A segunda semana da 77ª edição do Festival de Cannes, que terminou no sábado (25/05), apresentou 10 filmes da mostra principal, entre eles o brasileiro Motel Destino. Também contou com a homenagem a George Lucas, diretor de Star Wars e o momento mais esperado do festival, a cerimônia de premiação.
O Festival contou com muitos filmes com mulheres como protagonistas e tendo suas vivências como enredo principal. Apesar disso, apenas quatro dos vinte e dois filmes selecionados para a categoria principal, que concorreram a Palma de Ouro, foram dirigidos por mulheres.
Brasil
Apesar do país não ter ganhado nenhum prêmio na categoria principal, o Ministério da Cultura (MinC), se fez presente no festival através da Secretaria do Audiovisual (SAV), com o objetivo de aumentar a presença do Brasil no setor em âmbito internacional.
Nos encontros que a SAV participou, foram debatidas a coprodução com outros países e as possibilidades para ampliação da circulação e da promoção dos conteúdos audiovisuais brasileiros no mundo.
Em parceria com o Instituto Francês e a Embaixada da França no Brasil, o MinC realizou um encontro com autoridades especialistas do setor, para fortalecer o intercâmbio profissional e de conteúdo entre os países participantes. Entre eles, estavam a França, Uruguai, Arábia Saudita, Canadá e África do Sul
Além disso, o MinC participou da sessão Focus on Brazil, na qual apresentou as políticas de fomento ao cinema e propôs uma agenda de atividades de colaboração com a França para 2025.
O Brasil levou para casa esse ano o prêmio de melhor ator revelação, dado a Ricardo Teodoro, um dos protagonistas de “Baby”, do cineasta Marcelo Caetano (Corpo Elétrico), que foi exibido na terça-feira (21/05) na mostra paralela Semana da Crítica. O filme é de um diretor brasileiro, mas também conta com a coprodução da França e da Holanda, mostrando que o país está preocupado em fazer intercâmbios culturais para promover sua filmografia.
7° dia (20/05)
O canadense David Cronenberg (Crimes do Futuro), faz sua sétima estreia em Cannes, com o filme “As Mortalhas”, que conta a história de um empresário que inventa um dispositivo que permite que as pessoas possam falar com os mortos. O cineasta perdeu sua esposa em 2017, tornando sua produção mais pessoal, mas sem perder o terror corporal característico de suas obras.

O iraniano Ali Abbasi (Holy Spider) faz sua terceira aparição no festival. Tendo ganhado prêmios na exibição, Um Certo Olhar (Mostra paralela) em 2018, e de Melhor atriz em 2022.
Esse ano, ele estreia com “O Aprendiz”, que conta a história do Donald Trump, nas décadas de 70 e 80, começando o seu império imobiliário em Nova York. O longa foca especialmente na relação entre Trump e Roy Cohn, o advogado que o apadrinhou.
8° dia (21/05)
O francês Christophe Honoré (O estudante do ensino médio) está pela sexta vez em Cannes. Seu filme “Meu Marcelo”, é uma homenagem ao ator italiano Marcello Mastroianni, trazendo sua filha Chiara como atriz principal. O filme conta a história de uma menina que está cansada da própria vida e decide viver como seu pai, falando como ele e se vestindo como ele, até que as pessoas ao seu redor passam a chamá-la pelo nome do pai (Marcello).
O italiano Paolo Sorrentino (A Grande Beleza), estreia com “Partepone”. O filme conta a história de uma sereia da mitologia grega, que após não conseguir atrair Ulisses com suas canções, se jogou no mar e se afogou. Baseado nisso, Paolo conta a história de vida de uma mulher muito bonita, os homens que ela conhece e a sua vida na Itália.

O americano Sean Baker (Projeto Flórida), estreia pela segunda vez com “Anora”, que conta a história de uma dançarina erótica num clube de Nova York, que conhece Vanya, um jovem de 21 anos da Rússia, que acaba se apaixonando por ela, mas os capangas dos pais de Vanya resolvem fazer de tudo para anular o casamento.
9° dia (22/05)
O português Miguel Gomez (Tabu), chega pela segunda vez no festival com "Grande Passeio”. O filme fala sobre Edward, funcionário público, que foge da noiva Molly no dia do casamento em Rangoon, 1917. Suas viagens substituem o pânico pela melancolia e Molly, decidida a se casar, diverte-se com sua fuga e o segue pela Ásia. O filme rendeu a Miguel Gómez o prêmio de Melhor Diretor.
O brasileiro Karim Ainouz (Firebrand) faz sua quinta passagem pelo festival, onde já soma uma vitória na mostra paralela Um Certo Olhar em 2019 com "A Vida Invisível".
Karim Aïnouz chega pela segunda vez na categoria principal de Cannes com "Motel Destino". O filme conta a história de um casal apaixonado, Heraldo e Dayana, que se conhecem no Motel Destino, e fazem um plano para fugirem juntos, ele da polícia e de sua gangue e ela do marido grosseiro que é administrador do estabelecimento.

10° dia (23/05)
O francês Gilles Lellouche (BAC NORD: Sob Pressão), apresentou "Ufa, amor", que conta a história de um relacionamento improvável entre duas pessoas. Uma garota de uma família de classe média alta e um rapaz de origem modesta se apaixonam, apesar de se afastarem no decorrer da vida, o amor segue vivo.
A diretora indiana Payal Kapadia, chega pela segunda vez em Cannes, após ter ganhado o prêmio de Melhor Documentário com “Uma Noite sem Saber Nada” em 2021.
Esse ano ela traz, "Tudo que Imaginamos como Luz", primeiro filme indiano a concorrer na categoria principal em 30 anos. A obra, que levou o Grande Prêmio,conta a história da enfermeira Prabha, de Mumbai, que mergulha no trabalho para suprimir memórias dolorosas, até que um presente reabre as feridas de seu passado.

11° dia (24/05)
Mohammad Rasoulof (Não há mal algum) faz a sua quarta estreia em Cannes com "A Semente do Figo Sagrado", que fala sobre o juiz de instrução Iman que luta contra a paranoia em meio à agitação política em Teerã. Quando sua arma desaparece, ele suspeita de sua esposa e de suas filhas, impondo medidas que desgastam os laços familiares.

O francês Michel Hazanavicius ( O Príncipe Esquecido) chega em Cannes com "O mais Precioso dos Bens", uma animação que se passa em tempos de guerra, onde um pobre lenhador e sua esposa vivem em uma grande floresta. Um dia, a mulher encontra e resgata uma menina, trazendo mudanças irrevogáveis para a vida do casal e daqueles cujo caminho a criança irá cruzar.
12° dia (25/05)
O dia foi de grandes emoções, com a homenagem a George Lucas, diretor de Star Wars, e a divulgação dos filmes premiados pelo júri, entre eles, o vencedor da Palma de Ouro.
O filme "Anora", dirigido pelo cineasta Sean Baker, foi prestigiado com o prêmio. A presidente do júri, Greta Gerwig, afirmou que o filme é magnífico, e "cheio de humanidade".

O musical "Emilia Pérez", de Jacques Audiard, conta a história de um traficante mexicano que se torna uma mulher trans e cria uma ONG para encontrar os corpos de pessoas desaparecidas. O filme foi o vencedor do prêmio do júri e suas atrizes levaram o prêmio de melhor atuação feminina no festival. Entre elas, estão Selena Gomez, Zoe Saldana e Karla Sofia Gascon (1° mulher trans a vencer um prêmio por interpretação feminina no festival).
O cineasta iraniano Mohammad Rasoulof venceu o prêmio especial de roteiro por "A Semente do Figo Sagrado", que aborda as questões sobre as mulheres e a liberdade em seu país.
"O regime iraniano tem pânico porque estamos contando nossas histórias. É absurdo", disse Rasoulof, em entrevista coletiva no sábado (25/05). O cineasta precisou fugir do Irã, onde foi condenado a chibatadas e oito anos de prisão, por causa de seus filmes.
O americano Jesse Plemons venceu o prêmio de melhor ator em Cannes por sua interpretação de Robert em "Tipos de Gentileza". No filme de Lanthimos, com três histórias paralelas, Plemons, de 36 anos, é manipulado por um personagem perverso, interpretado por Willem Dafoe, que não hesita em cumprir o que seu chefe manda.
A francesa Coralie Fargeat levou o prêmio de Melhor Roteiro com “A Substância”. O filme é centrado em uma personagem que é demitida do programa de TV que apresentava por conta de sua idade, em crise por conta da pressão estética a personagem faz uso de uma substância que faz com que seu corpo produza uma versão mais jovem de si.
Outros filmes também ganharam prêmios fora da categoria principal :
Melhor Primeiro Filme: “Armand”, Halfdan Ullman Tondel
Curta-metragem Palma de Ouro: “O homem que não conseguia permanecer em silêncio”, Nebojsa Slijepcevic
Menção Especial Curta-Metragem: “Ruim por um momento”, Daniel Soares
A cantora britânica Charli XCX se apresentou no último sábado, 1º, no Primavera Sound de Barcelona, capital da Espanha, e deixou os fãs enlouquecidos ao performar uma música inédita, parte do seu novo álbum “Brat”, que estreia na sexta-feira, 7. O hit com batida de funk “Everything is romantic” embalou a noite dos fãs espanhóis presentes no evento.
SOLTA O FUNK! Confira novo verso de ‘Everything is Romantic’, faixa presente no álbum ‘BRAT’ de Charli XCX. pic.twitter.com/Q9L2xkUDKL
— Info Charli XCX (@infocharlixcx) June 2, 2024
Charli, que ao longo das últimas semanas vem divulgando materiais e pistas da sua nova era verde neon, no dia 10 de maio lançou o clipe da canção “360” com várias it-girls (celebridades) conhecidas no mundo da moda, cinema e das redes sociais, como a musa Chloë Sevigny, Gabbriette Bechtel, a febre do TikTok e das passarelas Alex Consani, além das modelos e atrizes Julia Fox, Rachel Sennott (Bottoms e Morte Morte Morte, ambos da produtora A24), Emma Chamberlain, Salem Mitchell.

A fama da cantora, que começou na indústria aos 14 anos, veio após ela ser notada em seu MySpace, rede social americana, por um organizador de raves clandestinas chamado Chaz, das quais ela participou com o apoio de seus pais, por ser menor de idade.
Em abril de 2013, participou das turnês de artistas famosas como Ellie Goulding e Marina and the Diamonds, que alavancou sua popularidade entre os fãs de música pop no Reino Unido e fora dele. Em 2014, Charli emplacou o hit “Fancy” com Iggy Azalea que atingiu 1º lugar no US Billboard Hot 100, e “Boom Clap” que fez parte da trilha sonora de “A Culpa é das Estrelas”.
Hoje com 31 anos, ela celebra o status de ícone do pop dentro da comunidade LGBTQIAPN+, com uma carreira extensa, cheia de acertos e que migrou para o subgênero musical hyperpop (mistura do pop com a música eletrônica, batidas surrealistas, nostálgicas e ao mesmo tempo futuristas) herança de sua parceria e amizade com a DJ e produtora Sophie, que morreu em 2021, após uma queda acidental em sua casa. A amiga da cantora era de uma gravadora chamada PC Music, selo do produtor e DJ AG Cook, juntos colaboraram para popularizar as batidas sintetizadas e maximalistas.

Após um post em seu Instagram, Charli anunciou que o álbum Brat terá 41 minutos e 23 segundos de duração com 15 músicas.
1. 360
2. Club Classics
3. Sympathy Is a Knife
4. I Might Say Something Stupid
5. Talk Talk
6. Von Dutch
7. Everything Is Romantic
8. Rewind
9. So I
10. Girl, So Confusing
11. Apple
12. B2B
13. Mean Girls
14. I Think About It All the Time
15. 365
Um dos eventos mais emblemáticos do Brasil e fundamentais na construção da identidade nacional, atrai olhares do mundo inteiro: o Carnaval. Em São Paulo, a comunidade carnavalesca se empenha em garantir um momento grandioso, tanto dentro quanto fora do sambódromo, ao longo dos meses de fevereiro e março.
O Carnaval Paulista é uma celebração composta por escolas de samba, grupos carnavalescos e blocos de rua. Segundo o Centro de Inteligência da Economia do Turismo (CIET), durante o Carnaval de 2024, estimava-se que aproximadamente 4,4 milhões de pessoas estariam no Estado, gerando uma movimentação financeira de R$ 5,72 bilhões.
Fabiana Ribeiro, que desfila no grupo especial na Barroca Zona Sul e como princesa da bateria na Unidos do Vale Encantado, compartilha sua perspectiva sobre esse período. Segundo ela, “O Carnaval não apenas atrai muitos turistas de fora para prestigiar nossos desfiles e ensaios, mas também é um período de reflexão e crítica social, abordando questões políticas, culturais e econômicas tanto nos desfiles musicais quanto nas fantasias."
Tradição
As baianas e a porta-bandeira desempenham papéis fundamentais na tradição carnavalesca. Elas representam a essência da festa, simbolizando força, cultura e identidade. "As tradições nas escolas de samba, hoje em dia, são as baianas; a porta-bandeira e o mestre-sala; e a velha guarda. E conforme vêm passando os anos, têm muitas mudanças, mas nós procuramos nos adaptar a todas as formas de acordo com as novas regras.", comenta Ribeiro.

A porta-bandeira desempenha um papel fundamental na representação da escola de samba, sendo responsável por carregar um dos seus símbolos mais significativos. Em sua experiência, Penteado compartilha: “Ela é a guardiã desse símbolo, segurando ali em seus braços o pavilhão máximo da escola, que é a identidade, e o pavilhão carrega toda uma história. Exige empenho, dedicação e muito ensaio.”
As gerações futuras e o legado a preservar
A preservação do Carnaval enfrenta desafios significativos ao longo do tempo, incluindo a falta de engajamento dos jovens e a escassez de investimentos. Sandra Aparecida de Souza, voluntária na associação da ADESP (Associação dos Destaques das Escolas de Samba do Estado de São Paulo) e jurada, expressa sua preocupação: "As pessoas da velha guarda estão preocupadas. Nesse momento, não existe esse interesse dos jovens com o Carnaval".
Paula Penteado, porta-bandeira que conduziu o pavilhão da Vai-Vai durante 16 anos, destaca o papel fundamental da preservação do legado na escola de sua família. "A Vai-Vai é uma escola de tradição. Nossos integrantes da velha guarda fazem questão de que continue assim, com um legado forte. As crianças são ensinadas já a fazer com que a escola seja perpetuada. É de geração para geração."
Identidade Paulista
O samba em São Paulo é uma expressão vibrante e diversificada que reflete a vida urbana e os desafios sociais da cidade. Originado das tradições africanas, tornou-se essencial para a identidade paulistana, integrando-se a uma variedade de estilos musicais. Com uma mistura que vai do samba de raiz ao rock e ao pagode, o samba em São Paulo representa não apenas uma expressão cultural, mas também a resistência das comunidades que ajudaram a construir a cidade moderna. Renata Amorim, foliã e baiana, compartilhou sua experiência: "Em São Paulo, o samba é mais ritmado, mais rápido. Não quero defender, mas é o melhor."
A cultura negra paulista destaca-se como um elemento fundamental do patrimônio cultural da cidade, muitas vezes sendo negligenciada. “A cultura Paulista, é a cultura Paulista preta. Preservar essa cultura, das plantações de café que existiam, dos escravizados, dos meus antepassados. É recordar de uma parte talvez esquecida ou não tão reconhecida da cultura paulista, mas que existe, estamos aqui e queremos manter viva essa memória.”, relata Penteado, a porta-bandeira.
Times Organizados
Às duas maiores paixões juntas: Futebol e Carnaval. Muitas escolas de samba são filiadas de clubes de futebol em que possuem grande alcance do público. Clubes como o Corinthians, por exemplo, que possui uma das maiores torcidas do país, encontram uma plataforma nas agremiações para expandir sua presença e engajar ainda mais seus torcedores durante o período carnavalesco. Da mesma forma, as escolas de samba se beneficiam do apoio financeiro e estrutural oferecido pelos clubes, além de ganharem visibilidade junto aos aficionados pelo futebol.

A harmonia entre as escolas e os times gera um grande problema em relação à sobreposição de valores e tradições que podem levar a uma confusão cultural, no qual o futebol pode ofuscar a autenticidade do Carnaval. “Vejo que os sambistas, principalmente os mais antigos, não gostam muito das escolas de time, porque eles acham que a gente mistura time com escola.”, afirma Aparecida.
Enquanto alguns veem essa integração como uma forma de celebrar a diversidade e a paixão que une os brasileiros, outros acreditam na diluição das características únicas de cada evento, transformando o Carnaval em um espetáculo comercial e o futebol em mera ferramenta de promoção.
Preservação Cultural e Histórica
As escolas de samba são fundamentais para manter vivas as tradições de São Paulo. Elas são espaços onde as pessoas se encontram e celebram a diversidade, promovendo o entendimento e o respeito pela identidade local. Como mencionado por Penteado: “O principal papel da escola de samba é fazer com que isso não seja esquecido. As culturas de matriz africana, elas são geralmente perpetuadas pela oratória e acho que a gente está aprendendo a escrever e a registrar dessa forma hoje em dia. A responsabilidade da escola de samba atualmente é fazer com que as pessoas que não conhecem as escolas de samba ou as pessoas que acham que realmente é só festa e folia, entendam que o Carnaval gera trabalho e gera engajamento, geram famílias.”
A democratização da cultura é um assunto muito pautado nos debates atuais, principalmente, no âmbito do audiovisual. Esse é um tópico relevante, visto que a cultura do cinema não se trata apenas de lazer, mas de uma manifestação artística repleta de detalhes e motivações por trás. Contudo, a democratização do cinema em si, visa a distribuição e popularização da arte cinematográfica, de forma que todos tenham acesso a esse meio de maneira igual.
O cineasta Ralph Friedericks traz, em entrevista, suas visões sobre a temática a partir de suas experiências na área: “A democratização do cinema brasileiro é muito importante. O cinema sempre esteve nas mãos de uma classe privilegiada e, por isso, precisamos que o cinema, espelho da sociedade, tenha obras dos mais diversos pontos de vista e lugares de fala.”
Além de Cineasta, Ralph também é sócio-proprietário da produtora Matiz Filmes em São Paulo, além de fazer parte da equipe do projeto PONTOS MIS do Museu da Imagem e do Som de São Paulo, fazendo Oficinas De Cinema para todas as idades. “O distanciamento da população a cultura audiovisual intensifica a segmentação social pois o acesso à cultura (filmes) é a um senso crítico e identitário acaba não acontecendo aumentando assim a diferença cultural das pessoas.”, relata.
O acesso restrito à uma parcela da sociedade aos espaços de cultura elitiza as artes, principalmente, o audiovisual, que possui locais específicos e muitas vezes dentro de shoppings. Essa forma elitizada de tratar o cinema vem sendo quebrada ao longo dos anos. Com a diminuição de pessoas indo aos cinemas no período pós-pandemia, a empresa ‘Cinemark’ criou a campanha ‘Semana do cinema’, em que a marca propõe uma semana completa em que os ingressos para os filmes em cartaz ficam por R$10,00; com o intuito de aumentar o público e de certa forma, impulsionar o acesso de toda a população ao mundo cinematográfico.
Em entrevista a jovem Ana Beatriz Pereira, graduanda em cinema e audiovisual pela PUC-Minas, comenta: “Na minha opinião, o valor dos ingressos e a localização é o que mais afasta as pessoas do cinema. A maioria dos cinemas hoje está localizado nos shoppings - lugares que não são de fácil acesso a toda a população. Além disso, esses cinemas que são de rede possuem um valor de ingresso muito alto, isso dificulta a possibilidade ‘das’ pessoas irem ao cinema com frequência.”, a respeito do afastamento da população a arte do audiovisual.

Historicamente, os cinemas começaram a ser explorados cada vez mais pelo sistema capitalista nos anos 80, quando os cines de rua foram substituídos pelas grandes redes de cinema localizadas dentro de shoppings, buscando maior lucro pela grande quantidade de pessoas que circulam no espaço fechado. Hoje em dia, poucos cinemas de rua sobrevivem nas metrópoles, como o CineSala, criado em 1959 e localizado, até hoje, em Pinheiros na grande São Paulo.
O espaço promove a preservação da memória do local e uma facilidade no acesso com preços menores e estação de metrô próxima. Os cinemas de rua, além de acolherem mais a população por seus diferenciais, também favorecem as produções nacionais e independentes. “O cinema de rua alimenta a cultura audiovisual local. É lá que que os filmes nacionais e independentes ganham espaço, já que as redes preferem os mainstream, que é o que dá dinheiro ‘pra’ eles.”, complementa a Ana.

(Foto: franparente/cinesala)
Enquanto existem algumas medidas para que o acesso ao cinema chegue a todos, grandes empresas buscam maneiras de lucrar cada vez mais com a elitização dos espaços, como com a criação do Kinoplex Diamante pela grande rede Kinoplex. Esse cinema de luxo, localizado no Vale Sul Shopping em São José dos Campos no interior de São Paulo, integrado juntamente a um bar e restaurante em seu interior, possui suas salas compostas por cabines, com dois lugares VIP’S cada. A empresa visa trazer experiências únicas para todos nesse espaço, mas os preços dos ingressos são acima de R$90,00; reforçando a ideia da elitização das vivências culturais.

(Foto: Beatriz Lima)
Em 2001, a ANCINE (Agência Nacional do Cinema) foi fundada, com principal objetivo fomentar, desenvolver e regular o setor audiovisual em benefício da sociedade brasileira. Com a criação dessa agência pública, o acesso recorrente da população à essa arte continua restrito à certas classes sociais. “Pequenas cidades dificilmente têm acesso a cinemas ou atividades culturais. De modo geral, essas atividades costumam ser localizadas nos grandes centros urbanos e, ainda assim, não são levadas igualmente a toda a população, seja por meio do custo ou localidade.”, reforça.
Além disso, a falta de incentivo estatal na divulgação e no acesso ao cinema no Brasil intensifica ainda mais essa problemática, uma vez que a indústria cinematográfica se mantém controlada pelo monopólio privado. Com o cinema nas mãos de uma parcela rica da sociedade, a elitização dessa arte é certeira. Ana Beatriz afirma: “Cinema é uma indústria que precisa de capital para continuar existindo e, para isso, precisa-se de incentivo do governo e da população. Os cinemas de rua vão fechando cada vez mais, a partir do momento em que não se valoriza os filmes locais.”.
“Eu sou Longun Edé. O grande príncipe herdeiro da raça dos meus pais! Tenho a sensibilidade e a inteligência de minha mãe e a bravura e a esperteza de meu pai. Caçador e pescador, sou minha própria natureza. Sou o único capaz de reunir todos os mundos. Sou o equilíbrio entre os homens e as mulheres. Sou cultuado nos axés do Brasil.”
Escreveu Anitta, homenageando o orixá em sua postagem do Instagram que anunciava seu novo clipe musical “Aceita”, no qual ela abrange temas de sua religião afro-brasileira, o Candomblé. Após a divulgação, a cantora perdeu mais de 200 mil seguidores na rede social. Essa não seria a primeira vez que ela mencionou a sua religião para o público, mas foi o primeiro trabalho em que ela a retrata abertamente na música.
Essa reprovação sofrida pela artista reflete à intolerância religiosa propagada no Brasil, um país majoritariamente cristão, que historicamente repele culturas de origens que não são brancas. Durante o período escravagista, os escravos cultuavam suas religiões e entidades africanas, que eram vistas como bruxaria pelo povo católico, de origem europeia. Entre as religiões originadas na África, estava o Candomblé. Vanderlei Aurora, que é parte do Candomblé há 12 anos, conheceu a religião por meio de uma amiga que o levou para conhecer um terreiro. Ao ser questionado sobre intolerância e preconceito, ele afirma que já ouviu falas discriminatórias a respeito do uso de roupas brancas: “As pessoas olham e falam ‘Olha lá os macumbeiros’” e relata, também os olhares tortos que recebe das pessoas na rua.
Sua prática do Candomblé é a conhecida como “Jeje”. Ele afirma que existem tipos diferentes de manifestar essa religião, a qual são organizados os terreiros com frequência quando há festas. A religião ainda é confundida com a umbanda por leigos por se assemelharem na origem africana e ambas terem orixás e, ao ser questionado sobre as diferenças, Vanderlei enfatiza que, enquanto a umbanda foi desenvolvida no Brasil, o Candomblé veio direto da África.

Como alguém que sempre foi alvo de críticas desde o começo de sua carreira, após perder parte dos seguidores, Anitta afirmou em seu perfil do Instagram que não recebe as críticas com negatividade: “Eu não acredito no céu e no inferno, não acredito no diabo... acredito que todos nós temos o poder de manifestar em nós o divino e a diabólico. Quando recebo mensagens de repúdio e intolerância religiosa, não sinto energia divina sendo emanada em minha direção, sinto a energia contrária. Eu tenho fé, não tenho medo.”

De acordo com a pesquisa Datafolha de janeiro de 2020, 50% dos brasileiros são católicos e 31% são evangélicos, enquanto 2% da população segue religiões afro-brasileiras, tais como a Umbanda e o Candomblé. As denúncias de intolerância religiosa vêm aumentando desde o ano de 2021, apesar da prática ser proibida por Lei. A maioria desses casos são direcionados a religiosos de origem africana, enfatizando a relação entre intolerância e racismo religioso. As manifestações de intolerância ocorrem desde piadas preconceituosas até atos de violência e vandalismo contra os terreiros e os praticantes. Além dos ataques sofridos pelos negros por seus cultos, o preconceito também é direcionado a religiões islâmicas, que ainda são alvos de muita crítica e desinformação sobre as práticas religiosas.