A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

Se taxa de juros não cair, mais lojas podem ser afetadas, afirma economista, que aponta conexão entre crises no varejo brasileiro
por
Barbara Ferreira
Marina Laurentino
Michelle Gonçalves
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30/06/2023 - 12h

Fundada por Bernardo Goldfarb e sendo hoje uma das maiores redes de moda feminina e lingerie do Brasil, a Marisa anunciou no mês de maio o fechamento de 91 lojas em todo o Brasil até o final de junho de 2023. A varejista afirma que a decisão faz parte de um programa de eficiência operacional que tem como objetivo a regularização de sua situação financeira.

Em 2022, a empresa registrou prejuízo líquido de R$ 391 milhões, que atribuiu, entre outros fatores, aos efeitos da recessão de 2015 e 2016 e da pandemia da Covid-19. Em 2020 e 2021, o prejuízo acumulado havia superado R$ 500 milhões. Desde janeiro deste ano, a franquia lidou com a renúncia de cinco executivos que ocupavam os maiores cargos da empresa, entre eles o diretor-presidente, Adalberto Pereira Santos, e o conselheiro, Marcelo Adriano Casarin.

Há 75 anos no mercado, a Lojas Marisa designou, recentemente, João Pinheiro Nogueira Batista para assumir o comando. Além disso, manteve a renegociação de prazos e dívidas com fornecedores, credores e proprietários de imóveis, estimulou a redução de investimentos em estoques de seus produtos e providenciou corte em suas despesas operacionais.

A companhia contratou assessores externos, emitiu debêntures e renegociou dívidas com 90% de seus fornecedores e 65% de proprietários de imóveis. No primeiro trimestre deste ano, a Marisa registrou prejuízo líquido de R$ 148,9 milhões e, de acordo com informações do Estadão/Broadcast, possui dívidas de R$ 600 milhões. Os credores incluem Bradesco, Safra, Itaú, Caixa, entre.

A Marisa é uma das maiores redes de varejo de moda no Brasil, com uma história rica e um legado que remonta a mais de 70 anos. A empresa foi fundada em 1948, na cidade de São Paulo, com a proposta de atender às necessidades do público feminino oferecendo roupas de qualidade a preços acessíveis.

Nos primeiros anos, era uma loja especializada em moda íntima feminina, mas rapidamente expandiu seu catálogo para incluir uma variedade maior de produtos, como roupas, calçados e acessórios. Com um crescimento constante, a empresa abriu novas filiais e se estabeleceu como uma marca reconhecida e confiável.

Durante as décadas seguintes, a Marisa consolidou sua presença no mercado brasileiro, com a abertura de unidades em diferentes cidades e a implementação de estratégias inovadoras de varejo. Destacou-se por sua política de preços competitivos e pela oferta de produtos para todas as faixas etárias e tamanhos, tornando-se uma referência para mulheres de diferentes estilos e perfis.

Nos anos 2000, a Marisa passou por um processo de modernização e expansão ainda maior. A empresa adotou uma abordagem multicanal, integrando suas lojas físicas com uma forte presença online, criando uma plataforma de e-commerce e fortalecendo sua estratégia de marketing digital. Essa transformação digital permitiu à empresa atingir um público ainda mais amplo e diversificado, tornando-se uma das marcas de moda mais influentes e relevantes do Brasil.

Além disso, a Marisa também se envolveu em diversas iniciativas sociais e projetos de responsabilidade corporativa, lançando campanhas voltadas para o empoderamento feminino, apoiando causas sociais e ambientais e promovendo a inclusão e diversidade em suas campanhas publicitárias. Essas ações reforçaram o vínculo entre a Marisa e seu público, demonstrando um compromisso com valores que vão além do aspecto comercial.

Segundo o economista Marcos Henrique do Espírito Santo, o principal causador da crise, não só da Marisa, mas de outras lojas do varejo como a Americanas –, é a taxa de juros elevada. “Se a gente voltar para 2020, por exemplo, com uma taxa Selic de 2% ao ano, o consumidor tinha condições, mesmo na pandemia, de fazer as compras dele. Uma taxa de juros de 2% para financiar seu consumo é uma coisa. Agora, dois anos e meio depois, uma taxa de 13,75%, como a que a gente está vivendo, é outra coisa completamente diferente.”

A alta na taxa de juros afeta o mercado varejista não apenas de forma direta como, também, de forma indireta, quando esse aumento é um causador de endividamento e inadimplência dos consumidores, o que reduz o seu poder de compra.

Além disso, segundo o economista, outra questão-chave é a mudança tributária. “O diferencial de alíquota interestadual do ICMS, chamada Difal, ampliou a cobrança de tributos sobre bens comercializados por meio da internet. Isso vem sendo repassado aos poucos para os consumidores, o que vai fazendo com que a margem de lucro tenda a cair no médio-longo prazo.”

Com a atual postura do Banco Central frente a esses problemas, o endividamento, a inadimplência e o poder de compra reduzido, a previsão é de que novas crises apareçam dentro do setor varejista brasileiro. “Não descarto, no médio-longo prazo, mais crises de lojas do mesmo setor, e isso está muito relacionado ao papel do Estado neste cenário. A gente tem claramente um Banco Central que está agindo a reboque dos interesses da sociedade brasileira”, diz Espírito Santo. E completa: “Do ponto de vista da questão do crédito, do consumo, da capacidade de aumento da demanda agregada, isso, necessariamente, passa por uma redução da taxa de juros, que hoje é uma questão meramente política; não há mais um critério técnico que defenda essa taxa de juros no atual patamar”.

Mesmo com sua grande importância para a economia brasileira, o agronegócio pode ser prejudicial ao meio ambiente
por
Carolina Raciunas
Vitória Nunes
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22/06/2023 - 12h

Por Vitória Nunes (texto) e Carolina Raciunas (audiovisual)
Foto de capa: Clarice Lissovsk

 

 

O agronegócio ganhou destaque pela sua elevada contribuição para o desenvolvimento econômico no País. Porém, este impulsionador da economia pode, muitas vezes, não ser sustentável." O setor é bastante importante para a economia no sentido de que, na produção de bens e serviços, o agro faz parte do setor primário. Nos últimos anos, tivemos uma queda nos demais setores, como indústria e serviços, o que acaba fazendo com que o PIB seja puxado principalmente pelo agro”, aponta a economista Renata Moura Sena.

O ciclo do agronegócio é formado pelos insumos, a produção, a distribuição e o consumo. E os produtos gerados são basicamente alimentos, biocombustíveis, têxteis e madeiras. Atualmente, a cadeia produtiva é responsável por mais da metade das exportações e por cerca de 26% do produto interno bruto brasileiro, mesmo considerando a crise instalada com a pandemia da COVID-19.

A atividade agrícola para exportação tem sido um importante propulsor para o crescimento do produto interno brasileiro. O agronegócio é responsável por 52,2% dos exportados no Brasil, e este resultado está ligado à alta produtividade motivada por incrementos tecnológicos usados no campo.

O setor é um dos mais dinâmicos do Brasil. A partir dele são criadas discussões sobre como sua expansão pode oferecer oportunidades para o desenvolvimento local. Equipamentos desenvolvidos com novas tecnologias facilitam a execução de tarefas.

Porém, não é apenas o agronegócio que movimenta a economia. A vendedora do Armazém do Campo, Rosangela Rodrigues, explica como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) contribui para a economia. “O MST é o maior produtor de arroz orgânicos do Brasil.  Hoje o MST conta com 160 cooperativas, 120 agroindústrias e 1900 associações em todo o Brasil, que atuam no fortalecimento da solidariedade Sem Terra e potencializam as melhorias na produção dos assentamentos, constroem relações de trabalho mais igualitárias e melhoram a renda das famílias assentadas.”

No entanto, o agronegócio também está diretamente relacionado ao elevado desmatamento e outros impactos ambientais que têm se mostrado, segundo pesquisadores, irreversíveis. Este é um dos principais argumentos usados por quem participa de lutas a favor do meio ambiente. Em abril, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizou diversas invasões de terra em nome do movimento "Abril Vermelho". O mês marca iniciativas pela redistribuição de terras e, segundo representantes, invade apenas territórios improdutivos.

Rosangela Rodrigues explica a importância do trabalho do MST para a loja. “Somos fruto do MST. O espaço Armazém do Campo SP surgiu para expor e comercializar os produtos da reforma agrária, frutos de muita luta dos assentados e suas respectivas cooperativas, produtos vindos de todos os estados do Brasil.”

Enquanto o movimento busca mudar as estruturas do sistema produtivo agrícola brasileiro, diminuindo os impactos sociais e ambientais ruins, o agronegócio ganha destaque pela sua elevada contribuição para o desenvolvimento econômico no País.

Renata Moura esclareceu o paralelo entre a importância do agronegócio para a economia e a necessidade de um papel mais sustentável. "O agronegócio é bastante importante para a economia no sentido de que, na produção de bens e serviços, o agro faz parte do setor primário. Nos últimos anos, tivemos uma queda nos demais setores, de indústria e serviços, o que acaba fazendo com que o PIB seja puxado principalmente pelo agro."

Além disso, ela aponta para a relevância de práticas do agronegócio que promovam, além de benefícios econômicos, a sustentabilidade. “É importante ressaltar que, no agronegócio, há aqueles que são totalmente insustentáveis, que invadem áreas que não deveriam, que fazem processos poluentes e que se utilizam de trabalho análogo à escravidão. Porém, isso não é o todo. Existe uma parcela do agronegócio que é séria e visa sustentabilidade.”

A intensa exploração do ambiente pelo agronegócio causa vários impactos ambientais, que devem ser contidos por meio de um desenvolvimento sustentável da economia. Para tornar este setor mais favorável ao meio ambiente, algumas atitudes simples podem ser praticadas por produtores rurais, por exemplo: recuperar áreas degradadas, descartar embalagens corretamente, investir em tecnologias sustentáveis, utilizar água de reuso, reduzir a emissão de gases do efeito estufa, entre outros.

 

Em 2020 o País registrou a marca de 9 milhões de desempregados
por
João Victor Tiusso
Lucas Rossi
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22/06/2023 - 12h

Por João Victor Tiusso (texto) e Lucas Rossi (audiovisual)

 

O aumento expressivo do desemprego causado pela pandemia de Covid-19 provocou um grande aumento no número de trabalhadores autônomos no Brasil. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), realizada pelo IBGE, o Brasil tinha 25,7 milhões de profissionais independentes. Isso representa um crescimento de 4,7% em relação ao ano anterior. Em 2020 o Brasil chegou a marca de 9 milhões de desempregados, fazendo com que mais de 3 milhões de autônomos surgissem. Contudo, a renda desses profissionais caiu em 24%.

Vitor Modesto, chefe de cozinha, foi obrigado a voltar do seu intercâmbio na França no início da pandemia e optou por trabalhar de forma independente na sua própria casa ao invés de entrar em um restaurante. Ele conta que começou a vender pães caseiros em seu condomínio. Contudo, a dependência da clientela e a falta de estrutura atrapalha o crescimento do negócio e do lucro. Vitor ainda pontua que existem poucos pontos negativos em trabalhar de casa, porém para ter uma renda substancial é necessário abrir um novo estabelecimento com uma infraestrutura melhor.

 

Foto: Lucas Rossi

 

Desafios

Não há como negar que o trabalho autônomo concede uma liberdade muito maior para o profissional do que qualquer outra modalidade empregatícia. Contudo, também há desvantagens a serem vivenciadas no cotidiano dos trabalhadores.

Em caso de dúvida ou necessidade de auxílio ao longo da jornada de trabalho, os autônomos raramente têm a quem recorrer. Para Fábio Gomes, “vendedor ambulante”, o fato de não haver um supervisor, orientador, colegas de trabalho ou chefe de equipe faz com que a pessoa dependa unicamente das suas capacidades e conhecimento para resolver tarefas. Mas isso nem sempre é o suficiente, o que faz com que muitos autônomos acabem desistindo da empreitada em pouco tempo.

Na visão do vendedor, a solidão é outro desafio. A falta de contato com outras pessoas no ambiente de trabalho limita as interações sociais e troca de experiência no dia a dia. Esse fator pode ser mais sentido em gerações mais velhas que passaram a vida inteira trabalhando presencialmente com outras pessoas.

Muitos trabalhadores também relatam muita pressão, que pode contribuir para ansiedade e outros transtornos emocionais. Isso ocorre, pois os bons resultados são alcançados individualmente pelos autônomos, então se uma meta não é cumprida, os lucros estão baixos ou o tempo para trabalhar é escasso, a pessoa tende a se sentir frustrada e pressionada consigo mesma.

Vitor Modesto em um dia de trabalho. Foto: Lucas Rossi

 

 

Além de diminuir gastos com gasolina e transporte público, pedalar contribui para a melhora do humor e diminuição do sedentarismo
por
Carolina Raciunas
Vitória Nunes
|
22/06/2023 - 12h

Por Carolina Raciunas (texto) e Vitória Nunes (audiovisual)

 

Usar bicicleta como meio de locomoção pode ser a chave para contribuir com a melhora da economia. Além disso, é possível conquistar grandes ganhos pessoais. Para a economia, o impacto começa na cadeia produtiva, como mostra um estudo do Laboratório de Mobilidade Sustentável (LABMOB), ligado à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro e a Associação Brasileira do Setor de Bicicletas (Aliança Bike).

Em 2015, o Brasil produziu e importou mais de 5,4 milhões de bicicletas. Somando fabricação e importação de peças e acessórios, o País movimentou R$ 902,8 milhões. Ainda de acordo com o estudo, os salários somam, anualmente, R$ 384 milhões.

Para a atendente aeroportuária, Laura Citero, o uso da bicicleta mudou a sua vida. Ela a usa para se locomover há cerca de 2 anos, quatro vezes por semana, se não estiver chovendo forte, e às vezes ainda mais quando vai fazer compras no mercado. A iniciativa para começar a pedalar foi a preocupação com a própria saúde ao levar um estilo de vida sedentário. “Eu precisei sair do sedentarismo por motivos de saúde e fui influenciada por colegas que já usavam suas bikes para ir ao trabalho e se sentiam ótimos”, conta Laura.

Com a economia no uso de combustível e estacionamentos, já que a bicicleta foi uma alternativa ao uso diário de seu carro, Laura conseguiu juntar dinheiro para suprir outras vontades próprias: “Não juntei tanto dinheiro mas me permiti alguns desejos mais tangíveis, um tratamento de cabelos, umas sessões de massagens modeladoras, esse tipo de coisa.”

Esse relato de Laura explica exatamente os dados obtidos através do estudo Impacto Social do Uso da Bicicleta em São Paulo, realizado pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), com patrocínio do banco Itaú. De acordo com ele, ciclistas economizam até 451 reais ao mês, têm 90 minutos livres a mais por semana e são menos estressados.

A estudante de animação Maiara Valadares também pedala no dia a dia. Antes da pandemia ela costumava ir pra faculdade de bicicleta apenas uma ou duas vezes por semana, dependendo do horário que seu estágio fosse começar. Porém, depois de 2021, passou a se locomover quase sempre de bicicleta, mesmo tendo vale transporte da empresa onde trabalha, já que mora perto.

E a escolha também pesa em seu bolso: “Posso guardar o dinheiro do vale transporte para usar em contas e economizar um pouco mais do que pegando trem ou ônibus.” Ela explica ainda que, mesmo às vezes tendo que fazer modificações para melhorias e reparos na bicicleta, devido ao uso muito frequente, ainda não se compara ao custo de ter que pagar gasolina e impostos requeridos quando se tem um carro, ou até mesmo os valores dos meios de transporte público.

Com isso, Maiara conseguiu guardar dinheiro e melhorar de vida: “Consegui pagar algumas dívidas, e também me trouxe um alívio para o lazer. Agora sobra um pouco mais financeiramente para ir ao cinema ou restaurantes com uma frequência maior, além de pequenos luxos como comprar roupas e até trocar meu celular.”

A relação entre a economia e a forma como as pessoas se vestem é dinâmica e está em constante evolução
por
Rafaela Dionello
Clara Maia
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22/06/2023 - 12h

Por Rafaela Dionello e Clara Maia

A relação entre a forma como as pessoas se vestem e a economia é complexa e multifacetada e mesmo dita como uma tendência passageira, o recession core nos explica muito sobre a situação atual do mundo.

A economia influencia diretamente o comportamento de consumo das pessoas, inclusive na escolha de suas roupas e estilo de vestimenta. Traduzido para o português, recession core seria algo como 'tendência da recessão'. “A moda invariavelmente é um reflexo da política e da economia, e por isso esse momento que observamos na indústria não deve ser tratado como somente uma tendência de vestuário”, diz o professor de História da moda, Paulo Mendes.

E sob a constante e muito real crise econômica, a moda tem, naturalmente, reagido. Se manifestando através de uma estética minimalista que chegou até nos tapetes vermelhos de Hollywood. As celebridades estavam deixando de lado os colares vistosos de seus looks de red carpet, optando por deixar o colo nu, combinado a joias pequenas e discretas apenas nas orelhas. 

“Em períodos de prosperidade econômica, há uma tendência a seguir as últimas tendências, com uma maior demanda por roupas da moda e produtos de luxo. Por outro lado, durante tempos econômicos difíceis, as pessoas tendem a optar por roupas mais duráveis e clássicas”, afirma o professor. 

E porque as celebridades deixarem de usar jóias opulentas em suas produções para o tapete vermelho é um sinal da recessão? Enquanto os menos afortunados se vestem de forma mais modesta por necessidade, os super ricos fazem o mesmo para passar despercebidos. O luxo silencioso vem como uma forma ‘menos agressiva’ de continuar consumindo luxo em períodos conturbados, usando peças que chamam menos a atenção.

Os desfiles da Miu Miu e Saint Laurent para outono/inverno 2023, apesar de não serem os únicos, são os melhores exemplos quando o assunto é esse luxo velado das grandes marcas. A Recession Core pode ser comparada a estética old money, que busca peças sem logo mas que só um bom entendedor de moda sabe identificá-las, com isso, acabam gerando mais distinção sobre as outras classes que usam a logo como ostentação. O reflexo da crise acaba impactando muitas marcas de luxo por não ser empático salientar a opulência em meio a uma crise financeira.

 

FALL 2023 READY-TO-WEAR - Miu Miu / Reprodução: Vogue RunAway
FALL 2023 READY-TO-WEAR - Miu Miu / Reprodução: Vogue RunAway

 

“A economia também influencia a forma como as pessoas valorizam e percebem as marcas de moda. Durante tempos difíceis, as pessoas podem valorizar mais a qualidade, a durabilidade e a autenticidade das peças em vez de seguir tendências passageiras”, conclui Livia Lira, que trabalha com Marketing de moda. 

O que está acontecendo agora não é diferente do que aconteceu há 15 anos atrás: “A indústria deve se adaptar rapidamente às mudanças nas preferências e necessidades dos consumidores, buscando soluções criativas para se manter relevante e atrativa”, diz Paulo.

Outro fator estético que acendeu os alertas do recession core foi a volta  das tendências ligadas principalmente aos anos 2010, ano esse que sucede a crise de 2008. Na época, A Grande Recessão acabou com a estética exagerada da noite para o dia, os logotipos desapareceram e no lugar chegaram as cores sólidas e cortes de alfaiataria, adotando uma estética business para as vestimentas. Até Stefano Pilati, que tinha se alinhado com o glamour sórdido que era a assinatura de YSL, estava apostando em roupas reais para mulheres reais: “Acho que atemporalidade é uma boa mensagem por enquanto, não?”

 

Rick Owens
Rick Owens

O que podemos esperar nas próximas semanas de moda? 

Na temporada de inverno 2023, o Quiet Luxury veio não só através do minimalismo como nas peças das coleções da Miu Miu e Saint Laurent, ele também se fez presente nas passarelas com apresentações intimistas e sem artifícios externos. O show fica por conta das roupas. Isso foi frequente em diversas marcas na temporada.

Outro efeito estético que acendeu os alertas do recession core foi a tendência dos infláveis. Diversas marcas como Prada, Rick Owens apresentaram criações “acolchoadas”, sejam nas passarelas ou no ready-to-wear, com aspecto inflável e lúdico. Para influenciadores e comentaristas de moda nas redes sociais, a associação entre a inflação e peças infláveis é clara.

Parece estranho tratar o real problema de uma iminente recessão econômica a nível mundial como mais uma estética passageira das redes sociais porém a relação entre a economia e a forma como as pessoas se vestem é dinâmica e está em constante evolução. A nossa entrevistada Livia Lira fala mais sobre como tendências de moda se moldam através do cenário que estamos vivendo, confira:

 

Moda, economia e sustentabilidade:

Dentro desse cenário onde, as pessoas acabam buscando um melhor custo-benefício e evitando compras impulsivas, o comportamento de consumo consciente pode ser algo que se instale nas pessoas uma vez que durante crises econômicas ou em resposta a preocupações ambientais, há um aumento no interesse por moda sustentável e ética: “As pessoas podem se tornar mais conscientes das condições de trabalho na indústria da moda, optando por marcas com práticas responsáveis. Além disso, há uma crescente tendência de reutilização, vintage e upcycling, onde as pessoas buscam roupas de segunda mão e dão preferência ao consumo consciente em vez do consumo excessivo”, acredita Paulo. 

A moda sustentável tem ganhado destaque nos últimos anos, e sua relação com a economia é bastante relevante. Com o aumento da conscientização ambiental, os consumidores estão exigindo uma indústria da moda mais ética e sustentável e embora a moda sustentável tenha um custo maior para ser produzida, peças mais duradouras e de melhor qualidade saem como efeito desse trabalho.