A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
|
24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
|
10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
|
05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
|
22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

N/A
Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

N/A
Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Segundo levantamento da empresa Statista, serviços de entrega devem movimentar US$ 6,3 trilhões no mundo até dezembro
por
Giovanna Montagner
|
29/06/2021 - 12h

Foto: Marcello Casal Jr | Agência Brasil

 

Com o avanço da pandemia da Covid-19, as compras online aumentaram. O mercado de delivery se tornou uma necessidade com a chegada da pandemia em 2020, estimulando o consumo e influenciando hábitos da população. Segundo o levantamento feito pela Statista – empresa especializada em dados de mercado e consumidores –,  estima-se um movimento de US$ 6,3 trilhões no delivery em todo mundo até dezembro.

Dados do setor mostram um salto de 155%, entre março e abril do ano passado,  em relação aos usuários de plataformas como Rappi, iFood e Uber Eats, quando o estimado para o período era de 30%. O crescimento de pedidos também acompanhou o crescimento de usuários, atingindo expressivos 975% de aumento.

O levantamento mostra o Brasil como destaque no segmento de delivery na América Latina em 2020. O País foi responsável por quase metade dos números do delivery, com 48,77%, seguido por México e Argentina, com 27,07% e 11,85%.

Reconstrução do Food Service e a mudança no consumo

Com os novos canais de vendas, o conceito de Food Service foi reconstruído e modernizado. A transformação no modo de comprar veio ao encontro com a profissionalização do marketing digital na gastronomia, vista principalmente na construção de plataformas e estratégias de vendas no delivery.

Comecei a trabalhar com delivery já na pandemia. E praticamente todos os clientes mandaram entregar ao invés de retirar na loja”, diz a empresária Natalia Kobbach, dona da Nati Gentil Brigadeiros – café especializado em bolos e brigadeiros, localizado na cidade de Mirandópolis.

A transformação digital também acelerou tendências criadas entre 2018 e 2019, como take away, quando você retira na loja, e o grab and go, no qual o consumidor vai ao restaurante, escolhe uma refeição que já está pronta, compra e vai embora.

Muitos profissionais tiveram de se reinventar e transformar o isolamento social em oportunidade para seus negócios. Foi assim que a confeiteira Patrícia Rezende,  que trabalha com delivery na região da Saúde e do Grande ABC/SP,  viu na pandemia uma oportunidade.

“As festas que estavam marcadas foram canceladas e eu comecei a oferecer bolos caseiros, voltei ao meu ponto inicial. Reduzi as grandes festas por pequenos kits. No meio de tanta turbulência, minha cartela de clientes aumentou.”

A aposta por bolos simples, pequenos e mais baratos, assim como doces caseiros e kits especiais, é uma das mudanças adotadas por confeiteiros para manterem seus negócios.

Por outro lado, Kobbach explica que, com o passar do tempo, as pessoas ficaram cada vez mais cansadas de não poder comemorar e começaram a procurar bolos de aniversário, sempre no menor tamanho, para pouquíssimas pessoas.

Ela enfatiza que não desistir do negócio é fundamental, apesar das dificuldades. Não é só saber fazer e nem vender o seu produto, é administrar as contas, o estoque, os funcionários, seu tempo, sua vida pessoal e proporcionar os melhores momentos para o cliente.

Imagem da capa: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Diferentes estratégias de vendas adotadas pelos produtores, como delivery e e-commerce, e a adoção do cultivo de plantas como hobby pelos brasileiros, ajudaram alta no setor
por
Ana Vitória Marcelino Borges
|
28/06/2021 - 12h

A jardinagem está se tornando um dos mais novos e promissores setores da agricultura brasileira na pandemia. Plantas e flores estão se tornando cada vez mais um objeto de conforto para as pessoas que se veem presas dentro de casa nesta pandemia. Este novo hobby proporciona uma sensação de conforto e paz para os consumidores, além de deixar suas casas mais bonitas e aconchegantes. Mesmo com a expectativa de baixa no mercado no começo de 2020, o ano ainda fechou com registro de alta para o setor, o que marca um grande interesse do consumidor, e uma boa previsão para os anos seguintes.

Lojistas e produtores vêm surgindo com novas estratégias de venda e distribuição, o que tem sido fundamental para a ascensão desse mercado. Uma das razões para os bons números esperados neste ano. Segundo o Instituto Brasileiro da Floricultura (Ibraflor), essa mudança no perfil do consumidor, agora voltado para a decoração de suas casas, e os novos formatos adotados pelos vendedores, como o delivery e o e-commerce, devem proporcionar um crescimento de 5% no mercado em 2021.

Ainda segundo o Ibraflor, houve um aumento registrado por alguns produtores de até 20% nos negócios. O que acontece é que um crescimento de 5% ainda é pouco considerando os anos anteriores à pandemia. A decaída no setor de festas e eventos fez com que as vendas de flores de corte caíssem consideravelmente, o que deixa os 8.200 produtores da área dependentes majoritariamente da venda de plantas.

Mesmo assim, esse novo interesse pelo plantio e por plantas em geral vem assumindo um papel muito importante na vida do consumidor brasileiro. É o que diz Aline Jorge, dona da loja online Botanismo, criada em 2020, “Nasci na pandemia, mas percebo sim o aumento da procura das pessoas por produtos que possam inspirar mais suas vidas e trazer mais inspiração para o cotidiano, que é um dos objetivos do Botanismo”.

Ela acrescenta que a marca vem crescendo desde o seu nascimento, em setembro de 2020, e que a cada mês a margem de lucro tem aumentado. A loja Botanismo é um e-commerce de objetos inspirados e com temas de plantas e flores, o que explica essa nova atenção do consumidor pelo assunto. Outro meio digital que explora esse interesse são podcasts e blogs botânicos. A PlantaconsCiência, por exemplo, é um blog criado por alunas da Escola Superior de Agricultura Luis de Queiroz (Esalq), que tem como proposta “divulgar ciência para aqueles que não têm acesso direto à academia e também para os próprios cientistas”, segundo matéria no site da Esalq. A própria instituição divulga esse projeto pelo podcast Estação Esalq, que também trata do assunto.

Em entrevista publicada no Jornal da USP, a psicóloga Leila Tardivo explica que “um ambiente agradável é capaz de melhorar o astral” e que “estar num lugar onde se sente bem é superimportante”.

Ao adotar esse hobby, o consumidor brasileiro ajuda no crescimento do setor no Brasil, fazendo com que lojas de plantas tenham uma oportunidade de ficar no mercado durante a pandemia.  O que não significa que tais lojas não tiveram que fazer mudanças para se adequar ao ambiente pandêmico.

”Como no começo da pandemia passamos por algumas dificuldades, fechamos a loja física e começamos a fazer o atendimento por Whatsapp, com a entrega dos produtos feita por delivery” conta Caroline Carvalho, responsável pela comunicação e marketing da loja Selvvva. “No começo da pandemia, foi necessário reduzirmos a equipe e a oferta de produtos e plantas. Posteriormente, alinhamos mês a mês conforme as demandas, e fizemos algumas novas contratações. Com relação aos produtos e plantas, em alguns momentos foi necessário diminuir a quantidade, em outros, fomos surpreendidos pela necessidade de aumento”, acrescenta Caroline.

Ainda assim, esse interesse pelo assunto se manteve alto nas pesquisas durante 2020, de acordo com o Google Trends. Apesar da informação acessível, as dúvidas são muitas entre os leigos. O que faz com que as lojas de plantas e artigos botânicos criem ou adicionem em suas contas no Instagram dicas e artigos de como cuidar, cultivar e plantar cada tipo de planta. Exemplos de contas no Instagram que foram criadas somente para estes propósitos são @plants.be e @prof.cactus.e.suculentas, que ajudam o consumidor a entender o mundo do plantio e, em alguns casos, vendem folhetos e artigos informacionais, sendo assim uma fonte de renda para o dono da conta.

 

Mesmo na pandemia, moeda local em Fortaleza estimula a economia e o crescimento de pequenos negócios
por
Sarah Catherine Seles
|
27/06/2021 - 12h

A construção do Banco Palmas em 1998, o primeiro banco comunitário do Brasil, surgiu a partir da necessidade dos moradores do Conjunto Palmeiras, localizado na periferia de Fortaleza. Joaquim Melo, fundador do banco, conta que a urbanização do bairro fez com que o custo de vida aumentasse. “Em meados dos anos 90, quando o bairro foi urbanizado, começaram a chegar conta de água, luz, telefone, IPTU, essas taxas todas, e as famílias mais pobres começaram a vender os barracos e ir morar em outras favelas.”

A pergunta “por que nós somos pobres?” foi o fio condutor para compreender o estilo de vida das pessoas. A maioria das respostas foi: pela falta de dinheiro. Por isso, Melo e alguns companheiros do bairro decidiram realizar uma pesquisa sobre o hábito de consumo das famílias. O Mapa da Produção e do Consumo Local apontou que as compras mensais das famílias somavam R$ 1,2 milhão, com cerca de 25 mil moradores na época. “E se viu que a maioria das pessoas ali, por mais pobres economicamente que fossem, já tinha algum dinheiro circulando, o grande problema é que tudo vinha de fora do bairro”, conta Melo. 

Após analisarem a situação, surgiu a ideia de criar um banco comunitário para que o capital girasse entre os negócios locais. “Começou como um projeto de desenvolvimento local, mas a ideia sempre foi criar um circuito econômico local onde as pessoas pudessem consumir e produzir aqui mesmo”, explica o fundador. 

Um empréstimo inicial de R$ 2 mil da ONG Ceará Periferia deu início ao banco. “E o que a gente tinha era muito simples: um cartão de crédito de papelão que era feito no mimeógrafo. A gente organizou a carteira de crédito e nem tinha computador na época, nem tinha internet, a gente tinha um caderninho para fazer a contabilidade”, lembra. Os empréstimos eram feitos para os moradores, com intuito de incentivar os pequenos negócios do bairro. 

Além disso, a criação da moeda “palmas” foi essencial para que a circulação de dinheiro dentro da comunidade fosse efetiva, sistema que perdura até hoje. “A essência do banco comunitário, a sua natureza e seu maior serviço, é fazer esse dinheiro circular localmente. Quando o dinheiro circula localmente gera trabalho, gera renda. Então a moeda social é o coração da atividade do banco”, explica o empreendedor. 

A iniciativa se popularizou ao longo dos anos e se estruturou como Instituto Banco Palmas, que também oferece cursos profissionalizantes, oficinas e projetos para a comunidade. O banco passou a apoiar a criação de iniciativas similares em outros municípios do Brasil, formando a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. “Cada município com seu próprio banco, mas todos foram criados e acompanhados inicialmente pelo Banco Palmas”, conta Melo. Hoje o banco funciona em todo país por meio da plataforma digital E-dinheiro. 

As ações impulsionaram a vida de diversos moradores, reunindo diversas trajetórias de vida junto ao banco. Uma pesquisa da Universidade Federal do Ceará mediu o impacto da iniciativa para os moradores e 90% apontaram melhora na qualidade de vida. “Não é só emprestar o dinheiro, é ajudar as pessoas a se mobilizarem, a se organizarem, a participar da comunidade e criar essa conexão com o bairro, com a vida e com a economia”, diz Melo. 

Katiana Oliveira, 38, moradora do Conjunto Palmeiras desde 1989, é um dos exemplos citados pelo fundador. Ela conheceu o Banco Palmas em 2013, quando precisou de um empréstimo para uso pessoal. Nas idas ao banco para pagar as parcelas, ela soube dos cursos oferecidos e se inscreveu para gastronomia e corte e costura. 

Após as especializações, Katiana participou da Oficina de Educação Financeira, que a ajudou a conquistar sua independência financeira e emocional. “Eu me apaixonei [pela educação financeira] porque comecei a aprender a administrar o dinheiro”, conta. Hoje, além de ser presidente do Centro de Nutrição e coordenadora do Prato Colorido (que oferece os cursos), ela também é assistente social do Banco Palmas. 

"Também participei de uma roda de conversa sobre empoderamento feminino e descobri que sofria violência psicológica e comecei a trabalhar nisso no grupo, me fortalecendo com as minhas colegas”, lembra Katiana. Ela descreve mudanças em todas as áreas de sua vida, tanto em seu ambiente familiar, quanto profissional. 

Então, a empreendedora enxergou potencial dentro da comunidade e desenvolveu projetos, oficinas, cursos e rodas de conversa. Como a Cozinha Delas, criada para auxiliar mulheres que passaram pelas mesmas situações que Katiana. O principal intuito é arrecadar dinheiro para as mulheres da comunidade com a venda dos pratos que aprenderam a fazer nas especializações. Eu não queria sofrer mais nenhum tipo de violência e eu queria que outras mulheres tivessem a oportunidade de superar e criar suas iniciativas e suas ações para sair dessa situação”, conta. 

Durante a pandemia, a desigualdade social foi escancarada e acentuou a fome no país. Por isso, Katiana utilizou seus projetos para lançar a campanha “Bucho Cheinho”.  Ela explica: “A ideia é que ninguém fique com bucho vazio nessa pandemia. Então a gente lançou essa campanha de arrecadação de alimentos, de doação de dinheiro e cesta básica, [sempre] acompanhando as famílias, fazendo monitoramentos, fazendo visitas”. 

Além da alimentação dos brasileiros, o período pandêmico acentuou a crise econômica que o Brasil já enfrentava. A Pesquisa Pulso Empresa, realizada pelo IBGE, mapeia o impacto da Covid-19 nas empresas, realizada em julho de 2020, os negócios representaram mais da metade dos estabelecimentos fechados apenas no primeiro semestre do ano e mais de 716 mil fecharam desde o início da pandemia. 

Os bancos comunitários, no entanto, foram em outra direção. Apesar do impacto sobre os pequenos negócios, houve um aumento nas empresas registradas na plataforma E-Dinheiro. “Por outro lado, os bancos comunitários cresceram na pandemia, pelo fato de serem digitais e estarem presentes na periferia. Nós recebemos muitas doações, tanto do poder público, da prefeitura, como do empresariado”, comenta Joaquim Melo. 

A Rede Brasileira de Bancos Comunitários, em conjunto com os líderes locais, criou contas digitais para os moradores. Com doações de R$ 100 a R$ 200, eles puderam comprar do comércio do próprio bairro, “salvando a vida das pessoas porque tinham o que comer e salvando também as economias locais”, conclui Melo. 

Coletores menstruais, absorventes de pano e calcinhas absorventes ganham espaço como opções mais econômicas e ecológicas
por
Heloisa Tiemi Shibuya
|
27/06/2021 - 12h

Embora a menstruação continue sendo um tabu na sociedade, muitas mulheres têm falado abertamente sobre o assunto e comentado sobre terem trocado os absorventes descartáveis convencionais por utensílios mais sustentáveis durante o período menstrual. Dentre eles, estão os coletores menstruais, calcinhas absorventes, absorventes de pano e outros produtos que produzem menos lixo e podem ser usados a longo prazo.

Em uma pesquisa feita pela Agemt em um grupo do Facebook, a maioria das 26 mulheres que responderam disseram que nunca haviam usado coletor menstrual ou calcinha absorvente, entretanto, também manifestaram que têm vontade de experimentar esses produtos.

Quanto às respostas das mulheres que já usavam coletores ou calcinhas absorventes, grande parte delas disseram que sentiam incômodo físico ou alergia quando utilizavam as opções descartáveis. Elas também afirmaram ter economizado ao adquirir os produtos que duram por um longo tempo e não exigem a aquisição mensal, como os absorventes comuns. Além disso, ao final da pesquisa, cerca de 80% das mulheres disseram crer que os coletores menstruais e calcinhas absorventes vão se tornar uma tendência de consumo pela praticidade e sustentabilidade que oferecem.

Bianca Pavanello, estudante de música do Conservatório de Tatuí, decidiu usar o coletor por motivos parecidos aos das entrevistadas pela pesquisa. Ela tem gostado bastante do produto e percebeu que economizou bastante ao adquiri-lo. “Na minha casa três pessoas menstruam, então eram vários pacotes de absorvente todos os meses. Hoje nós reutilizamos e não nos preocupamos em gastar aquela ‘grana’ alta”, conta ela.

Nathalia Silva, que utiliza o seu Instagram para falar um pouco de tudo, mas principalmente de assuntos que envolvem beleza e saúde, diz que comprou o coletor por ter incômodos e alergias na região íntima. Ela conta que a experiência tem sido positiva. “É meio complicado mesmo para colocar, mas é só uma questão de prática e paciência, pois, assim que você consegue, você sequer sente o coletor. É confortável para todas as atividades, eu danço, vou à piscina, durmo sem calcinha, faço exercícios e ele continua ali, no lugar, sem vazar ou manchar roupas.”

As marcas mais procuradas desses produtos são: a Korui, Pantys, Inciclo, Fleurity e Herself. Em reportagem publicada em março desse ano na revista Exame, a Inciclo diz que conseguiu crescer 156% em 2020, contratou 50 funcionários e abriu 600 novos pontos de revenda. A Korui também afirmou que “houve um aumento significativo nas vendas”, em entrevista realizada para a Agemt. A marca também conta que já tem novos produtos em fase de criação, e, depois de abrir uma loja física em São Paulo, pretende expandir para mais locais.

Mesmo a menstruação deixando de ser um tabu entre as pessoas ao longo dos últimos anos, ainda há muitas que não têm acesso ou condições de comprar absorventes internos ou externos, questão chamada pobreza menstrual. Segundo a ONU Mulheres, das 1,8 bilhão de pessoas que menstruam ao redor do mundo, 12,5% delas têm dificuldades em todos os ciclos para obter produtos menstruais, produtos de higiene geral e até mesmo saneamento básico, banheiros próprios, água tratada e educação adequada para saber lidar com o período. Em torno de 1 bilhão de mulheres não possui acesso a um banheiro seguro e limpo e outras 526 milhões não têm sequer um banheiro em casa.

Apesar disso, a menstruação tem sido pauta para questões ambientais que impulsionam a demanda por produtos como coletores e calcinhas absorventes. O aumento das vendas das marcas que fabricam esses produtos mostra uma divulgação maior desses produtos, não apenas pelas marcas, mas também por quem os utiliza. Nathalia fez uma série de stories em seu Instagram falando sobre sua experiência com o coletor menstrual e recebeu diversos feedbacks de pessoas que compraram o produto. “Recebi inúmeras mensagens de meninas que compraram o coletor ou o disco menstrual ou ficaram interessadas em saber mais, o que é muito bom. A partir daí, senti que o que eu levaria para elas deu muito certo, pois é mais do que influenciar a compra de um produto, é adotar um hábito mais benéfico para nossa saúde íntima e assim se conhecer melhor. Fiquei muito feliz”, diz ela.

Imagem da capa: Ilustração de coletores menstruais| Via: Toda Teen - UOL

 

Longe do público e com oportunidades reduzidas, profissionais comemoram prorrogação de auxílio da Lei Aldir Blanc
por
Bruna Janz
|
26/06/2021 - 12h

Em março de 2020, quando foi declarada a pandemia do novo coronavírus pela OMS, as aglomerações e os eventos sociais foram suspensos. Em meio ao cenário da crise de saúde brasileira, os profissionais da cultura foram duramente prejudicados, com 458 mil postos de trabalho, tanto formais quanto informais, perdidos ao final do ano passado, em comparação com o último trimestre de 2019, segundo informações do Painel de Dados do Observatório Itaú Cultural.

Antes da pandemia, o segmento cultural, junto com o setor criativo, movimentava cerca de R$ 171,5 bilhões por ano, correspondente a quase 3% da riqueza nacional. A previsão era de que esses segmentos gerassem R$ 43,7 bilhões para o PIB brasileiro até 2021, porem 35% desse valor deixou de ser gerado devido às paralisações causadas pela crise do novo coronavírus, como foi apresentado nos resultados preliminares da pesquisa Percepção dos Impactos da Covid-19 nos Setores Culturais e Criativos do Brasil, divulgados em 29 de abril e feita pela Universidade de São Paulo (USP).

No terceiro trimestre de 2020 que a Lei Aldir Blanc entrou em vigor, prevendo uma renda emergencial de três parcelas de R$ 600 para profissionais da cultura, além de um subsídio mensal de R$ 3 mil a R$10 mil para a manutenção de pequenas empresas, organizações culturais e espaços artísticos que ficaram paralisados.

Também foi disponibilizado um montante de R$ 3 bilhões, repassado pelo governo federal para o pagamento desse auxílio. Porém, segundo o Ministério do Turismo em abril de 2021, 25% desse valor, que corresponde a R$ 773,9 milhões, não foram utilizados nos 120 dias do prazo inicial, permanecendo, assim, nas contas dos Executivos locais.

Esse atraso na utilização da verba destinada aos profissionais da cultura ocorreu devido a irregularidade de diversas regulamentações que deveriam ser feitas por prefeitos e governadores dentro do prazo inicial. Assim, em 21 de abril de 2021, foi aprovado um projeto de lei que reformulou a Lei Aldir Blanc, permitindo aos Estados e Municípios a utilização do saldo remanescente do montante até dia 31 de dezembro.

A prorrogação da lei foi vista como uma vitória por muitos do setor cultural, já que ainda não existe um meio viável para criar ambientes presenciais seguros para muitos segmentos artísticos, e o auxílio permite que muitos profissionais mantenham seus trabalhos. 

O ator, pesquisador e estudante Pitágoras Lemos ressalta que a Lei Aldir Blanc foi sancionada em um momento altamente necessário, porém nada é perfeito. “Para muitas pessoas pode parecer só um ‘legal, ganhei 600 reais’, mas nós (artistas) precisamos continuar trabalhando, e pra isso eu preciso apresentar uma peça, uma dança, uma performance. E eu, que faço teatro, sei lidar com o público, mas não sei lidar com edição de imagem, então eu vou ter que contratar alguém que saiba, e aí esses 600 reais já se transformaram em 500, em 400... Isso é o suficiente para uma compra do mês?”

Compartilhando a mesma visão acerca do auxílio, a dançarina, professora e estudante Deborah Lugli também ressalta que continuar trabalhando não precisa significar um trabalho contínuo ou automático, e sim de forma que seja possível e acessível para cada profissional no meio virtual. “É preciso olhar para o todo, e não apenas para o individual. Então, esses coletivos que se juntaram para repensar o setor cultural devem continuar a se fortalecer, é preciso olhar para o todo”, adiciona.

Porém, os impactos no meio cultural vão muito além das questões financeiras e do auxílio emergencial. A vida longe dos palcos físicos e sem a possibilidade de trocar experiências e sensações com o público dificultam muito o trabalho dos artistas, assim como a diminuição das oportunidades no mercado de trabalho  e a maneira com que o governo tem tratado as questões referentes ao setor. 

“Quando a gente está finalizando a graduação, é um momento complicado, é um momento de caminharmos com as próprias pernas, mas descobrir isso no meio de uma crise sanitária, em um momento que tudo se transformou, é bastante difícil de lidar, porque a cena mudou, e ter estudado a cena presencial e me formar na cena digital nesse período da crise é algo difícil de entender”, aponta Deborah.

Já para Pitágoras, a falta de contato com os espectadores é o principal desafio: “Há a perda da troca, da crítica. O que é apresentar para uma tela? Como é para o público receber isso? Nós não sabemos mais, tudo é mediado pelo computador, não há mais troca física”.

Sem mais a possibilidade de juntar um público, as peças via Zoom, lives no Instagram, exposições virtuais e até ensaios fotográficos via FaceTime explodiram por todo o país, e mesmo entre tantas dificuldades, os artistas ainda veem no cenário digital, uma premissa para o futuro, afirmando que dificilmente haverá o rompimento com o virtual, por já ter se tornado uma camada incorporada à arte, capaz de conectar pessoas de todo o Brasil e do mundo em um único lugar.

Ainda assim, as soluções à distância não são o bastante para manter economicamente os mais de 6 milhões de profissionais que trabalham no segmento cultural, tornando um subsídio do Estado uma necessidade para todo o setor, que deverá ser o último a retomar as atividades presenciais, em razão das medidas sanitárias necessárias para tal acontecimento.

Foto da capa: O ator Luis Carlos Shinoda, fundador do Cangaias Coletivo Teatral. Imagem de divulgação da peça "Na colônia penal", transmitida pelo YouTube.