A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Mais da metade da população não sabe se terá o que comer no dia seguinte; interrupção e corte do auxílio emergencial agravaram situação
por
Beatriz Girão e Laura Ré
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03/07/2021 - 12h
Foto: Giovanna Colossi, especial para a Agemt
Fila para receber as marmitas distribuídas pela Tenda Franciscana, no Centro de São Paulo. Foto: Giovanna Colossi 

 

O Brasil está de volta ao Mapa da Fome da Organização das Nações Unidas (ONU). Mais da metade da brasileira não sabe se terá o que comer no dia seguinte. O país estava fora do levantamento desde 2014, mas, com a pandemia, a deterioração social que já vinha ocorrendo se agravou ainda mais, expondo a ausência de políticas públicas voltadas a combater a pobreza.

De acordo com Fernando Burgos, professor de Administração Pública da Fundação Getúlio Vargas e especialista em desigualdade social, a fome no Brasil é uma questão histórica e sempre foi uma realidade. A implementação de políticas públicas como Fome Zero e Bolsa Família contribuiu para a queda dos índices de extrema pobreza e a melhora na qualidade de vida. Contudo, Burgos afirma que a crise econômica do segundo governo Dilma vem sendo agravada desde então. “Com Bolsonaro pré-pandemia em 2019, o Brasil começou a voltar para o Mapa da Fome.” 

O auxílio emergencial foi um dos recursos adotados pela gestão federal para tentar amenizar a crise e instaurar uma proteção social para a população mais pobre do país. De início, o aporte foi de R$ 600, destinado a maiores de 18 anos (exceto mães de famílias monoparentais), trabalhadores sem carteira assinada, autônomos, microempreendedores individuais (MEI) e desempregados. Era necessário também estar dentro do limite de renda por pessoa da família de até R$ 522,50 ou renda familiar de até R$ 3.135,00. Esse modelo inicial ficou em vigência até dezembro de 2020. 

Para Daniel Duque, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), o auxílio emergencial foi capaz de recompor as finanças de grande parte daqueles que perderam as fontes de renda. "Com sua grande cobertura e um alto valor do benefício, não seria de se surpreender que o auxílio emergencial tivesse sido um impacto significativo sobre a taxa de pobreza agregada no país”, explica. Duque ressalta que, se a Pnad Contínua (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua), ferramenta do IBGE que acompanha as flutuações da força de trabalho, for observada ao longo de quatro semanas, seria uma possibilidade para ajudar a reduzir a pobreza no país.

De dezembro de 2020 até maio deste ano, a população ficou desamparada, sem auxílio emergencial. A renovação em 2021 foi definida com um valor reduzido para R$ 375,00. Entretanto, Duque afirma que não será o suficiente e que, com a extinção do auxílio emergencial de janeiro a abril deste ano, houve um impacto sobre a massa de rendimentos, pobreza e desigualdade. “A incapacidade do governo de imunização em massa prejudica também a melhora da economia e a volta do mercado de trabalho. Se o auxílio não for aumentado ou permanecer por mais tempo, será necessário, por exemplo, a aprovação de aumento do orçamento do Bolsa Família", avalia. 

Fernando Burgos também adverte sobre as consequências do valor menor para o auxílio e aponta que a tendência até o final deste ano é que muitas famílias entrem em uma situação grave do ponto de vista social. "Quem está sendo contemplado agora, provavelmente, vai ter mais dificuldade. Lembrem-se que R$ 75 é R$ 12 e pouquinho por dia.”, ressalta.

O retorno do Brasil ao Mapa da Fome é uma consequência da pandemia da Covid-19 e da má gestão e distribuição, principalmente da segunda parcela, do auxílio emergencial oferecido pelo governo federal. Com esse cenário, o movimento “Tem Gente Com Fome”, apoiado pela Anistia Internacional e diversas outras ONGs, usa as redes sociais de artistas e recebe o apoio de empresas para clamar por ajuda e arrecadar doações para famílias vulneráveis. O resultado prévio deste trabalho identificou 222.895 famílias a serem auxiliadas e mobilizadas em periferias, favelas, comunidades quilombolas, populações ribeirinhas e palafitas em todo o território nacional.

“Para mim, as empresas doarem, eu acho legal, acho um gesto importante. Todos nós estamos no mesmo barco. Então, foi uma onda de solidariedade bacana por um lado. Por outro lado, tem muita solidariedade condicionada, que vai dar naquilo que eu, elite, entendo que tem que ser dado.”, critica Burgos. O professor aponta as ONGs que precisam receber financiamento como as que serão mais prejudicadas ao longo desta segunda, e em uma eventual terceira, onda da Covid-19, pois “não adianta você dar o saco de feijão, se você não der o gás”. Como diz Burgos, é preciso fornecer condições para uma melhor qualidade de vida como um todo para as famílias vulneráveis.

Imagens: Giovanna Colossi, especial para a Agemt

Introduzida no Brasil na década de 1980, equoterapia é utilizada como complemento de tratamentos físicos e psicológicos
por
Beatriz Pugliese
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30/06/2021 - 12h

A equoterapia foi trazida para o Brasil, no final dos anos 80, pela Ande, Associação Nacional de Equoterapia. Seu objetivo principal é complementar o tratamento dos praticantes, através de exercícios com equinos, estimulando tanto o lado físico quanto psicológico. Hoje, a Ande, cuja sede é em Brasília, atua em todo o território nacional como centro regularizador da equoterapia. Existem centros filiados, que seguem todas as normas decretadas pela entidade, e os centros agregados, que seguem parcialmente as normas. 

Estima-se que existam, hoje, 6,5 milhões de deficientes visuais no Brasil, 2 milhões de casos de autismo, 1,4 milhão de paralisia cerebral e 300 mil de Síndrome de Down. Esses são alguns dos principais praticantes de equoterapia. 

A Equovita é um dos 280 centros filiados da Ande e se situa em Jundiaí, no interior de São Paulo. O centro, que era 100% dedicado à equoterapia, hoje possui uma agenda mais diversificada e equilibrada. O tratamento com equinos representa 45% de seu faturamento, enquanto as aulas de equitação respondem por 55%. Roberto Aprigliano, proprietário e professor da Equovita, conta que ambos os serviços oferecidos tiveram um crescimento acentuado nos últimos anos, principalmente durante a pandemia. 

Roberto explica que a equoterapia vem se tornando mais conhecida entre os brasileiros desde 2018. Em cinco anos, a Equovita dobrou o número de alunos da modalidade, totalizando 63 atualmente. Entretanto, o distanciamento social exigido pelo novo coronavírus também teve grande participação nesse crescimento. “A maior parte das terapias era em sala, o que foi proibido e restrito”, diz Roberto. “A equoterapia entrou como um contrapeso: ar livre, sem aglomeração, equipe protegida.” É importante destacar que a equoterapia é um tratamento complementar, nunca o principal. “O objetivo é a manutenção do que eles já têm. Nós sabíamos que alguns poderiam não ter evolução, mas só de não ter involução já era um ganho.”  

Uma questão muito presente em qualquer serviço com equinos é o custo. Na equoterapia, particularmente, além dos custos do cavalo, como alimento e vacinas, também há o custo dos profissionais. De acordo com as normas da Ande, uma sessão de equoterapia exige o acompanhamento do terapeuta específico (fisioterapeuta, fonoaudióloga, psicóloga etc), um auxiliar e um guia para o cavalo. Para suprir a soma de todos esses gastos, as mensalidades na Equovita são a partir de R$ 495. 

Entretanto, existem formas de contornar essa situação financeira. “O cidadão pode entrar na Justiça”, conta Roberto. O equoterapeuta explica que já atendeu diversos casos em que a verba vem da prefeitura ou dos planos de saúde, após uma decisão judicial.  

Foi exatamente esse desejo de tornar a equoterapia mais acessível que motivou a fisioterapeuta Carla Natucci a criar a ONG Abraahce (Associação Brasileira de Relacionamento Homem, Animal, Meio Ambiente e Centro de Equoterapia).

A Abraahce é uma organização sem fins lucrativos e totalmente focada em equoterapia. “Nosso pensamento nunca foi gerar lucro, mas precisamos sobreviver”, conta Carla. “Tem algumas pessoas que mediante ações liminares acionaram os próprios convênios ou a prefeitura do município, mas são poucos.” 

A fisioterapeuta explica que a ONG possui um programa de bolsas, mas que qualquer pessoa que procure a Abraahce passará por uma entrevista, na qual os valores da terapia podem ser negociados. “Nós temos, hoje, 20% do nosso público com atendimento 100% gratuito. Foi a forma que a gente encontrou de manter o nosso propósito.” Para priorizar o atendimento acessível, a Abraahce criou um projeto de voluntariado, no qual os próprios integrantes da equipe realizam trabalho não remunerado, desde o marketing até o manejo dos cavalos (funções exclusivas para estudantes da área ou pessoas treinadas). 

Assim como a Equovita, a Abraahce também teve um grande aumento na procura por seus serviços. Carla explica que a pandemia trouxe uma nova categoria de clientes para a equoterapia: jovens com ansiedade ou até mesmo depressão. A fisioterapeuta diz que, atualmente, 50% dos praticantes são adolescentes que procuram um tratamento complementar para questões psicológicas e emocionais. Outra parcela significativa dos alunos é composta por crianças diagnosticadas com autismo, representando, aproximadamente, 30% do público da Abraahce. 

Quanto mais reconhecimento a equoterapia recebe, mais acessível ela se torna. Os resultados positivos do contato com equinos têm atraído cada vez mais pessoas, com as mais diversas condições físicas e psíquicas. Para Carla e outros equoterapeutas, o objetivo é nítido: “É para que as pessoas possam ter, realmente, a vida transformada através do cavalo”.

Busca de soluções naturais para auxiliar no combate à ansiedade impulsiona aromaterapia, que já vinha em alta antes da pandemia
por
Soffy Soares
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29/06/2021 - 12h

Foto: Shutterstock

 

Durante a pandemia, diversos brasileiros começaram a  buscar soluções naturais para o controle de ansiedade, estresse e episódios depressivos. Um estudo realizado pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) detectou o  aumento de 90% nos casos de depressão e de 50% nas crises de ansiedade ou sintomas de estresse agudo entre março e abril de 2020. Sendo assim, uma das alternativas que mais ganharam destaque foi a aromaterapia, um ramo da fitoterapia que utiliza óleos essenciais extraídos das plantas para auxiliar tratamentos físicos, emocionais e energéticos.

As essências são comercializadas em lojas de produtos naturais ou através de representantes de marcas. E desde 2006, são oferecidas através do Sistema Único de Saúde (SUS), podendo ser encontradas nas unidades básicas de atendimento. Entretanto, a aromaterapia serve apenas como suporte, o tratamento de transtornos da mente deve ser sempre conduzido por profissionais da saúde.

Segundo dados divulgados pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), a produção mundial de óleos essenciais é de aproximadamente 45 mil toneladas, avaliadas em US$ 700 milhões. Estima-se que a produção nacional de óleos essenciais seja equivalente a 13,5% da produção total, posicionando o Brasil como o quarto maior exportador em comparação aos outros países. A consultoria Euromonitor projeta que haverá um crescimento global de quase 12% no uso de óleos essenciais até 2023. Na América Latina, a expectativa de crescimento é de cerca de 10% nos próximos quatro anos.

De acordo com  levantamento disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o consumidor no país vem aumentando seu interesse no setor a níveis consideráveis, antes mesmo da pandemia. O informe aponta que os óleos essenciais (cítricos, excluindo os de laranja) apresentaram um crescimento de um total de 600.000 em toneladas vendidas, no ano de 2014, para um total de 900.000, também em toneladas, no ano de 2017. A demanda é em grande parte para as áreas de produtos de perfumaria e indústria cosmética, mas também é destinada às indústrias alimentícias e farmacêuticas.

A proprietária da Anber Aromas, Lea Berezutchi, teve a ideia de comercializar óleos essenciais durante a quarentena. “Senti muita falta do cheiro da natureza, da minha conexão com ela, enchi minha casa de plantas, e aí veio a ideia de manipular os aromas." A microempresária conta que as vendas superaram o esperado. Logo no primeiro mês de seu e-commerce, totalizou mais de 30 vendas. “Não conhecia muito sobre o assunto, fui me inteirar de como era feito, quais aromas existiam e depois de dois meses iniciei as vendas’’, completa.

O preço desses óleos encontra-se, hoje, em patamar econômico mundial elevado. Entretanto, a valorização durante a pandemia das chamadas práticas integrativas e complementares (PICS) – tratamentos que utilizam recursos terapêuticos baseados em conhecimentos tradicionais –, vem oferecendo novas oportunidades para produtos naturais crescerem ainda mais no mercado nacional e internacional.

Foto da capa: Shutterstock

Segundo levantamento da empresa Statista, serviços de entrega devem movimentar US$ 6,3 trilhões no mundo até dezembro
por
Giovanna Montagner
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29/06/2021 - 12h

Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil

 

Com o avanço da pandemia da Covid-19, as compras online aumentaram. O mercado de delivery se tornou uma necessidade com a chegada da pandemia em 2020, estimulando o consumo e influenciando hábitos da população. Segundo o levantamento feito pela Statista – empresa especializada em dados de mercado e consumidores –,  estima-se um movimento de US$ 6,3 trilhões no delivery em todo mundo até dezembro.

Dados do setor mostram um salto de 155%, entre março e abril do ano passado,  em relação aos usuários de plataformas como Rappi, iFood e Uber Eats, quando o estimado para o período era de 30%. O crescimento de pedidos também acompanhou o crescimento de usuários, atingindo expressivos 975% de aumento.

O levantamento mostra o Brasil como destaque no segmento de delivery na América Latina em 2020. O País foi responsável por quase metade dos números do delivery, com 48,77%, seguido por México e Argentina, com 27,07% e 11,85%.

Reconstrução do Food Service e a mudança no consumo

Com os novos canais de vendas, o conceito de Food Service foi reconstruído e modernizado. A transformação no modo de comprar veio ao encontro com a profissionalização do marketing digital na gastronomia, vista principalmente na construção de plataformas e estratégias de vendas no delivery.

Comecei a trabalhar com delivery já na pandemia. E praticamente todos os clientes mandaram entregar ao invés de retirar na loja”, diz a empresária Natalia Kobbach, dona da Nati Gentil Brigadeiros – café especializado em bolos e brigadeiros, localizado na cidade de Mirandópolis.

A transformação digital também acelerou tendências criadas entre 2018 e 2019, como take away, quando você retira na loja, e o grab and go, no qual o consumidor vai ao restaurante, escolhe uma refeição que já está pronta, compra e vai embora.

Muitos profissionais tiveram de se reinventar e transformar o isolamento social em oportunidade para seus negócios. Foi assim que a confeiteira Patrícia Rezende,  que trabalha com delivery na região da Saúde e do Grande ABC/SP,  viu na pandemia uma oportunidade.

“As festas que estavam marcadas foram canceladas e eu comecei a oferecer bolos caseiros, voltei ao meu ponto inicial. Reduzi as grandes festas por pequenos kits. No meio de tanta turbulência, minha cartela de clientes aumentou.”

A aposta por bolos simples, pequenos e mais baratos, assim como doces caseiros e kits especiais, é uma das mudanças adotadas por confeiteiros para manterem seus negócios.

Por outro lado, Kobbach explica que, com o passar do tempo, as pessoas ficaram cada vez mais cansadas de não poder comemorar e começaram a procurar bolos de aniversário, sempre no menor tamanho, para pouquíssimas pessoas.

Ela enfatiza que não desistir do negócio é fundamental, apesar das dificuldades. Não é só saber fazer e nem vender o seu produto, é administrar as contas, o estoque, os funcionários, seu tempo, sua vida pessoal e proporcionar os melhores momentos para o cliente.

Imagem da capa: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Diferentes estratégias de vendas adotadas pelos produtores, como delivery e e-commerce, e a adoção do cultivo de plantas como hobby pelos brasileiros, ajudaram alta no setor
por
Ana Vitória Marcelino Borges
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28/06/2021 - 12h

A jardinagem está se tornando um dos mais novos e promissores setores da agricultura brasileira na pandemia. Plantas e flores estão se tornando cada vez mais um objeto de conforto para as pessoas que se veem presas dentro de casa nesta pandemia. Este novo hobby proporciona uma sensação de conforto e paz para os consumidores, além de deixar suas casas mais bonitas e aconchegantes. Mesmo com a expectativa de baixa no mercado no começo de 2020, o ano ainda fechou com registro de alta para o setor, o que marca um grande interesse do consumidor, e uma boa previsão para os anos seguintes.

Lojistas e produtores vêm surgindo com novas estratégias de venda e distribuição, o que tem sido fundamental para a ascensão desse mercado. Uma das razões para os bons números esperados neste ano. Segundo o Instituto Brasileiro da Floricultura (Ibraflor), essa mudança no perfil do consumidor, agora voltado para a decoração de suas casas, e os novos formatos adotados pelos vendedores, como o delivery e o e-commerce, devem proporcionar um crescimento de 5% no mercado em 2021.

Ainda segundo o Ibraflor, houve um aumento registrado por alguns produtores de até 20% nos negócios. O que acontece é que um crescimento de 5% ainda é pouco considerando os anos anteriores à pandemia. A decaída no setor de festas e eventos fez com que as vendas de flores de corte caíssem consideravelmente, o que deixa os 8.200 produtores da área dependentes majoritariamente da venda de plantas.

Mesmo assim, esse novo interesse pelo plantio e por plantas em geral vem assumindo um papel muito importante na vida do consumidor brasileiro. É o que diz Aline Jorge, dona da loja online Botanismo, criada em 2020, “Nasci na pandemia, mas percebo sim o aumento da procura das pessoas por produtos que possam inspirar mais suas vidas e trazer mais inspiração para o cotidiano, que é um dos objetivos do Botanismo”.

Ela acrescenta que a marca vem crescendo desde o seu nascimento, em setembro de 2020, e que a cada mês a margem de lucro tem aumentado. A loja Botanismo é um e-commerce de objetos inspirados e com temas de plantas e flores, o que explica essa nova atenção do consumidor pelo assunto. Outro meio digital que explora esse interesse são podcasts e blogs botânicos. A PlantaconsCiência, por exemplo, é um blog criado por alunas da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), que tem como proposta “divulgar ciência para aqueles que não têm acesso direto à academia e também para os próprios cientistas”, segundo matéria no site da Esalq. A própria instituição divulga esse projeto pelo podcast Estação Esalq, que também trata do assunto.

Em entrevista publicada no Jornal da USP, a psicóloga Leila Tardivo explica que “um ambiente agradável é capaz de melhorar o astral” e que “estar num lugar onde se sente bem é superimportante”.

Ao adotar esse hobby, o consumidor brasileiro ajuda no crescimento do setor no Brasil, fazendo com que lojas de plantas tenham uma oportunidade de ficar no mercado durante a pandemia.  O que não significa que tais lojas não tiveram que fazer mudanças para se adequar ao ambiente pandêmico.

”Como no começo da pandemia passamos por algumas dificuldades, fechamos a loja física e começamos a fazer o atendimento por Whatsapp, com a entrega dos produtos feita por delivery” conta Caroline Carvalho, responsável pela comunicação e marketing da loja Selvvva. “No começo da pandemia, foi necessário reduzirmos a equipe e a oferta de produtos e plantas. Posteriormente, alinhamos mês a mês conforme as demandas, e fizemos algumas novas contratações. Com relação aos produtos e plantas, em alguns momentos foi necessário diminuir a quantidade, em outros, fomos surpreendidos pela necessidade de aumento”, acrescenta Caroline.

Ainda assim, esse interesse pelo assunto se manteve alto nas pesquisas durante 2020, de acordo com o Google Trends. Apesar da informação acessível, as dúvidas são muitas entre os leigos. O que faz com que as lojas de plantas e artigos botânicos criem ou adicionem em suas contas no Instagram dicas e artigos de como cuidar, cultivar e plantar cada tipo de planta. Exemplos de contas no Instagram que foram criadas somente para estes propósitos são @plants.be e @prof.cactus.e.suculentas, que ajudam o consumidor a entender o mundo do plantio e, em alguns casos, vendem folhetos e artigos informacionais, sendo assim uma fonte de renda para o dono da conta.