
Aluno estudando via celular-Créditos: USP imagens
De repente, a COVID regressou ao século XXI ganhando um novo nome, Covid-19. A maioria dos brasileiros estava convencida de que a epidemia não atingiria o país, já que no início surgiram casos apenas em lugares isolados da China. Mas esta crença teve fim quando, em fevereiro, foi confirmado o primeiro diagnóstico positivo de coronavírus no Brasil. O paciente, de 61 anos, havia chegado de uma viagem feita à Itália, região bem afetada pela doença. Com a chegada da pandemia, mudanças tiveram que ser feitas. Transições tecnológicas que levariam décadas para serem instituídas voluntariamente foram inseridas em questão de meses, dada a surpresa enfrentada.
Para tentar controlar os casos, foram implantados de início critérios de isolamento e quarentena apenas para pacientes que estavam com suspeita ou confirmação de infecção por coronavírus. Posteriormente, essas medidas foram ampliadas para pacientes de risco, e depois para todos. A Covid-19 transformou vidas, não apenas na modificação do cotidiano, em que não há possibilidades de ir à festas, restaurantes, parques, encontros com a família e amigos, mas também altera mudanças que já estavam em andamento, como a busca por sustentabilidade, tanto por parte da sociedade como por parte das empresas, o trabalho se tornando Home Office, e principalmente, a educação sendo online. Tal cenário afeta estudantes e professores, com consequências tanto acadêmicas quanto psicológicas.
Logo que a quarentena se iniciou, um quadro de incertezas surgiu sobre os alunos, pais e professores. Com as aulas suspensas, começaram os debates sobre como ficaria o ano letivo e a qualidade do aprendizado dos estudantes, e uma das soluções para essa situação foram as aulas online. Diferente da educação à distância (EAD), esse ensino remoto não teve o mesmo planejamento e estrutura para funcionar de forma eficaz. Uma das razões que faz as pessoas optarem, geralmente, pela plataforma do EAD é para economizar tempo e dinheiro. Um dos privilégios, e diferenças, da educação remota é o contato direto com os professores, ainda que virtual. Esses ensinos são distintos e não podem ser confundidos, principalmente porque os estudantes neste momento não tiveram escolha, e não tem o controle de sua aprendizagem.
As diferenças e dificuldades nas redes pública e privada
Com a suspensão das aulas, foi preciso buscar novas alternativas para conseguir cumprir o calendário escolar previsto para 2020. Todos os professores e alunos tiveram que modificar suas vidas, tanto os da rede pública como os do ensino particular. Desde o 1º semestre , eles estão tentando se adaptar e entender como ter um melhor aproveitamento das plataformas digitais. Porém está sendo uma experiência difícil e consequências negativas estão surgindo nessa nova fase.
É evidente que o ensino da rede pública está passando por maiores dificuldades, pois a classe social dos alunos influencia muito no momento do acesso aos novos recursos. O Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação realizou uma pesquisa sobre o uso de tecnologias de informação e comunicação em domicílios brasileiros e mostrou que, em 2018, apenas 9% das famílias das classes D e E possuíam computador em casa. Enquanto a classe A apresenta um número de 98%. A situação gerada pela pandemia reforça a grande desigualdade do Brasil e acarreta complicações no ambiente educacional.
Josiane Bezerra professora de Português, Eletivas e Tecnologias trabalha em duas escolas da rede estadual na periferia da Zona Norte de São Paulo. A professora relata que as aulas foram encerradas no dia 18 de março e que o governo não disponibilizou nenhuma plataforma obrigatória para os professores trabalharem, apenas uma apostila que contém o conteúdo de todas as matérias para os alunos retirarem nas escolas. Dessa forma cada, escola está trabalhando do modo que prefere com os alunos, no caso das escolas de Josiane, os professores estão passando as atividades e os conteúdos por meio do Blog das escolas e das páginas do Facebook. Josiane mantém contato com os alunos de outra forma: “Preferi criar um grupo no WhatsApp com meus alunos do 6º ano, estou passando as atividades por lá, acho que assim fica mais fácil minha comunicação com eles, mas ainda não consegui o contato de todos”, relata.
Segundo ela, uma das escolas colou cartazes informativos no portão e espalhou alguns pela região para que os alunos pudessem saber o que fazer, a outra escola já teve uma comunicação melhor, pois já continha um grupo do diretor com todas as mães, então mandaram as informações por lá. Mas relata que a falta de acesso dos alunos à internet está fazendo com que muitos não participem das aulas, “A situação dos alunos é precária, muitas das famílias são numerosas e tem apenas um celular”. Em relação a essa nova experiência a educadora diz “Não estou achando fácil, fico receosa de passar um tema, uma atividade nova e eles não conseguirem aprender, sei que tem alunos que têm muita dificuldade, sem estar presente com ele fica difícil saber se eles estão com dúvida. A falta do olho no olho faz muita diferença.”
Em relação à rede municipal de ensino, o professor de matemática Clóvis Sá, que trabalha na região da Brasilândia, em São Paulo, relata: “No primeiro momento orientamos os alunos a ficarem em casa, mas estávamos atendendo os que vinham. Muitos acabam indo por conta da alimentação ou porque não têm com quem ficar”. Com o tempo a quantidade de alunos foi diminuindo e a escola fechou. Os alunos ficaram sem aula por quase duas semanas, período em que a Secretaria da Educação mandou orientações e os professores tiveram reuniões por meio de vídeo para organizar os modelos de aula e aprender a utilizar a nova plataforma, além de conhecer o novo material. A prefeitura, ao contrário do estado, definiu a plataforma Google Classroom para todos os professores usarem, além de criar uma apostila contendo atividades e o conteúdo de todas as matérias e enviar por meio do correio na casa de todos os alunos. O professor comenta: “Infelizmente nem todos os alunos estão tendo acesso a este material, pois muitas famílias não atualizaram seus endereços na escola, ou colocaram errado”. Para avisar os alunos e mostrar como entrar no aplicativo foi usado a página do Facebook da escola, um cartaz no portão e os diretores estão fazendo atendimentos por meio do telefone da escola e da internet.
“Os professores estão postando vídeos, atividades na plataforma. E estão ficando conectados no aplicativo no horário de aula, no meu caso das 7:00 às 11:50. Temos que ficar on-line para orientar sobre as atividades e tirar dúvidas dos alunos.”, diz o professor Clovis.
Por fim, o matemático desabafa: “Está sendo uma experiência complicada. Acho que a estrutura criada até que foi rápida, mas ainda não é eficaz, não depende só do professor, ela esbarra na dificuldade de o aluno de ter acesso e também na falta de interesse de muitos”.
Já no colégio particular são perceptíveis muitas diferenças, apesar de também apresentarem dificuldades por ser um processo inesperado, os professores e os alunos contêm um suporte maior. Simone Arcanjo é professora de História e Sociologia em um colégio particular na região da Lapa, em São Paulo, diz que assim que ocorreu a suspensão das aulas o colégio teve uma atitude prudente e cautelosa em procurar uma plataforma digital que seria ideal para todos. A instituição resolveu utilizar o aplicativo Microsoft Teams e a partir da decisão começaram a dar treinamento aos professores para aprenderem a usar, “O colégio já tem uma boa experiência com essa parte de tecnologia e dentro do nosso corpo de colaboradores temos os mentores [professores que trabalham diretamente com projetos ligados a tecnologia] e eles estão sempre nos ajudando, passando dicas e tirando dúvidas” comenta, com a presença dos mentores esse processo acabou sendo mais fácil e a professora afirma estar tendo uma experiência positiva. Os alunos ficaram sabendo do novo modelo de ensino por meio do site da escola e estão tendo aulas ao vivo durante o mesmo período que teriam no presencial. Simone relata “Percebo de uma maneira geral que todos têm acesso a internet e tem dispositivos para usar, por conta disso as aulas estão indo bem, em um dos dias conseguimos até fazer um debate durante a aula de história e funcionou”. As atividades estão sendo produtivas e ela comenta que uma das reclamações feitas pelos alunos é em relação a sobrecarga na internet, por conta de terem outros familiares também utilizando no momento.
Relatos dos estudantes
Ao entrevistar alguns estudantes de instituições distintas pode-se perceber que as experiências não estão sendo positivas, mas sim preocupantes.
O estudante de escola pública Lucas Barreto, de 15 anos, conta como foram os primeiros contatos com o ensino remoto e como sua escola tem procedido “No começo, estava sem computador e deixei de entregar algumas atividades por estar sem acesso” e completa “Cheguei a ficar com notas baixas”. Lucas, como muitos outros, é vítima dessa falta de suporte por parte das escolas “Não estão dando apoio para quem está sem acesso aos computadores, só estão dando um tempo maior para entregar as tarefas”. “Nas aulas presenciais dava para absorver melhor porque eu prestava mais atenção. Aqui [em casa] eu tenho que ficar procurando as atividades [nas plataformas]. Às vezes fico sem foco”. Ele também declara ter receio de como vai ficar sua educação “O ensino remoto não tem tanta qualidade quanto o presencial”.
“Tenho sete matérias, e só uma delas está tendo vídeo aula mesmo, então a professora passa [a vídeo aula] e eu assisto a hora que quiser. O resto dos professores está passando capítulos para lermos” conta a estudante de Estatística, Mariana Bastos de 18 anos. A aluna revela que pensou em trancar o curso quando começou a quarentena e chegou a abandonar duas aulas “São matérias muito importantes pro meu curso, que são Probabilidade 2 e Inferência. Eu optei em trancar porque teria consequências na minha carreira [caso fizesse online], então prefiro estudá-la mais pra frente, no presencial”. Mariana diz que sua experiência tem sido negativa por conta de não conseguir se concentrar no estudo e fala sobre como fazia antes da pandemia “Gostava muito de estudar com os meus amigos, a gente se juntava e tirava dúvida um com o outro, fazíamos uma rodinha de estudo”. Mas destaca como uma consequência positiva, a rotina criada por parte dos educandos.
A estudante do terceiro ano do Ensino Médio, Maria Luísa Montebelo de 16 anos, declara preocupação com a qualidade de seu ensino “Tenho muito esse medo de chegar no final do ano e sentir que não adiantou de nada”. “Acho um absurdo não mudarem a data do ENEM porque muitas pessoas dependem só dessa prova pra entrar em faculdades públicas. Em São Paulo ainda temos um leque de outras universidades públicas, mas essa não é a realidade de todos os estados, então pensando num viés mais social, uma coisa mais justa, seria importante reavaliarem a data para não prejudicar as pessoas” conta a aluna sobre a decisão do MEC de não adiar a prova. “A questão da saúde mental pega bastante, principalmente agora no terceiro ano, que já é meio pesado, com tudo isso que está acontecendo”. Maria Luísa relata que de início foi mais complicado lidar com as aulas online, mas que agora os educandos estão se adaptando melhor e que a escola tem se preocupado e está os ouvindo para fazer melhorias nesse ensino.
Ainda que o cursinho pré-vestibular não seja uma obrigação para os estudantes, é importante considerá-lo, pois muitos desses alunos também estão tendo dificuldades no momento do estudo. Felipe Holler, 18 anos, relata que começou o ano com a expectativa de aproveitar todas suas aulas, estudar muito e conseguir passar em uma faculdade, prestando engenharia de produção. Porém a situação atual está deixando-o preocupado, apesar de seu cursinho dar um bom suporte e disponibilizar muitas aulas online ele comenta “Eu gosto bastante dos vídeos, mas está sendo uma experiência ruim, pois não consigo assistir o mesmo número de aulas que assistiria presencialmente. E isso vai me afetar bastante na hora de fazer o vestibular”, ele relata que em casa é difícil manter a mesma concentração e que tenta se distrair fazendo outras coisas também para não prejudicar sua saúde mental.
Saúde mental
Com a chegada da pandemia e com as aulas online, surgiram também questões em relação a saúde mental dos estudantes em um momento tão sério e complicado como esse. Sabemos que escolas e faculdades já sobrecarregam os alunos de atividades com as aulas regulares, agora, em que todos, ou grande parte da população, está em casa, professores entendem que o tempo se multiplica e acabam passando ainda mais atividades.
Em entrevista com a psicóloga Valéria Zold, ela afirma “Os estudantes estão sofrendo não só com a forma de ensino, mas com a mudança que toda essa situação acarretou, e a forma de aprendizado é mais um fator, porque tem uma sobrecarga que não aconteceria em uma situação rotineira”, a profissional ainda afirma que as aulas online prejudicam a qualidade do ensino na questão de que o professor não consegue perceber se o aluno está acompanhando, se ele [professor] está sendo claro o suficiente ou se é necessário fazer alguma adaptação e se atentar aos alunos que apresentam mais dificuldades, pois está conversando com uma tela e não existe o olho no olho que permite essas percepções.
A psicóloga faz ainda uma observação “Não poder sair de casa é um fator que gera estresse, e ultimamente percebo que tudo fica ligado aos estudos e a cabeça não consegue relaxar”. E sugere algumas saídas para que os estudantes consigam se organizar melhor e para não os afetar tanto mentalmente “É necessário estabelecer uma rotina e colocar nela algumas atividades que esteja ligada a um hobby”.
O pós pandemia
Todas as alterações nas formas de trabalho e estudo, que foram necessárias para que a população pudesse continuar a vida normalmente dentro do possível durante a pandemia do Covid-19, geraram também uma série de dúvidas sobre o futuro. Alguns dizem que as relações de trabalho serão as mais afetadas, mas ocorre também um questionamento sobre a área do ensino.
O projeto de transformar cursos presenciais em EAD acontece há alguns anos e com a chegada do vírus e a impossibilidade de aulas presenciais, a tendência é que esse processo que já estava em andamento se intensifique. Para os professores e estudantes existem muito mais fatores negativos do que positivos, e podemos citar entre eles, o aumento no número de desemprego no país, a queda da qualidade do ensino, a perda de um local adequado para os estudos, o estabelecimento de relações líquidas, entre outros. Transformar os cursos presenciais em EAD seria transformar também a educação em um negócio, visando apenas os lucros e descartando a importância do ensino.
Alguns questionamentos surgem nesse momento: como será o ensino quando a pandemia acabar? Será que acontecerão muitas mudanças definitivas?
Desde o começo da quarentena, estudantes de escolas e universidades públicas sentem dificuldades com o EaD (Educação a Distância), todos foram pegos de surpresa com a nova realidade, e com isto veio os obstáculos, a falta de equipamentos e estrutura por parte dos alunos e professores, e muitos estão saindo prejudicados do ensino remoto. Há vários obstáculos para que o EaD seja de uma boa qualidade
Giovanna Occhiuzzo, 20, estudante de Serviço Social, da Universidade Federal de São Paulo, perdeu um semestre do seu curso, pois a instituição não aderiu ao ensino remoto neste primeiro semestre de 2020. A universidade alega que os alunos irão repor as aulas apenas após a pandemia passar, e a instituição diz aderir ao ensino remoto apenas no dia 3 de agosto.
Com as aulas presenciais suspensas por tempo indeterminado, as instituições precisaram se adaptar ao ensino remoto o mais rápido possível, as aulas não poderiam parar, por isso precisou-se encontrar plataformas vídeo chamada confiáveis. Houve grandes adaptações por parte dos alunos e professores.
Também em uma universidade pública, Yuri Marques, 18, estudante de Odontologia da Universidade Estadual Paulista, diz que os alunos ficaram apenas uma semana parados, mas algumas disciplinas não estão dando certo pois as aulas são práticas e precisam de laboratórios. Segundo ele, “uma parte dos alunos diz estar conseguindo aproveitar bem o conteúdo, já outra parte não consegue aproveitar as aulas, pois enfrentam obstáculos como a falta de internet ou por falta de computadores”.
Na universidade, segue ainda o estudante, eles utilizam o Google Meet, para as aulas ao vivo, Moodle para a postagem de eventuais provas ou trabalhos e de vez em quando utilizam o Google Classroom. Marques, alega ter muitas dificuldades com a EaD (Educação à Distância): “tenho dificuldades para acessar as aulas pois minha mãe utiliza o computador não só para ter aulas, ela também faz uma graduação, mas precisa do computador para ministrar as aulas a distância.”
Já Vitória Santana, 15, que estuda na E.E. Isaltino de Mello, alega que “a EaD não está dando certo, pois a plataforma que a escola utiliza acaba travando bastante pela quantidade de alunos entrando ao mesmo tempo”. A escola teria demorado ainda um mês após o início da quarentena para começar as aulas remotas e para se adaptar.
Muitos alunos nas escolas da rede pública não têm condições financeiras para ter aula remota. Com isto acabam, saindo prejudicados. Vitória conta que a maior dificuldade é a comunicação com os professores, pois são muitos alunos assistindo a aula ao mesmo tempo.
Ana Paula da Silva, professora da rede pública, e de escola Praticar, diz que as diferenças são bem perceptíveis, pois na escola particular a maioria dos alunos tem acesso à aula remota sem problemas, enquanto na escola pública a maioria dos alunos não conseguem ter acesso por falta de recursos.
A professora conta que “não é possível ter certeza se o aluno está mesmo absorvendo o conteúdo passado nas aulas remotas, pois muitas vezes ele pode se distrair no meio da aula”. Ela ainda diz que, mesmo com avaliações online, “não é possível saber se a avaliação está sendo feita com alguma consulta ou até mesmo uma ajuda”.
Com as dificuldades que estão sendo enfrentadas com o EaD, ele pode ser uma ferramenta interessante, apenas quando tudo voltar ao normal, entretanto nada substitui uma aula presencial, talvez em uma situação para que seja utilizado o EaD em determinados pontos e situações, como por exemplo, marcar uma aula extra para alguns alunos e na questão do apoio a um aluno que esteja com dificuldades.
Por Guilherme Tedesco e Henrique Soto
Os esportes eletrônicos, conhecidos como e-sports, são competições de jogos eletrônicos transmitidas para seus fãs ao redor do mundo. Os e-sports englobam quatro grandes partes para que um jogo tenha sucesso e durabilidade: as empresas de e-games, os campeonatos, os jogadores e as plataformas de transmissão ao público. Com esses elementos combinados, a indústria dos games atinge lucros gigantescos, que já passa da casa dos milhões. E tende só a crescer cada vez mais. Ainda mais com o novo modo de vida durante a pandemia do coronavírus.
Um dos poucos mercados que cresceu mais ainda durante a quarentena foi definitivamente o de e-sports. Com mais tempo em casa, as pessoas têm procurado formas de distração e entretenimento. Os que já gostavam dos jogos eletrônicos, mas que não ficavam muito tempo confinados, puderam voltar a seus passatempos. E também aqueles que estão conhecendo esse mundo divertido agora.

“Estamos vivendo um momento de grandes recordes nos e-sports, de audiência e streams. Eu vejo um paralelo com o UFC, que a partir do momento que tem audiência, as pessoas passam a ter interesse em entender aquele mercado, por mais que não conheça.", explica o CEO e Co-Founder da maior plataforma de e-sports da América Latina, a Gamers Club, Yuri “Fly” Uchiyama.
Um dos recordes destacados por Uchiyama foi o de espectadores simultâneos em uma mesma transmissão. No fim de junho, a maior marca pertencia ao Campeonato Brasileiro de League of Legends (CBLOL) com 269 mil espectadores. Porém, na semana posterior, um streamer brasileiro alcançou incríveis 396 mil pessoas simultâneas na plataforma de streaming Twitch. Gaules, o maior streamer brasileiro, transmitia o jogo Counter-Strike: Global Offensive (CS:GO).
A respeito desse expressivo número de espectadores, Luiz Gustavo Pacete, jornalista e pós-graduado em Inovação, Design e Estratégia pela ESPM, diz que era algo que já tinha chamado a atenção das empresas. “Os grandes eventos, as arenas chamaram muito a atenção principalmente dos anunciantes. Acho que quando você materializa o pessoal acompanhando, mesmo aqueles que não eram a audiência, isso chamou muito a atenção. Era um ativo muito importante para as marcas”. . “E obviamente nesse momento existe a ausência desse cenário das arenas, mas a gente tem recordes e recordes de streamers e audiência”, complementa.
No entanto, os e-sports começaram a ter grande sucesso somente nos últimos anos, mais precisamente a partir da segunda metade da década de 2010. Antigamente os e-sports não tinham vida fácil. Um dos grandes problemas vividos no começo desse mundo, no início dos anos 2000, era a falta de compreensão das marcas e de resultados para as marcas patrocinarem os eventos da época. Isso se dava principalmente pela ausência de formas de comunicação entre os jogadores e o público/audiência. Naquele tempo a transmissão ao vivo era somente por texto em tempo real. Depois veio o áudio. E hoje, com a tecnologia, são transmissões ao vivo com ótima qualidade e muitos profissionais envolvidos, além de diversos empregos disponíveis para esse mercado.
A profissionalização do mundo dos e-games ajudou a aumentar a audiência. Segundo o instituto de pesquisa Newzoo, 13% da população brasileira assiste a vídeos relacionados a esportes eletrônicos. A pesquisa é de 2018 e certamente a porcentagem já cresceu. O aumento da audiência nos últimos anos proporcionou a chegada de marcas não-endêmicas, ou seja, marcas que não possuem nenhuma ligação com os e-games. "Fly" comenta sobre a entrada de marcas nos e-sports. “Isso vai fazer com o e-sport cresça. Todo e-sport precisa de dinheiro e os investimentos e patrocínios são extremamente necessários. Hoje o esporte eletrônico cresce bastante pelo amor das pessoas envolvidas, dos investidores e, agora, com a chegada das marcas”, finaliza.
Atualmente, empresas gigantes patrocinam times, jogadores, empresas e eventos de e-games. Gillette, Netshoes, Unilever, Redbull são alguns exemplos de patrocinadores. O McDonalds decidiu, no final de 2018, encerrar o investimento na liga alemã de futebol para continuar investindo em E-Sports. Times do futebol brasileiro também estão começando a investir nesse mercado.
Luiz Gustavo destaca que uma das principais dificuldades era, e segue sendo, o convencimento dos mais poderosos nas empresas. “A gente sempre falava que o desafio era convencer os tomadores de decisões, mostrar para eles a importância do cenário. Eles até sabiam que o filho ou a filha jogam Fortnite, mas trabalhando em casa esse período e tendo mais contato com os filhos, acho que eles começaram a entender também a força da cultura gamer”.

Para o jornalista colaborador do e-Sportv/Globoesporte.com, Bruno Povoleri, o mercado do e-games se encontra, ao mesmo tempo, consolidado e com espaço para crescer ainda mais. “É um mercado consolidado e promissor ao mesmo tempo, visto que, independentemente do atual patamar, vivemos em um mundo que já é e tende a ser cada vez mais tecnológico”, afirma. Ele complementa falando a respeito do público jovem. “Não é loucura afirmar que, dadas as devidas proporções, o menino que antigamente jogava bola na rua, atualmente passou a preferir os games”.
Em relação a esse desejo atual de boa parte dos jovens de se tornar profissional, Yuri comenta que não é uma jornada fácil e garantida e fala como utilizar o tempo aplicado praticando o jogo. “Liderança, comunicação, pensamento estratégico, networking são algumas habilidades que você pode desenvolver como ‘player’ para ser um profissional melhor no futuro. Para que você possa se divertir, tentar chegar lá como profissional, mas, se não der certo, que você possa aplicar esse tempo usado em outros âmbitos da sua vida. Eu acredito muito que o esporte eletrônico é também uma ferramenta de desenvolvimento pessoal e profissional, assim como qualquer outro esporte.”
Um dos temas que vem chamando atenção no cenário dos e-games é a relação com a música. Recentemente, o rapper Travis Scott, um dos principais cantores da atualidade, lançou sua nova música “The Scotts” em um show exclusivo no jogo Fortnite. Luiz Gustavo destaca a importância dessa relação simbiótica "Eu acho fascinante essa discussão porque essa conexão entre música e games e cultura digital é super importante e é sim uma tendência”. Ademais, o jornalista destaca o potencial comercial dessa parceria. “Isso chama muito atenção das marcas. Não é só sobre games, sobre jogador, é também sobre pessoas que gostam de unir essas duas culturas. Eu vejo como uma tendência e um tema para a gente ficar muito ligado porque vai rolar muitas coisas nos próximos meses”.
Sobre esse tema da relação dos jogos com a música, Bruno Povoleri argumenta que, apesar de ser algo que já acontecia antes, é um caminho que ainda vai ser trilhado nos próximos anos. “A inclusão da música no mundo dos games acontece há um bom tempo, mas com o Fortnite como carro-chefe, isso ganhou ainda mais notoriedade em um passado recente”. O colaborador do e-Sportv ainda discute que a relação é boa para ambas as partes, jogos e música “Essa nova conexão entre os dois segmentos é uma parceria que parece ser essencial para ambos os lados, que tendem a crescer concomitantemente e podem estar criando uma aliança extremamente dominante para o futuro”.
Outro tema que vem sendo muito debatido ultimamente é a questão de machismo no cenário dos jogos eletrônicos. Assim como nossa sociedade, o meio ainda é muito misógino e dominado por homens. Para Luiz Gustavo, é, de fato, algo que precisa ser falado e melhorado. “Precisa existir uma evolução nesse sentido, mas acho que o próprio ecossistema e as próprias comunidades tão vendo a necessidade disso, que não é uma bolha”. O jornalista complementa que isso também é uma demanda das marcas patrocinadoras. “Esse ponto sempre quando pega nas marcas, elas tão sendo muito cobradas por propósito e têm se posicionado muito.[...] Tem uma evolução, ainda precisa melhorar e é um ponto que as marcas ficam muito atentas e sempre questionam”.

A respeito das questões de gênero, Yuri “Fly” comenta que cada empresa possui suas próprias políticas na hora de organizar um campeonato/evento e que não há uma organização comum que cria essas diretrizes. Ele cita a própria empresa como exemplo. “Na Gamers Club, criaram dois tipos de eventos, os gerais e os específicos. Os específicos foram criados de acordo com os pedidos do público, que é chamado de comunidade. Como por exemplo campeonatos universitários e as ligas femininas. Para fomentar alguns cenários específicos, são criadas ligas específicas. Quem joga a liga feminina pode jogar a liga profissional. E no caso da organização da liga feminina os termos são a maneira com que a pessoa se enxerga e se declara”.
Além do sucesso extraordinário nos últimos anos, tanto no Brasil, como no mundo, os e-sports foram um dos únicos mercados que cresceu durante o período de restrições sociais por conta do novo coronavírus. Tido como apenas um momento lúdico para muitos, os jogos eletrônicos são coisa séria para muita gente e movimenta bilhões anualmente. Já consolidados e também com espaço para crescerem mais ainda, os esportes eletrônicos caminham a passos largos para ser o sonho de profissão de muitos jovens no país e um dos gigantes do mercado globalizado.
O Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) aconteceria em novembro desse ano. Mas aí veio a pandemia e tudo mudou. A nova data do vestibular será entre dezembro e janeiro de 2021. No entanto, surge o questionamento se é justo que a prova ocorra. Para Lucas Felipe Guimaraes, estudante na Fundação Bradesco em Osasco, isso é “injusto”. Ele irá prestar o vestibular tentando uma vaga para Arquitetura, focando nas faculdades públicas.
O estudante não se conformou com a manutenção do concurso considerando as diferenças entre o ensino a distância de escolas privadas, para as públicas e defende o cancelamento . “Na minha escola, que é pública, houve a flexibilização do horário, só daí perdemos muita matéria”. Além disso, ele diz que não está conseguindo absorver o conhecimento necessário: “É muito difícil se concentrar mais de uma hora olhando para o celular ou computador e não entrar em alguma rede social, distraindo-se; fora que não tem como aprender física olhando para uma tela”.
Sendo assim, Guimaraes conclui que o melhor seria se houvesse duas provas. “Acredito que ter uma prova para escolas públicas, e outra para as privadas, seria a maneira mais justa diante dessa situação, ou até separar o número de vagas dividindo cinquenta por cento para cada”.

Já Felipe Siufi, estudante do Colégio Pentágono em Alphaville, discorda da opinião do colega. Ele pretende estudar Engenharia de Produção e irá fazer a prova do Enem para tenta entrar na UNICAMP. Dessa forma, Siufi acredita que o adiamento do Enem não conseguirá mudar nada de maneira relevante, “não acho que em um mês os alunos das escolas públicas conseguiriam pegar todo o ensino de cem dias de aula online; então, o adiamento só causaria o esquecimento dos outros de todo o conteúdo”.
Porém, assim como o estudante de Osasco, o futuro engenheiro também acha a qualidade da EAD precária: “É impossível prestar atenção porque você assiste deitado, um ou outro levanta e vê a aula de forma séria”. Junto ao tema, ele falou que nesse tipo de ensino há mais distrações do que se comparar com a aula presencial. “Parar de prestar atenção é muito mais fácil porque se estiver na aula e conversar vão me chamar a atenção, diferentemente do EAD que posso simplesmente desligar, ou entrar na aula e fazer outras coisas”.
Ademais, o estudante do Pentágono diz que pelo estudo ser online as provas que antes eram individuais agora tornaram-se coletivas: “Nos últimos finais de semanas eu tive 3 simulados, toda a sala estava colando, e quem fazia mesmo, pelo menos dava uma verificada para ver se está correto” afirma dando uma risadinha. Portanto, Siufi fala também sobre o seu aproveitamento, “acho que estou em vantagem por estar em escola privada, mas não estou aproveitando, tem gente em escolas públicas que não tem a oportunidade e aproveitariam muito mais que eu”.
Beatris Ponce que está fazendo cursinho no Etapa de Ana Rosa, fala que não achou justo o adiamento da data do Enem, mas que não há outra saída. “Não tem como cancelar e perder um ano, o mínimo era adiar mesmo; e não só por minha causa, mas principalmente por quem estuda em escolas públicas ou não tem acesso à internet”.
Ela deseja entrar na USP para cursar Direito, no entanto, vê grandes desafios devido à improdutividade do estudo a distância: “É muito difícil de se concentrar em casa, além de que eu absorvo menos coisa, pessoalmente você pode tirar dúvida, online é mais superficial”. Outro ponto destacado dela foi que, diferentemente dos estudantes anteriores, Ponce não tem aula ao vivo, “por um lado é bom que posso pausar, mas por outro eu enrolo muito e acúmulo mais coisa”.
Por fim, no caso dela, existe a possibilidade de largar o cursinho, distante da realidade dos alunos que ainda estão na escola e querem também ter o ensino médio completo. Contudo, ela não pensa em largar, “vou continuar no cursinho mesmo se o segundo semestre for EAD porque apesar de ser muito diferente a qualidade da aula, cheguei à conclusão de que muitas pessoas estão desistindo, então ainda tenho chances, vale a pena persistir".
O entregador de aplicativo Renato Sicero, de 31 anos, é um entre os milhares de
entregadores que não pararam de trabalhar por causa da pandemia do novo coronavírus na
grande São Paulo. Há quatro anos Sicero percorre vários quilômetros pela Vila Matias, onde
mora, e pelo bairro do Tatuapé onde há maior demanda de pedidos do aplicativo Rappi.
Mesmo com salário menor, segue fazendo entregas diariamente.
“A demanda aumentou um pouco, mas antes da pandemia as taxas eram melhores, você fazia
10 entregas e já ganhava 100 reais, cento e pouco, hoje pra fazer 100 você tem que fazer
14/15 entrega”, diz Sicero.
O motociclista recordou que duas semanas atrás atendeu uma encomenda de supermercado e
ganhou pelos 6km rodados e os 10kg carregados o valor de R$ 7,50. “Foi bem menos do que
eu recebia antes, a mesma corrida eu ganharia por volta de uns 15 reais”, conta.
Sicero menciona a necessidade de seu trabalho e traça planos para o ano que vem. “Eu
trabalho por necessidade, e minha mulher está desempregada, sabe? Minha renda depende do
aplicativo, eu não tenho serviço físico, e também vou me casar ano que vem aí preciso mais
ainda do dinheiro, ainda não está marcado por causa da pandemia que atrapalhou nossos
planos.”
Já a situação de Hugo Siqueira de 34 anos, morador da Vila Nova York é diferente. Siqueira
trabalha há 2 meses como entregador do Uber Eats e viu na pandemia uma oportunidade de
“tirar um dinheiro a mais”.
“Vi a moto de um amigo encostada em um canto e resolvi fazer uma grana”. Siqueira
trabalha como técnico de radiologia em um laboratório no Tatuapé, e se aproveita da boa
localização para fazer as entregas. “Esse lado aqui da zona leste é onde tá mais pegando as
entregas por causa dos bares, restaurantes e tudo mais. Eu saio do laboratório, já ligo o
aplicativo e vou fazer a correria.”
O entregador revela quanto tem faturado em média nos últimos meses. “Eu estou tirando em
média 60 reais por dia, mas trabalhando bem, trabalho mais ou menos umas 7 horas direto,
sexta por exemplo eu trabalhei das 11 da manhã até as 6 horas da tarde.”
Siqueira também revela ter medo da exposição ao vírus: “eu tomo os cuidados básicos, uso
mascara, sempre passo álcool em gel e também evito o contato direto com o cliente, mas
mesmo assim o medo existe, pelo menos eu moro sozinho, então se eu pegar o vírus não vou
passar pra ninguém.”
Embora more sozinho, Siqueira não deixa de tomar os cuidados em casa. “Eu chego, já deixo
o tênis do lado de fora pra não entrar nada, coloco toda a roupa pra lavar e vou direto tomar
um banho, são essas as precauções que eu tomo.”
Denner Montie, de 41 anos, partilha dos mesmos medos e receios, residente na Vila
Formosa, ele se desloca todos os dias para a região do Tatuapé há mais de 1 ano e meio,
sempre com sua motocicleta e seu baú do Ifood, mas a situação já não é mais a mesma.
Montie diz que tem dias que quase não faz entregas por conta da grande concorrência nessa
pandemia. “Agora com o desemprego muita gente tá trabalhando com o aplicativo, a
concorrência ta grande, hoje mesmo eu só consegui fazer 2 entregas daqui a pouco to indo
embora”.
Entregador Denner Montie. OTÁVIO RODRIGUES PRETO
O entregador é outro que reclama que está trabalhando mais e recebendo menos. “Antes os valores eram bem melhores agora caiu bastante, antes eu tirava 150 reais por dia, hoje com sorte eu tiro 50/60 por dia.”
Em uma pesquisa feita pela Rede de Estudos e Monitoramento da Reforma Trabalhista (Remir Trabalho) ouviu 252 pessoas de 26 cidades entre os dias 13 e 20 de abril por meio de uma pesquisa online. Os dados da pesquisa revelaram que, antes da pandemia 48,7%, dos entregadores recebiam, no máximo, R$ 520,00 semanais. Durante a pandemia, estes passaram a ser 72,8% dos entrevistados.
Apenas 25,4% dos cadastrados nas plataformas de entrega dizem ganhar acima desse valor na quarentena, o equivalente a R$ 2.080 por mês. Antes, eram 49.9%.





