Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
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27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

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Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

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A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
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Chiara Renata Abreu
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18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

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A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
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Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
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16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Tecnologia atrai novo público a museus, mas pode estimular relação superficial com obras
por
Yasmin Solon
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28/06/2023 - 12h

As chamadas exposições imersivas fazem parte da arte digital contemporânea. Sua proposta é trazer ao público uma experiência intensa em um ambiente multissensorial, que faz uso de recursos como projeções sincronizadas de vídeo, luzes, sons, trilhas sonoras e por vezes até essências olfativas. Entretanto, os debates sobre esta tendência dividem tanto o público quanto os críticos. Alguns acham que as exposições imersivas tornam a arte mais conhecida, outros temem que o real sentido das obras esteja sendo trocado por objetivos mercadológicos.

As exposições imersivas puderam trazer uma experiência única aos visitantes. Rafael Reisman, CEO da Blaist Entreteniment, foi fundador e curador de grandes projetos de sucesso no Brasil. Desde a primeira, Elvis Experience em 2012, até as recentes “Space Adventure”, “Beyond Van Gogh”, “Van Gogh 8K”, “Frida Kahlo” e “The Art of Bansky”.  

Reisman explicou em entrevista à AGEMT como esses eventos são montados: “As exposições, que geralmente ficam quatro meses em cada cidade selecionada, são complexas. Envolve toda uma curadoria cinematográfica e tecnológica de alta performance.” O empresário ainda disse que Beyond Van Gogh contou com mais de 70 projetores a laser de última geração, conectados a servidores de alto desempenho, sendo necessária “muita dedicação de um time grande”.  

Para o CEO, as exposições tiveram um grande alcance pelo “ineditismo”. “As pessoas se interessaram porque foi uma novidade completa aqui, é uma experiência completamente diferente de ir ao museu tradicional”, completou ele. As exposições tiveram grande alcance nas redes sociais, o que contribuiu muito para a divulgação dos projetos. Além de conquistar quem já era fã do artista em exposição, as redes sociais proporcionaram um conhecimento e um interesse de outras pessoas que até então poderiam nem saber sobre seus trabalhos. Reisman concordou em dizer que “as redes influenciaram completamente as exposições, sendo excelentes ferramentas de divulgação”.  

O público, que pode estar mais interessado em registrar o momento e postar, se sente influenciado a fazê-lo mesmo quando o artista em exposição critica fortemente a arte elitista, como Bansky, e o capitalismo, como Kahlo.  As empresas responsáveis pelos projetos veem uma boa opção para lucrar e então, cada vez mais, a programação dos museus inclui ambientesinstagramáveis, fazendo incluir pessoas que talvez, a princípio, não se interessam pelo que acontece na exposição, mas pelo ato de publicar que esteve presente.  

Mesmo assim, apesar da polêmica que pode ser interpretada como arte clássica e arte contemporânea, e agora também digital, existe um público ainda excluído do debate e das exposições. Apesar de as redes sociais propagarem os projetos, o preço dos ingressos é determinante para transformar a vontade em realização, e nesse tipo de exposição não há uma inclusão total.  

Reisman explicou que o preço elevado dos ingressos é justificado pelas altas tecnologias usadas, que ele qualifica como “caríssimas”. Mesmo assim, o CEO explicou que alguns projetos, como “Beyond Van Gogh”, que tem ingressos até R$ 90, tinham iniciativas para tornar a experiência mais acessível: “Às segundas, terças e quartas-feiras tinham ingressos a partir de R$ 35, não é tão caro. Obviamente, os horários e os dias mais concorridos refletiam em preços mais elevados, mas tentamos e conseguimos muito bem dar o acesso a todos. O empresário precisa lucrar e retornar os valores que os projetos demandam, a própria tecnologia é caríssima”.  

Controvérsias à parte, a nova modalidade merece ser visitada porque, assim como disse Reisman, “é cultura”, e as pessoas deveriam conhecer o que pode estar cada vez mais infiltrado no cotidiano moderno. 

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Ministro de Giorgia Meloni criou lei para aumentar ingressos de museus e chamou Dante Alighieri de 'fundador do pensamento de direita'
por
Felipe Abel Horowicz Pjevac
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24/06/2023 - 12h

A cultura faz parte da identidade de um país. Os aspectos culturais de qualquer nação ajudam a definir de fato quem ela é, e isso pode ser observado nas mais diversas faces do dia a dia vivido no local.

Ao falar de Itália, já surgem na mente os filmes com mafiosos e diálogos fortes, a tarantella e as comidas tradicionais. Voltando para o passado, são notórias as contribuições culturais advindas da civilização romana antiga, com obras faraônicas como o Coliseu ou a Torre de Pisa. É fato que a cultura ocidental em si vem em grande parte da península italiana, derivando de lá conceitos a respeito de religião (a exemplo do Vaticano), política, filosofia, arte e ciência.

A relação entre o governo e a cultura na Itália sempre foi feita de maneira muito forte, com o Estado bancando obras e produções culturais que elevaram o país ao patamar  de nação tão reconhecida nessa área. No entanto, após o trauma do fascismo, o assunto foi poucas vezes tocado nos anos seguintes.

Tancredi Moretti, italiano de 24 anos que trabalha como gerente-geral na Secretaria Municipal de Cultura de Milão, explica: “A Itália passou a sofrer um preconceito muito forte no continente europeu nos anos que seguiram a Segunda Guerra Mundial, e tudo o que era exportado daqui era recebido com estranheza pelos estrangeiros. Precisamos passar por um período de ‘desintoxicação cultural’, e foi bem difícil”.

Em 1974, o governo de Aldo Moro criou o 'Ministério dos Bens Culturais e do Meio Ambiente', encarregado das pastas culturais e educacionais, e esse ministério foi mudando de nome até se assumir como 'Ministério da Cultura' apenas em março de 2021.

“O nosso país sempre foi um exportador de cultura refinada, mas também tinha muito material bruto mal-aproveitado por aqui. Atores, diretores e ideias brilhantes não tinham recursos disponíveis para criar. O surgimento do ministério foi um grande ponto de partida para aqueles que vivem da cultura aqui na Itália”, continua Tancredi.

Recentemente, no entanto, o país europeu enfrentou uma crise econômica profunda que afetou esses investimentos e a atenção dada a essas pautas, influenciada pela ascensão do regime de extrema-direita de Giorgia Meloni no final de 2022.

“Sempre que penso no Brasil, lembro da Renata Bueno, a deputada brasileira que trouxe para cá o projeto Pró-Cultura importado do Brasil (referindo-se à Lei Rouanet) para incentivar auxílio privado a iniciativas culturais em troca de crédito tributário e eventuais isenções de impostos. Em 2015, época em que isso foi instituído, ouço falar que foi um grande alívio, mas hoje estamos sentindo na pele as restrições que Meloni tenta constantemente impor a esse projeto.”

O ministro da Cultura, Gennaro Sangiuliano, nomeado por Meloni, já deu diversas declarações polêmicas e duvidosas a respeito de sua pauta nos oito meses de cargo até agora, como dizer que o poeta Dante Alighieri, um dos escritores de todos os tempos, foi o "fundador do pensamento de direita”.

Além disso, Sangiuliano criticou logo ao assumir o cargo a entrada gratuita em museus italianos, e já instituiu um projeto de lei que aumenta obrigatoriamente o preço das entradas a museus em um euro para, segundo ele, 'auxiliar em um fundo de emergência'.   

 

A primeira-ministra italiana Giorgia Meloni e seu ministro da Cultura Gennaro Sangiuliano

 

A medida foi duramente criticada, pois, além de afastar muitos italianos desses espaços (uma pesquisa da ISTAT mostra que apenas 12% dos cidadãos italianos já frequentaram museus em 2023, uma redução de quase dez pontos percentuais em relação aos 21,7% de junho de 2022), gerou o fechamento de diversos museus até então gratuitos de pequeno e médio porte que não possuíam estrutura suficiente para começar a cobrar ingressos.

“Os últimos anos foram bem estremecedores para essa relação entre Estado e cultura por aqui. Eu mesmo sou da comuna de Portofino, onde foi produzido o lindo filme ‘Um Sonho de Primavera’, e nossa cidade tinha uma secretaria de Cultura, assim como a maioria das cidades italianas. Especialmente nos últimos dez anos, com a crise política e os cortes de verbas, sobraram só as secretarias maiores, como em Roma ou aqui em Turim, para trabalhar junto com o Ministério”, ressalta Tancredi.

O jovem acrescenta que pessoas mais velhas afirmam enxergar semelhanças entre o governo Meloni e o regime fascista em relação às questões culturais: “Há uma quantidade grande de integrantes do governo Meloni, não só aqueles relacionados à cultura, que em diversos momentos fazem declarações assustadoras ou cogitam um plano de governo muito mais radical nesse ponto”.

O antigo primeiro-ministro Silvio Berlusconi, por exemplo, já chegou a afirmar que “a Itália precisa ser cuidadosa e responsável, pois há certas portas que se forem abertas aos estrangeiros podem acabar com a identidade do país”. Essa supervalorização do produto italiano reprimindo aquilo que vem de fora foi uma das características marcantes da cultura no governo de Mussolini.

Tancredi finaliza relatando que não acredita em uma perspectiva de melhora no cenário a curto ou médio prazo: “Além da enorme crise econômica e dos embates políticos constantes interferindo, Giorgia conseguiu fazer o povo acreditar que a cultura é um ótimo lugar para se tirar dinheiro estatal e reinvesti-lo em outras áreas. Esse tipo de pensamento causa danos que não se consertam apenas com a troca de ministros ou chefes. No momento, uma maior ajuda da iniciativa privada pode ser muito bem-vinda. Durante a pandemia, a Itália não produziu quase nada, e é difícil retomar esse processo.

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Uso da ferramenta poderá contribuir para a preservação de patrimônios culturais na sociedade; infraestrutura é um dos desafios
por
Kawan Novais
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28/06/2023 - 12h

A alta capacidade em processamento de dados que os recursos de inteligência artificial (IA) oferecem, faz com que essa ferramenta impacte todos os setores da sociedade. Ainda que os holofotes sobre o tema estejam em torno da comunicação, devido à ascensão de fenômenos como o Chat GPT, chat de conversação com robôs, a IA vem sendo adotada de maneira decisiva em diversas outras áreas. Na esfera cultural, por exemplo, uma das utilizações mais proveitosas tem sido na preservação de patrimônio. 

A Organização das Nações Unidas para a Ciência e a Cultura (Unesco) define o patrimônio cultural material como um “valor universal excepional do ponto de vista histórico, estético, arqueo-lógico, científico, etnológico ou antropológico”, e assim, em cada patrimônio há uma revelação identitária de uma determinada população. Para o professor e empresário Alexandre Del Rey, cofundador da I2AI (International Association of Artificial Intelligence), esta importância dos patrimônios justifica a adoção da inteligência artificial como um dos recursos essenciais para a preservação. 

“A inteligência artificial é uma tecnologia que pode ser usada de uma maneira transversal, em todos os setores. Então, enquanto uma ferramenta, ela consegue apoiar de diversas formas, a exemplo de um atendimento melhor às pessoas que frequentam museus ou espaços públicos de arte onde se precisa de uma tutoria personalizada”, explica Del Rey, citando o exemplo da exposição “A Voz da Arte”, realizada em 2017 pela Pinacoteca de São Paulo em conjunto com a IBM. A mostra utilizada um sistema cognitivo de IA, chamado Watson, para “conversar” com o público sobre algumas obras exibidas.

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Pinacoteca de São Paulo. Foto: Sailko/Wikimedia Commons

Além da utilização dessa ferramenta na intermediação de interações entre a tecnologia e indivíduos e na mediação das criações humanas, a IA também oferecerá recursos para a manutenção de instituições e seus produtos, como no Projeto SIAP (Sistema de Inteligência Artificial para a detecção e alerta de riscos sobre o Patrimônio), realizado em 2019, em Portugal. “Quando se fala de preservação, algumas tecnologias ligadas à inteligência artificial, especialmente, as ligadas à aprendizagem de padrão, máquina e elementos de divisão computacional com que você consegue capturar padrões através de imagens permitem, por exemplo, ver se há algum tipo deterioração de uma arte ou identificar as obras que são de um mesmo período histórico”, comenta Del Rey. 

Segundo o empresário, serão benéficos os efeitos em relação ao potencial que a inteligência artificial apresenta para o gerenciamento e preservação de patrimônios culturais no setor acadêmico. Para ele, haverá uma facilidade maior no desenvolvimento de pesquisas, através de recursos como a comparação de textos e a possibilidade de identificar questões que, atualmente, ainda são incertas. “Acho que a IA poderá ajudar a mitigar e diminuir as incertezas do campo acadêmico, especialmente, da arqueologia, museologia e melhorar a parte dos arquivos e armazenagem de informação na biblioteconomia”, ele avalia. 

No entanto, ainda que Del Rey enxergue um grande potencial, ele também considera elementos que dificultam o desenvolvimento tecnológico, como a falta de investimentos em infraestrutura e de profissionais que apliquem seus conhecimentos em diferentes áreas 

Sobre o acesso limitado às ferramentas de inteligência artificial, Del Rey acredita que pode ser revertido com educação. “Acho que há alguns elementos, como a falta de conhecimento do que ela pode fazer e do que ela não pode fazer, então é através da educação para entender melhor sobre a IA e entender como ela funciona. Aqui no Brasil, há o problema de pessoas não terem acesso à Internet e quanto mais acesso, maior será o uso dessas ferramentas de inteligência artificial”, ele afirmou. Segundo dados do IBGE, em 2021, mais de 28 milhões de brasileiros com 10 anos de idade ou mais não tinham acesso à internet, sendo a falta de conhecimento sobre o uso o principal motivo. 

O empresário destaca o caráter transversal da inteligência artificial e afirma que cada profissional deverá se adaptar a essa ferramenta, visando a criação de novas possibilidades de uso. Del Rey ressalta as oportunidades existentes na área tecnológica. “Ao mesmo tempo, há algumas oportunidades. Essas tecnologias estão mais acessíveis, mais baratas de se usar. Hoje, a partir delas você consegue aprender muito mais rápido e com a globalização, mesmo sendo desenvolvida em outros países, a gente consegue acessar com a maior facilidade”, finaliza.

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Com transparência e sensibilidade, o diretor Gabriel Martins expõe os dilemas e vivências de uma família como tantas outras
por
Marina Jonas
|
28/06/2023 - 12h

“Liquidificador de sentimentos”. Essa é a expressão utilizada por Gabriel Martins para definir o que seu filme “Marte Um” quer transmitir. Lançado no ano passado, trata-se do primeiro longa-metragem solo do cineasta, que desde 2009 dirige e produz filmes com outros diretores de sua cidade, Contagem (MG). A narrativa conta a história dos Martins, uma família negra de classe média brasileira que mora na periferia de uma cidade grande e, que ao se deparar com a posse de um presidente de extrema-direita, enfrenta uma nova realidade repleta de tensões, que transparecem no seu dia a dia.  

 “Queria falar sobre sonhos, contradições, desejos e aflições de uma família negra de classe média brasileira”, diz por e-mail o diretor, roteirista e também produtor da obra. E, de fato, é isso que ele faz: de forma cômica e ao mesmo tempo emocionante, Gabriel narra a realidade de diversos brasileiros através do audiovisual, dando voz a pessoas que, muitas vezes, não são retratadas pela mídia – ou são retratadas de forma negativa – e têm suas histórias silenciadas.  

Para falar sobre as esperanças e frustrações dos Martins, o autor conta que queria passar por assuntos como futebol, sexualidade, trabalho, família e sociedade. E, para trazê-los, os retrata sob a perspectiva dos próprios personagens, que vivenciam dilemas e transformações. “Me inspirei em pessoas próximas, familiares, vizinhos, sujeitos que passaram por mim ao longo da minha vida e deixaram diversas impressões. Os personagens são combinações de várias pessoas diferentes e também de alguns traços da minha própria personalidade”, explica o diretor.  

No caso da mãe da história, Tércia, através das cenas de sua rotina dentro e fora da família, é possível ver com clareza os diversos desafios e batalhas que ela enfrenta tentando conciliar tudo o que deseja abraçar: trabalho, tarefas domésticas, filhos, marido e cuidados consigo mesma. A personagem materna estimula um novo olhar sobre a mulher da casa, aquela que é mãe, esposa e trabalhadora, tudo ao mesmo tempo, como disse a atriz intérprete do papel, Rejane Faria, na conversa do “Encontros de Cinema”, realizado no final de maio pelo Itaú Cultural.  

Além dessa, outras perspectivas são apresentadas, como a de Deivinho – filho mais novo que, ao diferentemente do pai, Wellington, que sonha que ele se torne jogador de futebol profissional, almeja virar astrofísico e participar da missão de colonização Marte Um. Tércia é empregada doméstica e Wellington, zelador de um prédio. No desenrolar da história, ambos passam por questões no trabalho e se encontram com dificuldades financeiras. Encarando a instabilidade de seus empregos, os pais veem nos filhos a esperança de um futuro melhor para a família, o que se pode observar também por Lina – filha mais velha –, a primeira Martins a fazer faculdade, uma universidade federal.  

Essas, entre outras temáticas abordadas no longa, estão ligadas à realidade de grande parte das famílias brasileiras e, por isso mesmo, a importância de representá-las nas produções audiovisuais, principalmente de forma clara e sensível, como faz Gabriel. “Talvez não tenha sido tão comum no cinema brasileiro termos dilemas de uma família negra em um projeto de ficção em longa-metragem, mas não considero o ‘Marte Um’ de nenhuma forma exatamente uma nova perspectiva, talvez apenas um filme de qualidades um pouco mais singulares do que historicamente nos habituamos a ver”, afirma o cineasta.  

Ele diz que seu compromisso com a narrativa construída é, acima de tudo, ser sincero e honesto com o mundo real, entendendo que existe uma gama gigante de personagens buscando seu lugar ao sol, mas frequentemente preteridos a algumas escolhas um pouco mais convencionais ou estereotipadas de representação. “A mídia tem um interesse financeiro que é anterior ao desejo de justiça e equilíbrio. Cabe ao campo da arte criar um contracampo a isso”, completa.  

 

 

 

 

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As adaptações dos games estão se tornando uma fonte inesgotável de inspiração para o universo do entretenimento
por
Pedro Paes
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28/06/2023 - 12h

O mundo do entretenimento passa por muitas mudanças ao longo dos anos. Já existiram diversas eras que dominaram as telas do cinema: o período dos filmes de faroeste, da adaptação dos livros, os filmes de super-heróis, e agora tudo aponta para que os filmes inspirados em games conquistem o coração dos amantes da cinematografia.  

Atualmente a indústria do entretenimento tem um grande “rei”, que são os filmes de heróis. Com o sucesso do formato da Marvel, representado por diversos longas, como “Vingadores: Ultimato”, “Capitão América: O Soldado Invernal” e “Pantera Negra”, vários outros atraíram multidões para o cinema. 

Porém, esse formato está saturado. O público espera um algo a mais desses filmes e isso não está sendo entregue aos telespectadores. Não é à toa que os últimos lançamentos dos filmes de heróis foram um fracasso de bilheteria, “Adão Negro”, “Shazam! A Fúria dos Deuses”, “Morbius” e “Homem-Formiga e Vespa: Quantumania”. Todas essas produções foram duramente criticadas pela mídia e pelo público. Isso acaba fazendo com que as pessoas percam cada vez mais interesse por esse gênero e isso está acontecendo no momento. 

É nesse ponto que entram os filmes e séries inspirados em jogos de videogame. Esse tipo de gênero nos cinemas está passando por uma redenção porque os longas de jogos nunca tiveram uma boa qualidade e enfrentaram uma resistência do público. Isso acontece porque as adaptações acabam gerando filmes medianos ou ruins e isso frusta muito os fãs desses jogos. Um exemplo disso está nos filmes do “Resident Evil”.  

Mas isso tem mudado. Os estúdios alteraram a produção desses filmes. Eles viram que era necessário reavaliar a forma como as cenas de ação são apresentadas, repensar os personagens secundários, eliminar elementos narrativos desnecessários e focar no desenvolvimento emocional do protagonista. Assim, essas produções cresceram e ficaram cada vez mais parecidas com os jogos, ganhou mais aceitação dos fãs e atraindo o interesse de outras pessoas. Portanto, a qualidade das adaptações dos games para o cinema melhorou significativamente nos últimos anos. 

Em entrevista para a AGEMT, o estudante de cinema Igor Loureiro compartilhou sua visão sobre essa crescente influência. Para ele, os games apresentam narrativas ricas e personagens cativantes, o que os torna uma fonte inesgotável de inspiração para o cinema. "Os videogames evoluíram muito além de simples jogos, eles se tornaram verdadeiras experiências interativas. Ao adaptar essas histórias para o cinema, podemos explorar mundos fantásticos e criar uma imersão ainda maior para o público", ressalta Igor. Ele complementa falando que o sucesso dos jogos no cinema está diretamente relacionado ao envolvimento e à paixão dos jogadores. "Os fãs dos jogos têm um vínculo emocional forte com os personagens e as histórias. Ao trazer essas experiências para as telas de cinema, os estúdios conseguem atrair tanto os jogadores quanto um público mais amplo, que busca entretenimento e aventura.”  

Os estúdios perceberam que essas adaptações são uma mina de ouro até porque está havendo uma mudança de geração. Os jovens estão cada vez mais próximos desses jogos. Hoje em dia a maioria dos meninos e meninas tem um console dentro da sua casa, seja um Playstation, Xbox ou Nintendo.  

Para a realização da matéria, a AGEMT entrevistou também o jogador de videogame e crítico de cinema Raphael Valente. Ele ressaltou a importância de respeitar a essência dos jogos originais. "Os jogos de videogames têm um público fiel e apaixonado, e é fundamental que as adaptações para o cinema sejam cuidadosas e respeitem a história e os personagens que os fãs tanto amam", destaca Raphael. Ele também menciona que as adaptações cinematográficas de jogos bem-sucedidos têm o potencial de atrair um público mais amplo, incluindo aqueles que não estão familiarizados com os jogos. 

Ambos os entrevistados concordam que a indústria do cinema tem reconhecido o valor dos games como uma fonte rica de material criativo. Isso tem resultado em uma série de adaptações de sucesso, como os filmes e as séries baseados em franquias, como "The Last Of Us", “The Witcher” "Detective Pikachu", “Uncharted” e “Sonic”. Além disso, grandes estúdios têm investido em projetos ambiciosos, como séries de televisão e universos cinematográficos expandidos baseados em jogos populares. 

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Filme Uncharted: Fora do mapa, disponível na HBO MAX.

No entanto, a convergência entre games e cinema também apresenta desafios. Igor Loureiro destaca a importância de encontrar um equilíbrio entre fidelidade aos jogos originais e a necessidade de criar uma experiência cinematográfica coesa e acessível. "É um desafio traduzir elementos interativos dos jogos para uma narrativa linear no cinema, mas quando isso é feito com maestria, pode resultar em obras-primas", afirma o estudante. 

Valente também ressalta que a qualidade das adaptações cinematográficas de tem melhorado nos últimos anos, mas ainda existem casos em que os filmes não conseguem capturar a essência dos jogos. Ele acredita que uma equipe criativa apaixonada pelos jogos e com conhecimento da linguagem cinematográfica é essencial para alcançar o sucesso nessa empreitada. 

À medida que os games continuam a conquistar novos patamares de popularidade, a relação entre o cinema e os jogos só tende a se fortalecer. A possibilidade de explorar narrativas ricas, personagens cativantes e mundos fantásticos dos jogos nas telas do cinema oferece um potencial ilimitado para contar histórias emocionantes e criar experiências imersivas para o público. 

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