A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
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16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Voluntários foram vítimas de sequestro ilegal em alto mar
por
Maria Mielli
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11/06/2025 - 12h

Nesta segunda-feira (9), o barco Madlen — batizado em homenagem a primeira e única mulher pescadora de Gaza — que levava Greta Thunberg, Thiago Ávila e outros ativistas ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade foi interceptado e sequestrado pelas forças israelenses.

Os voluntários, que tinham como missão romper o bloqueio de Israel a faixa de Gaza e transportar ajuda humanitária até o povo palestino, foram alvos de drones e soldados que impossibilitam a chegada de qualquer tipo de ajuda à região. 

“A conexão foi perdida no Madleen. O exército israelense abordou o navio” foi a última mensagem dos ativistas, em seu canal de comunicação no Telegram. 

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Bombardeio no dia 1 de junho em Gaza/ Foto: Jehad Alshrafi
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Terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv (Israel) e conta com o apoio da embaixada brasileira que assiste o caso de perto. O esperado era que ele e os demais ativistas fossem deportados para seus respectivos países, mas até o momento da publicação dessa matéria, Thiago e outros 8 voluntários, como a deputada franco-palestina Rima Hassan, seguem sob prisão política de Israel. Greta foi a única verdadeiramente deportada. Os demais se recusaram a assinar o termo proposto pelos israelenses e foram enviados para prisão em Givon. Thiago aderiu greve de fome e Rima foi enviada a confinamento solitário após escrever "Palestina livre" em parede da prisão. 

“Eles cometeram um ato ilegal nos sequestrando em águas internacionais e contra nossa vontade nos trazendo para Israel, nos mantendo no fundo do barco, não nos deixando sair e assim por diante. Mas essa não é a história real aqui. A verdadeira história é que há um genocídio acontecendo em Gaza e uma campanha de fome sistemática” afirma a ativista Greta, em vídeo divulgado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Em janeiro deste ano, o site de notícias BBC, apurou que, até então, o número de palestinos mortos passava da casa dos 46 mil. Fora a destruição local, no qual diversos hospitais e escolas, e seus respectivos frequentadores (crianças e profissionais da saúde) foram também vítimas dos ataques de Israel. 

A guerra que dura mais de 2 anos é marcada por ser uma das mais violentas e desonestas da história, repleta de crimes de guerra. Israel não ataca somente os palestinos, mas também aqueles que demonstram apoio e/ou estão tentando exercer seu trabalho, como é o caso da imprensa. Em abril deste ano, durante a madrugada, tendas de imprensa do hospital Nasser, localizado no sul da Faixa de Gaza, foram vítimas de bombardeios. O ataque assassinou os jornalistas Helmi al-Faqawi e Yusef al-Jazindar e deixou outros sete feridos. 

Fatma Hassona, fotojornalista palestina responsável por divulgar diversas barbáries, foi outra vítima do exército israelense e morreu ao lado de nove membros da sua família. O cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar No other land — que expõem as vivências dos palestinos — foi vítima de um sequestro que o deixou algemado por uma noite sendo torturado numa base militar, segundo o colega e diretor do filme, Yuval Abraham. 

O jornalista palestino Ahmed al-Naouq, em entrevista realizada no dia 3 de junho ao canal Piers Morgan Uncesored, afirmou: “Essa não é uma guerra religiosa. É uma guerra entre colonização e colonizados. Entre ocupantes e um povo sob ocupação”. Para o presidente da Fepal, Ualid Rabah, esse genocídio é a maior matança de crianças desde a Segunda Guerra. Ainda em recentes postagens, a federação emitiu uma nota oficial no Instagram: "Se a humanidade parou a Alemanha nazista e destruiu seu regime, é nosso dever histórico parar o Israel sionista e destruir seu regime".

Para brasileiro, governo quer causar um estrago imediato na vida dos estrangeiros
por
Tamara Ferreira
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03/06/2025 - 12h

 

No dia 11 de abril, o governo dos Estados Unidos enviou uma carta a Harvard exigindo uma reforma administrativa, auditorias com dirigentes, professores e alunos, além do encerramento dos programas de diversidade, equidade e inclusão. A Casa Branca também determinou a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada aos protestos pró-Palestina, os quais têm sido tratados pelo governo como manifestações movidas por antissemitismo.

Três dias depois, foram congelados os contratos e subsídios federais da instituição, bloqueando cerca de US$2,3 bilhões (13,5 bilhões de reais). No mesmo dia, Alan Garber, presidente da universidade, declarou que as exigências extrapolam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, disse Garber em um comunicado para os alunos. “Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, completou. 

Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump.
Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump. Foto: REUTERS/Nicholas Pfosi

Ainda em abril, o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) afirmou que Harvard poderia perder a autorização para matricular estudantes estrangeiros caso não cumprisse as exigências do governo Trump. Na época, a secretaria do DHS enviou uma carta à universidade exigindo que, até o dia 30 daquele mês, fosse apresentado o registro das chamadas 'atividades ilegais e violentas' praticadas por estudantes estrangeiros com visto. Caso contrário, Harvard perderia o privilégio de matricular novos alunos internacionais.

Na carta enviada à instituição, o DHS declarou: “E se Harvard não puder comprovar que está em total conformidade com seus requisitos de notificação, a universidade perderá o privilégio de matricular estudantes estrangeiros”.

No dia 22 de maio, o governo Trump cumpriu a ameaça e cancelou a certificação do Programa de Estudantes de Intercâmbio de Visitantes da universidade. Com isso, ficou impedida de matricular novos alunos estrangeiros, e cerca de 6,8 mil estudantes internacionais, que representam 27% dos alunos da universidade, foram orientados a buscar transferência para outras instituições.

Um dia depois, após Harvard entrar com uma ação contra o governo, a Justiça dos Estados Unidos decidiu derrubar a proibição. Com isso, os estudantes já matriculados e os novos ingressantes voltaram a ter autorização para obter o visto de estudante no país.

Em entrevista à AGEMT, Danilo Linhares, estudante de Direito de Harvard, afirmou que o objetivo da proibição é causar um estrago imediato nas universidades. “A ilegalidade da medida é tão gritante que é difícil acreditar que o próprio governo ache que tem chance real de vencer na Justiça. Mas acho que o objetivo deles nem é exatamente ganhar. É causar um estrago imediato — muita universidade menor não tem recursos nem disposição para comprar essa briga nos tribunais e, talvez, acabe cedendo às exigências."

Donald Trump justificou as medidas afirmando que Harvard “perdeu o rumo” e que a universidade “só ensina ódio e estupidez”. 

Nas audiências realizadas nos dias 27 e 29 de maio, a juíza Allison Burroughs prolongou a suspensão da decisão do governo, permitindo que Harvard continue recebendo estudantes internacionais até que os dois lados apresentem seus argumentos no tribunal.

Região da Caxemira é reivindicada há mais de sete décadas pelos dois países e concentra interesses estratégicos globais, inclusive da China
por
Chloé Dana
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25/05/2025 - 12h

          Na terça-feira do dia 6 de maio, as autoridades indianas afirmaram que realizaram bombardeios em nove locais que hospedam terroristas na Caxemira controlada pelo Paquistão. O Paquistão, por sua vez, apresentou uma narrativa distinta: informou que houve ataques aéreos em seis áreas, todos voltados a alvos civis, resultando em oito mortes, incluindo a de uma criança. O governo paquistanês comunicou aos meios de comunicação que conseguiu derrubar cinco aeronaves e um drone indiano. O governo indiano responsabilizou o Paquistão, que negou estar envolvido. Os bombardeios foram desencadeados após um ataque que ocorreu em abril na Caxemira indiana, onde 26 vidas foram perdidas devido a uma ação armada em uma área turística. 
As Forças Armadas do Paquistão, na véspera, reivindicaram a destruição de cinco caças indianos na porção da Caxemira sob administração de Nova Délhi. Embora as autoridades indianas não tenham confirmado oficialmente as perdas, uma fonte ligada às forças de segurança, que preferiu não se identificar, informou que três aeronaves militares foram abatidas.

          Ao conversar com o cientista político e ex-professor de Relações Internacionais na UERJ, FGV e Candido Mendes, Maurício Santoro, o profissional nos explica sobre a crescente do conflito da Caxemira desde 1947, as políticas que os países confrotam nos dias atuais e como podemos entender melhor essa história. Veja a reportagem 

 

Ex-presidente uruguaio lutava contra um câncer no esôfago; notícia foi confirmada pelo atual presidente
por
Marcelo Barbosa
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14/05/2025 - 12h

 

 Nesta terça-feira (13), faleceu José “Pepe” Mujica, ex-líder do Uruguai. Aos 89 anos, ele travava uma batalha contra um câncer no esôfago desde abril do ano anterior. A causa exata da morte ainda não foi informada.

Na rede social X, o atual presidente do país, Yamandú Orsi, confirmou a notícia: “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor ao povo uruguaio.”

Ontem (12), a esposa de Mujica, Lucía Topolansky, já havia declarado que ele estava “em estado terminal e recebendo cuidados paliativos”.

A trajetória de Mujica foi marcada por sua liderança como uma das figuras mais emblemáticas da esquerda no Sul Global. Desde a infância, sob influência da mãe, Pepe se apaixonou pela literatura e pela política. Criado com a irmã, perdeu o pai aos 7 anos de idade. Iniciou sua carreira política como secretário da Juventude no Partido Nacional.

Foi também um dos fundadores e guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo que buscava uma revolução socialista no Uruguai. Seus integrantes ficaram conhecidos por realizar assaltos a bancos para redistribuir o dinheiro entre os mais pobres. O período de maior atividade do grupo coincidiu com a ditadura militar no país, entre 1973 e 1985.

Mujica foi capturado quatro vezes, passando seu mais longo período de encarceramento em 1972. Mesmo assim, conseguiu fugir duas vezes. Durante a prisão, foi mantido em solitária e submetido a intensas torturas. Sua primeira detenção foi em 1964, após o assalto a uma fábrica em Montevidéu. Em 1971, foi preso novamente, mas conseguiu escapar junto a centenas de detentos. No total, passou mais de 14 anos na prisão.

Após ser libertado por um projeto de anistia, Mujica participou da fundação do Movimento de Participação Popular. Apesar do passado como guerrilheiro, declarou em entrevista ao jornal Búsqueda que se tornou um defensor da democracia e que considerava seus atos da juventude um erro. Na década de 1990, ocupou os cargos de senador e ministro da Agricultura.

Como presidente do Uruguai (2010-2015), Mujica ganhou notoriedade mundial por defender pautas progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.

Entrou para a história uruguaia como um líder humanista, priorizando o combate à pobreza e à fome. Mesmo no cargo mais alto do país, manteve um estilo de vida simples: recusou-se a morar no palácio presidencial e preferiu continuar em seu sítio nos arredores de Montevidéu. A imprensa internacional o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Fiel ao seu Fusca 1987, doava a maior parte de seu salário, reforçando sua imagem de político avesso a luxos.

Reprodução: Reuters/Tony Gentile
Pepe Mujica no Festival de Veneza | Reprodução:Reuters/ Tony Gentile 

Sob sua gestão, a economia uruguaia apresentou resultados expressivos, com crescimento médio anual de 5,4% e redução significativa dos índices de pobreza. Ainda assim, enfrentou críticas da oposição, que o acusava de provocar aumento do déficit fiscal.

Em 2012, Mujica esteve no Brasil para a cúpula Rio+20 da ONU, realizada no Rio de Janeiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota de pesar, afirmando: “Ele foi um grande amigo do Brasil.”

Mujica nunca escondeu sua visão serena sobre a morte, como demonstrou em diversas entrevistas: “E, por favor, não vivam com medo da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que, um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar”, declarou em uma conversa par um livro.

 

Líder taiwanesa encontra-se com o atual presidente da Câmara dos Estados Unidos. China responde com exercícios militares próximos à “ilha rebelde”
por
Beatriz Barboza
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11/04/2023 - 12h

No último sábado (08), a China deu início a uma sequência de três dias de exercícios militares próximo ao território de Taiwan, em resposta ao encontro da presidenta taiwanesa, Tsai Ing-wen, com o atual presidente da Câmara dos Estados Unidos, Kevin McCarthy. O encontro foi realizado terça-feira (04) na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Los Angeles. 

Segundo uma nota publicada pela Xinhua, agência oficial de notícias do governo chinês, o Ministério das Relações Exteriores declarou que as manobras militares configuram-se como "medidas firmes e eficazes para salvaguardar a soberania nacional e a integridade territorial" da república chinesa. 

Mesmo com explícitas ameaças vindas da China, a líder taiwanesa reforçou o preparo e prontidão da ilha em se proteger. A presidenta afirmou que Taiwan tem demonstrado à Comunidade Internacional sua capacidade de gerenciar riscos com serenidade, manter a paz e a estabilidade regional. 

"As relações Taiwan-Estados Unidos continuam a se aprofundar e a cooperação bilateral - em vários intercâmbios: economia, comércio e segurança - tiveram um progresso significativo nos últimos três anos", destacou Tsai Ing-wen em Nova York. 

Kevin McCarthy, em seu discurso de boas-vindas à presidenta, por vezes, elogiou a atuação de Ing-wen e reforçou o compromisso estadunidense com a ilha: "A amizade entre o povo de Taiwan e a América é um assunto de profunda importância para o "mundo livre" e é fundamental para manter a liberdade econômica." 

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O presidente da Câmara dos Estados Unidos, McCarthy, recebe Tsai Ing-wen, líder taiwanesa na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan, em Los Angeles. Foto: Ringo H.W. Chiu/AP

Os discursos dos representantes enfatizam a valorização da democracia, a manutenção da paz e o progresso autônomo de Taiwan, sem mais a tutela chinesa. O posicionamento da China, no entanto, permanece firme no reconhecimento da ilha como uma “província rebelde” que faz, indiscutivelmente, parte de seu território. O governo chinês não cede e mantém-se fiel ao projeto de “uma só China”.

Com o objetivo de evitar maior provocação da república chinesa, a reunião da líder taiwanesa com a delegação de políticos estadunidenses foi classificada como não oficial pelo Departamento de Estado americano, o qual pediu moderação nos exercícios militares da China.

Em agosto de 2022, uma visita da ex-presidenta da Câmara dos Estados Unidos, Nancy Pelosi, a Taiwan teve resposta semelhante. A China arquitetou manobras militares que visavam cercar a ilha por meio de navios e aviões de guerra. O país usufruiu, inclusive, do lançamento de mísseis sobre a "província rebelde". Em tom de formalização, o governo chinês classificou a atuação militar como uma resposta aos "atos negativos dos Estados Unidos com relação a Taiwan" e declarou que as manobras serviam como alerta às forças separatistas. 

Ainda no sábado (08), a porta-voz do Ministério de Relações Exteriores da China, Mao Ning, disse que o governo chinês não reage exageradamente, apenas se posiciona em oposição à promoção da "agenda separatista" formalizada no encontro de Ing-wen e McCarthy. O Ministério da Defesa de Taiwan declara ter detectado um total de 49 aviões de guerra vindos da China nos arredores da ilha. 

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Caça J-15 pronto para decolar em Shandong durante exercício militar liderado pela China sobre o Estreito de Taiwan. Foto: An Ni/Xinhua
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Aviões de guerra do Comando do Teatro Oriental do Exército de Libertação do Povo Chinês (PLA) durante manobra militar nas proximidades da Ilha de Taiwan. Foto: Mei Shaoquan/Xinhua

 

Na terça-feira, 04/04, Donald Trump depôs sobre as mais de 30 acusações sobre ele na Promotoria de Manhattan, Nova York.
por
Beatriz Brascioli
Laura Teixeira
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10/04/2023 - 12h

Na última terça-feira (04/04), Donald Trump se tornou o primeiro ex-presidente americano a ser acusado em um processo criminal. Durante sua aparição em um tribunal em Manhattan, ele afirmou sua inocência perante as 34 acusações feitas contra ele. As principais denúncias envolvem falsificação de registros contábeis no momento da campanha de 2016.

O caso mais marcante foi a compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels, no valor de US $130 mil (aproximadamente R$671 mil reais) para que seu caso extraconjugal não se tornasse público. Segundo a agência de notícias Reuters, Trump pode receber pena de até 136 anos.

Os advogados de Trump negociaram com a promotoria de Manhattan e chegaram a um acordo de não necessidade do uso de algemas e também não ter um registro em retrato, aquele onde o preso segura uma plaquinha com o nome e idade. A defesa alegou que o ex-presidente já é uma pessoa bastante conhecida e deveria ser poupado disto. Já na questão das algemas, alegou que o empresário corre pouco risco de fuga.

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O ex-presidente dos EUA Dornald Trump, rodeado por policiais, em tribunal de Manhattan - Ed Jones / AFP

Trump também não ficará em uma cela, pois a natureza do seu crime não põe a sociedade em risco, como por exemplo, a de um assassino. O ex-presidente deixou o tribunal sem pagar fiança, no mesmo dia do julgamento, apenas deixando suas digitais no banco de dados.

Apesar de ser réu, isso não impossibilita Donald Trump de participar da corrida eleitoral em 2024, já que nos Estados Unidos não existe uma lei equivalente à lei da ficha limpa no Brasil. A única maneira dele ser impedido de concorrer novamente à presidência dos EUA seria sendo condenado pelo ataque ao Congresso. O fato ocorrido em janeiro de 2021, poderia acabar com a carreira política de Trump, caso a Justiça concluir que ele violou a 14ª Emenda da Constituição que barra candidaturas a cargos públicos de pessoas que "se engajaram em insurreição ou rebelião" ou forneceram "ajuda ou conforto" a inimigos dos EUA.

Pronunciamento

Após sua audiência em Nova York, o ex-presidente voou de volta para a Flórida e se pronunciou para seus apoiadores. Argumentou que está acontecendo uma “caça às bruxas” nos Estados Unidos e atacou os promotores e juízes. Além disso, acusou o promotor do caso, Alvin Bragg, de ter motivações políticas para indiciá-lo . Em suas próprias palavras, "o único crime que eu cometi foi defender a nossa nação daqueles que tentam destruí-la”. O juiz do caso, Juan Merchan, alega ter recebido ameaças de morte também. A polícia de Nova York está reforçando o policiamento dos ameaçados.

Ao chegar em Nova York, se hospedou em uma de suas propriedades, a Trump Tower, onde havia um forte policiamento e barricadas na calçada. Manifestações foram convocadas em frente ao prédio. Em nota, o departamento de polícia de Nova York disse que os policiais estão em alerta e o departamento pronto para responder, garantindo que todos possam exercer seus direitos pacificamente. Alguns desses manifestantes pedem a prisão, outros acham que é tudo uma perseguição política e que ele está sendo julgado injustamente.

 

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Protestos contra e a favor de Donald Trump. Foto: Leonardo Munoz // Bryan R. Smith / AFP

“Eu não penso que os crimes dele contra mim são passíveis de encarceramento. Eu sinto que outras coisas que ele fez, se ele for condenado, com certeza [deveriam implicar uma pena de prisão]”, diz Stormy Daniels em entrevista para a rede de TV Fox, após o ex-presidente virar réu no processo que teve iniciou com o suborno pela compra de silêncio dela. 

Entenda como Donald Trump pode ser preso por conta de uma denúncia vinda de uma atriz pornô
por
Beatriz Brascioli
Laura Teixeira
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30/03/2023 - 12h

Ao voltar às redes sociais, no dia 21/03 (terça-feira), Trump utilizou a “Truth", plataforma de mídia social criada pelo Trump Media & Technology Group, e pediu para que seus apoiadores fossem às ruas contra as ameaças vindas da atriz pornô Stormy Daniels. O ex-presidente foi banido das mídias tradicionais após envolvimento no ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021.

 

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Ex-presidente dos EUA Donald Trump deixa a Trump Tower em Nova York 10/08/2022 REUTERS/David 'Dee' Delgado/File Photo

 

Linha do Tempo

As acusações indicam a compra do silêncio da atriz , sobre ter tido uma noite com Trump, e o mesmo não ter declarado financeiramente. O pagamento teria sido feito pelo seu advogado Michael Cohen em 2016 (antes de ganhar as eleições) em um valor estimado em US $130 mil (aproximadamente R$671 mil reais). Implicando em um falso testemunho por declarações falsas de pagamento (delito menor) ou por financiamento das campanhas (delito penal).

O advogado já foi condenado à prisão e afirmou que pagou a pedido do então candidato na época. Já o ex-presidente nega todas as acusações e diz que a investigação tem viés político. Se ele for realmente indiciado, será a primeira vez na história dos Estados Unidos que um ex-presidente poderá ser preso.

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Donald Trump e Stormy Daniels, juntos em 2006, em uma imagem obtida pelo jornal 'The Wall Street Journal' da conta MySpace da atriz.

 

O que acontece se ele for culpado?

Após a promotoria de Nova York ouvir as testemunhas, Trump se recusou a se defender e o processo está sendo analisado na busca de evidências suficientes para prosseguir a acusação. O promotor Alvin Bragg virou alvo de comunidades de extrema direita apoiadoras do republicano. As principais críticas o descrevem como ativista progressista e associado a George Soros - filantropo húngaro que encabeçou projetos progressistas e um dos inimigos dos supremacistas brancos. Caso o processo prossiga, Donald Trump será obrigado a se apresentar à justiça ou a mesma mandará prendê-lo.

 

A não adesão de seus apoiadores

Ali Alexander, uma das lideranças da extrema direita americana e um dos organizadores do ataque ao Capitólio, anunciou que não iria ao protesto, assim como outros diversos importantes apoiadores do ex-presidente.

Ao incentivar possíveis manifestações, cidades se preparam para um cenário de caos e violência. Porém, seus apoiadores não foram às ruas como Trump pediu.

O motivo principal desse cenário é uma teoria da conspiração que ronda os trumpistas. Segundo eles, progressistas estariam infiltrando protestos de extrema direita e os deixando mais violentos. Esse argumento começou com o ataque ao Capitólio onde uma grande violência foi televisionada e os apoiadores começaram a afirmar que essas violências viriam de pessoas que seriam contra o ex-presidente, com intuito de manchar e deslegitimar o que eles estavam reivindicando. Tudo isso seria comprovado por documentos secretos que mostrariam que informantes do FBI estariam presente no acontecimento de janeiro de 2021.

 

Um jogo político?

O republicano quer se tornar candidato nas eleições presidenciais de 2024, ou seja, as acusações são um teste para sua popularidade. Até agora, nenhum processo impede ele de concorrer à presidência. Há também, quem acredita que, se Trump voltar ao poder, poderá criar mais caos à imagem estadunidense. Já outros acham que tudo isso não passa de uma “perseguição política".

 

Candidatos ao parlamento cubano visitam a população para debates em uma eleição caracterizada pela diversidade e participação popular
por
Rodrigo Lozano Ferreira
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23/03/2023 - 12h

No dia 26 de março, ocorrerão em Cuba as eleições para renovação do parlamento, que por sua vez indicará o próximo presidente. Durante o mês, os candidatos viajaram por suas regiões para participar de debates com o povo, em eleições marcadas pela diversidade e necessidade de participação popular, após a menor taxa de participação da história registrada nas eleições municipais em 2017.

 

As eleições nacionais para o parlamento cubano ocorrem a cada cinco anos, e são de extrema importância, pois os candidatos eleitos irão renovar a Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP), órgão máximo do poder do Estado, que por sua vez irá eleger o próximo presidente ainda este ano.

 

O processo se iniciou no dia 1º março, quando os cidadãos votaram para os delegados municipais, seguindo com o segundo turno na semana seguinte para os candidatos que não obtiveram mais de 50% dos votos, ao todo 12.427 delegados foram eleitos, e no dia 26, 470 deputados concorrerão nas urnas.

 

As eleições cubanas apresentam particularidades que visam garantir que o processo seja verdadeiramente popular. O Partido Comunista Cubano (PCC), assim como outros partidos, só pode atuar nas eleições de forma passiva, fiscalizando o processo. Os partidos também não podem assumir caráter eleitoral, o que significa que não podem lançar candidatos nem fazer campanhas. A própria população escolhe seu candidato, por meio de entidades civis como movimentos estudantis, sindicatos etc.

 

Dados biográficos e fotografias dos candidatos são publicados em locais acessíveis de cada município e nos meios de comunicação.

 

No dia 26, os eleitores vão se dirigir ao colégio eleitoral mais próximo, que estará aberto para votação das sete horas da manhã às seis horas da tarde em todo território. Como de costume, com a participação de crianças e jovens nas mesas eleitorais. Pode-se votar em quantos candidatos quiser, e os mesmos só poderão ser eleitos caso alcancem ao menos 50% dos votos.

 

O voto é livre, universal e secreto, os eleitos não recebem remuneração econômica, e a contagem e apuração dos votos ocorre publicamente. Apesar de ser um processo reconhecido por muitos especialistas, as últimas eleições municipais em 2017, tiveram a menor taxa de participação, com 68,58% dos votos válidos, desde 1976.

 

Essa baixa na participação na democracia pode ser resultado de dois motivos: as consequências da pandemia, como já citado por Miguel Díaz-Canel na época do referendo sobre o Código das Famílias, que legalizou o casamento gay; Crise ambiental dada a catástrofe do furacão Ian, que atingiu Cuba e a Florida em 2022; Assim como os investimentos milionários pela potência estadunidense na área de propaganda anti-governo, fato denunciado por políticos e jornalistas cubanos que atuam na área de comunicação.

 

Há poucos anos, a oposição se apropriou do início da difusão das redes sociais para alcançar os jovens que se sentem insatisfeitos com o Governo e percebem os efeitos da crise. A principal campanha, já feita nas últimas eleições, estimula os cidadãos a não votarem, votarem branco ou rasurar a ficha eleitoral com mensagens anti-governo, denunciando a impossibilidade de concorrer contra candidatos favoráveis ao Governo.

 

A situação preocupa os órgãos responsáveis pelo processo eleitoral, que também tem feito bastante uso das redes com vídeos no formato rápido, colorido e simpático, famosos no TikTok e Instagram. Pautas que haviam sido criticadas nas últimas eleições, como a falta de diversidade, foram contornadas. Grande parte das propagandas eleitorais deste ano, têm ressaltado as diferenças de gênero, raça e idade.

 

Como são proibidas campanhas eleitorais, os candidatos costumam conversar com a população de seu município para trocas de ideias, escutar as necessidades da região, e exaltar seus feitos políticos, mas nunca fazendo promessas de campanha. Como tentativa de reverter a queda na participação popular nas últimas eleições, este ano, as viagens dos candidatos por seus municípios ou Distritos Eleitorais aumentaram.

Aprovada antidemocraticamente na última quinta-feira, a reforma causou ondas de protesto na França e a população está longe de aceitar as mudanças propostas
por
Ana Beatriz Villela
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22/03/2023 - 12h

Na última quinta-feira (16), o governo da França utilizou de poderes constitucionais especiais para aprovar a reforma da Previdência. Incapaz de obter o apoio da maioria para o projeto de lei no parlamento, o presidente francês Emmanuel Macron, recorreu ao uso do Artigo 49.3, que permitia ao governo aprovar o projeto de lei na Assembleia Nacional sem votação.

Macron e a primeira-ministra, Élizabeth Borne, estavam cientes do quão antidemocrático seria recorrer a essa manobra, que pode ser utilizada apenas quando há risco de colapso para o governo.

Quando o premiê utiliza deste Artigo, parlamentares têm a opção de apresentar uma moção de censura em até 24 horas. Contudo, ambas moções apresentadas não obtiveram quantidade suficiente de votos para derrubar o projeto da reforma.

A população francesa vem protestando há semanas contra a ação do governo. Segundo o Ifop (um dos principais institutos de pesquisa do país), apenas 24% dos franceses avaliam as mudanças como “aceitáveis”.

Na Praça da Concórdia, que fica próxima ao parlamento, em Paris, cerca de 4 mil pessoas protestaram contra o governo. Houve um princípio de incêndio e confronto entre manifestantes e a polícia, que utilizou gás lacrimogêneo. Os sindicatos convocaram novas ondas de manifestações para a quinta-feira (23).

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Reprodução: EFE/EPA/YOAN VALAT

 

Entenda os principais pontos da reforma da Previdência na França:

O que mudará no país com a reforma?

  • A idade mínima para aposentadoria sobe de 62 para 64 anos gradualmente até 2030, e o tempo de contribuição para acesso à pensão integral é prolongado de 42 para 43 anos, a partir de 2027.
  • As contribuições também não podem ser superiores a 44 anos.
  • Alguns benefícios foram extintos, como a aposentadoria antecipada dos trabalhadores de transporte público, bancos públicos, setor de gás e elétrico. Contudo, servidores como policiais, bombeiros, garis e enfermeiros, ainda poderão se aposentar antes, mas a idade mínima sobe para 59 anos.

 

O que o Governo diz sobre a necessidade da reforma?

A reforma vai representar uma economia de € 18 bilhões (R$ 101 bi). O gasto da França com o sistema de aposentadorias é o maior do mundo, equivalente a 14% do seu PIB.

Macron fez um pronunciamento nesta quarta-feira (22), e afirmou que a reforma da Previdência vai seguir: “Precisamos andar adiante, a reforma está no interesse superior da nação”.

O presidente francês acrescentou ainda, "vocês acham que eu gosto dessa reforma? A resposta é não". "Poderia ter colocado o problema embaixo do tapete, como muitos antes de mim fizeram, claro que sim. Mas a reforma não é um luxo, é necessária para voltar a dar equilíbrio para o sistema”.

Sobre as manifestações, Macron afirma que “quando os sindicatos se manifestam, eles têm a legitimidade, quando organizam os cortejos, que são contrários a essa reforma, eu os respeito. Mas, não podemos aceitar a violência porque não estamos contentes com alguma coisa".