Desde 2014, o programa culinário Masterchef vem fazendo sucesso entre chefs profissionais e quem nunca pisou na cozinha de algum restaurante. Depois de muita audiência em outros países, chegou ao Brasil na TV aberta revolucionando esse segmento, um tanto quanto novo. Foram criadas várias modalidades dentro do reality, como a de amadores, profissionais, crianças e, mais recentemente, pessoas da terceira idade.
Jurados do Masterchef de 2022- Foto: Carlos Reinis/Band
Todas as temporadas mostraram cozinheiros com o sonho de abrir restaurantes ou trabalhar em um estabelecimento renomado, como os jurados do programa, Eric Jaquin, Henrique Fogaça, Helena Rizzo e, nas primeiras edições, Paola Carosella. Foi o que aconteceu com Rodrigo Einsfeld, que participou da temporada dos profissionais, em 2016.
O chef diz que sempre quis abrir um restaurante e hoje possui o famoso Handz, com uma sede na Casa Verde e a outra no Itaim Bibi. “Entrei no programa para ganhar, mas as pessoas que conheci, as ajudas dos chefs e o entorno me ajudaram a sair muito mais vencedor do que um título do programa. Realizei meu sonho de ter meu restaurante e é por isso que tenho um carinho pelo programa”, diz Rodrigo.
Ele destaca a importância do programa para a abertura de novos estabelecimentos. “Começar um restaurante do zero exige muito, mas, quando você tem um ‘empurrãozinho’ como é o programa, várias etapas são puladas e você já tem tanto a vivência nas provas como ajudas em conversas com os jurados e contato com eles no pós-reality.”
Quando questionado sobre o assédio de fãs nos restaurantes, o chef responde: “É bem tranquilo. Claro que tem uma pessoa ou outra que quer tirar foto e conversar sobre o programa ou até pedir ajuda sobre a cozinha, mas eu gosto de receber esse reconhecimento e principalmente o feedback sobre as comidas do Handz. No final o que vale é a troca, tanto pra ajudar a pessoa que gosta de mim, quanto pra eu evoluir meu restaurante”.
Rodrigo dá algumas dicas para quem só vê o programa e não se arrisca na cozinha. “O pessoal tem que se levantar e ir para o fogão. Sou suspeito para falar, mas acho que todo mundo vai se apaixonar.”
A influência chega até os telespectadores. Muitos começam a cozinhar por fazer parte da audiência. João, estudante de economia, diz que na pandemia começou a cozinhar após ver um episódio de Masterchef. “Nunca tinha assistido no nível de prestar atenção e muito menos eu cozinhava. Porém, comecei igual a todo mundo, fiz alguns pães e fui deixando meu cardápio mais completo, me inspirando um pouco no programa.”
O estudante afirma não querer ser profissional, mas diz ter se encontrado na atividade “‘É só um novo hobby que me ajuda a acalmar e a fazer coisas boas para a minha família nos dias de comemorações. É como uma terapia para mim.”
É possível notar que o programa mudou a vida tanto de pessoas que tiveram a oportunidade de participar do programa, quanto de telespectadores que foram influenciados a começarem a cozinhar, seja o motivo que for. Então a influência do reality é enorme, ainda mais passando na TV aberta como de costume, podendo mudar a vida de algumas pessoas.
Na primeira segunda de maio de cada ano é realizado o evento de moda mais importante do mundo, o Met Gala. Com a participação dos mais famosos estilistas, celebridades e jornalistas, a noite de muito glamour e tapetes vermelhos conta com uma trajetória de mais de 75 anos de cultura, momentos marcantes na história e uma grande operação de bastidores. “A cada ano o Met Gala muda a forma de pensar e de criar na indústria do ano., O evento dita novidades, padrões e estéticas, sendo um padrão de alta qualidade e luxo para quem produz na nossa área”, explica a stylist Juliemili Amaral.
O The Met é organizado por Anna Wintour, diretora-chefe da Vogue americana, desde 1995 no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. O objetivo do evento é arrecadar fundos para o Costume Institute, museu focado em moda e figurinos. A primeira edição ocorreu em 1948, organizado pela publicitária de moda Eleanor Lambert, em um jantar de luxo à meia-noite. Logo, o evento foi se tornando a grande festa do ano no mundo da moda.
Segundo Juliemili, além de arrecadar fundos para a moda, o Met Gala surgiu com o objetivo de valorizar e proporcionar uma maior visibilidade aos estilistas em ascensão, homenageando os maiores talentos de cada geração.
Durante a década de 1970, o Met Gala foi popularizado pela ex-editora-chefe da Vogue, Diana Vreeland, que procurou trazer a cada ano um tema diferente para celebrar a noite de gala e simbolizar um momento importante da moda. Foi somente com Anna Wintour que a data escolhida passou a ser a primeira segunda-feira de maio, eternizando o dia como o mais importante da moda internacional. Para participar do Met Gala é necessário ser convidado pela própria Anna Wintour e ainda pagar um valor que será levantado para o fundo de doação.Segundo o The New York Times, o ingresso custa cerca de R$ 249 mil, com mesas a partir de quase R$ 1,.5 milhão. Para 2023, cerca de 400 pessoas foram escolhidas diretamente por Wintour.
O documentário “The First Monday in May”, lançado em 2016 e dirigido por Andrew Rossi, mostra os bastidores do Met Gala, acompanhando desde o início do projeto na redação da Vogue americana até a grande primeira segunda-feira de maio. Com diversas entrevistas com produtores do Met, convidados, estilistas e depoimentos de Anna Wintour, a obra procura detalhar como se move a indústria da moda e seu evento mais importante.
Em 75 anos de existência, momentos históricos marcaram o Met Gala e foram emblemáticos na moda. Entre eles, a primeira aparição da Princesa Diana, em 1996, com um clássico vestido Dior; a cantora Rihanna, em 2017, com um vestido de mais de 25 quilos que levou mais de dois anos para ser confeccionado; a cantora e atriz Cher, em 1974, usando um vestido transparente e de brilhos da marca Bob Mackie que viria a se tornar referência e inspiração para as próximas edições.
Para Juliemili, um momento muito aguardado todos os anos é a presença da atriz Blake Lively, que utiliza grandes e volumosos vestidos, sempre de importantes grifes e chocando a todos com a perfeição e adequação a cada tema. Em 2022, quando a temática do evento era “Era Dourada no Século 19 nos Estados Unidos”, a peça trazia detalhes em pedrarias e cores como laranja e cobre. Desmontado, o vestido se transformava em um look quase todo azul, fazendo referência ao processo de envelhecimento do metal da Estátua da Liberdade.
O Met Gala procura abordar temas que instiguem a história cultural, social, política e econômica de alguma época mundial, para que os estilistas possam criar suas artes a partir de um viés mais embasado e traduzir por meio da moda uma abordagem crítica das questões do mundo. O evento é mais que um tapete vermelho repleto de celebridades e sim uma reflexão de como a moda também está inserida na política e na sociedade, gerando um real questionamento sobre uma coleção de roupas.
“O Met Gala se tornou unanimidade quando se fala sobre eventos de moda que extrapolam a bolha fashion. A presença de celebridades vestindo looks exclusivos de grandes grifes e a veiculação do evento nas redes sociais e na TV tornam a proporção do The Met maior a cada ano. As novas gerações vêm se interessando pela história e pelo significado do evento cada vez mais e posso afirmar que as plataformas digitais, como o TikTok, ajudam a alcançar mais pessoas que ainda não conhecem sobre o evento”, diz Juliemili.
As séries de televisão sempre tiveram influência na sociedade, especialmente na cultura e como ela afeta diversos aspectos da vida das pessoas que consomem este tipo de conteúdo. A produção criativa de um programa de televisão é extremamente complexa, envolvendo figurinos, estética e maquiagem, por exemplo.
Em diferentes épocas, diferentes séries ganham popularidade e acabam se tornando o centro das atenções, fazendo com que pessoas se sintam inspiradas e acabem adotando suas características como parte do seu estilo de vida. “Creio que tudo seja muito relativo, mas séries hoje em dia, mesmo de época, tratam de assuntos muito atuais, e moda é comportamento”, afirma Mariana Totaro, diretora criativa das marcas Lorsa e Equívoco.
Mas esses aspectos acabam se transformando ao longo dos anos, além das particularidades de cada série, como por exemplo a condição financeira dos personagens ou o universo em que as tramas se passam.
Posters promocionais das séries Gossip Girl (2007) e Euphoria (2019)
Dois exemplos são as produções “Euphoria”, lançada em 2019 e que continuou sendo exibida no início dos anos 2020, e “Gossip Girl”, lançada em 2007. Logo inicialmente pode-se identificar que há uma grande diferença entre os anos em que as produções foram ao ar, mas, além disso, quais outros aspectos seriam relevantes para contrapor uma e outra? Oo enredo da série é extremamente importante para o desenvolvimento de caracterização dos personagens. “Gossip Girl” retrata um cenário de adolescentes e jovens adultos que fazem parte da elite de Manhattan, uma das áreas mais valorizadas de Nova York. O figurino da série é majoritariamente composto por roupas de grife e peças de luxo. Já “Euphoria” é marcada por personagens que podem ser considerados de classe média, cujos guarda-roupas são compostos por peças mais básicas e acessíveis.
Também é importante ressaltar os diferentes meios de reprodução que essas produções utilizaram. Épocas diferentes requerem meios de repercussão diferentes. Por uma série se passar no início dos anos 2000, as suas influências eram compartilhadas pelos meios de comunicação mais presentes na época, como blogs e sites. Já a outra, por se passar em meados dos anos 2020, se adaptou às redes sociais, Twitter, Instagram e TikTok.
Mariana Totaro e Ana Luiza Tira
É nítido como o público-alvo desses seriados, os jovens adultos e adolescentes, foi influenciado pelos estilos de vida apresentados para eles, mas como isso impacta a moda de uma maneira geral? Para responder a esta pergunta e apontar as principais diferenças entre as duas séries, a Agemt entrevistou Mariana Totaro e Ana Luiza Tira, pesquisadora de tendências da C&A, e elas comentaram como funcionam as tendências do momento e contaram como acompanharam todo esse processo de mudança de uma década para outra.
Em relação à adaptação às tendências e às diferenças entre os tempos, Ana Luiza afirmou: “Sem dúvida as mídias sociais mudaram tudo... É impressionante a força que elas têm hoje em dia. Em 2000 quem tinha o poder de influência eram as grandes marcas, revistas de moda, TV e normalmente celebridades. A partir dos anos 2010 a internet já começou a mudar muito isso”. Ela disse que, a partir dos anos 2020, primeiro pelo Instagram e depois pelo TikTok, surgiram os criadores de conteúdo, e qualquer pessoa pode influenciar outras. “Não necessariamente você precisa ser influencer ou famoso”, avaliou.
Cenários diferentes causam impactos diferentes, atualmente com o maior e mais fácil alcance do público. “Euphoria”, em geral, sofreu uma promoção de imagem bem maior, com looks mais acessíveis para o público, o que causa um impacto maior na produção de peças de roupa. “Gossip Girl”, por sua vez, apresenta itens luxuosos e de grife, mas não deixa de ter uma grande influência na indústria da moda.
Conteúdos sobre beleza são consumidos desde o início da internet. Antes era muito comum que blogs e revistas levantassem tendências, além de ensinar técnicas e indicarem produtos.
Atualmente, com o avanço de plataformas digitais, muitas pessoas começaram a produzir vídeos sobre a mesma temática, mas em lugares e com propostas diferentes.
No Brasil a maquiagem é muito consumida, e com o passar dos anos o país viu se multiplicarem os produtos e marcas nacionais no mercado. Segundo a ABF (Associação Brasileira de Franquias), entre janeiro e setembro de 2022 mercado de cosméticos é o que mais cresceu em média 13,5%, superando 2021 e estimando um faturamento de R$34,2 bilhões.
De acordo com a Abihpec (Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos), em 2022, o nicho de produtos de beleza cresceu em 13,2%.
A plataforma TikTok fez com que usuários de diversos lugares do mundo passassem a ser consumidores e produtores de conteúdo.
Esse é o caso da maquiadora profissional Samanta Fernandes e a influenciadora Emily Clementino. Em 2021 Samanta começou a postar seus vídeos no TikTok e hoje já conta com 25 mil seguidores. Emily, por sua vez, possui 27,7 mil na mesma rede.
Questionada como nasceu seu interesse pela maquiagem, Samanta responde: "Surgiu de uma decepção. Me maquiei com um maquiador ‘renomado’ e ele mudou completamente minha característica. Desde então comecei a fazer cursos de automaquiagem e me apaixonar, a ponto de me profissionalizar".
Já para Emily, a paixão começou na infância. "Sempre amei esse mundo de moda, maquiagem, estética. Desde pequena, com uns 5 anos, eu já me maquiava. Comecei a postar em minhas redes sociais somente fotos com minhas automaquiagens com 15 anos, sem interesse. Nunca imaginei que chegaria a gravar vídeos e trabalhar com isso. Foi algo bem inesperado, mas quando vi que as pessoas gostaram e que surgiam dúvidas sobre maquiagem, eu iniciei com os vídeos."
Muitas pessoas procuram usar produtos para ressaltar a beleza ou até mesmo para melhorar alguma insegurança. Um profissional no começo de carreira tem que conquistar clientes e garantir a satisfação. "Eu não achava que seria uma profissional, me divertia maquiando minhas amigas e as clientes vieram das minhas postagens", conta Samanta.
No meio das redes sociais, manter um público engajado e presente é uma das preocupações da figura pública. "Por mais simples que pareça, seja você, faça o básico bem-feito, mostre que além de qualquer coisa você é um ser humano comum. As pessoas não querem saber se você é rico ou não, elas querem ver um pouco delas em você. Nem que seja um pequeno detalhe da sua rotina", diz Emily.
É muito comum escutar o nome "blogueira", ainda mais se for utilizado de forma irônica e debochada. Influencers deixaram de lado o blog e se adaptaram a uma nova forma na internet. Porém, não depende só dos vídeos em si, mas também dos algoritmos e da entrega deles para os seguidores, já que cada um se identifica com o que gosta.
"Entender o algoritmo é algo muito complicado. Acredito que as pessoas se identificam com a forma com que cada pessoa aborda o assunto", diz Samanta.
Grandes nomes, como Mari Maria (51,4 milhões de seguidores), Niina Secrets (8,3 milhões), Mari Saad (6,6 milhões), Karen Bachini (5,5 milhões), Bianca Andrade (28,6 milhões), Bruna Tavares (7,5 milhões) e Franciny Ehlke (34,9 milhões), usaram a imagem que construíram com o passar dos anos para lançar suas próprias linhas de cosméticos.
Por mais antigo que seja o mundo da maquiagem, só agora as empresas focaram em itens para peles pretas. Muitos influenciadores pretos começaram a expor o descaso dessas marcas. Tássio Santos, do canal “Herdeira da Beleza” (911 mil seguidores), Camilla de Lucas (9,8 milhões) são alguns dos responsáveis por abordar essa questão.
"Quando iniciei, não era tão difícil, até porque não tinha tantas meninas com a estética semelhante à minha. Então me destaquei muito pela minha pele, cabelo e estilo. Hoje em dia tem muitas pessoas se arriscando como criador de conteúdo, o que ‘sobrecarrega’ a plataforma, fazendo com que tenha mais dificuldade de ‘viralizar’, relata Clementino.
Nesse meio é muito necessário assumir responsabilidades na hora de expor qualquer coisa. Questionadas sobre os compromissos que assumem divulgando conteúdo, as influenciadoras respondem: "Eu sempre presto muita atenção nisso, nos pequenos detalhes, nas falas, atitudes, coisas que talvez ninguém perceba. Ainda mais porque meu público é como eu, meninas que passaram por dificuldades na adolescência por conta da estética. Então a responsabilidade é minha de mostrar que não é assim, que não existe padrão de beleza, que a beleza está sim na diversidade", diz Clementino.
Fernandes, por sua vez, afirma: “Tento ensinar coisas básicas, pois é o que eu procurava quando queria me maquiar. Testo muitas vezes um produto antes de ’indicá-lo’.
Uma rotina de gravação e disponibilidade é associada ao trabalho dos influencers, mas Samanta diz que, com ela, não é bem assim. "Não tenho uma rotina, pois tenho muitas outras funções. Gravo quando consigo."
No entanto, para Emily, as coisas são um pouco diferentes. "Atualmente eu curso estética no período noturno, então acabo tendo bastante tempo para criar conteúdo. Meu trabalho é totalmente vinculado com as mídias sociais, fotografias, vídeos, tudo. O que me atrapalha um pouco é quando tenho tempo muito trabalho de um nicho específico, como por exemplo roupas. Se dou muito atenção para essa área, acabo não tendo tanto tempo para gravações de maquiagem."
A maquiagem, por si só, é uma forma de expressão. Vai muito além esconder as "imperfeições" ou mascarar inseguranças, tendo em vista que o Brasil é um dos países que mais realizam cirurgias plásticas.
Samanta aprecia o respeito durante a realização de seu trabalho, sem apagar características de suas clientes, como aconteceu com ela.
"Sim, eu prezo pelo embelezamento, maquiagem que não transforma e sim valoriza.”
A morte da cantora Rita Lee na primeira quinzena de maio, deixou o país de luto. Sua personalidade teve enorme importância na evolução do rock brasileiro, graças à sua liberdade e irreverência. O posto de “rainha do rock brasileiro” e “padroeira da liberdade” foi dedicado a Rita, resultado de sua personalidade moderna, criativa, revolucionária e transgressora que inspirou - e continua inspirando - milhares de pessoas.
Iniciando sua carreira com apenas 16 anos, na passagem dos anos 60, a cantora descendente de imigrantes americanos, participou de um trio de vocais femininos, batizado Teenage Singers . Não se identificou com a “caretice” do grupo e acabou saindo. Pouco tempo depois, ajudou a criar o inovador grupo “Os Mutantes”, no qual consagrou seu nome.
A onda extremamente criativa e experimental da banda foi interrompida pelo conturbado relacionamento de Rita com o então guitarrista e compositor Arnaldo Baptista. O fim de sua união coincidiu com o fim do grupo - uma perda imensurável para a cultura do Tropicalismo na esfera musical do Brasil.
Em 1979, a cantora encaminha cada vez mais sua carreira para o viés solo. Após a breve criação do grupo Tutti Frutti, que teve como destaque o álbum Fruto proibido, de 1975, que trouxe a faixa “Agora só falta você”, Rita iniciou a composição de muitos hits conhecidos, com uma pegada mais pop rock, junto com seu marido Roberto de Carvalho.
O mestre em composição musical pela City University of New York, Pedro Augusto Ramos, professor da Faculdade de Música e Conservatório Souza Lima afirma: “A Rita Lee foi muito mais do que uma roqueira. Claro, considerada a rainha do rock, pelo histórico, mas ela foi muito mais do que isso: para o século 20, similar ao que Chiquinha Gonzaga foi para o século 19. A música, querendo ou não, até hoje é um mundo mais masculino. dominado por homens, e a Rita foi além, foi uma pioneira no rock brasileiro, uma grande compositora: com composições que vão do rock, passando pela bossa nova, passando pelo pop e muitas baladas lentas.”
Somado ao seu legado musical, a cantora também deu o tom da chamada contracultura brasileira durante um longo período de tempo. Desafiando normas sociais impostas, defendendo a liberdade de expressão e dos direitos LGBTQIAP+, Rita inspirou milhares de fãs a se libertarem de paradigmas arcaicos sobre sexualidade, questão de gênero e feminismo. O professor exemplifica: “Eu acho que ela tem muito valor como mulher, sobrevivendo nesse mundo artístico - não só sobrevivendo mas tendo muito sucesso nesse meio - Ela era uma cantora, mas também tinha um pacote completo: sempre muito irreverente e leve. Em seus livros publicados e suas entrevistas podemos ver uma mulher muito ativa no papel de libertadora e modelo para muitas outras mulheres.”
Ao analisar as letras de suas músicas, fica evidente que Rita sabia da importância da igualdade de gênero, da luta por reconhecimento e da necessidade de quebra de tabus muitas vezes opressores às mulheres. Obras como “Ovelha Negra” e “Erva Venenosa” - hits nacionais, conhecidos no país inteiro - além de se destacarem pela qualidade musical, têm letras abarrotadas de mensagens de empoderamento feminino. Assim, além da conquista dos holofotes para seu próprio nome, Rita também escancarou portas para uma geração de artistas que viriam - entre elas, uma de suas pupilas do rock nacional, a cantora de rock baiana Pitty.
Nas suas redes sociais, no dia em que a morte de Rita foi anunciada pelos seus filhos, a cantora publicou: “Sou fruto do legado de Rita Lee”. Em outra ocasião, durante um de seus shows, ela exclamou para o público: “Como assim? Como você é baiana e roqueira? Eu falei: 'é o seguinte: sou filha da Rita Lee com o Raul Seixas. Os dois se encontraram um dia no plano astral. Eles não sabem, mas sou filha dos dois".
Desafiando estereótipos, chutando portas e abrindo caminhos, Rita Lee continua inspirando e ecoando pelos quatro cantos do Brasil. Seu legado e voz marcaram a história cultural e social do país. Sua coragem, rebeldia e autenticidade vão ser sempre suas características mais fortes, lembradas e celebradas pelos milhares de fãs. O entrevistado ainda finaliza com: “A Rita, eu acredito que está no panteão ali dos grandes compositores da música popular brasileira e também no campo do feminismo representou muito.”