Influenciadora é chamada de "homem" por espectadora; confusão gerou vaias, atraso no espetáculo e intervenção policial
por
Carolina Zaterka
Manoella Marinho
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15/04/2025 - 12h

 

Malévola Alves, influenciadora digital e mulher trans, denunciou ter sido vítima de transfobia no Teatro Renault, em São Paulo, no dia 26 de março de 2025, ao ser tratada pelo pronome masculino e chamada de “homem” por uma espectadora. O incidente ocorreu antes do início do musical “Wicked”. Malévola, com mais de 840 mil seguidores, publicou trechos do episódio em suas redes, que rapidamente viralizaram.

Segundo relatos de testemunhas e da própria vítima, a confusão começou quando Malévola esperava uma nota fiscal e a mulher atrás dela mostrou impaciência. As duas trocaram palavras e, ao se afastar, a mulher teria gritado "isso é homem ou mulher?" em sua direção. A vítima então se sentiu ofendida e levou a denúncia à plateia, apontando a espectadora como autora do ataque transfóbico, causando um tumulto que paralisou a plateia.

A reação do público foi de imediato apoio a Malévola, com vaias à agressora e pedidos para que ela fosse retirada do teatro. “A gente não vai começar a assistir a um espetáculo que é extremamente representativo para a diversidade com uma mulher dessa aqui. Não faz o menor sentido”, afirmou um dos espectadores durante o protesto.

Diante da pressão da plateia, a apresentação atrasou cerca de 30 minutos. A mulher acusada acabou saindo do teatro sob escolta policial, levada à  delegacia para realizar um boletim de ocorrência, recebendo aplausos e vaias dos demais presentes. Miguel Filpi, presente no evento, celebrou nas redes sociais: “Justiça foi feita!! Obrigado a todo mundo nessa plateia que fez a união para que isso acontecesse.”

Carlos Cavalcanti, presidente do Instituto Artium (Produtor do musical), pediu desculpas pelo ocorrido antes de dar início ao espetáculo: “Peço desculpas por esse acontecimento e por esse atraso. Tudo o que a gente pode admitir, é bom que a gente admita na vida, mas transfobia em Wicked, não dá”. A atriz Fabi Bang, também se manifestou durante e após o espetáculo: “Transfobia jamais” - uma improvisação durante a música “Popular”.

 

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Fabi Bang, atriz que interpreta Glinda, em apresentação do musical. Foto: Blog Arcanjo/Reprodução

Viviane Milano, identificada como a espectadora acusada, negou as acusações em um pronunciamento, alegando que a confusão na fila da bombonière não foi sobre identidade de gênero, mas sobre uma tentativa de furar fila. Ela afirmou: “Perguntei em voz alta: ‘Era o homem ou a mulher que estava na fila?’”, dizendo que sua pergunta foi mal interpretada.

A produção de Wicked e membros do elenco reiteraram seu compromisso com a diversidade e repudiaram o incidente. A nota oficial da produção destacou: “Nosso espetáculo é e continuará sendo um espaço seguro para todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero ou orientação sexual.”

As últimas apresentações do cantor baiano reunem seus maiores sucessos e participações de grandes artistas brasileiros
por
Davi Rezende
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14/04/2025 - 12h

Tiveram início na última sexta-feira (11) os shows em São Paulo da turnê “Tempo Rei”, de Gilberto Gil, a última da carreira do lendário artista. O evento, que teve início em março, na cidade de Salvador (BA), chegou neste mês à capital paulista com quatro datas, duas neste final de semana e mais duas ao fim do mês.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Aquele Abraço
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende
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Reunindo participações especiais, cenários característicos e grandes sucessos da carreira do cantor, a turnê é uma grande celebração da história de Gil, enquanto seus últimos shows ao vivo. Desde os visuais até a performance do artista, tudo é composto de forma detalhada para transmitir a energia da obra de Gilberto, que se renova em apresentações vívidas e convidados de diversos gêneros musicais brasileiros.

Ao longo de mais de 60 anos de carreira, Gil conquistou uma das trajetórias mais consolidadas e respeitadas da música brasileira. Com mais de 50 álbuns gravados, sendo 30 de estúdio, ele se tornou uma lenda da bossa nova e do samba, com produções que se provam atemporais, além de participações em movimentos políticos e artísticos que marcaram o Brasil.

Gilberto Gil agasalhado em exílio nas ruas de Londres
Gilberto Gil no exílio em Londres/ Foto: Reprodução/FFLCH - USP

 

Na década de 60, após se popularizar em meio a festivais, Gil fez grande parte da luta contra as opressões da Ditadura Militar no Brasil, tornando-se peça importante no movimento da Tropicália. Ao lado de artistas como Caetano Veloso e Gal Costa, Gilberto foi protagonista na revolução da arte brasileira, além de compor grandes canções de resistência.

Em 1969, após o lançamento de um de seus maiores clássicos, “Aquele Abraço”, Gil se exilou fora do Brasil para fugir da Ditadura, em Londres. Na Inglaterra, ele seguiu produzindo e performando, ao lado de outros grandes gênios tropicalistas, até retornar em 1971, lançando no ano seguinte o álbum “Expresso 2222” (1972). Três anos após o grande sucesso, Gil lança o álbum “Refazenda” (1975), primeiro disco de uma trilogia composta por “Refavela” (1977) e “Realce” (1979).

Todos os grandes momentos da vida do cantor são representados na turnê, tanto com sua performance, dirigida por Rafael Dragaud, quanto na cenografia, montada pela cineasta Daniela Thomas. Na setlist, Gil ainda presta homenagens a grandes figuras da música, como Chico Buarque (que faz participação em vídeo tocado ao fundo de Gilberto, durante a apresentação) quando interpreta “Cálice”, canção de sua autoria ao lado do compositor carioca, e até Bob Marley, no momento que toca “Não Chore Mais” (versão da música “No Woman, No Cry” do cantor jamaicano) com imagens da bandeira da Jamaica ao fundo.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Não Chore Mais
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

 

Nas apresentações no Rio de Janeiro, o artista convidou Caetano e Anitta para comporem a performance, enquanto em São Paulo, na sexta-feira (11) MC Hariel e Flor Gil, a neta do cantor, deram as caras, além de Arnaldo Antunes e Sandy terem participado do show de sábado (12).

A turnê “Tempo Rei” aproxima Gilberto Gil do fim de sua carreira, celebrando sua história nos shows que rodam o Brasil inteiro. A reunião de artistas já consolidados na indústria para condecorar o cantor em suas apresentações prova a grandeza de Gil e como sua obra é imortal, movimentando a música de todo o país ao seu redor. Sua performance é energética e vívida, como toda a carreira do compositor, fazendo dos brasileiros os súditos do Tempo Rei.

Gilberto Gil em show no Allianz Parque cantando Expresso 2222
Gilberto Gil em show da turnê "Tempo Rei" no Allianz Parque, em São Paulo/ Foto: Davi Rezende

As apresentações de Gil seguem ao longo do ano, encerrando em novembro, na cidade de Recife (PE). Em São Paulo, o cantor ainda se apresenta em mais duas datas, nos dias 25 e 26 de abril, no Allianz Parque.

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Filme brasileiro conta a história de uma senhora que através de uma câmera expôs uma rede de tráfico no Rio de Janeiro
por
Kaleo Ferreira
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14/04/2025 - 12h

O filme “Vitória” lançado no dia 13 de março de 2025, dirigido por Andrucha Waddington e roteirizado por Paula Fiuza, tem como tema a história de Dona Nina (Fernanda Montenegro), uma senhora de 80 anos que sozinha, desmantelou um esquema de tráfico de drogas em Copacabana, filmando com uma câmera a rotina do mercado criminoso da janela de seu apartamento.

 

Cena do filme ”Vitória” (Foto: CNN Brasil)
Cena do filme ”Vitória”. Foto: CNN Brasil

 

O longa é inspirado no livro “Dona Vitória Joana da Paz”, escrito pelo jornalista Fábio Gusmão e baseado na história verídica de Joana Zeferino da Paz. Grande força do filme vem da atuação de Fernanda, que consegue transmitir a solidão, indignação, determinação e a garra que a personagem teve para confrontar o crime na Ladeira dos Tabajaras.

O filme começa construindo uma atmosfera de grande tensão, claustrofobia e solidão dentro do pequeno apartamento com o reflexo da violência diante dos olhos, assim mergulhando na realidade crua do cotidiano carioca, expondo a fragilidade da segurança pública e o poder que o crime organizado possui. 

Em certos momentos, o ritmo da narrativa se torna um pouco lento e cansativo e a ação do longa começa com a introdução do jornalista Fábio, interpretado por Alan Rocha, que desenvolve uma relação de parceria com Dona Nina. Ele assiste às fitas gravadas por ela, provas de criminosos desfilando com armas à luz do dia, vendendo e utilizando drogas entre crianças e adolescentes, além de ter ajuda dos policiais para o tráfico. E diante de tudo, decide ajudar a senhora, assim escrevendo uma grande reportagem que colocaria os holofotes sobre todo o esquema de tráfico. 

 

Cartaz do filme (Foto: IMDb)
Cartaz do filme. Foto: IMDb

 

O filme tem a participação de outras atrizes, como Linn da Quebrada e Laila Garin, que mesmo em papeis secundários, também merecem destaque por agregar camadas à narrativa e mostrar diferentes facetas de como a comunidade é afetada pela violência.

Em resumo, “Vitória” é um filme emocionante e que faz refletir. Apesar dos problemas no ritmo do filme, a força de uma história real e a grande atuação de Fernanda Montenegro, com seus 95 anos, o consolidam como um filme digno de ser assistido e relevante para o cinema brasileiro. 

É um retrato da realidade brasileira que ao dar voz a uma história de resistência contra o crime, levanta questões importantes sobre segurança, justiça e o papel dos cidadãos contra a violência, dando esperança em resistir a toda criminalidade que a sociedade enfrenta com tanta frequência, além de dar voz a uma mulher que decide não se calar.

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O grupo sul-coreano encerra sua passagem pelo Brasil com o título de maior show de K-pop no país
por
Beatriz Lima
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09/04/2025 - 12h

 

Na primeira semana de abril, São Paulo e Rio de Janeiro foram palco dos shows da DominATE Tour, do grupo de K-pop Stray Kids. Em novembro de 2024, o grupo anunciou sua primeira passagem pela América Latina após sete anos de carreira, com shows no Chile, Brasil, Peru e México, causando êxtase aos fãs do continente.

Stray Kids é um grupo de K-pop composto por oito integrantes, Bang Chan, Lee Know, Changbin, Hyunjin, Han, Felix, Seungmin e I.N. O grupo estreou em 2018, após um programa eliminatório com diversos trainees da JYP Entertainment - empresa que gere o grupo. No dia 8 de julho de 2024, o grupo anunciou sua terceira turnê mundial chamada ‘DominATE Tour’, com shows iniciais pelo Leste e Sudeste Asiático e Austrália. 

A DominATE Tour foi anunciada para a divulgação de seu mais recente álbum, ATE, lançado dia 19 de julho de 2024. Com o sucesso mundial do grupo e da música “Chk chk boom”, com a participação dos atores Ryan Reynolds e Hugh Jackman no clipe, o grupo divulgou datas para a turnê na América Latina, América do Norte e Europa no início de 2025.

Foto de divulgação da turnê DominATE
Imagem de divulgação da turnê DominATE. Foto: Divulgação/JYP Entertainment

No Brasil, o octeto iniciou sua passagem pela cidade do Rio de Janeiro com seu show de estreia dia 1 de abril no Estádio Nilton Santos, com mais de 55 mil pessoas presentes no local. Em sua primeira data na cidade de São Paulo, sábado (5), o grupo sul-coreano teve os ingressos esgotados e, mesmo com chuva e baixas temperaturas, bateu o recorde de maior show de K-pop no Brasil, com um total de 65 mil pessoas no Estádio MorumBIS. No dia seguinte, o grupo teve seu último dia de passagem pelo país e somou no total - nos dois dias de show na capital paulista - 120 mil pessoas.

Show do Stray Kids no Estádio MorumBIS
Primeiro dia de show do Stray Kids em São Paulo. Foto: JYP Entertainment / Iris Alves

 

Os shows contaram com estruturas complexas e atraentes - com direito a fogos de artifícios e explosões de luz a cada performance -, tradução simultânea nos momentos de interação com o público, banda e equipe de dança do próprio grupo, além de estações de água e paramédicos à disposição do evento. Foram três noites marcantes tanto para os fãs brasileiros quanto para os próprios membros do grupo. “Eu sinto que tudo que nós passamos durante esses sete anos foi para encontrar vocês.” diz Hyunjin em seu primeiro dia de show no Brasil. 

Com o recorde de público nos shows e reações positivas na mídia e público brasileiro, o grupo promete voltar ao país em uma nova oportunidade, deixando claro seu amor pelo país e pelos fãs brasileiros. “Bom, é a sensação de que ganhamos uma segunda casa… todos nós [os oito membros]” declara o líder Bang Chan no primeiro show de São Paulo.

Membros do grupo após o show do Rio de Janeiro.
Foto divulgada após o show do Stray Kids no Rio de Janeiro. Foto: Reprodução/JYP Entertainment

 

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Último dia do festival em São Paulo também reuniu shows de Justin Timberlake, Foster The People e bandas nacionais
por
Maria Eduarda Cepeda
Jessica Castro
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09/04/2025 - 12h

 

Neste domingo (30), o Autódromo de Interlagos, na zona sul de São Paulo, recebeu o último dia da edição 2025 do Lollapalooza Brasil. O festival, que reuniu uma diversidade de estilos, contou com apresentações de bandas indies nacionais, como Terno Rei, e gigantes do pop, como Justin Timberlake. Como destaque, tivemos a histórica estreia da banda Tool em solo brasileiro, a volta de Foster The People ao festival e o show emocionante de encerramento do Sepultura, que consagrou sua importância como uma das maiores referências do metal, tanto no Brasil quanto no mundo.

Diferente do primeiro dia, o domingo foi marcado por tempo firme e céu aberto, sem a interferência da chuva. Com condições climáticas favoráveis, o público pôde aproveitar muito seus artistas favoritos ao longo do dia.

As primeiras atrações do dia já davam o tom da despedida do festival: uma mistura de muito indie, rock n’ roll e nostalgia no ar. No palco Budweiser, a cantora pernambucana Sofia Freire abriu os trabalhos com uma estreia marcante, conquistando o público com talento e carisma. E no palco Mike´s Ice, a banda "Charlotte Matou um Cara" chamou atenção por ter a vocalista, Andrea Dip, vestida em uma camisa de força. 

Além de cantora, Andrea é jornalista e faz parte da Agência Pública de Jornalismo Investigativo. Em 2013, recebeu o Prêmio Tim Lopes de Jornalismo Investigativo pelo seu trabalho na história em quadrinhos “Meninas em Jogo” e foi premiada pelo Troféu Mulher Imprensa na categoria site de notícias em 2016.

Vocalista da banda "Charlotte Matou um Cara", Andrea Dip, usando uma camisa de força rosa
A banda já dividiu palco com a cantora e atriz Linn da Quebrada. Foto: Adriana Vieira / Rock On Board

Com músicas que tratam temas como machismo, ditadura militar e a luta contra a violação do corpo feminino, o grupo trouxe para o festival a agressividade e a energia para o "dia do rock". 

Na sequência, o grupo Terno Rei assumiu o palco e transformou a plateia ainda tímida em um coro envolvido por seu setlist, que mesclou sucessos da carreira e novas apostas sonoras. A banda ainda aproveitou o momento para anunciar seu próximo álbum, “Nenhuma Estrela”, com lançamento marcado para 15 de abril.

Depois de 8 anos longe do Brasil, Mark Foster e Isom Innis voltaram pela terceira vez ao Lollapalooza Brasil. As músicas foram de seus sucessos mais recentes às músicas mais queridas pelos fãs, como "Houdini" e "Call It What You Want". Com um público morno, mesmo com a presença dos fãs fiéis, eles não desanimaram e se mostraram contentes por estarem de volta. A música mais famosa, "Pumped Up Kicks", finalizou a apresentação do grupo.

A banda Tool se apresentou pela primeira vez no Brasil após 35 anos de carreira, mas quem compareceu esperando ver o grupo e uma apresentação tradicional teve uma surpresa. Tool fez um show cru, sem pausas e sem momentos emocionados. O visual sombrio e imersão feita pelos visuais espirituais do telão comandaram os espectadores a uma experiência única no festival, sendo o show mais enigmático da noite. A setlist foi variada, com alguns de seus sucessos e músicas de seu álbum mais recente "Fear Inoculum". Apesar da proposta diferenciada, o público pareceu embarcar na viagem sensorial proposta pelo grupo. 

Vocalisa da banda Tool na frente do telão, mas não somos capazes de ver seu rosto, apenas sua silhueta
A presença enigmática do vocalista causou muita curiosidade entre os espectadores. Foto: Sidnei Lopes/ @observadordaimagem

Sepultura está dando adeus aos palcos ao mesmo tempo que celebra seus 40 anos de carreira, assim como o nome de sua turnê, "Celebrating Life Through Death". Fechando a edição de 2025 do festival, a banda teve convidados curiosos para a setlist. Para acompanhar a música "Kaiowas", o cantor Júnior e o criador do Lollapalooza, Perry Farrell, subiram no palco para integrar o ritmo agressivo dessa despedida. Com uma setlist semelhante a do show feito em setembro do ano passado, também dessa turnê de adeus, o grupo não deixou o clima cair mesmo com os problemas técnicos que enfrentaram. O som estava abafado e baixo comparado ao de outros palcos, a banda Bush enfrentou o mesmo problema em sua apresentação. 

A banda encerrou seu legado no festival com um de seus maiores sucessos internacionais, "Roots Bloody Roots", eternizando seu legado e deixando saudades em seus fãs que se mantiveram devotos até o fim.

No palco ao lado, o grande headliner da noite, Justin Timberlake, mostrou que seu status de popstar segue intacto. A apresentação, que não foi transmitida ao vivo pelos canais oficiais do evento, teve performances energéticas, muita dança e vocais entregues sem base pré-gravada.

Justin Timberlake se apresentando no palco principal do festival
Justin Timberlake encerra a terceira noite do festival Lollapalooza 2025. — Foto: Divulgação/Lollapalooza

Com um show marcado por coros emocionados em “Mirrors” e uma enxurrada de hits como, “Cry Me a River”, “SexyBack” e “What Goes Around... Comes Around”, ele reforçou sua presença como um dos grandes nomes da música pop.

Apesar de definitivamente não estar em sua melhor fase — após polêmicas envolvendo sua ex-namorada Britney Spears, que o acusou de um relacionamento abusivo, e uma prisão em 2024 por dirigir embriagado — Timberlake demonstrou um forte engajamento com o público, que saiu eletrizado do show. 

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Conhecido pela estética e cultura oriental, o bairro renomeado em 2023 para Liberdade África-Japão carrega história ainda desconhecida
por
Vinícus Evangelista
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08/05/2024 - 12h

Famoso por suas icônicas luminárias japonesas e por abrigar a maior comunidade asiática do Brasil, o bairro da Liberdade, em São Paulo, atrai cerca de 20 mil visitantes todos os fins de semana, conforme dados da APECC (Associação Paulista dos Empreendedores do Circuito das Compras). Muitos, cativados pela culinária, produtos e atmosfera oriental que permeia as ruas, desconhecem a origem negra do bairro e pouco têm acesso a essa história quando caminham sob a região próxima ao centro da cidade.

 

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Os dias mais movimentados do bairro são sábado e domingo, quando acontece a "Feira de Arte, Artesanato e Cultura da Praça da Liberdade", popularmente conhecida como "feirinha da Liberdade", criada em 1975, que percorre toda a rua Galvão Bueno. Foto: Vinícius Evangelista.
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A estética do bairro tal qual conhecemos hoje começou a se moldar em 1970, quando foram instaladas as primeiras famosas lanternas japonesas. Foto: Vinícius Evangelista

 

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Em meio ao movimento da feira na atual Praça da Sé, antes Largo da Forca, está a "igreja de Santa Cruz das Almas dos Enforcados", fundada em 1891, no local onde antes se erguia uma cruz em memória das execuções de Joaquim José Cotindiba e Francisco José das Chagas, militares negros condenados a enforcamento por liderarem um motim que exigia, durante o governo Imperial, igualdade salarial entre soldados brasileiros e portugueses, além do pagamento atrasos remuneratórios. Joaquim foi morto, porém Francisco, conhecido como Chaguinhas. sobreviveu por três vezes à forca e foi morto a paulada. A cruz e a mesa com velas postas no local, foram sendo deslocadas conforme a região foi sendo habitada, até parar onde hoje está a igreja. Foto: Vinícius Evangelista.
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Antes de ser considerado centro, na então Vila de São Paulo, o bairro era denominado de "bairro da pólvora", uma simples periferia afastada o suficiente para ser construída ali, num dos largos, em 1754, a "Casa da Pólvora", um depósito de explosivos projetado para minimizar danos em caso de acidentes. Apesar da demolição do armazém, o local manteve o mesmo nome e foi transformado em um jardim oriental. Foto: Vinícius Evangelista.
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Monumento instalado, em 2018, rememorando os então 110 anos da imigração japonesa ao bairro e saudando a neta mais velha do então imperador japonês, Akihito, "sua alteza imperial Princesa Mako", que em 2021 abriu mão de seu título real para se casar com um plebeu e ir morar em Nova York. Foto: Vinícius Evangelista.

 

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No jardim, rodeado por bustos, estátuas e monumentos que contam a história da ocupação asiática no bairro, esta é a única placa que rememora o que era o largo antes da imigração. Foto: Vinícius Evangelista
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Antes chamado de "Largo do Pelourinho", o Largo de 7 Setembro foi renomeado em 1865, até quando havia um pelourinho no local, um poste de madeira para açoitamento público de escravizados, previstos no “Código Criminal do Império” de 1830, e na famigerada “Lei da Morte” de 1835. Os escravizados condenados a morte eram açoitados no pelourinho e iam caminhando até o Largo da Forca para a execussão. Foto: Vinícius Evangelista.
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Foi apenas em 2019 que uma pequena placa foi instalada na região memorando o fato. Foto: Vinícius Evangelista
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Apesar das poucas lembranças institucionais, os grafites e expressões populares tratam de lembrar a história de Chaguinhas e a resistência negra, em meio aos vislumbres da estética japonesa que compõe o bairro. Foto: Vinícius Evangelista.

 

O crescimento das escritas livres em massa nas redes sociais
por
Beatriz Lima
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02/05/2024 - 12h

Com o avanço das redes sociais a partir dos anos 2000 e a imersão dos jovens cada vez mais intensa nesses veículos, a sociedade se adaptou a viver com o ‘online’, quase como uma vida dupla. Tudo o que está presente na realidade agora também tem sua forma virtual, principalmente após o período pandêmico.  

Isso não seria diferente para a literatura, onde jovens vem cada vez mais se interessando pela escrita e vem buscando novos meios de divulgá-las. Aplicativos como ‘Wattpad’, ‘Spirit’ e ‘Archive of Our Own’ (AO3) eram utilizados, há 14 anos atrás, majoritariamente nos Estados Unidos para a escrita das famosas ‘fanfics’ - histórias fictícias criadas por fãs com o intuito de se aproximarem de seus ídolos, que se popularizaram entre jovens fãs de diversos nichos artísticos pelo mundo – mas agora, essas histórias se tornaram inspiração para filmes, séries ou até foram publicadas como livros  que circulam pelo mundo afora. 

Obras hoje famosas, já foram inicialmente fanfics.  Como a trilogia de ‘Cinquenta Tons de Cinza’, que se tratava de uma história de ‘Crepúsculo’, ou até mesmo a própria saga Crepúsculo, que foi baseada em uma fanfic sobre o vocalista da banda de rock ‘My Chemical Romance’, Gerard Way. Outro exemplo, é a franquia de livros e filmes ‘After’. que consistia em uma fanfic do cantor inglês Harry Styles. 

Em entrevista à AGEMT, a jovem Leona Nunes, 17, escritora e leitora assídua desse conteúdo diz que, ao dar início a prática de ler fanfics, conseguia se sentir, de certa forma, mais próxima e mais íntima de seus ídolos. “Ler e escrever conteúdo sobre eles exige que eu conheça no mínimo um pouco deles, ler algo que os envolve é muito mais estimulante. Uma vez que o público-alvo consome um conteúdo de pessoas que sentem afeição, tudo se torna mais envolvente e fácil de se aproveitar.”, complementa. 

É comum,  autores utilizarem de suas obras para, também, ressaltar e dar visibilidade a temáticas sociais, como a luta contra a homofobia, transfobia e a visibilidade a transtornos mentais e ao Espectro Autista. A fanfic ‘Senhor Coelho’, escrita pela jovem Ana, carrega uma história fictícia de romance homoafetivo que gira em torno de dois membros do grupo de K-pop Stray Kids, Han Jisung, um jovem pai solo dedicado ao seu filho doente, e Lee Minho, um médico diagnosticado com TEA (Transtorno do Espectro Autista) que busca salvar a criança. Ao longo da trama, a autora – também diagnosticada com TEA – traz como objetivo informar o público sobre o transtorno, pois, ela afirma, ser mais fácil aprender com o entretenimento.

Em entrevista à AGEMT, Ana Bittencourt, 20, a autora de ‘Senhor Coelho’, diz um pouco sobre seu processo de aceitação como pessoa no Espectro Autista, “Recebi meu diagnóstico aos 19 anos de idade, e foi algo que eu realmente não esperava. Foi doloroso, estranho, e eu neguei na primeira vez, mas no segundo profissional não consegui me convencer de que era um erro. De certa forma, tudo fez sentido, mas eu não entendia, a minha noção sobre autismo era totalmente limitada. Eu já estava escrevendo “Senhor Coelho” quando fui ao primeiro neuropsicólogo, e quando recebi a notícia, foi como abrir uma porta para uma nova descoberta.” 

No final de cada capítulo da obra, a escritora faz questão de explicar os comportamentos do personagem com TEA, com base em pesquisas, conversas com profissionais e suas próprias vivências, como forma de fazer os leitores entenderem suas ações e as informar sobre o Espectro sem estereótipos e de maneira divertida. Assim como, a própria escritora disponibiliza em sua página do ‘X’ um informativo de sua fanfic, repleto de informações complementares e curiosidades sobre toda a temática por trás da história. 

“Pesquisas e mais pesquisas me fizeram criar o personagem principal, Minho, no intuito de descobrir mais sobre mim. Ao escrever ele, suas peculiaridades, sua personalidade, cada detalhezinho que fazia dele alguém único, eu aceitei que não era o fim do mundo ser uma pessoa autista, que eu podia lidar com aquilo, que eu poderia me encaixar de verdade. O Minho é um personagem que foi muito machucado por ser quem é, mas busca melhorar a cada dia, assim como a maioria de nós, adultos autistas”, completa a jovem autora.

Abordar essas temáticas nas fanfics fortalece a luta pela visibilidade das problemáticas sociais e, de forma marcante, apoia as pessoas a se expressarem e não terem vergonha de quem são. Ana diz ainda: “O autismo adulto ainda é um assunto que, infelizmente, carrega muita desinformação e estereótipos na mídia no geral, e quase ninguém se preza a tirar cinco ou dez minutos de seu tempo para pesquisar em sites e livros que tratam o assunto. Juntando um tópico de interesse (K-pop), um tema muito procurado (romance) e uma pauta pouco falada (TEA adulto), uma forma diferente de informar e visibilizar é criada e disponibilizada para todos, sendo muito mais fácil de compreender e estimular a curiosidade.”

Ainda assim, existe um certo preconceito de alguns em relação à produção de fanfics e, também, descaso do público com o trabalho dos autores do gênero . Quando questionada sobre já ter sofrido algum desrespeito por ser uma escritora independente de um conteúdo muito específico, Ana afirma que sente que se falasse que escreve um livro seria muito mais levada a sério: “Sinto que, se eu falasse que escrevo um livro, mas não citasse a plataforma, levariam mais a sério e não teriam aquele típico olhar de ‘ah, então não é importante’ que nós, escritores, recebemos quando descobrem que o nosso meio é independente.” 

Os jovens escritores também utilizam o‘X’ (antigo ‘Twitter’) como plataforma para suas obras, nesse espaço as fanfics são conhecidas como ‘AU’, do inglês ‘Alternative Universe’. As AUs consistem em posts em sequência com a própria escrita narrada ou em uma sequência de ‘prints’ de mensagens e narrativas que completam a história - como um meio de economizar espaço, pois a plataforma disponibiliza um limite de 4 imagens por postagem. 

A jovem Flavia (@tolovchan no X), 25, formada em Psicologia e autora da au ‘Somos de Mentira’, diz em entrevista à AGEMT sua visão sobre a inserção das fanfics e au’s no mundo literário “Acredito que sempre tenha feito parte da literatura, mas agora estamos nomeando e categorizando. Tenho certeza de que essa foi a entrada para a leitura/escrita de muitas pessoas. Mas é claro que, além de tudo, agora também existe uma visibilidade maior por conta da internet. O mais bacana nisso é a possibilidade que as pessoas estão encontrando na publicação independente e, sem dúvida, a facilidade que as redes sociais dão ao público para acessar a escrita dessas pessoas.” completa.

Atualmente existem AU’s no ‘X’ com mais de um milhão de visualizações, como é o caso de ‘Somos de Mentira’,que retrata uma história fictícia entre Jisung e Minho, dois membros de um grupo sul-coreano de K-pop, chamado Stray Kids. Mesmo ainda não concluída, a obra assegura mais de 6.000 curtidas e 2.000 repostagens, trazendo um incentivo positivo à popularização de fanfics e, também, estimulando a escrita e leitura dos jovens e adolescentes imersos nessa cultura.

As fanfics online facilitam de maneira significativa o acesso à literatura. Em um mundo tão imerso nesse meio virtual é importante que haja mecanismos para que o hábito da leitura, e escrita, não se percam. “É uma forma das pessoas acessarem a leitura de forma muito fácil e muito frequente, e tudo isso acontecer pelo celular/computador de certa forma ajuda a inserir a leitura na vida das pessoas sem que elas necessariamente precisem buscar por isso. É um bom estímulo inicial na minha perspectiva, muitas pessoas criam o hábito a partir disso.” finaliza Flavia.  

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De peças de teatro a exposições, confira todas as atrações que a capital paulista oferece
por
Maria Eduarda Camargo
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02/05/2024 - 12h

Com o fim de abril, maio não fica para trás na agenda cultural. Entre exposições, experiências interativas, e até a famosa Virada Cultural de São Paulo, diferentes tipos de passeios são uma opção viável para os paulistanos durante o mês. Confira agora o que há de imperdível no lazer paulistano.

Música

Festival Nômade SP

Realizado no parque Villa Lobos, o Festival Nômade traz nomes de peso para a cidade, como Alceu Valença, Pabllo Vittar, Baco Exu do Blues, Maria Gadú, Urias e Nando Reis, durante os dois dias de atrações.

Pabllo Vittar
Pabllo Vittar, uma das atrações do Festival Nômade. Foto: @pabllovitar Via Instagram

 

Quando: 25 e 26 de maio

Onde: Parque Villa Lobos (Av. Prof. Fonseca Rodrigues, 2001, 70, Alto de Pinheiros, Alto de Pinheiros, São Paulo, SP)

Ingressos: R$ 74 a R$ 184

 

Municipal Circula – Coro Lírico Municipal e Pastoras do Rosário no CEU Vila Curuçá

O Theatro Municipal de São Paulo apresenta um evento externo com o Coro Lírico Municipal, no show das Pastoras do Rosário em seu primeiro álbum, Da Nebulosa ao Brilho. Segundo o site do Theatro Municipal, o grupo foi formado em 2017, “na Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França, na zona leste de São Paulo”, e possui influências de moçambiques e congadas no ritmo.

Pastoras do Rosário
Pastoras do Rosário durante evento no Itaú Cultural, em novembro de 2023. Foto: Cassandra Melo

 

Quando: 25 de maio - 11h

Onde: CEU Vila Curuçá (Av. Marechal Tito, 3.452. Vila Curuçá, São Paulo/SP)

Ingressos: Entrada gratuita

 

Virada Cultural de São Paulo

Virada Cultural
Palco Heliópolis, na Virada Cultural de 2023. Foto: André Porto/UOL

A 19ª edição da Virada Cultural de São Paulo ocorre entre os dias 18 e 19 de maio, e conta com diversos shows e apresentações em espaços públicos, além de parcerias com centros culturais. O evento é realizado pela Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo. O lineup da Virada Cultural 2024 ainda não foi divulgado.

 

Quando: 18 e 19 de maio

Onde: Locais indisponíveis até a data de publicação do texto

Ingressos: Entrada gratuita

 

Arte e fotografia

MAM: Sergio Milliet

A nova aquisição do Museu de Arte Moderna de São Paulo, o MAM, é a série de pinturas a óleo sobre madeira de um dos maiores artistas do modernismo brasileiro, Sergio Milliet. Disponível até 12 de maio, a aquisição remonta a exposição de 1969 do artista, com pinturas oriundas de amigos próximos.

Foto: Jamile Rkain/Acervo MAM
Pintura sob madeira, do acervo do MAM do artista Sergio Milliet. Foto: Jamile Rkain/Acervo MAM

 

Quando: até 12 de maio

Onde: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº - Portões 1 e 3)

Horário de funcionamento: terça-feira a sábado, das 10h às 12h30 e das 13h30 às 18h

Ingressos: R$ 30 a inteira; R$ 15 a meia. Entrada gratuita aos domingos.

 

IMS: Koudelka

A exposição fotográfica conta com os três maiores trabalhos de Josef Koudelka, representante do movimento humanista na área, e retrata a etnia cigana na cidade de Praga, em 1968. Intitulada Exílios, a fotografia de Koudelka pode ser visitada no Instituto Moreira Salles, com entrada gratuita.

Koudelka
Fotografia de Jousef Koudelka para a exposição "Exílios", disponível no IMS. Foto: Josef Koudelka/Magnum Photos/Acervo IMS.

 

Quando: 18 de maio até 15 de setembro

Onde: IMS (Avenida Paulista, 2424 - Galerias 2 e 3 - 7º e 8º andares, São Paulo)

Horário de funcionamento: Terça a domingo e feriados (exceto segunda) das 10h às 20h. Última admissão: 30 minutos antes do encerramento

Ingressos: Entrada gratuita

 

Cinema

Sessão de curtas dos anos 90 e 80 na cinemateca

A cinemateca brasileira apresenta duas mostras de curtas dos anos 90 e 80, dentro da mostra Jorge Furtado: Tudo isso aconteceu, mais ou menos, com cerca de 5 curtas por mostra.

Cena do FIlme "Ângelo Anda Sumido"
Cena do FIlme "Ângelo Anda Sumido", de 1997, do diretor Jorge Furtado. Foto: Reprodução/Ângelo Anda Sumido/Cinemateca brasileira.

 

Quando: 4 de maio - 18h (sessão anos 90); 5 de maio - 17h15 (sessão anos 80)

Onde: Sala Grande Otelo (Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Mariana / SP)

Ingressos: Entrada gratuita

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Exposição termina com a Comissão da Verdade na PUC-SP
por
Rodrigo Lozano Ferreira
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02/05/2024 - 12h

O museu, localizado no prédio onde existiu o DEOPS (1964-1985), iniciou em abril, em memória aos 60 anos do Golpe Militar, uma série de exposições e atividades culturais que buscavam de forma interativa, refletir sobre a memória da ditadura. 

A última exposição, ocorrida no sábado dia 27/04 abordou a atuação da Comissão da Verdade “Reitora Nadir Gouvêa Kfouri”, criada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo em 2013, assim como a história de resistência da universidade. Junto com todas as instalações, a visita é imperdível para quem quer conhecer esse momento da história.
 

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Exposição PUC-SP no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira

O próprio prédio, como um monumento vivo que carrega uma história tão violenta, incita a reflexão antes mesmo de entrar, entre a caminhada de 7 minutos da estação da Luz até um dos mais violentos centros de repressão da nossa história, passa-se pelas ruas na área de uma "cracolândia", e há uma demonstração prática da violência, ao ver a polícia militar ao enquadrar com seus fuzis, a população que passava pela rua, conta Sofia Rocha, estudante de História na PUC-SP, que visitou o memorial pela primeira vez, para a faculdade.

“O momento mais marcante não foi no museu, mas nos arredores, nós de São Paulo, sabemos que o centro é perigoso, mas muitos policiais com fuzis enormes faziam abordagens violentas e aleatórias contra usuários de crack e qualquer pessoa negra, justamente quando (eu) caminhava para um dos maiores centros de repressão da ditadura.”

 

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Vista do terceiro andar do Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Ferreira

Chegando lá, há uma série de exposições fixas, como um grande arquivo organizado ao público, com informações gerais sobre a ditadura, uma grande linha do tempo, e enfim a história da própria instalação, que preservou as celas com seus rabiscos nas paredes, remonta cenários, cartas de e para detentos e o estreito corredor de banho de Sol (quase nunca utilizado).

“Eu achei legal, como faz relação com as violências atuais, a questão sensorial nas celas, com o cheiro e as paredes escritas, até achei o nome de uma familiar. Gosto muito do filme batismo de sangue, e tem várias referências de filmes sobre a ditadura. “

Conta Lola Aguiar, estudante de arqueologia pelo MAE-USP (Museu de arqueologia e etnografia na Universidade de São Paulo), que visitou a exposição para aula de museologia.

No terceiro andar do prédio, a visita continua com a exposição temporária “Mulheres em Luta! Arquivos de Memória Política”, com curadoria de Ana Pato. A exposição traz um largo acervo fotográfico e audiovisual, de testemunhas, casos de perseguição e violência. 

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Exposição "Mulheres em Luta! Arquivos de memória política". Foto: Rodrigo Ferreira

“No terceiro andar me chamou a atenção, por ter mais informações em audiovisual, reconstrução de cenário de um filme e quadros. Como mulher também me tocou mais, por ver a vulnerabilidade sexual que elas (as mulheres na ditadura) enfrentavam”, diz Sofia Rocha.

Para Lola Aguiar: “o terceiro andar estava com uma ótima iluminação, e a autonomia que o visitante tem para andar, tá muito bonita. Mas a sinalização tá ruim e confusa, quase não vi que tinha uma sala atrás, também é maçante, muita informação, não dá pra ver tudo em um dia.

A estudante, ao analisar a exposição também notou a questão da inclusão: “nenhuma acessibilidade, no QR code só tinha a tradução para inglês, sem libras ou braille, a não ser nos vídeos, também não tem nenhum guia para acessibilidade”.

A exposição também contou com uma oficina de arte e memória, em que os participantes imprimiam em um tecido, uma foto ou imagem presente no acervo de sua escolha. O estudante de música da USP, Léo, participou da oficina e contou um pouco sobre.

“Viemos visitar o memorial na semana passada, e hoje viemos fazer uma oficina de impressão em tecido relacionado a violência contra as mulheres. É muito interessante, achamos que os recursos seriam caros, mas é bem simples, apenas a imagem, sulfite, cola e impressão a laser. Vamos levar para casa.”

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Léo após oficina de arte e memória no Memorial da Resistência. Foto: Rodrigo Lozano


A visita é de fato emblemática para todos que querem aprender e nunca esquecer. “Manter a memória é a importância, precisamos saber que as coisas aconteceram, precisamos ser realistas, muitas violências são naturalizadas, 60 anos parece muito tempo mas não é nada, não é nada se formos parar para pensar no Brasil e no mundo de hoje, essas violências seguem acontecendo, a gente precisa lembrar, revisitar, aprender, ouvir e contar essas histórias, se não essas memórias somem, e não podem sumir”, comenta Léo.

“É muito impactante ver o nome de pessoas que você conhece fazendo parte dessa história, e pensar o museu como esse espaço de manter viva uma memória, ao preservar os arquivos e educar”, completa Lola.
 

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A Universidade Católica de São Paulo durante a ditadura militar tinha um jeito muito próprio de resistir, mas mostrou que ditador se combate
por
Rafael Francisco Luz de Assis
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01/05/2024 - 12h

Por: Rafael Luz de Assis

Quando falamos da ditadura civil-militar brasileira e movimento estudantil, lembramos de algumas instituições. A PUC pode não ser uma das primeiras a vir a mente, mas sua história é rica, e merece ser relembrada.  

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Manifestantes carregam estudante morto a tiro durante o confronto. Crédito: Arquivo Público do Estado de São Paulo.

 

São casos bem famosos e sempre que falamos de resistência estudantil, algum desses já vem à cabeça. Mas e a PUC? A tradicional universidade católica de São Paulo tem seus causos e foi sim um polo importante de resistência à Ditadura.  

Diferentemente de outras universidades do país, por ser uma Pontifícia amparada na Igreja, a Católica não sofreu com tantos assédios institucionais e desmonte de projetos acadêmicos. Claro passou basicamente ilesa. Devido ao fato de ter conseguido continuar com seu plano pedagógico e acadêmico quase completo, a universidade acabou recebendo uma boa parte de professores que eram perseguidos, expulsos e aposentados compulsoriamente de outras entidades, entre eles, destaca-se Paulo Freire, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Maurício Tratenberg, Bento Prado Junior, entre outros.  

Em 1965, o TUCA (teatro da universidade católica) é inaugurado com uma peça considerada extremamente subversiva, “Morte e vida Severina” de João Cabral de Melo Neto já no ano de 1968 recebeu Caetano Veloso cantando “É proibido, proibir.  

O Ministério da Educação do regime, e a United States Agency for International Development (USAID, uma agência estadunidense de ajuda ao desenvolvimento) firmam um acordo educacional em que na verdade era um alinhamento da educação brasileira com os interesses estadunidenses, e que foi vendido como adequação brasileira as melhores práticas educacionais do mundo. Surpreendentemente, a implementação desse projeto na USP ocorreu sem maiores tormentas.  

Já na PUC os alunos ocuparam as instalações da reitoria e dos jardins por dois meses e só após comissões paritárias entre professores e alunos, que propuseram novos currículos que visassem à formação de uma consciência crítica e comprometida com a realidade a manifestação cessou.   

Já nos primeiros anos do regime ditatorial, ficou evidente que o movimento estudantil era um dos “inimigos” a serem caçados. Nas universidades públicas foram proibidos os DCEs (Diretório Central dos Estudantes) e CAs (Centros Acadêmicos) sob a alegação de que promover “qualquer ação, manifestação ou propaganda de caráter político-partidário, bem como incitar, promover ou apoiar ausências coletivas aos trabalhos escolares”. A UNE também foi extinta.

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O prédio na praia do Flamengo 132, sede da União Nacional dos Estudantes desde a década de 1940 – 05/10/1963 – Fundo Correio da Manhã/Arquivo Nacional ​​​​

 

Mais uma vez se aproveitando do caráter institucional da PUC que por ser católica passava batida pelo moralismo vigente, em 1977 os estudantes voltam a tentar se organizar e se posicionar referente a situação precária do ensino superior no país, a PUC cumpre o importante papel de sediar a 29ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), que havia sido proibida de acontecer pela ditadura.   

O marco de truculência da ditadura e da resistência na PUC também é em 1977. Depois de uma manobra audaciosa dos estudantes que promoveram uma série de encontros relâmpago para ludibriar os militares, que queriam barrar as reuniões, alunos de todo o Brasil se encontraram no campus Monte Alegre, eram cerca de 70 delegados estudantis de todo o país. Foi o primeiro ato pró-UNE depois de vários anos.  

O movimento estudantil ficou em êxtase e como a reitoria tinha negado a abertura do TUCA justificando temer repressão policial, os estudantes fizeram um ato de “comemoração” em frente ao teatro. Cerca de 2000 estudantes segundo a CVPUC (Comissão da Verdade da PUC), estavam ao início da leitura da carta aberta quando o então coronel Erasmo Dias que chefiava o DEOPS (Departamento Estadual de Ordem Política e Social) paulista e seus mais de 900 policiais, invadiram o campus Monte Alegre e levaram mais de 800 pessoas presas e fichadas no órgão.  

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Mais de 800 Estudantes foram detidos e levados para um estacionamento passando por uma "triagem" - Comissão da Verdade/PUC

 

Foi então que a reitora da instituição, primeira reitora de uma universidade católica, a senhora Nadir Kfouri, foi ao socorro dos alunos e ao chegar encontrou todos sentados esperando orientações e o Coronel veio em sua direção, estendeu a mão a cumprimentando, nesse momento Kfouri diz a frase que ficou marcada para história dessa instituição como resistência do movimento estudantil no país: “não dou a mão a assassinos”.  A invasão da PUC é um marco da resistência dos estudantes, os “puquianos” se orgulham de lembrar que torturador tem que ser tratado como tal. 

Vale deixar aqui a menção vergonhosa ao fato de o Governador do Estado de São Paulo Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) em uma via de entroncamento na cidade de Paraguaçu Paulista (cidade natal do coronel), faz uma homenagem ao "Deputado Erasmo Dias", personagem que segundo o mandatário nunca foi condenado por "atos praticados por sua vida pública pregressa". Lembrando que o Coronel nunca foi condenado pois a lei criminosa da anistia proibiu o julgamento dessa caterva.  

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Policiais levaram estudantes para delegacia para autualos. Comissão da Verdade/PUC 

 

Atualmente, foi criada no Memorial da Resistência em São Paulo uma mostra temporária como forma de relembrar a força e a luta vivenciada na PUC-SP durante o período da ditadura militar. A exposição, que vai até 2025, conta com cinco eixos de exploração: Invasão da PUC-SP e a resistência à ditadura; Docentes, artistas e intelectuais acolhidos pela PUC-SP; Comissão da Verdade da PUC-SP Reitora Nadir Gouvêa Kfouri; Arte e resistência no TUCA; e A defesa radical da democracia. 

A democracia volta depois de anos, o regime repressor é expulso (não podemos dizer eternamente pois temos ainda hoje quem peça seu retorno), e a PUC não deixou a luta. Antes mesmo de se tornar realidade nacional, a instituição criou a própria comissão da verdade, CVPUC - Comissão da verdade da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, que, assim como a própria universidade, com suas marcações históricas imortalizadas, ainda segue como exemplo de resistência contra opressão de todas as formas. 

  

  

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.   

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