Os advogados Micheli Cristine Ribeiro de Souza e Rodrigo Augusto Guedes, donos do escritório Guedes e Souza Advogados, sentiram o impacto da pandemia logo em seu início “No primeiro dia de isolamento nossas atividades diminuíram em 90%” e com esta queda nas atividades, o casal precisou recorrer a outros negócios a fim de manter as despesas em dia “Minha esposa, que é minha sócia, passou a revender maquiagens”.
Souza decidiu revender produtos de maquiagem para ajudar nas despesas, já que como o escritório dos dois é pequeno, a queda nas atividades impactou a renda do casal. Ela criou um perfil nas redes sociais para este novo negócio a fim de divulgar seus produtos. A advogada faz as entregas pessoalmente ou por correio tomando todos os cuidados e obedecendo as normas da OMS.
A rotina do casal antes da pandemia consistia em sair a maior parte do dia para audiências em todo o território nacional, reuniões com clientes e realizavam as atividades administrativas do escritório, apenas a noite se reuniam em casa e realizavam as atividades domésticas.
Com este cenário de pandemia o casal precisou reformular toda a rotina, já que home office não era o principal modo de trabalho dos dois. Tiveram também que aprender a coordenar as atividades domésticas que aumentaram com a presença de todos em casa “Está sendo difícil manter a concentração no home office, as atividades domésticas que antes eram apenas a noite passaram a ser o dia todo”.
A maioria dos processos hoje são eletrônicos, o que faz da internet um dos principais meios de trabalho dos advogados, porém com todo o cenário que estamos vivendo hoje nem esses seguiram no início do isolamento. A justiça parou porque também não estava preparada para tudo e só partir de abril, os processos voltaram a correr. Enquanto o número de clientes e processos correndo eram menores no escritório do casal, eles dedicaram parte de seu tempo a cursos e lives sobre assuntos jurídicos para se aprimorarem.
De toda esta experiência com home office o casal aprendeu a realizar as atividades em família e passar mais tempo juntos reforçando os laços familiares.
Já a advogada Lívia Prisco que também tem seu escritório, antes da pandemia passava um bom tempo na rua para audiências e reuniões com clientes, visitava a fóruns e delegacias e fazia trabalhos em casa, como o peticionamento nos processos. Prisco sentiu os impactos da pandemia logo no começo da quarentena “Senti muito com relação aos pagamentos, muitos clientes alegaram que eram autônomos e não estavam trabalhando, ou que tiveram o salário reduzido”. Com a queda de clientes e as despesas aumentando com todos passando a ficar em casa, a advogada precisou recorrer a ajuda financeira de familiares e empréstimos bancários.
A rotina dela teve grandes mudanças e o número de reuniões com clientes teve uma queda “Os clientes mais idosos ainda têm certa resistência em fazer reuniões por vídeo chamada” e muitos de seus processos tiverem o prazo suspenso, os eletrônicos seguiram andamento só a partir de abril.
Diferente do casal Souza e Guedes, Prisco não sentiu dificuldades para trabalhar em home office. Ela não possui um espaço para seu escritório e trabalhava nesta modalidade há três anos “Estabeleço horários para trabalhar e horários para cuidar da casa”.
O tempo livre também está sendo aproveitado por ela para adiantar sua pós graduação, fazer cursos de marketing digital para ajudar na divulgação do seu trabalho e ler doutrinas, tudo para crescer cada vez mais.
Esta experiência de home office fez Prisco perceber que reuniões por vídeo ajudam a economizar melhor o tempo na rua, já que em São Paulo ela não demora menos de uma hora para se locomover de um local ao outro. “Gostaria de continuar fazendo reuniões por vídeo chamada, telefone e e-mail, e me locomover quando estritamente necessário”, ela acredita que o tempo em home office quando se tem disciplina é muito melhor aproveitado e que sua produtividade acaba sendo bem maior.
Durante a pandemia do coronavírus, a educação precisou se reformular para poder dar continuidade ao ensino. As mudanças foram sentidas de diferentes formas por pais de crianças em processos de alfabetização, alunos em ano de vestibular e professores. Entretanto, são ressaltados aspectos positivos para a autonomia e aprendizagem cotidiana desenvolvida no período.
Márcio Rafael Cruz, gestor e idealizador da escola on-line Linkage School e professor de biologia na rede privada de educação, relata que a escola já necessitava de uma reinvenção há anos. “As carteiras enfileiradas, o modelo de escola padronizada, que visa somente a padronização do estudo, é uma tendência ao fracasso. Cedo ou tarde ela vai deixar de existir”.
O professor destaca que a tecnologia, que permite que as aulas sejam gravadas e haja uma comunicação simultânea com o aluno, gerou uma flexibilização na rotina dos estudantes. “Alunos que tinham dificuldade na questão presencial, com horários fixos, agora no ensino remoto têm uma flexibilidade melhor de horários e se adaptaram melhor”.

Cruz ainda enfatiza que as escolas não estão vivendo o ‘EAD’, mas sim um ensino remoto. “O ensino à distancia tem um planejamento e uma metodologia de aula e avaliação diferente. Não adianta usar o formato de ensino presencial e ‘jogar’ no on-line”.
Por lecionar biologia, que possui diversas atividades laboratoriais, Cruz informa que há uma defasagem nas aulas práticas, mas a situação pode ser revertida. “Nada impede que daqui pra frente alguém possa desenvolver um laboratório virtual. A situação é muito emergencial, por isso o planejamento pode estar um pouco defasado. Estamos lutando um dia de cada vez, resolvendo um problema de cada vez”.
Para a estudante do Colégio Salesiano Santa Teresinha, Julia Clemente, 17, a forma de ensino mais flexibilizada permitiu que ela buscasse mais informações sobre os vestibulares que ela irá prestar no final do ano. “Tenho mais tempo livre para pensar e estou pesquisando sobre os vestibulares, faculdades”.
Clemente aponta que uma das mudanças gerou um resultado positivo no desenvolvimento de sua autonomia, principalmente por estar concluindo o Ensino Médio e enxergar esta independência como um fator importante para seu futuro. “Uma mudança muito boa foi a de ‘liberdade’. No próximo ano eu vou precisar dessa independência e neste sentido, o ensino remoto foi muito bom. Na escola, o professor te obriga, em casa você é o único responsável”.

Na Educação Infantil, o cenário é diferente. As crianças que passam pelo processo de alfabetização não aprendem matérias e disciplinas, mas sim por meio de interações, sendo estimuladas com atividades e brincadeiras. Desta forma, foram outros os obstáculos enfrentados.
Waleska Brilhante, mãe de Felipe, 4, mostra que no início do período, o menino gostava de ficar de frente da tela do computador para encontrar com os amigos e a professora. “No começo foi tudo divertido. Eram 40 minutos e ele ficava tranquilo. Hoje ele não quer mais ficar nem meia hora, ele não tem paciência, não tem foco”.
Brilhante expõe que a Escola Miudinho, onde Felipe está matriculado é muito vivencial e por isso, sente que as crianças estão perdendo algumas aprendizagens. “Na escola tem horta, cozinha, atividades de folclore, natação, o que ele não está tendo agora. Quando eles chegam na escola tem interação e então começam as atividades. Hoje é sentar e fazer a tarefa”.
Por outro lado, a mãe indica que a família está passando a quarentena em um sítio, o que permite que tenham um maior contato com a natureza e o menino aprenda com essas situações também. “Ele plantou um pé de feijão e está colhendo. Eu acredito que teve uma perda do aprendizado mais ‘formal’, mas da vida, da vivência, ele teve um ganho”.
Brilhante expõe sobre conscientização da importância dos professores para a construção do conhecimento que o período de ensino remoto proporcionou. “Agora, vendo a dificuldade de lidar com toda rotina, acredito que vão ser mais valorizados”.
O professor de matemática, Alexandre Arrigoni (46), conta que encontrou dificuldades em se adaptar ao ensino à distância. “Nossa casa não está preparada com escritório adequado, com lousa ou até mesmo na parte tecnológica.” Mesmo assim, este não se revela o pior problema, já que o impasse está na conciliação entre a profissão e a rotina familiar. Arrigoni trabalha no período da manhã, o mesmo período de aulas da filha, Larissa Arrigoni (12). “Não tem como eu largar minha aula para ajudá-la e nem ela pode sair da própria aula para pedir por minha ajuda.”.
Do outro lado, a professora da educação infantil, Gabriela Rodrigues da Silva (33) revela que não consegue combinar todos os afazeres. “É verdade que não dou conta de conciliar tudo. Fazemos na medida do que é possível e a escola compreendeu que não conseguimos realizar todas as propostas nos dias em que são solicitadas.”.
Acervo pessoal de Gabriela Rodrigues da Silva |
Rodrigues ainda conta que para a sua modalidade de aulas, o ensino à distância é inviável. “Esta etapa possui suas próprias características, brincar e interagir são os pilares, ela [a etapa] não existe longe do espaço escolar.”. O filho da professora, Daniel Fernandes Nóbrega (4) estuda em uma instituição da prefeitura de São Paulo e ambos também têm aulas no mesmo período.
A professora do ensino fundamental, Isabela Fumo (39), leciona língua portuguesa em uma escola privada em Guarulhos. Fumo revela que em sua casa essa questão é duplicada, pois o marido também é professor e ainda leciona online em seu canal no Youtube (Literatura Fora da Escola). “Tentamos montar horários para poder ficar online junto com nosso filho. Revezamos na maior parte dos dias. Mas quando não tem jeito, ele perde a aula online e assistimos às gravações que ficam disponíveis na plataforma.”
Acervo pessoal de Isabela Fumo |
Em matéria de auxílio ao filho Giuseppe (4), a professora confessa que o garoto precisa de ajuda constante durante as aulas, o que é complicado para o casal de professores, já que precisam administrar suas próprias aulas e tarefas. “Está na fase de aprender as letras e os números. Tem sempre que ter alguém com ele na aula. Sozinho é inviável.”
Por outro lado, os professores relatam que o maior obstáculo do ensino à distância é, na realidade, a falta de contato com os alunos. “Sinto muita falta da presença do aluno, do olhar do aluno, o contato. Isso é algo que me frustra e me deixa inseguro, sobre a forma como eles estão aprendendo.” relata o professor Arrigoni.
Contudo, a questão vai além do que somente a proximidade entre aluno e professor. A professora de língua portuguesa, diz que o obstáculo está na ausência de interação, isto é, o lado humano do aprender é deixado em segundo plano nas aulas online. “No começo foi pior ainda. Muitos se negavam em abrir a câmera e tivemos que entender, porém não, essa atitude não viabiliza a interação.”
Acervo pessoal de Alexandre Arrigoni. |
Por outro lado, o ensino à distância é bastante seletivo, uma vez que nem todos possuem acesso à internet ou aos equipamentos adequados para se adaptar às aulas. “Nem todas as pessoas têm acesso à internet ou mais de um dispositivo para este acesso em casa. então é bem complicado pensar neste ensino à distância.”
Os professores contam que conseguiram tirar algo de positivo dessa mudança repentina no cotidiano das famílias. Os três revelam que agora conseguem de alguma forma passar mais tempo juntos de seus respectivos filhos. “Eu consigo dormir um pouco mais, consigo tomar café com a minha filha, coisas que rotineiramente não fazíamos. Creio que estamos sentindo mais a nossa família.” relata Arrigoni.
Juntando-se ao professor, a mãe de Daniel confessa que é muito bom estar mais próxima da família, porém com as crianças o serviço se torna mais complicado. “É difícil conciliar o trabalho estando em casa com dois filhos pequenos. Eles não compreendem que estou trabalhando e solicitam minha atenção o tempo todo.”
Acervo pessoal de Gabriela Rodrigues. |
A pandemia de Covid-19, declarada pela OMS em 11 de março desse ano, provocou o fechamento dos templos para evitar o contágio da população. O período longe dos cultos tem feito com que várias pessoas se afastem de suas práticas religiosas.
Localizado em São Paulo, na Vila São José, está o Templo de Umbanda Forças de Aruanda, que realizou algumas alterações nas suas atividades em decorrência do surto de Covid-19. O terreiro era aberto diariamente para atividades religiosas, estudos e atividades culturais, mas desde o início da quarentena, os encontros tiveram de ser suspensos. Entretanto, todas as atividades que eram realizadas presencialmente, agora estão acontecendo através de reuniões online, com exceção das giras, que ocorriam todas as sextas-feiras.
O pai de santo do templo Forças de Aruanda, Cristiano Trevelino, comentou que algumas pessoas se distanciaram da Umbanda em decorrência do longo período longe dos terreiros. “As pessoas buscam a fé por conta de milagres, e se elas não os têm constantemente, acabam se afastando. Já ocorreu esse distanciamento entre os meus filhos de santo, alguns deles nem participaram das atividades online.”

Além disso, Trevelino acredita que a experiência religiosa vai ser afetada, principalmente por conta da ausência das incorporações de santos e do desequilíbrio energético das pessoas durante a pandemia, mas pensa que a quarentena pode proporcionar uma busca interna mais profunda. “A meu ver, o que se ganha é um conhecimento maior de si próprio em relação à fé e à espiritualidade, mas só para aqueles que estão dispostos, mas nem todos estão", disse.
O “Babá" do Templo Forças de Aruanda espera que, com a volta das atividades presenciais, a maioria daqueles que se afastaram da Umbanda volte a frequentar o terreiro. “Quando retornarmos, as pessoas talvez voltem mais rápido, principalmente pela necessidade e pelo esgotamento que esse tempo tem causado.”
Assim como Trevelino, a missionária cristã, Fernanda Souza, também notou que as pessoas têm se afastado das instituições religiosas. A missionária se mudou para a cidade de Derby, Inglaterra, em 2019 para prestar serviços voluntários à uma organização cristã chamada YWAM (sigla para Youth With A Mission). Na Europa, a brasileira frequenta uma igreja anglicana chamada Derby City Church.

Segundo a paulistana, o coronavírus obrigou a Igreja a se reinventar. “Descobrimos que nós podemos ser uma família sem estarmos no mesmo lugar. A igreja não é um espaço, nós somos a igreja.” Em contrapartida, ela acredita que essa situação de pandemia pode afastar algumas pessoas da religião. “Nesse contexto, só fica quem quer, porque quem não quer nem participa das lives. Quem não tá, não tá."
Souza disse que a sua igreja se preocupa muito com os seus membros, pois sempre liga para eles e visita, com distanciamento, os mais idosos. Ela crê que esse contato constante é essencial para manter os seus irmãos na fé firmes durante esse tempo. "Em relação às outras igrejas, não sei se estão correndo atrás das pessoas. Na Inglaterra estamos correndo. Um ajuda o outro, e isso fortalece os nossos laços.”
A Derby City Church tem gravado semanalmente os seus conteúdos, que são transmitidos aos domingos. Além disso, as reuniões semanais que ocorriam nas casas dos membros agora são feitas através de ligações de vídeo. "A igreja é como uma família. A família se reunia semanalmente, mas agora não pode mais. Ela se reúne online e você nem sabe quem realmente está participando”, disse.
Ao contrário de Souza e de Trevelino, Aboo Abudo Atibo, sheik da Mesquita de Guarulhos, acredita que os fiéis de sua religião não terão a sua fé abalada pela quarentena. “O muçulmano é um peixe que vive em todos os ambientes. O homem pode criar um templo em qualquer lugar”, afirmou.

Atibo acredita que ao invés de enfraquecer a fé do muçulmano, a quarentena deve fortalecê-la. “Nada afeta o crente, a menos que seja para melhorá-lo", disse baseado em um dos ensinamentos de Maomé. Ele acredita que a única diferença que os fiéis devem sentir é a falta de abraços e beijos, que segundo o moçambicano, é uma das bases da cultura islâmica.
O sheik contou que a mesquita que ele lidera tem realizado transmissões todas as sextas-feiras, dia sagrado do Islã, ao meio dia, com mensagens e ensinamentos aos muçulmanos. Além disso, as aulas que ele dava às crianças ainda continuam acontecendo, mas agora são realizadas através de ligações de vídeo.
A 20ª edição do reality show da TV Globo tomou conta das redes sociais. Grande parte da discussão vem das estratégias de marketing adotadas pelos participantes, principalmente Bianca Andrade e Manu Gavassi. A estratégia foi convidar personalidades da internet para participar ao lado de anônimos, trazendo não apenas a renovação da audiência do programa, mas também grandes lições de marketing digital para o mercado.
Os famosos do BBB 20 encontraram maneiras de continuar ganhando dinheiro, influência e até dar uma melhorada na carreira mesmo isolados do convívio social e virtual. Eles possuem grande alcance no mundo digital, mas existem pessoas que não são atingidas com seus canais, mas que continuam sendo um público consumidor interessante.
Um exemplo é a carioca, Bianca Andrade de 25 anos, conhecida popularmente na internet como Boca Rosa. Começou no Youtube e hoje contabiliza 10 milhões de seguidores. Ela lançou uma linha de cosméticos que é vendida em lojas de departamentos de todo o país.
Escolheu ir para o Big Brother como uma forma de fazer propaganda da sua linha, sem custo financeiro e em rede nacional, diante de uma audiência que ela nunca alcançaria no digital.
O Big Brother marcou 28 pontos na Grande São Paulo (cada ponto equivale a pouco mais de 74.987 domicílios no Kantar Ibope), o recorde do programa até fechamento desta reportagem. E de acordo com a blogueira, a venda de seus produtos, triplicaram enquanto ela estava confinada. Bianca também deu uma ajudinha, fazendo um tutorial de make dentro do programa, usando apenas seus produtos.
Além disso, a equipe da blogueira aproveitava para compartilhar no Instagram todos os looks, planejados e fotografados previamente, que ela utilizava no programa. Ao ser eliminada, a própria Bianca contou nos stories do seu Instagram que ela memorizou as roupas e makes que tinha que usar a cada semana. As cores das roupas dela combinavam com a cor das postagens no feed da semana, o que remetia a um produto de sua marca, já que ela usava um batom que combinasse com o look.
No caso de Bianca, o consumidor que a vê utilizando o produto no BBB, consegue descobrir qual é esse produto e perceber seus efeitos na pele. Gostando do que assiste pode comprá-lo no mesmo momento, acessando o Instagram. Uma verdadeira aula de consumo digital.
Várias plataformas integradas
Escrever uma narrativa transmídia é agregar várias plataformas de comunicação, que entrelaçadas geram diversos conteúdos digitais com forte impacto de compartilhamento. E embora esse termo já exista há 10 anos cunhado pelo pesquisador norte-americano Henry Jenkins (http://henryjenkins.org/), atualmente, ele apresenta mais recursos para transcender essa mensagem.
Vale mencionar que a história aplicada à transmídia deve apresentar em seu contexto os valores de alguma marca e não apenas a trajetória da pessoa. É necessário que valores e enredo estejam aliados de forma interessante e atraente. Produzir conteúdo transmídia não é uma tarefa fácil, mesmo porque requer conhecimento em diversas áreas: marketing, design, cinema e jornalismo.
Quem também está usando dos recursos transmídia é a Manu Gavassi, que fez sucesso em 2010 com a sua música Garoto Errado (https://www.youtube.com/watch?v=OeczcR5zKfo). Entrou no programa com o objetivo de se descobrir, entender quem é "Manu Gavassi", a própria chamou o BBB de "Retiro espiritual" (https://www.youtube.com/watch?v=kyhnChgDZK4). Um pouco sumida dos holofotes, Manu voltou com tudo em 2018, investindo na produção de conteúdo autoral para seus canais na internet, ganhando o status de influencer, pessoa capaz de influenciar o comportamento e opinião de milhares de pessoas por meio do conteúdo que publica em seus canais de comunicação, como Facebook, Instagram, Twitter e YouTube. Seu principal projeto do ano foi uma websérie para o Youtube chamado "Garota Errada", em que tira sarro de sua própria trajetória de ídolo teen.
Manu também se planejou para o reality e deixou gravado novos episódios da websérie, onde respondia perguntas que o público teria quando a visse no programa, como quem ela é e porque ela foi para o BBB.
Todo o conteúdo foi produzido de forma cronológica e fortemente trabalhado no storytelling (capacidade de contar histórias de maneira relevante), onde os recursos audiovisuais são utilizados juntamente com as palavras. É um método que promove o seu negócio sem que haja a necessidade de fazer uma venda direta), para dialogar com o tempo de confinamento da cantora.
Manu também apela para o lado dos memes, suas frases e poses típicas no programa viralizam no exato momento que são faladas ou feitas. Consequentemente, as pessoas sentem a curiosidade de saber quem é essa pessoa e vão atrás do seu Instagram (https://www.instagram.com/manugavassi/?hl=pt-br). A cantora começou no programa com 5 milhões de seguidores e hoje está com 9 milhões. Os novos episódios da websérie não passaram de um marketing de vendas de produtos para construir e qualificar a audiência até que estivessem preparados para “comprar” sua música.
Para falar mais sobre o assunto entrevistamos duas jornalistas. Rosa Santos, especialista em Marketing Digital e sócia da agência de comunicação digital Original Marketing e Media e Priscila Fonseca que trabalha há 3 anos como assessora de comunicação da SMPED.
O que você achou sobre a estratégia do BBB20 de convidar celebridades?
Rosa: Logo que saíram as primeiras informações de que o Big Brother Brasil 20 seria uma mistura de convidados celebridades e pessoas que tinham se inscrito, eu fui uma das pessoas que falei "nossa, mas é muito injusto essa disputa, porque a pessoa tem um público muito grande aqui fora, para que precisa disso?", só que me enganei. Acho que foi uma receita que deu super certo, já que desde o Big Brother 10 a gente não tinha uma temporada tão boa em termos de estratégia e de elenco. Isso se deve muito por conta do time todo, são pessoas de personalidade muito forte. E falando dos famosos, cada um que entrou já tinha traçado todos os seus objetivos, tudo o que eles queriam. Tudo foi muito planejado com as equipes, o objetivo pelo qual eles entraram, porque obviamente não é pelo dinheiro, eles quiseram ser mais reconhecidos em um outro nível, sair da internet para ir para uma mídia de massa, que eles não conseguiriam só com a internet restrita. Acho que foi um grande desafio, foram corajosos, muito corajosos.
Por que você acredita que a produção resolveu optar por chamar influencers para esse BBB?
Rosa: O Big Brother está na 20 edição e a dinâmica do programa todo mundo já tinha conhecimento. Como vinham os times, que tipo de pessoa que poderia estar, é uma receita que já estava pronta. Eu acho que por ser uma edição histórica, a direção quis fazer uma coisa completamente diferente, então como poderia ser mais diferente do que você convidar pessoas que influenciam outras, pelo seu trabalho. Foi uma estratégia que funcionou demais, que fez muita gente errar nessa avaliação inicial de que por eles serem conhecidos, eles já teriam vantagens na frente dos anônimos, o que desde o começo a gente viu que não seria assim. Eles conseguiram se renovar, conseguiram dar ao programa o que tinham perdido nos últimos 10 anos, que era a torcida vibrando com as atitudes, conquistas e derrotas dos participantes. O Twitter está pegando fogo por causa do programa e todos estão falando dessa edição, foi um tiro mais que certeiro.
Quem dos influencers que estão no BBB teve a melhor estratégia de marketing?
Rosa: Só vamos saber se a estratégia deles deu certo, à medida que eles forem saindo. Então vamos usar o exemplo da Bianca Andrade que entrou na casa, se jogou e acho que ela realmente esqueceu que estava em um programa. Ela foi absolutamente ela mesmo, sem frase feita, sem textinho, sem coach. Entrou para fazer o dela, que era mostrar as maquiagens, mostrar como produzir, ela entrou com uma estratégia perfeita. A cada paredão ela estava com um look que simultaneamente era postado no seu Instagram, tudo estava organizado, ela deixou uma série de fotos prontas até o final do programa, organizou lançamentos. A Bianca acabou de fazer um lançamento de páscoa que se ela tivesse dentro da casa rolaria do mesmo jeito. A exposição no caso dela foi um ponto negativo, ela foi extremamente criticada por uma série de motivos, mas a estratégia dela não deu errado, porque ela conseguiu a meta dela que era chegar nos 10 milhões de seguidores, conseguiu vender três vezes mais os produtos dela, conseguiu zerar estoque e está conseguindo fazer os lançamentos que estavam previstos dentro do que ela imaginava. Mas ocorreram casos opostos também. Como o do Petrix Barbosa(https://www.instagram.com/petrixbarbosa/?hl=pt-br), um ginasta premiado, que entrou e acabou muito queimado. O objetivo dele também era ser conhecido nacionalmente, só que ele se enfiou numa enrascada lá dentro e foi muito detonado. Quando ele saiu, ele teve uma estratégia boa para lidar com a situação que foi bastante positiva, mas com certeza ele teve mais prejuízo do que benefício na passagem dele pelo Big Brother.
Qual é o impacto do Instagram nesse processo?
Rosa: O impacto é para todos, não só os influenciadores. Ao exemplo da Marcela, médica que logo no começo do programa ganhou a preferência do público. Ela passou de 26 mil seguidores para um milhão muito rapidamente. A semana passada atingiu 4 milhões, só que por uma série de fatores que o público começou a criticá-la, ela perdeu muito seguidores, tiveram que inclusive apagar o post dos 4 milhões. Ela perdeu 500 mil seguidores em algumas horas. Daí você já começa a perceber como as atitudes lá dentro influenciam aqui fora. Para os famosos, por mais que isso aconteça, a coisa não é tão vertiginosa porque eles já entraram com muitos seguidores. Impacta, mas não tanto. A Manu lançou álbum e uma turnê já esgotada, dentro do Big Brother, além de deixar vários vídeos gravados. Não dá para dizer que é ruim.
Qual o lado negativo de ser uma influencer e estar em um programa desses?
Rosa: Uma coisa é fato, você estar em um reality show confinado por três meses, com pessoas diferentes de você, seja você anônimo ou famoso, é uma exposição que você topa ciente de todos os riscos que você corre nessa situação. Quando você é um influenciador ou uma pessoa famosa o risco é muito maior porque você tem muito a perder. O anônimo vai voltar para vida dele, mas daqui a algum tempo a gente já esqueceu essas pessoas porque isso é normal. Já quando você é uma pessoa famosa, uma influenciadora, dependendo de como foi sua passagem por esse programa você pode ter muito a perder.
Você acredita que uma pessoa que não tem condições de comprar os produtos e roupas que as influencers usam, se sente afetada ao ver o BBB?
Priscila: De verdade eu acredito que não, acho que depende muito. Até porque os próprios produtos das influencers são vendidos a preço popular. Os produtos são vendidos tanto em lojas de grife, quanto em lojas com preço popular. Por exemplo Renner, Riachuelo, C&A, que são marcas mais populares, vendem os produtos que as influencers usam. No caso da Boca Rosa, também estão em lojas da 25 de março, em lojas de cosméticos mais comuns.
Como montar as redes sociais de forma de que essas sejam fiéis ao perfil dos influencers e seus produtos?
Priscila: O mais importante é aquela estratégia de marketing da persona, de você saber para quem esse produto está sendo direcionado e quem você quer alcançar. É importante também ser transparente e honesta com o seu público, o seu papel é sempre trazer a informação de uma forma correta, verdadeira e de uma forma extremamente única. O conteúdo ainda é o essencial e o influencer precisa focar na parte do engajamento que é desde as visualizações, até os compartilhamentos do seu perfil, se algumas postagens também estão sendo salvas e estão trazendo de fato algum tipo de interesse em cima disso.
Big Brother Brasil
O Big Brother Brasil é um reality show produzido e exibido pela Rede Globo. Os competidores ficam confinados em uma casa cenográfica, sendo vigiados por câmeras 24 horas por dia, não podendo se comunicar com seus parentes e amigos, ler jornais ou usar de qualquer outro meio para obter informações externas. O programa dura 3 meses. A eliminação dos participantes ocorre semanalmente pela votação do público, através do paredão indicado pela casa. O vencedor ganha R$1,5 milhão.