Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

A cotação da moeda norte-americana chegou a R$5,86, mas encerrou em R$5,67
por
GUILHERME DEPTULA ROCHA
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08/11/2024 - 12h

 

O dólar comercial teve forte alta na manhã da quarta-feira (6), mas caiu durante o dia. Às 9h, a moeda alcançou o valor de R$5,86. Porém, à tarde, recuou para R$5,67. A disparada recente se deu após a repercussão da vitória Donald Trump (Partido Republicano) nas eleições norte-americanas. 

Desde meados de outubro, a moeda estava se valorizando, o fato se deu devido à subida do ex-presidente nas pesquisas de intenção de voto. Conforme dados do jornal “The New York Times”, no início do mês passado, sua adversária, Kamala Harris (Partido Democrata), mantinha-se à frente, com 50% da preferência. Enquanto Trump, estava com 47%. 

Porém, nas últimas semanas, o republicano subiu nas pesquisas e se equiparou à democrata: ele alcançou 48%, contra 49% dela. Esse movimento foi batizado de “Trump Trade”. 

 

POR QUE O DÓLAR DISPAROU APÓS VITÓRIA DE TRUMP?

Aproposta de governo do presidente eleito é tida como inflacionária, a partir de políticas protecionistas. O programa prevê um aumento na taxa de juros e mais impostos para importação. A ideia é provocar migração de recursos para o mercado norte-americano, fortalecendo a moeda.

Após o resultado da eleição, o dólar disparou também em outros países. Segundo DXY, índice que monitora o câmbio da moeda norte-americana em outros mercados globais, houve uma alta de quase 2%.

 

POR QUE O DÓLAR CAIU NO FIM DO DIA?

O motivo ainda não é claro. Segundo o professor de economia da FGV, Marcelo Kfoury Moinhos, em entrevista ao “Jornal Nacional”, há uma expectativa na medida de corte de gastos fiscais. O pacote será anunciado pelo ministro Fernando Haddad (Fazenda) ainda nesta semana.

Devido a vitória de Trump, o mercado acredita que o governo entregará um pacote “crível”. Porém, o  professor de economia aponta: “Se houver frustração no tamanho desse pacote de corte de gastos pode ser que (...) o real volte a desvalorizar.

 

FUTURO

Caso o presidente eleito cumpra com suas propostas de campanha, as projeções indicam uma alta do dólar para 2025. Devido às políticas protecionistas, poderá haver um aumento na tarifa para produtos importados, reduzindo as exportações brasileiras para os Estados Unidos.

 

Descubra como a agroecologia pode beneficiar a vida das famílias brasileiras no âmbito econômico e social
por
Jessica Castro
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05/11/2024 - 12h

Recordes de altas temperaturas e períodos de seca extensos foram aliados às causas das queimadas recentes no Brasil. Nos últimos meses, o país viveu um cenário alarmante com mais de 139 mil focos de queimadas, muitas delas criminosas, devastando biomas importantes para o ciclo climático. 

 

Atrás desses números, estão comunidades inteiras que sofrem as consequências diretas: ar irrespirável, perda de colheitas e deslocamento forçado. Grande parte dessas queimadas está ligada à expansão desenfreada do agronegócio, que, na busca por mais terras para cultivo de soja e pastagens, utiliza o fogo como ferramenta de desmatamento. 

 

Embora o agronegócio mova a economia, sua busca por crescimento muitas vezes ignora os impactos sociais e ambientais, e o momento agora é de olhar novas alternativas de cultivo, antes que seja tarde demais.

 

Uma opção que se apresenta é a Agroecologia. A prática é uma alternativa sustentável para a produção agrícola que integra conceitos ecológicos e sociais e tem como objetivo equilibrar o cultivo de alimentos com os ciclos naturais e promover a justiça social. 

 

Diferente dos métodos convencionais, ela não se limita ao uso de técnicas orgânicas, mas envolve uma transformação mais ampla das práticas agrícolas, considerando aspectos culturais, políticos e ambientais. Seu foco é a regeneração dos solos, a conservação da biodiversidade, a redução do uso de insumos químicos e a valorização dos saberes tradicionais das comunidades rurais.

 

Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace
Foto: © Alonso Crespo / Reprodução: Greenpeace

 

Alternativa ao Agronegócio

 

A prática da agroecologia surge como uma alternativa ao modelo convencional do agronegócio, que prioriza a monocultura, o uso intensivo de agrotóxicos e a maximização dos lucros a curto prazo. 

Enquanto esse método é fortemente dependente de insumos externos e tecnologias que degradam o meio ambiente e podem esgotar os recursos naturais, a agroecologia foca na sustentabilidade a longo prazo. Ela propõe sistemas diversificados, que integram culturas diferentes, reflorestamento e técnicas de conservação de solo e água. 

Isso torna os sistemas mais resilientes a pragas e mudanças climáticas, reduzindo a dependência de produtos químicos e fertilizantes industrializados. Além disso, o sistema agroecológico valoriza a autonomia dos pequenos agricultores, promovendo  cada vez mais sistemas alimentares locais e uma dependência menor de cadeias longas de distribuição. O que contribui para a segurança alimentar, uma vez que as comunidades produzem e consomem alimentos de maneira mais justa e próxima de seus territórios.

 

O benefício econômico a quem produz e quem consome

 

Do ponto de vista econômico, a agroecologia tem mostrado forte potencial para ser uma opção interessante tanto para o país quanto para as famílias que aderem a este sistema. 

“Iniciativas como as Comunidades que Sustentam a Agricultura (CSA) mostram como os consumidores podem se tornar co-produtores, garantindo acesso a alimentos saudáveis e frescos, enquanto os agricultores têm mais segurança e menos desperdício”, comenta Paulo Moruzzi, professor adjunto do departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da Esalq, na USP.

Moruzzi ainda pontua que o fortalecimento da relação do consumidor com a produção agroecológica pode impulsionar o fomento de políticas públicas que ampliem o acesso à alimentação sustentável.
 

Outro benefício econômico da prática é  a redução dos custos com insumos químicos, como fertilizantes e agrotóxicos, o que alivia o orçamento dos pequenos produtores; ou práticas como a rotação das culturas que permite  uma produção contínua sem prejudicar o solo ao longo do ano, garantindo uma renda estável  ao diminuir os riscos associados à dependência de uma única safra, característica comum no agronegócio.

 

Ao reduzir a pressão de utilização dos recursos naturais, além da contribuição efetiva para o meio ambiente a longo prazo, pode evitar gastos públicos na recuperação de áreas degradadas e mitigação de desastres ambientais. Além disso, a agroecologia pode impulsionar a economia local, pois promove cadeias curtas e regionais de produção. Assim, reduz a dependência do país de alimentos importados e fortalece os mercados internos.

 

Para as famílias agricultoras, a transição para este método de cultivo significa mais independência e resiliência frente às flutuações de mercado e mudanças climáticas. A segurança alimentar é ampliada, e o valor agregado dos produtos agroecológicos pode aumentar os lucros, já que esses produtos têm um apelo crescente entre consumidores conscientes, dispostos a pagar mais por alimentos produzidos de forma sustentável.

A agroecologia está profundamente enraizada no cotidiano de comunidades quilombolas, indígenas e outros povos tradicionais no Brasil. Esses grupos, que possuem uma relação ancestral com a terra, cultivam alimentos de maneira sustentável e em harmonia com o meio ambiente. 

Mas a prática não é exclusividade dessas comunidades, ela também é adotada pela agricultura familiar e por assentamentos e acampamentos da reforma agrária. Hoje, cerca de 77% dos comércios agropecuários do país são familiares, segundo dados do Anuário da Agricultura Familiar de 2023, e muitos deles estão integrando práticas agroecológicas para preservar o solo e valorizar a biodiversidade do local onde produzem.

Essas iniciativas promovem um modelo de agricultura que valoriza o saber local e protege biomas únicos e super importantes para o equilíbrio climático do país, como o Cerrado e a Amazônia. 

A agroecologia fortalece o vínculo entre quem produz e quem consome, criando relações de consumo mais justas e solidárias. Isso ocorre, em grande parte, por meio de feiras agroecológicas e programas de políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que compra alimentos de pequenos produtores para fornecer refeições nas escolas. Essas teias garantem que o alimento chegue de maneira saudável e acessível às mesas, enquanto geram renda e fortalecem famílias agricultoras ao mesmo tempo.

Outros olhares para o consumo de alimentos

A conexão entre a agroecologia e o modo de consumo vai além da idealização de uma produção agrícola sustentável, aqui refletimos também a forma como nos relacionamos com os alimentos, os recursos naturais e as comunidades que os produzem. Esse conceito reflete a necessidade de repensarmos não só a maneira como consumimos, mas também as implicações sociais, ambientais e econômicas envolvidas no processo.

Esse olhar diferenciado para o consumo de alimentos inclui para além da valorização de produtos orgânicos produzidos por um sistema agroecológico, as métricas de quanto desperdiçamos e consumimos exacerbadamente. A agroecologia não se limita à produção sustentável, mas envolve uma conscientização mais ampla sobre a forma como os alimentos são utilizados ao longo da cadeia, desde a produção até o descarte.

O consumo consciente, nesse sentido, diz respeito a um repensar em nossos hábitos alimentares, para garantir que tudo o que consumimos não acabe em desperdício, uma prática que impacta seriamente o meio ambiente e os recursos naturais e o bolso do consumidor. 

 

Precisamos perceber que a quantidade de alimentos comprados e descartados repousa diretamente em impactos socioambientais porque contribui para a emissão de gases de efeito estufa e esgotamento dos solos. Portanto, como e o que comemos pode fazer uma grande diferença.

 

Em entrevista, o professor Paulo Moruzzi destaca a importância do Dia Mundial da Alimentação, celebrado em 16 de outubro, data que marca a criação da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura), que completa 79 anos. Ele ressalta: “Nos últimos anos, esta organização multilateral tem insistido em suas orientações para os debates em torno dos problemas agroalimentares mundiais sobre a importância da busca simultânea de preservação ambiental e de garantia do direito humano à alimentação adequada. Desde 2019, a FAO promove a década da agricultura familiar, visando favorecer sistemas alimentares resistentes às mudanças climáticas e indutores de desenvolvimento territorial inclusivo, protegendo a biodiversidade, o meio ambiente e a cultura." 

 

A agroecologia passa a não ser apenas um modelo de produção, mas um convite para repensar o ciclo de vida dos alimentos e nosso papel dentro dele, promovendo uma relação mais responsável e equilibrada com o meio ambiente.

 

Prévia do IPCA-15 sobe 0,54%, puxada por alta nos preços de energia e alimentos, e reforça expectativa de novo aumento na Selic em novembro
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

A prévia da inflação oficial de outubro, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) e divulgada pelo IBGE na última quinta-feira (24), surpreendeu o mercado ao registrar uma alta de 0,54%, acima das expectativas dos analistas, que previam 0,50%. Esse resultado trouxe um impacto significativo para a economia brasileira, pressionando tanto o câmbio quanto o mercado de juros, além de influenciar o desempenho da bolsa de valores.

A alta do IPCA-15 foi impulsionada principalmente pelo aumento de 1,72% no grupo Habitação, com destaque para a elevação de 5,29% nos preços da energia elétrica residencial. A aplicação da bandeira tarifária vermelha patamar 2, que adiciona R$ 7,87 a cada 100 kWh consumidos, foi o principal fator para o encarecimento da energia. Outros itens também contribuíram para a pressão inflacionária, como o gás de botijão, que subiu 2,17%, e os alimentos, que tiveram alta de 0,87%. Entre os produtos alimentícios, destacaram-se o contrafilé (5,42%) e o café moído (4,58%).

No acumulado de 12 meses, a prévia da inflação passou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro, ficando próxima do teto da meta de 4,50% estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional para 2024. Essa aceleração aumenta a expectativa de que o Banco Central (BC), sob a liderança de Roberto Campos Neto, intensifique o ritmo de alta da taxa Selic, que atualmente está em 10,75% ao ano. A próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) está marcada para os dias 5 e 6 de novembro, e espera-se um aumento de 0,50 ponto percentual.

Dólar - Unsplash.com
Dólar - Unsplash.com

Enquanto isso, o mercado reagiu com nervosismo à divulgação dos dados. O dólar atingiu R$ 5,70 na manhã de quinta-feira, refletindo as preocupações com a inflação e o futuro da política monetária. O índice Ibovespa, por sua vez, abriu em queda, pressionado pelo cenário interno, apesar de um ambiente positivo nas bolsas internacionais, com altas nos mercados europeus e Wall Street indicando uma abertura no verde.

Além de Habitação e Alimentação, o grupo de Saúde e cuidados pessoais também registrou alta de 0,49%, influenciado pelo reajuste dos planos de saúde. O único setor a apresentar queda foi Transportes, com uma redução de 0,33% nos preços, devido principalmente à queda nas tarifas de passagens aéreas (-11,40%) e transporte público, reflexo de medidas de gratuidade durante as eleições municipais.
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Decisão visa evitar problemas para o Novo Banco de Desenvolvimento em meio às sanções contra a Rússia e fortalecer o papel do Brasil no bloco econômico.
por
Otávio Rodrigues Preto
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30/10/2024 - 12h

O presidente russo, Vladimir Putin, confirmou na última quinta-feira (24) a proposta de manter o Brasil na liderança do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), principal instituição financeira do BRICS, por mais cinco anos, garantindo a continuidade de Dilma Rousseff na presidência do banco. O atual mandato de Dilma, iniciado em março de 2023, terminaria em julho de 2025, mas a extensão foi sugerida para evitar possíveis complicações relacionadas à guerra na Ucrânia.

Segundo Putin, a decisão de manter Dilma no cargo tem o objetivo de preservar a estabilidade do NDB, considerando que as sanções impostas à Rússia devido ao conflito poderiam prejudicar a atuação da instituição caso um executivo russo assumisse a presidência. "Não queremos transferir todos os problemas associados à Rússia para instituições em cujo desenvolvimento estamos interessados", afirmou o presidente russo.

Pelo regime de rodízio do NDB, a Rússia seria a próxima a indicar o presidente do banco, que tem sede em Xangai, na China, e gerencia cerca de US$ 33 bilhões em financiamentos para projetos nos países do BRICS e no Sul Global. No entanto, Putin optou por abrir mão da indicação russa, favorecendo o Brasil, que também está à frente do G20 este ano e assumirá a presidência do BRICS em 2025.

Os paísesque fazem parte do BRICS
Os países que fazem parte do BRICS - Reprodução Canva

Dilma Rousseff, que substituiu Marcos Troyjo na liderança do NDB, destacou recentemente a importância do banco em expandir os investimentos nos países do bloco e defender o uso de moedas locais para o financiamento. "É crucial disponibilizar financiamento em moeda local através de plataformas específicas", afirmou durante a última cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia.

A proposta de extensão do mandato ainda precisa ser formalmente aprovada pelos governadores do banco, que representam os países membros. Caso seja confirmada, a continuidade de Dilma reforçará o papel do Brasil no cenário internacional, especialmente no momento em que o país lidera grandes fóruns multilaterais, como o G20 e o BRICS.
 

Contingente de desempregados aumentou 2 milhões em um ano, chegando a 15,2 milhões; desalento e subocupação também disparam
por
Rafaele Oliveira
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04/06/2021 - 12h

A taxa de desemprego chegou a 14,7% em março de 2021, o que significa uma alta de 2,5 pontos percentuais (p.p) quando comparado ao mesmo período do ano anterior, no início da pandemia de Covid-19. Os indicadores foram divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no dia 27 de maio e fazem parte da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua

Considerada em termos mensais – conforme a metodologia do pesquisador Marcos Hecksher, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) –, a taxa de desemprego atingiu  15,1% em março, maior do que o registrado no mesmo mês de 2020 (12,8%). De acordo com o Ipea, anulando os efeitos sazonais, a taxa de desemprego passou de 14,3%, em fevereiro, para 14,8%, em março.

taxa de desocupação e população ocupada
Taxa de desocupação e população ocupada no período entre março de 2012 e março de 2021.
Gráficos retirados da Carta de Conjuntura 51 | Nota 19 | 2˚ trimestre de 2021
 

O Brasil possuía, em março de 2021, 15,2 milhões de desempregados, um aumento de 15,1% em relação a março de 2020 (13,2 milhões). Já a população ocupada era de 85,6 milhões, representando uma queda de 4,8% em comparação ao mesmo mês do ano passado (89,9 milhões), quando o início da pandemia já vinha reduzindo os postos de trabalho. 

As estimativas mensais para a Pnad Contínua constam da Carta de Conjuntura número 51 do Ipea, em relatório sobre o mercado de trabalho assinado por Marcos Hecksher e Maria Andreia Parente Lameiras, técnicos de Planejamento  e Pesquisa da Diretoria de Estudos e Políticas Macroeconômicas da instituição.   

População desocupada, subocupada e desalentada

Considera-se desocupada a pessoa com idade para trabalhar que não está trabalhando, mas encontra-se disponível e à procura de trabalho. Rogério dos Santos perdeu o emprego como vendedor de uma loja de conveniência em agosto de 2020. Desde então, busca uma recolocação. “Está difícil arrumar um emprego, ainda mais na minha idade. Eu faço alguns bicos para conseguir pagar as contas, mas todo mês eu tenho medo de não conseguir o suficiente”, conta.

Rogério faz parte de uma parcela da população que entrou na categoria de subocupados por insuficiência de horas trabalhadas, ou seja, trabalhadores que têm uma jornada de trabalho inferior a 40 horas semanais, mas gostariam de trabalhar mais horas e estão disponíveis. Conforme dados do IBGE, o número de subocupados no trimestre móvel de janeiro  a março  de 2021 foi de 7 milhões de pessoas, crescendo 8,7% em relação ao mesmo trimestre de 2020.

Ainda há a força de trabalho potencial, que engloba duas categorias: primeira, os que não estão empregados, nem procuraram emprego recentemente, mas estariam disponíveis para trabalhar e, segunda, os que procuraram trabalho, mas não estavam disponíveis na semana de referência. Da soma desses três grupos origina-se a taxa composta de subutilização, cujo total foi de 29,7% no trimestre  encerrado em março, crescendo 0,9 p.p. frente ao trimestre móvel anterior (28,7%) e  5,3 p.p em comparação com o mesmo trimestre de 2020 (24,4%). 

Por fim, a população desalentada inclui pessoas que gostariam de trabalhar e estariam disponíveis, porém não procuraram trabalho por acharem que não encontrariam. O número de desalentados no trimestre móvel de janeiro a março de 2021 foi de 6 milhões, um recorde da série histórica iniciada em 2012, crescendo 25,1% ante o mesmo período de 2020.

O que está por trás das altas taxas de desemprego?

A crise econômica, iniciada em 2014, abriu feridas no mercado de trabalho, que até hoje não cicatrizaram. A redução dos investimentos em vários setores levou empresas a produzir menos e demitir parte de seus funcionários. O reflexo disso está na diminuição do consumo de bens e serviços, resultando em um encolhimento da economia no país. 

O professor de economia da FMU Marcos Henrique do Espírito Santo explica que o alto índice de desemprego é uma questão estrutural. “O desemprego alto é motivado por vários fatores, entre eles, uma desaceleração da economia nacional, que começa com as manifestações de 2013, depois piora com a Lava Jato. Desde então, a gente está nesse marasmo de altas taxas de desemprego, com investimento que não decola e com uma péssima confiança em relação ao futuro.” 

O futuro do mercado de trabalho no Brasil

Especialistas não estão otimistas quanto às perspectivas para o desemprego no Brasil. Segundo Marcos Henrique, além dos 15 milhões de desocupados, há outros 6 milhões de desalentados que, quando voltarem a procurar emprego, irão aumentar a taxa de desemprego.

A previsão é de que, a partir do segundo semestre, a atividade econômica comece a aumentar um pouco. “A perspectiva é que essa taxa de desemprego possa vir a cair, de 14,7% para 13%, algo assim”, estima o professor. Para ele, o setor de serviços, principal afetado pela pandemia, também é o que pode se recuperar mais rápido, à medida que as restrições vão terminando. Até mesmo categorias menos prejudicadas, como construção civil e agropecuária, ainda estão muito longe do período anterior à crise sanitária.

Qual é a solução?

Os estudiosos entendem que é preciso pensar em um novo plano econômico, com o objetivo de aumentar o investimento. “Derrubar o teto de gastos e discutir o tripé macroeconômico, além de reordenar tudo isso em um plano nacional que inclua empregos e investimento de alta tecnologia, é fundamental para que o Brasil recupere o ciclo de crescimento e, portanto, consiga derrubar de maneira estrutural essas taxas de desemprego tão altas”, finaliza Marcos Henrique.

Referência nacional, principalmente em vestuário infantojuvenil, bairro paulistano vê fechamento de lojas em meio a queda no movimento
por
Filipe Saochuk
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03/06/2021 - 12h

“O Arnesto nos convidou para um samba, ele mora lá no Brás.” Este é um trecho do icônico samba de Adoniran Barbosa chamado “Samba do Arnesto”, que conta a história de um desencontro entre amigos  no bairro do Brás. Eternizado na voz de Adoniran, o tradicional distrito do centro de São Paulo é um dos principais pontos de comércio da maior cidade da América Latina.

No início do século 20, o Brás se tornou um ponto de referência da comunidade italiana em terras tupiniquins, que deixavam a Europa para buscar uma vida melhor no Brasil através da imigração. O bairro iniciava nesta época o seu processo de industrialização, do qual  seria o carro-chefe da região.

Porém, após a Segunda Grande Guerra, com um aumento da industrialização em São Paulo, a cidade  passa a atrair muita mão de obra das regiões rurais do país. Com isso, as estações de trem do Brás começam a receber muitas famílias nordestinas que decidiram se mudar para o Sudeste, e uma comunidade que tinha predominantemente italianos  se torna também um ponto de referência da cultura do Nordeste, em pleno  centro da cidade de São Paulo.

Com o passar das décadas, o  bairro do Brás se tornou não apenas uma região de muita cultura na capital, mas, principalmente, de muita força econômica. Majoritariamente, a indústria e o comércio de confecções em atacado e varejo são as principais atividades do bairro, sobretudo de roupas infantojuvenis. Em avenidas como Rangel Pestana e Celso Garcia, a comercialização de produtos populares, como na Avenida 25 de Março, é muito comum e atrai centenas de milhares de pessoas que passam pela região todos os dias. Ou melhor, passavam…

Antes do início da pandemia de Covid-19, mais de 400 mil pessoas passavam pelas ruas do Brás diariamente. Ao todo, eram 4 mil lojas fixadas na região e 8 mil boxes, que geram  mais de 600 mil empregos  diretos e indiretos, como informou Juliana Munaro, em matéria publicada em maio de 2020 no portal G1.

Em 2019, a Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo divulgou que o bairro do Brás lidera a capital paulista em número de microempreendedores, com um total de 8 mil pessoas, ficando à frente de outros importantes bairros para a economia paulista, como a Bela Vista, com 7.404, Pinheiros (6.988), Vila Mariana (5.982) e Americanópolis (4.949).

Ainda sobre os dados divulgados pela Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo, em 2019 o Brás já tinha mais de dez shoppings em funcionamento. Cada vez mais os comerciantes querem se afastar do trabalho informal e se aproximar do formal, sendo que mais de 42 mil microempreendedores da capital estavam no meio do comércio varejista de roupas, representando 6% do total de São Paulo. Entre 2014 e 2019, 66 mil pessoas iniciaram um empreendimento neste ramo.

Uma boa parte destes trabalhadores que abriram seus negócios estão localizados no Brás, demonstrando toda a importância que o bairro  tem não apenas no setor de produção e comercialização de roupas e acessórios, mas também em toda a economia da cidade.

A lojista Maria Valéria Veríssimo, dona de um comércio de roupas infantojuvenis em Campinas, comentou um pouco de sua experiência com o bairro do Brás e como a região movimentava pessoas e dinheiro antes da pandemia.

“Procurávamos ir para o Brás às segundas-feiras de manhã, para tentar evitar o movimento do bairro, que era muito grande. O comércio do Brás não atende apenas lojistas de São Paulo, costumava ver ônibus com comerciantes de outros estados, como Minas Gerais, Mato Grosso… todos indo atrás de uma boa oferta em variedade e preços, sendo um ‘paraíso das roupas’, não apenas no atacado, mas também no varejo.”

No quesito valores, Maria Valéria conta  quanto costumava investir em novas peças para sua loja, confirmando que o movimento do bairro não se refere apenas a pessoas, mas principalmente a cifras.

“Diversas vezes já fomos ao Brás para renovar nosso estoque, em praticamente todas as mudanças de coleção. A cada ida, eram pelo menos R$ 20 mil em novas roupas, sendo que algumas vezes os gastos chegaram na casa dos R$ 50 mil.  Tratava-se apenas de uma empresa, agora, se pensarmos em todos os clientes e comerciantes que passam e gastam por lá todos os dias, imagine o quanto de dinheiro que o Brás não gera e movimenta? Não à toa é um dos principais pontos de comércio, não apenas de São Paulo, mas do Brasil.”

Porém, ao final do primeiro trimestre de 2020, essa realidade acabou ficando no passado, e o Brás já não era mais o mesmo, nos mais diversos quesitos. Com a pandemia, o movimento, que era tão intenso, foi repentinamente zerado. O dinheiro que o comércio movimentava já não corria mais e tanto aqueles que precisavam vender, quanto os que precisavam comprar, foram diretamente afetados.

“Logo no início da pandemia, fomos impedidos de comprar no Brás. As lojas costumam ser lotadas, e aglomeração é o que não falta. As incertezas sobre a pandemia e o tempo que levaria até que o mercado pudesse operar normalmente fizeram com que as empresas optassem por não investir em novas peças, o que prejudicou e muito não apenas fornecedores do Brás, mas do país como um todo”,  comentou Valéria.

Com o ápice da pandemia, muitas lojas entraram para o mundo do e-commerce e conseguiram, ainda que não da mesma maneira, vender seus produtos. Porém, para muitos comerciantes e estabelecimentos, quando as atividades presenciais começaram a ser retomadas, já era tarde demais.

“Quando iniciou o processo de reabertura do Brás, percebemos um número muito grande não apenas de lojas, mas também de fábricas, que encerraram suas atividades. É realmente muito triste, porque vemos o desemprego aumentar cada vez mais, em um mercado que, antes de tudo isso, crescia muito, estava em verdadeira ascensão. Já os que conseguiram se manter tiveram uma alta nos preços, por conta de uma oferta menor, e uma necessidade de compensar o que foi perdido durante a paralisação. A pandemia só gerou perdas para o ramo, tanto para quem compra, quanto para quem vende”,  completou Maria Valéria Veríssimo.

Mesmo após alguns meses com o comércio funcionando, o bairro  seguiu extremamente afetado. Movimento reduzido, menor variedade, preços elevados… Até que em março deste ano, com o agravamento dos casos de Covid em São Paulo, foi decretado um novo fechamento total dos serviços não essenciais, o que inclui o comércio. Por mais de um mês, as ruas do Brás voltaram a se esvaziar, e, depois de dar um pequeno passo em direção à normalidade, a região voltou a andar para trás.

Em 19 de abril, o primeiro dia após a reabertura do comércio, o tradicional bairro voltou a ter suas ruas preenchidas de ambulantes e clientes, que foram às compras desde a madrugada. A tendência é que, com o tempo, a situação no Brás vá se normalizando, sendo algo longe do imediato.

Os danos causados pela pandemia foram profundos, e o comércio no bairro  continua sendo afetado. Muitas empresas e fábricas faliram, lojistas não conseguiram mais realizar compras para renovar seus estoques, os preços subiram e a oferta de produtos diminuiu. Assim como em outros aspectos da sociedade, o Brás terá que se adaptar a uma nova realidade para poder voltar a ser uma das grandes forças da economia paulista o quanto antes.

A pandemia e o isolamento social potencializaram um mercado que há tempos deixou de ser promessa para se tornar uma lucrativa realidade
por
Geovanna Hora
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02/06/2021 - 12h

A indústria dos jogos eletrônicos é, de longe, a maior do entretenimento mundial. Somente em 2020, o setor registrou um crescimento de 19% em relação ao ano anterior e um faturamento superior aos US$ 174 bilhões, de acordo com dados da empresa Newzoo, especialista em análises sobre o mercado dos games. Para efeitos de comparação, no mesmo período, o cinema apresentou uma queda de 72% e uma receita de apenas US$ 12 bilhões, segundo informações da consultoria americana ComScore.

Os resultados de 2020 foram afetados pela pandemia de Covid-19, que levou a maior parte dos setores a registrar queda no faturamento. Mas, enquanto as outras áreas do entretenimento sofriam com as medidas restritivas adotadas, os jogos eletrônicos foram beneficiados, justamente, pela necessidade de isolamento.

 

75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social
75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. | Imagem: Freepik/Mego-Studio​​​​

 

“Esse período trouxe uma mudança positiva para o setor, pois à medida que as pessoas passam mais tempo em casa, a quantidade de horas gastas jogando aumenta muito, independentemente da plataforma”, analisa Renato Ramos, coordenador do curso de Jogos Digitais na PUC-SP e sócio fundador das empresas de desenvolvimento de games T4 Interactive e QUByte Interactive. 

A afirmação de Ramos está em sintonia com os resultados apresentados pela 8ª Pesquisa Game Brasil (PGB) o mais importante levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos, divulgado em 2021. De acordo com a PGB, 75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. A pesquisa apontou ainda que 72% da população brasileira joga algum game e 42,2% dos entrevistados disseram que investiram mais dinheiro em jogos nessa época.

 

O contato virtual como alternativa para o isolamento 

 

O game “Animal Crossing: New Horizons”, da Nintendo, lançado em março de 2020, é uma prova de que as pessoas passaram a considerar o mundo dos jogos virtuais um refúgio para a realidade. Neste game, o jogador precisa criar um personagem para viver em uma ilha deserta e explorar o local, com a possibilidade de convidar amigos para jogarem juntos e interagirem em tempo real.

Segundo dados apresentados pelo portal de games americano Polygon, menos de dois meses após o lançamento, o título já havia vendido 13 milhões de unidades e, em novembro, ultrapassou a marca de 26 milhões de cópias vendidas, o que o tornou o segundo game mais comercializado da história do Nintendo Switch mais recente console da empresa japonesa, lançado em 2017.

O crescimento alcançado pela indústria de games já é surpreendente, mas esses números podem se tornar ainda mais expressivos com a rápida expansão do setor. Segundo previsões feitas pela Newzoo, este mercado deve ultrapassar a marca de US$ 200 bilhões em receitas até o ano de 2023. “A expectativa para a indústria dos jogos eletrônicos é enorme em qualquer área, mas principalmente nos setores de treinamento e educacional”, aponta Ramos.

 

O mercado de trabalho no mundo dos games 

 

Com a constante alta no faturamento, a indústria de jogos eletrônicos passou a ser responsável por gerar cada vez mais empregos. Só nos Estados Unidos, em 2019, cerca de 429 mil pessoas trabalhavam na área, segundo dados da Associação de Software de Entretenimento (ESA, na sigla em inglês), organização norte-americana especializada no mercado de games.

Já no Brasil, entre os anos de 2015 e 2018, a quantidade de vagas oferecidas por esse setor atingiu alta de 73%, de acordo com a plataforma de buscas de empregos Indeed. O crescimento alcançado desde o começo da pandemia provocou um novo aumento na demanda por profissionais da área, o que permitiu que muitas pessoas unissem a paixão pelos games à necessidade de trabalhar.

O gamer Arthur Silva, conhecido como Apeste, é um exemplo. Apesar de participar de competições profissionais desde 2012, somente em 2021 o paulista assinou o seu primeiro contrato como profissional da área. Agora ele faz parte do elenco do São Paulo de Pro Evolution Soccer (PES), jogo de futebol virtual que está entre os mais vendidos no Brasil.

“No geral, esse período foi positivo para os gamers, porque os patrocinadores e os clubes oficiais começaram a enxergar os e-sports como uma saída para atrair o público e vender o seu produto”, afirma Apeste. “Para alguns, essa foi a única saída para conseguir uma renda, já que muitas pessoas perderam os seus empregos tradicionais”, completa o gamer.

 

Arthur e Babi
A esquerda, Arthur Silva, o Apeste, e a  direita, Babi Micheletto | Imagem: Instagram/Reprodução. 

 

Para a narradora de jogos eletrônicos Babi Micheletto, essa época representou uma transformação na sua trajetória. Ela pensou em desistir do mundo dos games e voltar a trabalhar como educadora física, sua profissão de formação, mas, no início da pandemia, recebeu um convite para integrar a equipe de narradores da Gaulês TV, um dos maiores canais da plataforma de streaming Twitch, o que alavancou a sua carreira.

“Eu trabalho somente com a narração e vivo disso, com direito a todos os benefícios que um trabalhador de uma área tradicional tem'', conta Babi, que atualmente é contratada da equipe Case Esports. “Apesar de todo o desastre causado pela pandemia, o ano de 2020 foi o que mais impactou o meu trabalho, com oportunidades únicas, como ir para Dubai cobrir um campeonato mundial”, completa a narradora.

 

Após subir 8,48% no primeiro trimestre, moeda norte-americana começou a recuar em abril e deve fechar o ano em R$ 5,30
por
Luiza Nascimento
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01/06/2021 - 12h

A pesquisa Focus do Banco Central atualizou, na sexta-feira (28/5), as projeções do mercado financeiro para o dólar no fim do ano. Pela terceira semana seguida, as expectativas ficaram em R$ 5,30, confirmando a aposta numa estabilização da moeda americana, que subiu 8,48% no primeiro trimestre, caiu 3,49% em abril e, em maio, vem registrando nova queda (1,84% até o dia 25).  A previsão para 2022, no entanto, segue com o dólar equivalente a R$ 5,40 e caindo nos próximos anos, com uma estimativa de R$ 5,10 em 2024. Esses valores, contudo, sofrerão mudanças e podem aumentar ou diminuir conforme o mercado se desenvolva.

O dólar possui uma previsão ainda incerta dentro do mercado brasileiro. | Foto: Freepik.

 

Previsão do dólar é incerta, mas sua tendência é de queda

Após um aumento de 29,36% em 2020, com um valor de câmbio maior que R$ 5 desde junho do ano passado, o dólar possui um futuro incerto no Brasil.

A pandemia do novo coronavírus, a CPI da Covid-19, a instabilidade política entre outros fatores, atuam como pêndulos para o câmbio. Cada ocasião influencia na cotação do real, que pode subir ou descer frente à moeda norte-americana.

O câmbio, entretanto, está agora em um período de queda, com uma previsão que indica valores menores do que os registrados nos últimos dois meses. O dólar começou 2021 negociado a R$ 5,18 e atingiu a máxima do ano no dia 9 de março, quando chegou a R$ 5,79. Em 25 de maio, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,33, acumulando alta de 2,89% desde janeiro. 

Especialistas atribuíram a recuperação do real nos últimos dois meses à aprovação do orçamento de 2021 e ao maior otimismo com a economia global. Segundo o analista Luiz Otávio Fonseca, da empresa Suzano, outro fator que contribuiu para a queda do dólar foram os aumentos da taxa básica de juros pelo Banco Central no Brasil. Apesar disso, ele observa que o atual patamar do câmbio ainda reflete a percepção de risco dos investidores em relação a aplicações em reais.

 “O mercado como um todo tem entendido que os patamares de R$ 5,50 para o dólar embutem um certo prêmio de risco dado o momento econômico brasileiro vindo das indefinições sobre algumas pautas referentes ao orçamento federal e, por isto, há uma expectativa de que o dólar perca valor frente ao real nos próximos meses. Aliado a isto, o Banco Central deve continuar o exercício de aumento nas taxas referenciais de juros para ajudar a conter a inflação mais alta gerada pelo ambiente de incentivo econômico que vinha desde o ano passado. Combinando esses dois fatores, a expectativa é que haja uma redução do nível de câmbio, embora o câmbio tenha em si um componente de alta volatilidade e sensibilidade a notícias que nunca deve ser deixado de lado”, avalia Otávio.

Outro fator determinante para o comportamento do câmbio nas últimas semanas é a inflação estadunidense. Uma possível alta gerou queda nas principais bolsas de valores do mundo, contribuindo para a valorização de outras moedas em relação ao dólar.

 Como funciona a previsão de câmbio para o dólar?

Quando questionado sobre a previsão para o dólar e o real, utilizando como base uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a instabilidade da moeda norte-americana ser algo corriqueiro, Luiz Otávio explica como funciona essa análise de câmbio.

“As teorias de câmbio que mostram mais aderência aos dados reais são a teoria da paridade do poder de compra e a teoria da paridade da taxa de juros coberta. A primeira tem muita aderência no longo prazo e diz que uma moeda atrelada a um país com inflação mais alta que a moeda de referência (o dólar) vai no tempo se desvalorizar pelo diferencial das inflações. A segunda teoria tem mais aderência no curto prazo e não permite arbitragem (ganho sem risco) e diz que moedas com uma taxa de juros mais alta se depreciaram em relação à moeda de referência pela diferença entre essas taxas de juros.”

Segundo o analista, na situação atual do mercado, ambas as teorias indicam a queda do dólar. Ele cita ainda novos fatores que corroboram essa tendência.

“Para ambos os casos, de fato há uma expectativa para que a tendência seja do dólar se valorizar frente ao real ao longo do tempo pela menor inflação e taxas de juros dos EUA, indicadores típicos que uma economia mais madura que a nossa. Além disso, o câmbio apresenta uma volatilidade histórica de 15% ao ano que faz com que movimentos bruscos como os vistos no último ano não sejam de forma alguma algo raro. Portanto, o aumento de dois desvios-padrão, duas vezes a volatilidade citada, é algo que, apesar de ter impactos significativos, não deixa de ser algo relativamente esperado.”

De acordo com o analista, apesar do desafio de prever níveis de câmbio, o aumento das taxas de juros brasileiras deve atrair mais capital internacional no curto prazo, ajudando a reduzir os patamares atuais. Além disso, a redução de incertezas sobre questões fiscais deve reduzir a visão de risco dos investidores, colaborando com essa tendência de redução do valor do dólar. Para o longo prazo, depois desta “normalização”, porém, uma alta deve ser esperada devido à teoria da paridade do poder de compra.

Outras previsões

Além de analistas, instituições financeiras, como bancos, acompanham o câmbio no mercado brasileiro. O Itaú manteve sua previsão, realizada no final de 2020, para o dólar até o término de 2021 e 2022 de, respectivamente, R$ 5,30 e R$ 5,50. O banco leva em consideração a segunda onda do novo coronavírus no país e seu arrefecimento em meio às campanhas de vacinação contra a doença. A instituição, entretanto, afirma que ainda há riscos em relação à pandemia, como um novo colapso nos sistemas de saúde e consequências das novas variantes.

Enquanto as previsões de analistas brasileiros apontam uma futura valorização do real, o banco francês Société Générale Bertrand Delgado tem outro prognóstico.

Segundo seus analistas, em relatório divulgado no dia 05/05, o dólar poderá encerrar o ano em R$ 6. Sua previsão para o decorrer do ano difere das estimativas apontadas pelo Boletim Focus. O banco francês aponta que o dólar fechará em R$ 5,50 em junho e em R$ 5,80 até o final de setembro. O Banco Central, por sua vez, indica queda do valor até o fim do ano e, após isso, estabilidade.

Medidas de contenção da Covid-19 derrubam vendas e geram onda de demissões; 30% fecharam definitivamente
por
Anna Carolina Ferreira
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01/06/2021 - 12h

“O cinto está cada vez mais apertado. Não sei o quanto ainda aguentaremos”, desabafa André Sarkissian Tucci, proprietário da Brinquedos Beija-Flor, uma das 4.800 lojas que funcionam na região da 25 de Março. A angústia de André é a mesma de muitos comerciantes locais, que vivem momentos de incertezas desde março de 2020, quando o comércio fechou em função do avanço do coronavírus.

A assessora-executiva da União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), Claudia Hurias, expõe que os meses de paralisação e a diminuição de consumidores no local provocaram uma queda de 68% nas vendas em 2020. Até antes de a pandemia se instaurar, o comércio da 25 de Março contava com 40 mil funcionários e atendia um público diário de 400 mil pessoas – chegando a 1 milhão em fins de semana e datas especiais. No entanto, a assessora afirma que, desde então, 30% dos estabelecimentos fecharam as portas definitivamente, provocando 15 mil demissões.

                                                                                                                                       

Ladeira Porto Geral vazia em decorrência do fechamento do comércio
Fechamento do comércio da 25 de Março provoca instabilidade para os comerciantes e funcionários (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O quadro é mais preocupante ao se levar em conta que esses comerciantes ainda sofriam consequências de uma turbulenta recuperação financeira. Isso porque o mercado da 25 de Março ainda não tinha se reerguido por completo da crise de 2015 – ano em que o faturamento caiu de R$ 13 bilhões para R$ 8 bilhões, em consequência do colapso na economia nacional. O crescimento anual era baixo e a situação econômica não oferecia muita segurança para os lojistas. “Antes da pandemia, as vendas já andavam ruins, já estávamos tendo que diminuir o número de funcionários”, relembra André.

Os primeiros meses de adaptação à nova realidade geraram grandes prejuízos para os comerciantes. Mesmo com a retração nas vendas - que chegaram a cair 85% durante o primeiro fechamento -, os comerciantes precisavam arcar com os custos dos estabelecimentos. As contas de água e luz, os impostos, as taxas de funcionamento, o aluguel e o salário dos funcionários continuaram sendo cobrados, mas com a redução do capital embolsado as despesas não conseguiam ser pagas.

André conta que para tentar reverter o prejuízo passou a investir nas vendas online. “Como a loja estava fechada, eu trouxe muitos produtos aqui para casa, para fornecer a quem encomendasse. Nesse período, a casa ficou lotada de mercadoria”, lembra, descrevendo uma confusão de pacotes que não poupava nem mesmo o banheirinho de serviço.

Assim como André, muitos outros comerciantes da região também recorreram ao comércio digital. Para quem já possuía a estrutura de e-commerce, as vendas online corresponderam de 5% a 15% dos negócios. Já os menos familiarizados, precisaram se adaptar rapidamente com a comercialização através das redes sociais. Apesar disso, esses recursos não supriam as grandes perdas obtidas com a falta das vendas físicas. “Mesmo trabalhando com serviços online, muitos não conseguiram permanecer abertos, levando à falência” relata Claudia.

Em junho passado houve a primeira reabertura do comércio - seguindo todos os protocolos de segurança sanitária -, porém, com o descontrole da pandemia, já foram necessários novos períodos de fechamento. Tal instabilidade e o medo da contaminação desanimam os consumidores a frequentarem a 25 de Março. Por isso, mesmo com a reabertura, o faturamento continua encolhendo. “Desde que reabrimos, no ano passado, o movimento está muito fraco. Apenas em outubro, por conta dos artigos de Halloween, tivemos um aumento nas vendas. O período de festas juninas era o mais lucrativo em minha loja, porém ano passado não teve festas e pelo visto este ano também não”, conta André.

Nesse cenário tão desanimador e com o futuro do país tão incerto - seja pela pandemia ou pela instabilidade da economia no setor de serviços - é difícil fazer projeções, no entanto Claudia faz um breve balanço. “O forte da 25 é o atacado, se o comerciante não vende ele não compra para abastecer e todos perdem. Se este cenário econômico não mudar, se a vacina não acelerar, o comercio será o setor mais afetado e teremos muitos CNPJ encerrados até acabar este ano. Dependemos de ações governamentais para projetar algo e infelizmente não temos isso”.