Como um autodidata ousado desafiou a lógica e transformou a cidade de pedra
por
Catharina Morais
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06/12/2024 - 12h

A Rua Maranhão, em Higienópolis, é como um refúgio dentro de São Paulo, cheia de histórias para contar em cada esquina. Com suas árvores sombrias e prédios de tirar o fôlego, como o icônico Vila Penteado da FAU-USP, a rua já foi endereço de gente famosa, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É  só chegar na esquina com a Rua Sabará que tudo muda: o Edifício Cinderela simplesmente rouba a cena.

 

Edifício Cinderela, inaugurado em 1956 - por Catharina Morais
Edifício Cinderela, inaugurado em 1956 - por Catharina Morais

 

De longe, ele parece uma obra única, e é. Em uma São Paulo historicamente cinzenta e funcional, o Cinderela é uma explosão de cores, criatividade e formas. Não é um simples prédio construído para abrigar pessoas - só a beleza de sua arquitetura que chama atenção; há algo mais ali - características visionárias que antecipavam o futuro da vida urbana. Era um sonho do "American way of life", ajustado à realidade brasileira.

Mas quem ousaria conceber um prédio tão peculiar? Conhecido como o "arquiteto maldito", João Artacho Jurado era uma figura à margem da elite arquitetônica. Nascido em 1907, no bairro do Brás, filho de imigrantes espanhois, ele começou a carreira como letrista, desenhando cartazes e estandes para feiras industriais. Apesar de nunca ter cursado arquitetura, Jurado demonstrava um talento inato para transformar ideias em construções. 

 

Edifício Parque das Hortênsias na Avenida Angélica - por Catharina Morais
Edifício Parque das Hortênsias na Avenida Angélica - por Catharina Morais

 

Na São Paulo das décadas de 1940 e 1950, dominada pelo rigor do modernismo — com suas linhas retas, geometrias simples e desprezo por adornos —, Artacho parecia um transgressor. Seus prédios eram uma celebração do que se recusava a ser discreto. Inspirados pelo glamour de Hollywood e pela opulência europeia, eles misturavam o clássico e o kitsch, sem medo de causar estranhamento.

 

Edifício Viadutos localizado no bairro Bela Vista - por Catharina Morais
Edifício Viadutos localizado no bairro Bela Vista - por Catharina Morais

 

Edifícios como o Bretagne, o Viadutos, o Louvre, o Planalto e, claro, o Cinderela se tornaram símbolos dessa visão. Vibrantes, ornamentados e quase teatrais, eles destoavam do rigor técnico da arquitetura predominante. Não à toa, sua obra era amada pelo público, mas odiada por muitos arquitetos da época.  

A controvérsia em torno de Artacho ia além do estilo. Por ser autodidata, ele não tinha licença para assinar seus projetos, dependendo de engenheiros formados para legitimar suas obras. Esse fato era visto como uma afronta pela elite acadêmica, que o apelidou de "arquiteto maldito".  

 

Fachada do Edifício Piauí construído entre 1948 e 1952 - por Catharina Morais
Fachada do Edifício Piauí construído entre 1948 e 1952 - por Catharina Morais

 

Além disso, seus prédios eram frequentemente criticados como "bregas" e "excessivos". Contudo, essas críticas pouco afetaram Artacho, que usava sua visão como combustível para inovar. Ele fazia de suas inaugurações verdadeiros espetáculos, com bandas, celebridades e políticos. Eram eventos tão grandiosos quanto os edifícios que celebravam.  

Artacho não só projetava prédios; ele os desenhava por completo, dos cobogós aos gradis, dos lustres à tipografia das fachadas. Cada detalhe era pensado para oferecer uma experiência que ia além da funcionalidade. Ele também foi pioneiro em incluir áreas comuns de lazer, como piscinas e salões de festa, em uma época em que essas comodidades eram raras.  Seu público-alvo, a classe média emergente, via nos edifícios de Artacho um sonho acessível. Eram mais que lares; eram convites para uma vida moderna e comunitária.  

 

Edifício Bretagne, um marco arquitetônico com sua planta em ‘L’- por Catharina Morais
Edifício Bretagne, um marco arquitetônico com sua planta em ‘L’- por Catharina Morais

 

Apesar das críticas em vida, o trabalho de Artacho foi reavaliado nas décadas seguintes, sendo hoje considerado um marco do modernismo tropical. Seus edifícios, antes tidos como aberrações, tornaram-se símbolos de uma São Paulo mais vibrante e humanizada.  

O Edifício Cinderela, com sua paleta de cores e seu charme cinematográfico, continua a ser um lembrete do que Artacho buscava: romper padrões, acolher o inesperado e dar à cidade algo que ela não sabia que precisava. 

Mais do que o “arquiteto maldito”, Artacho Jurado foi um visionário que se recusou a ser limitado pela lógica ou pelas convenções. Sua obra é um testemunho da coragem de colorir o cinza e de transformar o banal em extraordinário.

 

Edifício Louvre no bairro da República, tombado desde 1992 pelo Conpresp - por Catharina Morais
Edifício Louvre no bairro da República, tombado desde 1992 pelo Conpresp - por Catharina Morais

 

Importante área de preservação e pesquisa ambiental é também um lugar a se visitar e descobrir em São Paulo
por
Pedro Bairon
João Pedro Stracieri
Vítor Nhoatto
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28/11/2024 - 12h

Localizado na zona sul da capital paulista, entre os portões 6 e 7 do Parque Ibirapuera, eis um berço da vida. Criado formalmente em 1928 após a transferência do bairro Água Branca para onde está até hoje, o Viveiro Manequinho Lopes é um dos três administrados pela cidade e o maior deles. São ali produzidas milhares de espécies para a cidade e também a todos os interessados em arborizar suas propriedades. 

Seu nome faz alusão ao diretor da então recém-criada Divisão de Matas, Parques e Jardins, Manoel Lopes de Oliveira Filho, conhecido como Manequinho Lopes. A homenagem foi dada após ele plantar eucaliptos na região até então pantanosa e aos seus esforços contínuos para manter o viveiro de pé após o pedido de remoção em 1933 para a construção do parque. 

A reivindicação da prefeitura na época não foi para frente também pela necessidade cada vez maior de produção de mudas para a cidade, e foi Manequinho um dos responsáveis por essa mudança de perspectiva. Após a sua morte em 1938 o viveiro municipal enfim recebeu o seu nome atual, e segue hoje sendo de extrema importância para a cidade e meio ambiente, apesar de pouco conhecido e divulgado.

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Com uma área de 4,8 hectares e uma imensidão de plantas o Viveiro Manequinho Lopes pertence ao Parque do Ibirapuera, e seu acesso pode ser feito direto do parque pelo portão 7, ou pelo portão 6 - Foto: Vítor Nhoatto
2
Adentrando no complexo com certeza muitas espécies serão familiares, afinal, o local é responsável por fornecer as mudas que são plantadas pela cidade como esta, conhecida popularmente como Coração Magoado - Foto: Vítor Nhoatto
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São ao todo 10 estufas (casas de vegetação), 97 estufins (canteiros suspensos), 3 telados como o da foto (estruturas cobertas com tela de sombreamento) e 39 quadras (mudas envasadas) - Foto: Vítor Nhoatto
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O Viveiro ainda é um laboratório da flora, onde são feitas pesquisas para o aprimoramento e desenvolvimento de novas variações de plantas como na estufa 5 na imagem - Foto: Vítor Nhoatto
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Cada lote de plantas possui a sua identificação científica, quantidade, data de cultivo e um técnico responsável, que rega e anota diariamente a temperatura máxima e mínima atingida em cada estufa - Foto: Vítor Nhoatto
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A instituição também é um importante centro de preservação de espécies nativas, pela reprodução e manutenção de exemplares como este no meio do Viveiro - Foto: João Pedro Stracieri
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Para além de todas as descobertas sobre a flora, muitos pássaros frequentam o viveiro, tal qual esse Sabiá Laranjeira, a ave símbolo do Brasil - Foto: João Pedro Stracieri
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Espécies que requerem mais cuidados como as orquídeas, exóticas como as suculentas e variações menos comuns como esta da foto também são produzidas no Viveiro - Foto: Vítor Nhoatto
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Tal qual um parque, o Viveiro possui áreas de convivência, bebedouros e lixeiras para os seus visitantes, sempre com entrada gratuita, apenas pets nao sao permitidos devido ao cuidado exigido com as mudas - Foto: Vítor Nhoatto
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São disponibilizados ao longo do caminho mapas, avisos sobre os cuidados exigidos e placas informativas sobre a função e funcionamento das estruturas - Foto: Vítor Nhoatto
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Apesar de ficarem na maior parte do tempo fechadas para visitação, pelo menos duas vezes ao dia os técnicos abrem para rega e checagem, possibilitando a apreciação dos visitantes sortudos - Foto: Vítor Nhoatto
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E para os que quiserem é possível agendar visitas guiadas pelo número do Viveiro entre às 7h e 16h de segunda a sexta e até mesmo adquirir mudas mediante solicitação no portal 156 da prefeitura - Foto: Vítor Nhoatto

 

Situado no histórico bairro de Higienópolis, o lugar é testemunho vivo da evolução da cidade
por
Leticia Alcântara
Sophia Razel
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28/11/2024 - 12h

Localizado no coração do bairro de Higienópolis, o Parque Buenos Aires é um refúgio no meio da rotina agitada de São Paulo. Construído em 1913, com a finalidade de ser um espaço de lazer para elite paulistana, o local foi inspirado nos parques europeus. O terreno, que inicialmente foi projetado para ser um loteamento residencial de casas de alto padrão, hoje é símbolo de tranquilidade e calmaria para os moradores da região.  

Antigo mirante do parque
Mirante da Praça Buenos Ayres, com a vista do Vale do Pacaembu - Reprodução / Acervo /  Estadão Conteúdo / Laboratório Buenos Ayres 

 

Pessoas passeando no parque
Família caminhando em pequena trilha do Parque Buenos Aires - Foto: Letícia Alcântara
Pessoas a anos atrás tirando fotos no parque
1919, pessoas diante da obra Anfritite e Tritão. Foto: Reprodução / Facebook/ São Paulo Antiga
Fonte no Parque Buenos Aires atualmente, um dos destaques do espaço - Foto: Leticia Alcântara
Fonte no Parque Buenos Aires atualmente, um dos destaques do espaço - Foto: Leticia Alcântara

Tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo em 1992, o Parque Buenos Aires foi projetado pelo arquiteto paisagista francês Bouvard. Com o passar do tempo, o local foi se transformando e modernizando. Atualmente o parque possui cerca de 22 mil metros quadrados, repletos de muita vegetação e áreas de lazer, com espaço para pets e parquinho para as crianças. 

Área para animais de estimação
Cercado para cães próximo a entrada do Parque, localizado na Av. Angélica - Foto: Letícia Alcântara
Área para crianças
Crianças brincando no playground, cercado pela vegetação do Parque Buenos Aires - Foto: Sophia Razel
Crianças brincando na fonte no passado
Vista da Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis em 1958 - Reprodução / Folhapress / Gazeta SP 

O local também dialoga com a arte e possui algumas esculturas emblemáticas, como “O Tango”, de Roberto Vivas, em bronze e granito, 'Mãe' de Caetano Fraccaroli, esculpida num só bloco de mármore, além de uma cópia em bronze da escultura “Emigrantes”, de Lasar Segall. 

Monumento do parque
Escultura, em bronze, “Emigrantes”, de Lasar Segall - Foto: Sophia Razel  

Mesmo com as inegáveis raízes alicerçadas em um contexto de elitização, a importância cultural e histórica do local é inegável. Sua existência é um símbolo da memória urbana que deve ser preservada, entretanto, tendo em vista a necessidade da democratização do espaço, que permanece cheio de memórias e significado ao longo das décadas. 

Estatua do parque
Estátua 'Mãe' de Caetano Fraccaroli, localizada no Parque Buenos Aires, simboliza proteção e acolhimento, homenageando a maternidade - Foto: Letícia Alcântara

Com sua localização privilegiada e ambiente sereno, o Parque Buenos Aires é um dos grandes patrimônios verdes da cidade, oferecendo aos paulistanos uma verdadeira pausa no cotidiano urbano.

 

Com 70 anos de carreira, se consagra como o maior fotojornalista do país
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
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21/11/2024 - 12h

Neste mês de novembro, o Brasil perdeu um grande fotógrafo. Ao longo de sete décadas, o fotojornalista Evandro Teixeira se tornou uma referência na fotografia documental brasileira, capturando momentos cruciais do país e imortalizando, com suas imagens, as transformações sociais, políticas e culturais.

Teixeira não foi apenas um fotógrafo, mas um contador de histórias. Durante 70 anos de carreira, seu trabalho transcendeu a simples captura de imagens, tornando-se uma ferramenta essencial na compreensão de momentos decisivos para o Brasil.

 

A lente do compromisso

         O fotojornalismo, como área profissional, exige mais do que a técnica fotográfica; exige comprometimento com a verdade e com a representação fiel dos fatos. Teixeira deixou isso bem claro durante toda a sua vida, ao se dedicar nesse trabalho durante um período de grandes transformações políticas e sociais, desde a ditadura militar até hoje.

         Suas fotos não apenas documentam, mas também provocam reflexões sobre o papel da imagem no campo jornalístico e no impacto de uma fotografia na construção da memória coletiva.

 

Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968
Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O início da jornada

         Natural da Bahia, de Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, saiu de sua terra para fotografar o Brasil. Em quase 70 anos de atividade, 47 deles no Jornal do Brasil, registrou o golpe de 1964 e as manifestações estudantis de 1968.

Ao longo da década de 1970, ele se tornou um dos principais fotógrafos da revista Realidade, uma das publicações mais inovadoras do período. Foi nesse momento que Evandro fotografou suas fotos mais conhecidas, em que aprendeu a trabalhar sob pressão, capturando a tensão e os conflitos da ditadura militar.

         Além de sua atuação no Brasil, Teixeira teve uma carreira internacional, cobrindo grandes eventos como a Revolução Nicaraguense (1979) e a guerra civil em El Salvador. Fotografou a Rainha Elizabeth e eternizou imagens icônicas de Ayrton Senna e Pelé. É difícil dissociar seu trabalho de qualquer evento no país que ocorreu durante a segunda metade do século XX.

Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968
Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O fotógrafo foi alvo de perseguição, sendo várias vezes ameaçado e perseguido pelos militares. Mesmo com os riscos, ele continuou a registrar a realidade do regime, contribuindo de maneira significativa para a memória histórica do período.

 

Legado e reconhecimento

O trabalho de Evandro Teixeira foi amplamente reconhecido, com exposições em museus e galerias ao redor do mundo. Ele também foi premiado diversas vezes por sua contribuição ao fotojornalismo, consolidando seu nome como um dos mais importantes do Brasil.

Em um dos seus maiores feitos, em 2013, Teixeira foi agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog, uma das maiores honrarias da área, por sua contribuição ao jornalismo e ao combate à censura e à opressão.

Seu legado vai além das inúmeras fotos que tirou, mas uma documentação completa dos principais momentos do Brasil. Retratou lutas e vitórias de um povo em busca de liberdade e justiça Suas imagens retratam isso, não apenas registrar a realidade, mas também as emoções que a história carrega consigo. 

 

Novos dados do IBGE revelam como o êxodo rural transforma as paisagens do Brasil
por
Catharina Morais
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21/11/2024 - 12h

A manhã no Sítio São João - também conhecido como “a roça”-, em Muzambinho, Sul de Minas Gerais, começou lenta. O céu carregava nuvens espessas, como um teto cinza sobre a paisagem. A chuva fina deixava pequenas trilhas na terra vermelha, enquanto o aroma das folhas de café se misturava com o perfume de terra molhada. O mundo parecia suspenso num silêncio, quebrado apenas pelo sopro do vento e o canto tímido dos pássaros.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
      Paisagem de Muzambinho, inteiror do Sul de Minas Gerais - por Catharina Morais


No horizonte, o verde dos cafeeiros se estendia como um tapete irregular. Urubus, com suas asas abertas, ficavam como vigilantes sobre aquele espaço amplo e quase intocado. Ali, a vida segue em um ritmo que parece imutável, mas, na realidade, carrega as marcas de profundas transformações. Dados recentes do Censo Demográfico do IBGE escancaram uma realidade em que o Brasil se afasta das zonas rurais, cada vez mais engolido pelas grandes cidades.
 

Sítio São João- por Catharina Morais
                     Urubus pousados na cerca do Sítio - por Catharina Morais

 

Divulgado em novembro de 2024, o Censo Demográfico 2022 aponta que, do total de 203,1 milhões de brasileiros, 177,5 milhões (87,4%) vivem em áreas urbanas, enquanto 25,6 milhões (12,6%) permanecem em áreas rurais. A nova metodologia do IBGE, que classifica as áreas de acordo com sua morfologia e funcionalidade, expõe um êxodo silencioso que esvazia espaços como o Sítio São João.  

 

Sítio São João- por Catharina Morais
      Vista do interior do cafezal no Sítio São João - por Catharina Morais 

 

Mas, ali, o tempo parece ter sua própria lógica, um compasso que desafia as pressões urbanas. O pé de café, despido após a colheita, parecia revigorado pela água que escorria lenta pelas folhas. Na simplicidade daquele lugar, o Brasil profundo ainda respirava, resistindo ao avanço do tempo. Cada cheiro, cada som, cada sombra projetada na terra carregava memórias de um passado que se recusa a desaparecer.  

 

 

Sítio São João- por Catharina Morais
             Plantação de café do Sítio São João - por Catharina Morais

Naquela região, a "mineirice" se revela em cada gesto, em cada palavra arrastada, no cuidado com a terra e nas memórias que ela preserva. A simplicidade do lugar ganha força na conexão íntima com a natureza. Ali, não se vê o vazio de um latifúndio sem alma, mas uma roça onde há harmonia de um espaço onde o trabalhador, dono da terra, é parte de sua essência.  
Mas o que é viver numa roça? No caso do Sítio São João, é a história de Carlinho Tuka e sua esposa, Terezinha, que respiram essa realidade desde que nasceram. Ela, natural de Monte Belo, cidade vizinha, nasceu na fazenda e cresceu trabalhando para a terra e cuidando da vida que ali florescia. Hoje, cultiva sua horta e cuida dos animais com carinho, como aprendeu desde a infância. Eles vivem com uma autonomia que mais de 170 milhões de brasileiros sequer imaginam.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
Casa Principal do Sítio São João - por Catharina Morais


Enquanto muitos , moradores da “cidade grande”, temem as transformações do tempo e as exigências de um mundo moderno, ali, o silêncio esconde um outro tipo de vida. A conexão com a natureza e a noção do tempo, ditado pelo sol de cada dia, revelam uma existência que transcende o capitalismo voraz que domina as cidades e devastam os solos do Brasil.
Este agro não é Pop. Ele é Minas, é orgânico. Carlinho, com a pele marcada pelo sol e pelo trabalho árduo que faz desde os 13 anos, caminha entre os cafezais, mostrando suas conquistas. Plantas com 30, 40, até 50 anos de idade. Tradição que é herança de seu pai João, que antes vendia leite, mas se dedicou à colheita de café, transmitindo a cultura ao filho. 
 

Sítio São João- por Catharina Morais
    Paisagem e uma das casas do Sítio São João - por Catharina Morais

 

Hoje, com mais de 60 anos, Carlinho sente o peso do cansaço, mas seu amor pela roça permanece inabalável. A música 'Canção do Sal', de Milton Nascimento, preenche o ambiente de forma metafórica, marcando o ritmo de um trabalho que combina esforço físico e uma profunda entrega emocional: 'Trabalho o dia inteiro, pra vida de gente leve; Trabalhando o sal, é o amor, o suor que me sai'.
No Sítio São João, há silêncio, há céu preenchido por vida, há cheiro de mato e terra vermelha, há um mar verde que se estende à vista. A vida na roça segue como uma coreografia silenciosa: bois pedindo carinho enquanto ruminam sob o açude. Cada árvore de café, cada passo sobre a terra batida, carrega histórias que teimam em não ser esquecidas.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
               Animais no pasto do Sítio São João - por Catharina Morais

 

O Brasil urbano cresce em números, mas o Brasil rural, com suas chuvas, seus silêncios e seus personagens, continua vivo. Mesmo em meio à industrialização e à degradação do agro, o Sítio São João mantém sua resistência silenciosa. Ele é um microuniverso mineiro, onde a simplicidade das paisagens e a profundidade dos silêncios escondem uma complexidade que o tempo não pode apagar. Afinal, enquanto houver chuva que cai, haverá vida. E enquanto houver vida, o Sítio São João continuará a ser o lar das histórias que persistem na memória da roça.

 

 

Sítio São João- por Catharina Morais
                Animais no pasto do Sítio São João - por Catharina Morais


 

Fundado em 1960, o bar leva o nome de berinjela por conta de um apelido
por
Gabriel Borelli
Pedro Premero
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24/06/2024 - 12h

Localizado na Vila Regente Feijó, zona leste de São Paulo, está o Bar do Berinjela, que fará 60 anos em 2024. O bar é muito tradicional na região, recebendo muitas críticas positivas de revistas e jornais como a Folha de São Paulo. O estabelecimento também já foi campeão do Comida di Buteco, em 2013. O campeonato surgiu em 2000 com "o objetivo de resgatar os butecos autênticos, aqueles que todo mundo tem no coração", como diz no site da competição.

 

Na foto, o famoso bolinho de berinjela, prato que fez o bar ser campeão
Na foto, o famoso bolinho de berinjela, prato que fez o bar ser campeão - Foto: Pedro Premero

 

Conheça a história do Bar do Berinjela no vídeo abaixo:

 

Um documentário fotográfico sobre os 56 anos da casa do mais famoso lanche de pernil de São Paulo
por
Natália Perez
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24/06/2024 - 12h

Aberto 24 horas 7 dias por semana há 56 anos, o Bar e Restaurante Estadão no centro de São Paulo é ponto turístico gastronômico obrigatório da cidade. Neste documentário fotográfico, os funcionários há mais de 30 anos Cícero Tiezzi e Antônio Alves (Toninho) juntos ao último dos sócios fundadores ainda vivo, Oswaldo Zonta, contam sobre a clientela, o início do Estadão e o segredo do carro chefe da casa: o lanche de pernil.

 

                                          

 

Estamos em obras, desculpe pelo transtorno! - O bairro registra o maior número de vendas de apartamento no primeiro semestre de 2023
por
Beatriz Barboza
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23/06/2024 - 12h
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As construtoras dos grandes empreendimentos de Perdizes prometem "projetos feitos para durar". Essa frase estampa o tapume de uma obra localizada na esquina da rua Ministro de Godói com a rua Bartira. Foto: Beatriz Barboza 

Em agosto de 2023, a startup imobiliária Loft divulgou o “Ranking da Demanda”, estudo que elenca os bairros com maior crescimento nas vendas de apartamentos, a partir de dados do imposto municipal sobre transmissão de bens imóveis. Perdizes lidera o ranking com 566 vendas, o que representa um aumento de 26% no volume de transações. 

Conforme o censo de 2022, São Paulo apresentou um aumento de quase 27% no número de habitantes em moradias verticais, são cerca de 703 mil pessoas a mais em 12 anos. Perdizes está entre os cinco bairros mais verticalizados da cidade. Em um trecho de um quilômetro da rua João Ramalho, entre as ruas Monte Alegre e Aimberê, por exemplo, há cinco novos empreendimentos anunciados. 

O Conselho Regional de Corretores de Imóveis (CRECI), classifica a região como zona de valor A”. Segundo a construtora Cyrela, as futuras torres da João Ramalho terão apartamentos de até 36 metros quadrados, de 3 a 4 quartos, com valores acima de 2 milhões de reais. Destinados aos estudantes, estúdios de 65 metros quadrados são vendidos por valores a partir de 430 mil reais.

 

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"É logo cedo quando o medo vem pra me lembrar//Que é dia de trabalho!" Trecho da música O Drama da Humana Manada da banda El Efecto. Foto: Beatriz Barboza 
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Trabalhadores na obra de um empreendimento que garante "lazer no rooftop". Segundo a construtora Mota Machado, "rooftop" é a tendência mais recente da arquitetura, um terraço moderno e sofisticado que proporciona um espaço para os moradores relaxarem, curtirem um ar fresco e admirarem uma excelente vista. Foto: Beatriz Barboza
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"Em alguns momentos, eu me sinto pressionada a sair do bairro justamente pelo barulho", revelou Anna Feldmann, professora de Jornalismo na PUC-SP e moradora de Perdizes. Foto: Beatriz Barboza 
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Perdizes lidera o “Ranking da Demanda”, estudo que elenca os bairros com maior crescimento nas vendas de apartamentos. Foto: Beatriz Barboza
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"Se estão construindo prédios, é porque tem muita gente para comprar. Em meio a tanta crise, eu me pergunto se esses prédios serão aproveitados por quem precisa. Por quem mora muito longe e precisa de uma quitinete para ficar mais próximo da universidade. Até porque esses apartamentos são minúsculos!", Pedro Bairon, estudante da PUC-SP e morador de Perdizes. Foto: Beatriz Barboza
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Um anúncio no site "Negociação Personalizada de Imóveis" indica: "Condomínio Caiubí, 601, Perdizes. Apartamento 212m², 4 quartos, com preço a partir de: R$ 2.600.000,00". Foto: Beatriz Barboza 
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Perdizes está entre os cinco bairros mais verticalizados da cidade. Conforme o censo de 2022, São Paulo apresentou um aumento de quase 27% no número de habitantes em moradias verticais, são cerca de 703 mil pessoas a mais em 12 anos. Foto: Beatriz Barboza 

 

Um lugar que acolhe a diversidade e dá espaço à arte transgressora
por
Maria Luisa Lisboa Alves
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23/06/2024 - 12h

"Aqui a gente pode ser quem a gente realmente é, sem ter medo nenhum", é assim que a Yasmyn, bartender do Cabaret da Cecília, ou como a chamam "transtender", define o local. Um ambiente acolhedor para a população LGBTQIA+ e um lugar de resistência e cultura. 

O Cabaret da Cecília, localizado na Rua Fortunato, no bairro de Santa Cecília, foi criado em fevereiro de 2018, com a ideia de artistas experimentais terem seu próprio palco, uma vez que estes não se encaixavam em um modo tradicional de fazer arte. Para Pariz, cantora, é muito importante a existência desta casa, já que "muitas vezes, por sermos underground, não temos onde ser representados", e ali eles encontram apoio para serem quem são e se expressarem. 

 

 

Da São Paulo Fashion Week aos Jogos Olímpicos de Paris, confira os temas da 46ª Semana do Jornalismo da PUC-SP
por
Beatriz Barboza
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23/06/2024 - 12h
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A mesa "Cobertura das Eleições Municipais" contou com a presença dos jornalistas Caroline Oliveira, Heródoto Barbeiro, Lorena Alves e Marlivan Moraes. Foto: Beatriz Barboza

A Semana do Jornalismo é um evento tradicional da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Anualmente, o Centro Acadêmico Benevides Paixão e alunos do curso de jornalismo organizam mesas de conversa para discutir temas relevantes sobre a profissão, na companhia de personalidades que compartilham suas experiências e repertório. Em 2024, a 46ª edição aconteceu em maio, dos dias 13 a 17. 

Com o tema "Multiverso do jornalismo", as mesas e oficinas abordaram diferentes temas, de Jornalismo Investigativo à Gerenciamento de Crise e Cobertura. Nomes como Chris Flores, Guilherme Guedes e Heródoto Barbeiro marcaram presença na Semana do Jornalismo. A atual presidente do centro acadêmico, Melissa Joanini, afirmou que a pluralidade de temas foi o diferencial da edição deste ano. A estudante contou que, durante a organização do evento, os alunos do curso são consultados acerca de suas sugestões e preferências para as temáticas do ano. 

 

 

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Os alunos do curso fizeram a cobertura dos cinco dias de evento para o jornal Contraponto. A matéria foi publicada na edição de junho e já está disponível na versão impressa. Foto: Beatriz Barboza
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Fernando Gavini é fundador do portal de notícias especializado "Olímpiadas Todo Dia". Na mesa "Cobertura dos Jogos Olímpicos", Gavini compartilhou como foi o processo de criação do jornal e suas expectativas para as olímpiadas deste ano, Paris 2024. Foto: Beatriz Barboza 
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A mesa "Brasil pelos Olhos dos Correspondentes" recebeu Jill Langlois, Samantha Pearson e Jan Rocha, jornalistas internacionais que atuam como correspondestes no Brasil. As convidadas contaram como é a organização da redação, como foi enfrentar as divergências culturais e deram dicas para estudantes interessados pelo jornalismo internacional. Foto: Beatriz Barboza 
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Jornalista João Barreto, à esquerda, e o fotógrafo Ricardo Corrêa, à direita. Os convidados relembraram suas experiências na cobertura dos Jogos Olímpicos anteriores. Foto: Beatriz Barboza  
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Anna Cândida, aluna do primeiro semestre de jornalismo, perguntou à convidada Caroline Oliveira como foi administrar dois cursos ao mesmo tempo. Assim como Caroline, Anna é estudante de jornalismo e ciências sociais. Foto: Beatriz Barboza 
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A mesa "Jornalismo e Cultura POP" foi o grande sucesso da Semana de Jornalismo de 2024. Chris Flores, Sofia Duarte, Valentina Pulgarin e Guilherme Guedes estiveram na mesa de maior quórum deste ano. Foto: Beatriz Barboza 
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Lorena Alves é jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero. A convidada da mesa "Cobertura das Eleições Municipais" contou como foi trabalhar na comunicação do mandato do deputado federal e ex-ministro do Esporte Orlando Silva. Foto: Beatriz Barboza