Banda se apresenta em fevereiro de 2026; taxas extras geram críticas e frustrações entre os fãs
por
Maria Clara Palmeira
|
27/06/2025 - 12h

A espera acabou! Na segunda-feira (23), foi anunciado que, após 17 anos, a banda americana My Chemical Romance retornará ao Brasil em 2026 pela segunda vez. O único show da banda em solo brasileiro será no dia 5 de fevereiro, no Allianz Parque, em São Paulo, como parte de sua turnê pela América Latina. 

A apresentação contará com a abertura da banda sueca The Hives e irá reunir brasileiros que acompanham a trajetória do grupo desde os anos 2000.

Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance
Anúncio da turnê na América do Sul. Reprodução: Instragram/@mychemicalromance


Formada em Nova Jersey nos Estados Unidos, em 2001, o My Chemical Romance tornou-se uma das bandas mais representativas do rock alternativo e símbolo do movimento emo. A formação atual é composta por Gerard Way nos vocais, Ray Toro e Frank Iero na guitarra, e Mikey Way no baixo.

O grupo lançou seu álbum de estreia, “I Brought You My Bullets, You Brought Me Your Love”, em 2002, mas o sucesso internacional veio em 2004, com “Three Cheers for Sweet Revenge”. No entanto, foi em 2006 com o disco “The Black Parade” que a banda atingiu o auge. O single “Welcome to the Black Parade” se tornou um hino da geração emo, alcançando o primeiro lugar nas paradas britânicas e consolidando o grupo no cenário global.

Após diversos sucessos, a banda entrou em hiato e anunciou sua separação em março de 2013. O retorno foi anunciado em outubro de 2019, com um show em Los Angeles. Em 2022, após dois anos de adiamentos devido à pandemia, a banda embarcou em uma extensa turnê, passando pelos EUA, Europa, Oceania e Ásia.

Desde a quarta-feira (25), início da pré-venda, fãs relataram insatisfação com o preço dos ingressos, que variam entre R$ 197,50 e R$ 895,00, além das cobranças de taxas adicionais. A revolta se intensificou com a cobrança da taxa de processamento, considerada uma novidade pela bilheteria oficial, a Eventim. A empresa alegou que essa tarifa garante a segurança dos dados dos consumidores, mas a justificativa não convenceu o público. 


Mesmo com a revolta, a expectativa de alta demanda se confirmou: a venda geral, aberta nesta quinta-feira (27) ao meio-dia, resultou em ingressos esgotados em 10 minutos.

Tags:
Nova exposição na Pinacoteca Contemporânea revela o papel político da pop arte brasileira no período de ditadura.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
|
25/06/2025 - 12h

Por trás da explosão de cores, imagens familiares e estética publicitária da pop art brasileira, havia ruído, ambiguidade e protesto. Essa é a premissa da exposição Pop Brasil: Vanguarda e Nova Figuração, 1960-70, em cartaz na nova sede da Pinacoteca Contemporânea, em São Paulo. Mais do que uma exibição de obras pop, a mostra constrói um retrato crítico de uma década marcada por ditadura, censura e modernização desigual, e de como a arte respondeu a esse cenário.

A exposição celebra os sessenta anos das mostras Opinião 65 e Propostas 65, marcos da virada estética e política na produção brasileira. O percurso curatorial, assinado por Pollyana Quintella e Yuri Quevedo, reúne obras que reagiram diretamente ao avanço da indústria cultural, à opressão do regime militar e à transformação dos modos de vida. Em vez de apenas absorver os códigos da cultura de massa, os artistas incorporaram sua linguagem para tensionar o que ela ocultava: a violência da ditadura, o apagamento de subjetividades e a precarização das relações sociais.

Contra a censura
Tônia Carreiro, Eva Wilma, Odete Lara, Norma Benghel e Cacilda Becker protestam contra censura, em 1968

A ideia de que “a pop arte é o braço avançado do desenvolvimento industrial das grandes economias” é ressignificada no Brasil, onde a modernização industrial coexistia com a informalidade, a desigualdade e a repressão. Em vez do otimismo norte-americano, a arte pop brasileira surge como crítica: reapropria slogans, transforma marginais em heróis, imprime silhuetas de bandeiras como gesto de manifestação coletiva. A visualidade sedutora do consumo encontra a resistência política camuflada nas superfícies gráficas.

A exposição percorre núcleos como Poder e Resistência, Desejo e Trivialidade, Criminosos e Cultura Marginal, entre outros. Em comum, todos os conjuntos partem de imagens produzidas ou apropriadas do cotidiano: televisão, jornal, embalagem; para apontar fissuras entre aparência e estrutura. Hélio Oiticica, Rubens Gerchman, Wanda Pimentel, Antonio Manuel e muitos outros traduzem a tensão entre censura e invenção por meio de performances, happenings e obras gráficas que confundem arte e ação direta.

Helio Oiticica
Hélio Oiticica, 1968

Se nos Estados Unidos a pop art celebrava o consumo, no Brasil ela revelou o que havia por trás dele. A mostra explicita como a arte brasileira dos anos 1960 e 70 operou sob risco, incorporando elementos populares para criticar os próprios instrumentos de controle e espetáculo.

Mais do que rever o passado, Pop Brasil propõe um exercício de leitura do presente. Diante da repetição de discursos autoritários, da estetização da política e da crise na democracia, o gesto pop reaparece como estratégia de sobrevivência, uma forma de dizer muito com imagens que, à primeira vista, parecem dizer pouco.

 

Tags:
A incerteza quanto ao fim das salas de cinema e início da diminuição em massa de consumidores
por
Chiara Renata Abreu
|
18/06/2025 - 12h

A recente chegada dos streamings pode acabar com os cinemas. Internacionalmente, as plataformas têm se mostrado cada vez mais aptas a abalar seus concorrentes. 

Depois da pandemia, os donos dos cinemas sentiram a diminuição de movimento, que preocupa não só a indústria, mas a sociedade em si. Filmes e curtas fazem parte da formação da cultura de civilizações, e a incerteza de sua existência atormenta. Os streamings ganharam força no período de quarentena, ocupando o espaço que as salas obtinham. O conforto de estar em sua própria casa, poder parar o filme a qualquer momento e a variedade no catálogo são alguns dos principais motivos do aumento da modalidade segundo pesquisas da Cinepop, site especializado em cinema. 

De acordo com pesquisas da revista O Globo, a área do cinema conseguiu em 2023 superar as dificuldades e recuperar alguns de seus fregueses, mas os números seguem abaixo do que estavam antes da pandemia. Segundo o analista de mercado Marcelo J. L. Lima em entrevista para a revista, a crise é mundial, com ressalvas em países como França, Índia, Coreia do Sul e China, que tem menor influência de Hollywood. Ainda, a reportagem aponta que parte da fraqueza hoje encontrada na indústria se fez depois de 1980, a partir do início da migração dos cinemas de rua para os de shopping. Em 2008 apenas 27% deles eram fora dos centros de comércio. 

Em entrevista para O Globo, Marcos Barros, presidente da Associação Brasileira das Empresas Exibidoras Cinematográficas Operadoras de Multiplex (Abraplex), apontou que os cinemas estão em apenas 8% dos municípios brasileiros, apenas 451 de um total de 5.565 cidades. A volta dos cinemas de rua poderia diminuir o desequilíbrio das salas, gerando uma maior popularização do cinema. Segundo Raíssa Araújo Ferreira, estudante de cinema na Belas Artes, “os cinemas estão se perdendo. Antigamente existiam vários cinemas de rua, de mais fácil acesso. Hoje está acontecendo uma elitização das salas. Elas estão, por exemplo, muito longe das periferias e concentradas nos shoppings, então existe todo o gasto com a locomoção. O cinema se torna um lugar de privilégio”. 

“O cinema é a sétima arte. Ela é um conjunto de todas as outras artes, e o cinema é vivo. Ele é sempre atual. Ele é sempre de todas as épocas. Então nada que é vivo vai desaparecer sem deixar vestígios. O cinema tem muito o que falar. É como se as salas estivessem adormecidas. Elas não estão mortas, mas sim apagadas”, comenta a aluna. 

A jovem complementa com ideias para a volta do triunfo das salas de cinema. “Acho que precisamos reinventar as salas. Apostar em programações mais diversas, ingressos mais acessíveis, novas salas mais perto da periferia e espalhar o cinema pelas cidades do Brasil. Criar o desejo de ir ao cinema, como um acontecimento, e trazer experiências mais imersivas, como convidar atores para, antes da sala de cinema, falarem sobre o filme. Trazer também eventos para apoiar o cinema de rua, investindo nas produções independentes e criando lugares públicos. Assim, as salas vão se reposicionar e oferecer algo que o sofá de casa ou a cama não oferece”. 

Tags:
A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
por
Por Guilbert Inácio
|
26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Temáticas são abordadas desde os anos 60 no Japão e continuam exploradas até hoje
por
LUCCA CANTARIM DOS SANTOS
|
16/06/2025 - 12h

“O sonífero”, projeto criado por Lucca Cantarim, estudante de jornalismo na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) , tem por objetivo combater a visão reacionária a respeito de temas de gênero no entretenimento.

Trazendo a história da presença de personagens de diversas sexualidades e gêneros nos mangás e animes dentro da mídia japonesa, o autor trás uma reflexão leve, descontraída, porém importante a respeito de uma representatividade tão importante.

Os sete artigos que compõem o projeto estão disponíveis para serem lidos no site “Medium”, no perfil autoral de Lucca. Os textos contém entrevistas com pesquisadores, fãs e até mesmo leitores de dentro da comunidade LGBT que se identificam e se abrem sobre a importância da representatividade para eles.

Disponível em: https://medium.com/@luccacantarim/list/o-sonifero-d19af775653e

 

Grupos organizados do Corinthians vão à Avenida Paulista para se manifestar contra autoritarismo
por
João Carlos Ambra de Oliveira
|
01/07/2020 - 12h

         

           No dia 9 de maio integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel foram à Avenida Paulista defender a democracia. Torcedores do Corinthians impediram uma outra manifestação que ocorreria no mesmo local em apoio ao governo do Presidente Jair Bolsonaro.

          De acordo com o site Meu Timão, a concentração foi por volta de 13h30 tendo como maioria moradores da zona norte de São Paulo, assim como membros da organizada Gaviões da Fiel. Já os apoiadores do presidente não apareceram, concretizando o objetivo dos manifestantes.

          "Estávamos lá, como torcedores brasileiros, que avaliam o momento e têm a história da Democracia Corinthiana como diretriz. É o mesmo grupo que tem se reunido para entregar marmitex e cestas básicas”, disse Danilo Pássaro, um dos líderes da manifestação ao site Meu Timão.

          Já no dia 31 de maio o grupo voltou a se encontrar, porém desta vez com a participantes de outras torcidas da cidade, para nova manifestação contra o fascismo, ocorreu também na mesma data e local ato em prol do presidente. 

          Estiveram presentes grupos como: Coletivo Democracia Corintiana, Gaviões da Fiel e as palmeirenses Porcomunas e Palestra Antifascista . “O futebol é o que une as pessoas nesse país, não poderia ser diferente em um momento como esse”, disse Wagner de Souza, torcedor do palmeiras e integrante da torcida Palestra Antifascista, à reportagem do jornal Folha de S.Paulo. 

          Por volta das 14:00 na Avenida Paulista, altura da Br. Luiz Antônio, houve concentração de bolsonaristas vestidos com camisetas da Seleção Brasileira de Futebol, já em frente ao MASP os antifascistas se agrupavam de maneira pacífica, quando uma manifestante bolsonarista portando um taco de beisebol, provocou os rivais, causando conforto entre os grupos. A Polícia Militar interveio com violência contra os que se manifestavam a favor a democracia, não agindo da mesma maneira com o outro grupo.

          Os torcedores do alvinegro paulista marcaram presença também na manifestação domingo (7), em ato antifascista que aconteceu no Largo da Batata zona sul de São Paulo que foi o principal evento entre os três citados.

          Segundo Lucas Toth Neves Bezerra, 28 anos, membro da torcida Gaviões da Fiel e estudante de jornalismo da PUC-SP, os torcedores estavam se sentido incomodados com atitudes que boslonaristas vinham tendo em seguidas manifestações como agredir e intimidar enfermeiras e profissionais da saúde

“ A Gaviões de fora acham  que é todo mundo comunista, anarquista... Mas não é nada disso, enfim houve um consenso do que estava acontecendo era errado os bolsonaristas tentando agredir enfermeira, intimidando enfermeira, intimidando profissionais da saúde, a partir daquele  momento muitos ali pensaram: “Não, tá errado, esses caras indo pra rua, estamos quietos aqui e precisamos fazer uma demonstração de força.”

         O aluno de jornalismo participou de uma das reuniões que foram responsáveis por organizar os atos a favor da democracia.

“Na reunião que eu participei, pra segunda manifestação, que foi a que teve o episódio do taco de baseball, a reunião foi na quarta-feira (27) antes do ato, estávamos em umas 15 pessoas e ficou decidido que teríamos dois objetivos. O primeiro era incentivar e motivar os movimentos democráticos a voltar às ruas e um segundo objetivo era constranger e mostrar aos bolsonaristas e aqueles que estão pedindo a volta dos militares e o fim do STF por exemplo uma intimidação.”

Tags:
Experimentação, novos formatos e lives são os recursos utilizados pelos profissionais da cultura para se manter durante a quarentena.
por
Carlos E. Kelm
|
26/06/2020 - 12h
Marietta posa para foto
Marietta. Foto: Raquel Vital

Artistas recorrem à experimentação para se adaptar à pandemia. As políticas de distanciamento social inviabilizaram shows e espetáculos, interrompendo a principal fonte de renda destes profissionais.

“A gente trabalha com aglomerações”, comenta Marietta, que teve o lançamento do seu novo álbum “Analógica” adiado. “O retorno estava totalmente apoiado nas ações voltadas pros shows, que ainda são a maior fonte de renda da música”

A cantora trabalhava no projeto há três anos e chegou a lançar o primeiro single “Analógica” em janeiro. Mãe solteira, revelou que a rotina tem sido difícil: “Eu tenho uma filha pequena e, sem a creche, meu trabalho tá muito grande”

Marietta está produzindo uma série de vídeos caseiros intitulada “Videobilhetes” para o seu canal no IGTV e planeja lançar mais um single ainda na quarentena: “Este momento está forçando tanto artistas quanto outros profissionais a pensar alternativas”, conclui.

A cantora revelou que planeja fazer uma live, mas lembra: “A live não substitui o show. A qualidade técnica ainda não chegou num patamar que possa garantir a integridade do trabalho”

“Já era difícil antes”, declara ao falar sobre a situação da cultura no país, “A princípio houve uma grande morte do setor”. No entanto, a cantora é otimista quanto à comunidade artística: “Acredito que a gente vai conseguir se organizar e trazer medidas práticas que possam reduzir os danos”

 

Foto de André Grecco
André Grecco. Foto: Acervo pessoal.

 

A comédia “A Banheira”, na qual ator e diretor de teatro André Grecco atua há dois anos foi suspensa, assim como o seu monologo “A Dama da Noite”, que entraria em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade.

Sem as bilheterias, Grecco, que também é professor, ministra aulas remotas para se manter. “Estamos entre artistas que tinham uma reserva financeira e estão vivendo com ela, artistas que, como eu, dão aula e estão dando aulas de maneira remota, e artistas que estão dependendo de fundos levantados por colegas ou de ações do governo para poder sobreviver”

Grecco pretende aderir às plataformas virtuais e planeja realizar uma montagem que será apresentada remotamente, tendo parte de sua casa como cenário. “Eu acho que esses novos formatos podem ser muito interessantes, pode ser um momento de muitas descobertas na relação entre arte e tecnologia”, comenta o ator. No entanto, não acredita que o teatro físico possa ser substituído: “Acho que teatro é o ‘pessoalmente’ não só o ‘ao vivo’”

O ator também critica a falta de preocupação do Governo Federal com a cultura: “A cultura sempre esteve em último lugar, eles querem que ela sirva à religião deles e à ideologia deles”

Para Grecco, a cultura desempenha papel importante na Saúde Pública: “Se não tivesse nenhum tipo de arte agora, cinema, séries, as lives, a saúde psicológica do povo não estaria pior?”

O ator revela que artistas e técnicos das artes cênicas estão se mobilizando para pressionar os órgãos públicos: “Estamos lutando para que, através do Fundo Nacional da Cultura, façam alguma coisa por nós, para que os teatros que não estão tendo como se sustentar possam sobreviver a essa crise”

“A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, na figura Hugo Possolo está lutando, e agora conseguiram apressar os editais para que recebamos pelo menos uma parte do dinheiro e consigamos produzir ainda esse ano”, comenta Grecco.

Comedia "A Banheira". Escrita por Gugu Keller.
Comédia "A Banheira". Direção: Alexandre Reinecke

Foi aprovada no dia 4 de junho, a lei de auxilio emergencial à Cultura, por unanimidade no Senado. O projeto visa direcionar R$ 3 bilhões à classe artística. Para ser aplicada, a lei ainda deve passar pela sanção presidencial; caberá ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, a sua aprovação ou veto.

Tags:
Durante o período de quarentena obrigatória, causada pelo novo Coronavírus, a arte enfrenta um momento muito difícil
por
Tabitha Ramalho
|
25/06/2020 - 12h

 

“A arte e a cultura fatalmente são deixadas de lado durante uma pandemia, que é uma situação emergencial. A arte não é uma prioridade, a saúde que é”, comenta a bailarina Penélope Miranda.

No momento atual, aglomerações devem ser evitadas, mas o que acontece com o artista que vive de apresentações e está sempre rodeado de pessoas, principalmente, quem tem trabalho amador ou pequeno? Bem, eles tiveram que contornar a situação, desenvolvendo novos métodos e criando uma maneira de conseguir adaptar seu trabalho.

Miranda , 17, que trabalha no circo, também cresceu dançando balé clássico.

FOTO Acervo pessoal de Penélope Miranda
Miranda em uma competição de dança contemporânea

“Realizam os espetáculos gratuitamente via live e nelas tem o QR Code, assim as pessoas podem fazer as doações”. A artista conta que o circo está enfrentando uma fase bem difícil e que estão vivendo de doações de comida e roupa.

Aos treze anos, ela começou a trabalhar no circo Stankowich e conta que além de praticar o balé, também faz alguns truques de mágica e danças em grupo. “É muito mágico, são uma família”. No ano de 2018, decidiu iniciar sua carreira no teatro, com um curso profissionalizante na área.

FOTO Acervo pessoal de Penélope Miranda
Penélope como bailarina para o circo Stankowich

“Vejo muito descaso, por parte das autoridades, no sentido de recursos para os artistas continuarem vivendo”, desabafa Agatha Reinato, co criadora da Cia Corpos Outros.

Reinato, 18, fundou a companhia artística, a partir de uma classe de teatro da qual estudava. São jovens periféricos levando a cultura para a periferia. Antes da quarentena, estavam apresentando a peça autoral, “Periferia Esperança”.

“Esse ano, foi adiado um pouco, por causa da pandemia, mas ainda pretendemos lançar um livro, que foi uma grande conquista. No próximo mês, vai soltar um podcast, que também, fala sobre a peça”.

Ela conta que se apresenta, paralelamente, em saraus, cantando e recitando poemas originais.

FOTO Acervo pessoal de Agatha Reinato
Foto artística de Agatha Reinato

O cantor Vee Sky fala que o isolamento barrou muitos de seus projetos. “Agora é um momento de estudo, aprendizado e planejamento. Consegui produzir nesse tempo e tenho conteúdo guardado para o final da pandemia, mas os projetos estão barrados, por motivo de dinheiro ou interrompidos, por causa da quarentena”.

FOTO Acervo pessoal de Vee Sky
Ensaio fotográfico para novos projetos do cantor

Ele explica o conceito por trás do seu nome artístico. “Queria um nome que não tivesse gênero. Porque o meu corpo já representa um gênero, quando você olha para ele. Enquanto arte, precisava de um nome que as pessoas duvidassem e pensassem: ué esse nome é de menino ou de menina?” Vee Sky, um cantor gay do gênero queer, quer trazer a representatividade da comunidade LGBTQ+, para a música pop nacional.

A produtora “Dark Triangle”, de Mariana Pereira Guaita, também sofreu impactos com o isolamento. Como não é possível se reunirem, a produção de novos curtas foi bloqueada, de toda forma, os trabalhos não pararam. “Os artistas estão se apoiando, entre eles mesmos, um indicando o trabalho do outro”. Guaita conta que uma amiga queria realizar um ensaio fotográfico via facetime, “como eu conheço um amigo que faz isso, passei o contato e as fotos ficaram muito boas, por sinal”.

FOTO Acervo pessoal de Mariana P. Guaita
Backstage da produção do curta Pânico na Discoteca

Contornar a situação para eles não foi tão difícil, bastou usar a criatividade que já possuem e adaptá-la para a situação atual. O maior problema é o financeiro, como são trabalhadores iniciantes e é uma carreira que custa tempo e dinheiro, em circunstâncias como a de uma pandemia, quem vive de arte acaba sofrendo mais.

“A Netflix disponibilizou um fundo para quem trabalha com produção audiovisual, quem consegue esse acesso, usa esse apoio” ressalta Guaita. De acordo com site do Senado, a Câmara aprovou um fundo liberando R$ 3 bilhões para ajudar os artistas e estabelecimentos culturais, que depende da sanção do presidente.

 

Tags:
Em meio à crise causada pela Covid-19, mídia interativa ascende e jogadores ampliam consumo durante a quarentena
por
Hiero de Lima
|
12/06/2020 - 12h

No mês de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a população mundial “ficasse em casa e jogasse videogames”, segundo matéria do Independent. Os números mostram que os gamers seguiram isso à risca: as vendas de títulos como o sangrento jogo de tiro Doom Eternal (Bethesda Softworks) e o pacato simulador de vida Animal Crossing: New Horizons (Nintendo), ambos lançados mundialmente em 20 de março, explodiram em meio à quarentena, com Doom tendo sido jogado por 100 mil pessoas no fim de semana de seu lançamento, e Animal Crossing chegando a 11 milhões de cópias vendidas em 11 dias, além de aumentar as vendas do único console para o qual está disponível, o Nintendo Switch.

Mas os novos lançamentos não são os únicos nos consoles dos gamers. A estudante de direito pernambucana Annalu Barreto, 20, preferiu um título do ano passado: está passando a quarentena com Judgment (Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA, 2019), exclusivo do Playstation 4. O jogo se passa na pele de um ex-advogado, agora detetive, investigando uma série de assassinatos no Japão.

Ela conheceu o jogo durante o isolamento e já o concluiu, somando 50 horas de pura jogatina. “Aproveitei uma promoção e decidi comprar; daí, joguei incessantemente”, conta a universitária. O jogo conta com um modo multijogador, mas Barreto optou por completá-lo sozinha.

Annalu Barreto, 20, e Judgment: jogo, sobre advogados e detetives, corresponde ao curso da estudante de direito (fotos: acervo pessoal / Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA)

Segundo a estudante de Recife (PE), o título serviu como escapismo “da realidade hostil que se vive atualmente”, mas também foi um complemento de seus estudos. “A educação à distância me é insuficiente em um curso de direito”, afirma, “e o jogo aborda de forma incisiva esse assunto em um contexto japonês”.

Ela se define entusiasta da advocacia no Japão, tendo escrito uma dissertação relacionando o assunto à franquia nipônica Ace Attorney (Capcom, 2001-2016), e afirma que se aprofundar no tópico com Judgment melhorou sua saúde mental, que define como “fragilizada”, e deu um novo ânimo a continuar estudando: “tive a sensação de estar no controle da situação, viver na normalidade”.

O jovem carioca Lucas Borges, 19, desempregado, também optou por um título de mistério como jogo da quarentena: o premiado Disco Elysium (ZA/UM, 2019) coloca o jogador no papel de um detetive que perdeu a memória após abusos de álcool, e, assim como o protagonista de Judgment, deve solucionar um assassinato, enquanto descobre a verdade sobre quem é e onde vive.

Borges, que também entrou em contato com o jogo durante a pandemia, tendo-o recebido de presente de um amigo, diz que ele é uma ferramenta eficiente de distração: “a história é bem envolvente e ajuda a refrescar a cabeça”.

Lucas Borges, 19, e Disco Elysium, RPG eleito pelo carioca como jogo da quarentena (fotos: acervo pessoal / ZA/UM)

Além do elemento da diversão, Disco Elysium serviu de aprendizado para o carioca, que reside em São Paulo (SP): as mecânicas de inquisição, quando o jogador consulta testemunhas e suspeitos para obter fatos, estimularam o raciocínio lógico do jovem, bem como sua empatia. “É um jogo fantástico, meia hora com ele já me fez começar a pensar em outras jogatinas, com outros meios de construir meu personagem”, conta.

Por sua vez, o estudante português de ensino médio Artur Nobre, 18, elegeu o jogo de ação em plataforma Katana Zero (Askiisoft/Devolver Digital, 2019), protagonizado por um ninja mercenário em uma cidade moderna, estilo cyberpunk, para amenizar o tédio do isolamento social.

Nobre, que vive na cidade de Beja, no sul de Portugal, é um gamer inveterado: segundo ele, seu amor por videogames permeia grande parte de sua vida. Recentemente, participou de um campeonato do jogo de luta Super Smash Bros. Ultimate (Nintendo, 2019), que conta com um elenco recheado de personagens da Nintendo e licenciados de outras empresas, e conseguiu chegar às quartas-de-final. “Estou sempre procurando a próxima experiência, e não me sinto bem sem estar jogando qualquer coisa”, relata via Twitter.

Artur Nobre, 18, e seu jogo de escolha, Katana Zero (fotos: acervo pessoal / Askiisoft/Devolver Digital)

Katana Zero, especificamente, não tem modo multijogador, mas o português também costuma jogar outros jogos com amigos, como o Smash, mencionado acima: em homenagem ao amor dele pelo game, ele conta que, para seu décimo oitavo aniversário, seus amigos online lhe desenharam os personagens jogáveis de que gostavam mais. “Diria que, talvez, alguns jogos multijogador conseguiram substituir nem que seja um pouquinho do contato social de antes da pandemia”.


Tags:
O isolamento social acelerou mudanças na TV aberta na guerra entre o serviço tradicional e o streaming.
por
Beatriz Aguiar, Gabriella Lopes e Sara de Oliveira
|
08/06/2020 - 12h

A forma de consumir entretenimento vem mudando há alguns anos. Filmes e séries passaram a ser acessíveis a qualquer hora e em qualquer lugar, com alta qualidade desde a ascensão dos serviços de streaming. Consequentemente, a televisão passa por profundas mudanças, uma vez que seu público tem migrado para os serviços personalizados da internet.

A pandemia do novo coronavírus acelerou esse processo de mudança.  Programas de TV precisaram se adaptar, usuários de streaming aumentaram exponencialmente e o jornalismo intensificou-se como efeitos colaterais da crise mundial de saúde.

Dados da Anatel mostram menos 90 mil assinaturas de televisão paga no Brasil em março deste ano. Em contrapartida, a Netflix, plataforma de streaming mais popular e conhecida no Brasil, acrescentou 1 milhão de assinantes até o final de março, primeiro mês da quarentena, aos seus 15 milhões já existentes no país  Os dados são do site "Na Telinha". 15 milhões também é o número, em média, de novas assinaturas da empresa no mundo. Seu faturamento no primeiro trimestre do ano foi de 5,8 bilhões de dólares, aumento de 28% comparado ao mesmo período de 2019. No mundo, agora são 183 milhões de contratantes do serviço.

O isolamento também alavancou plataformas mais recentes, como a Amazon Prime Video e a Disney+. A última, lançada nos Estados Unidos em novembro, alcançou 50 milhões de pagantes em 8 de abril. Analistas previam que a plataforma, antes da pandemia, só chegaria a esse número em meados de 2022. No Reino Unido, a estreia se deu em 24 de março, um dia depois do primeiro ministro britânico anunciar o início da quarentena no país, e no primeiro mês atraiu 1,6 milhões de pessoas. 85% dos assinantes disseram que pretendem manter o serviço após a crise.

Para analistas, as assinaturas de streaming seriam um dos primeiros cortes no orçamento familiar. Porém, o entretenimento tem sido o escape de muitos para o mundo exterior em um momento em que isso é impossível fisicamente.

Mas por quais razões Netflix é mais popular que o streaming da Disney e da Amazon? A primeira razão é o tempo de mercado. Netflix é mais antiga do que ambos, dando tempo para que as pessoas possam testá-lo e recomendar a amigos, por exemplo. Outra razão é o conteúdo original. Com estúdios criando seus próprios streamings e retirando de concorrentes seus títulos, apostar em produções originais é a saída. De acordo com a Bloomberg Intelligence, o orçamento da Netflix para conteúdo próprio em 2020 é de 16 bilhões de dólares, contra os 7 bilhões de dólares da Amazon planejados para este ano. A Disney+ tem entre US$1,5 e US$1,75 para gastar. O terceiro motivo pode ser o baixo índice de problemas técnicos da Netflix em comparação aos seus concorrentes. A J.D Power fez uma pesquisa entre os dias 24 e 26 de abril nos EUA e a Netflix pontuou somente 0,7% enquanto a Amazon teve 0,11% e a Disney, 0,12%.

A televisão brasileira, porém, não deu essa guerra como ganha para o outro lado. 

Domingo às quatro horas da tarde é o principal horário do futebol na televisão brasileira. Depois do almoço com a família, se não houvesse discussão por causa de política, era bem provável que houvesse por futebol. Porém, a quarenta obrigou tanto as reuniões familiares quanto o futebol a serem cancelados. A paixão nacional pela bola redonda faz sua falta ser bastante sentida, tanto quanto a da família. Assim, reprises de jogos marcantes foi uma das soluções de canais abertos e fechados.

A Globo no dia 12 de abril, domingo de Páscoa, transmitiu o jogo da conquista do penta da seleção brasileira. A vitória contra os alemães em 2002 no Japão de 2x0, ambos os pontos de Ronaldo Fenômeno. A reprise foi um sucesso. Segundo o UOL Esporte a reexibição teve média de 21 pontos de Ibope, mais do que alguns jogos do campeonato paulista este ano. O canal tinha como meta marcar pelo menos 18 pontos. 

Durante a transmissão, as redes sociais se transformaram em túneis do tempo. A reprise do penta foi o assunto mais falado na internet brasileira e colocou diversos temas nos Trending Topics do Twitter, como Ronaldo, Kleberson, Alemanha e a tag #copa2002. Com diversos memes e lembranças dos internautas do que estavam fazendo há 18 anos, o jejum do futebol foi quebrado pela seleção que “trazia alegria pro povo”.

O jogo do memorável grito de “É tetra!” de Galvão Bueno também foi reprisado. A final da Copa de 1994 Brasil x Itália, foi decidida nos pênaltis, e por se tratar de um jogo longo, houve muita diferença entre os picos de audiência. Muitos torcedores criticaram a final, por sua qualidade técnica e afirmaram pelas redes sociais que somente assistiram às penalidades. Na hora do pênalti errado por Roberto Baggio, que concedeu o título ao Brasil, a Globo chegou a picos de 21 pontos de audiência na Grande São Paulo.

Em jogos de times específicos, que não envolvem a seleção e sim times estaduais, houve queda de audiência, o que era previsto, pois muitos torcedores não gostam de ver os rivais conquistando títulos importantes.

No domingo de 17 maio, as regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo tiveram jogos diferentes — o que normalmente já acontece. Na região paulista, o jogo transmitido foi a final de 2012 do Mundial de Clubes da FIFA entre Corinthians (1) e Chelsea (0). Já os cariocas ficaram com a última final da Copa da Libertadores: Flamengo (2) x River Plate (1). As quedas de audiência foram de 21% e de 33%, respectivamente.

Segundo o site da UOL, antes do isolamento a média de pontos do futebol aos domingos era de 19 em São Paulo e 17 no Rio.

A principal concorrente do futebol aos domingos é a Eliana. Como as gravações dos programas de auditório estão paradas, reprises estão sendo utilizadas também. No SBT, "Roda Roda", "Programa Silvio Santos" e "Domingo Legal", por exemplo, estão sendo veiculados no mesmo esquema.  A Globo também o adota no "Altas Horas", "Domingão do Faustão" e similares.

A reapresentação de novelas já é algo comum nas emissoras. Com a interrupção das gravações, novela antigas substituíram atuais.  Às 21h, ao invés de "Amor de Mãe", "Fina Estampa" vai ao ar, novela gravada entre 2011 e 2012.  Mesmo a história já sendo conhecida pelo público, sua audiência chegou aos 34,1 pontos de Ibope na Grande São Paulo, mais do que os 29,7 da antecessora.

Enquanto o entretenimento sofre encurtamentos e mudanças consideráveis, os jornais televisivos experimentam o inverso. Suas alterações destacam-nos nas grades da televisão aberta. Houve poucos momentos na história em que os jornais passaram tanto tempo veiculando o mesmo assunto. Há mais de três meses a TV Globo anunciou a mudança no horário de sua programação. Desde início de março, quando a COVID-19 começou de fato a alarmar a população, o jornalismo está passando das 4 horas da manhã até às 15 horas, somando 11 horas seguidas de telejornal sobre a pandemia no Brasil e no mundo. Mantém-se ainda outros jornais, como o Jornal Nacional ao longo do dia.

Essa mudança drástica, segundo a própria emissora, é “a necessidade de dar o máximo de informação para a população numa situação extrema: a luta para conter a epidemia do novo coronavírus no Brasil”. Não apenas a Globo, como Band, Record e outras têm investido em conteúdo jornalístico em excesso durante o dia, a noite e até madrugada.

Prejudicial à saúde mental

Apesar das boas intenções, a super exposição às notícias da pandemia pode ser prejudicial à saúde mental. O jornal digital R7 publicou uma reportagem abordando os problemas que podem ser desenvolvidos ao assistir por muito tempo informações negativas. Segundo a matéria, quando alguém está vulnerável à uma avalanche de notícias ela é “coagida” a lidar com esses pensamentos. Uma vez vista e ouvida, automaticamente o ser humano processa a informação e quando ruim, ela ativa o sistema límbico do cérebro responsável pelas emoções.

Quem explica isso para o R7 é o neurocirurgião Júlio Pereira da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ao ler uma notícia ruim, o homem libera uma substância chamada cortisol, hormônio ligado ao estresse. Ao liberarmos cortisol, nosso corpo entende que estamos em perigo e desencadeia uma série de sintomas como arritmia cardíaca, frio na barriga e falta de ar.

O maior problema, segundo o médico, é que com o excesso de informações negativas sobre a coronavírus pode levar à uma espécie de estresse crônico, quando os sintomas da liberação de cortisol se prolongam. O efeito é tão profundo que ele relata já receber pacientes em estresse crônico pensando estar com coronavírus. 

Além disso, com os efeitos do hormônio prolongados e a enxurrada de informações negativas dos noticiários, doenças como depressão e ansiedade podem desenvolver-se. "O cérebro fica sempre em alerta, procurando uma saída e não consegue descansar. Isso pode causar outros problemas de saúde" afirma Pereira ao R7.

O padre Fábio de Melo em seu Twitter desabafou dizendo que “precisamos zelar pela saúde mental também”. Ele completa depois fazendo uma crítica sobre o excesso de informações da mídia: “não sei vocês, mas ficar acompanhando as notícias está me deixando muito mal. Há um limiar estreito entre a necessidade de saber e o excesso de saber”.

Marcos Cripa, professor de telejornalismo da PUC-SP também comenta sobre o assunto. Para ele, um formato de noticiário interessante e que pode ser adotado para suavizar a negatividade é atualizar matérias especiais antigas. Ele dá como exemplo o caso do Major Curió, recebido no Planalto por Jair Bolsonaro para uma conversa no dia 5 de maio. Curió foi acusado por homicídio e tortura durante a repressão à Guerrilha do Araguaia; também foi gerente da Serra Pelada durante a década de 1980, obrigando pessoas a trabalharem na localidade, segundo provas. Como as polêmicas do Major foram reavivadas, Cripa enxerga o momento como uma boa deixa para retomar Serra Pelada nos noticiários, atualizando-a com as novas informações que vieram à luz depois de 40 anos.

A BBC em 20 de março publicou uma lista de recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para manter uma boa saúde mental durante este período de confinamento e incertezas. O primeiro item da lista é recomendado medir a quantidade de informações que você recebe. “Uma sugestão é separar horários específicos do seu dia para fazer isso”.

Outra questão abordada é sobre as fake news. A OMS relembra que é sempre importante procurar informações de qualidade e fontes confiáveis, uma vez que uma notícia falsa pode causar alarde e desespero sem necessidade e prolongar ainda mais os efeitos do estresse crônico.

Vale lembrar que desde final de abril, a Globo tem retornado com parte de sua programação de entretenimento. Como o "O encontro com a Fátima Bernardes" com participação especial da Ana Maria Braga, que começa às 10:45 da manhã. Segundo a Globo, eles irão adaptar sua rotina de programações para "trazer mais diversão as manhãs de seu público, sem abrir mão da prestação de serviço do jornalismo."

box de dicas

 

Tags: