Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

As últimas apresentações do cantor baiano reunem seus maiores sucessos e participações de grandes artistas brasileiros
por
Davi Rezende
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14/04/2025 - 12h

Tiveram início na última sexta-feira (11) os shows em São Paulo da turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil, a última da carreira do lendário artista. O evento, que teve início em março, na cidade de Salvador (BA), chegou neste mês à capital paulista com quatro datas, duas neste final de semana e mais duas ao fim do mês.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Aquele Abraço
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende
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Reunindo participações especiais, cenários característicos e grandes sucessos da carreira do cantor, a turnê é uma grande celebração da história de Gil, enquanto seus últimos shows ao vivo. Desde os visuais até a performance do artista, tudo é composto de forma detalhada para transmitir a energia da obra de Gilberto, que se renova em apresentações vívidas e convidados de diversos gêneros musicais brasileiros.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Gil conquistou uma das trajetórias mais consolidadas e respeitadas da música brasileira. Com mais de 50 álbuns gravados, sendo 30 de estúdio, ele se tornou uma lenda da bossa nova e do samba, com produções que se provam atemporais, além de participações em movimentos políticos e artísticos que marcaram o Brasil.

Gilberto Gil agasalhado em exílio nas ruas de Londres
Gilberto Gil no exílio em Londres/ Foto: Reprodução/FFLCH - USP

 

Na década de 60, após se popularizar em meio a festivais, Gil fez grande parte da luta contra as opressões da Ditadura Militar no Brasil, tornando-se peça importante no movimento da Tropicália. Ao lado de artistas como Caetano Veloso e Gal Costa, Gilberto foi protagonista na revolução da arte brasileira, além de compor grandes canções de resistência.

Em 1969, após o lançamento de um de seus maiores clássicos, “Aquele Abraço”, Gil se exilou fora do Brasil para fugir da Ditadura, em Londres. Na Inglaterra, ele seguiu produzindo e performando, ao lado de outros grandes gênios tropicalistas, até retornar em 1971, lançando no ano seguinte o álbum “Expresso 2222” (1972). Três anos após o grande sucesso, Gil lança o álbum “Refazenda” (1975), primeiro disco de uma trilogia composta por “Refavela” (1977) e “Realce” (1979).

Todos os grandes momentos da vida do cantor são representados na turnê, tanto com sua performance, dirigida por Rafael Dragaud, quanto na cenografia, montada pela cineasta Daniela Thomas. Na setlist, Gil ainda presta homenagens a grandes figuras da música, como Chico Buarque (que faz participação em vídeo tocado ao fundo de Gilberto, durante a apresentação) quando interpreta “Cálice”, canção de sua autoria ao lado do compositor carioca, e até Bob Marley, no momento que toca “Não Chore Mais” (versão da música “No Woman, No Cry” do cantor jamaicano) com imagens da bandeira da Jamaica ao fundo.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Não Chore Mais
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

 

Nas apresentações no Rio de Janeiro, o artista convidou Caetano e Anitta para comporem a performance, enquanto em São Paulo, na sexta-feira (11) MC Hariel e Flor Gil, a neta do cantor, deram as caras, além de Arnaldo Antunes e Sandy terem participado do show de sábado (12).

A turnê “Tempo Rei” aproxima Gilberto Gil do fim de sua carreira, celebrando sua história nos shows que rodam o Brasil inteiro. A reunião de artistas já consolidados na indústria para condecorar o cantor em suas apresentações prova a grandeza de Gil e como sua obra é imortal, movimentando a música de todo o país ao seu redor. Sua performance é energética e vívida, como toda a carreira do compositor, fazendo dos brasileiros os súditos do Tempo Rei.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Expresso 2222
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

As apresentações de Gil seguem ao longo do ano, encerrando em novembro, na cidade de Recife (PE). Em São Paulo, o cantor ainda se apresenta em mais duas datas, nos dias 25 e 26 de abril, no Allianz Parque.

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Filme brasileiro conta a história de uma senhora que através de uma câmera expôs uma rede de tráfico no Rio de Janeiro
por
Kaleo Ferreira
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14/04/2025 - 12h

O filme “Vitória” lançado no dia 13 de março de 2025, dirigido por Andrucha Waddington e roteirizado por Paula Fiuza, tem como tema a história de Dona Nina (Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos que sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de drogas em Copacabana, filmando com uma câmera a rotina do mercado criminoso da janela de seu apartamento.

 

Cena do filme ”Vitória” (Foto: CNN Brasil)
Cena do filme ”Vitória”. Foto: CNN Brasil

 

O longa é inspirado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, escrito pelo jornalista Fábio Gusmão e baseado na história verídica de Joana Zeferino da Paz. Grande força do filme vem da atuação de Fernanda, que consegue transmitir a solidão, indignação, determinação e a garra que a personagem teve para confrontar o crime na Ladeira dos Tabajaras.

O filme começa construindo uma atmosfera de grande tensão, claustrofobia e solidão dentro do pequeno apartamento com o reflexo da violência diante dos olhos, assim mergulhando na realidade crua do cotidiano carioca, expondo a fragilidade da segurança pública e o poder que o crime organizado possui. 

Em certos momentos, o ritmo da narrativa se torna um pouco lento e cansativo e a ação do longa começa com a introdução do jornalista Fábio, interpretado por Alan Rocha, que desenvolve uma relação de parceria com Dona Nina. Ele assiste às fitas gravadas por ela, provas de criminosos desfilando com armas à luz do dia, vendendo e utilizando drogas entre crianças e adolescentes, além de ter ajuda dos policiais para o tráfico. E diante de tudo, decide ajudar a senhora, assim escrevendo uma grande reportagem que colocaria os holofotes sobre todo o esquema de tráfico. 

 

Cartaz do filme (Foto: IMDb)
Cartaz do filme. Foto: IMDb

 

O filme tem a participação de outras atrizes, como Linn da Quebrada e Laila Garin, que mesmo em papeis secundários, também merecem destaque por agregar camadas à narrativa e mostrar diferentes facetas de como a comunidade é afetada pela violência.

Em resumo, “Vitória” é um filme emocionante e que faz refletir. Apesar dos problemas no ritmo do filme, a força de uma história real e a grande atuação de Fernanda Montenegro, com seus 95 anos, o consolidam como um filme digno de ser assistido e relevante para o cinema brasileiro. 

É um retrato da realidade brasileira que ao dar voz a uma história de resistência contra o crime, levanta questões importantes sobre segurança, justiça e o papel dos cidadãos contra a violência, dando esperança em resistir a toda criminalidade que a sociedade enfrenta com tanta frequência, além de dar voz a uma mulher que decide não se calar.

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O grupo sul-coreano encerra sua passagem pelo Brasil com o título de maior show de K-pop no país
por
Beatriz Lima
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09/04/2025 - 12h

 

Na primeira semana de abril, São Paulo e Rio de Janeiro foram palco dos shows da DominATE Tour, do grupo de K-pop Stray Kids. Em novembro de 2024, o grupo anunciou sua primeira passagem pela América Latina após sete anos de carreira, com shows no Chile, Brasil, Peru e México, causando êxtase aos fãs do continente.

Stray Kids é um grupo de K-pop composto por oito integrantes, Bang Chan, Lee Know, Changbin, Hyunjin, Han, Felix, Seungmin e I.N. O grupo estreou em 2018, após um programa eliminatório com diversos trainees da JYP Entertainment - empresa que gere o grupo. No dia 8 de julho de 2024, o grupo anunciou sua terceira turnê mundial chamada ‘DominATE Tour’, com shows iniciais pelo Leste e Sudeste Asiático e Austrália. 

A DominATE Tour foi anunciada para a divulgação de seu mais recente álbum, ATE, lançado dia 19 de julho de 2024. Com o sucesso mundial do grupo e da música “Chk chk boom”, com a participação dos atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman no clipe, o grupo divulgou datas para a turnê na América Latina, América do Norte e Europa no início de 2025.

Foto de divulgação da turnê DominATE
Imagem de divulgação da turnê DominATE. Foto: Divulgação/JYP Entertainment

No Brasil, o octeto iniciou sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro com seu show de estreia dia 1 de abril no Estádio Nilton Santos, com mais de 55 mil pessoas presentes no local. Em sua primeira data na cidade de São Paulo, sábado (5), o grupo sul-coreano teve os ingressos esgotados e, mesmo com chuva e baixas temperaturas, bateu o recorde de maior show de K-pop no Brasil, com um total de 65 mil pessoas no Estádio MorumBIS. No dia seguinte, o grupo teve seu último dia de passagem pelo país e somou no total - nos dois dias de show na capital paulista - 120 mil pessoas.

Show do Stray Kids no Estádio MorumBIS
Primeiro dia de show do Stray Kids em São Paulo. Foto: JYP Entertainment / Iris Alves

 

Os shows contaram com estruturas complexas e atraentes - com direito a fogos de artifícios e explosões de luz a cada performance -, tradução simultânea nos momentos de interação com o público, banda e equipe de dança do próprio grupo, além de estações de água e paramédicos à disposição do evento. Foram três noites marcantes tanto para os fãs brasileiros quanto para os próprios membros do grupo. “Eu sinto que tudo que nós passamos durante esses sete anos foi para encontrar vocês.” diz Hyunjin em seu primeiro dia de show no Brasil. 

Com o recorde de público nos shows e reações positivas na mídia e público brasileiro, o grupo promete voltar ao país em uma nova oportunidade, deixando claro seu amor pelo país e pelos fãs brasileiros. “Bom, é a sensação de que ganhamos uma segunda casa… todos nós [os oito membros]” declara o líder Bang Chan no primeiro show de São Paulo.

Membros do grupo após o show do Rio de Janeiro.
Foto divulgada após o show do Stray Kids no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/JYP Entertainment

 

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Último dia do festival em São Paulo também reuniu shows de Justin Timberlake, Foster The People e bandas nacionais
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Maria Eduarda Cepeda
Jessica Castro
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09/04/2025 - 12h

 

Neste domingo (30), o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebeu o último dia da edição 2025 do Lollapalooza Brasil. O festival, que reuniu uma diversidade de estilos, contou com apresentações de bandas indies nacionais, como Terno Rei, e gigantes do pop, como Justin Timberlake. Como destaque, tivemos a histórica estreia da banda Tool em solo brasileiro, a volta de Foster The People ao festival e o show emocionante de encerramento do Sepultura, que consagrou sua importância como uma das maiores referências do metal, tanto no Brasil quanto no mundo.

Diferente do primeiro dia, o domingo foi marcado por tempo firme e céu aberto, sem a interferência da chuva. Com condições climáticas favoráveis, o público pôde aproveitar muito seus artistas favoritos ao longo do dia.

As primeiras atrações do dia já davam o tom da despedida do festival: uma mistura de muito indie, rock n’ roll e nostalgia no ar. No palco Budweiser, a cantora pernambucana Sofia Freire abriu os trabalhos com uma estreia marcante, conquistando o público com talento e carisma. E no palco Mike´s Ice, a banda "Charlotte Matou um Cara" chamou atenção por ter a vocalista, Andrea Dip, vestida em uma camisa de força. 

Além de cantora, Andrea é jornalista e faz parte da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. Em 2013, recebeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pelo seu trabalho na história em quadrinhos “Meninas em Jogo” e foi premiada pelo Troféu Mulher Imprensa na categoria site de notícias em 2016.

Vocalista da banda "Charlotte Matou um Cara", Andrea Dip, usando uma camisa de força rosa
A banda já dividiu palco com a cantora e atriz Linn da Quebrada. Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Com músicas que tratam temas como machismo, ditadura militar e a luta contra a violação do corpo feminino, o grupo trouxe para o festival a agressividade e a energia para o "dia do rock". 

Na sequência, o grupo Terno Rei assumiu o palco e transformou a plateia ainda tímida em um coro envolvido por seu setlist, que mesclou sucessos da carreira e novas apostas sonoras. A banda ainda aproveitou o momento para anunciar seu próximo álbum, “Nenhuma Estrela”, com lançamento marcado para 15 de abril.

Depois de 8 anos longe do Brasil, Mark Foster e Isom Innis voltaram pela terceira vez ao Lollapalooza Brasil. As músicas foram de seus sucessos mais recentes às músicas mais queridas pelos fãs, como "Houdini" e "Call It What You Want". Com um público morno, mesmo com a presença dos fãs fiéis, eles não desanimaram e se mostraram contentes por estarem de volta. A música mais famosa, "Pumped Up Kicks", finalizou a apresentação do grupo.

A banda Tool se apresentou pela primeira vez no Brasil após 35 anos de carreira, mas quem compareceu esperando ver o grupo e uma apresentação tradicional teve uma surpresa. Tool fez um show cru, sem pausas e sem momentos emocionados. O visual sombrio e imersão feita pelos visuais espirituais do telão comandaram os espectadores a uma experiência única no festival, sendo o show mais enigmático da noite. A setlist foi variada, com alguns de seus sucessos e músicas de seu álbum mais recente "Fear Inoculum". Apesar da proposta diferenciada, o público pareceu embarcar na viagem sensorial proposta pelo grupo. 

Vocalisa da banda Tool na frente do telão, mas não somos capazes de ver seu rosto, apenas sua silhueta
A presença enigmática do vocalista causou muita curiosidade entre os espectadores. Foto: Sidnei Lopes/ @observadordaimagem

Sepultura está dando adeus aos palcos ao mesmo tempo que celebra seus 40 anos de carreira, assim como o nome de sua turnê, "Celebrating Life Through Death". Fechando a edição de 2025 do festival, a banda teve convidados curiosos para a setlist. Para acompanhar a música "Kaiowas", o cantor Júnior e o criador do Lollapalooza, Perry Farrell, subiram no palco para integrar o ritmo agressivo dessa despedida. Com uma setlist semelhante a do show feito em setembro do ano passado, também dessa turnê de adeus, o grupo não deixou o clima cair mesmo com os problemas técnicos que enfrentaram. O som estava abafado e baixo comparado ao de outros palcos, a banda Bush enfrentou o mesmo problema em sua apresentação. 

A banda encerrou seu legado no festival com um de seus maiores sucessos internacionais, "Roots Bloody Roots", eternizando seu legado e deixando saudades em seus fãs que se mantiveram devotos até o fim.

No palco ao lado, o grande headliner da noite, Justin Timberlake, mostrou que seu status de popstar segue intacto. A apresentação, que não foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do evento, teve performances energéticas, muita dança e vocais entregues sem base pré-gravada.

Justin Timberlake se apresentando no palco principal do festival
Justin Timberlake encerra a terceira noite do festival Lollapalooza 2025. — Foto: Divulgação/Lollapalooza

Com um show marcado por coros emocionados em “Mirrors” e uma enxurrada de hits como, “Cry Me a River”, “SexyBack” e “What Goes Around... Comes Around”, ele reforçou sua presença como um dos grandes nomes da música pop.

Apesar de definitivamente não estar em sua melhor fase — após polêmicas envolvendo sua ex-namorada Britney Spears, que o acusou de um relacionamento abusivo, e uma prisão em 2024 por dirigir embriagado — Timberlake demonstrou um forte engajamento com o público, que saiu eletrizado do show. 

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Artistas brasileiros se destacam na programação de eventos musicais; interesse se intensificou na pandemia
por
Maria Ferreira dos Santos
Ana Beatriz Assis
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14/06/2023 - 12h

A década de 60 foi, certamente, o período em que o tropicalismo esteve mais em alta. O movimento buscava, entre outras coisas, redescobrir e valorizar a cultura nacional. Mesmo depois de tanto tempo, a valorização da cultura brasileira permanece sendo tema recorrente na indústria cultural. 

Não à toa, um levantamento feito pelo Flow Creative Core sobre o consumo de música entre os jovens brasileiros de 11 estados mostrou que a MPB foi o gênero mais escutado durante a pandemia, em especial álbuns e artistas já consolidados no mercado. 

Entretanto, o motivo dessa preferência vai muito além de um sentimento patriota. É, na verdade, uma busca por conforto. A pesquisa explica que essa escolha se deu pela busca de “memórias positivas para enfrentar um momento difícil e incerto”. O aumento de streamings da MPB se reflete também no crescimento de festivais voltados para esse gênero. 

cartazes de festivais
Cartazes de festivais que priorizam artistas nacionais em suas line-ups. Imagem: Reprodução

O estudante de administração Enzo Nascimento, 21, frequenta festivais com a presença só de brasileiros e também aqueles com brasileiros e gringos. Ele afirma ter uma preferência por aqueles com a primeira categoria. “Gosto como me sinto em casa nesses festivais[...] Acho que antes da pandemia não tínhamos essa diversidade de festivais nacionais, não só de MPB, como de funk, trap e outras vertentes”, diz Nascimento.

Sobre a ascensão de festivais que priorizam artistas brasileiros, Sofia Barbará, coordenadora de festivais da Time For Fun, companhia responsável pela gestão de marca e de projeto, acredita que “o público tenha o mesmo desejo em ver seus artistas favoritos, tanto nacionais quanto internacionais.  Acho que a diferença é o número de oportunidades que um fã tem de poder ver o artista, que acaba sendo maior quando eles são nacionais por tocarem em mais eventos”, declara.

Essa menor chance de assistir a um artista internacional, repercute na forma como o público se comporta na hora dos shows. Nascimento afirma que, em casos de apresentações de cantores internacionais, “o pessoal fica muito louco”, provocando uma confusão, que, segundo ele, contrasta com performances nacionais. “Nos [shows] nacionais, acho mais tranquilo, consigo curtir o show melhor”, diz o estudante.

cartazes de festivais
Cartazes de festivais que priorizam contratar artistas brasileiros. Imagem: Reprodução

O crescimento de festivais e públicos é resultado também de uma nova forma de os gêneros e artistas se relacionarem. Barbará comenta que “nos últimos anos muitas parcerias misturando diferentes gerações de artistas da música brasileira, aproximou a geração Z [nascidos entre 1990 e 2010] e millennial [nascidos entre 1981 e 1996] da  produção nacional. Esses fatores fazem com que existam tantos festivais focados na cultura brasileira hoje”, afirma.

Apesar desses eventos se proporem a enaltecer a música brasileira, eles não alcançam todo o Brasil, por dois motivos principais: localidade e preço. A maioria dos festivais se concentra no eixo São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, cidades da região Sudeste, a mais rica do país.

Os valores variam muito porque dependem da quantidade de dias e da modalidade de ingresso. Mesmo assim, os ingressos dos festivais com line up só de artistas brasileiros são mais baratos do que aqueles com atrações estrangeiras. Barbará explica que a discrepância se deve aos cachês mais altos dos artistas internacionais. “Até por ser em outra moeda, influencia nos valores dos ingressos,  algo necessário para que seja possível fazer o evento acontecer”.

Apesar disso, a profissional avalia que, embora seja um fator importante na tomada de decisão do cliente, “a principal motivação sempre vai ser o interesse pela música, artista ou banda que estará presente”. 

 

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Corte de cena em novela reabre discussão sobre o que pode ou não ser exibido na TV
por
Catarina Pace
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13/06/2023 - 12h

No início do mês passado, foi ao ar um capítulo da novela global “Vai na Fé”, em que deveria acontecer o tão esperado beijo entre Clara e Helena. Para a surpresa e decepção do público, a emissora cortou a cena e foi muito criticada por fãs da atual novela das sete. A Rede Globo ficou nos assuntos mais comentados do Twitter com a hashtag #GloboApoiaSensura e se pronunciou no mesmo dia através de nota. "Toda novela está sujeita a edição. Uma rotina que atende às estratégias de programação ou artísticas. Isso, inclusive, é sinalizado nos resumos de capítulos divulgados pela Globo", afirmou a emissora.   

A situação chocou os telespectadores, principalmente porque o beijo estava descrito no resumo diário da novela e de alguma forma isso comprometeu o envolvimento do público. A nota emitida pela Rede Globo estimula um questionamento sobre o que pode ou não ser transmitido no “horário nobre” da televisão brasileira. As estratégias de programação, termo usado pela emissora, também estão associadas à classificação indicativa da novela, uma possível justificativa para o corte.   

A classificação indicativa é uma sugestão etária destinada ao público e depende de quais conteúdos determinados programa apresenta, dentre eles, violência, conteúdo sexual e drogas. Como um aviso sugestivo, a classificação não tem o direito de limitar nem censurar a programação, seja da televisão aberta, dos canais fechados ou de streaming.   

A professora e pesquisadora de linguagens, tecnologia e educação associada da PUC-Rio, Rosália Maria Duarte acredita que a classificação indicativa não tem o objetivo de restringir o público, mas, literalmente, indicar os conteúdos do programa. “Ela é um guia interessante, inclusive para adultos, pois há conteúdos sensíveis aos quais o espectador pode não querer ter acesso e ser avisado previamente disso é sempre muito bom. Toda boa escolha implica informação e a classificação indicativa é uma informação importante”, diz a professora.   

Por mais que seja só um aviso sugestivo, muito ainda é discutido sobre esse mecanismo de recomendação, principalmente, sobre seu contato com crianças. As novelas brasileiras, por exemplo, sempre tiveram um perfil realista, especialmente ao mostrar cenas de sexo, drogas e violência, e mesmo que pretendam representar o mundo real, para os pais, isso poderia se transformar em grandes preocupações com a educação.   

De acordo com uma pesquisa realizada pela unidade infantil da Globo, em parceria com os Coletivo Tsuru e Quantas, 84% dos pais entrevistados se dizem atentos ao que seus filhos estão assistindo na televisão. Por mais que não sejam uma totalidade de pais preocupados com o conteúdo que as crianças consomem, um número significativo limita seus filhos a programas recomendados para suas idades. Na televisão aberta, essa preocupação é maior ainda, já que nada além da sugestão de idade, pode controlar a exposição de crianças ao programa.   

Para Beth Carmona, consultora, produtora e gestora de projetos especializados na área infanto-juvenil, as produções não podem ser limitadas só porque as crianças podem ser parte de seu público. “Porque você não pode, no meu entender, mostrar em uma história para crianças e jovens um mundo que não é real, às vezes você pode pintar um mundo mais lindo do que ele é e não ser uma representação do real. Se você, só porque são crianças, são pequenas, faz uma obra totalmente desprovida de cenas de briga ou violência, é complicado, porque no contexto da obra pode fazer falta e pode demonstrar o contrário do que o autor imaginava. Não vai ter a moral da história, o certo e o errado”, diz Beth.   

Ao tratar desse assunto, valores éticos, morais e filosóficos entram em ação. É a liberdade de expressão do autor que está em perigo quando se pretende cortar uma novela ou programa exibido na televisão aberta. Por isso, a classificação indicativa não é uma imposição, e, como uma sugestão, não deveria ser utilizada como justificativa de cortes em cenas comuns à realidade.  

Ao mesmo tempo, cada pai tem um entendimento do nível educacional de seu filho e cabe a ele dizer o que pode ou não ser consumido pela criança. Rosália diz que acredita que a responsabilidade sobre programas de televisão e crianças é tanto dos pais quanto da própria emissora. “Acho que a responsabilidade é de ambos. Quem produz deve ter tanto compromisso com o bem-estar das crianças e adolescentes quanto as famílias delas. A responsabilidade pela educação dos mais jovens é da sociedade como um todo, não apenas de quem as concebe e cria. Os pais têm responsabilidade direta, claro, pois são eles que autorizam o acesso da criança às produções, mas quem produz precisa estar atento ao que pode prejudicar o desenvolvimento emocional daqueles a quem ele dirige o produto”, afirma.  

Uma das maiores críticas ao corte em “Vai na Fé” foi a de ter  limitado um beijo entre duas mulheres, o que raramente aconteceria com um casal hétero. As novelas têm acompanhado o tempo, sendo geralmente abertas e liberais, discutindo questões de raça, gênero e sexualidade. Se a emissão e as produtoras não acompanharem, ficarão deslocadas no tempo. Assim, esse tipo de decisão não deve ser pautado em qual público vai alcançar ou sua faixa de idade, mas simplesmente alertar o conteúdo através da classificação indicativa.   

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A comemoração foi feita em grande estilo! Uma série de experiências interativas tomaram parte da cidade nova iorquina durante quatro dias.
por
Giovanna Montanhan
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12/06/2023 - 12h

 

Sex and the City é uma produção norte-americana criada por Darren Star, baseada no livro homônimo de Candace Bushnell, exibida pela HBO. Foi uma das primeiras séries de televisão que retratou a vida social de mulheres solteiras e independentes em uma metrópole como Nova Iorque. O seriado acompanha a vida de quatro amigas - Carrie Bradshaw (interpretada por Sarah Jessica Parker), Charlotte York (Kristin Davis), Miranda Hobbes (Cynthia Nixon) e Samantha Jones (Kim Cattrall) - à medida que elas enfrentam desafios em suas carreiras, relacionamentos e amizades. 

 

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Sarah Jessica Parker como Carrie - Foto Reprodução: Getty Images

 

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Kristin Davis como Charlotte - Foto Reprodução: Pure People

 

 

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Cynthia Nixon como Miranda - Foto Reprodução: New Line Cinema/Entertainment Pictures/

 

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Kim Cattrall como Samantha - Foto Reprodução: Pinterest

Ao longo de seis temporadas (1998-2004), a série introduziu diversas frases de efeito que até hoje são citadas e usadas como referência no universo da cultura pop. 

A figurinista da série, Patricia Field, criou um guarda-roupa exclusivo para cada personagem. A partir dos estilos únicos de cada uma, Field influenciou muitas pessoas ao redor do mundo, ditando tendências, como por exemplo, o tutu de tule usado por Carrie, os famosos saltos altos de Manolo Blahnik, que se tornaram itens de desejo para muitas pessoas, com várias marcas criando réplicas para atender essa demanda e a bebida alcoólica cosmopolitan, que ganhou fama após o sucesso da série.
 

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Foto Reprodução: Getty Images

 

 

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Foto Reprodução: HBO Max

 

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Foto Reprodução: Manolo Blahnik

 

 

Devido a popularidade do seriado, após seu término, dois filmes foram lançados. O primeiro, em 2008, com o enredo em torno do casamento de Carrie e seu noivo Mr. Big, enquanto as outras três amigas lidavam com seus próprios desafios pessoais. Além de se passar em Nova Iorque, as quatro amigas também tiveram aventuras no México. O longa-metragem foi um sucesso de bilheteria e arrecadou mais de 415 milhões de dólares em todo o mundo.

O segundo, em 2010, trouxe de volta as quatro amigas para novos desafios que as levou de Nova Iorque para Abu Dhabi. Este filme foi criticado por algumas polêmicas, como a retratação da cultura árabe. Arrecadou cerca de 290 milhões de dólares no total.

A possibilidade de haver um terceiro filme foi engavetada em 2017. A informação veio por meio de um podcaster famoso que teve acesso ao roteiro da produção e relatou que o longa começaria com a morte de Mr. Big. De acordo com ele, a intérprete de Samantha também não demonstrou interesse em realizá-lo. Ela acreditava que com essa narrativa focada no ataque cardíaco de Big, a trama colocaria mais Carrie em evidência, e acabaria dispersando o real ponto do enredo: as amigas em si. 

No final de 2021, a franquia Sex and the City decidiu continuar sua história com o lançamento de uma série spin-off, intitulada And Just Like That. Com um elenco composto por apenas três atrizes (Sarah Jessica Parker, Kristin Davis e Cynthia Nixon). Isso aconteceu devido a um desentendimento entre Sarah e Kim, portanto, Samantha Jones não retornou. 

 

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Uma das maiores críticas dessa nova versão é a falta que a personagem faz. Apesar de todas serem consideradas protagonistas, Samantha era a queridinha do público por demonstrar ser uma mulher a frente de seu tempo, falar abertamente sobre sexo (tema considerado tabu até hoje), além de suas falas icônicas usadas até hoje pelos fãs nas redes sociais. 

 

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Tradução: Por que todo mundo precisa se casar e ter filhos? É tão clichê. 
Foto Reprodução: Pinterest

 

Kim Cattrall se pronunciou a respeito de ter dito que nunca mais participaria da série, pois não desejava ter contato com a colega de elenco. Um dos motivos que levaram a desavença, foi que Sarah Jessica não era gentil o suficiente, dando a entender que a moça se achava ‘’estrela’’. Quando questionaram a atriz sobre as declarações de Cattrall, Sarah disse estar surpresa, pois considerava-a como uma amiga e não sabia a razão pela qual ela tinha dito aquilo.

Em 2018, ocorreu o ápice da confusão, quando Kim publicou em seu Instagram que seu irmão estava desaparecido e que logo após foi encontrado sem vida. Sarah comentou na publicação e prestou seus pêsames ao acontecimento. Em seguida, ela deletou todos os comentários e fez outra publicação com a seguinte legenda: "Eu não preciso do seu amor ou apoio nesse momento trágico. Minha mãe me perguntou quando que Sarah Jessica Parker, essa hipócrita, me deixará em paz? Seu contato contínuo é um doloroso lembrete de quão cruel você realmente era antes e agora também. Deixe-me ser bem clara, você não é minha família e nem minha amiga, então eu estou escrevendo para te dizer pela última vez: deixe de explorar a nossa tragédia para restaurar a sua personalidade de 'legal'. 

Após demonstrar todo seu desgosto com a atitude da colega, ela também compartilhou um artigo do jornal New York Post que relatava alegações de comportamento abusivo de Sarah.

Parker disse não acreditar em um retorno da colega às gravações, quando se pronunciou a revista Variety sobre o assunto. "Não acho que eu estaria (ok), porque eu acho que já existe muita história pública dos sentimentos da parte dela que ela compartilhou. Eu não participei nem li nenhum dos artigos (sobre o assunto), apesar da maioria das pessoas estar inclinada a fazer com que eu saiba do que se tratam"

And Just Like That é uma produção da HBO Max, produzida por Michael Patrick King, que também foi o produtor executivo da série original. Essa nova série é uma homenagem ao legado de Sex and the City e tem como objetivo agradar tanto aos fãs antigos quanto a uma nova geração de espectadores. 

A produção aborda temas atuais, tendo como principal o envelhecimento das personagens. A ausência de Samantha durante essa primeira temporada foi notada e muito comentada pelos fãs da série. 

A segunda temporada do remake será lançada em 22 de junho de 2023, e já foi confirmado que terá uma pequena aparição de Samantha no episódio final. O anúncio gerou uma onda de comoção e entusiasmo entre os admiradores da série nas redes sociais.

 Apesar de todas as farpas trocadas entre Kim Cattrall e Sarah Jessica, não se sabe com certeza por qual motivo a atriz aceitou fazer uma participação na nova temporada, mas uma coisa é certa: uma das exigências foi que elas não tivessem nenhum contato durante a gravação da cena. 

Para celebrar as bodas de prata, uma pop-up foi montada em vários pontos da cidade, incluindo o famoso apartamento que a personagem Carrie morava (que realmente existia, não era apenas um cenário). Além disso, houve uma exposição dos figurinos e dos sapatos usados na série e no spin-off, uma linha exclusiva de produtos e, além disso, contou com o famoso drink cosmopolitan sendo servido ao longo do evento - feito com a vodca Ketel One, uma das marcas patrocinadoras. A experiência foi concluída com uma parede interativa onde os convidados podem compartilhar Post-Its - de forma semelhante aos do término de relacionamento da sexta temporada.

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Foto Reprodução: Variety
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Reprodução da porta do apartamento de Carrie - Foto Reprodução: Cindy Ord/Getty Images for Max

 

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Foto Reprodução: Cindy Ord/Getty Images for Max
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Foto Reprodução: Cindy Ord/Getty Images for Max

 

 

 

 

 

 

 

 

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Professor Marcus Bastos, da PUC-SP, e diretora artística Annabelle Mauger, criadora de “Imagine Picasso”, analisam tendência
por
Marina Jonas
|
11/06/2023 - 12h

Uma onda crescente de exposições imersivas vem ganhando força em diversos países ao longo dos últimos anos, incluindo o Brasil. Na cidade de São Paulo, três delas estão em cartaz “Imagine Picasso”, “Michelangelo: o mestre da Capela Sistina” e Frida Kahlo: uma biografia imersiva”. Exibidas em lugares incomuns no circuito de arte, com grande fluxo de pessoas, como shoppings e parques, as produções fogem da obrigatoriedade dos museus. Em uma tentativa de aproximar o público do universo artístico, essas mostras se utilizam de tecnologias altamente sofisticadas, que projetam as obras de forma que o espectador se sinta dentro delas, literalmente. A experiência é um sucesso e já atraiu mais visitantes do que a média de museus como Masp e Pinacoteca, mas a pergunta que fica é: ao buscar a democratização, as exposições imersivas simplificam a arte?  

“Minha primeira inspiração para criar uma exposição imersiva sobre o trabalho de Picasso foi a vontade de democratizar um artista considerado gênio e que as pessoas costumam se afastar por desistirem de entendê-lo”, afirma Annabelle Mauger, diretora artística francesa e criadora de Imagine Van Gogh e Imagine Picasso. De fato, uma experiência lúdica e sensorial como a imersiva chama a atenção das pessoas. Por envolver sentidos que vão além da visão, ela acaba atraindo um público bem mais vasto, abrangendo desde jovens e crianças - que costumam se afastar dos museus - até adultos, que muitas vezes não têm o hábito de frequentar espaços de arte.  

Paradoxalmente, o mergulho propiciado por essa experiência pode gerar um olhar mais disperso sobre a arte, já que diversos elementos passam a disputar a atenção do visitante. É o que pensa o professor Marcus Bastos, livre-docente em Comunicação e Artes pela PUC-SP. 

“Ao passo que há uma reprodução, que não a original, o acesso à obra é facilitado em diversos contextos, fazendo com que grandes artistas circulem de uma maneira que não seria possível se não fosse pelas duplicatas digitais. Mas, por outro lado, a materialidade da obra se perde quando transferida para o digital”, avalia Bastos.  

Ou seja, ao mesmo tempo em que o espectador se sente imerso na obra de arte – experiência alta em valor educativo – suas cores originais se perdem e suas texturas e pinceladas ficam menos nítidas, pois apenas a projeção não consegue capturar todos os seus detalhes, empobrecendo a experiência da fruição artística, conclui o professor. Inclusive, Mauger conta que o desafio mais importante em realizar exposições imersivas e digitais é manter a integridade da obra do artista. Segundo ela, todas essas mostras têm usado o design para  transformar o movimento artístico e fazer desaparecer suas pinceladas. Ela afirma ainda ser apaixonada pelos detalhes das pinturas.  

No entanto, apesar de aspectos materiais importantes da obra se perderem ao ser digitalizada e representada em telas, a exposição imersiva consegue trazer um número de quadros jamais visto em museus comuns. De acordo com a criadora, sua segunda maior inspiração para “Imagine Picasso” foi a vontade de criar a “exposição impossível”, “onde todas as pinturas mais importantes de Picasso estão ao mesmo tempo no mesmo lugar”. E, de fato, ela conseguiu: na exibição, são expostas 220 obras do artista espanhol, em um total de 33 minutos de projeções, contando com 3 mil imagens.  

É uma nova forma de mostrar e ver a criação do artista: inovadora, envolvente, menos formal e, ainda, compartilhável, fazendo com que o impacto no público seja bem diferente. Fruir as obras projetadas no chão ou esculpidas em formatos geométricos – como é o caso em Imagine Picasso – desperta curiosidade, o que, sem dúvidas, faz com que mais pessoas visitem a exposição, tornando a arte cada vez mais acessível. Pois, como diz Mauger: “3D é a nova forma de ler a arte como uma experiência de arte viva”.  

 

Projeções na exposição “Imagine Picasso”, Shopping Morumbi. 

Projeções na exposição “Imagine Picasso”, Shopping Morumbi.  

 

Pessoas olhando e tirando fotos da exposição “Imagine Picasso”, Shopping Morumbi. 

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Como preservar a imaginação da criançada na era tecnológica e quais os riscos de negligenciar essa necessidade
por
Annanda Deusdará
|
07/06/2023 - 12h

A cidade de São Paulo tem atualmente 110 museus, mas o Mapa da Desigualdade de 2022 mostra que 59% dos distritos do município não tem espaços culturais que se localizam majoritariamente em bairros centrais. Um estudo, feito pelo Instituto Oi Futuro em parceria com a consultoria da Consumoteca, demonstrou que um terço das crianças e adolescentes de até 14 anos não têm acesso a estes espaços.

Alguns dos problemas que levam à ausência deste público nos museus dispõem da dificuldade financeira e do estigma de monotonia e complexidade que cerca estes estabelecimentos. A pesquisa levantou que 49% dos entrevistados que não são frequentadores desses lugares não conseguem entender o que veem nas obras.

Em entrevista, a mãe Anna Feldmann, professora do Departamento de Jornalismo da PUC-SP, declarou que leva seu filho de 7 anos aos museus desde sempre, sendo uma prática que os dois gostam muito. Entre as instituições preferidas do pequeno estão o Museu do Futebol e Museu da Língua Portuguesa, tendo inclusive repetido as visitas.

Segundo a neuropsicopedagoga Denise Andreazzi, "É importante estimular o contato com esse ambiente, porque a expressão artística permite que a criança desenvolva sua percepção de mundo e crie sua própria identidade, e quanto antes ela for incentivada, maiores são as chances dela continuar nesse progresso."


Exposições culturais e a criatividade infantil

Em entrevista, a profissional Andreazzi alerta para o aumento do uso da tecnologia pelo público mais jovem. "Esse crescimento gera perda precoce da criatividade, o que também influencia no desenvolvimento cognitivo da criança. Isso ocorre porque o cérebro precisa estar em constante exercício, do contrário o corpo entende que não há necessidade de mandar neurônios para aquela região (área criativa), interrompendo assim a sinapse cerebral e consequentemente a geração de aprendizado naquele local."

A profissional também traz a importância da arte para garantir o processo criativo e o desenvolvimento infantil. "A capacidade do meio artístico de expressar os sentimentos que são difíceis de verbalizar acabam por ajudar na comunicação, em especial daqueles que são mais introvertidos, gerando maior desenvolvimento afetivo entre quem produz e quem observa. Outro benefício das interações artísticas é a cura de feridas internas através da afetividade e da imaginação. As exposições culturais também são capazes de trazer maior aproximação entre os indivíduos de uma casa, isso ocorre porque os obrigam a conversar sobre assuntos que não estão acostumados. O ato de escutar as opiniões dos membros da família faz com que eles possam conhecer melhor a identidade cultural e pessoal uns dos outros, que às vezes ficam ofuscadas pela correria do dia a dia."

 

Como tornar o museu agradável às crianças?

Feldmann também destaca que "é preciso respeitar o tempo delas, para que a atividade não seja visto como negativa, impedindo que ela possa se repetir. É importante considerar que as crianças são mais elétricas, então, as visitas precisam ser mais curtas. Quando a mesma demonstrar estar gostando, é possível que elas sejam prolongadas."

Apesar dessa familiaridade que foi construída ao longo do tempo, Feldmann relata que nem sempre é fácil e dá algumas dicas de como ela inseriu esse hábito em sua família. "Eu acho que o interessante é ir além do museu, fazer uma visita geral sobre todos os aspectos. Se o museu tem uma parte externa com um jardim já facilita para incentivar alguma brincadeira, o que eu acho que é superinteressante."

Para lidar com a agitação da criançada nas visitas, é preciso conversar com elas sobre o passeio, explicar o passo a passo de como ele vai acontecer e quais regras devem ser respeitadas. Uma dica de Andreazzi é fazer um tour virtual pelo local estabelecido e a utilização de cartões com imagens para facilitar o entendimento do pequeno.

"Para que a atividade não seja passiva, é aconselhável fazer perguntas prévias para entender o que as crianças entendem do assunto que vai ser abordado, dessa forma, o adulto estimula que a mesma preste mais atenção para descobrir se aquilo que ela sugeriu está certo ou não." - explica a especialista Andreazzi

A profissional também forneceu orientações para os pais que têm crianças com deficiências, como autismo, para que nenhuma seja excluída dos benefícios que a arte proporciona. Ela pede para que se tome cuidado para evitar multidões que podem causar agitação nos pequenos e para aqueles que precisam tocar nos objetos, é necessário informar o museu para que ele proporcione objetos sensoriais para serem manuseados durante a visita.

Além do papel dos pais em incluir seus filhos neste espaço, as escolas também têm grande importância, como mostra a pesquisa mencionada no início da reportagem, na qual 55% dos entrevistados tiveram seu primeiro contato com os museus em excursões escolares, reiterando a parceria necessária entre educação e cultura.

Para as famílias que querem dar essa experiência às suas crianças e não tem condições de contribuir com o valor do ingresso, há soluções. Alguns museus de São Paulo têm dias de visitação gratuita, para incentivar a cultura e o convívio familiar. Alguns deles são os edifícios da Pinacoteca, Museu do Futebol, Museu da Língua Portuguesa, entre outros. Para saber se os dias que eles oferecem esta gratuidade, é só visitar o site de cada estabelecimento.

Para os pais que têm receio de seus filhos não gostarem do passeio, é aconselhado fazer visitas em museus que se conectem com os interesses deles. Se ele gosta muito de futebol, o Museu do Futebol pode ser um começo. Outra dica é pesquisar os dias que o estabelecimento escolhido fornece atividades específicas para crianças, como oficinas e jogos educativos.

Crianças no Pina Família. Imagem: Reprodução Christina Rufatto

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