A Barbie, considerada boneca mais famosa do mundo, foi criada há mais de seis décadas. Ela ditou tendências de moda e também foi extremamente criticada por trazer um padrão de beleza inalcançável. Sua fabricante, buscando finalmente chegar no século 21, traz agora uma coleção ‘fashionista’, que busca diversas formas de representar as mulheres. Nessa nova safra, destacam-se a boneca com vitiligo, uma com prótese na perna e uma careca, entre outras.
Mesmo trazendo edições baseadas em seus próprios filmes ou recriando bonecas de outras sagas como ‘Star wars’ ou ‘Harry Potter’, a imagem da mulher branca e de cintura fina não foi totalmente abandonada. “Bonecas loiras, olho claro, boca rosada, nariz fino. Era isso que tínhamos contato”, diz a estudante Maria Luiza Marinho.
“Lembro de uma vez, brincando com uma super amiga, ela falou ‘Malu, você não tem nenhuma boneca que parece comigo?’ Olhei pra bancada e vi que todas minhas bonecas eram iguais, não problematizei em cima disso, mas lembro muito de ter ficado reflexiva naquela semana”.
“Eu sempre fui louca pela Barbie, e eu não tinha muito essa noção de representatividade nem nada, claro. Éramos crianças”, completa.
Seu lançamento foi em uma época onde a vida das mulheres se limitava a cuidar de suas casas. Como o mundo mudou, muitas estavam em busca de igualdade de direitos, de salários e de decisão. “Acho que a Barbie veio disso, não ao contrário. Quando o sufrágio tomou forças, a boneca passou a seguir passos do feminismo. Não cabia mais isso de ‘bela, recatada e do lar’ apesar de acharem que a Barbie representa todo esse estereótipo, eu acho que muito pelo contrário, a Barbie tem várias profissões”, diz a estudante.
Mesmo acompanhando a evolução das mulheres ao longo dos anos a boneca Barbie foi extremamente criticada por trazer um padrão de beleza inalcançável, tanto que muitas mulheres resolveram fazer mais de 20 cirurgias para se parecerem com a boneca. Em uma entrevista para o jornal Extra, Valeria Lukyanova mais conhecida como “Barbie humana” afirma que não gosta de ser lembrada como Barbie e diz que nem gosta tanto da boneca.
A estudante de enfermagem Leticia Cartaxo lembra como eram as bonecas Barbie quando pequena: “sempre loura, às vezes de edições baseadas em filmes”. Mas hoje em dia, afirma, “a Mattel rompeu todos os paradigmas lançando uma linha mais ‘real’, dando liberdade para jovens e crianças serem o que quiserem”.
Victor Hugo, colecionador de 31 anos, diz que as bonecas Barbie quando pequeno eram todas loiras e havia bonecas negras mas sua comercialização era muito difícil. “Tínhamos que nos contentar com as loiras”.
Acervo pessoal de Victor Hugo
Com a linha de bonecas fashionista, lançada em 2015, a Mattel trouxe inúmeras formas de representar as mulheres. O colecionador diz “eu acredito que tenha aumentado a representatividade. Hoje em dia tem vários tipos de corpos e uma diversidade de cores”.
Coleção Barbie fasionista de 2020.
O colecionador de 22 anos, Ernando Gustavo, diz que quando pequeno, as bonecas Barbie eram sempre loiras e tinham algumas morenas (bronzeadas) mas nenhuma negra.
Na conta de sua boneca no Instagram, ele afirma receber varias mensagens de pessoas perguntando onde ele comprou sua boneca. “Talvez seja pelo fato de não ter Barbie negra ou por não conhecerem como eu também não conhecia”.
“A maioria dos seguidores são negros assim como eu. Acredito que por ela ser negra e ter cabelo crespo, muitas pessoas falam que se sentem representadas por ela”, diz.
Acervo pessoal de Ernando Gustavo
Em março desse ano, Ella Rogers, uma menina cadeirante de dois anos, recebeu de sua mãe uma boneca Barbie com uma cadeira de rodas.
“Quando ela abriu, o rosto dela não tinha preço”, disse a mãe de Ella, Lacey Brown-Rogers, em uma entrevista para a revista americana.
“Ella é como qualquer outra criança. Ela não é verbal, mas se comunica através da linguagem gestual e entende tudo o que você está dizendo. Saber que ela foi incluída com uma Barbie em uma cadeira de rodas é incrível, porque é alguém como ela”.
Por conta da quarentena, a interação cresce nas plataformas digitais, o que se tornou uma oportunidade para que hobbys se transformem em trabalho. É o que ocorreu para Pietro Amélio Hummel (20), Rafael Alimari (19) e Luis Henrique Stella (18): “É um momento muito difícil para todos nós, mas abriu portas para colocar em prática muita coisa que vinha planejando, caso de meu canal no YouTube”, conta Alimari.
Stella e Alimari estão juntos no mesmo canal, seu nome é “Ousadura”. Na plataforma do YouTube, eles estão com 180 inscritos. E se trata de um canal de futebol, com um entretenimento legal e divertido. Apresentam também uma conta do Instagram, o nome da página é @canalousadura. Hummel tem um canal que expõe ideias de investimentos. Esse é o foco. Mas o seu destaque, são as analogias que ele utiliza, para facilitar a compreensão de seus espectadores. O nome de seu canal no Youtube é “Manual dos investimentos”, e contém 70 inscritos. Sua conta no Instagram é @manual.dosinvestimentos.
Quem se beneficia com toda essa história são os aplicativos utilizados para compartilhar esses hobbys, como o Instagram. “Costumo postar quase todos os dias, para eu não perder o foco, e para as pessoas sempre veja um vídeo todo dia. E esse aplicativo é um dos que mais apresenta interatividade, do criador de conteúdo e o público alvo”, explica Hummel.
De certa forma, uma nova atividade como essa revela que, mesmo no contexto da pandemia, há possibilidades positivas, já que um hobby tem potencial de virar um trabalho. “Após a quarentena pretendo sim continuar fazer isso! Vou arrumar um tempo, dentro do meu dia a dia, para que esse canal continue em sua caminhada”, diz Alimari.
“Nós gostamos de gravar futebol. Acredito que, com persistência e dedicação, será possível uma remuneração que, mostre aos nossos pais, que isso não é tempo jogado no lixo!” diz Stella.
Ela conta sente pressão familiar, que considera que “gravar vídeo de futebol chega a ser ridículo”. Para Stella, contudo, “é uma questão de tempo, dedicação, e o mais importante, não desistir. Porque muitas pessoas podem simplesmente começar a gravar e divulgar um certo conteúdo. Mas não são todas que chegam no sucesso, e é exatamente lá que eu quero estar, com meus companheiros de canal”.
Já Hummel, por ser um conteúdo “mais trabalhoso”, ele não lida com pressão familiar ou algo relacionado. “Minha família me apoia totalmente! Pensei que não teria apoio, mas foi diferente. Acredito que eu consigo passar uma boa ideia do que eu realmente eu quero, que seria independência financeira.”
¨Algumas comunidades em que trabalho aderiram ao isolamento decretado pelo governo, mas infelizmente são a minoria em relação à quantidade de áreas localizadas na periferia da região leste da cidade de São Paulo¨ diz Claudia Peres Monteiro, 48, Assistente Social da empresa Diagonal Consultoria de Territórios, contratada pela Secretaria Municipal de Habitação da Cidade de São Paulo.
Com 18 anos prestando serviços na área social para a prefeitura de SP, ela diz nunca ter passado por um momento tão complicado para realizar o trabalho com as famílias dessas comunidades, pois devido a todos os problemas causados pela pandemia, a situação, que já era precária, acabou se agravando.
¨As famílias da região em que atuo estão enfrentando muitas dificuldades, seja na questão do trabalho, pois muitos perderam o emprego, seja na questão da moradia ou pior muitas não têm nem o que comer. Uma grande maioria dessa população está sobrevivendo com a ajuda de terceiros e do poder público¨, diz Monteiro.
¨Podemos dizer que na periferia da região leste, muitas comunidades ainda possuem um alto índice de precariedade das moradias, como falta de saneamento básico, baixas condições de habitabilidade e falta de infraestrutura de um modo geral essas situações acabam agravando o índice de pessoas infectadas, outro agravante seria a falta de compreensão da população, que não percebe a gravidade do problema¨.
Diante dessa situação o poder público vem tomando algumas medidas para tentar minimizar o sofrimento da população, como por exemplo o pagamento, do auxílio emergencial, feito pelo governo federal, que ajuda famílias de baixa renda, mas muitos ainda não conseguiram acessar.

¨Em relação ao governo municipal posso citar a parceria com o Programa Cidade Solidária que fez a entrega de 10.723 cestas básicas às famílias em alta vulnerabilidade social, moradoras da região leste, do início da pandemia, até 11.06.2020, tem ainda a instalação de lavatórios comunitários em áreas com difícil acesso a rede da SABESP que está sendo realizada em parceria com PMSP e algumas ONGs ¨, diz a assistente social.
Já Tatiana Miranda Erguelles, 39, que também trabalha na Diagonal, mas na região Centro e na região Leste diz que ¨as comunidades em que trabalho aderiram pouco ao isolamento, parece até final de semana ou férias, pois muitos estão nas ruas fazendo várias coisas, sem saber a real gravidade da situação. ¨
Com 17 anos prestando serviços na área social, ela também diz nunca ter passado por nada parecido. ¨Agora atendemos as famílias via WhatsApp e reuniões por vídeo conferência¨ diz a assistente social, a respeito das mudanças, após o início da quarentena.

Tatiana Miranda Erguelles – Em atendimento
(Arquivo Pessoal)
¨Para as famílias que venho acompanhando, a pandemia parece não ter chegado. As famílias estavam aguardando as entregas das unidades habitacionais, porém com o decreto da quarentena, que proibia as reuniões presenciais acabou atrasando as entregas e os moradores mesmo com os decretos solicitavam a continuidade das atividades. ¨
Em relação as condições das famílias que ela atende, Erguelles diz ¨Elas geralmente possuem uma renda baixa, e estão utilizando do auxílio aluguel devido a remoção da PMSP. Muitas delas têm acesso à internet, e dessa maneira estão recebendo as informações e nossas orientações. ¨
¨As maiores das dificuldades enfrentadas na minha opinião, são o desemprego e a falta de acesso as políticas públicas. ¨ diz a assistente social.
George Floyd e João Pedro, os dois casos foram expostos na mídia, mas o de Floyd tomou proporções maiores. Os protestos originados nos EUA foram um papel importante para que mobilizassem outros países, inclusive o Brasil, sobretudo com a movimentação nas redes sociais. “Foi preciso ocorrer nos EUA para que ocorresse aqui”.
Lucas Silvestre, fotógrafo e modelo, homem preto e bicha, defende que, “Os brancos no Brasil começam a ter mais visão do que está acontecendo, por meio do que ocorreu nos EUA, pois querendo ou não, é um grande espelho do mundo capitalista” e completa dizendo, “Então foi preciso ocorrer nos EUA para que repercutisse muito aqui”.

Em meio a toda movimentação nas redes sociais, tiveram mais de 21 milhões de postagens com a utilização da hashtag Black Lives Matter, e a hashtag Blackout Tuesday, que propôs um grande “apagão” nas redes sociais, especialmente Instagram, e para isso, foi usado uma imagem completamente preta. E por parte de algumas empresas de streaming, como o Spotify, esse dia foi usado para não ser reproduzida nenhuma música na plataforma durante 8 minutos e 46 segundos.
“O que rolou bastante e tem que rolar sempre, não só em uma terça-feira, é a divulgação massiva de pessoas pretas, para entender mais sobre o racismo. Não adianta nada postar uma foto preta, se essa vai ser sua única ação, o que você vai fazer a partir disso é o que importa mais”, pontua. As divulgações tinham como propósito difundir trabalhos de pessoas pretas: artistas, músicos, escritores, fotógrafos, modelos, produtores e influenciers.
Com tudo isso acontecendo no Brasil, houve no meio o assassinato de Miguel, uma criança negra de cinco anos que foi trabalhar com a mãe doméstica na casa da patroa. Ela precisou sair com a cachorra da patroa enquanto seu filho ficava sobre os cuidados dela, Sarí Côrte Real, que apertou o botão do 9º andar para a criança ir à busca de sua mãe que estava no térreo.
Mariana Salomão, mãe correria solo de um menino preto chamado Tom, de 12 anos, professora de arte na Prefeitura de São Paulo e graffiteira, “O Brasil não assume ser um país extremamente racista, uma mãe preta periférica está chorando a dor de ter que enterrar um filho, que o único crime foi nascer preto”.

Ela afirma que enquanto mãe sentiu ódio e revolta. “O caso Miguel. João. Que sempre me lembram de que poderia ser um Tom”.
A artista finaliza dizendo. “Um racismo histórico, arraigado e normalizado em nosso cotidiano, que escancara também o classicismo, expõe todos outros preconceitos, como o ódio aos pobres, trabalhadores, e ainda tentam responsabilizar uma mãe solo em luto, até pelo assassinato do seu único filho pela patroa escravagista branca”.
O que contribuiu para que a Globo News fizesse um programa somente com jornalistas negros, que posteriormente, foi reexibido na rede Globo para que mais pessoas tivessem acesso ao programa.
Andreza Delgado, produtora cultural e de conteúdos nas redes sociais. “Agora as pessoas estão sempre falando do racismo, mas o jeito que a gente vai tratar mostra a seletividade de um posicionamento antirracista, inclusive da própria mídia. O movimento negro brasileiro tem denunciado e ele é importante”.

Para ela, o papel das redes sociais e os movimentos de rua devem encontrar um equilíbrio. “É conversar com o vizinho sobre racismo, mais do que escrever na internet, mas sempre buscando o equilíbrio entre os dois. As manifestações são importantes e faz sentido o que está acontecendo, inclusive com a tomada de decisão da Globo News de tratar sobre esse assunto com jornalistas negros”.
E ela reitera o papel importante das redes sociais, e acrescenta que é importante usar ela com consciência, pois muitas pessoas usaram a hashtag Black Lives Matter junto com a Blackout Tuesday, o que acabou dificultando o acesso às informações importantes relacionadas às doações, petições e manifestações que foram divulgadas usando a Black Lives Matter.
Na última semana de maio, jovens de várias cidades de São Paulo fizeram uma lista que circulou pelo WhatsApp com o nome de diversos homens, apontados como supostos assediadores e agressores sexuais. Muitas mulheres utilizaram a hashtag #exposed acrescida do nome do município, em outras redes sociais, para compartilhar seus relatos de violência.
Esse movimento tinha a intenção de alertar outras mulheres sobre possíveis agressores com quem elas poderiam estar se relacionando. “Nós precisamos saber quem são as pessoas ao nosso redor, o tipo de amizades que a gente cultiva. Eu não quero conviver com esses homens”, relatou Letícia (nome falso) acerca do ocorrido.
Ela ainda afirmou que a lista foi fundamental para que começasse a conversar com as amigas sobre situações que já tinha vivido. “Eu tenho transtorno de ansiedade e essa situação toda se tornou um gatilho para mim, mas eu comecei a sentir mais abertura para falar com outras mulheres sobre isso, a gente precisa se unir mais”.
As denúncias realizadas através da lista foram contabilizadas por Miwa Hamada Kashiwagi, (19). “Me colocaram num grupo do WhatsApp com mais de duzentas meninas, e a lista continuava crescendo. Chegou um momento em que tivemos que organizar tudo por meio de uma planilha”. De acordo com Kashiwagi, somente na cidade de São José dos Campos, foram 967 queixas no total, sendo 370 de assédio sexual, 253 de assédio verbal, 84 de estupro, 54 de agressões físicas, entre outras.

A universitária também disse que o movimento foi importante para conscientizar as pessoas acerca do quão comum a violência contra a mulher acontece. “A gente precisa desmistificar essa ideia de que um abusador é sempre um homem estranho ou um monstro, porque, na maioria das vezes, são uns caras simpáticos que te dão bom dia na sala de aula”. Kashiwagi, que já teve suas fotos colocadas sem a sua permissão em um site de acompanhantes de luxo, disse que, atualmente, não denunciaria nenhuma outra agressão por conta do “estresse desnecessário” que “não traria resultados”.
Sobre a questão de denúncias formais, a jovem Yasmin Oliveira também revelou não sentir segurança para fazer um boletim de ocorrência. Ela contou que falou com alguns meninos que já a haviam assediado de alguma forma e cujos nomes estavam na lista. “Conversei sobre como foi errado e como isso me machucava. Foi bem tranquilo, porque eles escutaram e queriam mesmo entender como mudar, espero que seja uma disposição verdadeira. Todo mundo merece uma segunda chance”.

Oliveira também afirmou ser fundamental a união de mulheres para enfrentar experiências violentas. “Quando a gente está sozinha é difícil demais enfrentar tudo que nos oprime. Agora, quando juntamos pessoas que passam pelas mesmas coisas, não precisamos explicar a dor ou o medo, porque a pessoa já vive, e isso torna muito mais fácil um diálogo”.
Mesmo com toda a força que o movimento deu para muitas mulheres, há precauções que devem ser tomadas. A advogada Rosimere Lopes Oliveira adverte que, fazer denúncias sem provas ou formalidades jurídicas, pode ser prejudicial para as próprias vítimas. Muitos garotos, cujos nomes estavam na lista, entraram na Justiça e vão processar as responsáveis por calúnia e difamação. “É gravíssima a maneira como estão fazendo isso, porque é totalmente inadequada. Se a pessoa sofreu qualquer tipo de violência ela precisa tomar as medidas cabíveis, ou seja, ir até uma delegacia e realizar a denúncia”.

A advogada, que trabalha na área há 10 anos e coordena o projeto “Quebrando as algemas”, para ajudar vítimas de violência doméstica, afirma que as jovens devem denunciar, mas que também precisam levar em conta a presunção da inocência. “Cada caso é um caso e elas precisam sempre buscar ajuda profissional para obter toda a orientação necessária”. Além disso, Oliveira também afirma ser importante analisar a idade dos envolvidos, pois, se a vítima tiver menos de 14 anos, pode ser enquadrado como estupro de vulnerável, o que torna tudo ainda mais grave.