No dia 6 de março, a Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) aprovou o Projeto de Lei 498/2021, que reconhece o hip hop como patrimônio cultural imaterial do estado de São Paulo. A iniciativa legislativa se deu a partir da articulação da deputada Leci Brandão (PCdoB) em coautoria com Márcia Lia (PT), Márcio Nakashima (PDT) e Emídio de Souza (PT).
A necessidade de tal reconhecimento exposta pelos deputados é justificada pela grande importância do movimento cultural na vida dos jovens periféricos. A partir do hip hop, milhares de jovens são incentivados a vivenciar a cultura, os projetos sociais e econômicos de grande impacto que não são desenvolvidos pelo Estado, estimulando sua autoestima e autoconhecimento.
São Paulo não foi o pioneiro em tal movimentação legislativa. O reconhecimento da cultura hip hop como patrimônio cultural imaterial foi tema de discussão em 2023 em Brasília, com a aprovação da lei nº 97/2023, de autoria de Max Maciel (PSOL).
A popularização do rap e sua chegada ao mainstream
Nos últimos anos, é notória a constante crescente pela qual o estilo musical tem passado nas plataformas digitais, levando diversos artistas que antes não possuíam tal alcance ao posto de mainstream.
Segundo o site Trace Brasil, em agosto de 2023, 25% dos usuários do Spotify eram ouvintes de hip hop, 53 milhões das playlists eram compostas de músicas do gênero e dois bilhões de pessoas tinham pelo menos um hip hop salvo. A playlist “RapCaviar” é a mais ouvida do planeta e o Brasil está em terceiro lugar no ranking dos países que mais escutaram o gênero em 2023.
A realidade do hip hop nas ruas
Mesmo com todo esse crescimento, popularização e até reconhecimento institucional, a realidade dos artistas fora dos aplicativos de música é diferente. Cinco dias depois da aprovação do projeto de lei que reconheceu o hip hop como patrimônio cultural, a artista MC Kisha foi retirada à força de um vagão da CPTM e posteriormente agredida pelos próprios agentes de segurança do local enquanto rimava.
Ela e outras MC'S voltavam de um evento de rima realizado na zona sul de São Paulo, e na hora da agressão, contaram estar rimando e conversando sobre pautas sociais no transporte público.
A MC conta em entrevista ao UOL, já ter sofrido outras agressões pela mesma razão, mas nada tão brutal. No seu Instagram, Kisha publicou fotos de seu rosto inchado e das tranças, que foram arrancadas de sua cabeça. Na legenda, escreveu: “Pra quem me pergunta ‘Kisha, parou de rimar em trem?’ Tá aí sua resposta!”
Fora dos vagões do trem, na zona oeste da cidade, a tradição das rimas se mantém ativa. “Tem que ter coragem, não pode jogar toalha, toda quarta-feira tem Largo da Batalha”, cantam os MC's junto da plateia na praça ao lado do metrô Faria Lima. A competição é receptiva e repleta de discussões políticas. Os participantes se inscrevem na batalha em duplas e há sempre o ganhador do dia. Durante as rimas, o público interage com os Mc´s e demonstra sua satisfação. As votações são feitas com base nas palmas e na torcida do público.
Mano Jhowse, duas vezes ganhador do Largo da Batalha, apontou em sua entrevista à Agemt que o hip hop é, de início, um ambiente machista, "mas a gente tá em constante evolução para poder ser um espaço mais inclusivo, para que mais pessoas tenham acesso a essa cultura", concluiu.
Os organizadores do evento compartilharam com a plateia que todas as mulheres que haviam se inscrito para batalhar, tiveram a oportunidade de rimar. Mas Gisele Amâncio, mais conhecida como MC Girassol, ainda sente falta de mais representatividade durante as rimas. “Eles falam ‘é MC contra MC’ mas não é assim, porque se fosse tão justo, ia ter oito minas e oito manos na chave”, expõe à Agemt.
A artista do Grajaú relata ainda que já perdeu batalhas por falar da sua luta, "mas é isso, eu bato nesses cara tudo e não tô nem aí", brincou.
Apesar de alguns momentos de falta de luz na praça, a batalha foi finalizada. Sobre esse tipo de acontecimento, Jhowse relatou: "a questão é a seguinte: os espaços públicos são nossos, certo? A gente acredita que não é. Quando você domina um espaço público, de início, o sistema vai tentar te oprimir pra que isso não cresça, ainda mais porque as coisas que a gente fala aqui são contra o sistema capitalista, esse sistema de opressão".
Ele destaca, ainda, que o hip hop sempre foi um movimento de luta contra o Estado, e que isso tem como consequência uma reação de querer abafar a cultura de alguma maneira. "E a resistência depende de uma firmeza, de uma base, uma raíz bem fixada", finaliza.
Mano Jhowse após sua vitória no Largo da Batalha. Via: Instagram
Origem do hip hop
Diante do contexto de grande inseguridade social vivenciado pelos Estados Unidos nos anos 70, evidenciaram-se as diferenças sociais, os processos de discriminação racial e favorecimento do acesso à criminalidade e às drogas em diversos locais do país, mais especificamente no Bronx, bairro periférico de Nova York e futuro berço do hip hop.
Em oposição a esse cenário, a primeira festa de hip hop foi promovida em agosto de 1973, pelo DJ jamaicano Kool Herc e sua irmã Cindy Campbell. Conhecidos na época como Block Parties, estes eventos uniam técnicas de discotecagem inovadoras, mestres de cerimônia - os MC's - que rimam nessa batida e o break dance, interpretado pelos B boys e B girls. O grafitti também se comunicava diretamente com esse universo, operando como manifestação política nos muros da cidade.
Em novembro do mesmo ano, o DJ Afrika Bambaataa, outro alicerce do movimento, fundou a ONG chamada Zulu Nation, com o intuito de promover de maneira unificada e organizada as batalhas de rimas e em prol da valorização da juventude negra a partir do hip hop, afastando inúmeros jovens de envolvimento com o mundo do crime.
Além de Herc e Afrika Bambaataa, o terceiro pilar dessa cultura é o DJ Grandmaster Flash, responsável pela criação do beat box, que é a batida base para a composição dos raps e para a consolidação da importância do DJ no cenário.
A expressão "hip hop" é uma gíria na qual o termo "hip" significa "quadril", e "hop" designa "balançar", em referência às festas que deram origem a essa cultura. De maneira lúdica, a expressão promove o vínculo entre diversão e informação, funcionando como um chamado ao engajamento à vivência do cotidiano periférico.
O hip hop chegou com força no Brasil dez anos depois, com o álbum “Hip-Hop Cultura de Rua”, que contou com a participação de diversos nomes emblemáticos para o movimento no país, como Thaíde, DJ Hum, O Credo, Código 13 e outros.
A concentração dos adeptos do hip hop acontecia principalmente no centro de São Paulo, entre o Viaduto do Chá, a Estação São Bento e a Rua 24 de maio, em manifestações como rodas de break dance, como a Roda do Nelsão, pioneira nacional idealizada por Nelson triunfo.
Desde a sua origem, o hip hop surge como um estilo de arte de denúncia da realidade. Nas letras dos raps, são comuns temas como a exclusão social, o racismo e as violências estatais sofridas por uma grande parcela da população diariamente - muitas vezes com o objetivo de conscientização e politização do ouvinte.
Estes princípios, enraizados ao movimento há 50 anos, ainda se mantêm como norte para os artistas e todos aqueles adeptos da cultura. "Eu quero que tenha liberdade pra gente poder, de fato, estar em todos os lugares, em todas as praças e ser respeitado. Que a gente transmita mais cultura e que não seja oprimido, mas essa é uma luta que tem que ter muita consciência de classe, união, e todo mundo com o mesmo objetivo. É difícil, mas existe resultado pelo movimento que a gente faz, e a gente tira muito mais gente do crime do que a própria organização do Estado, então de fato a gente está aqui pela mudança", finaliza Mano Jhowse para a Agemt.
O Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo (SP), apresenta a exposição “Pequenas Áfricas: o Rio que o samba inventou”. Em cartaz até 21 de abril, a exibição celebra as comunidades afrodescendentes que, entre os anos 1910 e 1940, criaram e consolidaram o samba urbano no Brasil e no mundo.

Através de fotos, gravações, áudios, documentos e obras dos acervos do IMS e de outras instituições, a mostra dialoga para além dos aspectos históricos. As complexas redes de trabalho, solidariedade, espiritualidade e a música: dos terreiros, quintais e escolas de samba são só alguns dos temas abordados.
“Esta exposição parte da música para percorrer a intrincada rede de encontros, trocas e conflitos que ali se formou na primeira metade do século 20. Consciência política, religiosidade e solidariedade são inseparáveis da sofisticada produção artística que se espraia no espaço - ganhando uma cidade, o país e o mundo - e no tempo, ainda hoje pulsante em seu espírito dissidente de um país racista e desigual,” pontua o time de curadoria no começo da exposição.

DO PORTO AS ESCOLAS DE SAMBA
O título da mostra faz alusão ao termo criado pelo artista Heitor dos Prazeres para se referir à região da Zona Portuária do Rio de Janeiro, no século 20. Ao longo dos aproximadamente 380 itens, o conceito é compreendido como uma construção política e ampliado para outras áreas da cidade.
O primeiro andar apresenta o lugar onde tudo começou: o Complexo do Cais do Valongo, maior porto escravista da história, que recebeu cerca de 1 milhão de africanos escravizados e vindos forçados para o Rio de Janeiro.
A exposição reúne documentos, imagens e reportagens da Praça Onze, capital da Pequena África. O local foi habitado, no começo do século 20, por uma população de afrodescendentes, imigrantes judeus, italianos e ciganos. Foi nas regiões próximas dali que se fundou a primeira escola de samba e onde aconteceu o primeiro desfile das agremiações.

Além disso, são mostrados itens, documentos e reportagens como: o violão de Donga, a partitura de Pelo Telefone, os registros da turnê dos Oito Batutas em Paris em 1922 e algumas pinturas do artista Heitor Prazeres. Também é evidenciada a atuação das “Tias” – mulheres negras e mais velhas – na construção do samba carioca.
O segundo andar é focado nas práticas cotidianas da época. Reunindo fotos, auto falantes, discos de vinil, máquinas de escrever, medalhas, entre outros itens de valor histórico, a exposição mostra a influência das escolas de samba no passado e presente. A mostra termina com um grande painel que evidencia as conexões entre sambistas de diferentes gerações.

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SAIBA MAIS
Visitação: até 21 de abril de 2024
Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h
Local: IMS Paulista, 7º e 8º andar | Entrada gratuita
Avenida Paulista, 2424 – São Paulo

O centro de entretenimento online Podpah e a Batalha da Aldeia firmaram parceria para transmitir as competições de rimas que acontecem em Barueri (SP) desde 2016. A parceria foi anunciada no dia 27 de Março e tem como estratégia proporcionar melhor infraestrutura técnica para transmissão de torneios, que agora serão feitas exclusivamente no YouTube, e facilitar a ativação de marcas que já possuem relacionamento com o Podpah. Mítico e seu parceiro Igão se preparam para ajudar a cena do hip-hop no Brasil com sua visibilidade e capacidade de alavancar carreiras dos MCs que precisam de destaque no seu trabalho. Eles contam ainda com Victor Assis, CEO do podcast, que vai ser um dos sócios para a Batalha da Aldeia. O objetivo é valorizar e popularizar ainda mais essa cena tão comum nas periferias brasileiras.
Mítico disse no podcast que essa grande parceria pode ajudar os MCs a construírem uma carreira com o alcance que o PodPah tem: “Atrás disso existe a parada social, mas também penso pelo lado artístico. Por exemplo, se uma batalha viralizar aqui no Podpah, várias pessoas que não estavam acompanhando a Aldeia vão se apegar naquele MC, talvez uma rima, um fatality, seja tão bom que pode criar uma carreira para ele. A gente já trabalhou com mais de cem marcas, tem umas 50 salas aqui, faz um estúdio para os MCs. Para que tenham uma carreira de sucesso”, destaca o paraense.
A Batalha da Aldeia, que conta com 4,5 milhões de assinantes no YouTube, reúne anualmente jovens rimadores num só espetáculo, acontece toda segunda-feira às 20:00 e agora com premiação de 10 mil reais, com uma média de 5 mil espectadores por duelo. Anfitriões como Salvador, Kant, Mikezin e Krawk já passaram por lá.
A primeira batalha com a nova parceria aconteceu nesta segunda-feira (08/04) e foi de duplas. Big Mike, o único campeão nacional de São Paulo, e Prado, revelação de 2023 conhecido como monstro da norte, foram campeões da noite levando R$10.000 pra casa ao enfrentar Neo, que foi destaque da BDA 6 anos(batalha de aniversário da aldeia) e recém contratado da NGC RECORDS, e Salvador, um dos maiores MCs da Aldeia e artista de funk e rap na grande final.

Na tarde desta terça-feira (09) Pabllo Vittar realizou uma listening party para mais de 300 pessoas, em parceria com a Apple Music, para iniciar a divulgação de “Batidão Tropical Vol. 2”, novo álbum da artista. Ingressos foram distribuídos através da sua central no X para os fãs ouvirem o álbum horas antes do lançamento oficial no Cinema Marquise junto a Drag Queen.
O álbum é a sequência do “Batidão Tropical”, obra lançada durante a pandemia, que surpreendeu os fãs ao trazer músicas com características das sonoridades do norte e nordeste do país. Estão presentes ritmos como o tecnobrega com a energética “Triste com T” e regravações de canções de bandas locais, como a de “Zap Zum” da Companhia do Calypso. Música que viralizou durante as Olimpíadas de Tóquio em 2021 através de vídeos feitos pelo jogador Douglas Souza do time brasileiro de vôlei, chegando até a tocar durante um dos jogos da seleção.
Eleito um dos melhores álbuns de 2021 pela APCA, o disco agradou público e crítica e iniciou um movimento nas redes pedindo sua continuação. Após dois anos do lançamento do original, o volume dois chegou e os vittarlovers conferiram as 11 faixas, incluindo duas já conhecidas pelo público, “Pede Pra Eu Ficar (Listen To Your Heart)” e “Ai Ai Ai Mega Príncipe”, uma inédita, “Idiota” e a gravação ainda conta com 3 músicas bloqueadas.
não acredito que depois de tanta espera finalmente chegamos no dia do lançamento do batidão tropical vol. 2pic.twitter.com/x8up6JO74P
— vitor 🚀 (@normanivittar) April 9, 2024
Na audição Vittar se mostrou alegre com resultado dos vídeos que ilustram a atmosfera construída pela sonoridade e resgata visuais dos anos 2000, época em que as composições repaginadas no volume dois se popularizaram. A Queen afirmou, em uma rodada de perguntas dos fãs durante o evento, que as 3 canções bloqueadas são colaborações. O cantor Nattanzinho já confirmou por meio de seu Instagram que irá lançar algo com a drag gerando expectativas sobre sua participação em uma das canções. Além disso, ela disse que seu visualizer favorito de gravar foi “Me Usa”, originalmente da Banda Magníficos.
O ponto alto do álbum é a nova “Idiota”. Em entrevista ao Papel Pop, Pabllo conta que a faixa está pronta a dois anos, contudo, a produção inicialmente era um sertanejo, mas teve um trecho vazado a um ano atrás. O que foi sua motivação para mudar o ritmo e transformá-la em um melancólico e ao mesmo tempo energético forró que fez todos os ouvintes levantarem de suas poltronas durante a audição no cinema para apreciar finalmente - e oficialmente - o que os fãs chamaram de hino.
A artista demonstra sua originalidade e visão em “Não Desligue o Telefone”, originalmente de Tony Guerra. Na sua versão, ela não se limita em reproduzir o original e imprime sua identidade fundindo suas referências pop eletrônicas com o forró. Uma excelente regravação que evoca os trabalhos de Charli XCX, se esta tivesse nascido no Maranhão nos anos 90, assim como a cantora pop brasileira.
O “Batidão Tropical vol. 2” cumpre uma função cultural ao preservar ritmos populares brasileiros e composições que já foram regravadas anteriormente. Como é o caso de “Rubi”, da Banda Ravelly que ficou famosa em todo Brasil na voz da Banda Djavu e agora ressurge para uma nova geração pela voz de Pabllo Vittar. Com o álbum, Vittar mantém viva a memória sem abdicar da sua assinatura pessoal, mostrando seu poder ao reinventar clássicos, seja em suas performances vibrantes, sonoridades únicas ou clipes inovadores.
“Nosso objetivo é transmitir vividamente a beleza e o charme da Coreia pela visão dos brasileiros. Por meio de seus valiosos registros, além de pôsteres de pessoas que sonham em visitar o nosso país” explicou o diretor do centro, Cheul Hong Kim, em comentário oficial. Com o apoio da Organização de Turismo da Coreia, de 17 de março a 28 maio, o Centro Cultural Coreano contará com a exposição gratuita de fotos, vídeos e cartazes enviados por brasileiros durante seu período na Coreia do Sul.
Responsável pela curadoria da exibição, Sang Hyop Park, selecionou registros das viagens de mais de 290 brasileiros das muito mais que foram enviadas ao concurso público de seleção que ocorreu entre janeiro e fevereiro de 2024. A exibição funciona de forma imersiva ao expor os visitantes a registros por todos os lados. Fotografias ficam expostas em pilares, posteres ficam nas paredes. Enquanto as televisões espalhadas passam ciclicamente os pequenos vídeos.
Durante a inauguração, foram anunciados os melhores de cada categoria que foram premiados com dinheiro. Carolina Ribeiro ganhou melhor pôster, categoria exclusiva para aqueles que não conhecem, mas desejam visitar a Coreia do Sul. Melhor vídeo foi para Amanda Lippert Silva, já Vitor Barros Quinet levou a melhor foto. “É para você que já conhece a Coreia, e para você que não conhece abrir todo um mar de possibilidades, de conteúdo para absorver. Acho que tá imperdível” disse ele durante a inauguração. Assim, a visita traz a experiência de conhecer outro país por meio das obras. É o convite para uma viagem internacional no meio de uma das avenidas mais movimentadas de São Paulo.
- Endereço: Av. Paulista, 460
- Horário de Funcionamento: Seg-Sex: 10:00 – 19:00 e Sábado: 12:00 - 18:00
- Para mais informações acesse: https://brazil.korean-culture.org/pt








