Especialista alerta para a importância do apoio jurídico e psicológico diante de um cenário de aumento da violência contra as mulheres
por
Larissa Pereira José
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28/04/2025 - 12h

Durante o feriado da Páscoa de 2025, o Rio Grande do Sul registrou uma sequência de crimes que chocou o país: dez feminicídios em apenas quatro dias. Casos como o de uma mulher grávida assassinada em Parobé e o de uma jovem degolada pelo ex-companheiro em São Gabriel evidenciam uma triste realidade: a violência contra a mulher continua sendo parte do cotidiano brasileiro. 

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil contabilizou 1.450 feminicídios em 2024, o que equivale a cerca de quatro mulheres assassinadas por dia. O número é alarmante e revela que, apesar dos avanços legislativos, muitas mulheres ainda são vítimas fatais de parceiros ou ex-parceiros. Em meio a esse cenário, surgem dúvidas sobre como agir diante de situações de violência e quais caminhos seguir para tentar garantir a própria segurança. 

Para a advogada Bruna Santana, especialista em Direito da Mulher, em entrevista à AGEMT, "reconhecer os sinais e buscar ajuda o mais cedo possível são atitudes essenciais. Ela alerta que não é necessário esperar por uma agressão física para procurar apoio" e acrescenta: "a violência começa muito antes das agressões físicas. Controlar, ameaçar, isolar, humilhar — tudo isso já é violência doméstica. E precisa ser denunciado”, afirma Bruna. 

A orientação, segundo a especialista, é que a mulher que sofre qualquer tipo de agressão, seja física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial, registre um boletim de ocorrência, solicite medidas protetivas e, sempre que possível, documente as agressões. Prints de mensagens, gravações de áudios e relatos de testemunhas podem ser fundamentais para a comprovação dos fatos. Além do apoio jurídico, Bruna Santana reforça que o acompanhamento psicológico é parte crucial para que a mulher consiga sair do ciclo de abusos. “A violência doméstica fragiliza a autoestima da vítima. Muitas vezes, ela se sente culpada ou acredita que não conseguirá romper a relação. O apoio psicológico é essencial para fortalecer essa mulher emocionalmente e ajudá-la a construir uma nova trajetória”, explica a advogada. 

Centros de referência, como os CRAMs (Centros de Referência de Atendimento à Mulher), Defensorias Públicas e ONGs oferecem suporte gratuito ou de baixo custo para vítimas de violência. Em situações de ameaça iminente, a orientação é buscar ajuda imediata, acionando a polícia pelo número 190 ou procurando familiares e amigos de confiança. A Central de Atendimento à Mulher (disque 180) também está disponível 24 horas por dia, de forma gratuita e sigilosa. 

Bruna Santana reforça que a Lei Maria da Penha oferece diversos mecanismos de proteção, como o afastamento do agressor, proibição de contato e o uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, muitas mulheres desconhecem esses direitos ou não sabem como acioná-los. "Saber que existem recursos legais, entender como eles funcionam e buscar ajuda imediatamente pode salvar vidas. Não é exagero, não é drama: é sobrevivência", conclui a especialista. 

Apesar de a responsabilidade pela proteção das mulheres ser do Estado, informação e rede de apoio são instrumentos fundamentais para fortalecer aquelas que, todos os dias, lutam para viver em liberdade e segurança.

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Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

"Meu filho se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia, e sim, um estúdio onde faria música", diz mãe de ex-aluno do Alma de Batera
por
Vitória Nunes de Jesus
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22/11/2024 - 12h

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), 1 em cada 700 pessoas no Brasil nascem com Síndrome de Down. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 2 milhões de brasileiros tenham autismo, o que equivale a 1% da população brasileira. No Brasil, estima-se que surjam pelo menos 30 mil novos casos de paralisia cerebral por ano. 

Para ajudar no processo de inclusão dessas pessoas, Paul Lafontaine criou o Instituto Alma de Batera em 2008, com o propósito de ensinar bateria para pessoas com deficiência. Os alunos acolhidos vão desde crianças até adultos.

Segundo Paul, a ideia de formar o Alma de Batera surgiu após trabalhos voluntários. “Depois de alguns trabalhos voluntários em instituições para pessoas com deficiência, eu fiquei com vontade de trabalhar na área. Decidi fazer faculdade de pedagogia e imaginava que fosse trabalhar em algum setor de alguma instituição para esse público. Mas nenhuma instituição me respondia aos e-mails que enviava para ser estagiário, e então, meu professor me ligou e me indicou para dar aulas de bateria para quatro alunos, todos eles com alguma deficiência. Foi aí que surgiu a ideia de montar minha própria instituição”.

“Escolas de música especificamente para esse público, eu não conheço e nunca soube algo voltado só para PCDs”, diz o fundador do Instituto, mesmo com tantas pessoas que podem desfrutar de projetos como este.

Raquel Chicarelli, mãe do Gian, 13, que tem paralisia cerebral, ex-aluno do Instituto, conta um pouco da experiência que tiveram no Alma de Batera. “Gian gostou muito, aprendeu a segurar a baqueta e assim a melhora na motricidade, sempre quis ir às aulas, mas por conta da rotina de terapias ficava cansado”.

Paul diz que se sente realizado em seu trabalho. “Sensação de dever cumprido. Independentemente se os alunos têm alguma deficiência ou não, para um professor é ótimo saber e ver que o trabalho feito gera um impacto positivo na vida de cada um deles”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

A mãe do Gian diz que o Instituto é um lugar que seu filho gostava e é o espaço ideal para PCDs aprenderem bateria. “Se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia e sim, um estúdio onde faria música com um instrumento possível para ele e sempre recebidos com carinho e alegria. Com certeza deve ser ampliado para se multiplicar pelo país”.

Paul conta as dificuldades enfrentadas na sua profissão, mas que não anulam as alegrias. “No processo de aprendizagem, a conexão entre o professor e o aluno é a parte mais difícil e primordial para trazer algum resultado prático. Sem criar conexão, não gera empatia entre ambas as partes, e assim, o conteúdo se torna irrelevante”.

Raquel conta as principais dificuldades que seu filho Gian tem para aprender e diz que a bateria é algo divertido para ele. “Gian por conta da paralisia cerebral tem muita dificuldade em manter a atenção e isso faz qualquer aprendizado ficar mais difícil, não só a bateria, mas por ser instrumento e ele gostar, tornou-se algo prazeroso para ele”.

“Todos os alunos, de alguma forma, nos mostram algum retorno positivo, seja na felicidade de querer tocar, ou na melhoria na hora da execução do instrumento, que traz uma satisfação enorme e um sentimento de pertencimento”, diz o fundador do Instituto sobre a alegria de observar a devolutiva dos alunos.

Raquel conta um pouco sobre seu filho e sua rotina. Fala sobre a falta de inclusão e diz que o convívio com as pessoas o ajuda. “Gian nasceu prematuro, teve muitas intercorrências que causaram a paralisia cerebral, afetando o cognitivo, fala e mobilidade. Cada dia é um ganho, a evolução vem dos esforços contínuos nas terapias, estimular sempre na escola, convívio com a sociedade que melhorou, mas ainda falta mais inclusão, acessibilidade.
E, persistir a evoluir nesses campos, manter os desafios diários para que ele seja o mais independente possível, proporcionando tudo que estiver ao nosso alcance”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Por fim, Paul conta uma situação, no início do projeto, que o marcou. “Bem no começo, quando ainda nem tínhamos um espaço próprio, eu alugava um estúdio e estava atendendo apenas 1 aluno na época. Era um aluno com Síndrome de Down. E eu, pensativo antes da aula começar, com a cabeça longe e acreditando que esse trabalho não iria para frente, bem desanimado, recebi esse único aluno. Não sei se ele percebeu que eu estava meio triste e desanimado, mas ele veio, me deu um abraço e me disse uma frase que nunca esqueci: “Paul, você é o melhor professor do mundo!”. Aquela frase dele me fez continuar e acreditar que, enquanto eu estiver fazendo a diferença na vida de um aluno, eu iria continuar com as aulas. Hoje temos cerca de 40 alunos, todos com alguma deficiência”.

Diante desses apontamentos, é possível concluir o quão bem faz o trabalho do Instituto Alma de Batera, e não só para os alunos, mas também para os envolvidos no projeto, pais e professores. Deveriam existir mais institutos como este, pensados em PCDs e na inclusão.

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Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

por
Isabella Mei de Lima Marossi e Giovanna Morais de Almeida
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21/11/2019 - 12h

Por Isabella Mei e Giovanna Morais de Almeida 

As queimadas começaram nas últimas semanas de agosto em pontos isolados no Centro-Oeste e Norte do país, ganhando repercussão mundial no dia 19 de setembro, quando a fuligem das queimadas trazidas pelo vento escureceu o céu de São Paulo. 

O estado de Rondônia foi um dos mais atingidos pelas queimadas e o primeiro a decretar estado de emergência pelos inúmeros pontos de incêndio, que segundo o Corpo de Bombeiros tiveram aumento de 370% referente à mesma época no ano passado. A alta concentração de fumaça fez com que a cidade de Porto Velho fosse encoberta pela densa fumaça dos incêndios que acontecem na região e que podem ser observados do espaço, como apontam imagens dos satélites de monitoramento da NASA.  

Queimadas na Amazônia - Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia — Foto: Carl de Souza/AFP
Queimadas na Amazônia - Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia — Foto: Carl de Souza/AFP

O mês de agosto registrou o maior número de queimadas desde 2010, 19% acima da média estipulada durante os últimos 21 anos. Recentemente foi divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) que até o dia 23, segunda-feira, foram registrados 21.761 focos de queimada na Amazônia.

Em seis de agosto de 2019, o presidente Jair Bolsonaro se autodeclarava o “capitão motosserra”, em relação ao aumento agressivo do desmatamento da Amazônia, divulgados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial). Os números que vêm sendo levantados desde junho não param de subir, causando cada vez mais degradações à pauta do meio ambiente.

Foi a partir das falas agressivas e despreocupadas de Bolsonaro que o “Dia do Fogo” trouxe mais problemas para a questão ambiental, que já não ia nada bem. Em 10 e 11 de agosto, um grupo de fazendeiros e empresários da região de Novo Progresso, no Pará, apontados como os organizadores do crime pela operação “Pacto de Fogo” da Polícia Civil e pela reportagem do Repórter Brasil, atearam fogo em grande parte da área florestal, pelo percurso da BR-163. A partir desse dia, a Amazônia que já estava queimando, teve o número de queimadas substancialmente aumentado por focos de incêndio em reservas florestais das cidades paraenses de Novo Progresso, Altamira e São Félix do Xingu.

No mesmo dia foram registrados 124 pontos de incêndio em Novo Progresso, com aumento de 300% ao dia anterior. Já em Altamira, registram-se 154 focos de incêndios ativos entre 6 e 8 de agosto, e entre 9 e 11 de agosto foram marcados 431 pontos, aumentando 179% em três dias. São Félix do Xingu apresentou aumentos mais significativos ainda: entre 6 e 8 de agosto, o município registrou 67 pontos de incêndios, já nos três dias seguintes, foram 288 focos – aumentando 329%.

As queimadas são consideradas comuns em territórios florestais, pois são tidas como “liberadores” de espaço para criação de pastagem de gado. 17 dias após o incidente do “Dia do Fogo” em 27 de agosto, o governador do Pará, Helder Barbalho (MDB), afirmou em reunião com Jair Bolsonaro, que eram apenas queimadas " de floresta para fazer pasto. O sujeito vai lá, desmata, queima, faz um pasto e aluga a área para um produtor rural”. E a Amazônia continuava queimando. 

Segundo Danicley Aguiar, da campanha Amazônia do Greenpeace “os que desmatam e destroem a Amazônia se sentem encorajados pelo discurso e pelas ações do governo Bolsonaro que, desde que tomou posse, tem praticado um verdadeiro desmonte da política ambiental do país”. A política bolsonarista em relação ao meio ambiente tem sido bastante omissa, tendo em vista que o orçamento federal para o Ministério do Meio Ambiente caiu 10%, saindo de 625 milhões para 561, e quanto à verba repassada para o setor de controle de incêndios caiu 34%, saindo de 45,5 milhões para 29,6. Bolsonaro, desde a campanha presidencial, prometia cortar investimentos aos fundos de proteção ao meio ambiente, além de flexibilizar as leis ambientais, favorecendo grupos de exploração.

O Ministério Público se encarregou de investigar os incêndios, e o uso da Forças Armadas na região desmatada foi autorizado pelo Presidente Jair Bolsonaro, em 24 de agosto, o auge da crise incendiária. Em 20 de setembro o uso dessas forças foi prorrogado até 24 de outubro.

Em setembro, o Ministério da Defesa divulgou atualizações sobre os casos apurados, entre eles, que R$36 milhões foram aplicados em multas por irregularidades. As penalidades foram aplicadas por órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Durante os 30 primeiros dias da ação das Forças Armadas na Amazônia, algumas medidas foram tomadas, em uma operação para tentar restabelecer o equilíbrio no local. Cerca de 20 mil metros cúbicos, que equivalem a oito piscinas olímpicas, de madeira foram apreendidos, quatro madeireiras ilegais foram interditadas, 15 caminhões, cinco tratores, seis embarcações e uma escavadeira foram apreendidas. 63 pessoas foram presas, responsabilizadas pelos crimes ambientais.

  

Dados divulgados pelo INPE revelam aumento no desmatamento na Amazônia

Desde junho de 2019, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Espacial), vem divulgando dados que denunciam o aumento sintomático do desmatamento na Amazônia, em comparação aos anos anteriores. Em junho, verificou-se um aumento de 88%, comparado ao mesmo período em 2018. Em julho o número sobre o desmatamento da região amazônica subiu para 278%, segundo dados do Deter (Detecção de Desmatamento em Tempo Real), que sinaliza as áreas de devastação da floresta para órgãos de fiscalização ambiental, como o Ibama.

Com base nas imagens de satélites disponibilizadas pelo INPE, em agosto os números de queimadas chegaram a 196%, com 30.901 focos de incêndios ativos, em comparação aos 10.421 focos no mesmo período em 2018, com bases em imagens de satélites. Considerando todo o território nacional, o crescimento das queimadas foi de 128% no mês de agosto, com 51.936 focos de incêndio, se comparados com os 22.774 focos do ano anterior.

Os dados divulgados não agradaram o presidente da república. Jair Bolsonaro respondeu aos números apresentados afirmando que eram dados falsos e sensacionalistas. 

A repercussão das informações geradas pelo instituto culminou na exoneração de Ricardo Galvão, diretor do INPE. A decisão foi tomada após uma reunião em Brasília entre Galvão e o ministro da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações Marcos Pontes, em 2 de agosto. O diretor se mostrou indignado com a demissão e em entrevista ao G1 afirmou que sua fala gerou constrangimentos ao presidente, sendo esse o motivo de sua exoneração.

Os ataques de Jair Bolsonaro começaram em 19 de julho, quando o presidente afirmou que Galvão estaria “a serviço de alguma ONG”. O então diretor reagiu com grande indignação, dizendo que as declarações do presidente foram indevidas e taxando-as de “conversa de botequim”. “Ele fez acusações indevidas a pessoas do mais alto nível da ciência brasileira, não estou dizendo só eu, mas muitas outras pessoas”, disse Galvão. A partir da última declaração, o presidente da República passou a cobrar que Galvão se demitisse, alegando que esses posicionamentos “dificultam” negociações comerciais com países estrangeiros.  

O presidente exonerado não cedeu aos ataques de Bolsonaro, e acabou sendo de fato demitido, sob a premissa da “perda de confiança”.  “Se quebrar a confiança, vai ser demitido sumariamente. Perdeu a confiança, no meu entender, isso é uma pena capital”, afirmou Bolsonaro em 1º de agosto, antecipando a decisão de exoneração.

 

 

Discurso de Bolsonaro na ONU acentua divergências políticas

Jair Bolsonaro em sua estréia na Assembleia-Geral da ONU (DREW ANGERER/GETTY IMAGES)
Jair Bolsonaro em sua estréia na Assembleia-Geral da ONU (DREW ANGERER/GETTY IMAGES)

Em 24 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro subiu ao púlpito da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, para afirmar, por meio de seu discurso agressivo, que a soberania brasileira deve ser respeitada, em questões relacionadas à Amazônia.

Bolsonaro fez sua estreia na ONU com um discurso agressivo de cerca de 30 minutos, iniciado afirmando que o Brasil estava à beira do socialismo nos governos anteriores. Em uma sucessão de ataques – aos governos da Venezuela e Cuba, e a Emmanuel Macron –, o presidente voltou a reiterar que o país sofreu ataques aos valores familiares e religiosos, além de uma situação de “corrupção generalizada, grave recessão econômica e altas taxas de criminalidade”.

O primeiro chefe de Estado a se apresentar na Assembleia Geral da ONU, em que os governantes brasileiros são os primeiros a falar desde 1955, Bolsonaro enfim entrou na pauta mais esperada de seus comentários: a Amazônia, anunciando “Senhorita Ysany Kalapalo, agora vamos falar da Amazônia”, referindo-se à indígena que embarcou para Nova York, junto com os representantes, para corroborar o discurso de Bolsonaro. Em mais uma tentativa de se mostrar atento às questões ambientais, o presidente afirmou com ênfase que seu governo está muito comprometido com a preservação do meio ambiente e do desenvolvimento sustentável no Brasil.

Em meio ao discurso, o chefe do executivo ainda disse que a região amazônica permanece “praticamente intocada”, e que isso prova que o Brasil é um dos países que mais protegem o meio ambiente. Ao comparar o tamanho da região com a Europa Ocidental, justificou que o clima seco favorece as queimadas espontâneas e criminosas, ressaltando também que uma parcela do problema foi causado por indígenas, que tem como parte de sua cultura e sobrevivência “causar” incêndios.

Jair Bolsonaro voltou a atacar a mídia nacional e internacional chamando-as de sensacionalistas, e declarou que esses ataques “despertaram o sentimento patriótico brasileiro”. Utilizando os argumentos da Amazônia como pulmão do mundo e como patrimônio mundial como falácias, voltou a atacar indiretamente o presidente da França, Emmanuel Macron: “um ou outro país, em vez de ajudar, embarcou nas mentiras da mídia e se portou de forma desrespeitosa, com espírito colonialista”, afirmando que a soberania nacional foi questionada.

Ainda durante seus 30 minutos de fala, o presidente reiterou que respeita e reconhece os territórios indígenas – inclusive, utilizou um colar de tradição indígena em seu “look do dia”, no jantar da noite que antecedeu a assembleia. Porém, reiterou que há muitas terras reservadas para poucos indígenas, só que dessa vez, com palavras mais polidas, em tom duro, como lhe é convencional.

Por fim, vale ressaltar que o presidente brasileiro foi deixado de fora da cúpula do clima, que ocorreu na segunda-feira, 23 de setembro, por ser considerado cínico em relação à questão ambiental. O discurso no evento apenas corrobora que está mais preocupado em salvar a própria imagem de suas posições destrutivas, do que de fato salvar o território em chamas, que tanto clama como pertencente à soberania nacional.

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