As zebras são mamíferos herbívoros comuns da savana africana, costumam viver em bando e tem velocidade. A velocidade é uma forma de defesa dos ataques dos leões, um dos seus principais predadores. Além da velocidade, a força do coice também é uma ferramenta de proteção. Um coice de zebra é capaz de quebrar a mandíbula de um felino, por exemplo.
Expressões como "deu zebra", "vai dar zebra", "que zebra!", não se referem a uma fuga de um animal do ataque de seu predador - mas, poderia. No futebol, a expressão é constantemente utilizada para descrever um resultado inesperado, pouco aguardado. Para entender a expressão "dar zebra", precisamos voltar a 1964 e conhecer o histórico técnico Gentil Cardoso. É do técnico pernambucano a autoria da frase que utilizamos até hoje para classificar resultados surpreendentes no futebol ou em outros esportes.
Em 1964, Cardoso chegou para comandar a Portuguesa-RJ. O time carioca estava em má fase e desacreditado por grande parte dos que acompanhavam futebol. Na véspera de um confronto contra o poderoso Vasco da Gama, que também não vinha de bons resultados, Gentil Cardoso deu a letra ao ser perguntado sobre o resultado: "Pode dar zebra!".
O técnico fazia uma referência ao jogo do bicho, criado pelo Barão de Drummond no final do século XXI, onde a zebra não existe entre os 25 animais citados. Ou seja, é inesperado que dê zebra no jogo bicho, afinal, não tem o animal entre as opções. O recifense queria dar o recado de que uma surpresa poderia acontecer. E de fato aconteceu, naquele jogo a Portuguesa venceu o Vasco por 2 a 1, com gols de Inaldo e Tião.
Mas, afinal, essa foi a Copa das zebras ? Vamos observar os números e desempenho de algumas seleções a partir da Copa de 2002.
2002 - Copa do Mundo no Japão e Coreia do Sul
A Turquia surpreendeu e conquistou o terceiro lugar, somando 13 pontos, com 4 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, em um total de 7 jogos, fazendo 10 gols e sofrendo 6, assim terminando com um saldo positivo de 4 gols.
Outro resultado inesperado foi a Coreia do Sul que terminou na quarta posição, com 11 pontos em 7 jogos, tendo 3 vitórias, 2 empates e 2 derrotas, marcando 8 gols e sofrendo 6, ficando com um saldo positivo de 2 gols. Donos da festa, os coreanos eliminaram as favoritas Itália e Espanha durante a fase final do mundial.
O Senegal foi outra surpresa em 2002. A seleção acabou sendo eliminada nas quartas de final, ficando na sétima posição, somando um total de 8 pontos em 5 jogos, com 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota, marcando 7 gols e sofrendo 6, terminando com o saldo positivo de 1 gol. Senegal eliminou o Uruguai e a França na primeira fase do mundial, se classificando em segundo lugar em seu grupo.
2006 - Copa do Mundo na Alemanha
O mundial com menos surpresas dessa nossa série. A zebra ameaçou dar o ar da graça com a Austrália, que foi eliminada nas oitavas pela Itália com uma ótima atuação. Os australianos ficaram na décima-sexta posição com 4 jogos, somando 4 pontos depois de 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas, marcando 5 gols e sofrendo 6, ficando com -1 de saldo.
2010 - Copa do Mundo na África do Sul
A seleção de Gana superou as expectativas e foi eliminada nas quartas de final, após um jogo histórico e memorável contra o Uruguai. Gana terminou na sétima posição com 8 pontos, depois de 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota, fazendo 5 gols e sofrendo 4, terminando com um saldo positivo de 1 gol.
No mesmo mundial, uma das surpresas foi a Eslováquia que eliminou a Itália na fase de grupos, mas deixou o mundial nas oitavas de final, ficando na décima-sexta posição depois de 4 jogos, com 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas, marcando 5 gols e sofrendo 7, finalizando com um saldo de -1.
2014 - Copa do Mundo no Brasil
No Brasil, a seleção da Costa Rica foi a sensação do mundial, ficou em primeiro lugar no chamado grupo da morte, que contava com Uruguai, Itália e Inglaterra. Conseguiu avançar das oitavas de final, mas acabou sendo eliminada nas quartas, ficando na oitava posição, depois de 5 jogos, somando 9 pontos, com 2 vitórias, 3 empates e 0 derrotas, fazendo 5 gols e sofrendo 2, terminando com um saldo positivo de 3 gols.
2018 - Copa do Mundo na Rússia
Na Copa de 2018 a maior surpresa foi a Croácia que conquistou o vice-campeonato. Depois de 7 jogos a seleção croata fez 14 pontos, com 4 vitórias, 2 empates e 1 derrota, marcando 14 gols e sofrendo 9, ficando com um saldo positivo de 5 gols.
O resultado conquistado pela Suécia também foi uma novidade neste mundial, sendo eliminada nas quartas de final, terminando na sétima posição após 5 jogos, somando 9 pontos, com 3 vitórias, 0 empates e 2 derrotas, fazendo 6 gols e sofrendo 2, finalizando com um saldo positivo de 4 gols.
A Rússia, sendo a anfitriã, também fez bonito em 2018, deixando a Espanha no caminho e sendo eliminada nas quartas de final, ficando na oitava posição, somando 8 pontos em 5 jogos, com 2 vitórias, 2 empates e 1 derrota, marcando 11 gols e sofrendo 7, terminado com um saldo positivo de 4 gols.
2022 - Copa do Mundo no Catar
Neste mundial do Catar a maioria das surpresas ficaram pelas oitavas de final. É o exemplo da Coreia do Sul, Austrália e Japão.
A Coreia ficou na décima-sexta posição, após eliminar o Uruguai na fase de grupos, somando 4 pontos em 4 jogos, com 1 vitória, 1 empate e 2 derrotas, fazendo 5 gols e sofrendo 8, ficando com o saldo de -3.
Os australianos terminaram na décima-primeira posição depois de deixar a Dinamarca pelo caminho, ainda na fase de grupos, somando 6 pontos em 4 jogos, com 2 vitórias, 0 empates e 2 derrotas, marcando 4 gols e sofrendo 6, finalizando com o saldo de -2.
O Japão foi uma das grandes surpresas do mundial, ganhando da Alemanha e da Espanha e eliminando os alemães ainda na fase de grupos. Os japoneses terminaram na nona posição, com 7 pontos em sete jogos, depois de 2 vitórias, 1 empate e 1 derrota, fazendo 5 gols e sofrendo 4, ficando com o saldo positivo de 1 gol.
A maior surpresa dessa Copa foi o Marrocos. A seleção marroquina conquistou o feito de ser a primeira seleção africana a chegar a uma semifinal de Copa do Mundo, eliminando potências como Bélgica, Espanha e Portugal. Marrocos jogou 7 jogos, conquistando 11 pontos, depois de 3 vitórias, 1 empate e 2 derrotas, marcando 6 gols e sofrendo 5, com um saldo de 1 gol.
Um resultado um pouco esquecido foi a vitória da Tunísia contra a França por 1 a 0, na última rodada da fase de grupos. O gol não mudou o destino dos tunisianos, que acabaram eliminados, mas o resultado foi uma zebra e histórico para eles, que venceram pela primeira vez uma seleção europeia em Copas do Mundo.
Quem explica as zebras ?
Para entender melhor a razão dos resultados no Catar, obtidos por seleções de pouca tradição, a equipe da AGEMT conversou com Ricardo Picoli, doutor e mestre em psicobiologia pela Universidade de São Paulo (USP), psicólogo pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), e coordenador do curso de especialização em psicologia do exercício e do esporte da UFSCar.
Também conversamos com Lucas Tavares, educador físico pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), mestre em ciências do exercício pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e chefe do departamento de análise de desempenho (CIAM) do Fluminense entre 2016 e 2017.
Como já mostramos, seleções como Costa Rica, Croácia e Coreia do Sul, por exemplo, superaram as expectativas quando jogaram perto da terra natal. Segundo Picoli, alguns estudos apontam a existência da "home advantage", ou seja, a vantagem de jogar em casa. Apesar disso, para o psicólogo isso não explica de que forma exatamente afeta o resultado ou desempenho do time ou seleção. "As hipóteses mais fortes são: torcida a favor, arbitragem mais favorável ao time da casa, habituação sensorial ao campo de jogo da própria equipe e clima meteorológico", afirma.
Sobre casos específicos das "zebras" durante esse mundial, o analista Lucas Tavares aponta para um aspecto mais técnico e tático, unindo planejamento e motivação. "Alguns trabalhos já indicam uma maior probabilidade de sucesso em modelos de jogo agressivos ofensivamente e de ciclos curtos. [...] Um segundo ponto muito relevante é a motivação dessas seleções com menor expressão. O fato de não ser esperado resultados relevantes, especialmente contra seleções campeãs, gera um fator motivacional fundamental para o bom desempenho de uma tática defensiva como a que foi proposta por eles", comenta.
No aspecto motivacional, seleções menos tradicionais acabam caindo nas graças de grande parte do público que acompanha a Copa do Mundo, atraindo para si a torcida não apenas de seus compatriotas. Isso também ocorre com algumas seleções de maior tradição em Copas, como o Brasil, por exemplo. "É fonte de incentivo para os jogadores da equipe com torcida a favor. Isso pode gerar sentimentos positivos de confiança, entusiasmo e alegria que são fortemente relacionados a bom desempenho. Em segundo lugar, a arbitragem tende a favorecer (ou ser mais condescendente) ao time "da casa", o que impacta diretamente no desempenho de ambas equipes em campo. Na mesma medida que a torcida a favor ajuda o time que tem a torcida, atrapalha o time adversário, afetando principalmente a concentração", explica Ricardo Picoli.
A Copa do Mundo no Catar mostrou ao mundo a força dos coletivos, diminuindo distâncias técnicas com aplicação tática. Seleção campeã, a Argentina mostrou o poder de seu grupo durante toda a competição, mesmo tendo Lionel Messi em exibições de gala. O Marrocos, grande sensação do Mundial, mostrou concentração e aplicação tática de todo o time em todos os confrontos, até na derrota para a França, quando jogou melhor. "Muito interessante. Particularmente me agrada muito que equipes taticamente melhores superem outras individualmente mais fortes. Isso evita que outras seleções se acomodem com o status que já têm por conta do histórico", analisa Tavares.
O fato de grandes nomes técnicos do esporte como Kylian Mbappé, Harry Kane, Cristiano Ronaldo, Neymar e Messi, para citar alguns, estarem no confronto, pode estimular os adversários na avaliação de Picoli. "Boa parte das melhores seleções da Copa tem jogadores que jogam na europa, mesmo não sendo europeus. Certamente há um estímulo em jogar com equipes tradicionais ou fortes e isso independe da qualidade da sua equipe ou do seu favoritismo ou não. Os atletas geralmente relatam preferir jogar contra os melhores, então, esse tipo de estímulo deve haver", diz o mestre em psicobiologia.
Para o ex-chefe do Departamento de Análise e Desempenho do Fluminense, a evolução no conhecimento científico é um ativo para a diminuição das diferenças técnicas. O uso da ciência somada a tecnologia, para Lucas Tavares, faz com que clubes e seleções possam melhorar seus resultados. "Já existe muito conhecimento científico de qualidade que pode ajudar a qualquer pessoa entender e buscar estratégias melhores de treino e jogo. Além disso, também existe o conhecimento científico gerado por cada equipe sobre seus jogadores que possibilitam definir estratégias melhores de treino e jogo. Todo esse conhecimento gerado só é possível através de recursos tecnológicos que possibilitam monitorar quantitativamente as ações dos jogadores durante o treino, jogo e até no sono e alimentação. Esses recursos tecnológicos são de fácil acesso, o que possibilita que essas seleções façam uso e melhorem seus resultados", diz o analista de desempenho.
Assistir a um resultado inesperado é um dos fatos marcantes no futebol. Se pararmos para pensar, a Argentina perdeu apenas para a Arábia Saudita na campanha do tricampeonato. A tetracampeã Alemanha foi superada pelo Japão. Apesar de muita ciência em seus processos, o futebol continua sendo imprevisível. Ou como disse o comentarista Benjamin Wright em uma das frases mais famosas do mundo da bola: "Uma caixinha de surpresas".
Nenhum roteiro seria melhor do que a trama que ocorreu na final da Copa do Mundo de 2022. Nem Shakespeare, ou até mesmo Nelson Rodrigues, escreveriam uma história tão completa de emoções, reviravoltas e tragicidade.
25 de novembro de 2020, foi o dia em que o maior deus argentino deixou a vida terrestre para passar ao outro plano. No jogo de domingo, milhões de argentinos, e alguns italianos, suplicaram por seu nome, por sua benção, pela sua perna esquerda. E no final, suas preces foram atendidas. Em campo, cada jogador argentino tinha um pouco de Maradona dentro de seu corpo. Cada disputa de bola era a última. Cada finalização era a final.
Diego faleceu durante um jejum de 28 anos de sua seleção. Seu sucessor, Lionel Andrés Messi, ficou 16 anos sem ganhar sequer um título pela seleção principal. Porém, em semelhança a sua imagem, assim como Maradona é idolatrado em Nápoles, Messi é em Barcelona. Ganhou tudo que disputou no clube, desde premiações coletivas, até as individuais, que inclusive tomou conta.
Mas, era desmerecido por não conquistar nada com a albiceleste. Em 2016, após a derrota com pênalti perdido na final da Copa América contra o Chile, o gênio anunciou sua precoce aposentadoria da seleção aos 29 anos. Neste ponto, já havia perdido 4 finais pela Argentina, três de Copa América e a final da Copa do Mundo de 2014.
Mas o melhor jogador de sua geração não podia parar tão cedo, e voltou. Ainda não tinha noção da reviravolta que sua história com a seleção teria. Em 2021, finalmente conseguiu a conquista de seu primeiro título: a Copa América, derrotando o Brasil em pleno Maracanã. Infelizmente, sem o fanático público argentino por conta da Pandemia da Covid-19. Apesar de perder a oportunidade de comemorar possivelmente o único título que Messi ganharia com a seleção, os argentinos também não estavam cientes do que estaria por vir.
Olhando do momento atual, parece que foi tudo premeditado. A Copa do Mundo não podia ficar de fora da estante de prêmios do maior jogador da história, e Maradona sabia disso. Ouviu as preces dos argentinos, e concedeu a força da perna esquerda em três momentos da partida: o primeiro gol de Messi, o gol de Dí Maria, e no momento mais crucial do jogo, a milagrosa defesa de Emiliano Martinez.
Irônico. Como atacante, Maradona realizou um milagre ao marcar o gol de mão, e Dibu Martinez apesar de goleiro, realizou a defesa de sua vida com a perna esquerda. Antes mesmo de jogar a partida, Messi já sabia que seria sua última de Copa do Mundo, e sua segunda final. E em sua última oportunidade, alcança a glória máxima, aos 35 anos.
As jovens gerações dos Hermanos, não tem dúvidas. El mejor de todos los tempos, como disse Enzo Fernandez, ganhador do prêmio revelação da copa. Fez a Copa da sua vida aos 35 anos. Se tornou o jogador com mais jogos na história da Copa e o único a ganhar duas vezes o prêmio de melhor jogador. Calando todos os que diziam que não era decisivo na seleção, marcou em todas as fases do campeonato, e em todos os jogos do mata-mata.
Encerram-se todas as comparações de outros jogadores com Lionel Messi. Sua disputa fica apenas com o Maradona para os argentinos, Pelé para os brasileiros, e o resto do mundo que aceite sua realeza.
A Avenida 9 de julho foi completamente tomada após o final do jogo. Não cabe todos os torcedores em uma imagem. O futebol para o argentino é isso. É a vida, é a paixão. Em meio à tantos problemas que enfrentam, um motivo para celebrar é um desafogo.
Lionel Andrés Messi é poesia. É o horizonte. É o inalcançável. É o futebol. E agora, também é campeão mundial, o último título que faltava para sua carreira perfeita. Seria mais histórico ainda se viesse ganhar a Libertadores com o meu Corinthians.
Brincadeiras à parte, a maior final de Copa do Mundo da história presenteia o maior jogador de futebol da história com a consagração máxima. Para o mundo, nunca existiu jogador do tamanho de Lionel Messi. Abençoados fomos nós, por acompanhar a maior carreira de um esportista na história.
A França perdeu hoje a chance de ser a primeira seleção depois do Brasil a ganhar duas Copas do Mundo em sequência. A seleção foi derrotada na final da Copa do Mundo de 2022, em um jogo histórico, que ocorreu hoje (18) no Lusail Stadium. O placar final do jogo foi de 3 a 3, e os argentinos levaram a taça nos pênaltis por 4 a 2.
A trama como ocorreu não era prevista no começo do jogo. Durante todo o primeiro tempo, a Argentina dominou completamente o time francês, que passou toda a primeira etapa sem finalizar uma vez ao gol. A França, que entrou sem alterações entre os titulares, não conseguia neutralizar a atuação ofensiva de Lionel Messi e Di Maria.
Não demorou muito para a dupla Argentina obter resultado. Di Maria, que até então passeava pelo corredor esquerdo de ataque, não estava dando chances para o marcador Kounde, forçando a volta do atacante Dembelé para ajudar na marcação. Após belo drible na grande área, Dembelé tocou em Di Maria, que caiu e conseguiu um pênalti considerado polêmico.
Bem marcado ou não, o pênalti foi confirmado, e Messi venceu o goleiro francês Lloris na disputa, abrindo o placar para a Argentina com apenas 23 minutos.
Após o gol, os meio-campistas Tchouaméni e Rabiot continuaram com extrema dificuldade para marcar o genial camisa 10 da Argentina, que cada vez mais criava jogadas de perigo para os Argentinos. A França passou o primeiro tempo todo sem grandes oportunidades ofensivas e sem conseguir progredir sequer uma jogada.
O segundo gol argentino partiu de uma roubada de bola em que a defesa francesa se encontrava desorganizada. Em jogada de velocidade, e mais uma vez a bola passando por Lionel Messi, os franceses levam o segundo gol aos 36 minutos, aos Di Maria bater na saída do goleiro Lloris, após passe de MacAllister.
Apesar de tudo, Deschamps tinha um plano. Para a surpresa de muitas, realizou algo inusitado no futebol. Com 2 a 0 contra, o técnico francês utilizou duas substituições ainda no primeiro tempo. Aos 41 minutos, saíram o goleador Giroud, que praticamente não tocou na bola, e o atacante Dembelé, que também estava muito mal no jogo. Entraram os substitutos Kolo Muani e Marcus Thuram. Mas nada conseguiram fazer diante da pressão alta da Argentina no primeiro tempo.
No início do segundo tempo, o jogo continuou igual – com os francesas errando passes simples e dando espaço para os argentinos. A primeira finalização da França ocorreu somente aos 25 minutos do segundo período, com um chute de Mbappé para fora. Nessa altura do jogo, os franceses já apresentavam melhora e criavam jogadas de perigo.
A saída de Griezmann e Theo Hernandez simbolizaram o que havia sido o jogo até aquele ponto, os jogadores não conseguiram render esperado, e saíram completamente apagados de campo. Entraram Camavinga, novamente improvisado na lateral esquerda e Coman, pela ponta direita.
Ninguém esperava o que estava por vir. Aos 34 minutos, Kolo Muani ganhou disputa com Otamendi e sofreu um pênalti, convertido por Mbappé, gol marcado exatamente aos 35. O horário é importante, pois logo no minuto seguinte, Mbappé recebe um passe aéreo de Marcus Thuram, e em um voleio baixo finaliza majestosamente para empatar o jogo.
Pela primeira vez na história das finais da copa, ocorreram gols em minutos consecutivos, com uma diferença de 1 minuto e 36 segundos. A Argentina estava cansada e desorganizada, e só foi preciso duas chances para a estrela Kylian Mbappé empatar o jogo. Já nos acréscimos, Messi finaliza um torpedo no gol, mas Lloris realiza grande defesa, que leva o jogo a prorrogação.
Na prorrogação, os papéis se inverteram. A Argentina teve dificuldade de escapar da acertada marcação francesa. Com uma França muito melhor fisicamente, o jogo seguiu até o final do primeiro tempo da prorrogação. No começo da segunda etapa, bastou uma chance criada por Lionel Messi para marcar o terceiro gol da Argentina e seu segundo na partida.
Mas os franceses não desistiram. Em uma jogada perigosa, a bola sobra para Mbappé, que finalizou e viu a bola bater no braço de Montiel. Mais um pênalti, o terceiro da partida. Mbappé foi para seu segundo pênalti no jogo, e converteu com facilidade batendo na direita do goleiro Emiliano Martinez.
Com seu terceiro gol na partida, Mbappé se tornou o segundo jogador a marcar um Hat-Trick em final de Copa do Mundo, o primeiro foi o inglês Geof Hurst em 1966. Além disso, passou Pelé e se tornou o jogador com mais gols em final de copa, com 4 gols. Feitos históricos que levaram a França para os pênaltis em um jogo dado como perdido.
Ainda antes do encerramento, Muani teve a chance de ouro de fazer o quarto gol e finalizar o jogo no mesmo placar do confronto de 2018 – mas o goleiro argentino faz a maior defesa dessa Copa e, com os pés, milagrosamente impediu o gol.
Nos pênaltis, ambos os craques foram os primeiros batedores e marcaram. Mbappé bateu o primeiro e Messi o seguinte. No terceiro pênalti batido, Coman parou em Emiliano Martinez. Dybala, que entrou no segundo tempo da prorrogação, converteu o quarto. No quinto, Tchoauméni bateu para fora tentando evitar a defesa do goleiro.
Paredes converteu o sexto. Kolo Muani, que perdeu a chance no final do jogo, converteu o sétimo, depositando todas as esperanças francesas no goleiro Hugo Lloris, que não conseguiu defender o último pênalti batido por Montiel.
A França perdeu nos pênaltis em um final histórica para a Argentina, e não conquistou o terceiro título de Copa do Mundo. Apesar da derrota, Mbappé recebeu ao final da partida o prêmio de artilheiro da Copa, com 8 gols marcados.
Assim se encerra o caminho da França na Copa do Mundo de 2022. Desacreditada por muitos, a seleção chegou à final e ficou a um passo de conquistar a glória máxima. Agora, os franceses voltam a jogar no dia 24 de março de 2023, pelas eliminatórias da UEFA Europa League.
Todo brasileiro que acompanha o esporte é ciente da nossa maior rivalidade: os Argentinos. Não é um consenso o início dessa rivalidade, mas muitos historiadores afirmam que começou antes mesmo dos esportes, no período colonial, herdando um sentimento de confronto da época entre Espanha e Portugal. Provavelmente tendo início em confrontos geopolíticos, a rivalidade foi transferida para os Esportes.
O cenário de Brasil contra Argentina em qualquer esporte é mergulhado na rivalidade, mas vamos nos manter no futebol. Não somente nos confrontos entre as seleções, mas também entre seus clubes, na Libertadores. Brasileiros não gostam de perder para Argentinos, e vice-versa. O gol de Adriano Imperador nos acréscimos da final da Copa América de 2004, que empatou, levou o jogo aos pênaltis e terminou com o triunfo da seleção brasileira é um exemplo.
O sentimento da rivalidade também toma conta dos jogadores, a comemoração do Adriano após o gol mostra isso. O gosto amargo após a derrota da Copa América de 2021 - Brasil derrotado em plena final no Maracanã, jogo em que Neymar teve o calção rasgado após entrada violenta.
Apesar de na seleção levarmos a melhor no retrospecto, nos clubes ainda não é assim. Na história da Libertadores, 25 títulos foram pra Argentina, enquanto para o Brasil 22, graças ao recente domínio brasileiro do campeonato. Infelizmente, os confrontos são marcados pela violência extra e intra campo - que também existe no confronto entre seleções. Constantemente os clubes brasileiros são vítimas de racismo quando vão a Argentina, dentro de campo, os jogos são marcados por entradas duras e confusões.
Também temos no passado recente os erros crassos de arbitragem, principalmente a favor dos Argentinos. Como bom corinthiano, me lembro bem da atuação do arbitro Carlos Amarilla no jogo contra o Boca Juniors, pelas oitavas de Libertadores de 2013. São muitos os motivos que alimentam a rivalidade entre os brasileiros e argentinos, e o ressentimento de momentos como os citados fortalecem ainda mais esse sentimento.
No domingo (18), teremos a final da Copa do Mundo de 2022. Existiu a imensa possibilidade do maior confronto entre Brasil e Argentina da história, pelas semifinais de uma Copa do Mundo. Mas, com a eliminação precoce contra a Croácia, isso não foi possível, e veremos nossos hermanos jogarem a final contra a França.
Dito tudo isso, torcerei pela Argentina na final da Copa do Mundo de 2022.
Acompanhei a França durante a Copa de 2018 e venho acompanhando também em 2022 pelos meus compromissos com a AGEMT, e graças a isso, percebi uma ameaça muito maior nos franceses.
Nas últimas sete edições de Copa do Mundo, os franceses chegaram à final em quatro: 1998 (primeiro título mundial), 2006, 2018 (segundo título mundial) e agora, em 2022. E fica em um dos maiores “se” da história, o que aconteceria caso Zidane não tivesse cabeceado Materazzi. A final de domingo poderia ser a disputa pelo tetra francês. E nas três finais já realizadas, não perdeu no tempo regulamentar, 2006 foi para os pênaltis.
Outro ponto é a troca de geração, a seleção de 2018 e de 2022 da França tem quase a mesma média de idade, ambas em 26 anos. Entre os titulares, a média é de 27. A estrela do time, Kylian Mbappé, tem apenas 23 anos e pode ser bicampeão do mundo. Jogadores essenciais como Theo Hernández, Upamecano, Tchouameni, Kounde, terão menos de 30 anos na próxima Copa.
Muito provavelmente a copa de 2022 será um encerramento de ciclo apenas para Giroud e Lloris, que tem 36 e 35 anos. Todos os jovens jogadores da seleção francesa jogam nos maiores clubes da Europa e estão entre os titulares. Sem contar os jovens entre 18 e 22 que não foram convocados.
Caso ganhe a Copa de 2022, se juntará à seleção brasileira e à italiana como as únicas seleções a ganhar dois títulos seguidos. Um dos importantes detalhes da campanha foram os problemas com lesões sofridas. Faltando apenas um mês para a competição, a lista de lesionados somava 13 jogadores. Jogadores titulares foram cortados, como Benzema, Paul Pogba e Kanté. Além de outros cortes como Nkunku e Kimpembe.
Esses cortes junto com a má atuação francesa na Liga das Nações fizeram com que muitos comentaristas duvidassem da capacidade da França de chegar nas fases mais avançadas do campeonato, alguns até cravando sua eliminação cedo.
As recentes atitudes de Mbappé, tanto no clube como seleção, fizeram com que muitos brasileiros perdessem a empatia com o craque. Sendo taxado como “dono do Paris-Saint Germain”, Kylian pode ser bicampeão do mundo aos 23, abrindo a possibilidade de ser tricampeão aos 27. Pelé foi tricampeão aos 29.
Desde Ronaldo Fenômeno, nenhum jogador subiu a nível mundial tão rapidamente e de maneira ameaçadora ao legado do rei. O jornal L’Equipe, da França, colocou na sua capa da edição do dia 17 a chamada de sagrada chance da seleção francesa de Mbappé, de ser a primeira bicampeã desde Pelé e a comparação do craque com o rei.
A longo prazo, a França tem muito mais capacidade para conquistar um futuro tetra do que os Argentinos. A Argentina não possui jovens talentos a nível dos franceses, e esta será a última dança do gênio Lionel Messi, melhor jogador da Copa até agora. E o até agora é mencionado pois a final entre Messi e Mbappé também envolve a disputa dos dois pelo troféu individual.
Para Messi, já com 34 anos, ganhar a Copa significaria a consolidação total como maior jogador de sua geração, e com certeza um lugar no Top 3 da história - para mim, somente atrás de Pelé. E caso ganhe o melhor jogador da Copa, seria o primeiro da história a conquistar o prêmio duas vezes, visto que ganhou em 2014.
A vitória de Messi não seria somente o tricampeonato da Argentina, mas também a história escrita pelo maior jogador que vi jogar. Os últimos confrontos corroboram cada vez mais essa visão. Antes muito criticado pela sua postura ao ser comparado com o deus argentino Diego Maradona, pode se dizer que em sua última Copa do Mundo, Messi teve uma atuação Maradoniana, dentro e fora de campo.
A Croácia enfrentou a Argentina na última terça-feira (13), no Estádio Lusail, e perdeu por 3 a 0 sendo eliminada da competição na semifinal. O técnico croata, Zlatko Dalic, foi com o seu meio de campo, como de costume, com três jogadores, e o técnico argentino, Lionel Scaloni, organizou o seu meio de campo com quatro jogadores para não deixar liberdade na zona neutra de jogo.
O jogo da Croácia começou, cadenciado, como em outros jogos, com passes no meio campo e na defesa. O time logo sentiu um aperto do meio de campo argentino. A Croácia começou o jogo apostando em contra-ataques e a Argentina na pressão e marcação alta. A defesa croata jogou o jogo inteiro de maneira muito desorganizada e, aos 31 minutos de jogo, o zagueiro Dejan Lovren deu brecha para uma infiltração de Julian Álvarez, que ficou sozinho com o goleiro Livakovic.
O goleiro não se posicionou bem, cometeu um pênalti no atacante, e recebeu cartão amarelo, assim como Kovacic, também amarelado por reclamações excessivas ao juiz. Messi foi para a bola e bateu alto no canto esquerdo do goleiro, uma bola indefensável, marcando o primeiro gol da Argentina.
Sem arrumar as falhas na defesa, o técnico Dalic viu mais uma vez a bola chacoalhar a rede, dessa vez aos 38 minutos em outro contra-ataque de Julian Álvarez. A defesa croata muito mal posicionada e organizada falhou outra vez, o lateral Sosa não conseguiu marcar o jogador, se desequilibrou e abriu espaço para o camisa 9 argentino marcar o seu primeiro gol na partida, segundo da seleção.
No segundo tempo, Dalic tirou Brozovic e apostou em Petkovic na intenção de pressionar mais a Argentina e subir a sua linha de marcação. A Croácia conseguiu subir para o ataque, mas sofreu com o mesmo problema que vinha sofrendo todos os jogos da Copa, a falta de Mario Mandzukic. Subiram varias vezes ao ataque e tiveram chances perigosas de gol, mas nunca tinha ninguém para colocar a bola dentro do gol.
Aos 22 minutos, Bruno Petkovic sofreu uma falta por Cristian Romero no meio de campo. A falta foi cobrada, a Croácia subiu mas o ataque foi sem perigo nenhum, a bola saiu para a lateral. Argentina cobrou essa lateral, e com uma jogada individual e espetacular de Lionel Messi, Julian Álvarez marcou o seu segundo gol na partida aos 29 minutos, carimbando a passagem argentina para a final da Copa do Mundo de 2022.
O técnico croata ainda tirou Luka Modric para a entrada de Lovro Majer, mas não mudou nada no placar. Com uma boa linha de meio campo, a Croácia tem boas ações ofensivas, mas sofre para concluir em gol. Desde a aposentadoria de Mandzukic, o técnico Dalic tenta encontrar um centroavante a altura, mas sem sucesso. Nessa Copa, os croatas chegaram a semifinal com apenas 1 vitória no tempo normal, mostrando a dificuldade de concluir em gol.