Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
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13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
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10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Brasil também condenou ação israelense contra missão de paz das Nações Unidas
por
João Victor Tiusso
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16/10/2024 - 12h

 

Foto: Hussein Malla
Foto: Hussein Malla

Os ataques israelenses contra agentes da Unifil, a missão de manutenção da paz da ONU, receberam ampla condenação internacional após dois incidentes em menos de 48 horas. 

No dia 10 de outubro, dois soldados da Unifil ficaram feridos após um tanque israelense disparar contra uma torre de observação de uma das bases da ONU. No dia 11, outros dois agentes também foram feridos em um bombardeio israelense. 

Além das duas ações, militares das forças de paz relataram soldados israelenses utilizando escavadeiras para remover barreiras da ONU ao longo da fronteira entre Israel e o Líbano. 

O secretário-geral da ONU, António Guterres, classificou o ataque como “intolerável e não pode se repetir”. O portugues foi considerado persona non grata por Israel no início do mês por não condenar o Irã, após lançamentos de mísseis contra o Estado judeu. 

Na última segunda-feira (14), Itália, Reino Unido, França e Alemanha afirmaram que os ataques de Israel são contrários ao direito humanitário internacional e devem parar imediatamente. Em uma declaração conjunta, as quatro nações reafirmaram “o papel estabilizador essencial” desempenhado pela Unifil no sul do Líbano, acrescentando que Israel e outras partes tinham que garantir a segurança das forças de paz em todos os momentos.

A situação entre os países europeus e Israel é ainda mais tensa. A missão de paz conta com centenas de soldados europeus, que têm sido repetidamente atacados pelos militares israelenses. Israel pediu à ONU que retire as tropas da área, pois ela tem como alvo as forças do Hezbollah.

O governo braisleiro também emitiu um comunicado, condenando a invasão israelense à base da Unifil.

Ataques deliberados contra integrantes de missões de manutenção da paz e instalações da ONU são absolutamente inaceitáveis e constituem grave violação do Direito Internacional, do Direito Internacional Humanitário e das resoluções do Conselho de Segurança da ONU”, declarou o governo brasileiro.

Fenômeno chegou na costa de Siesta Key com tempestade de categoria 3 em escala que vai até 5
por
João Victor Tiusso
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15/10/2024 - 12h

 

Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH
Foto: EFE/EPA/CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH

O furacão Milton, que atingiu a Flórida na última semana, foi um dos fenômenos mais perigosos a atingir os Estados Unidos nos últimos anos. Pelo menos 17 pessoas morreram. As autoridades ainda trabalham nos locais atingidos para atender à população. 

A tempestade chegou à costa perto de Siesta Key, na Flórida, como uma perigosa tempestade de categoria 3, em escala que vai até 5, gerando ventos de até 200 km/h e chuvas fortes, além de inundações e tornados. 

Mesmo após ter sido rebaixado para a categoria 1, o fenômeno deixou um rastro de destruição, destelhando casas, derrubando árvores, postes e um guindaste. Além dos mortos e feridos, cerca de 3 milhões de pessoas ficaram sem energia. 

Os danos projetados com o furacão Milton são bilionários e podem variar, de acordo com um funcionário da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA). O custo estimado de reconstrução fica entre US$ 123 bilhões e US$ 174 bilhões, segundo dados da CoreLogic, empresa de análise de propriedades.

O governador da Flórida, Ron DeSantis, alertou que áreas alagadas ainda são um risco por causa de fios desencapados e destroços. Ele falou que vai acelerar a remoção de entulho. Vários caminhões estão passando pela cidade para retirar todo o entulho. Mas a limpeza pode levar semanas.

O Milton foi o terceiro furacão a atingir os EUA esse ano, apenas duas semanas depois da passagem do furacão Helene, que deixou mais de 230 mortos, 15 deles na Flórida.

Estima-se que a guerra na Faixa de Gaza já deixou 42 mil mortos e mais de 96 mil feridos
por
Rafaela Eid
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15/10/2024 - 12h

O ataque do Irã contra Israel, ocorrido em 1º de outubro deste ano, marcou uma nova fase no conflito que teve início em 7 de outubro de 2023, quando o grupo palestino Hamas invadiu o território israelense. Desde então, Israel tem respondido com uma série de ataques retaliatórios, cujo objetivo declarado é desmantelar o Hamas.

O conflito já causou milhares de mortes e deixou muitos gravemente feridos, com a Faixa de Gaza sendo o epicentro da devastação. Dados do Ministério da Saúde palestino indicam que cerca de 42 mil pessoas morreram em Gaza desde o início dos confrontos, e mais de 96 mil ficaram feridas.

A troca de ataques entre Israel e o Hamas agravou ainda mais a tensão em uma região historicamente marcada por conflitos. Em setembro deste ano, o Líbano também foi envolvido nos embates. 

Explosões de pagers e walkie-talkies, provocadas por Israel nos dias 17 e 18 de setembro, resultaram em ataques que atingiram civis e soldados libaneses. No primeiro dia, 12 pessoas morreram e mais de 2 mil ficaram feridas; no segundo dia, pelo menos 25 pessoas morreram e 600 ficaram feridas.

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Homem segura walkie-talkie durante o funeral de pessoas mortas na explosão de pagers, no Líbano. Reprodução:  ANWAR AMRO / AFP.

A professora de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Isabela Agostinelli, explicou que os ataques israelenses têm como objetivo enfraquecer o chamado Eixo da Resistência.

“Os ataques terroristas de Israel - no caso das explosões de pagers e walkie-talkies - respondem à tentativa de eliminar o chamado Eixo da Resistência, composto por Irã e atores não-estatais, como Hamas, Hezbollah e Houthis, e que se coloca contra as ações imperialistas dos EUA, levadas à cabo no Oriente Médio com apoio de Israel”, explicou  Agostinelli.

Desde então, o governo do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu iniciou uma série de ataques ao território libanês, com a justificativa de proteger as comunidades israelenses, do norte de Israel, de ofensivas do Hezbollah, aliado do Hamas. Por consequência disso, em 27 de setembro, Hassan Nasrallah, na época líder do Hezbollah, foi morto após uma onda de ataques aéreos aos subúrbios ao sul de Beirute, capital do Líbano.

Em resposta à ofensiva israelense, o Irã, financiador do Hamas e do Hezbollah, bombardeou Tel Aviv no dia 1º de outubro. O grupo lançou cerca de 180 mísseis balísticos contra Israel, mirando instalações militares e de inteligência na capital e em todo o país. A maior parte dos mísseis foi interceptada. 

“O Irã já deu um recado no dia 1º de outubro, destruiu parcialmente várias bases militares de Israel, numa demonstração de que o Irã pode penetrar a defesa de Israel. Não quis até agora, atacar a população civil, assim como Hezbollah não quis atacar a população civil, mas, se a guerra escalar, eles vão fazer isso. Isso ameaça incendiar toda a região”, pontuou José Arbex Jr, jornalista e ex-professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Crise humanitária e migração

Além dos 42 mil mortos no conflito em Gaza, a guerra obrigou grande parte da população a se descolar. Nove em cada dez habitantes de Gaza foram deslocados internamente, e alguns foram obrigados a se mudar dez ou mais vezes durante o último ano, de acordo com o The Intercept Brasil.

Sem comida suficiente, sem água potável, com sistema de saúde precário, escassez de combustível e remédios, os palestinos sobrevivem em tendas improvisadas. Em julho, o Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), disse que a crise humanitária em Gaza havia atingido “proporções alarmantes”. Ainda segundo a organização, desde outubro do ano passado, pelo menos 19 mil crianças foram separadas de seus pais.

“Qualquer lugar fora de Gaza, que se tornou uma terra arrasada, mas de onde os palestinos são proibidos de sair, visto que todas as fronteiras foram fechadas por Israel, que não permite a entrada e saída de pessoas, alimentos, medicamentos. Ao mesmo tempo, porém, os palestinos de Gaza temem abandonar suas casas, uma vez que as pretensões coloniais da ocupação israelense significam a não garantia do direito de retorno dos palestinos, algo que Israel faz desde pelo menos 1948”, disse  Agostinelli, após ser questionada sobre os destinos procurados pelos palestinos.

No Líbano, dados da Confederação Nacional das Entidades Líbano-Brasileiras (Confelibra) dizem que, desde o início da guerra, mais de 2 mil pessoas foram mortas, mais de 10 mil ficaram feridas e 1,5 milhão saíram do sul do país -  território alvo dos ataques vindos de Israel nas últimas semanas.

 Estados Unidos na guerra 

Na última quarta-feira (09), o presidente americano Joe Biden e o primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, conversaram por telefone em meio às tensões com o Irã. A ligação entre os dois líderes coincide com a escalada do conflito entre Israel, Irã e Hezbollah.

Desde 7 de outubro de 2023, os Estados Unidos têm demonstrado forte apoio a Israel, seu principal aliado na região. Segundo um relatório feito pela Universidade de Brown, o governo americano forneceu quase 18 bilhões de dólares em armamentos para o país, incluindo munições e sistemas de defesa.

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O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu em Tel Aviv, Israel, em 18 de outubro de 2023. Reprodução: GPO/Folheto/Anadolu via Getty Images.

Com o envolvimento do Irã e do Líbano na guerra, o governo dos EUA intensificou ainda mais seu apoio militar a Israel. O Departamento de Defesa anunciou o envio de milhares de militares ao Oriente Médio, com o objetivo de proteger Israel, bem como suas instalações e interesses na região.

Segundo Isabela Agostinelli, Israel busca o envolvimento do Irã na guerra, trazendo para ainda mais perto a atuação dos Estados Unidos. “Um envolvimento direto do Irã na guerra, que é o que Israel tem buscado, resultaria em uma guerra regional de larga escala. Além disso, traria um envolvimento mais direto dos EUA, que enxerga o Irã como grande inimigo na região desde 1979. Uma guerra entre Irã, de um lado, e EUA e Israel, de outro, significaria um custo altíssimo em termos de armamentos, investimentos na guerra, e principalmente o custo humano”, declarou a professora.

Até o momento, Israel não retaliou o ataque de Teerã a Tel Aviv, mas o ministro da Defesa, Yoav Gallent, prometeu uma resposta “letal, precisa e surpreendente”. Paralelamente, na última sexta-feira (11), os EUA impuseram novas sanções ao setor de petróleo do Irã, bloqueando 16 entidades envolvidas no transporte de produtos iranianos.

Sete estados podem desempenhar papel fundamental na definição do próximo presidente dos Estados Unidos
por
Manuela Schenk Scussiato
|
14/10/2024 - 12h

Com a proximidade das eleições dos Estados Unidos, marcadas para o dia 5 de novembro, o termo swing states (ou estados-pêndulo, em português) tem sido amplamente utilizado pela imprensa para se referir a estados decisivos no resultado eleitoral.

Nos Estados Unidos, o sistema eleitoral funciona por meio de delegados atribuídos a cada estado, com base na sua população. Quanto maior o número de habitantes, mais delegados o estado possui no Colégio Eleitoral.

O candidato que obtiver a maioria dos votos em um estado conquista todos os seus delegados. No total, há 538 delegados no país, e o candidato precisa de pelo menos 270 para ser eleito presidente.

Alguns estados, historicamente, elegem sempre o mesmo partido, por exemplo: o Texas é sempre repúblicano (partido de Donald Trump), enquanto Nova Iorque é sempre democrata (partido de Kamala Harris).

Porém, os swing states são estados que não tem uma preferência definida, o que torna-os decisivos na corrida eleitoral.

Esses estados não são fixos e são definidos com base em pesquisas eleitorais realizadas durante o período de campanha. Para as eleições deste ano, os principais estados-pêndulo incluem Pensilvânia, Michigan, Nevada, Wisconsin, Geórgia, Carolina do Norte e Arizona.

Mapa eleitoral estadunidense Fonte: Reprodução/XP Investimentos
Mapa eleitoral estadunidense
Fonte: Reprodução/XP Investimentos

O mapa eleitoral acima mostra, em roxo, os Estados pendulares, em azul os democratas e em vermelho os republicanos.

Enquanto a disputa estava entre Joe Biden e Donald Trump, o partido democrata vinha perdendo forças dentro dos estados-chave. No cenário passado, Trump levava todos os estados menos a Geórgia. Além disso, o atual presidente também perdia forças dentro dos estados que historicamente defendem seu partido(democrata).

Após a entrada de Harris na corrida eleitoral, o cenário mudou a favor dos democratas. Pesquisas recentes apontam a vitória de Kamala Harris sobre Donald Trump nos pendulares. O partido azul tem 49% das intenções de votos nesses sete estados, enquanto o vermelho tem 44%. Os outros 7% continuam indecisos..

 

Quais são os estados-pêndulo?

Arizona

O Arizona, que faz fronteira com o México, é um estado onde a questão da imigração é central. Trump promete realizar a "maior operação de deportação" se reeleito, enquanto Kamala Harris propõe melhorar as políticas imigratórias, tanto para os imigrantes quanto para a população local. Nas últimas eleições, Joe Biden venceu no estado, mas as pesquisas indicam que Trump tem chances de ganhar o Arizona este ano. O Arizona possui 11 delegados, ele representa parte importante da corrida eleitoral para ambos os candidatos.

 

Geórgia

A Geórgia tem um terço de sua população afro-americana, uma das maiores porcentagens de população preta nos Estados Unidos. Acredita-se que isso foi um dos maiores motivos para a vitória de Biden em 2020, mas por se localizar no sul do país, a população ainda é muito conservadora, essa ambiguidade torna as eleições lá acirradas. Além disso, Trump tem quatro processos criminais no Estado, um onde ele foi condenado e três que estão em aberto, sendo um deles por interferência eleitoral no estado. Com 16 delegados para representar a população do estado, a Geórgia está dentre os três maiores estados-pêndulo dessas eleições

 

Michigan

O Michigan possui a maior população arabe-americana do país, o que torna a guerra entre Israel e Hamas um tema relevante na eleição. Biden ganhou no estado em 2020, porém, após suas ações de defesa a Israel, os democratas perderam muita força no território.

Por mais que Kamala Harris traga em seu plano de governo propostas incisivas sobre o cessar fogo em Gaza, as ações de Biden durante seu mandato podem afetar o partido. O Michigan, assim com a Geórgia, também têm 16 delegados, sendo o segundo estado dentro dos três maiores estados pendulares deste ano.

Protestos contra o presidente Biden no Michigan Foto: reprodução/Getty images
Protestos contra o presidente Biden no Michigan
Foto: reprodução/Getty images

Nevada

Embora tenham apoiado consistentemente os democratas nas últimas eleições, o estado enfrentou desafios econômicos significativos sob a administração de Biden - atualmente Nevada  possui a terceira maior porcentagem de desemprego do país, atrás apenas da Califórnia e de Washington DC.

A entrada de Kamala Harris na corrida melhorou a imagem dos democratas no estado, mas a crise de desemprego continua a ser uma grande preocupação para os eleitores. Trump promete resolver a situação, focando na criação de empregos e na revitalização da economia local, o que pode atrair eleitores que estão insatisfeitos com as políticas econômicas atuais. Nevada é o menor estado-pêndulo da corrida eleitoral, apenas seis delegados representam o estado.

 

Carolina do Norte

Esse estado faz fronteira com a Geórgia, portanto os dois estados têm visões similares. No entanto, a Carolina do Norte foi o primeiro lugar a receber uma visita de Donald Trump após o atentado que sofreu em julho, na Pensilvânia. Com um discurso de viés populista, Trump enfatizou a importância do estado para sua vitória, na esperança de repetir o desempenho obtido em 2020. O estado traz para a disputa 15 delegados.

 

Pensilvânia

A Pensilvânia, terra natal de Biden, enfrenta sérios problemas com a inflação, o que tem prejudicado a popularidade dos democratas. Além disso, o estado foi palco de um atentado contra a vida de Donald Trump durante a campanha, aumentando o clima de tensão na disputa. A Pensilvânia também é o maior pendular deste ano eleitoral, com 20 delegados adicionais para o candidato que ganhar no estado.

Trump após ser atingido na orelha por um projétil na tentativa de tirar sua vida Foto: Evan Gucci
Trump após ser atingido na orelha por um projétil na tentativa de tirar sua vida
Foto: Evan Gucci

Wisconsin

Wisconsin votou no candidato vencedor nas ultimas duas eleições (Trump em 2016 e Biden em 2020), com margens muito pequenas entre ambos. Nesse estado, porém, existe uma grande influência de candidatos de terceiro partido, nem democratas nem republicanos, o que pode tirar votos dos dois maiores concorrentes, por isso, o foco nele durante as campanhas aumenta.

Trump afirmou: "Se ganharmos Wisconsin, ganhamos tudo", enquanto Kamala Harris anunciou sua candidatura à presidência durante uma visita a capital Milwaukee, ambos atos feitos para reforçar a importância do estado na disputa. Wisconsin dá ao candidato

 

Candidatos a vice discutiram temas do cotidiano dos Estados Unidos
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
Gustavo Oliveira de Souza
|
08/10/2024 - 12h

 

J.D Vance e Tim Walz durante o debate. Foto: Chip Somodevilla/ Getty Images
J.D Vance e Tim Walz durante o debate. Foto: Chip Somodevilla/ Getty Images

Na noite da última terça-feira (1), os vice-presidentes dos candidatos à presidência dos Estados Unidos, J.D. Vance, vice de Donald Trump, e Tim Walz, vice de Kamala Harris, participaram de um debate nos estúdios da TV americana CBS, em Nova Iorque. O debate teve um tom amistoso, com os dois vice-candidatos procurando expor seus pontos de vista sem ofensas ou agressões. Os raros momentos de ataque eram direcionados apenas a Trump e Harris.

A discussão abrangeu todos os temas que fazem parte do cotidiano dos estadunidenses. Questões como a greve portuária, o furacão Helene e o bombardeio do Irã contra Israel foram debatidas por ambos.

Imigração

Vance foi o primeiro a ser questionado quando o assunto foi a crise da imigração. O candidato foi indagado sobre o plano de Trump, que prometeu criar o maior programa de deportação em massa de imigrantes ilegais, utilizando as forças militares. 

Ele não hesitou em culpar Kamala Harris por desfazer o programa que o republicano havia criado. J.D. terminou seu discurso afirmando que a política de reabertura da fronteira por parte de Biden foi responsável pelo desaparecimento de 320 mil crianças no país.

Em resposta, Walz destacou o programa de controle da imigração do atual governo, plano que foi idealizado pelo governador James Langford, que, segundo ele, “é conservador, mas é um homem de princípios”. 

Walz também ressaltou que o projeto foi elaborado tanto por democratas quanto por republicanos e que Trump mentiu sobre a construção do muro que separa o México dos Estados Unidos. As apresentadoras do debate ainda voltaram ao assunto, e J.D. Vance continuou afirmando que Kamala permitiu que o tráfico de drogas através dos cartéis mexicanos acontecesse no país. Tim, mais uma vez, pediu que a questão fosse vista de forma mais humana.

Oriente Médio

Com a escalada de tensões no Oriente Médio, impulsionada por um ataque iraniano a Israel, a postura dos EUA na região ganhou espaço nas discussões eleitorais. 

Tim Walz, representante da chapa democrata liderada por Kamala Harris, reiterou o compromisso dos EUA em apoiar Israel incondicionalmente. Para Walz, a segurança de Israel é uma prioridade, especialmente diante das ameaças representadas por grupos como o Hamas.

 "Precisamos garantir que Israel tenha os meios necessários para se defender e ao mesmo tempo resolver a crise humanitária em Gaza", afirmou o candidato democrata, ressaltando a necessidade de equilibrar suporte militar e assistência humanitária.

Walz também defendeu que as relações com o Irã devem ser geridas com cautela, mantendo a diplomacia como ferramenta principal, mas sem abrir mão da segurança regional. Ele criticou a decisão da administração anterior de retirar os EUA do acordo nuclear com o Irã, apontando que isso trouxe instabilidade à região.

Por outro lado, J.D. Vance, vice na chapa republicana de Donald Trump, fez elogios à abordagem da administração Trump, que, segundo ele, trouxe estabilidade ao Oriente Médio ao adotar uma política de "dissuasão forte". 

Vance reforçou que Israel deve ser capaz de tomar suas próprias decisões de defesa sem uma interferência excessiva dos EUA. "O acordo nuclear com o Irã era um erro, e a retirada foi necessária para evitar que o Irã se tornasse uma ameaça ainda maior", argumentou Vance, refletindo uma postura mais conservadora em relação à política externa.

J.D. Vance e Tim Walz no debate vice-presidencial, nos Estados Unidos, em 1º de outubro de 2024 — Foto: REUTERS/Mike Segar
J.D. Vance e Tim Walz no debate vice-presidencial, nos Estados Unidos, em 1º de outubro de 2024 — Foto: REUTERS/Mike Segar

O aborto e a divisão política

Enquanto a política externa gerou debate, foi o tema do aborto que trouxe as discussões mais acaloradas entre os candidatos. Tim Walz se posicionou como um defensor firme dos direitos reprodutivos, destacando a importância de garantir o acesso ao aborto em todo o país. 

Ele criticou duramente as leis estaduais mais restritivas, como as implementadas no Texas, onde mulheres enfrentam complicações graves por falta de acesso a procedimentos médicos adequados. 

"Essas leis não só ameaçam os direitos das mulheres, mas também colocam suas vidas em risco", afirmou Walz, referindo-se ao caso de Amanda Zurawski, uma mulher que sofreu complicações durante a gravidez devido às restrições legais no estado.

Além disso, Walz condenou o "Projeto 2025", uma proposta conservadora que visa dificultar ainda mais o acesso ao aborto e limitar os tratamentos de fertilidade. Para ele, os direitos reprodutivos não devem ser determinados por onde a pessoa vive, mas sim garantidos de maneira uniforme em todo o país.

J.D. Vance, no entanto, adotou uma postura mais moderada em relação ao tema. Embora claramente pró-vida, Vance evitou defender uma proibição nacional do aborto, preferindo deixar a decisão para os estados. 

"As realidades e necessidades de cada estado são diferentes, e essa questão deve ser tratada localmente", afirmou o republicano. Apesar de sua visão contrária ao aborto, Vance tentou evitar uma postura que pudesse ser vista como extremista, focando mais em políticas de apoio às famílias e à vida.

Armamento 

Outro tema abordado no debate foi o porte de armas. A apresentadora do debate introduziu o assunto relembrando a prisão dos pais de um menino que atirou e matou colegas na escola, um caso inédito no país. 

Quando questionado se a prisão dos pais era a medida correta, J.D. Vance afirmou que as pessoas devem confiar nas autoridades locais. Sobre o aumento das mortes por armas de fogo, o democrata responsabilizou novamente Kamala Harris, alegando que a abertura das fronteiras contribuiu para o crescimento do comércio de armas ilegais nos Estados Unidos. Como solução para reduzir as estatísticas, defendeu o reforço nas portas e janelas das escolas.

Em resposta, Walz argumentou que é necessário realizar mais pesquisas e ampliar os dados sobre a violência para entender onde e como os problemas surgem. Como exemplo de segurança, citou a Finlândia, que tem uma boa parte da população armada, mas onde tiroteios em escolas não são comuns. Ele também pediu à população que confie no trabalho de Kamala.

Uma pesquisa instantânea da CNN revelou que 51% dos telespectadores acreditam na vitória de Vance, enquanto 49% consideram que Tim Walz foi o vencedor do debate. Esse foi, provavelmente, o último debate antes das eleições, marcadas para o dia 5 de novembro.