No dia 9 de maio integrantes da torcida organizada Gaviões da Fiel foram à Avenida Paulista defender a democracia. Torcedores do Corinthians impediram uma outra manifestação que ocorreria no mesmo local em apoio ao governo do Presidente Jair Bolsonaro.
De acordo com o site Meu Timão, a concentração foi por volta de 13h30 tendo como maioria moradores da zona norte de São Paulo, assim como membros da organizada Gaviões da Fiel. Já os apoiadores do presidente não apareceram, concretizando o objetivo dos manifestantes.
"Estávamos lá, como torcedores brasileiros, que avaliam o momento e têm a história da Democracia Corinthiana como diretriz. É o mesmo grupo que tem se reunido para entregar marmitex e cestas básicas”, disse Danilo Pássaro, um dos líderes da manifestação ao site Meu Timão.
Já no dia 31 de maio o grupo voltou a se encontrar, porém desta vez com a participantes de outras torcidas da cidade, para nova manifestação contra o fascismo, ocorreu também na mesma data e local ato em prol do presidente.
Estiveram presentes grupos como: Coletivo Democracia Corintiana, Gaviões da Fiel e as palmeirenses Porcomunas e Palestra Antifascista . “O futebol é o que une as pessoas nesse país, não poderia ser diferente em um momento como esse”, disse Wagner de Souza, torcedor do palmeiras e integrante da torcida Palestra Antifascista, à reportagem do jornal Folha de S.Paulo.
Por volta das 14:00 na Avenida Paulista, altura da Br. Luiz Antônio, houve concentração de bolsonaristas vestidos com camisetas da Seleção Brasileira de Futebol, já em frente ao MASP os antifascistas se agrupavam de maneira pacífica, quando uma manifestante bolsonarista portando um taco de beisebol, provocou os rivais, causando conforto entre os grupos. A Polícia Militar interveio com violência contra os que se manifestavam a favor a democracia, não agindo da mesma maneira com o outro grupo.
Os torcedores do alvinegro paulista marcaram presença também na manifestação domingo (7), em ato antifascista que aconteceu no Largo da Batata zona sul de São Paulo que foi o principal evento entre os três citados.
Segundo Lucas Toth Neves Bezerra, 28 anos, membro da torcida Gaviões da Fiel e estudante de jornalismo da PUC-SP, os torcedores estavam se sentido incomodados com atitudes que boslonaristas vinham tendo em seguidas manifestações como agredir e intimidar enfermeiras e profissionais da saúde
“ A Gaviões de fora acham que é todo mundo comunista, anarquista... Mas não é nada disso, enfim houve um consenso do que estava acontecendo era errado os bolsonaristas tentando agredir enfermeira, intimidando enfermeira, intimidando profissionais da saúde, a partir daquele momento muitos ali pensaram: “Não, tá errado, esses caras indo pra rua, estamos quietos aqui e precisamos fazer uma demonstração de força.”
O aluno de jornalismo participou de uma das reuniões que foram responsáveis por organizar os atos a favor da democracia.
“Na reunião que eu participei, pra segunda manifestação, que foi a que teve o episódio do taco de baseball, a reunião foi na quarta-feira (27) antes do ato, estávamos em umas 15 pessoas e ficou decidido que teríamos dois objetivos. O primeiro era incentivar e motivar os movimentos democráticos a voltar às ruas e um segundo objetivo era constranger e mostrar aos bolsonaristas e aqueles que estão pedindo a volta dos militares e o fim do STF por exemplo uma intimidação.”

Artistas recorrem à experimentação para se adaptar à pandemia. As políticas de distanciamento social inviabilizaram shows e espetáculos, interrompendo a principal fonte de renda destes profissionais.
“A gente trabalha com aglomerações”, comenta Marietta, que teve o lançamento do seu novo álbum “Analógica” adiado. “O retorno estava totalmente apoiado nas ações voltadas pros shows, que ainda são a maior fonte de renda da música”
A cantora trabalhava no projeto há três anos e chegou a lançar o primeiro single “Analógica” em janeiro. Mãe solteira, revelou que a rotina tem sido difícil: “Eu tenho uma filha pequena e, sem a creche, meu trabalho tá muito grande”
Marietta está produzindo uma série de vídeos caseiros intitulada “Videobilhetes” para o seu canal no IGTV e planeja lançar mais um single ainda na quarentena: “Este momento está forçando tanto artistas quanto outros profissionais a pensar alternativas”, conclui.
A cantora revelou que planeja fazer uma live, mas lembra: “A live não substitui o show. A qualidade técnica ainda não chegou num patamar que possa garantir a integridade do trabalho”
“Já era difícil antes”, declara ao falar sobre a situação da cultura no país, “A princípio houve uma grande morte do setor”. No entanto, a cantora é otimista quanto à comunidade artística: “Acredito que a gente vai conseguir se organizar e trazer medidas práticas que possam reduzir os danos”

A comédia “A Banheira”, na qual ator e diretor de teatro André Grecco atua há dois anos foi suspensa, assim como o seu monologo “A Dama da Noite”, que entraria em cartaz na Biblioteca Mário de Andrade.
Sem as bilheterias, Grecco, que também é professor, ministra aulas remotas para se manter. “Estamos entre artistas que tinham uma reserva financeira e estão vivendo com ela, artistas que, como eu, dão aula e estão dando aulas de maneira remota, e artistas que estão dependendo de fundos levantados por colegas ou de ações do governo para poder sobreviver”
Grecco pretende aderir às plataformas virtuais e planeja realizar uma montagem que será apresentada remotamente, tendo parte de sua casa como cenário. “Eu acho que esses novos formatos podem ser muito interessantes, pode ser um momento de muitas descobertas na relação entre arte e tecnologia”, comenta o ator. No entanto, não acredita que o teatro físico possa ser substituído: “Acho que teatro é o ‘pessoalmente’ não só o ‘ao vivo’”
O ator também critica a falta de preocupação do Governo Federal com a cultura: “A cultura sempre esteve em último lugar, eles querem que ela sirva à religião deles e à ideologia deles”
Para Grecco, a cultura desempenha papel importante na Saúde Pública: “Se não tivesse nenhum tipo de arte agora, cinema, séries, as lives, a saúde psicológica do povo não estaria pior?”
O ator revela que artistas e técnicos das artes cênicas estão se mobilizando para pressionar os órgãos públicos: “Estamos lutando para que, através do Fundo Nacional da Cultura, façam alguma coisa por nós, para que os teatros que não estão tendo como se sustentar possam sobreviver a essa crise”
“A Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, na figura Hugo Possolo está lutando, e agora conseguiram apressar os editais para que recebamos pelo menos uma parte do dinheiro e consigamos produzir ainda esse ano”, comenta Grecco.

Foi aprovada no dia 4 de junho, a lei de auxilio emergencial à Cultura, por unanimidade no Senado. O projeto visa direcionar R$ 3 bilhões à classe artística. Para ser aplicada, a lei ainda deve passar pela sanção presidencial; caberá ao Presidente da República, Jair Bolsonaro, a sua aprovação ou veto.
“A arte e a cultura fatalmente são deixadas de lado durante uma pandemia, que é uma situação emergencial. A arte não é uma prioridade, a saúde que é”, comenta a bailarina Penélope Miranda.
No momento atual, aglomerações devem ser evitadas, mas o que acontece com o artista que vive de apresentações e está sempre rodeado de pessoas, principalmente, quem tem trabalho amador ou pequeno? Bem, eles tiveram que contornar a situação, desenvolvendo novos métodos e criando uma maneira de conseguir adaptar seu trabalho.
Miranda , 17, que trabalha no circo, também cresceu dançando balé clássico.

“Realizam os espetáculos gratuitamente via live e nelas tem o QR Code, assim as pessoas podem fazer as doações”. A artista conta que o circo está enfrentando uma fase bem difícil e que estão vivendo de doações de comida e roupa.
Aos treze anos, ela começou a trabalhar no circo Stankowich e conta que além de praticar o balé, também faz alguns truques de mágica e danças em grupo. “É muito mágico, são uma família”. No ano de 2018, decidiu iniciar sua carreira no teatro, com um curso profissionalizante na área.

“Vejo muito descaso, por parte das autoridades, no sentido de recursos para os artistas continuarem vivendo”, desabafa Agatha Reinato, co criadora da Cia Corpos Outros.
Reinato, 18, fundou a companhia artística, a partir de uma classe de teatro da qual estudava. São jovens periféricos levando a cultura para a periferia. Antes da quarentena, estavam apresentando a peça autoral, “Periferia Esperança”.
“Esse ano, foi adiado um pouco, por causa da pandemia, mas ainda pretendemos lançar um livro, que foi uma grande conquista. No próximo mês, vai soltar um podcast, que também, fala sobre a peça”.
Ela conta que se apresenta, paralelamente, em saraus, cantando e recitando poemas originais.

O cantor Vee Sky fala que o isolamento barrou muitos de seus projetos. “Agora é um momento de estudo, aprendizado e planejamento. Consegui produzir nesse tempo e tenho conteúdo guardado para o final da pandemia, mas os projetos estão barrados, por motivo de dinheiro ou interrompidos, por causa da quarentena”.

Ele explica o conceito por trás do seu nome artístico. “Queria um nome que não tivesse gênero. Porque o meu corpo já representa um gênero, quando você olha para ele. Enquanto arte, precisava de um nome que as pessoas duvidassem e pensassem: ué esse nome é de menino ou de menina?” Vee Sky, um cantor gay do gênero queer, quer trazer a representatividade da comunidade LGBTQ+, para a música pop nacional.
A produtora “Dark Triangle”, de Mariana Pereira Guaita, também sofreu impactos com o isolamento. Como não é possível se reunirem, a produção de novos curtas foi bloqueada, de toda forma, os trabalhos não pararam. “Os artistas estão se apoiando, entre eles mesmos, um indicando o trabalho do outro”. Guaita conta que uma amiga queria realizar um ensaio fotográfico via facetime, “como eu conheço um amigo que faz isso, passei o contato e as fotos ficaram muito boas, por sinal”.

Contornar a situação para eles não foi tão difícil, bastou usar a criatividade que já possuem e adaptá-la para a situação atual. O maior problema é o financeiro, como são trabalhadores iniciantes e é uma carreira que custa tempo e dinheiro, em circunstâncias como a de uma pandemia, quem vive de arte acaba sofrendo mais.
“A Netflix disponibilizou um fundo para quem trabalha com produção audiovisual, quem consegue esse acesso, usa esse apoio” ressalta Guaita. De acordo com site do Senado, a Câmara aprovou um fundo liberando R$ 3 bilhões para ajudar os artistas e estabelecimentos culturais, que depende da sanção do presidente.
No mês de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que a população mundial “ficasse em casa e jogasse videogames”, segundo matéria do Independent. Os números mostram que os gamers seguiram isso à risca: as vendas de títulos como o sangrento jogo de tiro Doom Eternal (Bethesda Softworks) e o pacato simulador de vida Animal Crossing: New Horizons (Nintendo), ambos lançados mundialmente em 20 de março, explodiram em meio à quarentena, com Doom tendo sido jogado por 100 mil pessoas no fim de semana de seu lançamento, e Animal Crossing chegando a 11 milhões de cópias vendidas em 11 dias, além de aumentar as vendas do único console para o qual está disponível, o Nintendo Switch.
Mas os novos lançamentos não são os únicos nos consoles dos gamers. A estudante de direito pernambucana Annalu Barreto, 20, preferiu um título do ano passado: está passando a quarentena com Judgment (Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA, 2019), exclusivo do Playstation 4. O jogo se passa na pele de um ex-advogado, agora detetive, investigando uma série de assassinatos no Japão.
Ela conheceu o jogo durante o isolamento e já o concluiu, somando 50 horas de pura jogatina. “Aproveitei uma promoção e decidi comprar; daí, joguei incessantemente”, conta a universitária. O jogo conta com um modo multijogador, mas Barreto optou por completá-lo sozinha.
Annalu Barreto, 20, e Judgment: jogo, sobre advogados e detetives, corresponde ao curso da estudante de direito (fotos: acervo pessoal / Ryu Ga Gotoku Studio/SEGA)
Segundo a estudante de Recife (PE), o título serviu como escapismo “da realidade hostil que se vive atualmente”, mas também foi um complemento de seus estudos. “A educação à distância me é insuficiente em um curso de direito”, afirma, “e o jogo aborda de forma incisiva esse assunto em um contexto japonês”.
Ela se define entusiasta da advocacia no Japão, tendo escrito uma dissertação relacionando o assunto à franquia nipônica Ace Attorney (Capcom, 2001-2016), e afirma que se aprofundar no tópico com Judgment melhorou sua saúde mental, que define como “fragilizada”, e deu um novo ânimo a continuar estudando: “tive a sensação de estar no controle da situação, viver na normalidade”.
O jovem carioca Lucas Borges, 19, desempregado, também optou por um título de mistério como jogo da quarentena: o premiado Disco Elysium (ZA/UM, 2019) coloca o jogador no papel de um detetive que perdeu a memória após abusos de álcool, e, assim como o protagonista de Judgment, deve solucionar um assassinato, enquanto descobre a verdade sobre quem é e onde vive.
Borges, que também entrou em contato com o jogo durante a pandemia, tendo-o recebido de presente de um amigo, diz que ele é uma ferramenta eficiente de distração: “a história é bem envolvente e ajuda a refrescar a cabeça”.
Lucas Borges, 19, e Disco Elysium, RPG eleito pelo carioca como jogo da quarentena (fotos: acervo pessoal / ZA/UM)
Além do elemento da diversão, Disco Elysium serviu de aprendizado para o carioca, que reside em São Paulo (SP): as mecânicas de inquisição, quando o jogador consulta testemunhas e suspeitos para obter fatos, estimularam o raciocínio lógico do jovem, bem como sua empatia. “É um jogo fantástico, meia hora com ele já me fez começar a pensar em outras jogatinas, com outros meios de construir meu personagem”, conta.
Por sua vez, o estudante português de ensino médio Artur Nobre, 18, elegeu o jogo de ação em plataforma Katana Zero (Askiisoft/Devolver Digital, 2019), protagonizado por um ninja mercenário em uma cidade moderna, estilo cyberpunk, para amenizar o tédio do isolamento social.
Nobre, que vive na cidade de Beja, no sul de Portugal, é um gamer inveterado: segundo ele, seu amor por videogames permeia grande parte de sua vida. Recentemente, participou de um campeonato do jogo de luta Super Smash Bros. Ultimate (Nintendo, 2019), que conta com um elenco recheado de personagens da Nintendo e licenciados de outras empresas, e conseguiu chegar às quartas-de-final. “Estou sempre procurando a próxima experiência, e não me sinto bem sem estar jogando qualquer coisa”, relata via Twitter.
Artur Nobre, 18, e seu jogo de escolha, Katana Zero (fotos: acervo pessoal / Askiisoft/Devolver Digital)
Katana Zero, especificamente, não tem modo multijogador, mas o português também costuma jogar outros jogos com amigos, como o Smash, mencionado acima: em homenagem ao amor dele pelo game, ele conta que, para seu décimo oitavo aniversário, seus amigos online lhe desenharam os personagens jogáveis de que gostavam mais. “Diria que, talvez, alguns jogos multijogador conseguiram substituir nem que seja um pouquinho do contato social de antes da pandemia”.
A forma de consumir entretenimento vem mudando há alguns anos. Filmes e séries passaram a ser acessíveis a qualquer hora e em qualquer lugar, com alta qualidade desde a ascensão dos serviços de streaming. Consequentemente, a televisão passa por profundas mudanças, uma vez que seu público tem migrado para os serviços personalizados da internet.
A pandemia do novo coronavírus acelerou esse processo de mudança. Programas de TV precisaram se adaptar, usuários de streaming aumentaram exponencialmente e o jornalismo intensificou-se como efeitos colaterais da crise mundial de saúde.
Dados da Anatel mostram menos 90 mil assinaturas de televisão paga no Brasil em março deste ano. Em contrapartida, a Netflix, plataforma de streaming mais popular e conhecida no Brasil, acrescentou 1 milhão de assinantes até o final de março, primeiro mês da quarentena, aos seus 15 milhões já existentes no país Os dados são do site "Na Telinha". 15 milhões também é o número, em média, de novas assinaturas da empresa no mundo. Seu faturamento no primeiro trimestre do ano foi de 5,8 bilhões de dólares, aumento de 28% comparado ao mesmo período de 2019. No mundo, agora são 183 milhões de contratantes do serviço.
O isolamento também alavancou plataformas mais recentes, como a Amazon Prime Video e a Disney+. A última, lançada nos Estados Unidos em novembro, alcançou 50 milhões de pagantes em 8 de abril. Analistas previam que a plataforma, antes da pandemia, só chegaria a esse número em meados de 2022. No Reino Unido, a estreia se deu em 24 de março, um dia depois do primeiro ministro britânico anunciar o início da quarentena no país, e no primeiro mês atraiu 1,6 milhões de pessoas. 85% dos assinantes disseram que pretendem manter o serviço após a crise.
Para analistas, as assinaturas de streaming seriam um dos primeiros cortes no orçamento familiar. Porém, o entretenimento tem sido o escape de muitos para o mundo exterior em um momento em que isso é impossível fisicamente.
Mas por quais razões Netflix é mais popular que o streaming da Disney e da Amazon? A primeira razão é o tempo de mercado. Netflix é mais antiga do que ambos, dando tempo para que as pessoas possam testá-lo e recomendar a amigos, por exemplo. Outra razão é o conteúdo original. Com estúdios criando seus próprios streamings e retirando de concorrentes seus títulos, apostar em produções originais é a saída. De acordo com a Bloomberg Intelligence, o orçamento da Netflix para conteúdo próprio em 2020 é de 16 bilhões de dólares, contra os 7 bilhões de dólares da Amazon planejados para este ano. A Disney+ tem entre US$1,5 e US$1,75 para gastar. O terceiro motivo pode ser o baixo índice de problemas técnicos da Netflix em comparação aos seus concorrentes. A J.D Power fez uma pesquisa entre os dias 24 e 26 de abril nos EUA e a Netflix pontuou somente 0,7% enquanto a Amazon teve 0,11% e a Disney, 0,12%.
A televisão brasileira, porém, não deu essa guerra como ganha para o outro lado.
Domingo às quatro horas da tarde é o principal horário do futebol na televisão brasileira. Depois do almoço com a família, se não houvesse discussão por causa de política, era bem provável que houvesse por futebol. Porém, a quarenta obrigou tanto as reuniões familiares quanto o futebol a serem cancelados. A paixão nacional pela bola redonda faz sua falta ser bastante sentida, tanto quanto a da família. Assim, reprises de jogos marcantes foi uma das soluções de canais abertos e fechados.
A Globo no dia 12 de abril, domingo de Páscoa, transmitiu o jogo da conquista do penta da seleção brasileira. A vitória contra os alemães em 2002 no Japão de 2x0, ambos os pontos de Ronaldo Fenômeno. A reprise foi um sucesso. Segundo o UOL Esporte a reexibição teve média de 21 pontos de Ibope, mais do que alguns jogos do campeonato paulista este ano. O canal tinha como meta marcar pelo menos 18 pontos.
Durante a transmissão, as redes sociais se transformaram em túneis do tempo. A reprise do penta foi o assunto mais falado na internet brasileira e colocou diversos temas nos Trending Topics do Twitter, como Ronaldo, Kleberson, Alemanha e a tag #copa2002. Com diversos memes e lembranças dos internautas do que estavam fazendo há 18 anos, o jejum do futebol foi quebrado pela seleção que “trazia alegria pro povo”.
O jogo do memorável grito de “É tetra!” de Galvão Bueno também foi reprisado. A final da Copa de 1994 Brasil x Itália, foi decidida nos pênaltis, e por se tratar de um jogo longo, houve muita diferença entre os picos de audiência. Muitos torcedores criticaram a final, por sua qualidade técnica e afirmaram pelas redes sociais que somente assistiram às penalidades. Na hora do pênalti errado por Roberto Baggio, que concedeu o título ao Brasil, a Globo chegou a picos de 21 pontos de audiência na Grande São Paulo.
Em jogos de times específicos, que não envolvem a seleção e sim times estaduais, houve queda de audiência, o que era previsto, pois muitos torcedores não gostam de ver os rivais conquistando títulos importantes.
No domingo de 17 maio, as regiões do Rio de Janeiro e de São Paulo tiveram jogos diferentes — o que normalmente já acontece. Na região paulista, o jogo transmitido foi a final de 2012 do Mundial de Clubes da FIFA entre Corinthians (1) e Chelsea (0). Já os cariocas ficaram com a última final da Copa da Libertadores: Flamengo (2) x River Plate (1). As quedas de audiência foram de 21% e de 33%, respectivamente.
Segundo o site da UOL, antes do isolamento a média de pontos do futebol aos domingos era de 19 em São Paulo e 17 no Rio.
A principal concorrente do futebol aos domingos é a Eliana. Como as gravações dos programas de auditório estão paradas, reprises estão sendo utilizadas também. No SBT, "Roda Roda", "Programa Silvio Santos" e "Domingo Legal", por exemplo, estão sendo veiculados no mesmo esquema. A Globo também o adota no "Altas Horas", "Domingão do Faustão" e similares.
A reapresentação de novelas já é algo comum nas emissoras. Com a interrupção das gravações, novela antigas substituíram atuais. Às 21h, ao invés de "Amor de Mãe", "Fina Estampa" vai ao ar, novela gravada entre 2011 e 2012. Mesmo a história já sendo conhecida pelo público, sua audiência chegou aos 34,1 pontos de Ibope na Grande São Paulo, mais do que os 29,7 da antecessora.
Enquanto o entretenimento sofre encurtamentos e mudanças consideráveis, os jornais televisivos experimentam o inverso. Suas alterações destacam-nos nas grades da televisão aberta. Houve poucos momentos na história em que os jornais passaram tanto tempo veiculando o mesmo assunto. Há mais de três meses a TV Globo anunciou a mudança no horário de sua programação. Desde início de março, quando a COVID-19 começou de fato a alarmar a população, o jornalismo está passando das 4 horas da manhã até às 15 horas, somando 11 horas seguidas de telejornal sobre a pandemia no Brasil e no mundo. Mantém-se ainda outros jornais, como o Jornal Nacional ao longo do dia.
Essa mudança drástica, segundo a própria emissora, é “a necessidade de dar o máximo de informação para a população numa situação extrema: a luta para conter a epidemia do novo coronavírus no Brasil”. Não apenas a Globo, como Band, Record e outras têm investido em conteúdo jornalístico em excesso durante o dia, a noite e até madrugada.
Prejudicial à saúde mental
Apesar das boas intenções, a super exposição às notícias da pandemia pode ser prejudicial à saúde mental. O jornal digital R7 publicou uma reportagem abordando os problemas que podem ser desenvolvidos ao assistir por muito tempo informações negativas. Segundo a matéria, quando alguém está vulnerável à uma avalanche de notícias ela é “coagida” a lidar com esses pensamentos. Uma vez vista e ouvida, automaticamente o ser humano processa a informação e quando ruim, ela ativa o sistema límbico do cérebro responsável pelas emoções.
Quem explica isso para o R7 é o neurocirurgião Júlio Pereira da Beneficência Portuguesa de São Paulo. Ao ler uma notícia ruim, o homem libera uma substância chamada cortisol, hormônio ligado ao estresse. Ao liberarmos cortisol, nosso corpo entende que estamos em perigo e desencadeia uma série de sintomas como arritmia cardíaca, frio na barriga e falta de ar.
O maior problema, segundo o médico, é que com o excesso de informações negativas sobre a coronavírus pode levar à uma espécie de estresse crônico, quando os sintomas da liberação de cortisol se prolongam. O efeito é tão profundo que ele relata já receber pacientes em estresse crônico pensando estar com coronavírus.
Além disso, com os efeitos do hormônio prolongados e a enxurrada de informações negativas dos noticiários, doenças como depressão e ansiedade podem desenvolver-se. "O cérebro fica sempre em alerta, procurando uma saída e não consegue descansar. Isso pode causar outros problemas de saúde" afirma Pereira ao R7.
O padre Fábio de Melo em seu Twitter desabafou dizendo que “precisamos zelar pela saúde mental também”. Ele completa depois fazendo uma crítica sobre o excesso de informações da mídia: “não sei vocês, mas ficar acompanhando as notícias está me deixando muito mal. Há um limiar estreito entre a necessidade de saber e o excesso de saber”.
Marcos Cripa, professor de telejornalismo da PUC-SP também comenta sobre o assunto. Para ele, um formato de noticiário interessante e que pode ser adotado para suavizar a negatividade é atualizar matérias especiais antigas. Ele dá como exemplo o caso do Major Curió, recebido no Planalto por Jair Bolsonaro para uma conversa no dia 5 de maio. Curió foi acusado por homicídio e tortura durante a repressão à Guerrilha do Araguaia; também foi gerente da Serra Pelada durante a década de 1980, obrigando pessoas a trabalharem na localidade, segundo provas. Como as polêmicas do Major foram reavivadas, Cripa enxerga o momento como uma boa deixa para retomar Serra Pelada nos noticiários, atualizando-a com as novas informações que vieram à luz depois de 40 anos.
A BBC em 20 de março publicou uma lista de recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) para manter uma boa saúde mental durante este período de confinamento e incertezas. O primeiro item da lista é recomendado medir a quantidade de informações que você recebe. “Uma sugestão é separar horários específicos do seu dia para fazer isso”.
Outra questão abordada é sobre as fake news. A OMS relembra que é sempre importante procurar informações de qualidade e fontes confiáveis, uma vez que uma notícia falsa pode causar alarde e desespero sem necessidade e prolongar ainda mais os efeitos do estresse crônico.
Vale lembrar que desde final de abril, a Globo tem retornado com parte de sua programação de entretenimento. Como o "O encontro com a Fátima Bernardes" com participação especial da Ana Maria Braga, que começa às 10:45 da manhã. Segundo a Globo, eles irão adaptar sua rotina de programações para "trazer mais diversão as manhãs de seu público, sem abrir mão da prestação de serviço do jornalismo."
