Do pastelzinho com caldo de cana à hora da xepa, as feiras livres fazem parte do cotidiano paulista de domingo a domingo.
por
Manuela Dias
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29/11/2025 - 12h

Por décadas, São Paulo acorda cedo ao som de barracas sendo montadas, caminhões descarregando frutas e vendedores afinando o gogó para anunciar promoções. De norte a sul, as feiras livres desenham um dos cenários mais afetivos da vida paulistana. Não é apenas o lugar onde se compra comida fresca: é onde se conversa, se briga pelo preço, se prova um pedacinho de melancia e se encontra o vizinho que você só vê ali, entre uma dúzia de banana e um pé de alface.

Juca Alves, de 40 anos, conta que vende frutas há 28 anos na zona norte de São Paulo e brinca que o relógio dele funciona diferente. “Minha rotina é a mesma todos os dias. Meu dia começa quando a cidade ainda está dormindo. Se eu bobear, o morango acorda antes de mim”.

Nas bancas de comida, o pastel é rei. “Se não tiver barulho de óleo estalando e alguém gritando não tem graça”, afirma dona Sônia, pasteleira há 19 anos junto com o marido e filhos. “Minha família cresceu ao redor de panelas de óleo e montes de pastéis. E eu fico muito realizada com isso.  

Quando o relógio se aproxima do meio dia, começa o momento mais esperado por parte do público: a famosa xepa. É quando o preço cai e a disputa aumenta. Em uma cidade acelerada como São Paulo, a feira livre funciona como uma pausa afetiva, um lembrete de que existe vida fora do concreto. E enquanto houver paulistanos dispostos a acordar cedo por um pastel quentinho e uma conversa boa, as feiras continuarão firmes, coloridas, barulhentas e deliciosamente caóticas.

Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia.
Os cartazes com preços vão mudando conforme o dia. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas.
Vermelha, doce e gigante: a melancia é o coração das bancas nas feiras paulistanas. Foto: Manuela Dias/AGEMT
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo.
A dupla que move a feira da Zona Norte de São Paulo. Foto: Manuela Dias/AGEMT
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores.
Entre frutas e verduras um respiro delicado: o corredor das flores. Foto: Manuela Dias/AGEMT

 

Apresentação exclusiva acontece no dia 7 de setembro, no Palco Mundo
por
Jalile Elias
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
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26/11/2025 - 12h

Elton John está de volta ao Brasil em uma única apresentação que promete marcar a edição de 2026 do Rock in Rio. O festival confirmou o britânico como atração principal do dia 7 de setembro, abrindo a divulgação do line-up com um dos nomes mais celebrados da música mundial.

A presença de Elton carrega um peso especial. Em 2023, o artista anunciou que deixaria as grandes turnês para ficar mais perto da família. Por isso, sua performance no Rock in Rio será a única na América Latina, transformando o show em um momento raro para os fãs de todo o continente.

Em um vídeo publicado na terça-feira (25) nas redes sociais, Elton John revelou o motivo para ter aceitado o convite de realizar o show em solo brasileiro. “A razão é que eu não vim ao Rio na turnê ‘Farewell Yellow Brick Road’, e eu senti que decepcionei muitos dos meus fãs brasileiros. Então, eu quero compensar isso”, explicou o britânico.

No mesmo dia de festival, outro grande nome da música sobe ao Palco Mundo: Gilberto Gil. Em clima de despedida com a turnê Tempo-Rei, que termina em março de 2026, o encontro dos dois artistas lendários torna a programação do festival ainda mais especial. 

Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Reprodução / Facebook Gilberto Gil)
Gilberto Gil se apresentará no Palco Mundo do Rock in Rio 2026 (Foto: Divulgação)

Além das atrações, o Rock in Rio prepara mudanças importantes na Cidade do Rock. O Palco Mundo, símbolo do festival, será completamente revestido de painéis de LED, somando 2.400 metros quadrados de tecnologia. A ideia é ampliar a imersão visual e criar novas possibilidades para os artistas.

A próxima edição também terá uma homenagem especial à Bossa Nova e um benefício pensado diretamente para o público, em que cada visitante poderá receber até 100% do valor do ingresso de volta em bônus, podendo ser usado em hotéis, gastronomia e experiências turísticas durante a estadia na cidade.

O Rock in Rio 2026 acontece nos dias 4, 5, 6, 7 e 11, 12 e 13 de setembro, no Parque Olímpico, no Rio de Janeiro. A venda geral dos ingressos começa em 9 de dezembro, às 19h, enquanto membros do Rock in Rio Club terão acesso à pré-venda a partir do dia 4, no mesmo horário.

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A socialite continuou tendo sua moral julgada no tribunal, mesmo após ter sido assassinada pelo companheiro
por
Lais Romagnoli
Marcela Rocha
Jalile Elias
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26/11/2025 - 12h
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz em nova série. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

Figurinha carimbada nas colunas sociais da época, Ângela Diniz virou capa das manchetes policiais após ser morta a tiros pelo então namorado, Doca Street. O feminicídio que marcou o país na década de 1970 ganha agora um novo olhar na série da HBO Ângela Diniz: Assassinada e Condenada.

Na produção, Marjorie Estiano interpreta a protagonista, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. O elenco ainda conta com Thelmo Fernandes, Maria Volpe, Renata Gaspar, Yara de Novaes e Tóia Ferraz.

Sob direção de Andrucha Waddington, a série se inspira no podcast A Praia dos Ossos, de Branca Viana. A obra, que leva o nome da praia onde o crime ocorreu, reconstrói não apenas o caso, mas também o apagamento em torno da própria vítima. Depoimentos de amigas de Ângela, silenciadas à época, servem como ponto de partida para revelar quem ela realmente era.

Seja pela beleza ou pela independência, a mineira chamava atenção por onde passava. Já os relatos sobre Doca eram marcados pelo ciúme obsessivo do empresário. O casal passava a véspera da virada de 1977 em Búzios quando, ao tentar pôr fim à relação, Ângela foi assassinada pelo companheiro.

Por dias, o criminoso permaneceu foragido, até que sua primeira aparição foi numa entrevista à televisão; logo depois, ele se entregou à polícia. Foram necessários mais de dois anos desde o assassinato para que Doca se sentasse no banco dos réus, num julgamento que se tornaria símbolo da luta contra a violência de gênero.

Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, , enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Divulgação
Marjorie Estiano interpreta Ângela Diniz, enquanto Emilio Dantas assume o papel de Doca. Foto: Reprodução/Divulgação HBO Max

As atitudes, roupas e relações de Ângela foram usadas pela defesa como supostas “provocações” que teriam motivado o crime. Foi nesse episódio que Carlos Drummond de Andrade escreveu: “Aquela moça continua sendo assassinada todos os dias e de diferentes maneiras”.

Os advogados do réu recorreram à tese da “legítima defesa da honra” — proibida somente em 2023 pelo STF — numa tentativa de inocentá-lo. O argumento foi aceito pelo júri, e Doca recebeu pena de apenas dois anos de prisão, sentença que gerou revolta e fortaleceu movimentos feministas da época.

Sob forte pressão popular, um segundo julgamento foi realizado. Nele, Doca foi condenado a 15 anos, dos quais cumpriu cerca de três em regime fechado e dois em semiaberto. Em 2020, ele morreu aos 86 anos, em decorrência de um ataque cardíaco.

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Exposição reúne obras que exploram o inconsciente e a natureza como caminhos simbólicos de cura
por
KHADIJAH CALIL
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25/11/2025 - 12h

A Pinacoteca Benedicto Calixto, em Santos, apresenta de 14 de novembro a 14 de dezembro de 2025 a exposição “Bosque Mítico: Katia Canton e a Cura pela Arte”, que reúne um conjunto expressivo de pinturas, desenhos, cerâmicas, tapeçarias e azulejos da artista, sob curadoria de Carlos Zibel e Antonio Carlos Cavalcanti Filho. A Fundação que sedia a mostra está localizada no imóvel conhecido como Casarão Branco do Boqueirão em Santos, um exemplar da época áurea do café no Brasil. 

Ao revisitar o bosque dos contos de fadas como metáfora de transformação interior, Katia Canton revela o processo criativo como gesto de cura, reconstrução e transcendência.
 

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       “Casinha amarela com laranja” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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                 “Chapeuzinho triste” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                 “O estrangeiro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.         
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                                                            “Menina e pássaro” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                     “Duas casinhas numa ilha” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                             “Os sete gatinhos” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.
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                                                                         “Floresta” de Katia Canton. Foto: Khadijah Calil.

 

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Festival celebra os três anos de existência com homenagem ao pensamento de Frantz Fanon e a imaginação radical da cultura periférica
por
Marcela Rocha
Jalile Elias
Isabelle Maieru
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25/11/2025 - 12h

Reconhecido como um dos principais espaços da cultura periférica em São Paulo, o Museu das Favelas completa três anos de atividades no mês de novembro. Para comemorar, a instituição elaborou uma programação especial gratuita que combina memória, arte periférica e reflexão crítica.

Segundo o governo do Estado, o Museu das Favelas já recebeu mais de 100 mil visitantes desde sua fundação em 2022. Localizado no Pátio do Colégio, a abertura da agenda de aniversário ocorre nesta terça-feira (25) com a mostra “ImaginaÇÃO Radical: 100 anos de Frantz Fanon”, dedicada ao médico e filósofo político martinicano.

Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Fachada do Museu das Favelas. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Autor de “Os condenados da terra” e “Pele negra, máscaras brancas”, Fanon contribuiu para a análise dos efeitos psicológicos do colonialismo, considerando algumas abordagens da psiquiatria e psicologia ineficazes para o tratamento de pessoas racializadas. A exposição em sua homenagem ficará em cartaz até 24 de maio de 2026.

Ainda nos dias 25 e 26 deste mês, o festival oferecerá o ciclo “Papo Reto” com debates entre intelectuais francófonos e brasileiros, em parceria com o Instituto Francês e a Festa Literária das Periferias (Flup). A programação continua no dia 27 com a visita "Abrindo Fluxos da Imaginação Radical”. 

Em 28 de novembro, o projeto “Baile tá On!” promove uma conversa com o artista JXNV$. Já no dia 29, será inaugurada a sala expositiva “Esperançar”, que apresenta arte e tecnologia como forma de mapear territórios periféricos.

O encerramento do festival será no dia 30 de novembro com a programação “Favela é Giro”, que ocupa o Largo Pátio do Colégio com DJs e performances culturais.

 

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“Todos ao mesmo tempo agora”! Em nova turnê nacional, comemorando o aniversário da banda, os membros originais se reuniram.
por
Maria Fernanda Müller
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21/06/2023 - 12h

No final de semana, dos dias 16 ao 18, a banda de rock Titãs realizou shows da nova turnê no Allianz Parque, em São Paulo. Para a celebração de 40 anos de história, sete dos oito integrantes originais se reuniram para fazer shows ao redor do Brasil. Essa é a primeira vez que ocorre um reencontro da banda em sua formação original desde a morte de Marcelo Fromer, guitarrista e um dos fundadores, em 2001. 

“Titãs Encontro” já percorreu diversas cidades do Brasil e traz novidades para as performances, como a inclusão de surpresas preparadas especialmente para os fãs. A banda entregou uma apresentação emocionante, repleta de sucessos que marcaram gerações e influenciaram o cenário musical brasileiro.

O retorno de Arnaldo Antunes, Nando Reis e Charles Gavin com a banda é um momento especial para os fãs mais antigos, que aguardaram ansiosamente para reviver a energia e a paixão dos Titãs ao vivo, pois em outros momentos, os três se distanciaram da banda. A turnê ainda é uma oportunidade para as novas gerações conhecerem de perto a música e o legado da banda, que continua a influenciar o cenário musical brasileiro e inspira artistas de todas as idades, com músicas como Epitáfio.

TRAJETÓRIA DA BANDA

Os Titãs foi formado por um grupo de amigos que estudavam no mesmo colégio. Sua estreia oficial aconteceu em 1982 no Sesc Pompéia, desde então, conquistaram seu espaço no cenário musical ao longo de décadas de carreira. Com uma combinação única de letras impactantes e mistura de estilos musicais, o grupo se destacou por sua adesão, engajamento social e influência duradoura na música nacional.

Inicialmente composta por Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Marcelo Fromer, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto e Tony Bellotto, o grupo de jovens músicos talentosos logo ganhou reconhecimento pela sua sonoridade inovadora.

O álbum de estreia, "Titãs" (1984), foi um marco na música brasileira, trazendo sucessos como "Sonífera Ilha" e "Go Back". A banda conquistou o público com sua energia e letras provocativas, abordando temas sociais e políticos a todo tempo. O sucesso se consolidou com o lançamento do álbum "Cabeça Dinossauro" (1986), considerado um dos melhores da banda, com clássicos como "Polícia" e "Bichos Escrotos".

 

Lançamento do álbum “Cabeça Dinossauro” (1986)

Nos anos seguintes, os Titãs tiveram uma habilidade única de se reinventar musicalmente. Exploraram diferentes estilos, mesclando rock, pop, punk e influências brasileiras em álbuns como "Õ Blésq Blom" (1989) e "Tudo ao Mesmo Tempo Agora" (1991). A banda continuou lançando sucessos como "Epitáfio" e "Enquanto Houver Sol", que se tornaram verdadeiros hinos do rock nacional.

 

Lançamento do álbum “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” (1991)

Após alguns anos de carreira, a banda passou por mudanças na formação, com a saída de alguns membros originais. No entanto, isso não a impediu de amadurecer musicalmente e produzir trabalhos de destaque. O álbum "Acústico MTV" (1997) foi um enorme sucesso, mostrando uma nova faceta dos Titãs em arranjos acústicos de suas músicas mais conhecidas.

Com mais de quatro décadas de carreira, os Titãs seguem na estrada, lançando novos trabalhos e se reinventando. Receberam diversos prêmios e reconhecimentos ao longo dos anos, incluindo o Grammy Latino e o Prêmio Multishow de Música Brasileira.

Os Titãs são uma verdadeira lenda do rock brasileiro, com uma carreira marcada por hits, experimentações sonoras e letras que transcendem gerações. Sua trajetória exemplifica a capacidade de se adaptar e evoluir, mantendo sua melodia e influência ao longo do tempo. Com um legado sólido, os Titãs continuam a inspirar e encantar fãs por todo o Brasil, consolidando-se como uma das maiores bandas da história da música brasileira.

Titãs na sua formação atual, composta por Branco Mello, Tony Bellotto e Sérgio Britto.

O SHOW

Com o Allianz Parque lotado, a música de abertura do show foi “Diversão” (1987), contando com uma entrada triunfal dos integrantes acompanhada pelos gritos de emoção da plateia. 

Seguindo o espetáculo, os Titãs cantaram músicas icônicas de sua carreira, como “Flores” e “Cegos do Castelo”. Além disso, outras músicas cantadas puderam ser reconhecidas por outros motivos, por exemplo, “Televisão” foi a abertura da série da Rede Globo “Tá no Ar” (2014).

Os fãs foram à loucura ao longo do show em vários momentos emocionantes. Branco Mello, um dos vocalistas, fez uma confissão: “Eu fiz uma cirurgia muito grande. Tirei um tumor da garganta”, revela ele. “Só que agora estou aqui vivo!”, celebra Branco.

A estética da performance também foi deslumbrante. Recursos visuais foram usados conforme a música, por exemplo, ao cantarem “Cabeça Dinossauro”, o telão exibiu pontos brancos soltos até se fundirem e virarem a capa do álbum. Ou, o desenho de uma mulher dançando ao som de “Comida”. 

 

Performance de “Cabeça Dinossauro” construção e resultado.

Performance visual durante “Comida”.

 

Os efeitos visuais também foram usados no intervalo para introduzir a segunda parte da apresentação. Um compilado de vídeos dos integrantes mais novos foi nostálgico para a maioria do público que os acompanha desde essa época. Foi um momento para reviver o passado e relembrar bons tempos.

Após o vídeo, os Titãs trouxeram uma nova proposta. Cadeiras foram colocadas no palco e eles declararam que aquela parte seria dedicada a suas músicas acústicas. A primeira foi o clássico “Epitáfio”, trazendo o discurso de aproveitar a vida como ela é. Nesse momento, quem foi responsável pelo show de luzes foi a plateia, formando um mar iluminado por suas lanternas. 

Arnaldo Antunes fez um discurso sobre o falecido Marcelo Fromer, “Eu to sentindo falta do Marcelo aqui com a gente.”, confessa ele. “Mas hoje a gente não quer lamentar, a gente veio celebrar a presença dele nas nossas vidas!”, finaliza. 

A convidada da noite foi apresentada inesperadamente após o discurso. Era ninguém menos que Alice Fromer, filha de Marcelo, que acompanharia os integrantes na próxima surpresa. Todos juntos homenagearam Rita Lee cantando sua canção “Ovelha Negra”. Os Titãs e Rita Lee são considerados até hoje como a personificação do rock paulista e nacional.

Depois de cantarem mais clássicos, os músicos se juntaram para agradecer em reverência a presença do público, mas não deixaram de fazer sua última homenagem especialmente para o Mês do Orgulho. Os membros surpreenderam seguraram a bandeira LGBTQIA+ para que todo mundo pudesse ver.

Deixaram o palco, mas não foi por muito tempo. Os fãs pediram bis com outras músicas icônicas que sentiram falta, e não deixariam a banda ir embora sem ouvir essas. Seus pedidos foram atendidos e os Titãs retornaram ao palco para finalizar de vez com “Õ Blesq Blom”, “Marvin” e “Sonífera Ilha”. 

O evento organizado pela Bonus Track contou com 150 mil pessoas nos três dias de show. Titãs fez história novamente trazendo seus diversos estilos musicais, críticas sociais e políticas em suas várias faces. 

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Profissionais consultados pela Agemt apontam suas preferências; opções se multiplicam e ganham destaque no streaming
por
Helena Cardoso
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20/06/2023 - 12h

As séries fictícias ou documentais – de conteúdo esportivo – são muito presentes nos catálogos das plataformas de streaming. Com um grande público, algumas até têm relação com a popularização e diversificação do esporte, como “Drive to Survive” fez com a Fórmula 1, por exemplo. Para todos os gostos, e dos mais diferentes esportes, elas vêm fazendo sucesso com o público.  

Em busca de sugestões, a AGEMT perguntou a cinco jornalistas quais são as suas séries esportivas prediletas. Veja abaixo as indicações. 

MARIANA SPINELLI 

A apresentadora e repórter mineira da ESPN indicou a série “Bem-vindos ao Wrexham”, disponível no Star+. “O Ryan Reynolds compra um time de verdade, da quinta divisão do campeonato inglês que está tentando subir para as divisões seguintes”, conta Spinelli.   

bemvindoaowrexham

O Wrexham AFC, do norte do País de Gales, é o terceiro clube de futebol profissional mais antigo do mundo, e em 2020 passou a ser comandado pelos atores Ryan Reynolds e Rob McElhenney – que atuaram nos filmes Deadpool e It's Always Sunny in Philadelphia, respectivamente.   

Os Red Dragons passaram por sérios problemas financeiros, o que os levou para a 5ª divisão do campeonato inglês. E os torcedores, fanáticos pelo clube, arrecadaram dinheiro e lutaram contra obstáculos para manter a história viva. Até que Rob e Ryan, que nunca tinham trabalhado juntos e não tinham experiência prévia com futebol, se juntaram para liderar o time, e é esse processo que é mostrado pela produção.    

Para a jornalista, a série documental “conta a realidade por trás do futebol”, além de ser uma fonte de entretenimento.  

A série fez sucesso e foi renovada para a segunda temporada, após o time subir para a EFL League Two, quarta divisão do futebol inglês. O acesso veio pelo título, conquistado após uma virada sobre o Boreham Wood, em casa, por 3 a 1, com uma rodada para o final do campeonato.  

CELSO UNZELTE 

O jornalista da ESPN e professor da Faculdade Cásper Líbero falou sobre “The English Game”, disponível na Netflix. “A série mostra todo o contexto da época fora de campo, tornando-se interessante mesmo pra quem não gosta de futebol, como a minha mulher – o que possibilitou que assistíssemos juntos”, diz o comentarista. 

the english game

“The English Game” trata dos primeiros tempos do futebol, especificamente da disputa das primeiras Copas da Inglaterra – a competição mais antiga do mundo, disputada desde 1871 – mas não fala só do esporte, uma vez que também mostra os conflitos entre a elite e a classe operária da época.   

Em seis episódios, além de mostrar o futebol, a série retrata a luta de classes na Inglaterra durante o século 19, com os dramas cotidianos das personagens, mesclando a ficção com a realidade da época. O criador da produção também é responsável por “Downtown Abbey”, série de drama inglesa que se passa no século XX.   

RAFAELLE SERAPHIM

A comentarista de futebol nas transmissões de jogos do Sportv e do Premiere indica a série “The Playbook: Estratégias para vencer”, disponível na Netflix. Com cinco episódios, cada um sobre um treinador diferente – em diferentes esportes – Doc Rivers, Jill Ellis, José Mourinho, Patrick Mouratoglou e Dawn Staley contam um pouco das suas estratégias pessoais para ter sucesso nos esportes e na vida.  

the playbook

“É uma série muito interessante porque traz algumas modalidades e como grandes campeões são no dia a dia. Fala da rotina, dos treinamentos e das competições.”, afirma Seraphim. Doc Rivers, técnico da NBA, campeão com o Boston Celtics, é o personagem do primeiro episódio; Jill Ellis é a técnica responsável por dois títulos de Copa do Mundo da Seleção de Futebol Feminino dos Estados Unidos; José Mourinho é um treinador de futebol multicampeão, que atualmente comanda a Roma; Patrick Mouratoglou foi o treinador da tenista Serena Williams durante dez anos e Dawn Staley é técnica de basquete e fala sobre a presença feminina em um ambiente dominado por homens. 

Com campeões no futebol, tênis e basquete, a série lançada em 2020 tem produção de LeBron James e Maverick Carter, e mostra reflexões dos treinadores dentro e fora da prática esportiva. Seraphim, que entrou no grupo fixo de comentaristas do Grupo Globo recentemente, continua: “The Playbook coloca a gente um pouco por dentro da mente de quem pensa na estratégia de um atleta multicampeão”. 

UBIRATAN LEAL

O comentarista de baseball e futebol da ESPN recomenda a série ‘Lucky!’, disponível no Star+. Nos oito episódios, é contada a história de Bernie Ecclestone, que, além de piloto, foi presidente e CEO da Formula One Management (FOM) e da Formula One Administration (FOA), que gerenciam a Fórmula 1. O produtor da série, Manish Pandey, também é o responsável por “Senna”, filme que conta a história do ídolo brasileiro de F1.  

LUCKY

 

“É espetacular para quem está começando a acompanhar a Fórmula 1 nos últimos anos conhecer a história da modalidade. Conta como o esporte se transformou de uma competição de carros feita por mecânicos e engenheiros apaixonados por isso, mas bem pouco profissional, em um monstro econômico e de popularidade.”, afirma o jornalista.  

A história de um dos chefões da Fórmula 1 é contada em primeira pessoa, a partir de depoimentos do próprio empresário e tem imagens de arquivo de corridas antigas. “Ele narra a trajetória dele no esporte, que é basicamente toda a história da categoria, porque ele esteve presente no primeiro Grande Prêmio da história da Fórmula 1, que aconteceu na Inglaterra em 1950”, contina Ubiratan. Além disso, a série também mostra as brigas políticas internas da Fórmula 1 e o passado de alguns pilotos.  

RAFAEL LOPES

“Sou fã de ‘O.J.: Made in America’. Gosto como o documentário é construído, como a carreira dele é mostrada, como o caso é abordado, mas, sobretudo, como ele serviu como gatilho para as questões raciais americanas dos anos 1980. É uma obra definitiva sobre o personagem, contada com muito cuidado e sem sensacionalismo.”, afirma o comentarista de automobilismo do Grupo Globo, Rafael Lopes. 

OJ

O documentário, – que tem a duração de uma série, com 7 horas e 47 minutos – está disponível no Star+ e é dividido em cinco partes. A produção, que ganhou um Oscar por melhor documentário em longa-metragem, narra a história do ex-jogador de futebol americano O.J. Simpson, acusado de assassinar sua ex-esposa, Nicole Brown Simpson, e um amigo dela, Ron Goldman.  

A trama, além de contar a ascensão e queda de um ídolo dos esportes americanos e um caso muito polêmico e importante, também fala sobre a justiça e o sistema criminal, racismo, poder, a mídia e outras questões sociais.  

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Três jovens falam das dificuldades e alegrias de quem ganha a vida com o canto
por
Giovanna Oliveira da Silva
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20/06/2023 - 12h

Todo início de carreira tem seus obstáculos, e ser cantor não é diferente. Sem muito investimento ou visibilidade, os cantores muitas vezes não têm o apoio dos pais, não sabem se estão na carreira certa ou se têm o dom de cantar. 

Gabriel Cascardo tem 24 anos, seu nome artístico é Bean, e está produzindo e cantando há quase dez anos. Seu estilo musical está em processo, mas neste momento é trap. “No começo era por diversão, um trampo bem amador, até que fui me encontrando cada vez mais e, de uns cinco anos pra cá, a história vem se tornando cada vez mais profissional.” 

Renan Aranha, conhecido como Renife pelos fãs, tem 20 anos e está na carreira musical há quatro anos. Suas inspirações estão nos estilos musicais de R&B, pop e love song. Segundo ele, as horas de criação começam sempre com um gole de café. “Pego meu violão e crio uma melodia doce, depois planejo qual vai ser o tipo do som, e mando bala. Depois faço todo o instrumental no computador, canto por cima, faço todas as vozes e faço as edições finais”.  

Sidónia Pacule canta desde os 15 anos, mas profissionalmente há três. Seu estilo de música tem como foco a religiosidade. "Achei meu estilo musical ouvindo o coração de Deus, ele me curou da orfandade que eu carregava e Ele me deu autoridade para curar outras pessoas. O que começou em mim não vai terminar em mim." 

Os objetivos dos cantores iniciantes são vários, mas o principal é viver da sua música e que ela seja ouvida por todos. “Objetivo que minha música seja ouvida por todos, e que meus sentimentos cheguem para aqueles que querem ouvir”, relata Aranha. “Alcançar mais almas e para alcançar tenho gravado novas canções e trabalhado na divulgação”, diz Pacule. "O meu maior objetivo é que eu consiga ganhar a vida fazendo com que a minha música cause nos outros o que a música dos outros causou em mim”, conta Cascardo. 

O início de carreira tem suas dificuldades. “Minhas dificuldades são alguns bloqueios criativos que acabo tendo de vez em quando e quando entro nesse buraco é difícil sair”, diz Gabriel. Para Renan: “ter pouca visibilidade, pouca grana para investir”. Já para Sidónia: "a dificuldade é entrar no estúdio e gravar". 

Para a divulgação de suas músicas, os cantores usam métodos diferentes para conseguir aumentar os números de seus fãs. Renife tenta "chamar a atenção com a capa da música ou jogando um jogo de suspense por trás de alguma prévia” e depois fazendo “uma corrente de divulgação". Com Sidónia Pacule, as divulgações acontecem "através das redes sociais e das plataformas digitais como YouTube, Deezer e Spotify".  

Neste departamento, Bean tem um processo diferente, dividido em algumas partes. A prévia alimenta a curiosidade do público com uma nova música, depois o lançamento e no final o pós-lançamento são os resultados realizados pelas partes anteriores. "É um processo um tanto quanto complexo que não tem uma fórmula exata e é aí que entra grande parte da criatividade para inovar e trazer algo que surpreenda o público", diz o cantor. 

Bruno Zanardi tem 30 anos e é produtor musical há 15. Os estilos de músicas que mais produz são pop, sertanejo, funk pop, entre outros. Ele costuma trabalhar com cantores com faixa etária de 18 a 30 anos. Em sua maioria, "os cantores me procuram com o projeto em mente", conta Zanardi. 

O processo de produzir uma música acontece por cinco fases: composição (letra e melodia), arranjo, gravação dos instrumentos, gravação vocal e finalização (mixagem e masterização). 

"Normalmente um cantor iniciante tem diversos vícios musicais até por não ter experiência em estúdio. Meu trabalho é lapidá-lo para que performe da melhor maneira possível", relata o produtor.  

É importante ressaltar que muitos artistas não têm um produtor ou agente. "Não tenho nenhum agente ou produtor, meu trampo é e sempre foi 100% independente! Acho legal reforçar esse ponto porque hoje em dia, com o aumento das agregadoras digitais, qualquer um consegue ser independente e eu acho isso f***!", afirma Cascardo. 

Os cantores são abordados de diferentes maneiras para se fazer shows. "Geralmente com um convite normal, até agora só fiz um de qualquer forma", diz Renife. Sidónia Pacule, por sua vez, recebe os convites "através das minhas redes sociais e WhatsApp". Para Bean, tem duas possibilidades: "uma delas é ter uma pessoa encarregada de vender nossos shows para casas, festas, eventos etc", a outra "é que às vezes nós mesmos nos interessamos por algum lugar e buscamos contato com o dono do espaço ou organizador do evento para vender nosso show". 

Quando são reconhecidos, o sentimento é satisfatório, pois suas músicas estão sendo ouvidas e apreciadas. "Eu fico muito feliz, acontece raramente, mas aconteceu já umas dez vezes, é sempre algo muito bom e me deixa muito feliz", diz Renan. "É incrível ser reconhecido, pois cada reconhecimento é um poder de Deus alcançando vidas. Então, ao me reconhecer, está reconhecendo a obra de Deus", afirma Sidónia. "A sensação de ser reconhecido em algum lugar é algo muito gratificante. É ali que vejo que todo o trabalho teve a sua recompensa. Só tenho de agradecer a todos que ouvem minhas músicas e gostam do meu trabalho. Esse é o maior incentivo que eu tenho para continuar", relata Gabriel. 

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A vida, o livro e a morte da maior roqueira do Brasil
por
Fabiana Caminha
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20/06/2023 - 12h

 

Às 11 da manhã do dia 10 de maio o planetário do parque Ibirapuera estava lotado. Mesmo com a ameaça da chuva, cercade 6 mil pessoas compareceram para prestigiar a rainha do rock em seu velório.  A Santa Rita de Sampa foi a primeira pessoa a ser velada no local. Sobre o caixão fechado,  uma imagem estática das estrelas no dia em que ela nasceu.

Espera-se que qualquer tipo de ritual fúnebre seja triste e doloroso. Mas assim como quase tudo na vida de Rita, sua despedida não foi nada tradicional. Ali estavam presentes pessoas de todos os tipos. Jovens e idosos, homens e mulheres, brancos e pretos. Além do cosplay do Elvis Presley. E todos cantavam. Seus fãs transformaram a sua despedida em uma verdadeira festa em homenagem à cantora. 

Fãs da cantora no velório
Na fila, fãs exibem discos da cantora. Foto autoral

 

Rita não queria um funeral com flores. No entanto, o carinho das pessoas não permitiu que seu desejo se concretizasse. O corredor de entrada do Planetário estava abarrotado de coroas exibindo mensagens convencionais. Em frente ao caixão, rosas avulsas e buquês foram deixados.

Na saída, um grupo de fãs que cantava incansavelmente foi parado por um repórter para que fizessem uma entrada ao vivo.  Eles se reúnem em frente ao Planetário para cantar mais uma música de Rita, desta vez em TV aberta. Sem nenhum ensaio prévio, cerca de 20 pessoas entoaram “Saúde” em frente às câmeras. A canção ficou ainda mais impactante com a junção de diferentes timbres. Alguns afinados e maioria lindamente fora do tom.

 

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

Na transmissão, é possível ver as lágrimas surgindo na medida em que se aproximam do final do refrão. Na letra,  Rita diz que enquanto estiver  “viva e cheia de graça, talvez ainda faça um monte de gente feliz.” Imediatamente após o final da gravação o grupo se dissipa. A maioria está chorando.

Seu legado atravessou gerações e fez parte da história de muita gente. Sônia, de 61 anos, acompanha a trajetória da cantora desde o começo e se orgulha por ter ido em diversos shows da artista. No velório, ela usa uma camiseta estampada com o rosto de Rita Lee e canta mais alto do que qualquer um. “É lindo ver que ela consegue unir as pessoas mesmo depois de morta. É difícil alguém conseguir fazer isso, acho que ela mudou a vida de muita gente” 

 

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

 

 

Essa proximidade que Rita criou com seus fãs não se dá somente pela personalidade marcante da cantora ou por suas músicas freneticamente reproduzidas. Rita Lee compartilhou grande parte da vida através de sua biografia. Desde a infância na Vila Mariana aos becks divididos com Tim Maia, do começo de sua carreira à aposentadoria. Esse livro, “Rita Lee: uma autobiografia", foi o mais vendido da categoria em 2016. 

 

Em 2021, ainda durante a pandemia, Rita decide relatar uma nova fase da vida, a descoberta do câncer de pulmão. Reclusa em seu sítio no interior de São Paulo, a cantora descreve a nova rotina sob os cuidados intensivos da família e das enfermeiras no combate à doença. 

O jornalista Guilherme Samora, editor das duas autobiografias e amigo pessoal de Rita Lee, explica o processo de criação do novo livro. “Ela não gostava de escrever sob a pressão do livro ser publicado, com a primeira autobiografia foi a mesma coisa. Então ela me falou que estava escrevendo mas que seria só pra mim. Eu ia ser o único que poderia ler. Mas quando eu li, eu achei tão lindo, tão forte, que convenci ela a publicar essa outra autobiografia.”

Samora também é voz ativa nos dois livros da cantora, Ele aparece como o personagem Phantom, criado por Rita, para adicionar informações e observações importantes que a autora deixa escapar. Segundo ela, Guilherme sabe mais sobre sua vida do que ela própria. “Da minha vida eu esqueço tudo, mas eu não esqueço nada sobre ela” ele explica em entrevista.

Guilherme conheceu Rita como fã ainda criança, por influência de seus pais. Ao longo da vida, manteve proximidade com a cantora e passou a trabalhar com ela em seu primeiro livro. Para o jornalista, esse livro se diferencia do segundo por mostrar diferentes versões da artista. “No primeiro, ela conta história das maluquices dela, da fama, da carreira. É uma Rita incomparável e inatingível, empoderada. Nesse último livro ela mostra suas fragilidades, suas incertezas e dores. Ela se mostra mais humana.”

Fãs da cantora no velório
Coral de fãs em frente ao planetário. Foto autoral.

O livro ficou pronto no começo de 2023, mas de acordo com a vontade da cantora, seria lançado no dia 22 de maio, dia de Santa Rita de Cássia, e dia do novo aniversário de Rita Lee. Novo porque a cantora nasceu no dia 31 de dezembro, mas odiava ter que dividir essa data com o “cara mais famoso do mundo", Jesus Cristo, como conta em suas duas biografias.  Por isso, Rita decidiu que 22 de maio tinha mais a cara dela e passou a comemorar seu aniversário todos os anos nessa nova data. Nesse ano de 2023, Rita partiu 15 dias antes de poder comemorar seus 75 anos da maneira que queria, e antes de poder presenciar o lançamento de seu último ato.

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Os caminhos da produção literária e seus principais aspectos, segundo as professoras Ieda Magri e Luciene Azevedo
por
Beatriz C. Porto
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20/06/2023 - 12h

Contemporâneo significa “que ou quem é do mesmo tempo ou da mesma época”, de acordo com o Dicionário Priberam de língua portuguesa. Quando falamos em literatura, o período contemporâneo conta com produções datadas do final do século 20 até metade do século 21. Do Trovadorismo ao Modernismo, as peculiaridades de cada momento da história literária já podem ser definidas, mas o que hoje chamamos de literatura contemporânea, bem como suas principais formas, ainda está sendo desvendado pelos estudiosos.

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Reprodução site: Jornal Rascunho

Ieda Magri, além de autora no cenário contemporâneo, é doutora em Literatura Brasileira pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professora de Teoria da Literatura na Universidade Estadual do Rio de Janeiro. Sua pesquisa atual diz respeito à inserção da literatura brasileira e latino-americana no cenário contemporâneo.

A professora Luciene Almeida de Azevedo leciona teoria literária na Universidade Federal da Bahia e sua pesquisa aborda as “formas contemporâneas do romance, autoficção e o campo literário”. Acerca desse contexto literário, Ieda e Luciene compartilham suas percepções sobre o assunto em entrevistas individuais.

Para Ieda, hoje a produção literária pode ser classificada em diferentes linhas de força. “A literatura que está interessada no modo de fazer e na discussão das possibilidades da literatura em conversa com os escritores que vieram antes”, aponta como uma das características. O rompimento entre gêneros também seria outra particularidade de nossa época. Segundo Luciene: “Há uma tolerância e uma exploração maior do hibridismo na forma de composição das obras. Muitas narrativas assumem uma dicção ensaística, flertam com a anotação diarística, incorporam documentos dentro das próprias obras”. Em concordância, Ieda cita como exemplo livros de Paloma Vidal que, segundo ela, “ficam entre o ensaio e o poema, entre o ensaio e o romance”.

Em sua fala, Ieda aponta para a crescente representação de identidades pouco retratadas até então, com narrativas que “trazem à tona um mundo pouco glamouroso, interiorano, roceiro” e cita como exemplo o livro Torto Arado, de Itamar Vieira Junior, que ganhou destaque no meio literário justamente por sua narrativa que trata de questões sociais.

“Há também uma poesia que beira a oralidade e a denúncia da violência contra mulher. Há escritores com projetos literários bem delineados e investindo forte numa linguagem nada simplificada, quase barroca. Tem uma literatura que investe no humor escrachado. Há vários escritores tentando entender o Brasil atual e há também um coro que parece vir de todas as partes do país, descentrando um pouco a produção”, indicou Ieda como outros atributos da literatura do século 21.

Já para Luciene, há uma tendência mais forte para a não ficção. Para ela, existe “um flerte de muitas obras com a tensão entre a imaginação e o relato em si”. “Essa exploração do não ficcional está relacionada à emergência de outras vozes”, ela afirma. 

Ainda que cada momento da literatura tenha suas características, ambas as entrevistadas concordaram que o realismo é uma particularidade de nossa literatura que atravessa o tempo e se mantém presente ainda hoje. “Nosso sistema literário se reconhece em um tipo de literatura-verdade. Isso continua hoje com o investimento de muitas obras em discussões das pautas políticas e sociais”, comenta Luciene.

Assim como o Romantismo tem José de Alencar e o Realismo, Machado de Assis, cada período da literatura conta com seus representantes. Por mais arriscado que seja identificar representantes de um tempo que ainda está em curso, Ieda Magri e Luciene de Azevedo elencam uma série de autores cujas obras podem ser consideradas as principais das últimas três décadas. Entre os escritores citados por cada uma, nomes como Bernardo Carvalho, Carlito Azevedo, Luiz Ruffato, Marília Garcia e Verônica Stigger aparecem em comum em suas listas.  

Ieda compartilhou trechos de seu artigo ainda inédito sobre a relação da literatura brasileira com o exterior. No artigo ela reflete sobre os motivos da baixa divulgação internacional da produção editorial do país. Ela aponta a linguagem como um dos motivos. “Acho que o pouco interesse na literatura brasileira em termos de mercado passa pelo pouco prestígio da língua portuguesa… o Brasil busca ainda uma linguagem própria para a inserção em outros mercados”, comenta. Em sequência, completa: “Essa linguagem-Brasil não passa mais por uma questão identitária, os escritores não precisam mais pensar sobre a natureza do país ou de sua língua, o que é libertador e talvez seja possível hoje por causa de nossa história pregressa”. Para Ieda não é possível pensar em apenas uma única linguagem de literatura nacional e fica claro que na circulação da literatura brasileira na Europa esse não é o caso. “Circula tanto uma literatura mais cosmopolita, ou mesmo com a literatura moderna europeia, quanto a mais localizada territorialmente, a que joga com o Brasil-fetiche (o do carnaval, da beleza natural, da bossa-nova ou do futebol) ou com o Brasil-problema (o da miséria, das favelas, da violência urbana). Nesse sentido há muitos brasis e há várias linguagens Brasil, uma literatura muito diversa em temas e em formas.”

A respeito das perspectivas para o futuro da literatura brasileira, Ieda diz que tudo é possível, mas que falta “investimento institucional na internacionalização de nossa literatura”. Em seu artigo, ela também aborda essa questão e escreve: “A circulação de Clarice Lispector ou de livros mais pontuais como Torto arado, de Itamar Vieira Junior ou, antes, Barba ensopada de sangue, de Daniel Galera, vão sedimentando essas linguagens Brasil: dizendo o que é a literatura brasileira hoje”.

 

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