Ministério da Saúde confirmou, nesta quinta-feira (09), 24 casos e cinco mortes na capital paulista
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Juliana Bertini de Paula
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09/10/2025 - 12h

Desde o dia 18 de setembro, diversos quadros de intoxicação por metanol têm sido relatados por hospitais de diferentes estados. Nesta quinta-feira (09), o Ministério da Saúde divulgou um novo balanço, com 5 mortes e 24 casos confirmados em tratamento. Outros 235 são investigações apenas na cidade de São Paulo. Outros casos também despontaram em diversos estados do Brasil, bem como em São Bernardo do Campo e outras cidades da Grande São Paulo.

A intoxicação é provocada pela ingestão de metanol em bebidas adulteradas. Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Espírito Santo, Goiás, Acre, Paraíba e Rondônia também investigam casos de intoxicação. Paraná e Rio Grande do Sul confirmaram ocorrências.

Entre as mortes confirmadas estão Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos e Marcelo Lombardi, de 45 anos, moradores de São Paulo, além de Bruna Araújo, de 30 anos, de São Bernardo do Campo, e Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos, de Osasco.

Na capital paulista, em 30 de setembro, 7 locais foram alvo de investigação da vigilância sanitária. Em dois deles foram encontradas bebidas com metanol. Mais 11 estabelecimentos foram interditados. O bar Ministrão, na Alameda Lorena, nos Jardins, e o bar Torres, na Mooca, foram fechados temporariamente. Seis distribuidoras e um bar em São Bernardo do Campo também foram interditados.

Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O que dizem as autoridades?

Nesta segunda-feira (06), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma coletiva de imprensa, junto com representantes das secretárias de Saúde, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico, Fazenda e Planejamento. Além deles, estavam presentes representantes do ramo de bebidas, que auxiliaram no treinamento de agentes públicos e comerciantes para a identificação de falsificações.

Durante a entrevista, o governador contrariou as declarações do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e descartou a possibilidade de envolvimento de facções criminosas na adulteração de bebidas, sem revelar qual a hipótese que está sendo seguida pela polícia paulista. Tarcísio foi criticado por brincar com a situação dizendo que “quando falsificarem Coca-Cola, vou me preocupar”. No dia seguinte, em suas redes sociais, Freitas publicou um vídeo no qual pedia desculpas pela afirmação.

Em fevereiro deste ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou que 13 bilhões de litros de bebidas adulteradas são comercializados ilegalmente todos os anos, com perdas fiscais que podem chegar a R$ 72 bilhões, sendo a segunda maior fonte de renda das facções de crime organizado, que perde apenas para combustíveis adulterados.

O Fórum destaca ainda a prática ilegal conhecida como refil, quando há reutilização de garrafas para envasamento de bebidas falsificadas. Só em 2023 foram apreendidas 1,3 milhão de garrafas do tipo. Há também anúncios online de venda de garrafas vazias com rótulos das bebidas. Além disso, em 2016, durante o governo de Michel Temer, o Sistema de Controle de Produção de Bebidas, o Sicobe, foi suspenso sob alegação de altos custos de manutenção (R$ 1,4 bilhão ao ano), o que tornou a fiscalização federal inexistente e realizada por meio de autodeclaração dos bares.

Em nota para a AGEMT, a Secretária Municipal de Saúde de São Paulo disse que “as ações da Vigilância Sanitária do município são constantes, com fiscalizações em comércios varejistas (restaurantes, bares, adegas, lanchonetes, entre outros) e distribuidores/atacadistas de bebidas, na verificação da procedência da bebida: se há nota fiscal de aquisição, lacre de segurança, integridade e legibilidade da rotulagem, se apresenta todas as informações obrigatórias (dados do fabricante/importador, lote, registro no órgão oficial), bem como a manipulação. A pasta está intensificando ações em comércios junto à vigilância estadual e à Secretaria de Segurança Pública.”

A Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou para a AGEMT. O espaço segue aberto.

Sintomas e tratamentos

Em entrevista à AGEMT, o farmacologista e toxicologista Maurício Yonamine conta que a rapidez para o atendimento médico é o fator mais crítico para a chance de recuperação em caso de intoxicação por metanol. “O prognóstico é melhor quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, pois o tempo é o que permite que os subprodutos tóxicos (principalmente o ácido fórmico) se acumulem e causem danos irreversíveis.”

Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS
Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS

 

Maurício conta que o principal problema do metanol é que ele deixa o sangue extremamente ácido e, após ser metabolizado pelo fígado, gera subprodutos extremamente tóxicos, principalmente o formaldeído e o ácido fórmico. “O acúmulo desses metabólitos, especialmente o ácido, interfere na função celular, ataca nervos e órgãos.”

Os sintomas de intoxicação por metanol nas primeiras horas podem ser confundidos com uma ressaca forte, náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça. Muitas vezes, os sintomas são leves, o que atrasa a procura por atendimento médico. “Os sintomas iniciais podem ser traiçoeiros”, diz Yonamine.

Depois, começam aparecer os sintomas mais fortes, resultado do ácido fórmico que tem uma afinidade particular pelas células do nervo óptico. Entre eles estão a visão turva, a fotofobia e a aparição de pontos luminosos. Além disso, o sangue ácido causa respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga no coração e nos pulmões.

Se não tratado com urgência, o quadro evolui para complicações graves em até 48 horas. O ácido atinge o sistema nervoso central, podendo causar convulsões, rebaixamento de consciência, coma e arritmias cardíacas. A partir disto, os danos passam a ser sistêmicos: coração, pulmões e rins entram em colapso progressivo, consequência direta da acidose metabólica (sangue ácido) severa e da sobrecarga tóxica. É nesse momento que o risco de morte se torna elevado e, mesmo com tratamento, as chances de cura caem drasticamente. 

No sábado (05), o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2,6 mil antídotos para a ingestão de metanol durante uma coletiva de imprensa em Teresina. O medicamento chamado fomepizol não possui registro no Brasil e foi comprado de maneira emergencial, juntamente com a Organização Panamericana de Saúde, de um fabricante japonês, Daiichi Sankyo. 

 

 

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Ativo desde 2011, canal produzia conteúdos sobre a Universidade de forma educativa, contava com mais de 100 mil inscritos e ficou 12 dias fora do ar
por
Khauan Wood
Victória da Silva
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01/10/2025 - 12h

Perfil da TV PUC, canal Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) no YouTube foi reativado pela plataforma na tarde desta quarta-feira (01) após ter sido retirado do ar sem aviso prévio ou justificativa no último dia 19 de setembro.

A conta tem um importante e extenso acervo histórico e cultural da instituição. 

Em publicação realizada em seu Instagram oficial, a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP, denunciou no dia 30 de outubro que o canal havia sido simplesmente retirado da grade da plataforma repentinamente.

Ainda na publicação, a instituição informou que a empresa, que é ligada ao Google, enviou apenas um e-mail informando que a retirada seria causada por descumprimento das regras e diretrizes da plataforma, sem detalhar de que se tratava, acrescentando que as políticas de spam, práticas enganosas e golpes não teriam sido seguidas.

A Universidade abriu uma contestação dentro da plataforma, em que constava um prazo de 48 horas para o retorno. Após o prazo, uma nova mensagem enviada dizia que uma nova resposta seria dada dentro de 24 horas. Mas esses prazos não foram respeitados, o que motivou a denúncia nas redes sociais que mobilizou a comunidade acadêmica.

O time da TV PUC afirmou à Agemt que tudo começou quando um dos integrantes da equipe tentou gerar um link para uma live, mas a página não abria corretamente. Em seguida, eles receberam uma notificação de que o perfil havia sido retirado do ar.

Também em entrevista à Agemt, Julio Wainer, professor da PUC-SP e diretor da TV PUC, relata que em anos de canal, nunca receberam sequer uma advertência. O diretor contou que houve avisos pontuais sobre conteúdos com direitos autorais, que foram retirados imediatamente.

Ainda segundo ele, a equipe jurídica da Fundasp esteve em contato direto com a plataforma durante todo o período de inatividade para tentar reaver o canal. 

De acordo com a Fundasp, a TV PUC existe desde 2007, mas publica vídeos regularmente desde 2011. O canal contava com mais de 5 mil publicações e já ultrapassara o número de 100 mil inscritos.

Ao publicar novamente o canal, a plataforma enviou mensagem à TV PUC desculpando-se pelo ocorrido. Os responsáveis pelo canal ainda avaliam se todo o conteúdo e os seguidores da página foram mantidos.

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A TV PUC produz conteúdos ativamente há 14 anos. Foto: Victória da Silva

O conteúdo do canal universitário é diverso e produzido por professores e alunos. Sobre isso, o diretor da TV PUC afirma que o canal possui “de tudo um pouco”, já que conta com trabalhos institucionais de alunos e professores sobre temas variados, além de lives e programas. 

“Tudo que nós produzimos, nós colocamos lá como repositório para ir acumulando visualizações e as pessoas ficarem sabendo”, contou. O canal tem como missão promover os assuntos debatidos na universidade, mostrando o que é feito para diferentes cursos e com o que os alunos têm engajado na rotina universitária.

A TV PUC também acompanha palestras e outros acontecimentos da universidade e publica os eventos na íntegra, além de resumi-los em outros vídeos com depoimentos dos participantes. A recepção de calouros, que acontece todos os anos e recebe figuras importantes no Tucarena para a abertura do semestre, é um exemplo dos vários registros que o canal tinha antes da retirada.

Falas de personalidades históricas, professores e intelectuais foram derrubadas após a retirada do canal do ar, além de documentários relevantes e outros materiais importantes para a história da PUC-SP apagados pela plataforma ainda sem justificativa.

A TV PUC também tenta trazer os estudantes para as telas e enxergar a PUC-SP a partir do olhar deles. Para isso, as matérias sempre contam com entrevistas e conversas com os alunos que se envolvem nas diferentes atividades que ocorrem durante o ano. Os vídeos são informativos e promovem pautas científicas, culturais e políticas.

O professor do curso de jornalismo, Aldo Quiroga, destacou em um vídeo em seu perfil no Instagram que a Roda de Conversa com os vencedores do Prêmio Vladimir Herzog, em que os jornalista contam como as reportagens vencedoras foram realizadas, também é um dos exemplos dos conteúdos “sequestrados pelo Youtube”, na derrubada do canal. É a TV PUC quem faz a transmissão anual da Roda de Conversa Vladimir Herzog e do Prêmio que também leva o nome do jornalista morto pela ditadura militar.

No vídeo, Quiroga também ressalta a influência das Big Techs sobre o Congresso Nacional para impedir a regulamentação dessas empresas pela sociedade civil, que se encontra refém de decisões como essa.

Em nota enviada à Agemt, o Google afirmou que está apurando o motivo do encerramento do canal e que retornaria em breve. O espaço segue aberto.

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Embora sem data definida, a bandeira chinesa estará no mercado ainda esse ano
por
Lucca Cantarim dos Santos
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03/10/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Os cartões da bandeira de pagamentos chinesa UnionPay chegam ao Brasil em 2025. Detendo cerca de 40% do mercado global em transações com cartões, o que é mais do que as norte-americanas Mastercard e Visa juntas, a empresa oferece uma alternativa para os Brasileiros. Segundo o financista José Kobori, a iniciativa representa uma oportunidade de “descolonizar” o mercado financeiro, justamente por diversificar o setor no País, essa discussão ganha mais potência com as recentes taxações e tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, essa tensão levantou questionamentos sobre o grau de dependência do mercado financeiro brasileiro nos estadunidenses.

Kobori, o responsável pela vinda desta forma de pagamento tem uma história que se relaciona diretamente com sua movimentação atual. O economista era conhecido por ter uma visão neoliberal de mercado, principalmente, diz ele, por estar inserido nesse setor. Em entrevista ao podcast "Market Makers", o financista conta os motivos que o fizeram mudar completamente sua visão de mercado, e por consequência, abandonar o neoliberalismo. 

O economista alega que sempre gostou de se informar e procurar pensadores com opiniões diferentes das que ele tinha, e como naquele momento era possível dedicar mais tempo a isso, ele começou a ler cada vez mais autores diversos, como autores Keynesianos.

No entanto, o maior ponto de ruptura do financista com o neoliberalismo, foi o momento em que ele começou a sair na rua e perceber com olhos mais atentos a desigualdade. Ele conta aos entrevistadores a história do dia em que saiu para almoçar, e de dentro do carro, viu um jovem comendo lixo na rua, essa experiência o levou às lágrimas, e fez com que Kobori começasse a se questionar de como era possível existir um sistema que funcionasse tão bem para ele, mas não para as outras pessoas.

Diferencial da UnionPay

Um dos diferenciais da UnionPay, é o fato de seus cartões operarem fora do sistema “SWIFT”, sigla para “Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication”, ou Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em português.

O SWIFT é um sistema de transações internacionais que permitem o envio de dinheiro de um país para outro, em síntese, cada banco tem um código em seu respectivo país. O problema é, que por ser gerenciado majoritariamente pelos Estados Unidos, em caso de sanções ou remoção de um banco do sistema, vários brasileiros seriam afetados.

E é justamente por operar fora do SWIFT, que a UnionPay dá à população brasileira mais opções para transferências internacionais, permitindo que sejam feitas e recebidas mesmo que em um possível cenário de sanções ou tensões geopolíticas, como afirma Cristina Helena, professora de economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ou seja, em um cenário onde os conflitos com Trump se agravem e o Brasil acabe sancionado, usuários do cartão Union Pay não seriam afetados, e poderiam continuar recebendo e enviando dinheiro livremente para outros países.

Outro diferencial que chama a atenção, e pode ser crucial para a competitividade da bandeira no mercado é a possibilidade de redistribuição de receita, segundo informações da Contec, será possível reverter parte das taxas cobradas nas transações para causas sociais escolhidas pelo usuário. Taxas essas, que no caso de cartões de crédito de bandeiras norte-americanas, como American Express; Visa e Mastercard são taxas de câmbio, que vão diretamente para os Estados Unidos.

Os Desafios

O maior desafio enfrentado pela empresa é a aceitação ampla, segundo Cristina, além da compatibilidade com as fintechs e bancos digitais e de lojistas habilitarem essa forma de pagamento, a ideia de um cartão chinês no país ainda levanta muita suspeita e desconfiança entre os brasileiros, embora a China seja um dos maiores parceiros comerciais do Brasil na atualidade, levando em consideração sua presença no BRICS.

No entanto, as operações da UnionPay serão supervisionadas pelo Banco Central, segundo confirmado pelo Ibrachina, a bandeira deverá cumprir normas de operação, submeter-se à fiscalização do BC e precisará de autorização regulatória, assim como toda e qualquer bandeira em operação dentro do território nacional.

Outro ponto a se levar em consideração, é se a entrada de um sistema novo no mercado de crédito, principalmente em meio à tensões e conflitos geopolíticos com os Estados Unidos, não poderia significar uma troca de monopólio. A professora Cristina acredita que não, devido à robustez do sistema financeiro brasileiro, mas também alerta que caso essa integração não seja diversificada e balanceada, o Brasil corre o risco de se manter dependente de uma potência estrangeira.

Os cartões não têm data definida para serem completamente integrados no mercado financeiro brasileiro, embora esteja confirmada para chegar ainda em 2025. Mas já são aceitos em grandes centros turísticos, como Salvador, Rio e São Paulo através de terminais parceiros (Rede e Stone), além disso, como comparação, a bandeira tem alta taxa de aceitação nos Estados Unidos, somando 80% dos estabelecimentos e 90% dos caixas eletrônicos brasileiros.

 

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Estúdios acusam a plataforma de IA de violar direitos autorais ao permitir a criação de imagens com personagens protegidos.
por
Lucca Andreoli
Henrique Baptista
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17/06/2025 - 12h
Logo da Midjourney
Logo do serviço de IA Midjourney. Reprodução

A Walt Disney Company e a Universal Corporation, dois dos maiores estúdios de Hollywood, abriram no dia 11 de junho um processo conjunto contra o Midjourney — um serviço de inteligência artificial criado e desenvolvido pelo laboratório de pesquisa independente, Midjourney, Inc. —  na U.S. District Court for the Central District of California. O serviço de inteligência artificial está sendo acusado de utilizar propriedade intelectual dos estúdios sem autorização.

Segundo a ação, o Midjourney usou de forma “intencional e calculada” obras protegidas — como personagens de Star Wars (Darth Vader, Yoda), Frozen (Elsa), The Simpsons, Marvel (Homem-Aranha, Homem de Ferro), Minions, Shrek e O Poderoso Chefinho — para treinar seus modelos e permitir a geração de imagens derivadas altamente similares.

 

Disney e Universal afirmam que já haviam solicitado que a plataforma bloqueasse ou filtrasse esse tipo de conteúdo, mas não foram atendidas. Para a vice-presidente jurídica da NBCUniversal, Kim Harris, “roubo é roubo, independentemente da tecnologia usada”.

A petição descreve o Midjourney como um “poço sem fundo de plágio”. Estima-se que a plataforma tenha gerado cerca de 300 milhões de dólares em receita em 2024, contando com mais de 21 milhões de usuários.

Os estúdios pedem uma liminar para impedir novas infrações e uma compensação financeira — que pode ultrapassar os 20 milhões de dólares. Horacio Gutierrez, diretor jurídico da Disney, declarou: “Pirataria é pirataria — o fato de ser feita por uma IA não a torna menos ilegal”.
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Além disso, a ação se insere em um cenário crescente de disputas semelhantes — como os casos envolvendo a Stability AI, a OpenAI e o New York Times. Também aponta para a criação de um serviço de vídeo de IA que em breve poderá criar clipes animados com materiais não autorizados, ampliando ainda mais os riscos à propriedade intelectual e ao controle de suas criações. O processo reforça a pressão por regulamentações mais claras que protejam a criatividade humana frente ao avanço da IA.

A preocupação no meio artístico a respeito das inteligências artificiais é um tema crescente que já gerou polêmicas anteriormente, como a questão das fotos “estilo estúdio Ghibli” no início deste ano. 

O processo representa um marco legal na relação entre Hollywood e a inteligência artificial. É o primeiro grande embate judicial do tipo envolvendo empresas de entretenimento, e pode abrir precedente para que outras companhias exijam licenciamento prévio ou filtros automáticos em ferramentas de geração de imagens.

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

Atual pandemia escancara lógica da necropolítica instalada no território brasileiro
por
Beatriz de Oliveira
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27/06/2020 - 12h

Uma doença desconhecida que primeiro circulou por pessoas de classe mais alta, em suas viagens de avião. As primeiras vítimas brasileiras procuraram o Albert Einstein e depois veio a procura pelo SUS, o que gerou comentários como “essa doença só pega em rico”, que deu  lugar ao ditado “alegria de pobre dura pouco”. Não demorou para que a pandemia se alinhasse às ordens já estabelecidas: do menor valor à vida de populações em posições de subalternidade. É a lógica da necropolítica. 

Necropolítica é um termo cunhado pelo filósofo camaronês Achille Mbembe, em complementação ao conceito de biopolítica do filósofo francês Michel Foucault. De maneira a abranger outros territórios além dos europeus, como as colônias africanas, em que as lógicas de poder mudam. Mbembe estuda a forma como os governos decidem quem vai viver e quem vai morrer, além da maneira como as pessoas vão viver e morrer. 

Necropolítica, Achile Mbembe. Por: Beatriz de Oliveira
Necropolítica, Achille Mbembe. Por: Beatriz de Oliveira

O debate acerca da validade do isolamento vertical, que protagoniza pronunciamentos do Presidente da República, não leva em conta parte da população que não consegue fazer nenhum tipo de isolamento de maneira adequada. Nem mesmo a afirmação da vida em prioridade à economia, faz sentido, quando não há renda para que parte da população se sustente. Pesquisa que utilizou dados do Datasus comprovou, com 95% de confiança, que entre 2012 e 2017, de 29.698 a 33.132 pessoas morreram em decorrência do aumento do desemprego. O estudo foi publicado em 2019 pela revista científica The Lancet Global Health.

O mestre em metafísica e pesquisador da necropolítica, Eliseu Amaro Pessanha, explica que as pessoas em posições de desassistência  são as que mais morrem, pois “a subalternidade te coloca em um nível de vulnerabilidade social que a violência, a fome, a educação e a saúde vai sempre prevalecer em um nível de degradação tão grande que torna essa parcela da população sempre vulnerável a qualquer ameaça”, diz ele. 

No Brasil, os negros são 32,8% das mortes por Covid-19, apesar de representarem apenas 23,1% das internações por Srag (Síndrome Respiratória Aguda Grave). Os dados de raça/cor passaram a ser divulgados pelo Ministério da Saúde no dia  de abril, após pedidos  da SBMFC (Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade) e da  Coalizão Negra por Direitos. 

A doutora em Saúde Pública Emanuelle Góes, explica que nosso país foi estruturado pelo racismo e pela lógica das hierarquias raciais, e que, portanto, tem ações que refletem a necropolítica e o genocídio. Nesta pandemia podemos notar que o Estado tem tomado iniciativas lentas, e por consequência “as pessoas que vão morrer e adoecer, são as pessoas que sempre adoecem e morrem” diz Góes.

As “pessoas que sempre morrem”, morrem por falta de políticas públicas como saneamento básico, saúde preventiva e educação de qualidade. Se isso fosse oferecido a toda a população, surtos de dengue, febre amarela e malária já não seriam mais realidade. Mas continuam sendo, pois “faz parte dos mecanismos da necropolítica manter esse estado de precariedade para parte mais pobre da população”, diz Eliseu.  

O governo tem tomado supostas medidas universais, em que considerável parte da população não é contemplada, como é o caso do isolamento social. Segundo Emanuelle, pessoas que vivem em bairros com adensamento populacional, sem saneamento básico e acesso à saúde, além da população carcerária, deveriam ser vistos como grupos prioritários e medidas de proteção específicas deveriam ser pensadas. 

Segunda a doutora em Saúde Pública, Laura Camargo Feuerwerker, essas populações já estão com o “corpo debilitado” para enfrentar a doença. Independente de idade ou de doenças crônicas, a falta de assistência e também o desemprego afetam continuamente a saúde dos indivíduos. Ela chama atenção para o fato de que a capacidade instalada nas regiões mais vulneráveis é menor, e as pessoas terão que ser transferidas para outros pontos da cidade. Pesquisa divulgada neste mês pela Rede Nossa São Paulo revela uma distribuição desigual de leitos nas UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) na capital paulista. De acordo com o estudo, três subprefeituras localizadas em regiões mais ricas, concentram 9,3% da população do município e mais de 60% dos leitos públicos de UTI. E em sete subprefeituras localizadas em regiões mais pobres da cidade, que concentram 20% da população, não há nenhum leito. 

Laura critica a maneira como algumas medidas vêm sendo tomadas, como é o caso dos abrigos para moradores de rua, que não atendem ao distanciamento recomendado. Pensando em medidas eficazes que deveriam ser tomadas, ela diz que em primeiro lugar é preciso garantir água e comida (não só para os moradores de rua, mas para toda população vulnerável). E sobre o isolamento adequado, ela aponta o uso temporário de hotéis para alojar essas pessoas ou o adequamento de CEUs e escolas para recebê-los. 

Discursos de governantes e empresários ressaltam a necropolítica ao desprezar a vida humana em favor da economia, enquanto isso a população alvo passa pelo dilema de “morrer de fome ou ser vítima do Covid-19”, adverte Eliseu. E propõe uma reflexão acerca de um dos discursos do presidente Jair Bolsonaro, em que ele suaviza os efeitos do coronavírus ao dizer que as maiores vítimas serão os idosos, e que para pessoas saudáveis não há riscos. O pesquisador provoca:  “agora, imagina o presidente usando no seu discurso os dados das pesquisas mais recentes que demonstram que os negros são as maiores vítimas, como seria a reação da opinião pública? E vamos imaginar um cenário bem catastrófico em que a pandemia comece a exterminar a população indígena principalmente em áreas ameaçadas pelo garimpo e pelo agronegócio, qual vai será a reação da opinião pública?”. 

“Esse necroliberalismo só muda o discurso quando os próprios donos do discurso são acometidos pela doença”, conclui Eliseu. 

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Após críticas do padrão de beleza que a boneca “bela, recatada e do lar” apresentava, Mattel traz nova coleção que inclui vitiligo, deficiência física e até calvície
por
Ramon Henrique
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26/06/2020 - 12h

A Barbie, considerada boneca mais famosa do mundo, foi criada há mais de seis décadas. Ela ditou tendências de moda e também foi extremamente criticada por trazer um padrão de beleza inalcançável. Sua fabricante, buscando finalmente chegar no século 21, traz agora uma coleção ‘fashionista’, que busca diversas formas de representar as mulheres. Nessa nova safra, destacam-se a boneca com vitiligo, uma com prótese na perna e uma careca, entre outras.

Mesmo trazendo edições baseadas em seus próprios filmes ou recriando bonecas de outras sagas como ‘Star wars’ ou ‘Harry Potter’, a imagem da mulher branca e de cintura fina não foi totalmente abandonada. “Bonecas loiras, olho claro, boca rosada, nariz fino. Era isso que tínhamos contato”, diz a estudante Maria Luiza Marinho.

“Lembro de uma vez, brincando com uma super amiga, ela falou ‘Malu, você não tem nenhuma boneca que parece comigo?’ Olhei pra bancada e vi que todas minhas bonecas eram iguais, não problematizei em cima disso, mas lembro muito de ter ficado reflexiva naquela semana”.

 “Eu sempre fui louca pela Barbie, e eu não tinha muito essa noção de representatividade nem nada, claro. Éramos crianças”, completa.

Seu lançamento foi em uma época onde a vida das mulheres se limitava a cuidar de suas casas. Como o mundo mudou, muitas estavam em busca de igualdade de direitos, de salários e de decisão. “Acho que a Barbie veio disso, não ao contrário. Quando o sufrágio tomou forças, a boneca passou a seguir passos do feminismo. Não cabia mais isso de ‘bela, recatada e do lar’ apesar de acharem que a Barbie representa todo esse estereótipo, eu acho que muito pelo contrário, a Barbie tem várias profissões”, diz a estudante.

Mesmo acompanhando a evolução das mulheres ao longo dos anos a boneca Barbie foi extremamente criticada por trazer um padrão de beleza inalcançável, tanto que muitas mulheres resolveram fazer mais de 20 cirurgias para se parecerem com a boneca. Em uma entrevista para o jornal Extra, Valeria Lukyanova mais conhecida como “Barbie humana” afirma que não gosta de ser lembrada como Barbie e diz que nem gosta tanto da boneca.

A estudante de enfermagem Leticia Cartaxo lembra como eram as bonecas Barbie quando pequena: “sempre loura, às vezes de edições baseadas em filmes”. Mas hoje em dia, afirma, “a Mattel rompeu todos os paradigmas lançando uma linha mais ‘real’, dando liberdade para jovens e crianças serem o que quiserem”.

Victor Hugo, colecionador de 31 anos, diz que as bonecas Barbie quando pequeno eram todas loiras e havia bonecas negras mas sua comercialização era muito difícil. “Tínhamos que nos contentar com as loiras”.

 

Acervo pessoal de Victor Hugo

Com a linha de bonecas fashionista, lançada em 2015, a Mattel trouxe inúmeras formas de representar as mulheres. O colecionador diz “eu acredito que tenha aumentado a representatividade. Hoje em dia tem vários tipos de corpos e uma diversidade de cores”.

Coleção Barbie fasionista de 2020.

 

O colecionador de 22 anos, Ernando Gustavo, diz que quando pequeno, as bonecas Barbie eram sempre loiras e tinham algumas morenas (bronzeadas) mas nenhuma negra.

Na conta de sua boneca no Instagram, ele afirma receber varias mensagens de pessoas perguntando onde ele comprou sua boneca. “Talvez seja pelo fato de não ter Barbie negra ou por não conhecerem como eu também não conhecia”.

“A maioria dos seguidores são negros assim como eu. Acredito que por ela ser negra e ter cabelo crespo, muitas pessoas falam que se sentem representadas por ela”, diz.

 

Acervo pessoal de Ernando Gustavo

 

Em março desse ano, Ella Rogers, uma menina cadeirante de dois anos, recebeu de sua mãe uma boneca Barbie com uma cadeira de rodas.

“Quando ela abriu,  o rosto dela não tinha preço”, disse a mãe de Ella, Lacey Brown-Rogers, em uma entrevista para a revista americana.

“Ella é como qualquer outra criança. Ela não é verbal, mas se comunica através da linguagem gestual e entende tudo o que você está dizendo. Saber que ela foi incluída com uma Barbie em uma cadeira de rodas é incrível, porque é alguém como ela”.

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Futebol e investimentos são temas de canais e perfis nas redes, criados a partir de buscas por novas frentes de expressão
por
Mateus França
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26/06/2020 - 12h

Por conta da quarentena, a interação cresce nas plataformas digitais, o que se tornou uma oportunidade para que hobbys se transformem em trabalho. É o que ocorreu para Pietro Amélio Hummel (20), Rafael Alimari (19) e Luis Henrique Stella (18): “É um momento muito difícil para todos nós, mas abriu portas para colocar em prática muita coisa que vinha planejando, caso de meu canal no YouTube”, conta Alimari.

Stella e Alimari estão juntos no mesmo canal, seu nome é “Ousadura”. Na plataforma do YouTube, eles estão com 180 inscritos. E se trata de um canal de futebol, com um entretenimento legal e divertido. Apresentam também uma conta do Instagram, o nome da página é @canalousadura. Hummel tem um canal que expõe ideias de investimentos. Esse é o foco. Mas o seu destaque, são as analogias que ele utiliza, para facilitar a compreensão de seus espectadores. O nome de seu canal no Youtube é “Manual dos investimentos”, e contém 70 inscritos. Sua conta no Instagram é @manual.dosinvestimentos.

Quem se beneficia com toda essa história são os aplicativos utilizados para compartilhar esses hobbys, como o Instagram. “Costumo postar quase todos os dias, para eu não perder o foco, e para as pessoas sempre veja um vídeo todo dia. E esse aplicativo é um dos que mais apresenta interatividade, do criador de conteúdo e o público alvo”, explica Hummel.

De certa forma, uma nova atividade como essa revela que, mesmo no contexto da pandemia, há possibilidades positivas, já que um hobby tem potencial de virar um trabalho.  “Após a quarentena pretendo sim continuar fazer isso! Vou arrumar um tempo, dentro do meu dia a dia, para que esse canal continue em sua caminhada”, diz Alimari.

“Nós gostamos de gravar futebol. Acredito que, com persistência e dedicação, será possível uma remuneração que, mostre aos nossos pais, que isso não é tempo jogado no lixo!” diz Stella.

Ela conta sente pressão familiar, que considera que “gravar vídeo de futebol chega a ser ridículo”. Para Stella, contudo, “é uma questão de tempo, dedicação, e o mais importante, não desistir. Porque muitas pessoas podem simplesmente começar a gravar e divulgar um certo conteúdo. Mas não são todas que chegam no sucesso, e é exatamente lá que eu quero estar, com meus companheiros de canal”.                                    

Já Hummel, por ser um conteúdo “mais trabalhoso”, ele não lida com pressão familiar ou algo relacionado. “Minha família me apoia totalmente! Pensei que não teria apoio, mas foi diferente. Acredito que eu consigo passar uma boa ideia do que eu realmente eu quero, que seria independência financeira.”  

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Muitas pessoas não aderiram ao isolamento, pois precisavam manter seus empregos e outras, como trabalham de forma autônoma precisavam continuar saindo de casa.
por
Rafael Monteiro Teixeira
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25/06/2020 - 12h

¨Algumas comunidades em que trabalho aderiram ao isolamento decretado pelo governo, mas infelizmente são a minoria em relação à quantidade de áreas localizadas na periferia da região leste da cidade de São Paulo¨ diz Claudia Peres Monteiro, 48, Assistente Social da empresa Diagonal Consultoria de Territórios, contratada pela Secretaria Municipal de Habitação da Cidade de São Paulo.

Com 18 anos prestando serviços na área social para a prefeitura de SP, ela diz nunca ter passado por um momento tão complicado para realizar o trabalho com as famílias dessas comunidades, pois devido a todos os problemas causados pela pandemia, a situação, que já era precária, acabou se agravando.

¨As famílias da região em que atuo estão enfrentando muitas dificuldades, seja na questão do trabalho, pois muitos perderam o emprego, seja na questão da moradia ou pior muitas não têm nem o que comer. Uma grande maioria dessa população está sobrevivendo com a ajuda de terceiros e do poder público¨, diz Monteiro.

¨Podemos dizer que na periferia da região leste, muitas comunidades ainda possuem um alto índice de precariedade das moradias, como falta de saneamento básico, baixas condições de habitabilidade e falta de infraestrutura de um modo geral essas situações acabam agravando o índice de pessoas infectadas, outro agravante seria a falta de compreensão da população, que não percebe a gravidade do problema¨.

Diante dessa situação o poder público vem tomando algumas medidas para tentar minimizar o sofrimento da população, como por exemplo o pagamento, do auxílio emergencial, feito pelo governo federal, que ajuda famílias de baixa renda, mas muitos ainda não conseguiram acessar.

FOTO Claudia Atendimeto
Claudia Peres Monteiro em atendimento (arquivo pessoal)

¨Em relação ao governo municipal posso citar a parceria com o Programa Cidade Solidária que fez a entrega de 10.723 cestas básicas às famílias em alta vulnerabilidade social, moradoras da região leste, do início da pandemia, até 11.06.2020, tem ainda a instalação de lavatórios comunitários em áreas com difícil acesso a rede da SABESP que está sendo realizada em parceria com PMSP e algumas ONGs ¨, diz a assistente social.

 

¨São ações paliativas para enfrentar uma situação muito mais grave, que vai além da pandemia, precisava ter um olhar mais efetivo do poder público para essas áreas e para famílias. Em contrapartida é preciso também que a população tome conscientização da atual situação e o qual pode ser prejudicial a todos. ¨

 

 

 

 

 

 

 

Já Tatiana Miranda Erguelles, 39, que também trabalha na Diagonal, mas na região Centro e na região Leste diz que ¨as comunidades em que trabalho aderiram pouco ao isolamento, parece até final de semana ou férias, pois muitos estão nas ruas fazendo várias coisas, sem saber a real gravidade da situação. ¨

Com 17 anos prestando serviços na área social, ela também diz nunca ter passado por nada parecido. ¨Agora atendemos as famílias via WhatsApp e reuniões por vídeo conferência¨ diz a assistente social, a respeito das mudanças, após o início da quarentena.

FOTO Tatiana Atendimento

Tatiana Miranda Erguelles – Em atendimento
(Arquivo Pessoal)

¨Para as famílias que venho acompanhando, a pandemia parece não ter chegado. As famílias estavam aguardando as entregas das unidades habitacionais, porém com o decreto da quarentena, que proibia as reuniões presenciais acabou atrasando as entregas e os moradores mesmo com os decretos solicitavam a continuidade das atividades. ¨

Em relação as condições das famílias que ela atende, Erguelles diz ¨Elas geralmente possuem uma renda baixa, e estão utilizando do auxílio aluguel devido a remoção da PMSP. Muitas delas têm acesso à internet, e dessa maneira estão recebendo as informações e nossas orientações. ¨

¨As maiores das dificuldades enfrentadas na minha opinião, são o desemprego e a falta de acesso as políticas públicas. ¨ diz a assistente social.

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As redes sociais contribuíram para que houvesse uma mobilização, resultando em manifestações e tomada de decisão por parte da Rede Globo em tratar sobre assuntos raciais
por
Julio Cesar Ferreira
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25/06/2020 - 12h

George Floyd e João Pedro, os dois casos foram expostos na mídia, mas o de Floyd tomou proporções maiores. Os protestos originados nos EUA foram um papel importante para que mobilizassem outros países, inclusive o Brasil, sobretudo com a movimentação nas redes sociais. “Foi preciso ocorrer nos EUA para que ocorresse aqui”.

Lucas Silvestre, fotógrafo e modelo, homem preto e bicha, defende que, “Os brancos no Brasil começam a ter mais visão do que está acontecendo, por meio do que ocorreu nos EUA, pois querendo ou não, é um grande espelho do mundo capitalista” e completa dizendo, “Então foi preciso ocorrer nos EUA para que repercutisse muito aqui”.

Foto: Lucas Silvestre/Acervo pessoal.
Lucas Silvestre/Acervo pessoal. 

Em meio a toda movimentação nas redes sociais, tiveram mais de 21 milhões de postagens com a utilização da hashtag Black Lives Matter, e a hashtag Blackout Tuesday, que propôs um grande “apagão” nas redes sociais, especialmente Instagram, e para isso, foi usado uma imagem completamente preta. E por parte de algumas empresas de streaming, como o Spotify, esse dia foi usado para não ser reproduzida nenhuma música na plataforma durante 8 minutos e 46 segundos. 

“O que rolou bastante e tem que rolar sempre, não só em uma terça-feira, é a divulgação massiva de pessoas pretas, para entender mais sobre o racismo. Não adianta nada postar uma foto preta, se essa vai ser sua única ação, o que você vai fazer a partir disso é o que importa mais”, pontua. As divulgações tinham como propósito difundir trabalhos de pessoas pretas: artistas, músicos, escritores, fotógrafos, modelos, produtores e influenciers.

Com tudo isso acontecendo no Brasil, houve no meio o assassinato de Miguel, uma criança negra de cinco anos que foi trabalhar com a mãe doméstica na casa da patroa. Ela precisou sair com a cachorra da patroa enquanto seu filho ficava sobre os cuidados dela, Sarí Côrte Real, que apertou o botão do 9º andar para a criança ir à busca de sua mãe que estava no térreo.

Mariana Salomão, mãe correria solo de um menino preto chamado Tom, de 12 anos, professora de arte na Prefeitura de São Paulo e graffiteira, “O Brasil não assume ser um país extremamente racista, uma mãe preta periférica está chorando a dor de ter que enterrar um filho, que o único crime foi nascer preto”.

Foto: Mariana/Acervo pessoal.
Mariana Salomão/Acervo pessoal. 

Ela afirma que enquanto mãe sentiu ódio e revolta. “O caso Miguel. João. Que sempre me lembram de que poderia ser um Tom”.

A artista finaliza dizendo. “Um racismo histórico, arraigado e normalizado em nosso cotidiano, que escancara também o classicismo, expõe todos outros preconceitos, como o ódio aos pobres, trabalhadores, e ainda tentam responsabilizar uma mãe solo em luto, até pelo assassinato do seu único filho pela patroa escravagista branca”.

O que contribuiu para que a Globo News fizesse um programa somente com jornalistas negros, que posteriormente, foi reexibido na rede Globo para que mais pessoas tivessem acesso ao programa.

Andreza Delgado, produtora cultural e de conteúdos nas redes sociais. “Agora as pessoas estão sempre falando do racismo, mas o jeito que a gente vai tratar mostra a seletividade de um posicionamento antirracista, inclusive da própria mídia. O movimento negro brasileiro tem denunciado e ele é importante”.

Foto: Andreza Delgado/Acervo pessoal.
Andreza Delgado/Acervo pessoal. 

Para ela, o papel das redes sociais e os movimentos de rua devem encontrar um equilíbrio. “É conversar com o vizinho sobre racismo, mais do que escrever na internet, mas sempre buscando o equilíbrio entre os dois. As manifestações são importantes e faz sentido o que está acontecendo, inclusive com a tomada de decisão da Globo News de tratar sobre esse assunto com jornalistas negros”.

E ela reitera o papel importante das redes sociais, e acrescenta que é importante usar ela com consciência, pois muitas pessoas usaram a hashtag Black Lives Matter junto com a Blackout Tuesday, o que acabou dificultando o acesso às informações importantes relacionadas às doações, petições e manifestações que foram divulgadas usando a Black Lives Matter.

 

 

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