contra judeus e colonizadores britânicos. Al-Qassam foi morto por autoridades britânicas em 1935, e acredita-se que a morte desencadeou a Revolta Árabe de 1936 a 1939. O atual comandante militar das Brigadas Qassam é Mohammed Deif, e o seu braço direito é Marwan Issa. 

Brigadas Qassam são responsáveis pelas ações militares do Hamas
Com cerca de 25 mil combatentes, a Brigada Qassam foi responsável pelo ataque de 07 de outubro.
Foto: Adel Hana/AP

De acordo com o CIA World Factbook - relatório das forças de inteligência dos Estados Unidos - estima-se que as Brigadas Qassam possuem entre 20 mil e 25 mil membros, um número não confirmado pelo grupo. O arsenal bélico do grupo não é publicamente conhecido, no entanto, os ataques são quase sempre realizados com granadas e foguetes improvisados.

Com a retirada das tropas israelenses de Gaza em 2005, o Hamas assumiu o controle político da região e desenvolveu a sua força militar. O Irã - potência militar da região - é tido, de maneira informal, como um financiador da evolução militar do grupo palestino. Recentemente o grupo também incorporou drones ao seu arsenal. Foi possível notar o uso dos equipamentos na ofensiva do último dia 07 de outubro.

Dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos, em 2021, nos confrontos com Israel, as Brigadas Al-Qassam lançaram cerca de 4.400 foguetes. Os relatórios afirmam que o grupo palestino tem experiência com explosivos improvisados, e salientam que dependem de estratégia para os ataques. Além disso, o Hamas conta com uma poderosa estrutura de túneis que permite os combatentes se movimentarem sem serem detectados.


Massacre de Sabra e Chatila

Em 15 de setembro de 1982, a mando do então ministro da Defesa israelense, Ariel Sharon, o Tshal - força de defesa de Israel - cercou por inteiro o campo de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano. A ação foi uma resposta de Israel após um atentado de forças pró-Síria e pró-Palestina resultar na morte de cerca de 40 pessoas um dia antes. Sharon se reuniu com a milícia cristã-falange libanesa, para que invadissem o acampamento de refugiados.

Às 18h do dia 16 de setembro, cerca de 150 falangistas invadiram o campo de refugiados, armados com pistolas, facas e machados. A suposta missão do grupo era localizar guerrilheiros da Organização para a Libertação Palestina (OLP), mas não foi o que aconteceu. O grupo coordenou um massacre em sua maioria de mulheres, crianças e idosos.

A alegação do governo israelense, à época chefiado por Menachem Begin, era de que não sabiam o que se passava no acampamento. O jornal israelense Yedioth Ahronoth contradisse o governo e afirmou que oficiais israelenses sabiam sim do massacre. “Na quinta e na sexta-feira pela manhã, os ministros e funcionários (do governo de Israel) já sabiam da matança e nada fizeram para detê-la. O governo sabia desde a noite de quinta-feira e não moveu um dedo nem fez nada para evitá-la”, dizia o jornal. Além das mortes, os falangistas torturam e estupraram refugiados.

Os números de mortos no massacre não são exatos, mas números da Cruz Vermelha afirmam que pelo menos 2.400 pessoas morreram. O governo israelense foi pressionado a investigar e punir Ariel Sharon, no entanto, apenas o passou para a reserva.


Segunda Intifada

Em setembro de 2000, no dia 28 de setembro, o líder da oposição, Ariel Sharon, visitou a mesquita de Al-Aqsa escoltado por policiais e soldados israelenses fortemente armados. De acordo com o porta-voz do partido de Sharon, a visita foi para “demonstrar assim que, sob o governo do Likud, a Mesquita de Al-Aqsa permaneceria subjugada à soberania israelense”. A ação foi considerada uma afronta aos palestinos, que celebravam a memória dos dezoito anos do massacre de Sabra e Chatila, o mesmo em que Sharon foi responsabilizado pela conivência.

O resultado do descontentamento foi o segundo levante palestino contra Israel. A Segunda Intifada foi mais sangrenta que a Primeira, e durou de 2000 até 2005, quando foi declarado o cessar-fogo. Segundo o jornal israelense Haaretz, nos cinco anos de conflito, foram 3.300 mortes de palestinos e 1.330 mortes de israelenses.

Dentre as mortes, uma chamou a atenção do mundo. Em 30 de setembro, Muhammad Al-Durrah, de apenas 12 anos, foi assassinado por forças israelenses. Um vídeo registrou a criança com o seu pai, se abrigando de um tiroteio, o pai de Muhammad fazia sinais para que parassem os tiros. O cessar-fogo não aconteceu, e um dos disparos matou Muhammad Al-Durrah.


O Partido

Em 2004, o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, anunciou a intenção do governo de retirar as tropas e os colonos israelenses dos assentamentos - considerados ilegais pela Organização das Nações Unidas - na Faixa de Gaza. A saída de cerca de 8 mil colonos e o desmanche de 21 assentamentos aconteceu em agosto de 2005. Os militares israelenses saíram pouco mais de um mês depois, em 11 de setembro. A retirada das tropas marcou o fim de uma ocupação militar que durou 38 anos.

O Hamas organizou um desfile em Neve Dekalim, antiga capital dos colonos na Faixa de Gaza. Sem as tropas israelenses, a Palestina vivia uma situação inédita no território de Gaza, e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) tinha um desafio pela frente. Mais da metade da população vivia abaixo da linha da pobreza e os movimentos armados - incluindo o Hamas - atraiam o apoio principalmente dos jovens.

Em 2006, com um resultado inédito, o Hamas derrotou o tradicional Fatah, de Abbas, e venceu as eleições para o legislativo palestino. Com a vitória do grupo, considerado terrorista por países como Estados Unidos, Israel, e blocos como a União Europeia, o então primeiro-ministro palestino, Ahmed Qorei, anunciou sua renúncia. A eleição foi acompanhada por observadores internacionais e considerada limpa, o resultado, no entanto, surpreendeu ao mundo.

Pelo resultado da eleição, o Hamas conquistou 76 dos 132 assentos do Conselho Legislativo Palestino, enquanto o Fatah alcançou apenas 43. Pouco depois do anúncio dos resultados, o presidente palestino, Mahmmoud Abbas - líder do Fatah e eleito pelo voto popular em janeiro de 2005-, disse em pronunciamento que continuaria com as negociações de paz com Israel. “Estou comprometido em implementar o programa para o qual vocês me elegeram no ano passado. É um programa baseado em negociações e um acordo pacífico com Israel”, disse Abbas em pronunciamento televisionado.

Sem ser reconhecido como governo, depois de conflitos internos, o Hamas expulsou o Fatah de Gaza, causando a divisão que conhecemos hoje. A Cisjordânia, que tem como capital Ramallah, segue sendo governada pela ANP, enquanto a Faixa de Gaza passou a ter o Hamas como representante político. Essa realidade, porém, trouxe uma série de bloqueios impostos por Israel e pelo Egito, que fazem fronteira com a região.


"O Fatah e o Hamas, eles se diferenciam por várias coisas, mas entre eles estavam numa disputa por corações e mentes e por uma agenda em conseguir popularidade e, lógico, conseguir apoio para as escolhas políticas que cada um fez", avalia Arturo Hartmann, pesquisador, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe.

Hamas surpreendeu ao vencer eleições de 2006
Vitória eleitoral do Hamas, em 2006, aconteceu por descontentamento da população com ações de Israel no território Palestino. Foto: Mohammed Saleh/Reuters (2021)

"O Hamas vinha crescendo, obviamente, toda a ação dentro da Segunda Intifada e como você vendia as suas ações, a noção da defesa da luta anticolonial palestina, tinha a questão religiosa e moral. [...] Eles ganharam com 60%. Então, muita gente votou como um voto de protesto, pessoas que talvez não necessariamente fossem muito simpatizantes da agenda do Hamas, não em relação à resistência, mas em relação à questão do tecido social", analisa Hartmann. "Foi um voto no Hamas para algumas pessoas, mas para outras foi um plebiscito contra o processo de paz e contra a solução que não só as lideranças israelenses e palestinas, mas que a comunidade internacional tinha endossado", conclui o pesquisador.

Quando venceu as eleições, Khaled Meshaal era o líder político do Hamas. Considerado um dos fundadores do Hamas e integrante do gabinete político desde a criação, Meshaal foi escolhido como líder após a morte do xeque Ahmed Yassin, em 2004. Em 1997, o Mossad, serviço secreto de Israel, tentou assassinar Meshaal por envenenamento na Jordânia. Na ocasião, o rei jordaniano, Hussein bin Tal, e o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tiveram que convencer Benjamin Netanyahu, premiê israelense, a enviar o antídoto.

Khaled Meshaal, também conhecido como Abu Al-Walid, permaneceu como líder do gabinete político até 2017, quando foi substituído por Ismail Haniyeh. O escritório político do Hamas também conta com outras lideranças como Yahya Sinwar, criador do “Majd”, uma espécie de serviço de segurança interna do Hamas. O Majd evoluiu com o tempo e, de forma limitada, trabalha com rastreio dos serviços de inteligência israelense.

Sinwar foi preso três vezes e só foi libertado em 2011, após um acordo entre o governo de Israel e Hamas e Fatah, em uma troca pelo soldado Gilad Shalit. Na troca, mil prisioneiros foram soltos, dentre eles Sinwar. Em setembro de 2015, os Estados Unidos incluiu o político na lista “terroristas internacionais”.

Outra liderança do Hamas é Mahmoud Al-Zahar, formado em medicina geral pela Universidade Ain Shams, no Cairo, Egito. Al-Zahar exerceu suas funções em Gaza e na cidade de Khan Younis, mas foi demitido pelo governo israelense devido a suas posições políticas. Em 2003, as forças israelenses tentaram o assassinar com uma bomba de meia tonelada lançada de um avião F-16 sobre a sua casa, em Gaza. Al-Zahar teve ferimentos leves, mas seu filho mais velho morreu.

Com a vitória nas eleições de 2005, Zahar serviu como ministro das Relações Exteriores. Forte liderança intelectual, é autor do livro “O Problema da Nossa Sociedade Contemporânea… Um Estudo do Alcorão e Sem lugar sob o sol”. A publicação é tida como uma resposta ao livro “O Discurso político islâmico”, escrito por Benjamin Netanyahu.


Operação Al-Aqsa Flood

Em 06 de outubro de 1973, Egito e Síria conduziram uma ofensiva contra o Estado de Israel. O conflito ficou conhecido como a Guerra do Yom Kippur, em referência às comemorações do feriado judaico do dia do perdão - Yom Kippur, em hebraico. O feriado é o mais importante do calendário hebraico e o país estava paralisado para as celebrações.

O principal motivo da guerra foi a anexação de territórios sírios e egípcios por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em julho de 1967. A Guerra do Yom Kippur foi considerada o último grande conflito árabe-israelense. A ofensiva foi elaborada pelo presidente do Egito, Anwar Sadat, e Hafez Al-Assad, presidente da Síria. Ao todo, o conflito durou 18 dias e terminou na morte de 15 mil egípcios, 3.500 sírios e 2.600 israelenses.

No dia 07 de outubro de 2023,  exatos 50 anos e um dia depois do início da guerra do Yom Kippur, o Hamas fez uma ofensiva contra militares e civis no sul de Israel, eclodindo no conflito com mais mortes da história entre Palestina e Israel. A Operação Al-Aqsa Flood, ou dilúvio, se tornou o primeiro embate direto no território de Israel desde a primeira guerra árabe-israelense, em 1948. A ação coordenada pelo grupo islâmico entrou no território de Israel por mar, terra e ar, e foi considerada uma falha do sistema de defesa israelenses. “Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação da Terra”, afirmou Deif,  comandante das Brigadas Qassam. O grupo queria encorajar outras nações muçulmanas a se unir no ataque.

Horas após o ataque, o Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra contra o Hamas. Essa foi a primeira vez que o Estado de Israel se colocou abertamente em guerra desde o conflito do Yom Kippur. Em resposta, os israelenses lançaram a Operação Espadas de Ferro.

O conflito atual já deixou 15.523 mortes do lado palestino, em Gaza, e 1.402 mortes do lado israelenses, além de cerca de 200 reféns que foram levados para o território da Faixa de Gaza. Apesar da surpresa pelo ataque, o decorrer do conflito mostrou o baixo potencial ofensivo do Hamas contra o Estado de Israel, que segue com os ataques e também com incursões por terra.


Ao norte volver

Na fronteira norte de Israel, região do sul do Líbano, outro grupo também desperta a atenção: o Hezbollah. Apesar de uma corrente religiosa diferente do Hamas - que é sunita - os grupos têm em comum o objetivo de combater o estado de Israel.

Com origem muçulmana xiita, o grupo teve sua primeira formação em 1982, sob o nome de Resistência Islâmica Libanesa. O surgimento do Hezbollah - que em árabe significa “Partido de Deus” - está associado à invasão israelense ao território libanês que aconteceu em dois momentos. O início em 1978 e, depois, com a incursão por terra, água e mar em 1982.


 

Hezbollah é parte do xadrez de tensões no Oriente Médio
Hezbollah conta com apoio de considerável parte da população libanesa.
Foto: Francisco Volpi/Getty Images

O grupo ganha o nome de Hezbollah em 1984, e se oficializa em 1985, com a divulgação de uma carta aberta com suas três ideias principais: combater tendências colonialistas, julgar membros da Falange - partido Libanês criado em 1936 - pelos crimes cometidos e estabelecer um estado muçulmano no Líbano.

A ligação entre o grupo e a causa Palestina data das origens do Hezbollah, como contextualiza Karime Cheaito, mestre em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), membro do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (GECI/PUC-SP) e pesquisadora de assuntos voltados ao Hezbollah e organizações armadas não-estatais.

“O principal objetivo do Hezbollah era a libertação das terras libanesas ocupadas, a retomada da soberania do Líbano e, neste documento (o manifesto de 1985), também ganha destaque a libertação de Jerusalém, sendo a causa Palestina central, então, desde a fundação da organização”, explica.

Em 1989, com o fim da guerra civil que havia começado em 1975, o Hezbollah passou a se organizar como um partido político, com o intuito de representar politicamente os xiitas, classe que, até então, era subrepresentada politicamente.

Os líderes do grupo foram, em grande parte, influenciados pelos ideais do aiatolá Khomeini - antigo líder supremo do Irã e idealizador da Revolução Iraniana em 1979. Os membros tiveram uma espécie de “formação” pela Guarda Revolucionária Iraniana. Assim como o Hamas, o Hezbollah é dividido entre atuação política, social e armada. O braço armado do grupo, por exemplo, é maior do que as Forças Armadas libanesas.

De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, o Irã é responsável por financiar o Hezbollah com treinamentos, armamentos e explosivos. Em 2021, o líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, disse em uma entrevista que o braço militar do Hezbollah contava com cerca de 100 mil combatentes.

Apesar de alguns bombardeios na fronteira norte de Israel, não é possível afirmar que o Hezbollah entrou de fato no conflito. “Ainda não temos uma resposta oficial, nem uma indicação precisa. Tudo depende de como as negociações e decisões políticas vão se desdobrar. Até o momento, os atritos que tem se desenvolvido na região da fronteira entre Líbano-Israel são pontuais, geograficamente localizados e não tem caminhado para uma escalada”, analisa Cheaito.