O cartunista, desenhista, escritor e jornalista Ziraldo Alves Pinto faleceu na tarde do último sábado (06/04) aos 91 anos enquanto dormia em sua casa. A confirmação da morte veio por meio de familiares do artista, uma de suas filhas revelou que a causa da morte teria sido uma falência múltipla dos órgãos.

Natural de Minas Gerais, Ziraldo já manifestava seu dom artístico ainda quando criança e chegou até mesmo a publicar seus primeiros desenhos na Folha de Minas. O artista cresceu em Caratinga e se formou em Direito pela UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), apesar de não ter exercido a profissão. Em 1957, Ziraldo começou a trabalhar na revista ‘O Cruzeiro’, de grande relevância na época. No mesmo ano, Ziraldo concluiu a sua graduação.
Nos anos 60 lançou a revista em quadrinhos: “A Turma do Saci Pererê”, a primeira feita por um só autor e também publicada em cores no Brasil. Ela foi grande inspiração na obra “Sítio do pica-pau amarelo”, futuro sucesso de Monteiro Lobato. Em 1963, ingressou no Jornal do Brasil, desenvolvendo sua experiência com o jornalismo, para que em 1964 lançasse a revista “O Pasquim”, em que participavam diversos críticos do regime militar. Foi nele que se tornou um símbolo de luta através de suas charges, onde expressava a opressão política e o estilo de vida da época, por meio do humor e da ironia. Por conta dos posicionamentos expressados no Pasquim, Ziraldo foi preso em sua casa e levado ao Rio de Janeiro no Forte de Copacabana.

Em 1969, Ziraldo lançou seu primeiro livro infantil “FLICTS”. Em 1980, lançou o livro "O Menino Maluquinho", um dos maiores fenômenos da cultura popular no Brasil. O livro foi adaptado para o teatro, quadrinhos, televisão em 2005, em uma série criada para a TV Brasil, e cinema em 1995, estrelado por Samuel Costa. Suas obras já foram traduzidas para diversos idiomas e publicadas em revistas conhecidas internacionalmente, como, por exemplo, a norte-americana Mad.
O artista também colecionou prêmios importantes como, por exemplo, o Prêmio Jabuti e uma medalha de honra da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais). Nos últimos tempos, se manteve alinhado à esquerda e filiado a partidos como PCB e PSOL. Mais recentemente, o artista fazia poucas aparições em público devido sua saúde debilitada e suas entrevistas a grandes veículos foram se tornando cada vez mais escassas, contudo, as publicações no seu Instagram ainda eram constantes.
Ziraldo é importante não apenas por suas obras criativas e originais, mas também por seu impacto na literatura infantil brasileira, que atinge diversas gerações, bem como por seu papel como defensor da cultura e da educação. O Brasil perde um de seus maiores nomes, mas seu legado será eterno.

A chef Janaína Torres destaca-se mais uma vez e a gastronomia brasileira continua a atrair atenção global. No ano passado, ela foi premiada como a melhor chef mulher da América Latina pelo The World’s 50 Best Restaurants. Este ano, seu talento a elevou ao título de melhor chef feminina do mundo. O prêmio não apenas celebra a relevância da culinária de Janaína Torres, mas também destaca o crescente reconhecimento internacional da riqueza e diversidade da culinária brasileira e a importância de uma figura feminina no mercado profissional.
Ao contrário do guia Michelin, que só utiliza inspetores técnicos treinados para avaliar critérios como qualidade dos ingredientes, habilidade culinária, personalidade do chef e relação qualidade-preço, o The World's 50 Best Restaurants adota uma abordagem baseada na opinião do público. É composta por um painel diversificado de jurados: proprietários, críticos, chefs, jornalistas e entusiastas de várias partes do mundo. Essa variedade crítica proporciona uma visão abrangente do que há de mais relevante na cena gastronômica mundial.
A diversidade é uma das características essenciais do ranking, com um equilíbrio de gênero e distribuição igualitária de jurados por região, todos mantidos no anonimato. Além disso, 25% do corpo de jurados é renovado a cada edição para evitar qualquer viés nas votações.
Janaína Torres Rueda é chef e proprietária de restaurantes no centro de São Paulo, junto de Jefferson Rueda. Eles comandam o renomado “A Casa do Porco”, que promove a gastronomia brasileira e destaca o papel do pequeno produtor e da agricultura orgânica, além de demonstrar preocupação com a cadeia produtiva e questões ambientais como as mudanças climáticas e com o que será servido à mesa de forma sustentável e acessível.
Em sua homenagem ao porco, o estabelecimento desmistifica a carne suína, apresentando-a em diversas preparações, desde torresmo de pancetta até sushi de papada de porco. “A Casa do Porco" é reconhecido como o restaurante brasileiro mais bem colocado entre os 50 melhores do mundo, atualmente na 12ª posição, e ocupa o 4º lugar entre os melhores da América Latina.
Janaína também lidera o “Bar da Dona Onça”, localizado no térreo do Edifício Copan, o “Hot Pork”, a “Sorveteria do Centro” e o “Merenda da Cidade”. Sua carreira tem sido marcada pelo apoio a diversas causas sociais. Em parceria com o governo de São Paulo, a chef reformulou o programa de alimentação escolar de São Paulo “Cozinheiros da Educação” ao substituir ingredientes processados por opções frescas e saudáveis, beneficiando a nutrição de 1,8 milhão de crianças em idade escolar.
Durante a pandemia, ela liderou a mobilização de milhares de chefs e trabalhadores, instando o governo a fornecer apoio financeiro, ao mesmo tempo em que sua equipe providenciou alimentação para os necessitados. Assim, pelo incentivo à gastronomia inclusiva, recebeu o Prêmio Ícone dos 50 Melhores Restaurantes da América Latina em 2020. Agora, como a Melhor Chef Feminina do Mundo em 2024, Janaína adiciona o título de "embaixadora internacional" ao seu currículo.
Nos últimos anos, a chef enfrentou várias mudanças significativas. Em 2021, após sua separação com Jefferson Rueda, teve que lidar com o sexismo de pessoas que duvidavam da capacidade do restaurante prosperar sem seu ex-companheiro no comando. No entanto, ela já liderava o restaurante há anos, antes mesmo da separação e o resultado é o sucesso do restaurante evidenciado pelas numerosas premiações que conquistou nos últimos anos. Além disso, Janaína optou por retomar o uso de seu nome de solteira, Torres.
A chef comentou em suas redes sociais que seu desejo é “Inspirar a próxima geração de chefs mulheres e continuar construindo um legado para a gastronomia brasileira ao lado da minha comunidade”.
“Para mim, este prêmio representa uma plataforma importante para dar visibilidade à educação para a alimentação e por meio dela, o que considero essencial para um futuro mais justo no meu país e em todo o mundo”, finalizou Janaína.
A consagração de Janaína Torres como a melhor chef feminina do mundo em 2024 não é apenas uma conquista pessoal. Seu talento eleva o prestígio da culinária nacional e destaca a riqueza cultural e a diversidade de sabores que o Brasil tem a oferecer. A importância da gastronomia brasileira para o mundo é um reflexo da sociedade contemporânea, sua ascensão ao topo do cenário gastronômico global é um indicativo do reconhecimento cada vez maior da contribuição das mulheres para a gastronomia.
Janaína é uma inspiração, desafia estereótipos e promove a inclusão e o empoderamento feminino. Sua jornada é um exemplo na gastronomia, não apenas como uma forma de arte e expressão cultural, mas também uma maneira de impactar questões sociais.
A AGEMT pelo Mundo completa sua viagem pelo Brasil explorando outras três regiões: centro-oeste, sul e sudeste. Veja aqui a primeira parte da matéria. As obras de Oscar Niemeyer e Lina Bo Bardi, a lenda das Cataratas do Iguaçu, os museus e as histórias do Brasil são pincelados ao som de Martinho da Vila em Aquarela Brasileira.
Em continuação na viagem pelo Brasil, o próximo destino é Brasília. A capital foi inaugurada em 1960 e teve participação do renomado arquiteto Oscar Niemeyer em seu projeto. Ela também é contemplada por monumentos de Niemeyer, como o Congresso Nacional, o Palácio do Planalto, o Supremo Tribunal Federal, o Palácio da Alvorada e a Catedral Metropolitana.
O Centro-Oeste também é muito procurado pela Chapada dos Veadeiros, conhecida por ser o berço das águas, em Goiás, a 230km da capital, com mais de 2 mil cachoeiras e cânions catalogados. Já o Mato Grosso é muito visitado pelo pantanal e a Chapada dos Guimarães. A cidade de Bonito é o principal ponto turístico do Mato Grosso do Sul.

O Sul do Brasil é berço de pessoas influentes como Elis Regina, Adriana Calcanhotto e Mário Quintana do Rio Grande do Sul, Cruz e Souza e Anita Garibaldi de Santa Catarina e Cortella, Chitãozinho e Xororó e Alexandre Nero do Paraná. As Cataratas do Iguaçu é o ponto mais visitado dessa região e chama a atenção dos visitantes por suas 275 quedas d'água.
Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio - e o Parque Nacional do Iguaçu, sua beleza é explicada pela lenda indígena de Napi e Tarobá, nas margens do Rio Iguaçu, onde viviam os indígenas caingangues que acreditavam na governança do deus Mboi, filho de Tupã e com corpo característico de serpente. Na tribo, a filha do cacique, Naipi, chamava a atenção por sua beleza exuberante, “que até as águas do rio se acalmavam quando ela estava perto”. Assim, Mboi a consagrou para viver sob seu culto.
Porém, o jovem guerreiro Tarobá se apaixonou pela jovem indígena. Em sua festa de consagração, enquanto todos estavam distraídos, Naipi e Tarobá fugiram em uma canoa pelo rio abaixo, para viver sua história de amor. Mas Mboi percebeu a fuga dos dois e ficou furioso. Ele cortou a mata com o seu corpo de serpente e produziu uma enorme fenda, formando as cataratas.
Pela força das águas formadas, Naipi e Tarobá caíram e desapareceram para sempre. A lenda diz que a indigena se transformou na rocha central e Tarobá na palmeira à beira de um abismo, inclinado sob a garganta do rio.

A região sudeste tem a maior concentração de museus do país: são 1.423, segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Em São Paulo, a cidade que não para, são mais de 500 museus para visitar, sendo a Pinacoteca o mais antigo, localizado no centro da capital metropolitana.
Minas Gerais é muito conhecida pela culinária: o pão de queijo e a pamonha são pratos tradicionais mineiros. Mas o estado tem muita história e paraísos naturais também. Guimarães Rosa deixou sua marca em sua cidade natal, Cordisburgo, que é muito procurada pelos estudiosos da literatura brasileira. Ouro Preto, Ilhotim, São João del Rei, Mariana e Tiradentes são cidades que brilham os olhos dos amantes de história.
No Espírito Santo, é possível encontrar o café mais caro do país, o café Jacu, feito com as fezes da ave e um processo mais trabalhoso do que o tradicional: após o Jacu se alimentar do fruto do café e eliminar na terra, próximo às árvores, o grão é colhido, limpado e reservado manualmente. Após o tempo de descanso, o grão é moído e preparado para consumo.
O Rio de Janeiro continua lindo, com suas praias paradisíacas e o Cristo Redentor sendo o ponto mais visitado do Brasil, considerado umas das 7 maravilhas do mundo moderno. Além disso, o estado abriga o maior estádio do Brasil, o Maracanã, palco do milésimo gol de Pelé em 1969, com o jogo de Santos e Vasco.
O Memorial da Resistência, localizado no centro antigo da cidade de São Paulo, apresenta exposições que ressalvam a memória da repressão violenta da ditadura civil-militar brasileira. Contando com registros escritos, cartas, imagens, obras de arte e depoimentos em vídeo, o espaço se dedica a enaltecer a luta militante e denunciar os horrores do regime.
O antigo “DEOPS” foi um dos maiores centros de tortura do Estado de São Paulo. A curadoria do museu manteve algumas celas que foram, em partes, restauradas, mas as portas e grades são as mesmas desde a época do regime; as paredes, agora, contam com manifestações manuscritas por autoria dos sobreviventes da tortura, familiares e amigos de pessoas mortas no período.
O Memorial estreou, recentemente, um andar dedicado ao papel feminino que foi crucial para o fim do regime, além de dar enfoque ao terror da violência sexual absurda e demasiada que as mulheres raptadas pelos militares eram submetidas. “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política”, com curadoria de Ana Pato, reúne relatos em texto e em audiovisual, que são posicionados de uma maneira que nos aproximam do que foi, realmente, ser uma mulher na luta contra a ditadura. O “Clube da Mães da Zona Sul”, que foi um grande centro de apoio e ação política para as mulheres das periferias de São Paulo durante as décadas de 1970 em diante, ganha um enfoque especial, trazendo à tangência os escassos registros da luta das mulheres periféricas.

Além desse enquadramento, há um ambiente dedicado à história e memória de Inês Etienne Romeu, a única sobrevivente da casa de tortura clandestina, “Casa da Morte”, localizada Petrópolis, Rio de Janeiro. Há, nesse caso, um olhar muito delicado em relação à perspectiva de gênero e à vulnerabilidade extrema de corpo das presas políticas. A integrante da luta armada e de diversos núcleos de enfrentamento do banho de sangue ditatorial é protagonista de uma amostra que é repleta de imagens, cartas e de escritos oficiais da difícil luta jurídica pela sua liberdade. Para além disso, é realizada a exibição do protesto cinematográfico Inês (1974), de Delphine Seyrig, que engloba conteúdos sensíveis, mas que trazem um abeiramento importante.

Durante a primeira semana de abril (3 a 7), o SP-Arte, uma das mais renomadas feiras de arte da América Latina, abriu suas portas para colecionadores, entusiastas e curiosos do mundo da arte.
Realizada anualmente na cidade de São Paulo, Brasil, a feira comemorou nesta edição 20 anos de trajetória no Pavilhão da Bienal e reuniu, mais de 190 expositores, como galeristas, colecionadores, entusiastas da arte e artistas consagrados e emergentes, proporcionando um panorama abrangente e diversificado do cenário artístico contemporâneo.
Com uma curadoria extensa e variada de obras que exploravam diferentes técnicas, estilos e temáticas, incluindo pinturas, esculturas, mobiliários, fotografias e instalações, a SP-Arte contribui significativamente para o fortalecimento do cenário artístico nacional e internacional.
A feira conta com exposições de doze países: Argentina, Brasil, Bolívia, Colômbia, Estados Unidos, Espanha, França, Inglaterra, Itália, México, Noruega e Uruguai.
O artista carioca Gabriel Wickbold — que participa da SP-Arte pela sétima vez este ano — revelou para a AGEMT o processo de criação de sua exposição: "Esse ano eu estou apresentando uma série inédita, chamada Maze, que é o labirinto. São fotografias antigas, distorcidas e impressas sob mangueiras de incêndio. Depois eu desmancho e tranço elas pra esconder certas partes e mostrar certas partes".
"Essa série fala sobre a nossa hereditariedade, o que a gente carrega de carga genética, e como a gente traz luz para esses espaços, para poder quebrar os ciclos de repetição da nossa vida", disse ele, sobre sua conexão com o tema.
Gabriel explicou que a série é inédita, e completou: "Está sendo muito legal, porque é bem diferente de tudo que eu já fiz. Um outro suporte, um outro tipo de imagem. E as pessoas estão, assim, impressionadas por eu ter me re-colocado de uma forma tão diferente"

Além das obras exibidas, o evento ofereceu uma programação diversa de palestras, debates e programas educacionais, promovendo o diálogo e a troca de ideias no campo da arte. Esse ambiente de troca de conhecimento enriquece ainda mais a experiência dos visitantes e contribui para a construção de um diálogo crítico e enriquecedor.

Foto: Helena Maluf.


Este ano, o foco recaiu sob a expressão artística como forma de reflexão e diálogo com questões sociais, políticas e ambientais, refletindo a diversidade e a complexidade do mundo atual.
Na vigésima edição da SP- Arte, fica evidente que a arte contemporânea continua a desafiar fronteiras e inspirar novas formas de expressão, consolidando São Paulo como um centro vital para o diálogo artístico global.