Declarações podem ser entregues por programa disponível no site da Receita Federal ou de forma online pelo e-CAC;
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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26/03/2025 - 12h

 

A Receita Federal liberou acesso à Declaração Anual do Imposto de Renda na segunda (17). Será possível realizar a entrega até às 23:59 do dia 30 de maio. 

A Declaração desempenha um papel fundamental na captação de recursos para que o Governo tenha controle sobre a arrecadação de dinheiro que financia serviços públicos.

Dentre as principais mudanças neste ano estão: 

  • A ampliação de isenção para rendimentos tributáveis 

O valor de rendimentos tributáveis anuais que obrigam a entrega da declaração subiu de R$ 30.639,90 para R$ 33.888,00.
 

  • A declaração obrigatória para mais situações envolvendo bens e investimentos no exterior  

  • Trusts e contratos estrangeiros: Quem possuía trusts ou contratos similares no exterior em 31 de dezembro de 2024 agora precisa declarar;

  • Regime de Transparência Fiscal: Quem optou por declarar bens e rendimentos de entidades controladas no exterior como se fossem pessoais precisa informar na declaração;

  • Atualização de imóveis a valor de mercado: Quem optou por atualizar o valor dos imóveis no Brasil conforme a lei de bens e imóveis no exterior deve declarar essa escolha.

  • Declaração pré-preenchida mais completa

A Receita Federal ampliou o cruzamento de dados disponíveis na declaração pré-preenchida. Neste ano, informações sobre criptoativos e transações imobiliárias também estarão incluídas. 

  • Mudanças no pagamento e parcelamento 

O imposto pode ser parcelado em até 8 vezes, mas agora o débito automático só pode ser ativado até 9 de maio para a primeira parcela. Depois disso, só vale a partir da segunda parcela. Débitos abaixo de R$ 10,00 não precisam ser pagos imediatamente e podem ser acumulados para exercícios futuros.

  • Autorização para terceiros com novas regras

É possível, neste ano, autorizar apenas uma pessoa física para acessar e transmitir a declaração, com validade de até seis meses.

Quem deve declarar Imposto de Renda? 

 

  • É obrigatório a declaração das seguintes pessoas:

  • Quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 33.888,00 em 2024. O valor é um pouco maior do que o da declaração do IR do ano passado (R$ 30.639,90) por conta da ampliação da faixa de isenção;

  • Contribuintes que receberam rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma tenha sido superior a R$ 200 mil no ano passado;

  • Quem obteve, em qualquer mês de 2024, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas cuja soma foi superior a R$ 40 mil, ou com apuração de ganhos líquidos sujeitas à incidência do imposto;

  • Quem teve isenção de imposto sobre o ganho de capital na venda de imóveis residenciais, seguido de aquisição de outro imóvel residencial no prazo de 180 dias;

  • Quem teve, em 2024, receita bruta em valor superior a R$ 169.440,00 em atividade rural;

  • Quem tinha, até 31 de dezembro de 2024, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 800 mil;

  • Quem passou para a condição de residente no Brasil em qualquer mês e se encontrava nessa condição até 31 de dezembro de 2024;

  • Quem optou por declarar os bens, direitos e obrigações detidos por entidade controlada no exterior (ou seja, uma empresa ou organização no exterior que é controlada direta ou indiretamente por uma pessoa física ou jurídica residente no Brasil), como se fossem detidos diretamente pela pessoa física;

  • Quem possui a titularidade de trust e demais contratos regidos por lei estrangeira com características similares;

  • Quem atualizou bens imóveis pagando ganho de capital diferenciado (forma específica de tributação sobre o lucro obtido na venda de vens ou direitos) em dezembro/2024;

  • Quem auferiu rendimentos no exterior de aplicações financeiras e de lucros e dividendos;

  • Quem deseja atualizar bens no exterior.

 

Como calcular a parcela que deve ser declarada? 

 

Para fazer o cálculo é importante saber o que significam as seguintes informações: base de cálculo, alíquota e parcela a ser deduzida. Base de cálculo: São os rendimentos tributáveis do contribuinte. Isto é, são os valores recebidos como salários, aluguel, pensão, remuneração por trabalho, investimentos, bônus etc.

Alíquota: Trata-se da porcentagem cobrada em cima dos seus rendimentos. A alíquota do Imposto de Renda é progressiva: quanto mais você ganha, maior a alíquota. 

Parcela a deduzir: Valor subtraído de sua renda para o cálculo do imposto ser proporcional à sua faixa de ganho.

A Receita Federal fornece uma tabela progressiva com os valores mencionados. 

 

Fonte: Ministério da Fazenda 

 

Depois de somar todos os seus rendimentos tributáveis (salário, pensão, bônus) recebidos mensalmente, verifique em que faixa você se enquadra e faça o seguinte cálculo: Salário x Alíquota - Valor a deduzir do IR. 

Por exemplo: uma pessoa que recebe R $2.730,50, já descontado os valores do INSS, se enquadra na faixa de alíquota de 7,5% e deve pagar, anualmente, R $743,85 de imposto de renda. 

Cálculo: 2.730,50 x 7,5/100 - 142,80 = 61,9875 (esse é o valor mensal de imposto que deve ser pago, multiplique por 12 e você terá  R $743,85 que é o valor anual a ser pago). 

Se você é um profissional com registro em carteira, a empresa desconta o pagamento do IR mensalmente do seu salário, então caso o valor que você tenha em receita seja superior ao valor que deve ser pago, você será restituído, caso contrário, deve pagar a diferença.

 

Como declarar? 

 

O aplicativo “Meu Imposto de Renda” não está mais disponível para download em dispositivos móveis. Para quem deseja realizar a entrega dessa forma, é necessário baixar o aplicativo da Receita Federal. Pelo computador você pode realizar o download do programa de Declaração de Imposto de Renda no próprio site da Receita.  A entrega também pode ser feita de forma online pelo  serviço “Meu Imposto de Renda” no Centro Virtual de Atendimento da Receita (e-CAC). A declaração pré-preenchida estará disponível para os contribuintes a partir do dia 1º de abril. 

 

Quais são os documentos necessários?

 

Para declarar o Imposto de Renda corretamente, é essencial reunir documentos que comprovem rendimentos, bens, direitos, dívidas e pagamentos. Isso inclui informes financeiros, comprovantes de salários, pró-labore, lucros, aposentadorias, pensões, aluguéis, doações e heranças. Também são necessários o Livro Caixa, DARFs( Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do Carnê-Leão e informes de programas fiscais como a Nota Fiscal Paulista. Para quem opera com renda variável, é indispensável o controle de compra e venda de ações, apuração mensal do imposto e DARFs correspondentes.  

No caso de bens e direitos, devem ser apresentados documentos de compra e venda de imóveis, matrícula, IPTU e comprovação de participação acionária. Informações sobre dívidas e ônus também precisam ser incluídas. Já os pagamentos e deduções devem ser comprovados por recibos de plano de saúde, despesas médicas e odontológicas, educação, previdência, doações e pagamentos a prestadores de serviços. Caso haja empregada doméstica registrada, é necessário o recibo com o número NIT, um código que permite que trabalhadores autônomos contribuam para o INSS.

Além disso, são exigidos dados pessoais e de dependentes, endereço atualizado, cópia da última declaração entregue, dados bancários e atividade profissional. Dependendo dos bens, podem ser solicitadas informações complementares, como inscrição municipal e registro em cartório para imóveis, Renavam(Registro Nacional de veículos automotores) para veículos e CNPJ da instituição financeira para contas e aplicações. Reunir tudo antecipadamente facilita a declaração e evita problemas com a Receita Federal.

                                                                   Prioridade na restituição 

O processo de restituição ocorre para que os colaboradores recebam valores pagos em excesso ao longo do ano para a Receita Federal. As prioridades no procedimento segue da seguinte forma: 

  • Idosos acima de 80 anos; 

  • Idosos entre 60 e 79 anos, deficicientes ou portadores de moléstia grave; 

  • Contribuintes que possuem como a maior fonte de renda o magistério;

  • Quem optou pela declaração pré-preenchida e/ou receber a restituição pelo pix.

  • Outros contribuintes

 

Dentro de cada grupo de prioridade, recebe primeiro quem entregar a declaração mais cedo. 

Calendário de restituição:

1° lote: 30 de maio

2° lote: 30 de junho

3° lote: 31 de julho

4° lote: 29 de agosto 

5° lote: 30 de setembro
 

Quem não declarar o imposto até o dia estabelecido, corre o risco de pagar multa que corresponde a 20% do imposto em pendência, tendo como valor mínimo de R$ 165,74.

O governo federal apresentou, na terça-feira (18), uma medida que determina a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil mensais. O texto ainda precisa passar por votação no Congresso Nacional e ainda propõe descontos para quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil e taxação mínima para alta renda.  

As cobranças estão previstas para 2 de abril
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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10/03/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou mais uma vez. Nessa última quinta-feira (06), o  mandatário adiou, para 2 de abril, o tarifaço de 25% sobre importações do México e Canadá que entrou em vigor nesta mesma semana (04).

Segundo Trump, os importadores norte-americanos não precisarão pagar tarifas sobre nenhum produto que se enquadre no USMCA, um acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá negociado em seu primeiro mandato.

O tratado abrange uma gama extensa de produtos e serviços. Entre eles, produtos agrícolas, manufaturados e de tecnologia.

Na rede social Truth Social, Trump justificou a decisão afirmando que o México tem “trabalhado duro” para garantir a segurança na fronteira: "Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos EUA quanto, da mesma forma, impedir o fentanil".

O tarifaço aos países é uma retaliação de Trump que julga que ambos não fazem o suficiente para conter a entrada de  imigrantes e do fentanil - uma espécie de analgésico mais forte que morfina e heroína e que a dependência é um problema de saúde pública nos EUA.

Sobre o Canadá, Trump escreveu na noite de quarta-feira que conversou com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, mas não está "convencido" de que o governo canadense atuou o suficiente para resolver os problemas de entrada de fentanil e de imigrantes ilegais nos EUA.

Trump confirmou em 10% a elevação na taxa de cobranças contra a China e elevou a alíquota total de taxas para produtos chineses a 20% neste mandato.


Na mira de Donald Trump:

Apesar de não ter sido taxado diretamente, o Brasil pode sofrer com a imposição geral  de 25% para importações de aço e alumínio, que deve entrar em vigor no dia 12 de março.

Segundo dados do Governo Federal, em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço. Em 2024 o país foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, de acordo com dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá.

Além da taxa geral para esses produtos, Donald Trump também prometeu uma taxa recíproca a países que cobram dos EUA, citando o Brasil: "Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto", disse Trump, em longo discurso no Congresso dos EUA, na terça-feira (4).”

Além de ferro e aço, o petróleo e o café são as principais exportações do Brasil para os estadunidenses.


Imagens: Agência Brasil

Medida irá impactar benefícios que excedem limite constitucional recebidos pelos “funcionários de elite
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

 

O Governo enviou na segunda-feira (02), ao Congresso Nacional, a PEC que detalha uma série de medidas para conter os gastos das contas públicas. O intuito é gerar uma economia de mais de 300 bilhões até 2030.

A proposta visa alterações essenciais para aumentar a arrecadação e manter os limites do Arcabouço Fiscal. Uma das mudanças apresentadas está na redução dos chamados “supersalários” de servidores públicos.
 

Salário e adicionais no serviço público: regras e limites na teoria

Os servidores públicos têm um teto salarial estabelecido em R$44.008,52 mensais, além dos benefícios e adicionais, desde que observadas as regras específicas de cada caso.

O auxílio-moradia, por exemplo, é restrito a situações em que não haja imóvel funcional (cedido pela União para o funcionário público) disponível na localidade; o agente não more com outra pessoa que já ocupe um imóvel funcional ou receba o benefício; ou quando o servidor não possua residência própria na região.

Já o adicional de férias não pode superar um terço da remuneração e deve ser limitado a períodos de até 30 dias por exercício. Da mesma forma, as férias não aproveitadas só podem ser pagas em casos de demissão, aposentadoria ou falecimento, respeitando o limite de 30 dias por exercício.

Entre os auxílios mais comuns no cotidiano do servidor, o auxílio-alimentação tem seu valor máximo fixado em até 3% do teto salarial, o mesmo limite aplicado ao auxílio-transporte. Para filhos ou dependentes de até cinco anos, o auxílio-creche também é regulamentado, com um valor que não deve exceder 3% do teto por dependente.

Além disso, benefícios como o 13º salário, adicional noturno, remuneração por serviços extraordinários e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço estão garantidos. Em ambientes de trabalho insalubres, o adicional de insalubridade é assegurado. Ressarcimentos relacionados ao exercício da função, como indenizações pelo uso de veículo próprio em serviço, são limitados a 7% do teto. Também está previsto o reembolso de mensalidades de planos de saúde, que pode chegar a até 5% do teto.

O salário-mínimo do trabalhador médio está em R$1.412 e, com as projeções do PIB para 2025, a previsão é de que chegue em R$ 1.525,00.  Professores, por exemplo, têm, em média, um salário de RS 4.250,00 reais, constatou o Glassdoor, uma plataforma online sobre o mercado de trabalho.  

No entanto, apesar do teto estabelecido ser de R$ 44.008,52 mensais, há diversas exceções e valores extras aos chamados “funcionários de elite”,  responsáveis por atuar em áreas específicas do setor público, como segurança, diplomacia e finanças, e que causam um rombo de até 3,9 bilhões de reais aos cofres públicos, de acordo com um estudo do CLP (Centro de Liderança Pública). 

 

Equipe econômica do governo Lula.
Projeto que pretende acabar com supersalarios enfrenta resistência de militares. Foto: Agência Brasil

Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), os salários dos militares reformados custam 16 vezes mais aos cofres públicos do que os aposentados do INSS. O gasto por pessoa com os militares foi de R$ 158,8 mil, enquanto o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil e o dos aposentados do INSS foi de R$ 9.400.

A respeito do corte nos supersalários, a economista Cristina Helena Pinto de Mello pontua sobre o forte apelo público da proposta “Quando a gente pega o gasto do Governo com salários de toda a administração pública, incluindo o legislativo e o judiciário, que estão dentro dessa folha de pagamento, essa é uma das maiores despesas”, comenta, mas ressalta que os gastos com juros ainda ultrapassa o valor gasto com supersalários. 

Na segunda-feira (02) o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, outros três ministros do Palácio do Planalto e líderes do Congresso para discutir o tema. 

No caso da aposentadoria dos militares, a resistência das forças armadas fizeram com que o Ministério da Fazenda recuasse e retirasse, temporariamente, a regra da PEC. Entre os pontos do texto que seriam debatidos, estavam o fim da chamada "morte fictícia", que assegura pensão a militares expulsos ou excluídos das Forças Armadas e uma uma transição mais longa para a adoção da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares (o projeto apresentado pela equipe econômica sugere ampliação de 50 para 55 anos). A ideia é implementar uma regra progressiva, permitindo que a exigência de 55 anos seja atingida apenas em 2030.

O Congresso tem apenas três semanas de atividades antes do recesso para apreciar essas medidas, além de outras propostas relevantes, como o projeto que finaliza a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Entenda proposta de corte de gastos de R$ 70 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad
por
Beatriz Alencar
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03/12/2024 - 12h

O texto do novo pacote de gastos e aumento da isenção do Imposto de Renda foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), e movimentou opiniões dentro do setor econômico e social, com dólar batendo o valor histórico de R$ 6,11.

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Ministro da Fazenda Fernando Haddad | Foto: Reprodução/Transmissão Ministério da Fazenda

Mas qual de fato é o objetivo desta pauta que demorou semanas para ser anunciada e o quê isso tem a ver com o salário mínimo e arcabouço fiscal?

Basicamente, a ideia de Haddad de fazer um pacote fiscal agora é tentar cortar R$ 70 bilhões para ajustar a explosão dos gastos públicos projetados para os próximos anos e garantir a sustentação do arcabouço fiscal, medida que tem como objetivo o equilíbrio entre arrecadação e despesas do governo, aprovada no ano passado. 

A primeira mudança citada pelo ministro para cumprir essas metas foi o reajuste no salário mínimo com a adequação aos limites do arcabouço fiscal e inflação, o que significa um ganho real entre 0,6% e 2,5%. Atualmente para o reajuste de salário, o Governo considera a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) do país . 

De acordo com o Economista e pesquisador Emerson Braz, o abono salarial e o teto do reajuste do salário-mínimo são medidas que representam direitos dos trabalhadores que hoje possuem menor representatividade no Congresso Nacional:“ [Isso] faz com que sejam medidas que não sofram ajustes significativos em seus textos na fase de aprovação”.

Braz acrescenta que esse reajuste pode ser uma perda de ganhos reais para os trabalhadores: “Imaginando um cenário em que o PIB possa estar estagnado e o arcabouço apertado, o salário-mínimo (SM) poderá não ter alterações e afetar a economia”, explica. O que pode gerar um problema considerável na desigualdade social ou na superação da pobreza. 

Com o novo pacote, o abono salarial, que é um benefício concedido uma vez por ano ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos (R$2.824,00), seria limitado para quem recebe até R$2.640,00 e corrigido pelo INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A medida, ao longo dos anos, irá reduzir a parcela beneficiada, já que o salário cairá gradualmente para um salário mínimo e meio por mês. 

Outra mudança que causou grande movimentação de opiniões foi a medida sobre o Imposto de Renda. Hoje, aqueles que ganham até R$ 2259,20 por mês não pagam imposto. A nova proposta prevê que a isenção será estendida para quem ganha até R$ 5 mil. Só essa alteração deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões por ano nas contas da União.

“Essa é uma medida muito interessante e necessária. Pessoas que ganham até R$ 5 mil consomem a maior parte da sua renda e, ao sofrerem menos tributação, terão como destinar maior parte para o consumo, mantendo a economia aquecida”, argumenta o economista.

Como uma forma de cobrir essa isenção, o governo pretende aumentar a tributação para os rendimentos acima de R$50 mil e R$ 1 milhão mensais, como a forma “mais justa” de compensar a queda de arrecadação com a nova faixa de isenção, de acordo com Haddad.

“A alteração na alíquota do IR não deve ser vista apenas com o objetivo de equidade de renda, mas como um instrumento de manter a demanda (de mercado) aquecida”, acrescenta Braz.

O pacote também prevê a reforma das emendas parlamentares, que limita o crescimento das emendas impositivas ao arcabouço fiscal, estabelecendo um teto para o aumento das despesas parlamentares. Além disso, 50% dos recursos das emendas de comissão deverão ser destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O texto apresentado pela equipe econômica também propõe mudanças na aposentadoria de militares. A medida sugere uma padronização da contribuição dos militares ao Fundo de Saúde e o fim da chamada “morte fictícia”, que garante uma espécie de pensão vitalícia para a família de um militar que foi expulso das forças, na mesma condição de falecimento do servidor. 

Alterações nos benefícios sociais como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), também foram citadas no texto. Agora, passarão a ter mais regulações, como comprovação por biometria do beneficiado.

“O fato é que a comunicação do Governo para anunciar medidas de austeridade e controle das contas públicas junto com a medida de isenção do IR tornou o cenário caótico”, comenta o economista.

Após um mês de reuniões e tratativas, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, explicou que o debate do pacote fiscal será prioridade nas próximas semanas, antes do recesso de fim de ano no Senado. A proposta ainda pode sofrer mudanças nas aplicações ou exclusões de medidas.

Brasil passa por um momento decisivo entre mudanças para arrecadamento e corte de gastos
por
Maria Eduarda dos Anjos
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19/11/2024 - 12h

A penúltima reunião do ano do Copom (Comitê de Política Monetária) aconteceu semana passada e sua ata, publicada no dia 12, apresenta a decisão unânime de elevar a Selic (Sistema Especial de Liquidação e Custódia) a 0,5 pontos percentuais, levando a taxa de juros básico do país de 10,75% para 11,25%. 

Esse aumento vem como medida para, principalmente, conter a inflação, produto do balanço negativo entre os ganhos e gastos do Estado brasileiro, além de responder de forma defensiva à recente eleição de Donald Trump.

Primeiro, é importante entender o que o COPOM, SELIC, juros básicos e inflação significam na vida do brasileiro. O Copom é um grupo composto pelo presidente do Banco Central (BC) e seus diretores que, a cada 45 dias, decidem a taxa básica de juros da economia, a Selic. 

A taxa básica é a principal forma do BC tentar conter a inflação econômica. Na balança, são ponderados o estado das contas públicas, a situação internacional política e monetária, estado da inflação, movimentação do mercado de trabalho entre outros fatores, tudo para assegurar que o reajuste do juros contenha a inflação, não desvalorize o real perante outras moedas e não diminua o poder de compra da população. 

Uma das razões para o aumento da Selic é a diferença entre o gasto e o arrecadamento público de R$7,3 bilhões até setembro de 2024. Para exterminar esse déficit primário, o BC sobe o juros básico, ou seja, a promessa de valorização de seus ativos, e vende tais ativos aos bancos. 

Dessa forma, o Banco Central consegue caixa de forma mais imediata e oferece a promessa de lucro futuro para os bancos. O problema é que esse ciclo se repete e cria uma bola-de-neve. 

A economista e professora da PUC SP, Cristina Helena, explica que “o governo pega dinheiro emprestado todo mês para cobrir o déficit, que não conta com o valor dos juros dos demais empréstimos que já pegou, mas que precisa quitar simultaneamente”. O juros aumenta para pagar,também, o que já foi criado no passado pela mesma barganha que se repete.“ A conta da dívida tá fora do resultado primário, aí o montante a ser pago não para de crescer”. 

Essa medida para maior arrecadação vem junto com o pacote de corte de gastos públicos, que será anunciado por Fernando Haddad depois da reunião do G20. Representantes das pastas de Saúde, Educação, Previdência, Trabalho e Desenvolvimento Social foram chamados para discutir as reduções, já que detém a maior parte de recursos federais. 

Quando o assunto extrapola o doméstico, a eleição de Donald Trump é um fator central. O presidente já anunciou que pretende impor uma tarifa de 10% ou mais sobre todo produto importado do país, uma medida protecionista para privilegiar o mercado interno.

 

Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT
Donald Trump em sua campanha para presidência em 2024. Foto: reprodução/NYT

 Enquanto o aumento da Selic pode ajudar a manter o valor do Real no mercado internacional, a negociação tende ao soft power. “ O Brasil e os Estados Unidos são bons parceiros comerciais um ao outro, mas o Trump não quer só um bom parceiro comercial, ele também pede por um aliado que não seja mercado para a China, por exemplo. A América Latina vêm se beneficiando de compras mais baratas de produtos chineses e venda de minérios mais barato”, explica Cristina. 

Apesar de haver um plano de metas pelo qual a política monetária deveria se guiar, as medidas atuais de arrecadação precisam ser redesenhadas pela sua falta de efetividade, avalia a economista.Até o fim do ano,é previsto o aumento de mais 0,25 pontos para o juros básico, isso reverbera diferentemente entre compradores de títulos do governo e a população média: “ Meio ponto percentual é pouco do ponto de vista de contenção inflacionária e é muito para as famílias, e isso vira uma taxa enorme nos cartões de crédito e cheque especial”.

Referência nacional, principalmente em vestuário infantojuvenil, bairro paulistano vê fechamento de lojas em meio a queda no movimento
por
Filipe Saochuk
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03/06/2021 - 12h

“O Arnesto nos convidou para um samba, ele mora lá no Brás.” Este é um trecho do icônico samba de Adoniran Barbosa chamado “Samba do Arnesto”, que conta a história de um desencontro entre amigos  no bairro do Brás. Eternizado na voz de Adoniran, o tradicional distrito do centro de São Paulo é um dos principais pontos de comércio da maior cidade da América Latina.

No início do século 20, o Brás se tornou um ponto de referência da comunidade italiana em terras tupiniquins, que deixavam a Europa para buscar uma vida melhor no Brasil através da imigração. O bairro iniciava nesta época o seu processo de industrialização, do qual  seria o carro-chefe da região.

Porém, após a Segunda Grande Guerra, com um aumento da industrialização em São Paulo, a cidade  passa a atrair muita mão de obra das regiões rurais do país. Com isso, as estações de trem do Brás começam a receber muitas famílias nordestinas que decidiram se mudar para o Sudeste, e uma comunidade que tinha predominantemente italianos  se torna também um ponto de referência da cultura do Nordeste, em pleno  centro da cidade de São Paulo.

Com o passar das décadas, o  bairro do Brás se tornou não apenas uma região de muita cultura na capital, mas, principalmente, de muita força econômica. Majoritariamente, a indústria e o comércio de confecções em atacado e varejo são as principais atividades do bairro, sobretudo de roupas infantojuvenis. Em avenidas como Rangel Pestana e Celso Garcia, a comercialização de produtos populares, como na Avenida 25 de Março, é muito comum e atrai centenas de milhares de pessoas que passam pela região todos os dias. Ou melhor, passavam…

Antes do início da pandemia de Covid-19, mais de 400 mil pessoas passavam pelas ruas do Brás diariamente. Ao todo, eram 4 mil lojas fixadas na região e 8 mil boxes, que geram  mais de 600 mil empregos  diretos e indiretos, como informou Juliana Munaro, em matéria publicada em maio de 2020 no portal G1.

Em 2019, a Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo divulgou que o bairro do Brás lidera a capital paulista em número de microempreendedores, com um total de 8 mil pessoas, ficando à frente de outros importantes bairros para a economia paulista, como a Bela Vista, com 7.404, Pinheiros (6.988), Vila Mariana (5.982) e Americanópolis (4.949).

Ainda sobre os dados divulgados pela Secretaria Especial de Comunicação da Cidade de São Paulo, em 2019 o Brás já tinha mais de dez shoppings em funcionamento. Cada vez mais os comerciantes querem se afastar do trabalho informal e se aproximar do formal, sendo que mais de 42 mil microempreendedores da capital estavam no meio do comércio varejista de roupas, representando 6% do total de São Paulo. Entre 2014 e 2019, 66 mil pessoas iniciaram um empreendimento neste ramo.

Uma boa parte destes trabalhadores que abriram seus negócios estão localizados no Brás, demonstrando toda a importância que o bairro  tem não apenas no setor de produção e comercialização de roupas e acessórios, mas também em toda a economia da cidade.

A lojista Maria Valéria Veríssimo, dona de um comércio de roupas infantojuvenis em Campinas, comentou um pouco de sua experiência com o bairro do Brás e como a região movimentava pessoas e dinheiro antes da pandemia.

“Procurávamos ir para o Brás às segundas-feiras de manhã, para tentar evitar o movimento do bairro, que era muito grande. O comércio do Brás não atende apenas lojistas de São Paulo, costumava ver ônibus com comerciantes de outros estados, como Minas Gerais, Mato Grosso… todos indo atrás de uma boa oferta em variedade e preços, sendo um ‘paraíso das roupas’, não apenas no atacado, mas também no varejo.”

No quesito valores, Maria Valéria conta  quanto costumava investir em novas peças para sua loja, confirmando que o movimento do bairro não se refere apenas a pessoas, mas principalmente a cifras.

“Diversas vezes já fomos ao Brás para renovar nosso estoque, em praticamente todas as mudanças de coleção. A cada ida, eram pelo menos R$ 20 mil em novas roupas, sendo que algumas vezes os gastos chegaram na casa dos R$ 50 mil.  Tratava-se apenas de uma empresa, agora, se pensarmos em todos os clientes e comerciantes que passam e gastam por lá todos os dias, imagine o quanto de dinheiro que o Brás não gera e movimenta? Não à toa é um dos principais pontos de comércio, não apenas de São Paulo, mas do Brasil.”

Porém, ao final do primeiro trimestre de 2020, essa realidade acabou ficando no passado, e o Brás já não era mais o mesmo, nos mais diversos quesitos. Com a pandemia, o movimento, que era tão intenso, foi repentinamente zerado. O dinheiro que o comércio movimentava já não corria mais e tanto aqueles que precisavam vender, quanto os que precisavam comprar, foram diretamente afetados.

“Logo no início da pandemia, fomos impedidos de comprar no Brás. As lojas costumam ser lotadas, e aglomeração é o que não falta. As incertezas sobre a pandemia e o tempo que levaria até que o mercado pudesse operar normalmente fizeram com que as empresas optassem por não investir em novas peças, o que prejudicou e muito não apenas fornecedores do Brás, mas do país como um todo”,  comentou Valéria.

Com o ápice da pandemia, muitas lojas entraram para o mundo do e-commerce e conseguiram, ainda que não da mesma maneira, vender seus produtos. Porém, para muitos comerciantes e estabelecimentos, quando as atividades presenciais começaram a ser retomadas, já era tarde demais.

“Quando iniciou o processo de reabertura do Brás, percebemos um número muito grande não apenas de lojas, mas também de fábricas, que encerraram suas atividades. É realmente muito triste, porque vemos o desemprego aumentar cada vez mais, em um mercado que, antes de tudo isso, crescia muito, estava em verdadeira ascensão. Já os que conseguiram se manter tiveram uma alta nos preços, por conta de uma oferta menor, e uma necessidade de compensar o que foi perdido durante a paralisação. A pandemia só gerou perdas para o ramo, tanto para quem compra, quanto para quem vende”,  completou Maria Valéria Veríssimo.

Mesmo após alguns meses com o comércio funcionando, o bairro  seguiu extremamente afetado. Movimento reduzido, menor variedade, preços elevados… Até que em março deste ano, com o agravamento dos casos de Covid em São Paulo, foi decretado um novo fechamento total dos serviços não essenciais, o que inclui o comércio. Por mais de um mês, as ruas do Brás voltaram a se esvaziar, e, depois de dar um pequeno passo em direção à normalidade, a região voltou a andar para trás.

Em 19 de abril, o primeiro dia após a reabertura do comércio, o tradicional bairro voltou a ter suas ruas preenchidas de ambulantes e clientes, que foram às compras desde a madrugada. A tendência é que, com o tempo, a situação no Brás vá se normalizando, sendo algo longe do imediato.

Os danos causados pela pandemia foram profundos, e o comércio no bairro  continua sendo afetado. Muitas empresas e fábricas faliram, lojistas não conseguiram mais realizar compras para renovar seus estoques, os preços subiram e a oferta de produtos diminuiu. Assim como em outros aspectos da sociedade, o Brás terá que se adaptar a uma nova realidade para poder voltar a ser uma das grandes forças da economia paulista o quanto antes.

A pandemia e o isolamento social potencializaram um mercado que há tempos deixou de ser promessa para se tornar uma lucrativa realidade
por
Geovanna Hora
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02/06/2021 - 12h

A indústria dos jogos eletrônicos é, de longe, a maior do entretenimento mundial. Somente em 2020, o setor registrou um crescimento de 19% em relação ao ano anterior e um faturamento superior aos US$ 174 bilhões, de acordo com dados da empresa Newzoo, especialista em análises sobre o mercado dos games. Para efeitos de comparação, no mesmo período, o cinema apresentou uma queda de 72% e uma receita de apenas US$ 12 bilhões, segundo informações da consultoria americana ComScore.

Os resultados de 2020 foram afetados pela pandemia de Covid-19, que levou a maior parte dos setores a registrar queda no faturamento. Mas, enquanto as outras áreas do entretenimento sofriam com as medidas restritivas adotadas, os jogos eletrônicos foram beneficiados, justamente, pela necessidade de isolamento.

 

75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social
75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. | Imagem: Freepik/Mego-Studio​​​​

 

“Esse período trouxe uma mudança positiva para o setor, pois à medida que as pessoas passam mais tempo em casa, a quantidade de horas gastas jogando aumenta muito, independentemente da plataforma”, analisa Renato Ramos, coordenador do curso de Jogos Digitais na PUC-SP e sócio fundador das empresas de desenvolvimento de games T4 Interactive e QUByte Interactive. 

A afirmação de Ramos está em sintonia com os resultados apresentados pela 8ª Pesquisa Game Brasil (PGB) o mais importante levantamento anual sobre o consumo de jogos eletrônicos, divulgado em 2021. De acordo com a PGB, 75,8% dos gamers afirmaram jogar mais durante o período de isolamento social. A pesquisa apontou ainda que 72% da população brasileira joga algum game e 42,2% dos entrevistados disseram que investiram mais dinheiro em jogos nessa época.

 

O contato virtual como alternativa para o isolamento 

 

O game “Animal Crossing: New Horizons”, da Nintendo, lançado em março de 2020, é uma prova de que as pessoas passaram a considerar o mundo dos jogos virtuais um refúgio para a realidade. Neste game, o jogador precisa criar um personagem para viver em uma ilha deserta e explorar o local, com a possibilidade de convidar amigos para jogarem juntos e interagirem em tempo real.

Segundo dados apresentados pelo portal de games americano Polygon, menos de dois meses após o lançamento, o título já havia vendido 13 milhões de unidades e, em novembro, ultrapassou a marca de 26 milhões de cópias vendidas, o que o tornou o segundo game mais comercializado da história do Nintendo Switch mais recente console da empresa japonesa, lançado em 2017.

O crescimento alcançado pela indústria de games já é surpreendente, mas esses números podem se tornar ainda mais expressivos com a rápida expansão do setor. Segundo previsões feitas pela Newzoo, este mercado deve ultrapassar a marca de US$ 200 bilhões em receitas até o ano de 2023. “A expectativa para a indústria dos jogos eletrônicos é enorme em qualquer área, mas principalmente nos setores de treinamento e educacional”, aponta Ramos.

 

O mercado de trabalho no mundo dos games 

 

Com a constante alta no faturamento, a indústria de jogos eletrônicos passou a ser responsável por gerar cada vez mais empregos. Só nos Estados Unidos, em 2019, cerca de 429 mil pessoas trabalhavam na área, segundo dados da Associação de Software de Entretenimento (ESA, na sigla em inglês), organização norte-americana especializada no mercado de games.

Já no Brasil, entre os anos de 2015 e 2018, a quantidade de vagas oferecidas por esse setor atingiu alta de 73%, de acordo com a plataforma de buscas de empregos Indeed. O crescimento alcançado desde o começo da pandemia provocou um novo aumento na demanda por profissionais da área, o que permitiu que muitas pessoas unissem a paixão pelos games à necessidade de trabalhar.

O gamer Arthur Silva, conhecido como Apeste, é um exemplo. Apesar de participar de competições profissionais desde 2012, somente em 2021 o paulista assinou o seu primeiro contrato como profissional da área. Agora ele faz parte do elenco do São Paulo de Pro Evolution Soccer (PES), jogo de futebol virtual que está entre os mais vendidos no Brasil.

“No geral, esse período foi positivo para os gamers, porque os patrocinadores e os clubes oficiais começaram a enxergar os e-sports como uma saída para atrair o público e vender o seu produto”, afirma Apeste. “Para alguns, essa foi a única saída para conseguir uma renda, já que muitas pessoas perderam os seus empregos tradicionais”, completa o gamer.

 

Arthur e Babi
A esquerda, Arthur Silva, o Apeste, e a  direita, Babi Micheletto | Imagem: Instagram/Reprodução. 

 

Para a narradora de jogos eletrônicos Babi Micheletto, essa época representou uma transformação na sua trajetória. Ela pensou em desistir do mundo dos games e voltar a trabalhar como educadora física, sua profissão de formação, mas, no início da pandemia, recebeu um convite para integrar a equipe de narradores da Gaulês TV, um dos maiores canais da plataforma de streaming Twitch, o que alavancou a sua carreira.

“Eu trabalho somente com a narração e vivo disso, com direito a todos os benefícios que um trabalhador de uma área tradicional tem'', conta Babi, que atualmente é contratada da equipe Case Esports. “Apesar de todo o desastre causado pela pandemia, o ano de 2020 foi o que mais impactou o meu trabalho, com oportunidades únicas, como ir para Dubai cobrir um campeonato mundial”, completa a narradora.

 

Após subir 8,48% no primeiro trimestre, moeda norte-americana começou a recuar em abril e deve fechar o ano em R$ 5,30
por
Luiza Nascimento
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01/06/2021 - 12h

A pesquisa Focus do Banco Central atualizou, na sexta-feira (28/5), as projeções do mercado financeiro para o dólar no fim do ano. Pela terceira semana seguida, as expectativas ficaram em R$ 5,30, confirmando a aposta numa estabilização da moeda americana, que subiu 8,48% no primeiro trimestre, caiu 3,49% em abril e, em maio, vem registrando nova queda (1,84% até o dia 25).  A previsão para 2022, no entanto, segue com o dólar equivalente a R$ 5,40 e caindo nos próximos anos, com uma estimativa de R$ 5,10 em 2024. Esses valores, contudo, sofrerão mudanças e podem aumentar ou diminuir conforme o mercado se desenvolva.

O dólar possui uma previsão ainda incerta dentro do mercado brasileiro. | Foto: Freepik.

 

Previsão do dólar é incerta, mas sua tendência é de queda

Após um aumento de 29,36% em 2020, com um valor de câmbio maior que R$ 5 desde junho do ano passado, o dólar possui um futuro incerto no Brasil.

A pandemia do novo coronavírus, a CPI da Covid-19, a instabilidade política entre outros fatores, atuam como pêndulos para o câmbio. Cada ocasião influencia na cotação do real, que pode subir ou descer frente à moeda norte-americana.

O câmbio, entretanto, está agora em um período de queda, com uma previsão que indica valores menores do que os registrados nos últimos dois meses. O dólar começou 2021 negociado a R$ 5,18 e atingiu a máxima do ano no dia 9 de março, quando chegou a R$ 5,79. Em 25 de maio, a moeda norte-americana fechou cotada a R$ 5,33, acumulando alta de 2,89% desde janeiro. 

Especialistas atribuíram a recuperação do real nos últimos dois meses à aprovação do orçamento de 2021 e ao maior otimismo com a economia global. Segundo o analista Luiz Otávio Fonseca, da empresa Suzano, outro fator que contribuiu para a queda do dólar foram os aumentos da taxa básica de juros pelo Banco Central no Brasil. Apesar disso, ele observa que o atual patamar do câmbio ainda reflete a percepção de risco dos investidores em relação a aplicações em reais.

 “O mercado como um todo tem entendido que os patamares de R$ 5,50 para o dólar embutem um certo prêmio de risco dado o momento econômico brasileiro vindo das indefinições sobre algumas pautas referentes ao orçamento federal e, por isto, há uma expectativa de que o dólar perca valor frente ao real nos próximos meses. Aliado a isto, o Banco Central deve continuar o exercício de aumento nas taxas referenciais de juros para ajudar a conter a inflação mais alta gerada pelo ambiente de incentivo econômico que vinha desde o ano passado. Combinando esses dois fatores, a expectativa é que haja uma redução do nível de câmbio, embora o câmbio tenha em si um componente de alta volatilidade e sensibilidade a notícias que nunca deve ser deixado de lado”, avalia Otávio.

Outro fator determinante para o comportamento do câmbio nas últimas semanas é a inflação estadunidense. Uma possível alta gerou queda nas principais bolsas de valores do mundo, contribuindo para a valorização de outras moedas em relação ao dólar.

 Como funciona a previsão de câmbio para o dólar?

Quando questionado sobre a previsão para o dólar e o real, utilizando como base uma fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre a instabilidade da moeda norte-americana ser algo corriqueiro, Luiz Otávio explica como funciona essa análise de câmbio.

“As teorias de câmbio que mostram mais aderência aos dados reais são a teoria da paridade do poder de compra e a teoria da paridade da taxa de juros coberta. A primeira tem muita aderência no longo prazo e diz que uma moeda atrelada a um país com inflação mais alta que a moeda de referência (o dólar) vai no tempo se desvalorizar pelo diferencial das inflações. A segunda teoria tem mais aderência no curto prazo e não permite arbitragem (ganho sem risco) e diz que moedas com uma taxa de juros mais alta se depreciaram em relação à moeda de referência pela diferença entre essas taxas de juros.”

Segundo o analista, na situação atual do mercado, ambas as teorias indicam a queda do dólar. Ele cita ainda novos fatores que corroboram essa tendência.

“Para ambos os casos, de fato há uma expectativa para que a tendência seja do dólar se valorizar frente ao real ao longo do tempo pela menor inflação e taxas de juros dos EUA, indicadores típicos que uma economia mais madura que a nossa. Além disso, o câmbio apresenta uma volatilidade histórica de 15% ao ano que faz com que movimentos bruscos como os vistos no último ano não sejam de forma alguma algo raro. Portanto, o aumento de dois desvios-padrão, duas vezes a volatilidade citada, é algo que, apesar de ter impactos significativos, não deixa de ser algo relativamente esperado.”

De acordo com o analista, apesar do desafio de prever níveis de câmbio, o aumento das taxas de juros brasileiras deve atrair mais capital internacional no curto prazo, ajudando a reduzir os patamares atuais. Além disso, a redução de incertezas sobre questões fiscais deve reduzir a visão de risco dos investidores, colaborando com essa tendência de redução do valor do dólar. Para o longo prazo, depois desta “normalização”, porém, uma alta deve ser esperada devido à teoria da paridade do poder de compra.

Outras previsões

Além de analistas, instituições financeiras, como bancos, acompanham o câmbio no mercado brasileiro. O Itaú manteve sua previsão, realizada no final de 2020, para o dólar até o término de 2021 e 2022 de, respectivamente, R$ 5,30 e R$ 5,50. O banco leva em consideração a segunda onda do novo coronavírus no país e seu arrefecimento em meio às campanhas de vacinação contra a doença. A instituição, entretanto, afirma que ainda há riscos em relação à pandemia, como um novo colapso nos sistemas de saúde e consequências das novas variantes.

Enquanto as previsões de analistas brasileiros apontam uma futura valorização do real, o banco francês Société Générale Bertrand Delgado tem outro prognóstico.

Segundo seus analistas, em relatório divulgado no dia 05/05, o dólar poderá encerrar o ano em R$ 6. Sua previsão para o decorrer do ano difere das estimativas apontadas pelo Boletim Focus. O banco francês aponta que o dólar fechará em R$ 5,50 em junho e em R$ 5,80 até o final de setembro. O Banco Central, por sua vez, indica queda do valor até o fim do ano e, após isso, estabilidade.

Medidas de contenção da Covid-19 derrubam vendas e geram onda de demissões; 30% fecharam definitivamente
por
Anna Carolina Ferreira
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01/06/2021 - 12h

“O cinto está cada vez mais apertado. Não sei o quanto ainda aguentaremos”, desabafa André Sarkissian Tucci, proprietário da Brinquedos Beija-Flor, uma das 4.800 lojas que funcionam na região da 25 de Março. A angústia de André é a mesma de muitos comerciantes locais, que vivem momentos de incertezas desde março de 2020, quando o comércio fechou em função do avanço do coronavírus.

A assessora-executiva da União dos Lojistas da Rua 25 de Março e Adjacências (Univinco), Claudia Hurias, expõe que os meses de paralisação e a diminuição de consumidores no local provocaram uma queda de 68% nas vendas em 2020. Até antes de a pandemia se instaurar, o comércio da 25 de Março contava com 40 mil funcionários e atendia um público diário de 400 mil pessoas – chegando a 1 milhão em fins de semana e datas especiais. No entanto, a assessora afirma que, desde então, 30% dos estabelecimentos fecharam as portas definitivamente, provocando 15 mil demissões.

                                                                                                                                       

Ladeira Porto Geral vazia em decorrência do fechamento do comércio
Fechamento do comércio da 25 de Março provoca instabilidade para os comerciantes e funcionários (Imagem: Rovena Rosa/Agência Brasil)

O quadro é mais preocupante ao se levar em conta que esses comerciantes ainda sofriam consequências de uma turbulenta recuperação financeira. Isso porque o mercado da 25 de Março ainda não tinha se reerguido por completo da crise de 2015 – ano em que o faturamento caiu de R$ 13 bilhões para R$ 8 bilhões, em consequência do colapso na economia nacional. O crescimento anual era baixo e a situação econômica não oferecia muita segurança para os lojistas. “Antes da pandemia, as vendas já andavam ruins, já estávamos tendo que diminuir o número de funcionários”, relembra André.

Os primeiros meses de adaptação à nova realidade geraram grandes prejuízos para os comerciantes. Mesmo com a retração nas vendas - que chegaram a cair 85% durante o primeiro fechamento -, os comerciantes precisavam arcar com os custos dos estabelecimentos. As contas de água e luz, os impostos, as taxas de funcionamento, o aluguel e o salário dos funcionários continuaram sendo cobrados, mas com a redução do capital embolsado as despesas não conseguiam ser pagas.

André conta que para tentar reverter o prejuízo passou a investir nas vendas online. “Como a loja estava fechada, eu trouxe muitos produtos aqui para casa, para fornecer a quem encomendasse. Nesse período, a casa ficou lotada de mercadoria”, lembra, descrevendo uma confusão de pacotes que não poupava nem mesmo o banheirinho de serviço.

Assim como André, muitos outros comerciantes da região também recorreram ao comércio digital. Para quem já possuía a estrutura de e-commerce, as vendas online corresponderam de 5% a 15% dos negócios. Já os menos familiarizados, precisaram se adaptar rapidamente com a comercialização através das redes sociais. Apesar disso, esses recursos não supriam as grandes perdas obtidas com a falta das vendas físicas. “Mesmo trabalhando com serviços online, muitos não conseguiram permanecer abertos, levando à falência” relata Claudia.

Em junho passado houve a primeira reabertura do comércio - seguindo todos os protocolos de segurança sanitária -, porém, com o descontrole da pandemia, já foram necessários novos períodos de fechamento. Tal instabilidade e o medo da contaminação desanimam os consumidores a frequentarem a 25 de Março. Por isso, mesmo com a reabertura, o faturamento continua encolhendo. “Desde que reabrimos, no ano passado, o movimento está muito fraco. Apenas em outubro, por conta dos artigos de Halloween, tivemos um aumento nas vendas. O período de festas juninas era o mais lucrativo em minha loja, porém ano passado não teve festas e pelo visto este ano também não”, conta André.

Nesse cenário tão desanimador e com o futuro do país tão incerto - seja pela pandemia ou pela instabilidade da economia no setor de serviços - é difícil fazer projeções, no entanto Claudia faz um breve balanço. “O forte da 25 é o atacado, se o comerciante não vende ele não compra para abastecer e todos perdem. Se este cenário econômico não mudar, se a vacina não acelerar, o comercio será o setor mais afetado e teremos muitos CNPJ encerrados até acabar este ano. Dependemos de ações governamentais para projetar algo e infelizmente não temos isso”.

Modelo que combina aulas remotas e presenciais atrai empresas, mas é visto com ressalvas por educadores
por
Isabela Cagliari
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01/06/2021 - 12h

Em meio à pandemia do coronavírus, a educação foi uma das áreas mais afetadas. Sendo assim, o ensino, que antes era presencial, passou a ser remoto ou, em alguns casos, foi suspenso por falta de recursos. Diante do panorama, uma nova proposta educacional começou a emergir: o ensino híbrido.

Falta de acesso à internet e baixo investimento governamental foram algumas das barreiras que o ensino público enfrentou com a epidemia no Brasil. Enquanto escolas e universidades privadas conseguiram ingressar no modelo on-line, faculdades públicas de renome – como a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) – chegaram a ter suas aulas paralisadas.

Na contramão disso, grandes empresas privadas do setor educacional cresceram no mercado durante o período. A Ser Educacional, por exemplo, viu seu lucro aumentar 21% em 2020. Outras gigantes do ramo, como Yduqs e Cogna, também chamaram a atenção em seus indicadores lucrativos, mas tiveram queda de, respectivamente, 30,3% e 85,3% no lucro do ano passado.

Perante as dificuldades provocadas pela Covid-19, o ensino híbrido visa mesclar a educação presencial com a remota. O método surge como uma alternativa possível para o futuro educacional do país. Com a compreensão dos ganhos e perdas de cada modelo, busca unir os pontos positivos de cada modalidade. 

Mesclando aulas on-line e presenciais, o ensino híbrido tende a ganhar espaço na educação.| Foto: Reprodução.
Mesclando aulas on-line e presenciais, o ensino híbrido tende a ganhar espaço na educação. | Foto: Reprodução.

Ensino híbrido é aposta das grandes empresas educacionais

Com a pandemia, a educação presencial perdeu espaço para o modo on-line de aprendizagem. Embora vista com resistência por professores e alunos, a aula remota foi uma opção viável em meio à nova realidade imposta pelo vírus.

No entanto, para um futuro próximo, o modelo deve sofrer alterações para atender às demandas de profissionais e estudantes. Entre as possibilidades consideradas, destaca-se o desenvolvimento de conhecimentos práticos nos espaços acadêmicos e teóricos de maneira on-line.

Pensando em grandes empresas do setor, o analista de educação Marcel Zambello afirma que o ensino a distância, nesse contexto, aparece como uma opção mais rentável financeiramente. “A transição para o EAD é muito mais vantajosa para as companhias de educação por alguns motivos: (I) margens maiores, (II) menor necessidade de investimento, (III) crescimento exponencial da base de alunos. Os únicos pontos negativos seriam a maior concorrência e comoditização do serviço de educação”, diz Zambello em entrevista concedida.

Por outro lado, os ensinos híbrido e presencial tendem a ser mais interessantes do que o EAD ou o remoto, na avaliação da fonoaudióloga Diana Faria. Afinal, os dois primeiros métodos propiciam uma interação direta entre alunos e professores, o que é um ponto positivo quando a questão é o desenvolvimento do estudante. “O ensino presencial realmente tem elementos que são fundamentais: o próprio uso dos espaços externos, das percepções que [o aluno] pode adquirir a partir do contato com a natureza, do contato com o colega, tudo isso é muito importante para o desenvolvimento cognitivo e emocional.”

Pensando em um período pós-pandemia, Zambello delimita os prováveis rumos da educação superior: “Teremos os dois formatos: híbrido e EAD. Em relação ao EAD, o foco continuará sendo na camada social menos privilegiada e que exerce atividade remunerada durante o dia”.

Dilema da rede de ensino pública

Apesar de o mercado educacional movimentar cerca de R$ 174 bilhões por ano, a rede pública acaba por não ser uma das prioridades do governo. Mesmo que o Brasil invista em torno de 5,6% do Produto Interno Bruto (PIB), tendo uma porcentagem acima da média de 4,4% de outros países, o valor destinado por aluno ainda é baixo, conforme uma pesquisa da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) de 2019.

Nesse sentido, o ensino superior surge como o segmento da educação que mais recebe investimento no país, contabilizando um gasto anual por aluno de US$ 14,2 mil. Enquanto isso, na média de gasto anual, o Brasil soma US$ 4,5 mil por aluno. Em contrapartida, Suécia, Bélgica e Finlândia aparecem como os maiores investidores em educação, liderando o ranking de países da OCDE com um valor próximo a US$ 9,3 mil por aluno. Na América Latina, Chile e Argentina também contam com maior investimento médio, contabilizando US$ 7,7 mil e US$ 5,6 mil.

Aliás, essa diferença de investimento é vista na aprendizagem dos alunos. “As escolas públicas tiveram muito mais dificuldades para se reorganizarem, logo, estamos destacando uma defasagem ainda maior entre o aprendizado na relação público/privado”, destaca a pedagoga Daniele Ferreira Giordano. Para ela, a situação se estende para o campo universitário, considerando a dificuldade de acesso à internet por estudantes e professores de baixa renda.

Por mais que o ensino híbrido seja uma das maiores apostas das grandes empresas educacionais, isso não quer dizer que a rede pública adotará o modelo em um futuro posterior à pandemia. Afinal, as instituições que não são privadas dependem de verbas e incentivos governamentais para implementar o método. Como o ensino remoto não teve o êxito que se esperava por conta da falta de recursos, analistas e professores esperam que o modelo fique restrito às escolas e faculdades particulares.

Imagem da capa: https://blog.coursify.me/pt/ensino-hibrido-em-escolas/