São Paulo foi palco de diversas violações dos direitos humanos durante o golpe, estabeleceu-se como um dos principais centros de repressão política e prática (institucionalizada) de crimes contra a humanidade cometidos no Brasil naquele período. Desde os times de futebol até as instituições de ensino da cidade, tudo está ligado historicamente ao regime militar.
Futebol e a ditadura tiveram grande relação durante o período do golpe, através de um comunicado oficial emitido em nome do São Paulo Futebol Clube, onde expressam congratulações à chegada de um presidente militar ao poder e apoio à "caminhada revolucionária" que representava. A carta também expressa apoio e homenagem ao governante militar, retratando-o como alguém que tem feito muito pelo país. Isso sugere uma posição de alinhamento do clube com os valores e interesses do regime autoritário.
No entanto, notar que outros clubes brasileiros também estiveram envolvidos em situações semelhantes também é importante. Essas associações dos clubes com regimes autoritários não significam necessariamente que os clubes em si ou seus torcedores compartilhem dessas ideologias. Destaca-se a complexidade das relações entre dirigentes de clubes de futebol e regimes autoritários, sugerindo que esses clubes podem ter sido influenciados por essas associações.
Em relação ao governo do estado, a Operação Bandeirante ou Oban, por exemplo, foi instituída sem fundamento legal, em 1º de julho de 1969, o que certamente convinha para um aparato criado para cometer crimes em nome do Estado. Com o sucesso da Oban no combate à guerrilha urbana, o sistema foi replicado em outros Estados e legalizado. O Prefeito de São Paulo na época, Paulo Salim Maluf, compareceu à cerimônia de inauguração da Oban. Deve-se lembrar que Maluf defendia a inclusão do AI-5 na Constituição.
A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, também teve grande impacto histórico durante a ditadura, e 60 anos depois, como forma de registrar a oposição dessa instituição, foi iniciada uma exposição no Memorial da Resistência. A mostra integra discussões sobre a memória dos períodos autoritários e como isso reverbera no presente.

Nos anos 70 a PUC-SP assumia posições políticas mais progressivas e destacava-se no cenário político nacional. A invasão da universidade durante o III Encontro Nacional de Estudantes (ENE) resultou em um violento confronto entre estudantes e forças policiais. Apesar da oposição da Reitoria, os alunos decidiram realizar um ato público na frente do Teatro da Universidade.
A operação policial, coordenada pelo Secretário de Segurança, utilizou bombas tóxicas e cassetetes elétricos, dispersando a concentração estudantil. Cerca de 900 estudantes foram detidos, alguns enquadrados na Lei de Segurança Nacional. O incidente deixou feridos e marcas de violência no campus, com relatos de agressões a professores, estudantes e até mesmo pessoas presentes na biblioteca.
Apesar das violações dos direitos humanos e da repressão, São Paulo também é lembrada por gestos de resistência e luta pela democracia. O legado desses tempos sombrios permanece vivo na memória da cidade, inspirando uma contínua busca por justiça e liberdade.
Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.
O Memorial da Resistência é um museu do estado de São Paulo que preserva as repressões políticas, mas além disso esclarece a força e coragem das pessoas que resistiram aos acontecimentos. Contudo, não serve apenas para ensinar como a história ocorreu, em conjunto mostra o que aconteceu, como as marcas nas paredes não ficaram apenas lá, mas foram carregadas por tantas gerações e por todas as pessoas que sofreram naqueles anos. A exposição de longa duração permite esclarecer um pouco sobre como foram os tempos para os que permaneceram em suas celas durante a ditadura.
Localizado no centro de São Paulo, o museu proporciona uma experiência chocante e realista que mexe com todas suas emoções, esclarecendo como as atrocidades cometidas eram de fato um ferimento aos direitos humanos, segundo o Relatório da Comissão da Verdade da Prefeitura de São Paulo, “Pelo menos 50 pessoas foram mortas, sob tortura, entre 1969 e 1975, na sede da Oban e do DOI-Codi de São Paulo, local edificado com a colaboração do então prefeito de São Paulo e apelidado de “sucursal do inferno”. Mas apesar de ser uma energia dolorida, também é possível sentir cada parte das atitudes de resistência e coragem.

Foto: Nicole Domingos.
É possível notar que todos os nomes que foram escritos nas celas serviam para mostrar que seres humanos estavam lá, lembrar que as marcas que eles deixaram no mundo é tão permanente como as marcas que foram deixadas em cada um deles. A aluna de jornalismo, Nathalia de Moura ficou realmente mexida com a realidade que aparenta ser tão distante para sua geração, “A situação em si é forte e pesada, mas ver aqueles registros nas paredes e estar ali no local em que tudo ocorreu me fez imaginar a realidade daquelas pessoas”.
Com a quantidade de documentos e informações acessíveis no memorial é possível saber que aqueles que estavam presos eram extremamente mal tratados e machucados, recebiam comida uma vez por dia e eram os únicos que se preocupavam com o mínimo de higiene. No banheiro de cada cela havia apenas uma luz bem fraca, em um dos relatos disponíveis nas paredes das celas, foi deixado claro as condições precárias às quais eram submetidos, “Tinha uma piazinha que era pra gente escovar os dentes, banhar o rosto… O chuveiro, na verdade, era um cano que saia água gelada”.
Com isso é possível ver, aquelas pessoas sofreram e passaram por muitas coisas para os dias de hoje serem como são, por mais que as escolas ensinam muito sobre o tópico, nunca vai ser suficiente para mostrar tudo o que realmente foi passado, a história ensina o que não pode ser feito, basta as pessoas quererem entender e fazer uma nova história.
Essa matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.
Localizado em um edifício de arquitetura secular na Santa Ifigênia, centro histórico de São Paulo, um convidativo ambiente anuncia por meio de placas que se está entrando em um lugar carregado de significados. Eis o Memorial da Resistência de São Paulo. Administrado pela prefeitura, o local que serviu como centro carcerário e de tortura durante o regime golpista, hoje é um espaço dedicado a relembrar esse condenável momento da história do Brasil.
Estrutura histórica
Após passar pela bilheteria e adquirir seus ingressos, os quais são gratuitos e também podem ser reservados pelo site do museu, a detalhada e interativa exposição começa. Organizada em quatro módulos, os visitantes têm a oportunidade de ler cartas e escutar depoimentos de pessoas que ali foram confinadas e torturadas, além de poderem entrar nas quatro celas do antigo Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo – Deops/SP, e no corredor onde os presos tomavam banho de sol.
Com a explicativa jornada proporcionada pelos escritos nas paredes da instalação, que remontam desde antes do golpe militar de 1964, até o começo da última década, uma viagem no tempo é possível. Mais adiante a atmosfera pesa e um desconforto pode ser sentido diante dos relatos e dados expostos nas celas de como era viver em um ambiente tão pequeno mas que comportava entre 16 e 18 presos segundo a organização da mostra. “O que mais me impactou nas celas foi o banheiro, que tinha só uma luz bem fraca. Eles viviam praticamente no escuro”, conta Victoria da Silva, estudante de jornalismo.

Além disso, nos dois corredores do desativado complexo penitenciário, os sentimentos de quem ali permaneceu por anos são trazidos à tona, como o medo e a esperança. O material audiovisual disponibilizado também impacta ao narrar histórias de figuras que foram torturadas no Deops durante a ditadura militar, e para quem prefere o analógico, cartas e bilhetes de presos estão disponíveis para leitura logo ao lado das entradas das celas.
Local de Memória
Apesar do espaço criado em 2009 ter como objetivo mostrar as atrocidades cometidas pelos militares de forma geral no país e chamar a atenção para a necessidade de valorizar a democracia e os direitos humanos, com relatos de pessoas de vários estados, o foco do local é o papel de São Paulo no regime militar. Como se deram as perseguições e prisões na cidade, e as articulações entre políticos e militares antes, durante e após a ditadura.
Iniciado oficialmente em 31 de março de 1964 e concretizado em 1 de abril, o golpe militar foi possibilitado perante o apoio, convivência e traição por parte de agentes públicos e atores civis. Segundo o Relatório da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, militares instalados na cidade como Amaury Kruel, comandante do II Exército, empresas com sede no estado como Pfizer, Volkswagen e Eucatex, e movimentos civis realizados em São Paulo como A Marcha da Família Com Deus Pela Liberdade, foram ímpares a concretização do golpe, e a exposição trata do papel de destaque paulista.

Funcionando todos os dias da semana das 10h às 18h, exceto às terças-feiras, o Memorial da Resistência ainda conta com as exposições temporárias Resistências na PUC-SP e Mulheres em Luta, ambas em relação à ditadura militar. De fácil acesso por trem, metrô e ônibus, o museu se traduz como um farol de luta e memória no centro de São Paulo que grita por aqueles violentados e assassinados por buscarem liberdade, respeito ou qualquer coisa que não fosse a tirania. Um local de reflexão e recordação a respeito de uma época inesquecível que deve ficar no passado.
Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.
No ano em que se completam os 60 anos do Golpe Militar de 1964, um dos períodos mais trágicos da história da política brasileira, o Memorial da Resistência de São Paulo, museu da Secretaria de Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo organiza uma exposição temporária que mostra o papel das mulheres nesse período. “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política” conta com a curadoria da pesquisadora Ana Patos e registra através de fotos, frases e depoimentos como foi a atuação das mulheres vítimas da Ditadura e relata a luta da União das Mulheres de São Paulo em busca de seus direitos naquela época.
Localizado na região central de São Paulo, próximo à Estação da Luz e do Museu da Língua Portuguesa, o Memorial da Resistência inaugura mais uma exposição sobre os tempos da Ditadura Militar, mas sob uma perspectiva diferente desse período. A intenção dessa mostra é focar na figura da mulher em meio a tanta tortura e represália, mostrando a união das mulheres. A busca por seus direitos e as manifestações a favor dos presos políticos mostram a força que esse grupo possuía desde esse tempo.
Com a vasta opção de arquivos, é possível conhecer e contemplar a história de diversas mulheres. Pode-se destacar a de Inês Etienne Romeu (1942-2015), a única sobrevivente da Casa da Morte de Petrópolis-RJ, um centro clandestino criado pelo Centro de Informações do Exército (CIE) para torturar pessoas contrárias ao regime militar. Através do depoimento de Inês à Comissão Nacional da Verdade (CNV), foi possível saber quem atuava na Casa da Morte. Fica disponível ao visitante da exposição ler sobre cada torturador, cada preso e o que ocorria em determinado lugar.
Cada espaço possui imagens marcantes, textos e áudios explicativos e até mesmo alguns poemas da sergipana, pensadora negra, poeta e militante Beatriz Nascimento, que retrata bem as formas de resistência à violência e impunidade.

Os grupos femininos de militância se tornaram mais fortes em meados dos anos 70. As ideias do Clube de Mães da Zona Sul e as pautas femininas da União de Mulheres de São Paulo conversavam entre si e buscavam, principalmente, moradias dignas, educação e saúde. A força política dessas mulheres se uniu a outras causas, como as da comunidade LGBTQIA+.
Até hoje, a União de Mulheres de São Paulo segue defendendo e atuando em prol dos direitos femininos. Há 40 anos de sua fundação, a associação preza em chamar atenção aos desafios enfrentados ao longo do tempo, buscando a igualdade entre os gêneros.

Segundo o Relatório da Comissão da Memória e Verdade da Prefeitura de São Paulo, a junção das feministas com os movimentos populares e sociais, dirigidos por mulheres ou com presença massiva dessas em seus quadros, aumentou as reivindicações desses movimentos quando começaram a acrescentar à luta inicial e outras dimensões da luta política, como o debate da dupla jornada de trabalho, da necessidade de socialização do trabalho doméstico, do salário igual para trabalho igual e da transformação da qualidade da relação entre homens e mulheres.
No tocante ao movimento pela Anistia, também as mulheres foram pioneiras: Therezinha Zerbini, esposa do general Euryale de Jesus Zerbini - transferido forçadamente à reserva em 1964 por ter-se mantido fiel a João Goulart - fundou em São Paulo o Movimento Feminino pela Anistia (MFPA) em 1975. Ela dizia que “a anistia não cai do céu, é uma guerra política” e é justamente o que aquelas filhas, mães e avós lutavam e reivindicavam naqueles anos.

A estudante de Jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) Nicole Domingos relatou que a experiência na exposição foi muito esclarecedora e a fez entender sobre a história e as lutas das mulheres naquele período. “É uma história linda e cheia de dor que podemos sentir como mulher, mas nunca entenderemos o que foi estar lá para chegarmos até aqui”, declarou a estudante.

Nicole também cita que ver a participação de diversas mulheres é importante para entendermos que, mesmo não estando nos livros de história, elas estavam na linha de frente. “Digo isso por todas as Marias, Teresas e Joanas que li naquelas paredes. [...] Descobri que sou grata a milhares de mulheres que não sei o nome, mas sei a luta”, finaliza.
Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.
No ano em que o golpe militar de 1964 completa seis décadas, é momento de relembrar uma série de eventos que foram ocultados do grande público em decorrência da censura imposta diante do regime militar. Com tal data simbólica se aproximando, o Memorial da Resistência, junto com a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) trouxeram uma exposição que relembra aos visitantes o papel da luta pela democracia por parte da Universidade paulistana, e atos repugnantes cometidos pelo governo vigente com ela.
Uma testemunha ocular importantíssima de muitas lutas lideradas pela PUC-SP contra a ditadura, foi o teatro da Universidade – O Teatro Da Universidade Católica (TUCA). Inaugurado em 1965 com a peça “Morte e vida Severina” de João Cabral De Melo Neto, o TUCA permaneceu desde sua criação até a queda de Figueiredo 1985 sendo um palco de diversas lutas libertarias em meio a censura imposta as universidades da época.

Em 1968, no ano em que se instaurou o Ato Constitucional Número 5 (AI5) o teatro presenciou Caetano Veloso cantar “É proibido proibir” em um dos momentos mais críticos do regime militar. Sem mencionar outras peças e discursos de docentes expulsos de outras universidades por ferirem as leis autoritárias do regime ditatorial.
Após uma série de protestos e reivindicações por parte da PUCSP, os militares algum momento reagiria, para tentar silenciar as vozes de alunos e funcionários indignados com a situação do país. Em 1977, 9 anos após o teatro ouvir a voz de Caetano Veloso ecoando “É proibido proibir” a universidade é invadida pelas forças golpistas. Os alunos foram conduzidos a um estacionamento próximo a Universidade, e 80 deles levados presos por violarem as leis ditatoriais. O TUCA também foi invadido nessa incursão a Universidade, contudo não sofreu nenhum grande dano em meio a invasão.
TUCA IMORTAL:

Em 1984, um ano antes da queda de João Figueiredo, houve um incêndio no Teatro, sem deixar vítimas pois o fogo se alastrou durante um intervalo entre dois espetáculos carbonizando o teatro por inteiro. Com às investigações constatou-se que as chamas eram resultado de uma falha termoelétrica. Contudo, até hoje acredita-se que o fogo não foi em decorrência de um acidente, mas que na verdade ele teria sido um ataque proposital. No dia em que o TUCA ardeu até quase sua última coluna, os alunos faziam um ato sobre os 7 anos da grande invasão de 1977, e as suspeitas apontam que grupos alinhados ao governo ditatorial teriam se reunido com alunos da própria universidade para realizar tal ato criminoso. Nas palavras do Pós reitor vigente, Padre Edenio Valle: “O incêndio de setembro de 1984 foi um “atentado terrorista que” deu certo". Era o dia do sétimo aniversário da grande invasão. Enquanto na rampa se comemorava a vitória da PUC, um grupo da extrema direita, provavelmente com elementos da própria Universidade, tramou e executou uma manobra bem mais profissional da qual resultou um terceiro incêndio nascido em vários focos simultâneos.”
O TUCA, presenciou diversos eventos importantíssimos para a história do Brasil. Desde peças que contestavam o regime ditatorial vigente, até invasões e incêndios. E em suas paredes até hoje queimadas, não permite os alunos e professores esqueçam o que aconteceu ali. O local por si só revela a dura e triste realidade da opressão no país que durou mais de 20 anos. Mas também expõe que muitas pessoas não se conformaram caladas com as atrocidades cometidas pela ditadura, ele expõe que muitos se levantaram e lutaram, contra uma realidade barbara e desumana, e assim ele ficará marcado na história.