Ministério da Saúde confirmou, nesta quinta-feira (09), 24 casos e cinco mortes na capital paulista
por
Juliana Bertini de Paula
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09/10/2025 - 12h

Desde o dia 18 de setembro, diversos quadros de intoxicação por metanol têm sido relatados por hospitais de diferentes estados. Nesta quinta-feira (09), o Ministério da Saúde divulgou um novo balanço, com 5 mortes e 24 casos confirmados em tratamento. Outros 235 são investigações apenas na cidade de São Paulo. Outros casos também despontaram em diversos estados do Brasil, bem como em São Bernardo do Campo e outras cidades da Grande São Paulo.

A intoxicação é provocada pela ingestão de metanol em bebidas adulteradas. Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Espírito Santo, Goiás, Acre, Paraíba e Rondônia também investigam casos de intoxicação. Paraná e Rio Grande do Sul confirmaram ocorrências.

Entre as mortes confirmadas estão Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos e Marcelo Lombardi, de 45 anos, moradores de São Paulo, além de Bruna Araújo, de 30 anos, de São Bernardo do Campo, e Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos, de Osasco.

Na capital paulista, em 30 de setembro, 7 locais foram alvo de investigação da vigilância sanitária. Em dois deles foram encontradas bebidas com metanol. Mais 11 estabelecimentos foram interditados. O bar Ministrão, na Alameda Lorena, nos Jardins, e o bar Torres, na Mooca, foram fechados temporariamente. Seis distribuidoras e um bar em São Bernardo do Campo também foram interditados.

Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O que dizem as autoridades?

Nesta segunda-feira (06), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma coletiva de imprensa, junto com representantes das secretárias de Saúde, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico, Fazenda e Planejamento. Além deles, estavam presentes representantes do ramo de bebidas, que auxiliaram no treinamento de agentes públicos e comerciantes para a identificação de falsificações.

Durante a entrevista, o governador contrariou as declarações do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e descartou a possibilidade de envolvimento de facções criminosas na adulteração de bebidas, sem revelar qual a hipótese que está sendo seguida pela polícia paulista. Tarcísio foi criticado por brincar com a situação dizendo que “quando falsificarem Coca-Cola, vou me preocupar”. No dia seguinte, em suas redes sociais, Freitas publicou um vídeo no qual pedia desculpas pela afirmação.

Em fevereiro deste ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou que 13 bilhões de litros de bebidas adulteradas são comercializados ilegalmente todos os anos, com perdas fiscais que podem chegar a R$ 72 bilhões, sendo a segunda maior fonte de renda das facções de crime organizado, que perde apenas para combustíveis adulterados.

O Fórum destaca ainda a prática ilegal conhecida como refil, quando há reutilização de garrafas para envasamento de bebidas falsificadas. Só em 2023 foram apreendidas 1,3 milhão de garrafas do tipo. Há também anúncios online de venda de garrafas vazias com rótulos das bebidas. Além disso, em 2016, durante o governo de Michel Temer, o Sistema de Controle de Produção de Bebidas, o Sicobe, foi suspenso sob alegação de altos custos de manutenção (R$ 1,4 bilhão ao ano), o que tornou a fiscalização federal inexistente e realizada por meio de autodeclaração dos bares.

Em nota para a AGEMT, a Secretária Municipal de Saúde de São Paulo disse que “as ações da Vigilância Sanitária do município são constantes, com fiscalizações em comércios varejistas (restaurantes, bares, adegas, lanchonetes, entre outros) e distribuidores/atacadistas de bebidas, na verificação da procedência da bebida: se há nota fiscal de aquisição, lacre de segurança, integridade e legibilidade da rotulagem, se apresenta todas as informações obrigatórias (dados do fabricante/importador, lote, registro no órgão oficial), bem como a manipulação. A pasta está intensificando ações em comércios junto à vigilância estadual e à Secretaria de Segurança Pública.”

A Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou para a AGEMT. O espaço segue aberto.

Sintomas e tratamentos

Em entrevista à AGEMT, o farmacologista e toxicologista Maurício Yonamine conta que a rapidez para o atendimento médico é o fator mais crítico para a chance de recuperação em caso de intoxicação por metanol. “O prognóstico é melhor quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, pois o tempo é o que permite que os subprodutos tóxicos (principalmente o ácido fórmico) se acumulem e causem danos irreversíveis.”

Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS
Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS

 

Maurício conta que o principal problema do metanol é que ele deixa o sangue extremamente ácido e, após ser metabolizado pelo fígado, gera subprodutos extremamente tóxicos, principalmente o formaldeído e o ácido fórmico. “O acúmulo desses metabólitos, especialmente o ácido, interfere na função celular, ataca nervos e órgãos.”

Os sintomas de intoxicação por metanol nas primeiras horas podem ser confundidos com uma ressaca forte, náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça. Muitas vezes, os sintomas são leves, o que atrasa a procura por atendimento médico. “Os sintomas iniciais podem ser traiçoeiros”, diz Yonamine.

Depois, começam aparecer os sintomas mais fortes, resultado do ácido fórmico que tem uma afinidade particular pelas células do nervo óptico. Entre eles estão a visão turva, a fotofobia e a aparição de pontos luminosos. Além disso, o sangue ácido causa respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga no coração e nos pulmões.

Se não tratado com urgência, o quadro evolui para complicações graves em até 48 horas. O ácido atinge o sistema nervoso central, podendo causar convulsões, rebaixamento de consciência, coma e arritmias cardíacas. A partir disto, os danos passam a ser sistêmicos: coração, pulmões e rins entram em colapso progressivo, consequência direta da acidose metabólica (sangue ácido) severa e da sobrecarga tóxica. É nesse momento que o risco de morte se torna elevado e, mesmo com tratamento, as chances de cura caem drasticamente. 

No sábado (05), o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2,6 mil antídotos para a ingestão de metanol durante uma coletiva de imprensa em Teresina. O medicamento chamado fomepizol não possui registro no Brasil e foi comprado de maneira emergencial, juntamente com a Organização Panamericana de Saúde, de um fabricante japonês, Daiichi Sankyo. 

 

 

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Ativo desde 2011, canal produzia conteúdos sobre a Universidade de forma educativa, contava com mais de 100 mil inscritos e ficou 12 dias fora do ar
por
Khauan Wood
Victória da Silva
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01/10/2025 - 12h

Perfil da TV PUC, canal Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) no YouTube foi reativado pela plataforma na tarde desta quarta-feira (01) após ter sido retirado do ar sem aviso prévio ou justificativa no último dia 19 de setembro.

A conta tem um importante e extenso acervo histórico e cultural da instituição. 

Em publicação realizada em seu Instagram oficial, a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP, denunciou no dia 30 de outubro que o canal havia sido simplesmente retirado da grade da plataforma repentinamente.

Ainda na publicação, a instituição informou que a empresa, que é ligada ao Google, enviou apenas um e-mail informando que a retirada seria causada por descumprimento das regras e diretrizes da plataforma, sem detalhar de que se tratava, acrescentando que as políticas de spam, práticas enganosas e golpes não teriam sido seguidas.

A Universidade abriu uma contestação dentro da plataforma, em que constava um prazo de 48 horas para o retorno. Após o prazo, uma nova mensagem enviada dizia que uma nova resposta seria dada dentro de 24 horas. Mas esses prazos não foram respeitados, o que motivou a denúncia nas redes sociais que mobilizou a comunidade acadêmica.

O time da TV PUC afirmou à Agemt que tudo começou quando um dos integrantes da equipe tentou gerar um link para uma live, mas a página não abria corretamente. Em seguida, eles receberam uma notificação de que o perfil havia sido retirado do ar.

Também em entrevista à Agemt, Julio Wainer, professor da PUC-SP e diretor da TV PUC, relata que em anos de canal, nunca receberam sequer uma advertência. O diretor contou que houve avisos pontuais sobre conteúdos com direitos autorais, que foram retirados imediatamente.

Ainda segundo ele, a equipe jurídica da Fundasp esteve em contato direto com a plataforma durante todo o período de inatividade para tentar reaver o canal. 

De acordo com a Fundasp, a TV PUC existe desde 2007, mas publica vídeos regularmente desde 2011. O canal contava com mais de 5 mil publicações e já ultrapassara o número de 100 mil inscritos.

Ao publicar novamente o canal, a plataforma enviou mensagem à TV PUC desculpando-se pelo ocorrido. Os responsáveis pelo canal ainda avaliam se todo o conteúdo e os seguidores da página foram mantidos.

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A TV PUC produz conteúdos ativamente há 14 anos. Foto: Victória da Silva

O conteúdo do canal universitário é diverso e produzido por professores e alunos. Sobre isso, o diretor da TV PUC afirma que o canal possui “de tudo um pouco”, já que conta com trabalhos institucionais de alunos e professores sobre temas variados, além de lives e programas. 

“Tudo que nós produzimos, nós colocamos lá como repositório para ir acumulando visualizações e as pessoas ficarem sabendo”, contou. O canal tem como missão promover os assuntos debatidos na universidade, mostrando o que é feito para diferentes cursos e com o que os alunos têm engajado na rotina universitária.

A TV PUC também acompanha palestras e outros acontecimentos da universidade e publica os eventos na íntegra, além de resumi-los em outros vídeos com depoimentos dos participantes. A recepção de calouros, que acontece todos os anos e recebe figuras importantes no Tucarena para a abertura do semestre, é um exemplo dos vários registros que o canal tinha antes da retirada.

Falas de personalidades históricas, professores e intelectuais foram derrubadas após a retirada do canal do ar, além de documentários relevantes e outros materiais importantes para a história da PUC-SP apagados pela plataforma ainda sem justificativa.

A TV PUC também tenta trazer os estudantes para as telas e enxergar a PUC-SP a partir do olhar deles. Para isso, as matérias sempre contam com entrevistas e conversas com os alunos que se envolvem nas diferentes atividades que ocorrem durante o ano. Os vídeos são informativos e promovem pautas científicas, culturais e políticas.

O professor do curso de jornalismo, Aldo Quiroga, destacou em um vídeo em seu perfil no Instagram que a Roda de Conversa com os vencedores do Prêmio Vladimir Herzog, em que os jornalista contam como as reportagens vencedoras foram realizadas, também é um dos exemplos dos conteúdos “sequestrados pelo Youtube”, na derrubada do canal. É a TV PUC quem faz a transmissão anual da Roda de Conversa Vladimir Herzog e do Prêmio que também leva o nome do jornalista morto pela ditadura militar.

No vídeo, Quiroga também ressalta a influência das Big Techs sobre o Congresso Nacional para impedir a regulamentação dessas empresas pela sociedade civil, que se encontra refém de decisões como essa.

Em nota enviada à Agemt, o Google afirmou que está apurando o motivo do encerramento do canal e que retornaria em breve. O espaço segue aberto.

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Embora sem data definida, a bandeira chinesa estará no mercado ainda esse ano
por
Lucca Cantarim dos Santos
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03/10/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Os cartões da bandeira de pagamentos chinesa UnionPay chegam ao Brasil em 2025. Detendo cerca de 40% do mercado global em transações com cartões, o que é mais do que as norte-americanas Mastercard e Visa juntas, a empresa oferece uma alternativa para os Brasileiros. Segundo o financista José Kobori, a iniciativa representa uma oportunidade de “descolonizar” o mercado financeiro, justamente por diversificar o setor no País, essa discussão ganha mais potência com as recentes taxações e tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, essa tensão levantou questionamentos sobre o grau de dependência do mercado financeiro brasileiro nos estadunidenses.

Kobori, o responsável pela vinda desta forma de pagamento tem uma história que se relaciona diretamente com sua movimentação atual. O economista era conhecido por ter uma visão neoliberal de mercado, principalmente, diz ele, por estar inserido nesse setor. Em entrevista ao podcast "Market Makers", o financista conta os motivos que o fizeram mudar completamente sua visão de mercado, e por consequência, abandonar o neoliberalismo. 

O economista alega que sempre gostou de se informar e procurar pensadores com opiniões diferentes das que ele tinha, e como naquele momento era possível dedicar mais tempo a isso, ele começou a ler cada vez mais autores diversos, como autores Keynesianos.

No entanto, o maior ponto de ruptura do financista com o neoliberalismo, foi o momento em que ele começou a sair na rua e perceber com olhos mais atentos a desigualdade. Ele conta aos entrevistadores a história do dia em que saiu para almoçar, e de dentro do carro, viu um jovem comendo lixo na rua, essa experiência o levou às lágrimas, e fez com que Kobori começasse a se questionar de como era possível existir um sistema que funcionasse tão bem para ele, mas não para as outras pessoas.

Diferencial da UnionPay

Um dos diferenciais da UnionPay, é o fato de seus cartões operarem fora do sistema “SWIFT”, sigla para “Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication”, ou Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em português.

O SWIFT é um sistema de transações internacionais que permitem o envio de dinheiro de um país para outro, em síntese, cada banco tem um código em seu respectivo país. O problema é, que por ser gerenciado majoritariamente pelos Estados Unidos, em caso de sanções ou remoção de um banco do sistema, vários brasileiros seriam afetados.

E é justamente por operar fora do SWIFT, que a UnionPay dá à população brasileira mais opções para transferências internacionais, permitindo que sejam feitas e recebidas mesmo que em um possível cenário de sanções ou tensões geopolíticas, como afirma Cristina Helena, professora de economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ou seja, em um cenário onde os conflitos com Trump se agravem e o Brasil acabe sancionado, usuários do cartão Union Pay não seriam afetados, e poderiam continuar recebendo e enviando dinheiro livremente para outros países.

Outro diferencial que chama a atenção, e pode ser crucial para a competitividade da bandeira no mercado é a possibilidade de redistribuição de receita, segundo informações da Contec, será possível reverter parte das taxas cobradas nas transações para causas sociais escolhidas pelo usuário. Taxas essas, que no caso de cartões de crédito de bandeiras norte-americanas, como American Express; Visa e Mastercard são taxas de câmbio, que vão diretamente para os Estados Unidos.

Os Desafios

O maior desafio enfrentado pela empresa é a aceitação ampla, segundo Cristina, além da compatibilidade com as fintechs e bancos digitais e de lojistas habilitarem essa forma de pagamento, a ideia de um cartão chinês no país ainda levanta muita suspeita e desconfiança entre os brasileiros, embora a China seja um dos maiores parceiros comerciais do Brasil na atualidade, levando em consideração sua presença no BRICS.

No entanto, as operações da UnionPay serão supervisionadas pelo Banco Central, segundo confirmado pelo Ibrachina, a bandeira deverá cumprir normas de operação, submeter-se à fiscalização do BC e precisará de autorização regulatória, assim como toda e qualquer bandeira em operação dentro do território nacional.

Outro ponto a se levar em consideração, é se a entrada de um sistema novo no mercado de crédito, principalmente em meio à tensões e conflitos geopolíticos com os Estados Unidos, não poderia significar uma troca de monopólio. A professora Cristina acredita que não, devido à robustez do sistema financeiro brasileiro, mas também alerta que caso essa integração não seja diversificada e balanceada, o Brasil corre o risco de se manter dependente de uma potência estrangeira.

Os cartões não têm data definida para serem completamente integrados no mercado financeiro brasileiro, embora esteja confirmada para chegar ainda em 2025. Mas já são aceitos em grandes centros turísticos, como Salvador, Rio e São Paulo através de terminais parceiros (Rede e Stone), além disso, como comparação, a bandeira tem alta taxa de aceitação nos Estados Unidos, somando 80% dos estabelecimentos e 90% dos caixas eletrônicos brasileiros.

 

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Estúdios acusam a plataforma de IA de violar direitos autorais ao permitir a criação de imagens com personagens protegidos.
por
Lucca Andreoli
Henrique Baptista
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17/06/2025 - 12h
Logo da Midjourney
Logo do serviço de IA Midjourney. Reprodução

A Walt Disney Company e a Universal Corporation, dois dos maiores estúdios de Hollywood, abriram no dia 11 de junho um processo conjunto contra o Midjourney — um serviço de inteligência artificial criado e desenvolvido pelo laboratório de pesquisa independente, Midjourney, Inc. —  na U.S. District Court for the Central District of California. O serviço de inteligência artificial está sendo acusado de utilizar propriedade intelectual dos estúdios sem autorização.

Segundo a ação, o Midjourney usou de forma “intencional e calculada” obras protegidas — como personagens de Star Wars (Darth Vader, Yoda), Frozen (Elsa), The Simpsons, Marvel (Homem-Aranha, Homem de Ferro), Minions, Shrek e O Poderoso Chefinho — para treinar seus modelos e permitir a geração de imagens derivadas altamente similares.

 

Disney e Universal afirmam que já haviam solicitado que a plataforma bloqueasse ou filtrasse esse tipo de conteúdo, mas não foram atendidas. Para a vice-presidente jurídica da NBCUniversal, Kim Harris, “roubo é roubo, independentemente da tecnologia usada”.

A petição descreve o Midjourney como um “poço sem fundo de plágio”. Estima-se que a plataforma tenha gerado cerca de 300 milhões de dólares em receita em 2024, contando com mais de 21 milhões de usuários.

Os estúdios pedem uma liminar para impedir novas infrações e uma compensação financeira — que pode ultrapassar os 20 milhões de dólares. Horacio Gutierrez, diretor jurídico da Disney, declarou: “Pirataria é pirataria — o fato de ser feita por uma IA não a torna menos ilegal”.
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Além disso, a ação se insere em um cenário crescente de disputas semelhantes — como os casos envolvendo a Stability AI, a OpenAI e o New York Times. Também aponta para a criação de um serviço de vídeo de IA que em breve poderá criar clipes animados com materiais não autorizados, ampliando ainda mais os riscos à propriedade intelectual e ao controle de suas criações. O processo reforça a pressão por regulamentações mais claras que protejam a criatividade humana frente ao avanço da IA.

A preocupação no meio artístico a respeito das inteligências artificiais é um tema crescente que já gerou polêmicas anteriormente, como a questão das fotos “estilo estúdio Ghibli” no início deste ano. 

O processo representa um marco legal na relação entre Hollywood e a inteligência artificial. É o primeiro grande embate judicial do tipo envolvendo empresas de entretenimento, e pode abrir precedente para que outras companhias exijam licenciamento prévio ou filtros automáticos em ferramentas de geração de imagens.

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

Apenas 9% das famílias das classes D e E possuíam computador em casa. Enquanto a classe A, apresenta um número de 98%. A situação gerada pela pandemia reforça a grande desigualdade do Brasil e acarreta complicações no ambiente educacional.
por
Anna da Matta, Beatriz Loss e Fernanda Fernandes
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11/07/2020 - 12h

                

                             Aluno estudando via celular-Créditos: USP imagens

 

De repente, a COVID regressou ao século XXI ganhando um novo nome, Covid-19. A maioria dos brasileiros estava convencida de que a epidemia não atingiria o país, já que no início surgiram casos apenas em lugares isolados da China. Mas esta crença teve fim quando, em fevereiro, foi confirmado o primeiro diagnóstico positivo de coronavírus no Brasil. O paciente, de 61 anos, havia chegado de uma viagem feita à Itália, região bem afetada pela doença. Com a chegada da pandemia, mudanças tiveram que ser feitas. Transições tecnológicas que levariam décadas para serem instituídas voluntariamente foram inseridas em questão de meses, dada a surpresa enfrentada.

Para tentar controlar os casos, foram implantados de início critérios de isolamento e quarentena apenas para pacientes que estavam com suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus. Posteriormente, essas medidas foram ampliadas para pacientes de risco, e depois para todos. A Covid-19 transformou vidas, não apenas na modificação do cotidiano, em que não há possibilidades de ir à festas, restaurantes, parques, encontros com a família e amigos, mas também altera mudanças que já estavam em andamento, como a busca por sustentabilidade, tanto por parte da sociedade como por parte das empresas, o trabalho se tornando Home Office, e principalmente, a educação sendo online. Tal cenário afeta estudantes e professores, com consequências tanto acadêmicas quanto psicológicas.

Logo que a quarentena se iniciou, um quadro de incertezas surgiu sobre os alunos, pais e professores. Com as aulas suspensas, começaram os debates sobre como ficaria o ano letivo e a qualidade do aprendizado dos estudantes, e uma das soluções para essa situação foram as aulas online. Diferente da educação à distância (EAD), esse ensino remoto não teve o mesmo planejamento e estrutura para funcionar de forma eficaz. Uma das razões que faz as pessoas optarem, geralmente, pela plataforma do EAD é para economizar tempo e dinheiro. Um dos privilégios, e diferenças, da educação remota é o contato direto com os professores, ainda que virtual. Esses ensinos são distintos e não podem ser confundidos, principalmente porque os estudantes neste momento não tiveram escolha, e não tem o controle de sua aprendizagem.

 

As diferenças e dificuldades nas redes pública e privada

 

          Com a suspensão das aulas, foi preciso buscar novas alternativas para conseguir cumprir o calendário escolar previsto para 2020. Todos os professores e alunos tiveram que modificar suas vidas, tanto os da rede pública como os do ensino particular. Desde o 1º semestre , eles estão tentando se adaptar e entender como ter um melhor aproveitamento das plataformas digitais. Porém está sendo uma experiência difícil e consequências negativas estão surgindo nessa nova fase.

É evidente que o ensino da rede pública está passando por maiores dificuldades, pois a classe social dos alunos influencia muito no momento do acesso aos novos recursos. O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação realizou uma pesquisa sobre o uso de tecnologias de informação e comunicação em domicílios brasileiros e mostrou que, em 2018, apenas 9% das famílias das classes D e E possuíam computador em casa. Enquanto a classe A apresenta um número de 98%. A situação gerada pela pandemia reforça a grande desigualdade do Brasil e acarreta complicações no ambiente educacional.

Josiane Bezerra professora de Português, Eletivas e Tecnologias trabalha em duas escolas da rede estadual na periferia da Zona Norte de São Paulo. A professora relata que as aulas foram encerradas no dia 18 de março e que o governo não disponibilizou nenhuma plataforma obrigatória para os professores trabalharem, apenas uma apostila que contém o conteúdo de todas as matérias para os alunos retirarem nas escolas. Dessa forma cada, escola está trabalhando do modo que prefere com os alunos, no caso das escolas de Josiane, os professores estão passando as atividades e os conteúdos por meio do Blog das escolas e das páginas do Facebook. Josiane mantém contato com os alunos de outra forma: “Preferi criar um grupo no WhatsApp com meus alunos do 6º ano, estou passando as atividades por lá, acho que assim fica mais fácil minha comunicação com eles, mas ainda não consegui o contato de todos”, relata.

 Segundo ela, uma das escolas colou cartazes informativos no portão e espalhou alguns pela região para que os alunos pudessem saber o que fazer, a outra escola já teve uma comunicação melhor, pois já continha um grupo do diretor com todas as mães, então mandaram as informações por lá. Mas relata que a falta de acesso dos alunos  à internet está fazendo com que muitos não participem das aulas, “A situação dos alunos é precária, muitas das famílias são numerosas e tem apenas um celular”. Em relação a essa nova experiência a educadora diz “Não estou achando fácil, fico receosa de passar um tema, uma atividade nova e eles não conseguirem aprender, sei que tem alunos que têm muita dificuldade, sem estar presente com ele fica difícil saber se eles estão com dúvida. A falta do olho no olho faz muita diferença.”

Em relação à rede municipal de ensino, o professor de matemática Clóvis Sá, que trabalha na região da Brasilândia, em São Paulo, relata: “No primeiro momento orientamos os alunos a ficarem em casa, mas estávamos atendendo os que vinham. Muitos acabam indo por conta da alimentação ou porque não têm com quem ficar”. Com o tempo a quantidade de alunos foi diminuindo e a escola fechou. Os alunos ficaram sem aula por quase duas semanas, período em que a Secretaria da Educação mandou orientações e os professores tiveram reuniões por meio de vídeo para organizar os modelos de aula e aprender a utilizar a nova plataforma, além de conhecer o novo material. A prefeitura, ao contrário do estado, definiu a plataforma Google Classroom para todos os professores usarem, além de criar uma apostila contendo atividades e o conteúdo de todas as matérias e enviar por meio do correio na casa de todos os alunos. O professor comenta: “Infelizmente nem todos os alunos estão tendo acesso a este material, pois muitas famílias não atualizaram seus endereços na escola, ou colocaram errado”. Para avisar os alunos e mostrar como entrar no aplicativo foi usado a página do Facebook da escola, um cartaz no portão e os diretores estão fazendo atendimentos por meio do telefone da escola e da internet.

 “Os professores estão postando vídeos, atividades na plataforma. E estão ficando conectados no aplicativo no horário de aula, no meu caso das 7:00 às 11:50. Temos que ficar on-line para orientar sobre as atividades e tirar dúvidas dos alunos.”, diz o professor Clovis.

Por fim, o matemático desabafa: “Está sendo uma experiência complicada. Acho que a estrutura criada até que foi rápida, mas ainda não é eficaz, não depende só do professor, ela esbarra na dificuldade de o aluno de ter acesso e também na falta de interesse de muitos”.

Já no colégio particular são perceptíveis muitas diferenças, apesar de também apresentarem dificuldades por ser um processo inesperado, os professores e os alunos contêm um suporte maior. Simone Arcanjo é professora de História e Sociologia em um colégio particular na região da Lapa, em São Paulo, diz que assim que ocorreu a suspensão das aulas o colégio teve uma atitude prudente e cautelosa em procurar uma plataforma digital que seria ideal para todos. A instituição resolveu utilizar o aplicativo Microsoft Teams e a partir da decisão começaram a dar treinamento aos professores para aprenderem a usar, “O colégio já tem uma boa experiência com essa parte de tecnologia e dentro do nosso corpo de colaboradores temos os mentores [professores que trabalham diretamente com projetos ligados a tecnologia] e eles estão sempre nos ajudando, passando dicas e tirando dúvidas” comenta, com a presença dos mentores esse processo acabou sendo mais fácil e a professora afirma estar tendo uma experiência positiva. Os alunos ficaram sabendo do novo modelo de ensino por meio do site da escola e estão tendo aulas ao vivo durante o mesmo período que teriam no presencial. Simone relata “Percebo de uma maneira geral que todos têm acesso a internet e tem dispositivos para usar, por conta disso as aulas estão indo bem, em um dos dias conseguimos até fazer um debate durante a aula de história e funcionou”. As atividades estão sendo produtivas e ela comenta que uma das reclamações feitas pelos alunos é em relação a sobrecarga na internet, por conta de terem outros familiares também utilizando no momento.

 

Relatos dos estudantes

 

Ao entrevistar alguns estudantes de instituições distintas pode-se perceber que as experiências não estão sendo positivas, mas sim preocupantes.

O estudante de escola pública Lucas Barreto, de 15 anos, conta como foram os primeiros contatos com o ensino remoto e como sua escola tem procedido “No começo, estava sem computador e deixei de entregar algumas atividades por estar sem acesso” e completa “Cheguei a ficar com notas baixas”. Lucas, como muitos outros, é vítima dessa falta de suporte por parte das escolas “Não estão dando apoio para quem está sem acesso aos computadores, só estão dando um tempo maior para entregar as tarefas”. “Nas aulas presenciais dava para absorver melhor porque eu prestava mais atenção. Aqui [em casa] eu tenho que ficar procurando as atividades [nas plataformas]. Às vezes fico sem foco”. Ele também declara ter receio de como vai ficar sua educação “O ensino remoto não tem tanta qualidade quanto o presencial”.

“Tenho sete matérias, e só uma delas está tendo vídeo aula mesmo, então a professora passa [a vídeo aula] e eu assisto a hora que quiser. O resto dos professores está passando capítulos para lermos” conta a estudante de Estatística, Mariana Bastos de 18 anos. A aluna revela que pensou em trancar o curso quando começou a quarentena e chegou a abandonar duas aulas “São matérias muito importantes pro meu curso, que são Probabilidade 2 e Inferência. Eu optei em trancar porque teria consequências na minha carreira [caso fizesse online], então prefiro estudá-la mais pra frente, no presencial”. Mariana diz que sua experiência tem sido negativa por conta de não conseguir se concentrar no estudo e fala sobre como fazia antes da pandemia “Gostava muito de estudar com os meus amigos, a gente se juntava e tirava dúvida um com o outro, fazíamos uma rodinha de estudo”. Mas destaca como uma consequência positiva, a rotina criada por parte dos educandos.

A estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Maria Luísa Montebelo de 16 anos, declara preocupação com a qualidade de seu ensino “Tenho muito esse medo de chegar no final do ano e sentir que não adiantou de nada”. “Acho um absurdo não mudarem a data do ENEM porque muitas pessoas dependem só dessa prova pra entrar em faculdades públicas. Em São Paulo ainda temos um leque de outras universidades públicas, mas essa não é a realidade de todos os estados, então pensando num viés mais social, uma coisa mais justa, seria importante reavaliarem a data para não prejudicar as pessoas” conta a aluna sobre a decisão do MEC de não adiar a prova. “A questão da saúde mental pega bastante, principalmente agora no terceiro ano, que já é meio pesado, com tudo isso que está acontecendo”. Maria Luísa relata que de início foi mais complicado lidar com as aulas online, mas que agora os educandos estão se adaptando melhor e que a escola tem se preocupado e está os ouvindo para fazer melhorias nesse ensino.

Ainda que o cursinho pré-vestibular não seja uma obrigação para os estudantes, é importante considerá-lo, pois muitos desses alunos também estão tendo dificuldades no momento do estudo. Felipe Holler, 18 anos, relata que começou o ano com a expectativa de aproveitar todas suas aulas, estudar muito e conseguir passar em uma faculdade, prestando engenharia de produção. Porém a situação atual está deixando-o preocupado, apesar de seu cursinho dar um bom suporte e disponibilizar muitas aulas online ele comenta “Eu gosto bastante dos vídeos, mas está sendo uma experiência ruim, pois não consigo assistir o mesmo número de aulas que assistiria presencialmente. E isso vai me afetar bastante na hora de fazer o vestibular”, ele relata que em casa é difícil manter a mesma concentração e que tenta se distrair fazendo outras coisas também para não prejudicar sua saúde mental.

 

Saúde mental

 

 Com a chegada da pandemia e com as aulas online, surgiram também questões em relação a saúde mental dos estudantes em um momento tão sério e complicado como esse. Sabemos que escolas e faculdades já sobrecarregam os alunos de atividades com as aulas regulares, agora, em que todos, ou grande parte da população, está em casa, professores entendem que o tempo se multiplica e acabam passando ainda mais atividades.

Em entrevista com a psicóloga Valéria Zold, ela afirma “Os estudantes estão sofrendo não só com a forma de ensino, mas com a mudança que toda essa situação acarretou, e a forma de aprendizado é mais um fator, porque tem uma sobrecarga que não aconteceria em uma situação rotineira”, a profissional ainda afirma que as aulas online prejudicam a qualidade do ensino na questão de que o professor não consegue perceber se o aluno está acompanhando, se ele [professor] está sendo claro o suficiente ou se é necessário fazer alguma adaptação e se atentar aos alunos que apresentam mais dificuldades, pois está conversando com uma tela e não existe o olho no olho que permite essas percepções.

A psicóloga faz ainda uma observação “Não poder sair de casa é um fator que gera estresse, e ultimamente percebo que tudo fica ligado aos estudos e a cabeça não consegue relaxar”. E sugere algumas saídas para que os estudantes consigam se organizar melhor e para não os afetar tanto mentalmente “É necessário estabelecer uma rotina e colocar nela algumas atividades que esteja ligada a um hobby”.

 

O pós pandemia

Todas as alterações nas formas de trabalho e estudo, que foram necessárias para que a população pudesse continuar a vida normalmente dentro do possível durante a pandemia do Covid-19, geraram também uma série de dúvidas sobre o futuro. Alguns dizem que as relações de trabalho serão as mais afetadas, mas ocorre também um questionamento sobre a área do ensino.

O projeto de transformar cursos presenciais em EAD acontece há alguns anos e com a chegada do vírus e a impossibilidade de aulas presenciais, a tendência é que esse processo que já estava em andamento se intensifique. Para os professores e estudantes existem muito mais fatores negativos do que positivos, e podemos citar entre eles, o aumento no número de desemprego no país, a queda da qualidade do ensino, a perda de um local adequado para os estudos, o estabelecimento de relações líquidas, entre outros. Transformar os cursos presenciais em EAD seria transformar também a educação em um negócio, visando apenas os lucros e descartando a importância do ensino.

Alguns questionamentos surgem nesse momento: como será o ensino quando a pandemia acabar? Será que acontecerão muitas mudanças definitivas?

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Universidades públicas preveem início de aulas remotas apenas em agosto e reposição após o fim da pandemia
por
Isabela Trindade
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03/07/2020 - 12h

 Desde o começo da quarentena, estudantes de escolas e universidades públicas sentem dificuldades com o EaD (Educação a Distância), todos foram pegos de surpresa com a nova realidade, e com isto veio os obstáculos, a falta de equipamentos e estrutura por parte dos alunos e professores, e muitos estão saindo prejudicados do ensino remoto. Há vários obstáculos para que o EaD seja de uma boa qualidade

 Giovanna Occhiuzzo, 20, estudante de Serviço Social, da Universidade Federal de São Paulo, perdeu um semestre do seu curso, pois a instituição não aderiu ao ensino remoto neste primeiro semestre de 2020. A universidade alega que os alunos irão repor as aulas apenas após a pandemia passar, e a instituição diz aderir ao ensino remoto apenas no dia 3 de agosto.    

 Com as aulas presenciais suspensas por tempo indeterminado, as instituições precisaram se adaptar ao ensino remoto o mais rápido possível, as aulas não poderiam parar, por isso precisou-se encontrar plataformas vídeo chamada confiáveis. Houve grandes adaptações por parte dos alunos e professores.

 Também em uma universidade pública, Yuri Marques, 18, estudante de Odontologia da Universidade Estadual Paulista, diz que os alunos ficaram apenas uma semana parados, mas algumas disciplinas não estão dando certo pois as aulas são práticas e precisam de laboratórios. Segundo ele, “uma parte dos alunos diz estar conseguindo aproveitar bem o conteúdo, já outra parte não consegue aproveitar as aulas, pois enfrentam obstáculos como a falta de internet ou por falta de computadores”.

 Na universidade, segue ainda o estudante, eles utilizam o Google Meet, para as aulas ao vivo, Moodle para a postagem de eventuais provas ou trabalhos e de vez em quando utilizam o Google Classroom. Marques, alega ter muitas dificuldades com a EaD (Educação à Distância): “tenho dificuldades para acessar as aulas pois minha mãe utiliza o computador não só para ter aulas, ela também faz uma graduação, mas precisa do computador para ministrar as aulas a distância.”

 Já Vitória Santana, 15, que estuda na E.E. Isaltino de Mello, alega que “a EaD não está dando certo, pois a plataforma que a escola utiliza acaba travando bastante pela quantidade de alunos entrando ao mesmo tempo”. A escola teria demorado ainda um mês após o início da quarentena para começar as aulas remotas e para se adaptar.

 Muitos alunos nas escolas da rede pública não têm condições financeiras para ter aula remota. Com isto acabam, saindo prejudicados. Vitória conta que a maior dificuldade é a comunicação com os professores, pois são muitos alunos assistindo a aula ao mesmo tempo.

 Ana Paula da Silva, professora da rede pública, e de escola Praticar, diz que as diferenças são bem perceptíveis, pois na escola particular a maioria dos alunos tem acesso à aula remota sem problemas, enquanto na escola pública a maioria dos alunos não conseguem ter acesso por falta de recursos.

 A professora conta que “não é possível ter certeza se o aluno está mesmo absorvendo o conteúdo passado nas aulas remotas, pois muitas vezes ele pode se distrair no meio da aula”. Ela ainda diz que, mesmo com avaliações online, “não é possível saber se a avaliação está sendo feita com alguma consulta ou até mesmo uma ajuda”.

 Com as dificuldades que estão sendo enfrentadas com o EaD, ele pode ser uma ferramenta interessante, apenas quando tudo voltar ao normal, entretanto nada substitui uma aula presencial, talvez em uma situação para que seja utilizado o  EaD em determinados pontos e situações, como por exemplo, marcar uma aula extra para alguns alunos e na questão do apoio a um aluno que esteja com dificuldades. 

 

 

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Com recordes de audiência, os esportes eletrônicos continuam em alta durante a pandemia de COVID-19
por
Guilherme Tedesco e Henrique Soto
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02/07/2020 - 12h

Por Guilherme Tedesco e Henrique Soto

Os esportes eletrônicos, conhecidos como e-sports, são competições de jogos eletrônicos transmitidas para seus fãs ao redor do mundo. Os e-sports englobam quatro grandes partes para que um jogo tenha sucesso e durabilidade: as empresas de e-games, os campeonatos, os jogadores e as plataformas de transmissão ao público. Com esses elementos combinados, a indústria dos games atinge lucros gigantescos, que já passa da casa dos milhões. E tende só a crescer cada vez mais. Ainda mais com o novo modo de vida durante a pandemia do coronavírus. 

Um dos poucos mercados que cresceu mais ainda durante a quarentena foi definitivamente o de e-sports. Com mais tempo em casa, as pessoas têm procurado formas de distração e entretenimento. Os que já gostavam dos jogos eletrônicos, mas que não ficavam muito tempo confinados, puderam voltar a seus passatempos. E também aqueles que estão conhecendo esse mundo divertido agora.

pessoa jogando
Pessoa jogando o jogo "Fortnite" em casa

“Estamos vivendo um momento de grandes recordes nos e-sports, de audiência e streams. Eu vejo um paralelo com o UFC, que a partir do momento que tem audiência, as pessoas passam a ter interesse em entender aquele mercado, por mais que não conheça.", explica o CEO e Co-Founder da maior plataforma de e-sports da América Latina, a Gamers Club, Yuri “Fly” Uchiyama. 

Um dos recordes destacados por Uchiyama foi o de espectadores simultâneos em uma mesma transmissão. No fim de junho, a maior marca pertencia ao Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) com 269 mil espectadores. Porém, na semana posterior, um streamer brasileiro alcançou incríveis 396 mil pessoas simultâneas na plataforma de streaming Twitch. Gaules, o maior streamer brasileiro, transmitia o jogo Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO).

A respeito desse expressivo número de espectadores, Luiz Gustavo Pacete, jornalista e pós-graduado em Inovação, Design e Estratégia pela ESPM, diz que era algo que já tinha chamado a atenção das empresas. “Os grandes eventos, as arenas chamaram muito a atenção principalmente dos anunciantes. Acho que quando você materializa o pessoal acompanhando, mesmo aqueles que não eram a audiência, isso chamou muito a atenção. Era um ativo muito importante para as marcas”. . “E obviamente nesse momento existe a ausência desse cenário das arenas, mas a gente tem recordes e recordes de streamers e audiência”, complementa.

No entanto, os e-sports começaram a ter grande sucesso somente nos últimos anos, mais precisamente a partir da segunda metade da década de 2010. Antigamente os e-sports não tinham vida fácil. Um dos grandes problemas vividos no começo desse mundo, no início dos anos 2000, era a falta de compreensão das marcas e de resultados para as marcas patrocinarem os eventos da época. Isso se dava principalmente pela ausência de formas de comunicação entre os jogadores e o público/audiência. Naquele tempo a transmissão ao vivo era somente por texto em tempo real. Depois veio o áudio. E hoje, com a tecnologia, são transmissões ao vivo com ótima qualidade e muitos profissionais envolvidos, além de diversos empregos disponíveis para esse mercado.

A profissionalização do mundo dos e-games ajudou a aumentar a audiência. Segundo o instituto de pesquisa Newzoo, 13% da população brasileira assiste a vídeos relacionados a esportes eletrônicos. A pesquisa é de 2018 e certamente a porcentagem já cresceu. O aumento da audiência nos últimos anos proporcionou a chegada de marcas não-endêmicas, ou seja, marcas que não possuem nenhuma ligação com os e-games. "Fly" comenta sobre a entrada de marcas nos e-sports.  “Isso vai fazer com o e-sport cresça. Todo e-sport precisa de dinheiro e os investimentos e patrocínios são extremamente necessários.  Hoje o esporte eletrônico cresce bastante pelo amor das pessoas envolvidas, dos investidores e, agora, com a chegada das marcas”, finaliza.

Atualmente, empresas gigantes patrocinam times, jogadores, empresas e eventos de e-games. Gillette, Netshoes, Unilever, Redbull são alguns exemplos de patrocinadores. O McDonalds decidiu, no final de 2018, encerrar o investimento na liga alemã de futebol para continuar investindo em E-Sports. Times do futebol brasileiro também estão começando a investir nesse mercado. 

Luiz Gustavo destaca que uma das principais dificuldades era, e segue sendo, o convencimento dos mais poderosos nas empresas. “A gente sempre falava que o desafio era convencer os tomadores de decisões, mostrar para eles a importância do cenário. Eles até sabiam que o filho ou a filha jogam Fortnite, mas trabalhando em casa esse período e tendo mais contato com os filhos, acho que eles começaram a entender também a força da cultura gamer”.

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Evento de e-sports em Colônia, Alemanha.

Para o jornalista colaborador do e-Sportv/Globoesporte.com, Bruno Povoleri, o mercado do e-games se encontra, ao mesmo tempo, consolidado e com espaço para crescer ainda mais. “É um mercado consolidado e promissor ao mesmo tempo, visto que, independentemente do atual patamar, vivemos em um mundo que já é e tende a ser cada vez mais tecnológico”, afirma. Ele complementa falando a respeito do público jovem. “Não é loucura afirmar que, dadas as devidas proporções, o menino que antigamente jogava bola na rua, atualmente passou a preferir os games”.

Em relação a esse desejo atual de boa parte dos jovens de se tornar profissional, Yuri comenta que não é uma jornada fácil e garantida e fala como utilizar o tempo aplicado praticando o jogo. “Liderança, comunicação, pensamento estratégico, networking são algumas habilidades que você pode desenvolver como ‘player’ para ser um profissional melhor no futuro. Para que você possa se divertir, tentar chegar lá como profissional, mas, se não der certo, que você possa aplicar esse tempo usado em outros âmbitos da sua vida. Eu acredito muito que o esporte eletrônico é também uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional, assim como qualquer outro esporte.” 

Um dos temas que vem chamando atenção no cenário dos e-games é a relação com a música. Recentemente, o rapper Travis Scott, um dos principais cantores da atualidade, lançou sua nova música “The Scotts” em um show exclusivo no jogo Fortnite. Luiz Gustavo destaca a importância dessa relação simbiótica "Eu acho fascinante essa discussão porque essa conexão entre música e games e cultura digital é super importante e é sim uma tendência”. Ademais, o jornalista destaca o potencial comercial dessa parceria. “Isso chama muito atenção das marcas. Não é só sobre games, sobre jogador, é também sobre pessoas que gostam de unir essas duas culturas. Eu vejo como uma tendência e um tema para a gente ficar muito ligado porque vai rolar muitas coisas nos próximos meses”.

Sobre esse tema da relação dos jogos com a música, Bruno Povoleri argumenta que, apesar de ser algo que já acontecia antes, é um caminho que ainda vai ser trilhado nos próximos anos. “A inclusão da música no mundo dos games acontece há um bom tempo, mas com o Fortnite como carro-chefe, isso ganhou ainda mais notoriedade em um passado recente”. O colaborador do e-Sportv ainda discute que a relação é boa para ambas as partes, jogos e música “Essa nova conexão entre os dois segmentos é uma parceria que parece ser essencial para ambos os lados, que tendem a crescer concomitantemente e podem estar criando uma aliança extremamente dominante para o futuro”.

Outro tema que vem sendo muito debatido ultimamente é a questão de machismo no cenário dos jogos eletrônicos. Assim como nossa sociedade, o meio ainda é muito misógino e dominado por homens. Para Luiz Gustavo, é, de fato, algo que precisa ser falado e melhorado. “Precisa existir uma evolução nesse sentido, mas acho que o próprio ecossistema e as próprias comunidades tão vendo a necessidade disso, que não é uma bolha”. O jornalista complementa que isso também é uma demanda das marcas patrocinadoras. “Esse ponto sempre quando pega nas marcas, elas tão sendo muito cobradas por propósito e têm se posicionado muito.[...] Tem uma evolução, ainda precisa melhorar e é um ponto que as marcas ficam muito atentas e sempre questionam”.

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Mulher streamer de e-sports / Reprodução: Instagram/mahteiga

A respeito das questões de gênero, Yuri “Fly” comenta que cada empresa possui suas próprias políticas na hora de organizar um campeonato/evento e que não há uma organização comum que cria essas diretrizes. Ele cita a própria empresa como exemplo. “Na Gamers Club, criaram dois tipos de eventos, os gerais e os específicos. Os específicos foram criados de acordo com os pedidos do público, que é chamado de comunidade. Como por exemplo campeonatos universitários e as ligas femininas. Para fomentar alguns cenários específicos, são criadas ligas específicas. Quem joga a liga feminina pode jogar a liga profissional. E no caso da organização da liga feminina os termos são a maneira com que a pessoa se enxerga e se declara”.

Além do sucesso extraordinário nos últimos anos, tanto no Brasil, como no mundo, os e-sports foram um dos únicos mercados que cresceu durante o período de restrições sociais por conta do novo coronavírus. Tido como apenas um momento lúdico para muitos, os jogos eletrônicos são coisa séria para muita gente e movimenta bilhões anualmente. Já consolidados e também com espaço para crescerem mais ainda, os esportes eletrônicos caminham a passos largos para ser o sonho de profissão de muitos jovens no país e um dos gigantes do mercado globalizado. 

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Com ensino a distância precário, o MEC adia a prova, gerando grandes impactos aos alunos de todo o Brasil
por
Lucca Moysés Vieira
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29/06/2020 - 12h

           O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aconteceria em novembro desse ano. Mas aí veio a pandemia e tudo mudou. A nova data do vestibular será entre dezembro e janeiro de 2021. No entanto, surge o questionamento se é justo que a prova ocorra. Para Lucas Felipe Guimaraes, estudante na Fundação Bradesco em Osasco, isso é “injusto”.  Ele irá prestar o vestibular tentando uma vaga para Arquitetura, focando nas faculdades públicas.

O estudante não se conformou com a manutenção  do concurso considerando as diferenças entre o ensino a distância de escolas privadas, para as públicas e defende o cancelamento . “Na minha escola, que é pública, houve a flexibilização do horário, só daí perdemos muita matéria”. Além disso, ele diz que não está conseguindo absorver o conhecimento necessário: “É muito difícil se concentrar mais de uma hora olhando para o celular ou computador e não entrar em alguma rede social, distraindo-se; fora que não tem como aprender física olhando para uma tela”.

Sendo assim, Guimaraes conclui que o melhor seria se houvesse duas provas. “Acredito que ter uma prova para escolas públicas, e outra para as privadas, seria a maneira mais justa diante dessa situação, ou até separar o número de vagas dividindo cinquenta por cento para cada”. 

FOTO de Guimaraes
Guimaraes, em sua rotina de estudo, acervo pessoal.

       Já Felipe Siufi, estudante do Colégio Pentágono em Alphaville, discorda da opinião do colega. Ele pretende estudar Engenharia de Produção e irá fazer a prova do Enem para tenta entrar na UNICAMP. Dessa forma, Siufi acredita que o adiamento do Enem não conseguirá mudar nada de maneira relevante, “não acho que em um mês os alunos das escolas públicas conseguiriam pegar todo o ensino de cem dias de aula online; então, o adiamento só causaria o esquecimento dos outros de todo o conteúdo”.

          Porém, assim como o estudante de Osasco, o futuro engenheiro também acha a qualidade da EAD precária: “É impossível prestar atenção porque você assiste deitado, um ou outro levanta e vê a aula de forma séria”. Junto ao tema, ele falou que nesse tipo de ensino há mais distrações do que se comparar com a aula presencial. “Parar de prestar atenção é muito mais fácil porque se estiver na aula e conversar vão me chamar a atenção, diferentemente do EAD que posso simplesmente desligar, ou entrar na aula e fazer outras coisas”.

          Ademais, o estudante do Pentágono diz que pelo estudo ser online as provas que antes eram individuais agora tornaram-se coletivas: “Nos últimos finais de semanas eu tive 3 simulados, toda a sala estava colando, e quem fazia mesmo, pelo menos dava uma verificada para ver se está correto” afirma dando uma risadinha. Portanto, Siufi fala também sobre o seu aproveitamento, “acho que estou em vantagem por estar em escola privada, mas não estou aproveitando, tem gente em escolas públicas que não tem a oportunidade e aproveitariam muito mais que eu”.

Beatris Ponce que está fazendo cursinho no Etapa de Ana Rosa, fala que não achou justo o adiamento da data do Enem, mas que não há outra saída. “Não tem como cancelar e perder um ano, o mínimo era adiar mesmo; e não só por minha causa, mas principalmente por quem estuda em escolas públicas ou não tem acesso à internet”.

          Ela deseja entrar na USP para cursar Direito, no entanto, vê grandes desafios devido à improdutividade do estudo a distância: “É muito difícil de se concentrar em casa, além de que eu absorvo menos coisa, pessoalmente você pode tirar dúvida, online é mais superficial”.  Outro ponto destacado dela foi que, diferentemente dos estudantes anteriores, Ponce não tem aula ao vivo, “por um lado é bom que posso pausar, mas por outro eu enrolo muito e acúmulo mais coisa”.

          Por fim, no caso dela, existe a possibilidade de largar o cursinho, distante da realidade dos alunos que ainda estão na escola e querem também ter o ensino médio completo. Contudo, ela não pensa em largar, “vou continuar no cursinho mesmo se o segundo semestre for EAD porque apesar de ser muito diferente a qualidade da aula, cheguei à conclusão de que muitas pessoas estão desistindo, então ainda tenho chances, vale a pena persistir".

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Com a alta demanda dos aplicativos durante o advento do coronavírus, trabalhadores dependem das entregas para sobreviver
por
Otávio Rodrigues Preto
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27/06/2020 - 12h

O entregador de aplicativo Renato Sicero, de 31 anos, é um entre os milhares de
entregadores que não pararam de trabalhar por causa da pandemia do novo coronavírus na
grande São Paulo. Há quatro anos Sicero percorre vários quilômetros pela Vila Matias, onde
mora, e pelo bairro do Tatuapé onde há maior demanda de pedidos do aplicativo Rappi.
Mesmo com salário menor, segue fazendo entregas diariamente.

“A demanda aumentou um pouco, mas antes da pandemia as taxas eram melhores, você fazia
10 entregas e já ganhava 100 reais, cento e pouco, hoje pra fazer 100 você tem que fazer
14/15 entrega”, diz Sicero.

O motociclista recordou que duas semanas atrás atendeu uma encomenda de supermercado e
ganhou pelos 6km rodados e os 10kg carregados o valor de R$ 7,50. “Foi bem menos do que
eu recebia antes, a mesma corrida eu ganharia por volta de uns 15 reais”, conta.

Sicero menciona a necessidade de seu trabalho e traça planos para o ano que vem. “Eu
trabalho por necessidade, e minha mulher está desempregada, sabe? Minha renda depende do
aplicativo, eu não tenho serviço físico, e também vou me casar ano que vem aí preciso mais
ainda do dinheiro, ainda não está marcado por causa da pandemia que atrapalhou nossos
planos.”

Já a situação de Hugo Siqueira de 34 anos, morador da Vila Nova York é diferente. Siqueira
trabalha há 2 meses como entregador do Uber Eats e viu na pandemia uma oportunidade de
“tirar um dinheiro a mais”.

“Vi a moto de um amigo encostada em um canto e resolvi fazer uma grana”. Siqueira
trabalha como técnico de radiologia em um laboratório no Tatuapé, e se aproveita da boa
localização para fazer as entregas. “Esse lado aqui da zona leste é onde tá mais pegando as
entregas por causa dos bares, restaurantes e tudo mais. Eu saio do laboratório, já ligo o
aplicativo e vou fazer a correria.”

O entregador revela quanto tem faturado em média nos últimos meses. “Eu estou tirando em
média 60 reais por dia, mas trabalhando bem, trabalho mais ou menos umas 7 horas direto,
sexta por exemplo eu trabalhei das 11 da manhã até as 6 horas da tarde.”

Siqueira também revela ter medo da exposição ao vírus: “eu tomo os cuidados básicos, uso
mascara, sempre passo álcool em gel e também evito o contato direto com o cliente, mas
mesmo assim o medo existe, pelo menos eu moro sozinho, então se eu pegar o vírus não vou
passar pra ninguém.”

Embora more sozinho, Siqueira não deixa de tomar os cuidados em casa. “Eu chego, já deixo
o tênis do lado de fora pra não entrar nada, coloco toda a roupa pra lavar e vou direto tomar
um banho, são essas as precauções que eu tomo.”

Denner Montie, de 41 anos, partilha dos mesmos medos e receios, residente na Vila
Formosa, ele se desloca todos os dias para a região do Tatuapé há mais de 1 ano e meio,
sempre com sua motocicleta e seu baú do Ifood, mas a situação já não é mais a mesma.

Montie diz que tem dias que quase não faz entregas por conta da grande concorrência nessa
pandemia. “Agora com o desemprego muita gente tá trabalhando com o aplicativo, a
concorrência ta grande, hoje mesmo eu só consegui fazer 2 entregas daqui a pouco to indo
embora”.

Entregador Denner Montie. OTÁVIO RODRIGUES PRETO 

 O entregador é outro que reclama que está trabalhando mais e recebendo menos. “Antes os valores eram bem melhores agora caiu bastante, antes eu tirava 150 reais por dia, hoje com sorte eu tiro 50/60 por dia.”  

 Em uma pesquisa feita pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) ouviu 252 pessoas de 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril por meio de uma pesquisa online. Os dados da pesquisa revelaram que, antes da pandemia 48,7%, dos entregadores recebiam, no máximo, R$ 520,00 semanais. Durante a pandemia, estes passaram a ser 72,8% dos entrevistados.  

 Apenas 25,4% dos cadastrados nas plataformas de entrega dizem ganhar acima desse valor na quarentena, o equivalente a R$ 2.080 por mês. Antes, eram 49.9%. 

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