A cidade de São Paulo teve grande influência da cafeicultura. Em 1850 o país dependia diretamente da produção de café que era exportado e muito bem pago. O estado de SP era considerado rural, porém, no fim do século XIX, sua população aumentou significativamente com a chegada dos imigrantes que buscavam trabalho nos centros urbanos.
A capital paulista passou a receber indústrias e, por volta de 1920, ficou conhecida como o centro industrial mais importante do país. Em 2005 foi instituído o dia Nacional do café, 24 de maio, no calendário de eventos brasileiro. Em comemoração a data, o Instituto Biológico realiza o evento "sabor da colheita", com muita história, shows e degustação. A entrada é gratuita.
Para os interessados em participar da colheita, é necessário se inscrever antecipadamente pelo link oficial
http://www.biologico.sp.gov.br/page/cafezal-do-instituto-biologico.
A 19ª edição da Virada Cultural aconteceu neste final de semana, este ano, a Prefeitura continuou com o formato da edição anterior e o evento foi descentralizado. Foram 12 arenas espalhadas pelas zonas norte, sul, centro, leste e oeste. A programação contou com shows, filmes, apresentações teatrais e ocupou não apenas as ruas da capital paulista, como também os museus, Casas de Cultura e Sesc.














O Festival de Cinema de Cannes acontece anualmente, na cidade que dá nome ao evento, no sul da França. Durante os 12 dias do evento, de 14 a 25 de maio, ele reúne produtores, compradores, distribuidores, atores e diretores, como um encontro de negócios da indústria cinematográfica.
O evento conta com mostras, homenagens e exposições, sendo a Seleção Oficial de filmes a principal. Dos mais de 50 títulos exibidos no festival, 22 concorrem à Palma de Ouro, premiação de grande notoriedade do próprio festival. Como é o caso do cineasta cearense, Karim Aïnouz, que representa o Brasil com “Motel Destino”, que tem estreia marcada para terça-feira (22/05).
Na 77ª edição, o júri é composto pela Greta Gerwig, diretora de Barbie, como presidente e outros oito nomes de peso do cinema mundial, incluindo: Ebru Ceylan (Sono de Inverno), roteirista e fotógrafa turca; Lily Gladstone (Assassinos da Lua das Flores), atriz norte-americana; Eva Green (Os Luminares), atriz francesa; Nadine Labaki(Perfeitos Desconhecidos), atriz libanesa; Juan Antonio Bayona (Sociedade da Neve), diretor, produtor e roteirista espanhol; Pierfrancesco Favino (Comandante), ator italiano; Kore-Eda Hirokazu (Kaibutsu), diretor japonês; e Omar Sy (Lupin), ator e produtor francês.

Os membros terão a tarefa de escolher entre os 22 filmes em competição para atribuir a Palma de Ouro, bem como outros prémios de prestígio - o Grande Prémio, o Prémio do Júri, o Prémio do Realizador, o Prémio do Argumento e os Prémios de Melhor Ator e Melhor Atriz.
Brasil se faz presente
Nesta edição, sete produções nacionais foram selecionadas para exibição: os longas Motel Destino, A Queda do Céu e Baby. Como curtas: Amarela e A Menina e o Pote. Já como documentário A Casa da Árvore e o clássico restaurado Bye, Bye, Brasil.
O cineasta brasileiro Flávio Ermírio chega ao Festival de Cannes apresentando A Casa da Árvore, que foi exibido neste domingo (19/5) na oficial Blood Window, plataforma que apresenta filmes latinos de terror, suspense e fantasia. O filme acompanha a história de uma bióloga, que conduz uma pesquisa eticamente questionável. Ela contrata um caseiro para ajudá-la, mas descobre que o homem também esconde alguns segredos. Na trama, a bióloga, então, é levada ao limite para revelar tudo que esconde.
Na Quinzena dos Cineastas, os brasileiros Eryk Rocha e Gabriela Carneiro apresentam o documentário “A queda do céu”, que acompanha a vida de uma aldeia dos yanomami no coração da floresta, onde uma etnia de cerca de 30 mil indígenas vive em seu território, mas regularmente sofre com as invasões de garimpeiros e madeireiros.

Apesar de ser feito por um americano, Oliver Stone (Nuclear Now), o documentário “Lula”, exibido no domingo (19) na mostra de Sessões Especiais, ainda é relevante para o público brasileiro. A trama traz um retrato íntimo e político do atual presidente Luiz Inácio da Silva, que tem como eixo central a sua prisão, no âmbito da Operação Lava Jato, em 2018, até seu retorno ao poder, em 2022, após 580 dias na cadeia. O filme está concorrendo ao Olho de Ouro, prêmio para filmes do gênero.
Homenagens
A escolha dos homenageados é feita a partir da relevância que estes tiveram no meio cinematográfico, como a inovação nos roteiros e cenários (George Lucas), nas animações (A Viagem de Chihiro) ou pautas levantadas e espaços conquistados (Meryl Streep), durante sua carreira.Esse ano, os três escolhidos pelo evento foram, a atriz Meryl Streep, o diretot George Lucas e o Studio Ghibli, sendo a primeira vez que Cannes faz uma homenagem coletiva.
Meryl Streep (Dama de Ferro), já recebeu 21 indicações ao Oscar e levou três estatuetas para casa. A homenagem ocorre 35 anos depois de seu prêmio como Melhor Atriz por “Um Grito no Escuro”, em 1989, na sua única aparição em Cannes antes dessa edição.

Foto: Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty Images
George Lucas (Star Wars) é diretor, roteirista e produtor, foi um dos pioneiros da indústria de efeitos visuais. Com a saga “Star Wars”, imaginou um universo inteiro, e se tornou um marco cultural no mundo todo, também foi um dos criadores de "Indiana Jones”.
O Studio Ghibli (O menino e a Garça), é um estúdio de animações japonesas, fundado há 40 anos por Hayao Miyazaki, Isao Takahata, Toshio Suzuki e Yasuyoshi Tokuma, e se tornou um dos ícones mundiais do cinema de animação.
1° dia (14/05)
O Festival começou com a apresentação dos jurados e uma homenagem à presidente do júri, Greta, com exibição de um clipe com os seus trabalhos na atuação (Frances Há e Mistress America) e direção (Lady Bird, Adoráveis Mulheres e Barbie). Em seguida, Juliette Binoche (O Sabor da Vida), entregou a Palma de Ouro honorária à Meryl Streep e a agradeceu pela visibilidade dada às mulheres durante o meio século de carreira no teatro e na televisão.
Ao final da cerimônia, foi feita a apresentação do filme de abertura do Festival, uma comédia que discute o processo criativo e os bastidores do cinema, “O Segundo Ato”, de Quentin Dupieux. O filme conta a história de uma filha que quer apresentar ao seu pai, o homem por quem está apaixonada, ele por sua vez quer empurrá-la para um amigo. Segundo os personagens que também são atores, o filme que estão interpretando é dirigido e escrito por inteligência artificial, sendo essa uma das várias críticas de Dupieux ao longo da trama.

2° dia (15/05)
Dando início às mostras que estão competindo pela Palma de Ouro, “Diamante Bruto”, é a estreia da francesa Agathe Riedinger, no qual ela reflete e critica os conceitos de feminilidade na contemporaneidade. O longa fala sobre Liane, jovem que mora com a mãe e a irmã em Fréjus, no sul da França, que é consumida por aspirações de beleza e estrelato.

Foto: Daniele Venturelli / Getty Imagens
O sueco Magnus von Horn(Suor), exibe "A Garota com a Agulha”, o filme se passa em 1919, onde uma jovem trabalhadora fica desempregada e grávida. Até que ela conhece Dagmar, que dirige uma agência clandestina de adoção.
3° dia (16/05)
A inglesa Andrea Arnold (Wasp), chega a Cannes com um filme cheio de alegorias animais. “Pássaro” conta sobre Bailey, que vive com seu irmão e seu pai, que os cria sozinho em um alojamento no norte de Kent. Por se revoltar contra a nova união do pai Bailey procura atenção e aventura em outros lugares se aproximando de um estranho que acaba de chegar ao bairro (Bird).

Francis Ford Coppola (Virgínia), o americano traz “Megalopolis”, um filme se passa em Nova York, onde uma mulher está dividida entre a lealdade ao pai, que tem uma visão clássica da sociedade, e ao amante, que é mais progressista e pronto para o futuro.
4° dia (17/05)
O Americano Paul Schrader (Fé Corrompida), exibe "Oh, Canada", que fala sobre Leonard Fife, um dos sessenta mil jovens que fugiram para o Canadá para não servirem ao exército na guerra do Vietnã. A história começa anos depois, Leonard é um documentarista que conta a sua história diante das câmeras, refletindo sobre sua vida e a morte.

O grego Yorgos Lanthimos (Pobres Criaturas), exibe "Tipos de Gentileza", que é a junção de três histórias curtas: Um homem procura libertar-se do seu caminho predeterminado, um policial questiona o comportamento da sua esposa após um suposto afogamento e a busca de uma mulher para localizar um indivíduo profetizado para se tornar um guia espiritual.
O romeno Emanuel Parvu (Consequências Irreversíveis), estreia em Cannes com “Três quilómetros até o fim do mundo”. O filme fala sobre um homem endividado, que vive em uma vila remota, e acaba de perder o emprego, mas conservador e mantendo o que chama de valores tradicionais, ele fica desesperado quando seu filho é espancado na rua e muda de perspectiva quando descobre que o menino é gay.
5° dia (18/05)
O diretor chinês, Jia Zhangke (Amor até as cinzas) está em sua sétima passagem pelo festival, neste ano ele traz “Apanhados pela maré”, que conta uma história de amor ao longo de anos, que se mistura com a história da China, começando no ano 2001, até o começo do Covid, onde o filme estabelece o seu fim. A produção também resgata passagens e personagens de outras obras do autor.

Assim como Jia, o diretor francês Jacques Audiard (Paris, 13° Distrito) faz sua sétima estreia em Cannes com “Emilia Perez”, um musical que conta a história de uma advogada que recebe uma oferta inesperada: ajudar um chefe de cartel a se aposentar e realizar o seu maior sonho, que é se tornar uma mulher.
6° dia (19/05)
Fora da competição, Kevin Costner (Pacto de Justiça), estreou seu filme “Horizon: Uma Saga Americana Capítulo Um”. O projeto é dividido em quatros filmes, formando uma saga, que serão lançados de forma consecutiva. Contando parte da história dos Estados Unidos, a trama se passa depois da Guerra Civil e foca na colonização do oeste americano. Os dois primeiros sairão esse ano, enquanto ele busca recursos financeiros para gravar os dois próximos.
O russo Kirill Serebrennikov (A Esposa de Tchaikovsky), que está pela quinta vez em Cannes, traz o filme “Limonov - A balada”. A obra conta a história de Eduard Limonov, poeta soviético radical que se tornou um vagabundo em Nova York, uma sensação na França e um anti-herói político na Rússia.

Coralie Fargeat (Vingança), chega na competição com o primeiro terror do ano. “A Substância”, conta a história de uma atriz de Hollywood que virou apresentadora de exercícios aeróbicos, mas é demitida de uma rede de TV porque agora é considerada velha demais. Em desespero, ela liga para um número que lhe foi entregue anonimamente e se envolve com um sinistro programa de ficção científica de aprimoramento corporal.
O que esperar da segunda semana do festival?
Durante o decorrer do evento, teremos as exibições dos nove filmes restantes que concorrem à Palma de Ouro, entre eles o brasileiro “Motel Destino” e a muito aguardada cerimônia de premiação, que vai ocorrer no sábado. As obras exibidas na quinta e sexta feira ainda não foram liberadas, e a programação fica assim:
Segunda-feira (20/05) - As Mortalhas (David Cronenberg) e o Aprendiz (Ali Abbasi).
Terça-feira (21/05) - O Partenope (Paolo Sorrentino), Meu Marcelo (Christophe Honoré) e Anora (Sean Baker).
Quarta-feira (22/05) - Grande Passeio (Miguel Gomes) e Motel Destino (Karim Aïnouz)
Quinta e sexta (23 e 24/05) - Ufa, amor (Gilles Lellouche), O Mais Precioso dos Bens (Michel Hazanavicius) e A Semente do Figo Sagrado (Mohammad Rasoulof).
Sábado (25/05) - Anúncio dos filmes vencedores e homenagens ao George Lucas e Studio Ghibli.
“Um país sem cultura, é um país sem identidade”. Essas foram as palavras da atriz Cláudia Raia no encerramento da peça “Tarsila, a Brasileira”. Em cartaz desde o começo do ano, 25 de janeiro, no Teatro Santander, a apresentação, em forma de musical, descreve a vida da artista a partir da sua chegada de Paris a São Paulo, no encontro com os modernistas Anita Malfatti (Keila Bueno), Mário de Andrade (Dennis Pinheiro), Menotti del Picchia (Ivan Parente) e Oswald de Andrade (Jarbas Homem de Mello), artistas que formariam o famoso Grupo dos Cinco.
A peça enaltece a Semana de Arte Moderna e sua influência na sociedade, além de destacar a valorização da cultura brasileira. Em paralelo, conta o íntimo de Tarsila, o romance com Oswald, a ida do casal à Paris, no qual a artista volta ao seu renomado atelier, frequentado pela nata artística parisiense da época, como Pablo Picasso (Renato Bellini), Igor Stravinsky (Guilherme Terra), Jean Cocteau (Ivan Parente e Marcos Lanza), entre outros.

Cláudia Raia brilha interpretando Tarsila, com o poder da sua voz e presença no palco. Traz a seriedade da artista, ao mesmo tempo, toda ambição e aspiração por mudanças que a artista buscava. Em entrevista para o Fantástico, Cláudia Raia conta como foi interpretar a artista: “Eu sou expansiva, alegre para fora. E ela é ao contrário. Eu tive que fazer um trabalho corporal, tirar a bailarina de mim e dançar como se eu não fosse uma bailarina”.
Tarsila viveu até 1973, com 86 anos, e ao mesmo tempo que, no segundo ato, Raia nos faz sentir a dor da traição, da falência, da solidão e principalmente da perda pela morte de familiares e amigos, também nos mostra que a artista vive até hoje com toda a sua grandeza e influência nas artes plásticas. Ao final da peça, Cláudia Raia faz um discurso emocionante sobre a valorização da cultura brasileira, explica resumidamente a Lei Rouanet, e exalta a identidade do Brasil, pelo teatro, a música, as artes plásticas e outros braços da arte.
Como comprar?
Dia: até 26 de maio (conferir no site todas as datas disponíveis)
Horários: Quintas-feiras, às 20h; Sextas-feiras, às 20h; Sábados, às 16h e 20h; Domingos, às 16h e 20h
Local: Teatro Santander - Av. Pres. Juscelino Kubitschek, 2041
INGRESSOS Internet (com taxa de conveniência): https://bileto.sympla.com.br/event/88581/d/229772

A 60ª edição da Bienal de Veneza, que ocorre de 20 de abril a 24 de novembro, destaca-se por suas exposições que reúnem imigrantes, artistas queers, outsiders, autodidatas e indígenas, caracterizados por sua condição de estrangeiros, o que inspira o título "Foreigners everywhere" ("Estrangeiros em todos lugares", em português). No atual momento, a relevância do tema se estende não apenas para a história da Bienal de Veneza, mas também para a sociedade e a cultura italiana. Como também traz uma enorme relevância para o Brasil, que além de abordar o fenômeno contemporâneo da imigração compulsória, tem pela primeira vez a curadoria de um brasileiro, Adriano Pedrosa.
Curadoria de Adriano Pedrosa
“O diferente, nessa edição, é a presença de um curador brasileiro, um intelectual que já atuou como artista, inclusive, experimentando a dimensão mais pragmática e política de um pensar sobre arte, reinterpretar sua história e as relações de poder nela implicadas, e sublinhar o papel do Brasil nesse contexto” comenta Rafael Vogt, artista, professor de pós-graduação na Faculdade Belas Artes, curador e ministrante de cursos de arte livres no MASP, na Pinacoteca e no Instituto Tomie Ohtake. Em entrevista à AGEMT, ele compartilha sua experiência como crítico de arte e destaca a importância do Brasil nessa Bienal.
A 60ª edição da Bienal conta com 332 artistas, provenientes majoritariamente de países periféricos, e que vivem ou viveram em situações marginais em decorrência de sua origem, identidade de gênero ou de problemas migratórios.
Vogt destaca grandes nomes, inclusive estrangeiros, que atuaram no Brasil ou a partir dele: Lina Bo Bardi, Maria Bonomi, Claudia Andujar, Waldemar Cordeiro, Cícero Dias, o Movimento dos Artistas Huni Kuin, Rubem Valentim, entre muitos outros de um grupo que forma, provavelmente, a maior “representação brasileira” já apresentada na Europa.
Adriano Pedrosa, diretor artístico do Museu de Arte de São Paulo (MASP), assume o papel de curador para o principal evento de arte sediado no epicentro cultural europeu. Sua curadoria destaca artistas estreantes de diversas origens.
60 edição: “Estrangeiros em todos os lugares”
O título da mostra, Foreigners everywhere (Estrangeiros em todos os lugares), tem inspiração na obra de Claire Fontaine, um coletivo de artistas parisienses que utiliza o pseudônimo feminino para “explorar como objetos pré-existentes podem assumir novas identidades artísticas”, segundo o Aventura Mall.

A obra é um conjunto de esculturas em neon de diversas cores e em diferentes idiomas, majoritariamente os de nações do Sul Global e de etnias indígenas, as palavras “Foreigners Everywhere”.
O coletivo Claire Fontaine tem como inspiração Marcel Duchamp e explora a essência do movimento dadaísta: um objeto produzido em massa, disponível comercialmente e utilitário passa a designar uma identidade de gênero e a expressar um discurso político.
A obra inspirou Adriano Pedrosa a utilizar o nome de um coletivo italiano de base anarquista, Stranieri Ovunque (Estrangeiros em todos os lugares), transformando-o em uma obra de arte que é, ao mesmo tempo, discursiva e única, mas também universal.
Além disso, em sua apresentação, Adriano Pedrosa menciona que a palavra estrangeiro em italiano, em português, em espanhol e em francês é etimologicamente ligada ao termo “estranho”. O mesmo vale para a palavra queer (do inglês), cuja origem também remete à ideia de “estranho”. Ele comenta que já foi estrangeiro em diversos momentos de sua vida, morando fora e viajando. Pedrosa se identifica como queer e evidencia a inclusão de artistas queers, trans e não binários na exposição.
A exposição
Instalada no Pavilhão Central (Giardini) e no Arsenale, a Exposição Internacional é dividida em duas seções: o Núcleo Contemporâneo e o Núcleo Histórico.
A primeira parte, intitulada “Núcleo contemporâneo”, é composta por artistas queers, outsiders, populares e autodidatas que acabam se relacionando por transitar dentro de diferentes sexualidades e gêneros ou operar em círculos e contextos diferentes ou estarem marginalizados no circuito de arte sendo muitas vezes perseguidos e proibidos.
Além disso, conta com forte presença dos indígenas, que como mencionado pelo curador durante sua apresentação, são considerados estrangeiros em sua própria terra.
Os Estados Unidos, por exemplo, são pela primeira vez representados individualmente por um artista indígena de origem Choctaw-Cherokee, Jeffrey Gibson. A França é representada por Julien Creuzet, um artista negro nativo da colônia martínica, e traz obras de poesia, folclore e esculturas.
O Brasil marca presença neste núcleo com o coletivo Mahku, que representa os artistas indígenas de forma significativa no pavilhão central. O coletivo de arte indígena amazônica conta a história da “kapewë pukeni” (“a ponte do jacaré”) e retrata visões inspiradas em rituais sagrados baseados no consumo de ayahuasca, bebida de efeitos psicoativos.
A segunda parte, intitulada de “Núcleo histórico”, busca reescrever a história do modernismo no mundo, destacando que este movimento não se limita à Europa, e promove uma reflexão crítica sobre as fronteiras globais do modernismo. Essa seção concentra-se principalmente na apresentação de artistas da América Latina, África, Oriente Médio e Ásia que atuaram ao longo do século XX. Suas obras estão inseridas no contexto do modernismo, porém, em grande parte, permanecem desconhecidas no cenário principal da arte moderna e contemporânea. Nomes como Tarsila do Amaral e Frida Kahlo estarão presentes.
O núcleo é composto por três salas distintas: uma é intitulada Portraits, com pinturas, obras em papel e esculturas que exploram a figura humana sobre a crise de auto representação por grande parte da arte do século XX; outra chamada Abstractions, com 37 artistas, que expressam novas conexões no campo abstrato a arte; e a terceira é dedicada à diáspora artística italiana mundial no século XX. São exibidas obras de 40 artistas italianos da primeira ou segunda geração, exibidos nos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi, cumprindo o duplo papel de homenagem à arquiteta ítalo-brasileira e de assinatura curatorial.

Arte e Política
A arte nunca é apartada da política. A produção artística reflete o contexto social e cultural, incorporando preocupações políticas, sociais e econômicas. Os artistas usam sua arte para expressar opiniões políticas, desafiar o status quo e promover mudanças sociais, abordando questões como injustiça, desigualdade e direitos humanos. As obras de arte são interpretadas dentro de um contexto político e ideológico, analisadas pelo público e por críticos que buscam significados políticos subjacentes.
A 60ª edição propõe que o interlocutor alargue o próprio horizonte e problematize a quem recai, de fato, a identidade do estrangeiro. Além disso, levanta questões contemporâneas que dialogam intimamente com a tradição e o legado histórico da Bienal de Veneza.
O crítico Rafael Vogt observa que, embora essa abordagem pareça ampliar o campo da arte para incluir o ativismo, o engajamento pode ser sustentado, ironicamente, por uma mentalidade mais conservadora, centrada ainda na dicotomia tradicional pintura/escultura e em estruturas randomicamente estabelecidas, mais pelo mercado secundário do que por um reflexão sobre as complexidades da cultura contemporânea.
“A presença dos cavaletes de vidro de Lina Bo Bardi não deixa dúvidas sobre um recuo que coloca o meio mais tradicional e intrinsecamente eurocêntrico e colonial, a pintura, no centro das discussões mais variadas como questões climáticas, causas como a indígena, os movimentos migratórios, questões de gênero e sexualidade. Não que isso ofusque o teor estético da exposição, mas, precede-o, a ideia de que a arte não tem uma função social específica, mas uma relação autônoma com o desenvolvimento histórico de seus meios”, finaliza o professor.