jovem afegão relata os desafios de sua nova vida em São Paulo
por
Francisco Barreto
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29/04/2025 - 12h

De acordo com dados da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre janeiro de 2022 e julho de 2024, mais de 11 mil afegãos chegaram ao Brasil. A maioria se estabeleceu no estado de São Paulo, especialmente na região metropolitana. Estimativas da Organização Internacional para as Migrações (OIM) apontam que cerca de 28% residem na capital paulista e 20% em Guarulhos. Aos 20 anos, Habibullah Shariatee carrega em sua trajetória a força de quem precisou recomeçar a vida longe da terra natal. Natural do Afeganistão, ele chegou ao Brasil há três anos, fugindo da instabilidade provocada pela retomada do poder pelo grupo terrorista Talibã. Confira a entrevista exclusiva à AGEMT

 

O processo de nomeação ultrapassa a Capela Sistina e desperta curiosidade pelo mundo
por
Victória Rodrigues
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24/04/2025 - 12h

O Papa é o sucessor do apóstolo Pedro, a maior autoridade da Igreja Católica e chefe de Estado do Vaticano. No caso de sua morte ou renúncia, existem protocolos e ritos a serem seguidos para dar início ao processo de sucessão.

 

 

Quando um papa morre, são realizadas tradições litúrgicas. O Camerlengo (cardeal escolhido para exercer as funções interinas do papa) anuncia a morte do pontífice, declarando o tempo de luto.

O velório acontece na Basílica de São Pedro por nove dias, chamados de “Novendiale”. Esses dias são reservados para que fiéis, autoridades e líderes religiosos prestem suas homenagens.

Ao final deste período, um cortejo é realizado, seguido do sepultamento, que tradicionalmente acontece na Basílica de São Pedro, em Roma, exceto quando outro local é escolhido previamente pelo Santo Padre. Em caso de renúncia, é o próprio papa emérito quem anuncia sua decisão.

Até que um sucessor seja escolhido, o Camerlengo ficará à frente do governo da Igreja. Um tempo chamado de “Sé Vacante” ou “Sede Vacante” (sede vazia), que significa que a cadeira do líder da Igreja de Roma está vaga.

Este também é o período em que o Camerlengo reunirá o Colégio de Cardeais. A partir daí, começam as votações que definirão o próximo Pontífice. 

De “Sé Vacante” a “Habemus Papam” 

Entre 15 e 20 dias após a morte ou renúncia do Papa, o Colégio de Cardeais se reúne na Capela Sistina, onde é realizado o Conclave. 

Em entrevista à AGEMT, o padre Luiz Carlos Brito, da Diocese de Guarulhos, explicou esse processo:  “O Conclave é uma reunião sigilosa, significa ‘trancado com chave’. Nela, será definido o próximo Padre Santo. É sigilosa justamente para não haver influências externas, além de ser um momento de profunda oração para a Igreja”.  

Trancados em uma sala, os cardeais realizam as votações, sendo votante e elegíveis apenas aqueles  com menos de 80 anos. “Para ser eleito, é necessário que um dos cardeais elegíveis atinja pelo menos dois terços dos votos, podendo haver até quatro sessões de votação por dia”, afirma o presbítero. 

Após a contagem dos votos, se o número mínimo não for atingido ou se o escolhido pela votação não aceitar o cargo, uma fumaça preta tomará o céu, declarando encerradas as sessões daquele dia, e a Igreja seguirá sem um Papa.

No entanto, se o número mínimo de votos for atingido e o cardeal eleito aceitar a função de chefe do Vaticano e da Igreja Católica, uma fumaça branca sairá da chaminé da Capela Sistina, anunciando a boa nova ao mundo. 


Fumaça branca confirma a escolha do novo Papa | Foto: Agência Reuters

Em seguida, o cardeal protodiácono, que é o mais antigo do Colégio de Cardeais, tem o privilégio de anunciar “Habemus Papam”, temos um Papa. 

Não existe um período máximo para que o novo Bispo de Roma seja nomeado. O Conclave mais longo na história do catolicismo durou 34 meses, entre novembro de 1268 e setembro de 1271. Ao final foi eleito Teobaldo Visconti como Papa Gregório X. E a mais rápida das votações foi em 1939, que em duas sessões declarou o Papa Pio XII.

Ao ser eleito, o sucessor de Pedro adota um novo nome. De acordo com o Pe. Luiz, os motivos vão desde referência a nomes de santos ou outros papas, a uma facilidade de tradução para diferentes idiomas.

Os nomes geralmente são escolhidos em referência a algum outro papa ou a algum santo da Igreja Católica, como, por exemplo, Francisco é uma referência a São Francisco de Assis; João Paulo, além de fazer referência aos santos São João e São Paulo, juntou os nomes de seus dois antecessores. Além disso, nome próprio não se traduz, então o nome dos santos já tem  uma adaptação para  cada idioma” explica o sacerdote.

O Papa Francisco foi o 266° líder da Igreja Católica. Sua chegada dividiu opiniões. Nos últimos doze anos, o Santo Padre sofreu críticas por seu posicionamento progressista. Logo após assumir o papado, o Pontífice foi questionado sobre a homossexualidade e respondeu com a frase “Quem sou eu para julgar?”.

Além disso, Francisco seguiu a virtude da humildade de seu Santo patrono. Em uma declaração, disse que “Não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade". Alguns fiéis chegaram a acusá-lo de heresia e até mesmo de comunismo.

Para o Pe. Luiz, a Igreja é uma instituição que deve se adaptar: “Cada Papa tem um perfil, então seu pontificado será direcionado de acordo com suas convicções, isso gera um impacto na igreja de certa forma. Há alguns progressistas, há outros mais conservadores, e a cada mudança a Igreja Católica Apostólica Romana precisa se adaptar ao novo mandato”.

Pontífice sofreu um AVC e insuficiência cardíaca nesta segunda-feira (21)
por
Lívia Rozada
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22/04/2025 - 12h

 

Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)
Francisco em sua última aparição pública na missa de páscoa realizada neste domingo (20) no Vaticano. (Gregorio Borgia/AP Photos)

Às 9h45 da manhã no horário de Roma e 04h45 no horário de Brasília, apenas algumas horas após a última aparição pública do Papa Francisco, o Vaticano anunciou a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Papa havia recebido alta hospitalar fazia um mês e estava sob cuidados médicos, após 40 dias internado com um quadro grave de pneumonia nos dois pulmões.

Em 13 de março de 2013, a Igreja Católica elegeu o primeiro papa latino-americano: Jorge Mario Bergoglio, que adotou o nome de Francisco. O pontífice nasceu em uma família de imigrantes italianos em Buenos Aires, capital argentina, no dia 17 de dezembro de 1936. Seu pai, Mario Giuseppe Bergoglio, emigrou da Itália no início do século XX para fugir das guerras no continente europeu e sua mãe, Regina Maria Sivori, nasceu em Buenos Aires e era filha de imigrantes. Jorge foi o primeiro dos cinco filhos do casal.

Formação e início da trajetória eclesiástica

Sua vocação religiosa o levou a entrar no noviciado da Companhia de Jesus aos 21 anos. Bergoglio fez o juniorado em Santiago, no Chile, e retornou à Argentina para estudar filosofia, formando-se na Universidade Católica de Buenos Aires em 1960. Entre 1964 e 1966, ensinou literatura e filosofia em escolas da Companhia de Jesus em Santa Fé e Buenos Aires. Em 1967, deu início aos estudos de teologia, que concluiu em 1970.

Em 1969, o jesuíta recebeu a ordenação presbiterial para se tornar sacerdote da Igreja Católica. Bergoglio foi à Espanha para completar seus estudos religiosos e retornou à Argentina em 1973, quando foi eleito superior provincial dos jesuítas no país e passou a chefiar a Companhia de Jesus argentina.

Após o provincialado, o então sacerdote retornou  ao meio acadêmico em 1980, lecionando em colégios jesuítas, e se tornou reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de San Miguel, cargo que ocupou até 1986, quando foi à Alemanha para concluir seu doutorado. Nos anos seguintes, Bergoglio foi confessor e diretor espiritual em Córdoba.

Episcopado

Durante a década de 1990, tornou-se uma figura de destaque dentro da Igreja Católica argentina. Em maio de 1992, o então Papa João Paulo II nomeou Bergoglio para o cargo de bispo auxiliar de Buenos Aires, posição que ocupou até 1997, quando foi nomeado arcebispo adjunto da cidade. No ano seguinte, com a morte do arcebispo metropolitano, Bergoglio passou a ocupar o cargo.

O arcebispo se destacava por sua humildade. Apesar de ocupar  um cargo de grande poder na Igreja Católica, o futuro papa continuava evitando os luxos da hierarquia católica e era reconhecido por se locomover de transporte público e morar sozinho em um apartamento simples na região central da cidade. 

Em 2001, durante o papado de João Paulo II, Bergoglio foi nomeado cardeal e recebeu o título de cardeal-presbítero de São Roberto Belarmino. Em vez de ir ao Vaticano para celebrar a nomeação, convenceu centenas de argentinos a não realizarem a viagem e pediu que destinassem o dinheiro aos pobres. Quatro anos depois, o cardeal participou do seu primeiro conclave, que elegeu o Papa Bento XVI.

Pontificado

Em fevereiro de 2013, o então Papa Bento XVI anunciou sua renúncia ao cargo, por motivos que só seriam revelados após sua morte, em 2022. A decisão do pontífice foi inédita na era moderna, ocorrendo cerca de 600 anos após a última renúncia papal, quando o Papa Gregório XII renunciou. No segundo dia do conclave para nomear uma nova pessoa para o cargo, Bergoglio foi eleito como o 266º papa.

O novo papa escolheu o nome de Francisco como uma referência a São Francisco de Assis, conhecido por sua simplicidade e dedicação aos pobres, tornando-se o primeiro pontífice a usar o nome. A escolha reforçou seu compromisso com a humildade, a paz e a defesa dos mais vulneráveis, traços que marcaram seu papado. Francisco foi o primeiro papa originário do continente americano e do hemisfério sul, além de ser o primeiro papa de origem não europeia em mais de 1200 anos, desde Papa Gregório III, nascido na Síria.

Sua primeira viagem internacional como papa foi ao Brasil. Em julho de 2013, Francisco desembarcou no Rio de Janeiro para a Jornada Mundial da Juventude (JMJ), evento realizado a cada dois ou três anos, que reúne o papa e milhões de jovens católicos de todo o mundo. Durante a missa celebrada na Praia de Copacabana, o papa reuniu mais de 3,5 milhões de fiéis. Além do Rio de Janeiro, o pontífice fez questão de visitar o Santuário Nacional de Nossa Senhora de Aparecida.

Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP
Papa fala à multidão de fiéis em Copacabana. Foto: Christophe Simon/AFP

Francisco mantém uma relação de carinho com o Brasil. Alguns meses após a visita ao país, o pontífice recebeu os organizadores da JMJ e, em seu discurso de boas-vindas, brincou: “Os cariocas são ladrões, roubaram meu coração”. Em junho de 2023, o presidente Lula se reuniu com o papa no Vaticano e o agradeceu pela recepção e “boa conversa” sobre a paz no mundo. Um ano depois, na cúpula do G7, os dois se encontraram novamente. Segundo o presidente, conversaram sobre o combate à fome, a paz mundial e a importância de reduzir as desigualdades.

Legado

Francisco foi um dos líderes religiosos mais influentes do mundo. Em comparação com seus antecessores, o pontífice adotou uma postura progressista ao trazer posicionamentos mais liberais e modernos em relação a temas sensíveis para a Igreja Católica. Com mais de uma década à frente da Igreja Católica, implementou reformas e promoveu mais transparência no Vaticano e adotou medidas mais rígidas contra abusos sexuais no clero.

O papa recebeu repercussão mundial por sua postura mais acolhedora em relação à  comunidade LGBTQIAPN+ . Apesar dos seus posicionamentos conservadores, contrários ao aborto, cirurgias de redesignação sexual e casamento homoafetivo, por exemplo, Francisco, em diversas ocasiões, defendeu que membros da comunidade não devem ser marginalizados, mas sim integrados à sociedade. Em entrevista a jornalistas em 2013, o pontífice disse: “Se uma pessoa é gay e procura o Senhor e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la?”.

 

Período de votação acontecerá em menos de dois meses
por
Octávio Alves
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22/04/2025 - 12h

 


O Governo sul-coreano anunciou uma nova eleição presidencial para o dia 3 de junho, após o impeachment do presidente Yoon Suk Yeol. O comunicado foi feito em 8 de abril pelo primeiro-ministro Han Duck-soo, que exerce interinamente a presidência.

 

Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro.Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man
Manifestantes comemorando a primeira votação do impeachment em 14 de Dezembro. Foto: Reprodução AP/ Lee Jin-man

A crise teve início quando o então presidente decretou lei marcial em dezembro, alegando estar defendendo a democracia diante de tentativas dos opositores de “derrubar a democracia livre”, ao buscarem o impeachment de membros de seu gabinete e bloquear seus planos orçamentários. 

Foi a primeira vez desde 1980 que a lei marcial foi declarada no país. A medida gerou forte impacto negativo, inclusive entre parlamentares do próprio partido de Yoon, o conservador Partido do Poder do Povo. Diante da ampla oposição da classe política e de uma votação unânime no Parlamento contra suas ações, Yoon revogou a lei marcial poucas horas após tê-la decretado.

O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV — Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters
O ex-presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, declarando Lei Marcial na TV .Foto: Reprodução The Presidential Office/Handout via Reuters

 

Com o impeachment efetivado em abril e a nova data da eleição definida, teve início oficialmente a corrida eleitoral para escolher o novo presidente sul-coreano.

A eleição presidencial na Coreia do Sul possui algumas particularidades. Não há segundo turno, o candidato mais votado no único turno é eleito. O presidente também tem o poder de nomear um primeiro-ministro, que precisa ser aprovado pelo Parlamento (chamado de Assembleia Nacional). Esse cargo exerce funções semelhantes às de um vice-presidente no Brasil. O mandato presidencial é de cinco anos.

De acordo com a legislação sul-coreana, uma nova eleição deve ser realizada em até 60 dias após a vacância do cargo. No atual cenário político, dois partidos se destacam: o governista Partido do Poder do Povo e o opositor Partido Democrata.

Os democratas têm como provável candidato o político Lee Jae-myung, que não enfrenta concorrência interna significativa. Lee, que perdeu por uma margem apertada para Yoon nas eleições de 2022, sofreu um atentado a faca no início de 2024 e liderou o partido durante a recente crise, quando tropas enviadas por Yoon cercaram a Assembleia Nacional durante a votação que revogou a lei marcial. 

No entanto, ele responde atualmente a cinco processos por corrupção. Caso seja eleito, esses processos serão suspensos, já que o presidente sul-coreano possui imunidade durante o mandato.

Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap
Pessoas assistem a uma mensagem em vídeo do Partido Democrata da Coreia, Lee Jae-myung, anunciando sua candidatura presidencial em uma tela de TV na Estação de Seul. Foto: The Korea Times/ Yonhap

 

Já os conservadores devem realizar primárias para definir seu candidato, com mais de dez nomes cotados. Um dos grandes nomes até o momento é Oh Se-hoon, atual prefeito de Seul. Apesar de o partido ter sido abalado pelo impeachment, ainda conta com uma base de apoiadores fieis. As primárias estão marcadas para o dia 3 de maio.

A líder da extrema direita francesa foi julgada por desvio de dinheiro
por
Chloé Dana
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04/04/2025 - 12h

Nesta última segunda-feira (31), a líder da extrema direita francesa, Marine Le Pen, foi julgada pela justiça francesa por desviar verbas da União Europeia para beneficiar seu partido, Reagrupameto Nacional (RN). Le Pen foi foi sentenciada a quatro anos de prisão, ao pagamento de uma multa de 100 mil euros e cinco anos de inexigibilidade, o que a impede de concorrer à Presidência em 2027. 

A acusação do Ministério Público aponta que o RN e seu antecedente, a Frente Nacional, utilizaram recursos orçamentários de 21 mil euros (equivalente a R$131 mil) destinados ao pagamento de subsídios mensais para os assessores parlamentares de eurodeputados, sustentar funcionários que, na realidade, atuavam para o partido na França, focados em assuntos de política interna, de 2004 até 2016. 

A líder francesa nega irregularidades e afirma que o Ministério Público está em busca de seu fim político. Doze assistentes também foram sentenciados por ocultação de delito. O tribunal calculou que o esquema desviou 2,9 milhões de euros e todos os empregados do RN, incluindo Le Pen, foram proibidos de disputar cargos, com a juíza determinando que a proibição deve começar a valer imediatamente. 

 

Como isso afeta a direita radical francesa? 

Devido às medidas tomadas pela justiça, a francesa será incapaz de concorrer à presidência do ano que vem como planejava. Quando questionada sobre a possibilidade de tentar a presidência em 2027 se for autorizada, Le Pen inicialmente transmitiu a ideia de que não via essa possibilidade como viável, devido ao tempo requerido para que uma nova etapa do processo fosse concluída. No entanto, entrou com um recurso de apelação que poderia diminuir o período de inelegibilidade, ou removê-lo completamente, sendo julgado e acelerado no fim deste ano ou no início de 2026, embora suas chances sejam pequenas. 

Denunciando o que ela qualificou como uma decisão "política" do juiz e uma "transgressão ao estado de direito", ela solicitou um julgamento ágil de recurso, a fim de que seu nome pudesse ser limpo, ou pelo menos a inelegibilidade fosse suspensa a tempo das eleições de 2027. "Há milhões de franceses que acreditam em mim. Por 30 anos, tenho lutado contra a injustiça. É o que continuarei fazendo até o fim", afirma.


Porém, a figura do jovem de 29 anos, Jordan Bardella, pode ser considerada a situação mais realista do que possa vir. Ao ser questionada sobre a possibilidade de Bardella poder substituí-la na próxima disputa presidencial, ela demonstrou resistência. “Recorrer a Bardella muito rapidamente seria imprudente” concluiu Le Pen.

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​Le Pen e Bardella, uma nova figura para a extrema direita francesa. Foto: Raphael Lafargue/ABACAPRESS.COM//)

 

Após 9 anos de uma fracassada e longa intervenção francesa, países do Sahel buscam novos parceiros na luta contra o terrorismo.
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
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12/06/2023 - 12h

No dia 20 de abril 136 civis foram mortos no vilarejo de Karma no Burkina-Faso, testemunhas relataram que o crime foi cometido por soldados do governo. As autoridades condenaram o massacre e prometeram investigações. A ONU e a União Africana exigem que o governo da capital, Uagadugu, garanta investigações independentes e confiáveis.

Burkina Faso enfrenta uma espiral de golpes de estado: o último ocorreu em setembro de 2022, instituindo o jovem Capitão Ibrahima Traoré de 35 anos como Presidente de transição. Em seu discurso de posse, Traoré reiterou seu objetivo: "Pelo meu país lutarei até ao meu último suspiro", prometendo recuperar os 40% do território dominado por grupos terroristas.

O Massacre de Karma

Moradores de Karma relataram que às 7:30 da manhã do dia 20 de abril comboios de supostos soldados do exército Nacional alcançaram a vila. Após cercarem o vilarejo, os homens seguiram de casa em casa, saqueando-as e violentamente reunindo os aldeões em grupos, para então fuzilá-los. Os assassinos foram embora às 14:00, deixando 83 homens, 28 mulheres e 45 crianças mortas.

“No meu grupo éramos mais de 30. De repente, começaram a atirar. Eu estava deitado de barriga para baixo após o primeiro tiro. Eu estava molhado com o sangue dos corpos dos outros. Fiquei imóvel, apavorado, até que os soldados foram embora. Dois deles voltaram para acabar com aqueles que estavam se movendo e ainda vivos. ” Declarou um dos sobreviventes à Human Rights Watch.

O povoamento se encontra em uma área de atuação da Al-Qaeda e do Estado Islâmico no Grande Saara. No dia 15 de abril jihadistas mataram seis soldados burquinenses e 34 combatentes de milícias pró-governo na aldeia de Aeroma, localizada a poucos quilômetros de Karma. Os moradores de Karma relataram que os ataques do dia 20 foram uma retaliação por parte do exército nacional que acreditava que os aldeões estariam dando suporte a combatentes extremistas. 

“Vi uma pilha de cadáveres de mulheres e crianças. Os recém-nascidos ainda estavam nas costas de suas mães. Havia tantas crianças. Foi uma cena horrível. ” Explica um residente.

Ao todo 12 celeiros,17 currais e 40 casas foram incendiados. Um descreve a destruição para os agentes da Human Rights Watch: “Vi pelo menos 25 casas queimadas, tudo dentro era apenas cinzas. Também observei que os currais dos animais foram incendiados, com os animais também queimados. ”

As guerras invisíveis do Sahel

mapa do Sahel.
O Sahel separa o deserto do Saara das savanas ao sul: sendo uma região transitória que divide o continente africano. fonte: infoescola.

Grupos extremistas florescem em regiões instáveis. O declínio do terrorismo no Oriente Médio entre os anos de 2016 e 2019, obrigou estás organizações a transferirem suas atuações para áreas mais voláteis e com menos visibilidade internacional.

A instabilidade político-social endêmica no Sahel, somada às suas fronteiras porosas e desprotegidas, atraíram a atenção de grupos jihadistas. A região presenciou mais de 800 ataques apenas em 2021. O relatório do Índice Global de Terrorismo de 2023 apontou que o território é o atual epicentro do terrorismo internacional. Boris Cheshirkov, o porta-voz do Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), informou que cerca 2,1 milhões de pessoas foram deslocadas de suas casas entre os anos de 2013 e 2021 no Sahel. A crise migratória é consequência da atuação de grupos paramilitares na África subsaariana.

O Mali foi o primeiro país da região a enfrentar a insurgência de grupos rebeldes. A porção norte do país, conhecida como Azauade, é o lar da etnia Tuaregue, que desde a década de 1970 busca sua independência. 

 O ex-líder líbio Muammar Gaddafi contratou mercenários Tuaregues durante a invasão americana da Líbia em 2011. Após a derrota do regime líbio em 2012, os combatentes se apossaram das armas fornecidas e regressaram ao Mali decididos a garantir a independência do Azauade, fundando assim, o Movimento Nacional de Libertação do Azauade (MNLA). Células terroristas locais como a Al-Qaeda do Magrebe Islâmico (AQMI) e o Estado Islâmico no Grande Saara (ISGS) se aliaram ao MNLA. No início a colaboração era benéfica para ambas as partes, mas com o passar do tempo os separatistas Tuaregues perderam força e espaço para os terroristas. 

A guerra civil do Mali combinada com a abundância de armas traficadas da Líbia trouxe insegurança para todo o Sahel. A instabilidade foi favorável para que a atuação fundamentalista avançasse rumo às nações vizinhas. Em 2015 o conflito cruzou a fronteira rumo ao Burkina-Faso. Os militares que desfrutam de grande influência política tentam controlar a instabilidade por meio de golpes: somente no ano passado dois foram executados, mas a situação não melhorou.

Conforme o último relatório do Institute for Economics and Peace (IEP), Burkina-Faso é o segundo país que mais sofre com o terrorismo no mundo com trezentos e dez incidentes terroristas ocorridos em 2022, atrás apenas do Afeganistão. Desde que a instabilidade começou mais de 8.564 pessoas já morreram.

Revezamento de metrópoles

A operação Serval, liderada pela França e com o apoio logístico de outros países ocidentais, foi uma intervenção militar no Mali iniciada em janeiro de 2013. Segundo François Hollande – presidente francês da época – a ação foi uma resposta ao apelo do presidente malinês, Dioncounda Traoré, diante do avanço terrorista no norte do país. Em agosto de 2014 o governo francês encerrou a operação Serval e deu início a operação Barkhane, que expandia a atuação para Burkina-Faso, Chade, Níger e Mauritânia.


O número de atentados progressivamente subiu durante a intervenção estrangeira, enquanto grupos terroristas passaram a recrutar cada vez mais combatentes. O relatório anual de 2020 do Projeto de Dados de Localização e Eventos de Conflitos Armados (ACLED) indicou que somente naquele ano, as forças de segurança intervencionistas mataram mais civis em Mali e Burkina Faso do que os grupos insurgentes. 


A população não entendia como uma superpotência poderia demorar tanto para derrotar milícias regionais. A ocupação militar francesa foi desaprovada por muitos cidadãos, que temiam que a antiga metrópole colonial estivesse interessada na exploração das riquezas naturais malianas. O posicionamento adotado pela antiga metrópole de não realizar negociação com jihadistas era impopular entre muitos malineses cansados da violência. 

Em janeiro de 2020 um ataque aéreo francês ceifou a vida de 22 civis que celebravam um casamento na Vila de Bount, no Mali. Durante os nove anos de operação diversos incidentes parecidos ocorreram, agravando ainda mais a impopularidade da participação francesa. 

Manifestantes com bandeiras da Rússia e do Burkina Faso.
Manifestantes exibem bandeiras da Rússia e do Burkina-Faso. Fonte: Foreign Policy

Em agosto de 2020, uma junta militar antiocidental e pró-Rússia realizou um golpe de estado no Mali, nomeando o líder do complô, Bah N'Daw, como presidente. O novo governo militar  procurou diversificar o apoio estrangeiro na guerra contra o terror, se aproximando cada vez mais da Rússia. Em dezembro de 2021 as primeiras tropas do grupo Wagner desembarcaram no país. A força paramilitar de origem russa foi fundada em 2014, mas ganhou fama somente no início da invasão da Ucrânia de 2022.  


A nova política adotada pelas autoridades do Mali desagradou os franceses: "não seremos capazes de coabitar com mercenários" – reiterou Florence Parly, ex-ministra das forças armadas – indicando o inevitável fim da colaboração. No dia 8 de agosto de 2022, o último contingente da operação Barkhane deixou o Mali. Em 24 de janeiro de 2023, às autoridades do Burkina-faso também solicitaram a retirada das tropas francesas de seu território. Moscou já detém grande influência na África Central, procurando agora ocupar o "vácuo" de poder deixado após o fracasso francês na pacificação do Sahel. 

A Assembleia Geral das Nações Unidas de março de 2022 foi realizada no calor da invasão à Ucrânia. Na ocasião foi discutida uma resolução que exigia a retirada imediata, incondicional e total das tropas russas do território ucraniano, 141 dos 193 países membros votaram a favor. Os votos dos países africanos explicitaram o poder que a Rússia possui no continente. Entre os países que se abstiveram, 17 são africanos, sendo que a Eritreia votou contrariamente à proposta.

Coréia do Norte nunca ganhou uma Copa do Mundo
por
Felipe Bragagnolo Barbosa
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29/05/2023 - 12h

Por: Felipe Bragagnolo Barbosa
Esta reportagem está também em áudio, entre no link para ouvir.
  
 

Jogador levantando a taça
Jogador norte-coreano levantando a taça da copa do mundo sendo na verdade uma foto editada do atleta Pirlo. Foto: Youtube


  Tudo isso seria mágico para os norte-coreanos se fosse verdade, mas eles nunca ganharam a Copa do Mundo. O vídeo foi divulgado em 2014 em um canal do youtube, em que postava semanalmente notícias vindas do "Jornal Nacional" da Coréia do Norte, o mundo todo parou, acreditando que o governo fechado e ditatorial norte-coreano estava mentindo sobre a campanha na Copa do Mundo, na qual eles nem se classificaram.  A Coréia do Norte faz campanha lendária na copa do mundo de 2014 no Brasil, começa o campeonato vencendo o Japão por 7 a 0, no segundo jogo vence os rivais dos EUA por 4 a 0 e depois a China por 2 a 0, nas oitavas de final venceu Portugal por 7 a 0 , nas quartas de final, em jogo dificil ganharam de 2 a 1 da Alemanha, nas semi-finais enfrentaram a vizinha Coréia do Sul e se classificaram para a final vencendo por 2 a 0, e sendo campeões em cima do Brasil por 8 a 1.


Jornais internacionais famosos como Toronto Sun, Mirror, Adelaide Now e USA Today divulgaram como uma mentira feita pelo governo norte coreano e até hoje muitas pessoas acreditam que esta é a verdade.  Este vídeo nunca foi feito ou divulgado pela Coréia do Norte, na verdade um brasileiro conhecido na internet como Cid Cidoso fez essa "trollagem", ele no começo de 2014 havia criado um canal sobre notícias norte-coreanas chamado "North Korea Updates" após invadir o sinal de um satélite de lá, ele pegou trechos de notícias e as colocou em seu canal do youtube, parecendo realmente ser algo sério.
 Cid em uma transmissão ao vivo disse como armou toda essa mentira, além dos trechos do jornal, o brasileiro contratou uma mulher sul-coreana para dublar o que a jornalista norte-coreana falaria, e para deixar a fake news mais verdadeira, lip sync (sincronização da boca ao falar) foi utilizado, para simular a festa norte-coreana nos estádios, além da falsa imagem do jogador norte-coreano levantando a taça, Cid editou vídeos das torcidas do Flamengo e Chile, colocando cores azuis e abaixando a qualidade de imagem, também usou imagens de comemorações de feriados na Coréia do Norte para isso.


 Sobre os placares Cid disse que escolheu os adversários para engajamento, EUA, Coréia do Sul e Japão foram pelo histórico entre eles e os norte-coreanos, fingindo que o país estava criando uma narrativa por razões políticas, além disso, o brasileiro afirmou ter colocado o Vietnã vencendo a Inglaterra para as pessoas pensarem que os líderes norte-coreanos não entendiam nada de futebol, para quem queria descobrir a verdade ficasse confuso. A vitória por 8 a 1 em cima dos brasileiros foi totalmente por piada, para utilizar os vídeos do David Luiz chorando.


 A criatividade do Cid não terminou por aí, ele colocou trechos de um jogo de futebol que ocorreu em Pyongyang entre o Sorocaba enfrentando a seleção norte-coreana(sim, este jogo realmente aconteceu), a Coréia do Norte venceu o time de Sorocaba, que jogou de amarelo, sendo divulgado para a população como sendo a verdadeira seleção brasileira, o vídeo trouxe mais credibilidade e a fake news perfeita estava próxima de estar feita.  O vídeo se encerrou com outros trechos do jornal norte-coreano, em que de acordo com o brasileiro, eram imagens de premiações em que ele mesmo não sabia do que se tratava, mas a mídia e o mundo acreditaram. Cid se tornou uma lenda na comunidade brasileira na internet, ele também foi o responsável pela #calaabocagalvao, em que mentia ao mundo dizendo que "Galvão" era um papagaio em extinção no Brasil e que "cala a boca" significava "salve os" em português.
 Para acessar o vídeo da Fake News acesse o link  
  
 

Pequeno Estado africano apresenta índices de igualdade de gênero semelhantes a Finlândia e Noruega
por
Francisco Barreto Dalla Vecchia
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23/05/2023 - 12h
Estudantes da Academia Gashora para meninas, em Ruanda. Fonte: National Geographic
Estudantes da Academia Gashora para meninas, em Ruanda. Fonte: National Geographic

Recentemente, a Women, Peace and Security - iniciativa dedicada a promover a igualdade de gênero - elegeu Ruanda como o país com mais representatividade feminina na política, com 55% das cadeiras do parlamento ocupadas por elas. Ruanda também foi eleito como o segundo destino mais seguro para mulheres viajarem sozinhas.

A pequena nação insular da África Oriental, possui 12 milhões de habitantes e uma economia que cresce 7% ao ano desde 2000. O genocídio ocorrido em 1994 afetou profundamente a sociedade local, mas o povo ruandês reagiu à tragédia de forma transformadora: elaborando reformas políticas e sociais, que foram fundamentais para que a nação desfrutasse do atual cenário de igualdade de gênero.

Cem dias de genocídio 

Por décadas, Ruanda foi dividida em duas etnias: a minoria Tutsi, composta por uma elite pecuarista tradicional, e a maioria Hutu, historicamente desfavorecida e composta por agricultores. Essa divisão já existia no período pré-colonial, mas foi intensificada pelos colonizadores belgas e alemães, que buscavam facilitar a dominação.

De 7 de abril até de julho de 1994, instaurou-se um período de terror no país africano: Hutus extremistas caçaram os Tutsis por toda Ruanda. Durante cem dias, mais de 800 mil Tutsis e Hutus moderados foram mortos. As vítimas eram frequentemente conhecidas dos assassinos. O facão virou símbolo da barbárie: A ferramenta onipresente na vida dos agricultores converteu-se na arma mais popular entre os criminosos. 

Ruanda era um país rural e pré-industrial. No livro “Uma Temporada de Facões”, o jornalista francês Jean Hatzfeld demonstra como os diferentes estágios de desenvolvimento econômico influenciam na forma como os genocídios são executados. 

Hatzfeld faz paralelo com os crimes Nazistas, indicando que aspectos das sociedades industriais, como o desenvolvimento tecnológico - na forma de malhas ferroviárias - e a divisão do trabalho foram decisivas na execução do holocausto: um genocídio burocratizado e pensado na lógica da eficiência produtiva. 

O complexo e impessoal método de extermínio adotado pelo terceiro Reich, contrasta com a rudimentariedade e ampla participação da população no curso da limpeza étnica em Ruanda.  

O renascer das ruandesas 

No fim da carnificina, as ruandesas representavam 70% da população. Desde então, elas passaram a ocupar cargos antes exclusivamente destinados aos homens, exercendo um papel-chave na reconstrução do país e de sua sociedade.

A maioria dos assassinos e das vítimas eram homens. Os extremistas foram presos ou fugiram para a República Democrática do Congo, deixando para trás suas terras. Para garantir a própria sobrevivência e a de suas famílias, as mulheres precisaram obter a posse legal das roças de seus maridos ausentes.

Em 1999 foi feita uma reforma legislativa, na qual mulheres garantiram o direito legal de herdar as terras de seus cônjuges. Outros direitos foram assegurados na constituição de 2003: 30% dos cargos políticos passariam a ser exclusivamente femininos; foi instituído a igualdade de gênero na posse das terras, assim como no acesso à educação.

No ano da nova constituição, 48% dos cargos eram ocupados por ruandesas. Em 2008, Ruanda tornou-se a nação com mais mulheres no Parlamento. Hoje elas já ocupam quase 70% dos assentos e mais de 50% dos cargos ministeriais.

 Presidente Paul Kagame, em encontro com parlamentares ruandesas. Fonte:JusBrasil
 Presidente Paul Kagame, em encontro com parlamentares ruandesas. Fonte:JusBrasil

O último levantamento sobre igualdade de gênero realizado pelo Fórum Econômico Mundial (2021) considerou quatro aspectos: educação, saúde, política e economia. Ruanda foi apontada como o sexto país com mais igualdade entre os gêneros no mundo, colocando o pequeno país em pé de igualdade com a Finlândia e a Noruega. O Brasil, por sua vez se localiza na 92.ª posição, segundo o Global Gender Gap Report (2021)

Os limites da igualdade 

Atualmente, cerca de 88% das mulheres em Ruanda exercem alguma tarefa remunerada, número este superior ao dos homens. Mesmo tendo crescido a participação feminina na política e no mercado de trabalho, a situação doméstica pouco se alterou. O maior desafio tem sido transferir a igualdade conquistada na vida pública para dentro dos lares de Ruanda.

A cientista política ruandesa Justine Uvuza, em seu doutorado, pesquisou a vida de mulheres que ocupam cargos públicos em seu país. Constatando que muitas são obrigadas pelos maridos a realizar trabalhos domésticos, mesmo ocupando posições importantes no Estado. Segundo Uvuza, no senso comum, uma boa ruandesa é patriótica, trabalhadora e obediente ao marido. O movimento feminista costuma ser visto como algo ocidental e "importado" dos Estados Unidos.

A desigualdade social também é um desafio enfrentado pelo governo do presidente Paul Kagame, com o país ocupando o 165º lugar no ranking dos países com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), conforme o relatório anual do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) de 2021.

Entenda o conflito que já matou mais de 500 pessoas e que pode causar uma nova crise de refugiados.
por
Carolina Rouchou
Artur Maciel
|
16/05/2023 - 12h

[Refugiados sudaneses que fugiram da violência em seu país andam de carroça ao passar por outros refugiados ao lado de abrigos improvisados perto da fronteira entre o Sudão e o Chade em Koufroun, Chade, em 6 de maio imagem de -REUTERS/Zohra Bensemra]

 

O Sudão tem sido palco de conflitos étnicos há mais de quatro décadas. A desigualdade e falta de inclusão que as minorias do país enfrentam são catalisadores para revoltas de um povo marginalizado. O atual confronto inclui o general Abdel Fatah Al-burhan, líder do país que comanda as forças armadas, e o general Mohamed Hamdan Dagalo (Hemedti), que comanda a Força de Apoio Rápido (RFS), exército paralelo. 

Em 2021, ambos generais trabalharam para dar um golpe de Estado no governo civil-militar de transição. O Sudão estava tentando avançar em direção à democracia, mas o golpe arruinou as chances de um governo inclusivo. Como resultado, Al-Burhan tornou-se o líder do país e Hemedti, seu número dois. Houve uma tentativa de negociação para o retorno do governo de transição, mas essa decisão dependia da incorporação da RFS às forças armadas nacionais. A possibilidade de se submeter às ordens de outro general foi o ponto final para ambos.

O combate no Sudão tem se estendido por mais tempo do que o esperado, afinal, seu combustível é o ego de dois líderes militares dispostos a fazer de tudo pelo poder. Ambos mostram-se abertos a negociações e concordam em cessar-fogo quando solicitados por nações estrangeiras, mas esses acordos são sempre efêmeros.

Em entrevista ao jornal alemão Deutsche Welle, Aly Verjee, investigador e especialista no Sudão, ressalta que os dois líderes são responsáveis pelo terror que se alastrou no país: "Não sabemos exatamente como isso começou e ambos os lados têm se culpado mutuamente. No entanto, [al-Burhan e Hemedti] deveriam ter sabido que a decisão de escalar o conflito dessa forma seria muito mal recebida, mas mesmo assim avançaram. Sempre que alguém de alto escalão fala em cessar-fogo, eles dizem sim, sim, sim, mas depois continuam fazendo o que querem."

Outros países se posicionaram. Os Estados Unidos, por exemplo, cortou relações com o governo sudanês e passou a apoiar grupos marginalizados como uma tentativa de estabelecer a democracia no país. Por outro lado, a China fez uma declaração menos assertiva. Segundo o Ministério de Relações Exteriores chinês, a China espera 'que ambas as partes no Sudão aumentem o diálogo e avancem conjuntamente no processo de transição política'. Como esperado, o Sudão e a China possuem laços comerciais importantes, que se fortaleceram após os Estados Unidos implementar embargos econômicos ao país africano.

Os recursos naturais do Sudão também estão sendo discutidos, principalmente suas reservas de água do rio Nilo, que despertam interesse da Etiópia. Especialmente após a construção da barragem Nilo Azul pelo Estado sudanês, próxima à fronteira entre os dois países e sua produção de energia a partir de 2022. A reação dos países vizinhos é motivo de preocupação, pois existem diferentes visões sobre o conflito e esses países também enfrentam tensões internas. O Egito tem relações com o exército sudanês, mas também mantém relações com os Emirados Árabes, que, por sua vez, financiam o RSF, deixando o país em um impasse.

Presos no meio desse emaranhado político, civis estão desesperados por uma nova chance em outro lugar. A ONU alertou para a possibilidade de mais de 800.000 imigrações sudanesas motivadas pela guerra. A equipe da ACNUR informou que durante os últimos dias de abril, cerca de 10 a 20 mil pessoas haviam fugido do Sudão para o Chade. O país já abriga mais de 570.000 refugiados, dos quais aproximadamente 70% são do Sudão. Atualmente, muitos sudaneses que buscam asilo no Chade são da tribo Masalit, habitual alvo dos ataques das milícias da RSF.

A responsabilidade por esse terror que se espalha pelo país recai sobre os ombros de Al-Burhan e Hemedti que mesmo cientes das repercussões negativas, optaram por intensificar o conflito. A comunidade internacional deve unir esforços para conter a crise humanitária em andamento e encontrar soluções políticas duradouras que permitam ao povo sudanês uma vida pacífica.

Recep Tayyip Erdogan e seu principal adversário, Kemal Kilicdaroglu se enfrentarão novamente nas urnas no dia 28 de maio. Mandato de 20 anos do atual presidente pode estar chegando ao fim.
por
Ana Beatriz Villela
|
16/05/2023 - 12h

O primeiro turno das eleições na Turquia ocorreu neste domingo (14), e foi marcado por uma disputa acirrada entre o atual presidente, Recep Tayip Erdogan, e seu adversário e líder da oposição, Kemal Kilicdaroglu. Além disso, houve uma participação histórica dos eleitores, cerca de 95% compareceram às urnas.

Com mais de 99% das urnas apuradas a situação era a seguinte, segundo o Conselho Superior Eleitoral do país:

Recep Tayyip Erdogan: 49,49% dos votos

Kemal Kilicdaroglu: 44,79% dos votos

No entanto, o resultado difere do que as pesquisas mostravam, onde Kilicdaroglu aparecia com cerca de 48% das intenções de voto contra 43% de Erdogan.

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Reprodução: Necati Savas | Crédito: EFE

A eleição deste ano é uma das mais importantes da história da Turquia, pois pode marcar o fim de 20 anos de governo do atual presidente. Além disso, a votação ocorreu apenas três meses depois de um terremoto que matou cerca de 50 mil pessoas no país e no norte da Síria e o atual governo foi acusado de ter liberado edifícios com projetos que não previam resistência ao tremor de terra.

A Turquia também passa por uma crise econômica, com baixas taxas de juros do governo que desencadearam uma espiral de problemas no custo de vida e alta da inflação que passou de 80% em 2022.

Outros países têm acompanhado de perto a votação, já que Erdogan reforçou alianças com a Rússia, apesar de ser membro da Otan, o que manteve relações tensas com aliados, como os EUA e a Alemanha nos últimos anos. 

O segundo turno será dia 28 de maio.

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Reprodução: Reuters

Quem são os candidatos?

Recep Tayip Erdogan

Considerando tanto o período como primeiro-ministro quanto como presidente, Erdogan está no poder do país há duas décadas. 

Em 2002 ascendeu ao poder após a criação do partido islamita AKP, o qual ele lidera. Após uma década como primeiro-ministro da Turquia, assumiu a posição de primeiro presidente eleito diretamente pelo povo em agosto de 2014. A maioria dos seguidores de Erdogan é composta por muçulmanos conservadores.

No ano de 2016, Erdogan enfrentou uma tentativa de golpe, - facções rebeldes do Exército enviaram veículos blindados para as ruas e aviões que sobrevoaram Istambul e Ancara, e bombardearam locais como o parlamento - à qual respondeu com medidas violentas, apelando para que seus seguidores fossem às ruas, o que resultou em confrontos que causaram a perda de aproximadamente 240 vidas. Essa crise levou a Turquia a adotar um estado de emergência. Além disso, a comunidade internacional, em especial a Otan, criticou as repressões, o que causou um isolamento político do país.

Quando chegou ao poder, o líder turco também alterou a constituição, estabelecendo um mandato presidencial de cinco anos, o que fez com que ele pudesse se candidatar novamente às eleições de 2023.  

No entanto, a possibilidade de o líder manter seu governo por mais uma década está em risco, à medida que a nação se recupera dos ocorridos no início do ano.

A oposição, critica a forma como ele geriu a economia e de não ter se preparado para o desastre, já que a Turquia está em uma região propensa a fortes terremotos.

Kemal Kilicdaroglu

Visto como a única pessoa capaz de derrotar o atual presidente turco, é um político secular de centro-esquerda. Foi eleito para o Parlamento em 2002, o mesmo ano em que o Partido AK, de Erdogan, chegou ao poder. 

É o líder do Partido Republicano do Povo (CHP) desde 2010. E lidera uma frente com mais seis partidos de oposição - um partido de centro-direita, um partido nacionalista, um partido islâmico e dois partidos que romperam com o partido governante de Erdogan. Também conseguiu o apoio do partido curdo, que tem cerca de 10% dos votos.

Entre suas principais propostas estão a volta do sistema parlamentar na Turquia, além de resoluções com a população curda e aproximação com a União Europeia e os Estados Unidos.