Acusados de colaborarem com 'trabalho forçado do regime cubano', servidores do programa têm vistos revogados
por
Victória Rodrigues
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18/08/2025 - 12h

 

O governo Trump revogou na última quarta-feira (13) os vistos de  dois brasileiros, que participaram da criação do Programa Mais Médicos em 2013. Mozart Júlio Tabosa, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro, foram os alvos das sanções.

Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a justificativa apresentada foi que ambos teriam colaborado para um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra” do governo cubano através do programa Mais Médicos, privilegiando o governo de Cuba às custas dos profissionais da saúde e cidadãos do país. 

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa criada no governo de Dilma Rousseff, a fim de levar atendimento médico à áreas remotas e com maior vulnerabilidade. Dentro do programa, podem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros, desde que cumpram com as exigências propostas, como formação com diploma e registro profissional. 

Entre 2013 e 2018 foram contratados profissionais cubanos, com uma parceria intermediada pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). Nesse acordo, os participantes recebiam 30% do valor de sua remuneração, que na época chegava a 10 mil reais, os outros 70% eram destinados ao governo de Cuba.

Em 2015, o Mais Médicos, contava com cerca de 14 mil profissionais, dos quais 11,4 mil eram cubanos. No entanto, em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro, a parceria foi encerrada. 

Segundo Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado estadunidense, as contratações para o programa não cumpriam a regulamentação impostas pelo próprio governo brasileiro. Também acusou o programa de contornar as sanções dos EUA contra Cuba. 

Rubio ainda justificou as medidas dizendo que o regime cubano estava exportando seus médicos para trabalhar de forma forçada e com isso estava deixando de cuidar da saúde de seus próprios cidadãos. “Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

Além do Brasil, autoridades de países africanos, Cuba e Granada também foram alvos das restrições de vistos por cooperarem com o programa Mais Médicos.

Bruno Rodríguez, Ministro de Relações Exteriores de Cuba, criticou a decisão do governo dos EUA. “Isso mostra imposição e adesão à força como nova doutrina de política exterior a esse governo", disse. Também afirmou que Cuba continuará enviando médicos em missões à outros países. 

Nas redes sociais, Mozart Júlio Tabosa defendeu o programa de saúde, e manifestou sua insatisfação com a situação: "Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

Essa decisão do governo de Donald Trump segue uma sequência de retaliações contra o Brasil. Desde o mês de julho, o país recebeu taxações em produtos exportados e sanções contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. 

Presidente estadunidense evita divulgação da lista de Epstein e população levanta possibilidade de seu nome estar nela
por
Daniella Ramos
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14/08/2025 - 12h

 

Donald Trump foi eleito em 2024 tendo como uma de suas promessas a divulgação de uma suposta lista que teria o nome de todos os investigados por possível envolvimento com Jeffrey Epstein em crimes de pedofilia.

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Trump e Epstein juntos em uma festa em 1992. Foto: Reprodução/NBC

A cobrança em cima do presidente dos Estados Unidos para a divulgação da lista de investigados no caso, o levou a declarar para a imprensa que o caso era uma maneira de desviar a atenção para algo que é uma “besteira”, nas palavras dele.

“O fato de Trump não cumprir com o que prometeu pode ser pelo rumo que a política tomou… além do fato dele estar ou não envolvido”, comenta o doutor em Ciência Política da PUC-SP, Igor Fediczko. Segundo o Wall Street Journal, Donald Trump foi avisado no início do ano que seu nome estava nos documentos relacionados ao caso de Epstein, a Casa Branca respondeu dizendo se tratar de uma fake news. 

Além da indignação de eleitores a Trump sobre a falta de compromisso com a promessa de exposição dos documentos do processo de Jeffrey, os opositores também se manifestam nas redes sociais. Em sua conta no X, a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez relacionou a demora na divulgação dos arquivos com supostas acusações de crimes sexuais cometidos pelo republicano. 

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Publicação feita no X pela deputada Alexandra Ocasio-Cortez. Foto: Reprodução/@AOC

 

Índices do Google Trends apontam que as pesquisas envolvendo o nome de Donald Trump e Jeffrey Epstein aumentaram no início de Junho e final de Julho, mesmo período em que o presidente estadunidense começou a distribuir altas tarifas para o mundo todo. 

“Talvez isso tenha feito com que a comunicação ou política do Trump tenha se tornado ainda mais radical”, comenta Igor Fediczko analisando que o tarifaço possa ser uma ”cortina de fumaça” para a polêmica de Epstein.

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Gráfico de pesquisa dos nomes de Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foto: Reprodução/Google Trends

 

Apesar das hipóteses sobre a ligação do atual presidente dos Estados Unidos, os nomes que mais chamaram atenção recentemente sobre a proximidade com Epstein foram Bill e Hillary Clinton, que irão depor em outubro, e o príncipe Andrew, que aparentava ser amigo pessoal pelos e-mails trocados com Jeffrey. Assim como Trump, existe a comprovação de que eles já andaram no jato particular com Jeffrey Epstein e possivelmente tinham amizade. 

Jeffrey Epstein era um bilionário, empresário e financista americano, que ficou conhecido pela rede de tráfico sexual de menores ao qual tinha ligação. Seu trabalho com investimento fez com que construísse ligação com o ex-presidente Bill Clinton, Donald Trump, o príncipe britânico Andrew e outras celebridades. 

Em 2008, os pais de uma garota de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que Jeffrey Epstein havia a molestado. Naquele ano, ele firmou um acordo judicial com a promotoria, mas fotos de crianças foram encontradas por toda sua casa em Palm Beach causando sua condenação por exploração sexual de menores. Escapou de denúncias federais que poderiam causar prisão perpétua, conseguindo um acordo de 13 meses de prisão e indenização às vítimas. 

Onze anos depois, houve uma nova acusação de administração de uma rede sexual com meninas menores de idade. Logo foi preso e, enquanto aguardava o julgamento, se suicidou no presídio.

As investigações desses dois casos criminais geraram uma série de documentos que incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas e objetos confiscados nos imóveis de Epstein. A ex-namorada de Jeffrey, Ghislaine Maxwell, foi condenada em 2021 por associação criminosa de tráfico sexual de meninas.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

Sob pretexto de "verdades econômicas", Trump usa tarifas para punir decisões judiciais do Brasil e ignora a lógica comercial
por
Victória Rodrigues
Maria Clara Palmeira
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13/08/2025 - 12h

 

Começou a valer na última quarta-feira (6) o tarifaço com taxas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. Itens como suco, polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves para uso civil, polpa de madeira, celulose, metais nobres e produtos de energia, foram isentos de taxas. Em contrapartida, café, frutas e carnes serão afetados pelo teto tarifário, 50%. 

O tarifaço anunciado por Donald Trump em abril propunha a taxação de países de acordo com o déficit da nação com os EUA. Para o Brasil estava previsto tarifas de 10% sobre os produtos exportados. No entanto, em julho deste ano, após a cúpula dos BRICS, Trump enviou uma carta ao chefe da nação brasileira aumentando o valor.

Em parte por causa dos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos norte-americanos, a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos.” escreveu o presidente.

Uma de suas alegações na carta, foi o julgamento do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). Segundo Trump, Bolsonaro está sofrendo “acusações criminais injustificadas”. Além disso, as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a rede social X também o motivou na imposição de taxas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, no domingo (3), que não tem a intenção de “provocar os Estados Unidos”, mas que o Brasil não deve ser visto como uma nação insignificante e não desistirá de usar moedas alternativas ao dólar.

Em entrevista a AGEMT, a internacionalista Julia Masquieto conta que será difícil implementar uma nova moeda. "Na prática é complicado efetivar essa nova moeda do BRICS, pois o dólar é usado há muito tempo em trocas comerciais. Mas acho que é uma oportunidade para os países do Brics intensificarem o comércio entre si, já que as barreiras são mais livres e não tão rígidas como o Trump está fazendo". 

A profissional comenta que o fortalecimento do bloco político exige uma ação global do mercado. "Com a instabilidade geopolítica que vivemos, é uma tendência que talvez os países procurem outros mercados, mas essa mudança exige um padrão global difícil de alcançar, entretanto, o BRICS poderia ter um alcance regional interessante." completa Julia. 

As taxas impostas pelo presidente americano não interferem diretamente sobre os preços no mercado do consumidor brasileiro. A princípio, pela baixa demanda para exportação, os preços cairão no mercado interno. No entanto, com uma menor demanda de venda externa, a produção também diminuirá, resultando em uma possível alta novamente. 

Para tentar minimizar os efeitos dessa medida, Lula se encontrou nesta segunda-feira (11) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado
Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado

O objetivo foi alinhar os últimos detalhes de um plano de contingência contra o tarifaço norte-americano, que será divulgado nesta quarta (13), em cerimônia de divulgação no Palácio do Planalto.

Esse pacote deve incluir linhas de crédito para empresas afetadas, o adiamento do pagamento de tributos federais por até dois meses e compras públicas de produtos perecíveis, como peixes, frutas e mel. A sobretaxa impacta cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA, mesmo assim, 694 produtos, como suco de laranja e aeronaves, continuam com tarifas reduzidas de 10%, estabelecida em abril

Sobreviventes relembram o ocorrido e alertam sobre o risco dos atuais conflitos no Oriente Médio e Europa.
por
Annanda Deusdará
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07/08/2025 - 12h

Em agosto de 1945, os Estados Unidos bombardearam as duas cidades. Em decorrência da explosão e dos efeitos da radiação, cerca de 200 mil pessoas morreram. A expectativa com os ataques era fazer o governo Japonês se render - único país do Eixo que faltava ser derrotado - e, desta forma, terminar a 2° Guerra Mundial que ocorria desde 1939. 

Nos dias 6 e 9 deste mês, o Japão realiza um evento anual em Hiroshima e Nagasaki com o objetivo de relembrar ao mundo dos horrores causados pelos ataques e da importância de evitar que esse tipo de tragédia volte a se repetir.

Com expectativa da participação de aproximadamente 180 países convidados, as celebrações contam com homenagens às vítimas, discursos contra o armamento nuclear e exigências para que o Estado reconheça as necessidades das vítimas sobreviventes e forneça os auxílios necessários.

 

Contexto dos bombardeios

Em 1942, o Japão atacou a base naval americana de Pearl Harbor, o que levou os EUA a entrarem na guerra como forma de retaliação. Três anos depois, no dia 26 de julho, o presidente Harry Truman exigiu a rendição do Japão, sob ameaça de “destruição total e imediata”. Apesar de não haver menção ao uso de bombas nucleares, o armamento fazia parte do Projeto Manhattan e integrava o arsenal dos EUA, que pretendia encerrar o conflito com o uso delas, se fosse necessário.

Como o presidente do Japão não se rendeu, Hiroshima, que até então tinha escapado dos bombardeios, foi atacada na manhã de 6 de agosto de 1945. A explosão gerou uma onda de calor de mais de 4.000 °C em um raio de aproximadamente 4,5 km ². Estimativas apresentam números que entre 50 mil e 100 mil mortos no mesmo dia e cerca de 60 mil edifícios destruídos.

No dia 9, foi a vez da cidade de Nagasaki, que não era o alvo inicial devido ao seu terreno montanhoso e a proximidade de um campo de prisioneiros aliados de guerra. Entretanto, devido ao mau tempo em Kokera, que impossibilitou a visão dos pilotos, foi feita uma mudança de planos. Apesar da explosão ter sido mais forte que em Hiroshima, as montanhas da cidade ajudaram a diminuir o impacto, que destruiu 7,7 km². Após ambos os ataques, o Imperador Hirohito declarou sua rendição em 15 de agosto de 1945. O documento que confirmava sua decisão foi assinado em 2 de setembro, encerrando assim a 2° Guerra Mundial.

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​​Estátuas e construções, após a bomba atingir a cidade de Nagasaki. Imagem: Foto/Getty Imagens

Em 1946, o Japão adotou a “Constituição da Paz”, na qual se comprometeu a não entrar em outras guerras e em 1967, embora não tenham sido os japoneses a lançar uma bomba nuclear sobre um território, o país implementou os “Princípios Não Nucleares”, que consistem na rejeição da posse e importação de armamentos nucleares.

Apesar de terminado o conflito, os sobreviventes viveram sequelas. A exposição à radiação causada pelas bombas ocasionou náuseas, vômitos, sangramento e queda de cabelo em milhares de pessoas.

Com o passar do tempo, algumas pessoas também tiveram problemas de longo prazo como catarata e diversos tipos de câncer. De acordo com pesquisas do Life Span Study (LSS), os casos de leucemia entre os moradores de ambas as cidades aumentaram significativamente após os ataques.

 

Como estão as cidades atualmente?

Diferente da cidade soviética de Chernobyl, que até hoje segue inabitável após o famoso acidente em sua usina nuclear, Hiroshima e Nagasaki foram reconstruídas e povoadas em segurança. Segundo John Luxat, especialista em segurança nuclear da Universidade McMaster, em entrevista à BBC Mundo, isso foi possível por dois fatores cruciais, o tipo de reação química que houve nos dois eventos e a altitude. 

A bomba atômica tem uma fissão de cadeia rápida entre os explosivos com o intuito de causar mais estragos, o que torna a vida útil da radiação menor, quando comparada à provocada pela usina de Chernobyl, que teve uma reação mais lenta. Outro fator foi a altura em que as bombas foram detonadas, o fato disso ter ocorrido acima da cidade, permitiu que as partículas de radiação se dissipassem na atmosfera, ao invés de penetrarem na terra, como ocorreu em Chernobyl, onde a explosão aconteceu no nível do solo. 

Sendo a 11ª cidade com mais moradores no Japão, Hiroshima tem 905,08 km² e uma população estimada em dois milhões de habitantes. A região é um polo industrial com empresas que vão desde indústrias pesadas, como a construção naval, até setores de ponta, como máquinas elétricas e peças eletrônicas. Desde 1947, o Sino da Paz toca no dia 6 de agosto às 8h15 (dia e horário em que a bomba estadunidense atingiu a cidade), uma cerimônia também é realizada em homenagem às vítimas nesta data. 

Em 1949, foi aprovada uma lei que permitia a construção de novas casas em Nagasaki, entretanto, alguns escombros foram deixados para lembrar o ocorrido. Em homenagem às vítimas, nos anos 1990, foi fundado o Museu da Bomba Atômica, que conta a história da Guerra e do uso de armas nucleares.

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Memorial da Paz de Hiroshima, o domo foi destruído pela bomba mas foi mantido desta forma como lembrança dos horrores do ataque. Imagem: Foto/ Pixabay

 

Memória e os desafios da reparação

Milhares de moradores de Hiroshima e Nagasaki que estavam nas cidades nos dias dos ataques dos EUA, não são reconhecidos de maneira oficial como vítimas dos bombardeios atômicos. O motivo é o Estado japonês só considerar quem estava próximo ao centro do impacto, onde a radiação foi mais intensa. A decisão negou e nega acesso gratuito a cuidados médicos para os demais afetados. 

A justificativa do governo é que essas pessoas que estavam em pontos mais afastados não sofreram sequelas e, por isso, não têm direito aos benefícios como as vítimas oficiais. A decisão é interpretada como discriminação geográfica.

De acordo com o prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, a argumentação não têm sentido, pois todas as pessoas que estavam em um raio de até 2 Km do ponto de impacto foram afetadas pela radiação. Durante as comemorações, as vítimas exigem que as autoridades corrijam este equívoco. A associação Hidankyo, que reúne os sobreviventes e recebeu o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2024, também fez esse apelo neste ano.

Toshiyuki Mimaki, copresidente da associação, comentou alertou sobre as guerras que estão ocorrendo em países com poder nuclear como Rússia e Israel e o perigo que isso representa. A comunidade pede que os países lutem pelo fim do armamento nuclear com base nos relatos das vítimas e fomentando e frequentando espaços como o do Memorial, que conta a história desse período histórico.

Os sobreviventes temem que, com a falta da lembrança viva dos horrores causados pelos ataques atômicos, o mundo volte a fazer uso desse tipo de armamento. O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, também endossou as preocupações do grupo e reiterou que a busca de potências mundiais para aumentar seu poder bélico em busca de amedrontar outros países e resolver conflitos, prejudica a conquista da paz mundial.

A cerimônia, que ocorreu nesta quarta-feira (6) em Hiroshima, contou com representantes de 120 países e regiões, segundo autoridades locais. No entanto, países com armamento nuclear como China e Paquistão não enviaram equipes.

Neste sábado (9), outra cerimônia aconteceu na cidade de Nagasaki com um grande número de países presentes, incluindo a Rússia, que não participava do encontro desde a invasão da Ucrânia, em 2022. 

O novo cargo faz parte da estratégia do país de se posicionar como líder global em tecnologia
por
Rafaela Eid
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01/10/2024 - 12h

No dia 21 de setembro, a França nomeou Clara Chappaz, de 35 anos, como Secretária de Estado responsável pela Inteligência Artificial (IA) e Digitalização. A medida faz parte da estratégia do país de se posicionar como líder global em tecnologia.

A nomeação foi realizada pelo presidente Emmanuel Macron, a partir de uma proposta do primeiro-ministro Michel Barnier, segundo informações do Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Pesquisa da França.

Embora popularmente apelidada de "ministra da IA", Clara Chappaz não possui oficialmente esse título. No entanto, sua função terá um papel de destaque nas discussões sobre tecnologia, especialmente com a proximidade da Cúpula Internacional de IA, que será sediada pelo país em fevereiro de 2025.

A criação deste novo cargo faz parte da visão de Macron, que prevê o investimento de 500 milhões de euros até 2030 no desenvolvimento de polos de IA no país.

Graduada pela Essec Business School, em Cergy, na França, Cappaz iniciou sua carreira na Ásia, atuando em várias startups de comércio eletrônico. Em 2018, concluiu um MBA em Harvard e, posteriormente, assumiu a posição de diretora comercial na Vestiaire Collective, uma plataforma de revenda de produtos de luxo em Paris. Em 2021, passou a liderar a missão French Tech, que apoia startups tecnológicas inovadoras alinhadas às prioridades do governo francês.

Ali Kamal Abdallah é a primeira vítima brasileira morta no Líbano após bombardeios
por
Victor Trovão
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30/09/2024 - 12h

Um jovem brasileiro de 15 anos morreu durante bombardeios de Israel no Líbano, informou o Ministério de Relações Exteriores, Itamaraty, na quarta-feira, 25. Ele estava no vale do Bekaa, a leste da capital, Beirute, uma das regiões atacadas pelas tropas israelenses devido à presença de forças do Hezbollah, informação confirmada pelo Itamaraty. 

Natural de Foz do Iguaçu, município do Paraná, Ali morreu junto de seu pai  Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, após serem feridos por um foguete lançado por Israel que atingiu a cidade de Kelya. 

Ali
O brasileiro Ali Kamal Abdallah, 15, que morreu em ataque de Israel no Líbano - @all.eyes.on__lebanon no Instagram/Reprodução

Ainda que as circunstâncias da morte não estejam claras, em entrevista à RPC Paraná, Hanan Abdallah, irmã do adolescente, conta que Ali e seu pai morreram enquanto trabalhavam na pequena fábrica de produtos de limpeza da família. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência aos familiares das vítimas.

“Ao solidarizar-se com a família, o governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades", afirmou o Itamaraty em um comunicado oficial. 

O assassinato de Ali é a primeira morte de brasileiros no Líbano que o Ministério das Relações Exteriores pode reconhecer desde a escalada do conflito, no momento, informam que a documentação e translado dos corpos estão sendo tratadas por meio da Embaixada do Brasil em Beirute. 

O cenário apresenta alto risco no país, uma vez que o Líbano conta com cerca de 21 mil brasileiros, de acordo com os dados do Itamaraty. Milhares de pessoas estão aterrorizadas frente aos ataques iminentes de Israel e, por ora, os bombardeios acontecem mais ao sul libanês, fazendo a população local se refugiar ao norte. 

ataque
Momento do ataque de Israel à vila no Líbano. Ao menos 550 pessoas foram mortas pelos ataques israelenses e outras centenas ficaram feridas  - Foto: Rabih DAHER / AFP

Segundo dados do Ministério da Saúde libanês emitidos na última quarta (25) , ao menos 550 pessoas foram mortas pelos ataques israelenses e outras centenas ficaram feridas. 

Além do pronunciamento do Itamaraty ao lamentar a morte de Ali, durante entrevista concedida à imprensa americana após participar da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que aconteceu em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano. 

“Em Gaza e na Cisjordânia assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, que agora se estende perigosamente ao Líbano. Portanto eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel que eu tenho certeza que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio”, expressou Lula. 

Presidente condenou a guerra que se estende por quase um ano na Faixa de Gaza e criticou as recentes ações de Israel no Líbano
por
Matheus Almeida
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26/09/2024 - 12h

O presidente Lula discursou, na última terça-feira (24), na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Em sua fala, de cerca de 20 minutos, o mandatário destacou as ações de Israel em Gaza e, mais recentemente, no Líbano.  

Lula enfatizou que o mundo vive o período de maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial e constatou que os gastos militares no globo aumentaram pelo nono ano seguido, atingindo a marca de 2,4 trilhões de dólares.  

Sobre o Oriente Médio, ele classificou a situação como “uma das maiores crises da história recente”, e criticou Israel ao dizer que o “direito à defesa” alegado pelo país, se tornou um “direito de vingança” e que há uma punição coletiva para o povo palestino e não só ao Hamas, como diz o governo israelense.  

"São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria, mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo".  

O presidente brasileiro também citou brevemente os conflitos do Iêmen e do Sudão, esse na África, mas que afeta o maior número de pessoas em termos absolutos. Segundo dados da ONU, quase 25 dos 48,7 milhões de habitantes precisam de ajuda humanitária para sobreviver no país africano.  

Lula discursa na ONU. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula em discurso na ONU. Foto: Ricardo Stuckert

Guerra no Leste Europeu  

O presidente ainda lembrou da guerra entre Ucrânia e Rússia, que se estende desde fevereiro de 2022. Ele retomou o plano sino-brasileiro para a paz.  

“Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. [...] Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades.”  

Reforma na ONU  

Lula criticou a posição da própria ONU. Segundo ele, as Nações Unidas não conseguem assegurar a segurança e soberania da Palestina, sendo pouco eficaz em combater a violência, não só em Gaza, como também em outras partes do mundo. Ele também defendeu uma reforma, já que a Organização tem pouca representação dos países do Sul Global, e não abrange o mundo inteiro como na época que foi idealizada.  

“Prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma reforma abrangente. A versão atual da Carta não trata de alguns dos desafios mais prementes da humanidade. Na fundação da ONU, éramos 51 países. Hoje somos 193. Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento. A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial.”  

 

Após conflitos dos últimos dias, representantes mostram temor durante Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU)
por
Larissa Soler
Victória Toral
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26/09/2024 - 12h

Os ataques entre Hezbollah e Israel foram tema do discurso de diversos líderes mundiais presentes na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU),  na última terça-feira (24).

O Secretário Geral da organização, António Guterres, criticou países que descumprem resoluções da ONU, sem citar Israel, e afirmou que eles não podem deixar que o Líbano vire outra Gaza. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, acrescentou que uma guerra total no Oriente Médio “não interessa a ninguém”. 

O embaixador israelense na ONU informou que o país não tem interesse em invadir o território libanes. Após discurso na Assembleia, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, condenou novamente as ações israelenses no norte do Líbano, na quarta-feira (25). 

Iniciado em outubro do ano passado, o conflito entre o grupo Hezbollah e o Estado de Israel começou após a organização que fica localizada no norte do Líbano, atacar a região fronteiriça onde soldados israelenses estavam posicionados.

A ação ocorreu em resposta à guerra na região da Faixa de Gaza entre o grupo Hamas e Israel, que completa um ano no dia 7 de outubro. Desde então, o grupo Hezbollah e o Estado de Israel vêm trocando ofensivas, mas foi na semana passada que o conflito entre os dois se intensificou. 

Um ataque terrorista ao sistema de comunicação móvel de integrantes do Hezbollah ocorreu na terça (17) e quarta-feira (18). O governo libanês e o Hezbollah acusam Israel pela autoria das explosões, já Israel nega qualquer envolvimento.

Na mesma semana, durante um ataque aéreo, na região de Beirute, o comandante da unidade de elite Radwan do Hezbollah, Ibrahim Akil, foi morto. Nos dois ataques pelo menos 82 pessoas morreram e cerca de 3.000 ficaram feridas. 

Segundo informações do Ministério da Saúde do Líbano, 650 pessoas, incluindo, pelo menos, 35 crianças e 58 mulheres, foram mortas em ataques israelenses desde a manhã de segunda-feira (23). O número representa mais da metade dos libaneses mortos na guerra de 34 dias entre Israel e Hezbollah em 2006. 

Em entrevista à Agemt, Rodrigo Amaral, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador na área de política internacional no Oriente Médio, aponta que esses ataques podem ser uma tentativa do Estado de Israel de estender a conflitualidade contra o Hamas para a região norte do Líbano. 

“Tendo em vista que Gaza está sob escombros, o Hamas não tem qualquer possibilidade de reação por lá. A ideia israelense é muito provavelmente, tudo isso na prova da probabilidade, destruir o outro inimigo regional mais próximo que é o Hezbollah.” explica Rodrigo. 

Sobre as declarações dos líderes mundiais na Assembleia, Rodrigo diz que elas têm um impacto mínimo no conflito: “É um passo importante, porque significa que a comunidade internacional pode ser avessa ao que Israel está fazendo. Mas, não existe uma ação tão direta em decorrência das manifestações na Assembleia Geral das Nações Unidas”.

Amaral adiciona que as ações seriam mais eficazes se o Conselho de Segurança da organização determinasse uma resolução consensual para o fim do conflito, mas que “para que essa resolução ocorra, ela implicaria nos Estados Unidos barrarem as ações militares israelenses no Oriente Médio, algo que nunca aconteceu anteriormente” lembra o professor. 

Hezbollah:

O grupo fundamentalista nasce no contexto da Guerra Civil Libanesa, sendo uma associação político islâmico-libanês. 

“É uma organização política e social, então ele tem não apenas o braço paramilitar, que é o mais famoso que nós conhecemos, mas também um grupo que tem representação no parlamento libanês e que tem ações sociais de grande escala no sul do Líbano, onde esse grupo se desenvolveu” ,comentou. 

O professor explica que o Hezbollah surgiu nos anos 80 e 90, para ocupar a deficiência do Estado libanês na época e acabou se tornando um dos principais grupos de oposição contra o Estado de Israel. “Eles têm como aliados indiretos o eixo da resistência no Oriente Médio, forças de mobilização popular no Iraque, os houthis no Iêmen e de forma mais direta o Hamas, mas que também não há qualquer conexão material de aliança, é só uma questão de serem “inimigos” de Israel. Há também uma conexão diplomática com o Irã, mas não há confirmação de ligação de cooperação técnico militar”.

O grupo político islâmico-libanês e o Estado de Israel já estiveram em conflito antes, durante a Guerra do Líbano, em 2006. O conflito, que durou cinco semanas, teve início após membros da organização sequestrarem dois soldados israelenses. Nessa época quase 1.200 pessoas morreram no meio da guerra, sendo a maioria civis. 

Apesar da conexão diplomática entre o Hezbollah e o Irã, Amaral não vê o país entrando em um confronto com Israel: “Ele demonstrou que não tem vontade de fazer uma guerra direta com Israel e vice-versa. É improvável a inserção de forças militares iranianas, apesar de ser bastante factível o apoio indireto do Irã ao Hezbollah.”

Mossad: 

O pesquisador aponta que os ataques ao sistema de comunicação móvel de integrantes do Hezbollah na semana passada podem ter sido organizados taticamente pelo Mossad - Serviço de Inteligência de Israel e um dos mais desenvolvidos do mundo. Na ocasião, pagers e walkie-talkies de membros da organização foram utilizados como explosivos que atingiram milhares de pessoas. 

“O Mossad já atuou outras vezes na história de Israel, começou de maneira mais intensa a partir da Guerra dos Seis Dias em 1967 e desde então Israel tem ações de espionagem ativa contra os seus inimigos”. explica o professor. 

Porém, essa é a primeira vez que um ataque desse tipo é tão bem articulado tecnicamente e taticamente, o que demonstra a força da organização  “Vimos explosões simultâneas desses equipamentos, houve ali uma manipulação do hardware, de tecnologias que são dos anos 90, anos 2000 e que supostamente têm uma maior dificuldade de hackeamento”, comenta. 

O que esperar: 

Para os próximos dias, o pesquisador acredita que haja uma intensificação da ação militar israelense “há um risco alto dessa intensificação de operações aéreas militares se tornarem também operações em solo, lembrando que Israel já depositou a 98ª Batalhão das Forças Militares Israelenses na fronteira norte, que é a fronteira com o Líbano, portanto, acionou ali uma possibilidade de invasão, de ocupação, o que seria, basicamente, repetir o que aconteceu em 1982 e 2006”, finaliza. 

Destroços sendo retirados após ataque. Foto: AP Photo/Hassan Ammar
Destroços sendo retirados após ataque. Foto: AP Photo/Hassan Ammar



 

Ataque israelense deixa 492 mortos e 1.645 feridos em maior ofensiva desde o início do conflito
por
João Victor Tiusso
Lucca Fresqui
|
24/09/2024 - 12h
Foto: AFP/ND
Foto: AFP/ND

Na última segunda-feira, dia 23, Israel realizou um amplo ataque aéreo contra diversos alvos no Líbano. Foi o maior e mais mortífero bombardeio desde o início do conflito entre o país e o grupo Hezbollah. 

Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, 492 pessoas morreram e 1.645 ficaram feridas. Entre os mortos estão 35 crianças e 42 mulheres. O governo libanês informou que também há profissionais de saúde entre as vítimas.

Ao todo, foram atingidos 1.100 alvos no Líbano, inclusive na capital, Beirute. Os moradores das regiões do país atacadas receberam mensagens de texto e de voz enviadas por Israel alertando sobre a iminência dos ataques.

Os ataques desta segunda-feira foram os mais mortíferos no Líbano desde a guerra com Israel em 2006, cujo resultado foi inconclusivo para ambos os lados. 

De acordo com Israel, um dos comandantes do alto escalão do Hezbollah, Ali Karaki, está entre os mortos. No entanto, o Hezbollah afirmou em comunicado que Karaki está bem e foi movido para um local seguro. 

Em resposta ao bombardeio, o grupo libanês contra-atacou com foguetes, mísseis e drones, deixando várias cidades de Israel em estado de alerta. 

As agressões entre Israel e Hezbollah se intensificaram com a operação na faixa de Gaza, no ano passado, e vinham aumentando desde então. Porém, atingiram um novo patamar com a explosão dos pagers e walkie-talkies do grupo extremista na última semana. 

Devido à escalada do conflito, o governo dos Estados Unidos anunciou que enviará mais tropas ao Oriente Médio para reforçar as forças americanas já presentes na região.