Como um autodidata ousado desafiou a lógica e transformou a cidade de pedra
por
Catharina Morais
|
06/12/2024 - 12h

A Rua Maranhão, em Higienópolis, é como um refúgio dentro de São Paulo, cheia de histórias para contar em cada esquina. Com suas árvores sombrias e prédios de tirar o fôlego, como o icônico Vila Penteado da FAU-USP, a rua já foi endereço de gente famosa, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. É  só chegar na esquina com a Rua Sabará que tudo muda: o Edifício Cinderela simplesmente rouba a cena.

 

Edifício Cinderela, inaugurado em 1956 - por Catharina Morais
Edifício Cinderela, inaugurado em 1956 - por Catharina Morais

 

De longe, ele parece uma obra única, e é. Em uma São Paulo historicamente cinzenta e funcional, o Cinderela é uma explosão de cores, criatividade e formas. Não é um simples prédio construído para abrigar pessoas - só a beleza de sua arquitetura que chama atenção; há algo mais ali - características visionárias que antecipavam o futuro da vida urbana. Era um sonho do "American way of life", ajustado à realidade brasileira.

Mas quem ousaria conceber um prédio tão peculiar? Conhecido como o "arquiteto maldito", João Artacho Jurado era uma figura à margem da elite arquitetônica. Nascido em 1907, no bairro do Brás, filho de imigrantes espanhois, ele começou a carreira como letrista, desenhando cartazes e estandes para feiras industriais. Apesar de nunca ter cursado arquitetura, Jurado demonstrava um talento inato para transformar ideias em construções. 

 

Edifício Parque das Hortênsias na Avenida Angélica - por Catharina Morais
Edifício Parque das Hortênsias na Avenida Angélica - por Catharina Morais

 

Na São Paulo das décadas de 1940 e 1950, dominada pelo rigor do modernismo — com suas linhas retas, geometrias simples e desprezo por adornos —, Artacho parecia um transgressor. Seus prédios eram uma celebração do que se recusava a ser discreto. Inspirados pelo glamour de Hollywood e pela opulência europeia, eles misturavam o clássico e o kitsch, sem medo de causar estranhamento.

 

Edifício Viadutos localizado no bairro Bela Vista - por Catharina Morais
Edifício Viadutos localizado no bairro Bela Vista - por Catharina Morais

 

Edifícios como o Bretagne, o Viadutos, o Louvre, o Planalto e, claro, o Cinderela se tornaram símbolos dessa visão. Vibrantes, ornamentados e quase teatrais, eles destoavam do rigor técnico da arquitetura predominante. Não à toa, sua obra era amada pelo público, mas odiada por muitos arquitetos da época.  

A controvérsia em torno de Artacho ia além do estilo. Por ser autodidata, ele não tinha licença para assinar seus projetos, dependendo de engenheiros formados para legitimar suas obras. Esse fato era visto como uma afronta pela elite acadêmica, que o apelidou de "arquiteto maldito".  

 

Fachada do Edifício Piauí construído entre 1948 e 1952 - por Catharina Morais
Fachada do Edifício Piauí construído entre 1948 e 1952 - por Catharina Morais

 

Além disso, seus prédios eram frequentemente criticados como "bregas" e "excessivos". Contudo, essas críticas pouco afetaram Artacho, que usava sua visão como combustível para inovar. Ele fazia de suas inaugurações verdadeiros espetáculos, com bandas, celebridades e políticos. Eram eventos tão grandiosos quanto os edifícios que celebravam.  

Artacho não só projetava prédios; ele os desenhava por completo, dos cobogós aos gradis, dos lustres à tipografia das fachadas. Cada detalhe era pensado para oferecer uma experiência que ia além da funcionalidade. Ele também foi pioneiro em incluir áreas comuns de lazer, como piscinas e salões de festa, em uma época em que essas comodidades eram raras.  Seu público-alvo, a classe média emergente, via nos edifícios de Artacho um sonho acessível. Eram mais que lares; eram convites para uma vida moderna e comunitária.  

 

Edifício Bretagne, um marco arquitetônico com sua planta em ‘L’- por Catharina Morais
Edifício Bretagne, um marco arquitetônico com sua planta em ‘L’- por Catharina Morais

 

Apesar das críticas em vida, o trabalho de Artacho foi reavaliado nas décadas seguintes, sendo hoje considerado um marco do modernismo tropical. Seus edifícios, antes tidos como aberrações, tornaram-se símbolos de uma São Paulo mais vibrante e humanizada.  

O Edifício Cinderela, com sua paleta de cores e seu charme cinematográfico, continua a ser um lembrete do que Artacho buscava: romper padrões, acolher o inesperado e dar à cidade algo que ela não sabia que precisava. 

Mais do que o “arquiteto maldito”, Artacho Jurado foi um visionário que se recusou a ser limitado pela lógica ou pelas convenções. Sua obra é um testemunho da coragem de colorir o cinza e de transformar o banal em extraordinário.

 

Edifício Louvre no bairro da República, tombado desde 1992 pelo Conpresp - por Catharina Morais
Edifício Louvre no bairro da República, tombado desde 1992 pelo Conpresp - por Catharina Morais

 

Importante área de preservação e pesquisa ambiental é também um lugar a se visitar e descobrir em São Paulo
por
Pedro Bairon
João Pedro Stracieri
Vítor Nhoatto
|
28/11/2024 - 12h

Localizado na zona sul da capital paulista, entre os portões 6 e 7 do Parque Ibirapuera, eis um berço da vida. Criado formalmente em 1928 após a transferência do bairro Água Branca para onde está até hoje, o Viveiro Manequinho Lopes é um dos três administrados pela cidade e o maior deles. São ali produzidas milhares de espécies para a cidade e também a todos os interessados em arborizar suas propriedades. 

Seu nome faz alusão ao diretor da então recém-criada Divisão de Matas, Parques e Jardins, Manoel Lopes de Oliveira Filho, conhecido como Manequinho Lopes. A homenagem foi dada após ele plantar eucaliptos na região até então pantanosa e aos seus esforços contínuos para manter o viveiro de pé após o pedido de remoção em 1933 para a construção do parque. 

A reivindicação da prefeitura na época não foi para frente também pela necessidade cada vez maior de produção de mudas para a cidade, e foi Manequinho um dos responsáveis por essa mudança de perspectiva. Após a sua morte em 1938 o viveiro municipal enfim recebeu o seu nome atual, e segue hoje sendo de extrema importância para a cidade e meio ambiente, apesar de pouco conhecido e divulgado.

1
Com uma área de 4,8 hectares e uma imensidão de plantas o Viveiro Manequinho Lopes pertence ao Parque do Ibirapuera, e seu acesso pode ser feito direto do parque pelo portão 7, ou pelo portão 6 - Foto: Vítor Nhoatto
2
Adentrando no complexo com certeza muitas espécies serão familiares, afinal, o local é responsável por fornecer as mudas que são plantadas pela cidade como esta, conhecida popularmente como Coração Magoado - Foto: Vítor Nhoatto
3
São ao todo 10 estufas (casas de vegetação), 97 estufins (canteiros suspensos), 3 telados como o da foto (estruturas cobertas com tela de sombreamento) e 39 quadras (mudas envasadas) - Foto: Vítor Nhoatto
4
O Viveiro ainda é um laboratório da flora, onde são feitas pesquisas para o aprimoramento e desenvolvimento de novas variações de plantas como na estufa 5 na imagem - Foto: Vítor Nhoatto
5
Cada lote de plantas possui a sua identificação científica, quantidade, data de cultivo e um técnico responsável, que rega e anota diariamente a temperatura máxima e mínima atingida em cada estufa - Foto: Vítor Nhoatto
6
A instituição também é um importante centro de preservação de espécies nativas, pela reprodução e manutenção de exemplares como este no meio do Viveiro - Foto: João Pedro Stracieri
7
Para além de todas as descobertas sobre a flora, muitos pássaros frequentam o viveiro, tal qual esse Sabiá Laranjeira, a ave símbolo do Brasil - Foto: João Pedro Stracieri
8
Espécies que requerem mais cuidados como as orquídeas, exóticas como as suculentas e variações menos comuns como esta da foto também são produzidas no Viveiro - Foto: Vítor Nhoatto
9
Tal qual um parque, o Viveiro possui áreas de convivência, bebedouros e lixeiras para os seus visitantes, sempre com entrada gratuita, apenas pets nao sao permitidos devido ao cuidado exigido com as mudas - Foto: Vítor Nhoatto
10
São disponibilizados ao longo do caminho mapas, avisos sobre os cuidados exigidos e placas informativas sobre a função e funcionamento das estruturas - Foto: Vítor Nhoatto
11
Apesar de ficarem na maior parte do tempo fechadas para visitação, pelo menos duas vezes ao dia os técnicos abrem para rega e checagem, possibilitando a apreciação dos visitantes sortudos - Foto: Vítor Nhoatto
12
E para os que quiserem é possível agendar visitas guiadas pelo número do Viveiro entre às 7h e 16h de segunda a sexta e até mesmo adquirir mudas mediante solicitação no portal 156 da prefeitura - Foto: Vítor Nhoatto

 

Situado no histórico bairro de Higienópolis, o lugar é testemunho vivo da evolução da cidade
por
Leticia Alcântara
Sophia Razel
|
28/11/2024 - 12h

Localizado no coração do bairro de Higienópolis, o Parque Buenos Aires é um refúgio no meio da rotina agitada de São Paulo. Construído em 1913, com a finalidade de ser um espaço de lazer para elite paulistana, o local foi inspirado nos parques europeus. O terreno, que inicialmente foi projetado para ser um loteamento residencial de casas de alto padrão, hoje é símbolo de tranquilidade e calmaria para os moradores da região.  

Antigo mirante do parque
Mirante da Praça Buenos Ayres, com a vista do Vale do Pacaembu - Reprodução / Acervo /  Estadão Conteúdo / Laboratório Buenos Ayres 

 

Pessoas passeando no parque
Família caminhando em pequena trilha do Parque Buenos Aires - Foto: Letícia Alcântara
Pessoas a anos atrás tirando fotos no parque
1919, pessoas diante da obra Anfritite e Tritão. Foto: Reprodução / Facebook/ São Paulo Antiga
Fonte no Parque Buenos Aires atualmente, um dos destaques do espaço - Foto: Leticia Alcântara
Fonte no Parque Buenos Aires atualmente, um dos destaques do espaço - Foto: Leticia Alcântara

Tombado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de São Paulo em 1992, o Parque Buenos Aires foi projetado pelo arquiteto paisagista francês Bouvard. Com o passar do tempo, o local foi se transformando e modernizando. Atualmente o parque possui cerca de 22 mil metros quadrados, repletos de muita vegetação e áreas de lazer, com espaço para pets e parquinho para as crianças. 

Área para animais de estimação
Cercado para cães próximo a entrada do Parque, localizado na Av. Angélica - Foto: Letícia Alcântara
Área para crianças
Crianças brincando no playground, cercado pela vegetação do Parque Buenos Aires - Foto: Sophia Razel
Crianças brincando na fonte no passado
Vista da Praça Buenos Aires, no bairro de Higienópolis em 1958 - Reprodução / Folhapress / Gazeta SP 

O local também dialoga com a arte e possui algumas esculturas emblemáticas, como “O Tango”, de Roberto Vivas, em bronze e granito, 'Mãe' de Caetano Fraccaroli, esculpida num só bloco de mármore, além de uma cópia em bronze da escultura “Emigrantes”, de Lasar Segall. 

Monumento do parque
Escultura, em bronze, “Emigrantes”, de Lasar Segall - Foto: Sophia Razel  

Mesmo com as inegáveis raízes alicerçadas em um contexto de elitização, a importância cultural e histórica do local é inegável. Sua existência é um símbolo da memória urbana que deve ser preservada, entretanto, tendo em vista a necessidade da democratização do espaço, que permanece cheio de memórias e significado ao longo das décadas. 

Estatua do parque
Estátua 'Mãe' de Caetano Fraccaroli, localizada no Parque Buenos Aires, simboliza proteção e acolhimento, homenageando a maternidade - Foto: Letícia Alcântara

Com sua localização privilegiada e ambiente sereno, o Parque Buenos Aires é um dos grandes patrimônios verdes da cidade, oferecendo aos paulistanos uma verdadeira pausa no cotidiano urbano.

 

Com 70 anos de carreira, se consagra como o maior fotojornalista do país
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
|
21/11/2024 - 12h

Neste mês de novembro, o Brasil perdeu um grande fotógrafo. Ao longo de sete décadas, o fotojornalista Evandro Teixeira se tornou uma referência na fotografia documental brasileira, capturando momentos cruciais do país e imortalizando, com suas imagens, as transformações sociais, políticas e culturais.

Teixeira não foi apenas um fotógrafo, mas um contador de histórias. Durante 70 anos de carreira, seu trabalho transcendeu a simples captura de imagens, tornando-se uma ferramenta essencial na compreensão de momentos decisivos para o Brasil.

 

A lente do compromisso

         O fotojornalismo, como área profissional, exige mais do que a técnica fotográfica; exige comprometimento com a verdade e com a representação fiel dos fatos. Teixeira deixou isso bem claro durante toda a sua vida, ao se dedicar nesse trabalho durante um período de grandes transformações políticas e sociais, desde a ditadura militar até hoje.

         Suas fotos não apenas documentam, mas também provocam reflexões sobre o papel da imagem no campo jornalístico e no impacto de uma fotografia na construção da memória coletiva.

 

Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968
Passeata dos Cem Mil. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O início da jornada

         Natural da Bahia, de Irajuba, um povoado a 307 quilômetros de Salvador, saiu de sua terra para fotografar o Brasil. Em quase 70 anos de atividade, 47 deles no Jornal do Brasil, registrou o golpe de 1964 e as manifestações estudantis de 1968.

Ao longo da década de 1970, ele se tornou um dos principais fotógrafos da revista Realidade, uma das publicações mais inovadoras do período. Foi nesse momento que Evandro fotografou suas fotos mais conhecidas, em que aprendeu a trabalhar sob pressão, capturando a tensão e os conflitos da ditadura militar.

         Além de sua atuação no Brasil, Teixeira teve uma carreira internacional, cobrindo grandes eventos como a Revolução Nicaraguense (1979) e a guerra civil em El Salvador. Fotografou a Rainha Elizabeth e eternizou imagens icônicas de Ayrton Senna e Pelé. É difícil dissociar seu trabalho de qualquer evento no país que ocorreu durante a segunda metade do século XX.

Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968
Caça ao estudante. Sexta-feira Sangrenta. Rio de Janeiro, 1968. Reprodução: Acervo IMS

 

O fotógrafo foi alvo de perseguição, sendo várias vezes ameaçado e perseguido pelos militares. Mesmo com os riscos, ele continuou a registrar a realidade do regime, contribuindo de maneira significativa para a memória histórica do período.

 

Legado e reconhecimento

O trabalho de Evandro Teixeira foi amplamente reconhecido, com exposições em museus e galerias ao redor do mundo. Ele também foi premiado diversas vezes por sua contribuição ao fotojornalismo, consolidando seu nome como um dos mais importantes do Brasil.

Em um dos seus maiores feitos, em 2013, Teixeira foi agraciado com o Prêmio Vladimir Herzog, uma das maiores honrarias da área, por sua contribuição ao jornalismo e ao combate à censura e à opressão.

Seu legado vai além das inúmeras fotos que tirou, mas uma documentação completa dos principais momentos do Brasil. Retratou lutas e vitórias de um povo em busca de liberdade e justiça Suas imagens retratam isso, não apenas registrar a realidade, mas também as emoções que a história carrega consigo. 

 

Novos dados do IBGE revelam como o êxodo rural transforma as paisagens do Brasil
por
Catharina Morais
|
21/11/2024 - 12h

A manhã no Sítio São João - também conhecido como “a roça”-, em Muzambinho, Sul de Minas Gerais, começou lenta. O céu carregava nuvens espessas, como um teto cinza sobre a paisagem. A chuva fina deixava pequenas trilhas na terra vermelha, enquanto o aroma das folhas de café se misturava com o perfume de terra molhada. O mundo parecia suspenso num silêncio, quebrado apenas pelo sopro do vento e o canto tímido dos pássaros.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
      Paisagem de Muzambinho, inteiror do Sul de Minas Gerais - por Catharina Morais


No horizonte, o verde dos cafeeiros se estendia como um tapete irregular. Urubus, com suas asas abertas, ficavam como vigilantes sobre aquele espaço amplo e quase intocado. Ali, a vida segue em um ritmo que parece imutável, mas, na realidade, carrega as marcas de profundas transformações. Dados recentes do Censo Demográfico do IBGE escancaram uma realidade em que o Brasil se afasta das zonas rurais, cada vez mais engolido pelas grandes cidades.
 

Sítio São João- por Catharina Morais
                     Urubus pousados na cerca do Sítio - por Catharina Morais

 

Divulgado em novembro de 2024, o Censo Demográfico 2022 aponta que, do total de 203,1 milhões de brasileiros, 177,5 milhões (87,4%) vivem em áreas urbanas, enquanto 25,6 milhões (12,6%) permanecem em áreas rurais. A nova metodologia do IBGE, que classifica as áreas de acordo com sua morfologia e funcionalidade, expõe um êxodo silencioso que esvazia espaços como o Sítio São João.  

 

Sítio São João- por Catharina Morais
      Vista do interior do cafezal no Sítio São João - por Catharina Morais 

 

Mas, ali, o tempo parece ter sua própria lógica, um compasso que desafia as pressões urbanas. O pé de café, despido após a colheita, parecia revigorado pela água que escorria lenta pelas folhas. Na simplicidade daquele lugar, o Brasil profundo ainda respirava, resistindo ao avanço do tempo. Cada cheiro, cada som, cada sombra projetada na terra carregava memórias de um passado que se recusa a desaparecer.  

 

 

Sítio São João- por Catharina Morais
             Plantação de café do Sítio São João - por Catharina Morais

Naquela região, a "mineirice" se revela em cada gesto, em cada palavra arrastada, no cuidado com a terra e nas memórias que ela preserva. A simplicidade do lugar ganha força na conexão íntima com a natureza. Ali, não se vê o vazio de um latifúndio sem alma, mas uma roça onde há harmonia de um espaço onde o trabalhador, dono da terra, é parte de sua essência.  
Mas o que é viver numa roça? No caso do Sítio São João, é a história de Carlinho Tuka e sua esposa, Terezinha, que respiram essa realidade desde que nasceram. Ela, natural de Monte Belo, cidade vizinha, nasceu na fazenda e cresceu trabalhando para a terra e cuidando da vida que ali florescia. Hoje, cultiva sua horta e cuida dos animais com carinho, como aprendeu desde a infância. Eles vivem com uma autonomia que mais de 170 milhões de brasileiros sequer imaginam.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
Casa Principal do Sítio São João - por Catharina Morais


Enquanto muitos , moradores da “cidade grande”, temem as transformações do tempo e as exigências de um mundo moderno, ali, o silêncio esconde um outro tipo de vida. A conexão com a natureza e a noção do tempo, ditado pelo sol de cada dia, revelam uma existência que transcende o capitalismo voraz que domina as cidades e devastam os solos do Brasil.
Este agro não é Pop. Ele é Minas, é orgânico. Carlinho, com a pele marcada pelo sol e pelo trabalho árduo que faz desde os 13 anos, caminha entre os cafezais, mostrando suas conquistas. Plantas com 30, 40, até 50 anos de idade. Tradição que é herança de seu pai João, que antes vendia leite, mas se dedicou à colheita de café, transmitindo a cultura ao filho. 
 

Sítio São João- por Catharina Morais
    Paisagem e uma das casas do Sítio São João - por Catharina Morais

 

Hoje, com mais de 60 anos, Carlinho sente o peso do cansaço, mas seu amor pela roça permanece inabalável. A música 'Canção do Sal', de Milton Nascimento, preenche o ambiente de forma metafórica, marcando o ritmo de um trabalho que combina esforço físico e uma profunda entrega emocional: 'Trabalho o dia inteiro, pra vida de gente leve; Trabalhando o sal, é o amor, o suor que me sai'.
No Sítio São João, há silêncio, há céu preenchido por vida, há cheiro de mato e terra vermelha, há um mar verde que se estende à vista. A vida na roça segue como uma coreografia silenciosa: bois pedindo carinho enquanto ruminam sob o açude. Cada árvore de café, cada passo sobre a terra batida, carrega histórias que teimam em não ser esquecidas.

 

Sítio São João- por Catharina Morais
               Animais no pasto do Sítio São João - por Catharina Morais

 

O Brasil urbano cresce em números, mas o Brasil rural, com suas chuvas, seus silêncios e seus personagens, continua vivo. Mesmo em meio à industrialização e à degradação do agro, o Sítio São João mantém sua resistência silenciosa. Ele é um microuniverso mineiro, onde a simplicidade das paisagens e a profundidade dos silêncios escondem uma complexidade que o tempo não pode apagar. Afinal, enquanto houver chuva que cai, haverá vida. E enquanto houver vida, o Sítio São João continuará a ser o lar das histórias que persistem na memória da roça.

 

 

Sítio São João- por Catharina Morais
                Animais no pasto do Sítio São João - por Catharina Morais


 

Em meio à reformas, alimentos diversos e cores vibrantes, o Mercado Municipal segue sendo o coração de São Paulo.
por
Mohara Ogando Cherubin
|
02/05/2024 - 12h

Para conhecer um pouco da história de São Paulo, basta ir ao Mercado Municipal da cidade. Localizado no centro da cidade e dividido em 18 portões, o "Mercadão" foi projetado pelo engenheiro Felisberto Ranzini e inaugurado em 25 de janeiro de 1933, também aniversário de São Paulo, tendo mais de oito décadas de história. O mercado é separado em dois andares e foi pensado, inicialmente, para ser um armazém de pólvora e munições, porém na atualidade funciona como um empório comercial de atacado e varejo, especializado na comercialização de uma variedade de produtos e alimentos aos seus clientes, como grãos, doces, frutas, comidas típicas e o famoso sanduíche de mortadela, marca registrada do mercado.

Cerca de 50 mil pessoas visitam o mercado semanalmente e hoje em dia, além de toda sua representação histórica, o "Mercadão" atua como importante polo cultural e turístico da cidade.

arquivo 1
Além da grande variedade de alimentos e produtos, a arquitetura do Mercado Municipal também cativa a atenção dos clientes. Ao entrar pelo portão 6, você se depara com esse lindo vitral e com o restaurante Petiscaria do Portuga, conhecido por seus pratos típicos portugueses que envolvem frutos do mar. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

arquivo 2
Ainda no portão 6, em frente à Petiscaria do Portuga, os clientes encontram O Espanhol, restaurante que serve a sua famosa paella e pratos tradicionais com carne. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

arquivo 3
O açougue do “Mercadão” é conhecido por oferecer carnes de qualidade e que tenham uma certa dificuldade de serem encontradas para venda. Os funcionários do mercado são simpáticos e solicitos, o que torna a venda dos produtos mais fácil e tranquila. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

arquivo 4
Além da culinária diversa, o Mercado Municipal comercializa grãos e alimentos variados, como castanhas, amêndoas, nozes, queijos e frutas desidratadas. O preço dos produtos varia em relação à quantidade de gramas ou quilos que cliente desejar de determinado alimento. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

legenda 5
Tamanha é a variedade de produtos do mercado, que existem lojas que comercializam produtos diversos e que não tenham nenhuma semelhança entre si. Grãos, doces, damascos, alimentos enlatados, geleias e óleos de coco estavam sendo comercializados e foram fotografados em uma só loja. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

arquivo 6
As frutas do Mercado Municipal são conhecidas por serem as mais saborosas da cidade. A mais nova novidade do mercado, na área da frutas, é a pitaya amarela, originária das regiões tropicais da América do Sul, como Colômbia e Peru. Todas as madrugadas, funcionários de todas as idades reabastecem as frutas do mercado, garantindo que elas sempre estejam frescas e que o cliente terá a melhor das experiências. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

legenda 6
O "Mercadão" tem mais de 13 mil metros quadrados e funciona das 6h às 18h de segunda à sábado, e até às 16h aos domingos, porém a concessionária do mercado tem planos de o manter aberto durante 24h semanalmente. Este é o Mercado Municipal visto do lado de fora, em meio a lojas no centro da cidade, carros de carga transportando alimentos e pedestres nas ruas. Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

legenda 8
Em 2021 foi iniciada a reforma que visava a restauração do Mercado Municipal de São Paulo. A concessionária do mercado tinha planos de finalizar as obras em 2023, porém esse ano foi anunciado que o fim da reforma foi adiado para novembro de 2024. As mudanças da restauração envolvem a instalação de três geradores, AVCB, troca de pisos e expansão que resultará em dez novas lojas. A prefeitura de São Paulo espalhou placas pelo mercado com a mensagem "Estamos em obra para transformar a sua experiência! Vamos fazer isso juntos! Por favor, redobre a atenção ao caminhar pelas ruas do nosso Mercadão". Autor: Mohara Ogando Cherubin.

 

arquivo 9
É muito interessante visitar o “Mercadão” e subir as escadas para o seu segundo andar. Observando tudo de cima, o cliente passa a ter uma ideia da enorme variedade do mercado e da beleza de sua arquitetura. Além da bela vista, também pode-se comprar ou comer algo no segundo andar, tendo em vista que também existem alguns restaurantes na parte de cima do mercado. Autor: Mohara Ogando Cherubin.
​​​

 

legenda 10
O famoso sanduíche de mortadela é a marca registrada do Mercado Municipal, chegando a se tornar um sinônimo do estabelecimento. O valor do lanche varia entre 40 e 50 reais, podendo acompanhar queijo quente, alface e tomate, e servindo tranquilamente duas pessoas. Autor: Mohara Ogando Cherubin

 

Memorial da Resistência relembra os 60 anos do Golpe Militar com exposições e oficinas temporárias
por
Rodrigo Ferreira
|
02/05/2024 - 12h

Em memória às violências cometidas pela ditadura militar brasileira, o Memorial da Resistência, museu localizado no prédio onde se operou o DEOPS (1964-1985), iniciou em abril, em memória aos 60 anos do golpe militar, uma série de exposições e atividades culturais que buscavam de forma interativa, refletir sobre a memória da ditadura. 

 

A última exposição, ocorrida no sábado dia 27/04 abordou a atuação da Comissão da Verdade “Reitora Nadir Gouvêa Kfouri”, criada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2013, assim como a história de resistência da universidade. Junto com todas as instalações, a visita é imperdível para quem quer conhecer esse momento da história.

Foto 1
Exposição “Resistências na PUC-SP” no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 2
Exposição “Resistências na PUC-SP” no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 3
Entrada interativa na exposição do Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano
Foto 4
Exposição fixa no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano
Foto 4
Linha do tempo no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano
Foto 5
Grades preservadas no banho de Sol do DEOPS no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 7
Oficina de arte e memória no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 8
Oficina de arte e memória no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 8
Vista do terceiro andar no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira
Foto 9
Entrada na exposição temporária “Mulheres em Luta! Arquivos de memória política”. Foto Rodrigo Lozano
Foto 10
Exposição no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano

 

A cidade de São Paulo é lar para seguidores de religiões diversas.
por
Isabelli Albuquerque
|
03/05/2024 - 12h

Atualmente, a cidade de São Paulo é lar de 12,33 milhões de pessoas, sendo mais da metade delas cristãos. Porém, o resto da população se divide em diversas outras religiões, como o budismo, candomblé ou umbanda, islamismo, judaísmo entre outras.

A metrópole oferece um espaço em que esses crentes possam expressar sua fé, seja em rituais públicos ou na arquitetura da cidade, onde podemos observar torres detalhadas de templos ao lado dos prédios cinzas e minimalistas da capital.

Esse ensaio celebra essa diversidade, mostrando pessoas exercendo sua fé e a beleza de religiões distintas.

Fachada da Igreja Ortodoxa Russa de São Nicolau, localizada na Rua Tamandaré no bairro da Liberdade. Foto: Isabelli Albuquerque.
Cripta onde os ossos dos membros da comunidade são enterrados. Os cristãos ortodoxos acreditam que os falecidos devem ser honrados, orando por suas almas para que alcancem a paz eterna. Foto: Isabelli Albuquerque.
A Catedral de São Nicolau é a igreja ortodoxa mais antiga da capital, sendo consagrada no ano de 1928. Foto: Isabelli Albuquerque
Igreja Nossa Senhora da Boa Morte, localizada na Rua do Carmo no centro de São Paulo, construída no estilo barroco-colonial. Foto: Isabelli Albuquerque

 

A igreja foi inaugurada em 1810, tendo como princípio acolher pessoas de qualquer classe social. Foto: Isabelli Albuquerque.
Altar em homenagem à Nossa Senhora da Boa Morte. Foto: Isabelli Albuquerque.
A igreja era conhecida como "Igreja das Boas Notícias" já que anunciava a chega de visitantes á cidade de São Paulo. Foto: Isabelli Albuquerque.
Foi reformada entre 2006 e 2009. Durante a restauração detalhes da construção foram redescobertos, como a pintura no teto acima do altar, que estava abaixo de uma camada grossa de sujeira. Foto: Isabelli Albuquerque.
O templo budista Luz do Oriente segue os ensinamentos deixados por Meishu Sama, o Senhor da Luz. Foto: Isabelli Albuquerque.
O "johrei" é um método de canalização da Luz de Deus, durante esse processo, a pessoa recebendo a luz é curada de suas doenças e liberta de suas aflições. Foto: Isabelli Albuquerque.
O espaço conta com uma pequena galeria de arte de acesso público, onde pinturas, esculturas e peças de artesanato podem ser expostas. Foto: Isabelli Albuquerque.
O templo fica localizado no bairro de Perdizes em São Paulo. Foto: Isabelli Albuquerque.

 

Minhocão é descoberto pelas pessoas como um ambiente para relaxar ao ar livre no centro de São Paulo
por
Giuliana Barrios Zanin
|
02/05/2024 - 12h

O Elevado Presidente Goulart foi construído em 1979 por iniciativa de Paulo Maluf como alternativa para o alto índice de tráfego e congestionamento. A via, que liga a Praça Roosevelt, no centro de São Paulo, ao Largo do padre Péricles, na zona oeste, foi construída em tempo recorde de onze meses, por quase mil operários, que faziam jornadas diárias de 16 horas. Custou 37 milhões de cruzeiros. Hoje, a via é fechada em alguns dias da semana e aberta para pedestres e ciclistas.

1
O “Parque Minhocão” foi um projeto doado à prefeitura para tornar aquele via expressa um espaço para lazer. Ainda na gestão de Fernando Haddad, o projeto foi aceito e aplicado apenas aos domingos. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
2
Alguns prédios e casarões que circundam o Elevado foram prejudicados externamente pela poluição dos veículos. Outros também foram vítimas de abandono por causa do barulho e da violência denunciados pelos moradores e comerciantes. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
3
As janelas dos prédios são utilizadas por grupos de teatro apresentarem peças. Na pandemia, essa atividade reuniu espectadores para se entreterem à distância. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
5
Após tentativas de desativação do projeto ao longo dos anos, em fevereiro de 2023, a administração municipal investiu na infraestrutura do parque. Gramas sintéticas cobrem alguns metros do asfalto com cadeiras de sol e espreguiçadeiras, banheiros químicos e tabuleiros de xadrez grandes. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
.
Após o período mais crítico da pandemia da Covid-19, a preocupação com a saúde e novas formas de praticar atividade física ao ar livre começaram a fazer parte da nova rotina de grande parte dos brasileiros. Em 2022, o Brasil registrou 33 milhões de bicicletas e 7% das pessoas preferem o meio de transporte para se locomover nas grandes cidades. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
.
O Minhocão é aberto para pedestres de segunda à sexta das 20h às 22h e aos finais de semana das 7h às 22h. o espaço também acolhe eventos e exposições artísticas. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
6
Em abril aconteceu a primeira edição do “Cine Minhocão”, um festival de curtas apresentados no Elevado e premiados pelos espectadores. Esse projeto é fruto de uma iniciativa independente de artistas que começaram em 2019 com sessões mensais de 60 curtas dirigidos por pelo menos 20 países. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
7
Além da extensa paisagem de prédios, o Minhocão é popularmente reconhecido pelos grafites e desenhos expostos nos muros. A visão colorida dos prédios atrai turistas de todo o mundo a incluírem-no nessa visita à São Paulo. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
8
Uma alternativa para entreter as crianças fora dos aparelhos eletrônicos e proporcionar uma diversão fora das quatro paredes reúne milhares de famílias a passar o dia no parque de concreto. Foto: Giuliana Barrios Zanin.
9
As fotos escolhidas em preto e branco destacam que o espaço escolhido como lazer aos finais de semana são refúgios para um mundo dentro de uma cidade centralizada pelo cinza do concreto e sufocante das cidades grandes. Foto: Giuliana Barrios Zanin.

 

Inaugurado em 1960, o parque habita diversas práticas esportivas
por
Pedro Premero
|
07/05/2024 - 12h
Foto - Pedro Premero
Área de patins, skate e bicicleta na entrada do parque  (Foto - Pedro Premero)

O Centro Esportivo, Recreativo e Educativo do Trabalhador, mais conhecido como CERET, é um parque localizado na região do Anália Franco, zona leste de São Paulo. Com uma área total de 286.000 m², o parque possui quadra de vários esportes como vôlei, basquete, futebol, tênis e muito mais. O local recebe pessoas de diversas idades, sejam idosos fazendo suas caminhadas diárias ou adolescentes se reunindo após um dia de escola. 

Foto - Pedro Premero
Grupo de amigos em uma partida de vôlei  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Jogadores a espera do saque  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Tentativa de bloqueio  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Alameda do CERET (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Tenista durante o saque (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Tenista rebatendo o saque (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Dois amigos em uma partida de tênis no parque (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Campo de futebol  e pista de atletismo  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Dois amigos se confrontando em um X1  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
Tentativa de toco  (Foto - Pedro Premero)
Foto - Pedro Premero
 Jogadores focados durante o X1 (Foto - Pedro Premero)