Conhecida por sucessos como “Infiel”, “Ciumeira” e “Todo mundo vai sofrer”, Marília Mendonça se destacou entre as vozes do sertanejo. Em 2019 e 2020, a goiana foi a cantora brasileira mais ouvida nas plataformas de streaming musical. Segundo a Rolling Stone, sua live feita durante a pandemia foi a mais assistida da história do YouTube, somando 3,3 milhões de visualizações simultâneas. Esses recordes se devem, dentre outros fatores, às suas composições, que inseriram o ponto de vista das mulheres em um gênero musical predominantemente masculino.
Em suas letras, Marília deu voz à ex, à atual, à traída, à que trai e à amante. Esta última personagem, geralmente censurada, esquecida ou vista como um troféu em outras composições sertanejas, foi humanizada pela cantora. Em "Amante Não Tem Lar", a artista descreve as desvantagens de ser "a outra".
Além disso, ela criou uma nova forma de se comunicar com o público ao incluir ensinamentos às suas canções. Isso se expressa em músicas como “A Culpa é Dele”, que conta com a participação da dupla Maiara e Maraisa. A faixa critica a forma como algumas mulheres responsabilizam outras pela traição cometida por um homem. Na letra elas dizem: “se quem tava comigo era ele a culpa é dele”, desestimulando, assim, a rivalidade feminina.
Adriana de Barros, que atualmente é apresentadora do programa Mistura Cultural, da TV Cultura, acompanhou a ascensão da cantora. Presente na gravação de Realidade - Ao vivo em Manaus, DVD de estreia da rainha da sofrência, Adriana conta que se impressionou com o talento e a proposta de Marília. Segundo ela, muitos ativistas buscam impor suas concepções, e a sertaneja vai na contramão disso. “Ela vai entreter e a cada música vai lançar uma frase importante que muitas pessoas vão assimilar.”.
Para além do sertanejo, Mendonça conquistou a simpatia e a admiração de artistas ligados a outros gêneros musicais. Sua parceria com Gal Costa resultou em “Cuidando de Longe”, faixa presente no álbum A Pele do Futuro (2018), da cantora baiana. Recentemente, fez parceria com Luísa Sonza no remix de "Melhor Sozinha :-)-:”, música do álbum Doce 22 (2021). A goiana também foi citada em “Sem Samba Não Dá", de Caetano Veloso, presente no disco Meu Coco, lançado em outubro deste ano. Na canção, a artista é chamada de “Mar(av)ília Mendonça”, e foi a única citada duas vezes ao longo das estrofes.
A jornalista musical Adriana de Barros diz que até quem não gostava do ritmo se rendia à sertaneja, que para ela era uma artista universal. “Eu acho que ela sabia descrever o que a gente sente (...). Esses sentimentos que ela colocava nas letras dela são os mais simples. As pessoas se identificam porque na verdade todos têm os mesmos medos, as mesmas angústias, as mesmas vontades. Por isso é uma música que ultrapassa gênero.”
Quando a identificação não vinha através das canções, o carisma e a humildade da goiana conquistavam até os mais resistentes. Em 2018, Marília deu início ao projeto “Te Vejo em Todos os Cantos'', passando por todas as capitais do Brasil. O intuito da cantora era organizar shows gratuitos em patrimônios históricos e grandes praças. Como uma maneira de surpreender os fãs, as informações do evento eram divulgadas apenas horas antes do início de sua performance.
Em entrevista para o jornal Extra em 2019, a rainha da "sofrência" disse que a iniciativa nasceu da vontade de cantar para o povo. Sem luxos, ela ia às ruas distribuir panfletos de divulgação, convocando o público para os shows. As gravações dos eventos foram compiladas em um DVD e três álbuns homônimos. Segundo o site Terra, o álbum Todos Os Cantos, Vol. 1 (ao Vivo) alcançou a marca de 1 bilhão de streamings no Spotify em novembro deste ano.
Mesmo batendo recordes, acumulando milhares de fãs e sendo reconhecida por artistas prestigiados, as obras e a trajetória de Marília só repercutiram na grande imprensa após a tragédia ocorrida no dia 5 deste mês, que tirou sua vida e de outras quatro pessoas em Caratinga (MG). Entretanto, a goiana será lembrada para além do acidente, pois atrás de cada visualização em seus trabalhos há uma pessoa que foi atingida positivamente por suas canções.

"As músicas dela (Marília) parecem conselhos. Quando escuto ela parece que estou conversando com uma amiga íntima."
"Marília transformava a tristeza em alegria. As outras sofrências deixam quem escuta mais triste ainda. As dela levantam o astral."

"Ela (Marília) tinha letra, não era só refrão"

"Marília tinha um timbre diferente. Aquela voz dela vai ser infinita.", concordam Rosa e Nilsa
Em um meio dominado por homens, Marília Mendonça mostrou que a mulher também sente, pensa e é capaz de falar por si mesma. Ela trouxe as conversas dos banheiros femininos para a mesa de bar, sem medo de ser censurada, como disse Adriana de Barros: “Eu acho que ela deixa o legado de mostrar que a mulher pode ser o que ela quiser, onde ela quiser, e conquistar o espaço que ela quiser (...). Uma mulher cantando sobre isso liberta outras”.
De acordo com relatos jesuítas, a dança no Brasil teve início com os povos indígenas, que tinham propósitos religiosos e ritualísticos, como o toré no Nordeste e o kuarup no Mato Grosso. Já as danças eruditas, foram introduzidas de forma tardia pelos europeus, mais especificamente por Luis Lacombe que produziu o primeiro espetáculo de ballet no ano de 1813, na cidade do Rio de Janeiro.
As escolas de dança só chegaram no território brasileiro um século depois do primeiro espetáculo, até então para a elite carioca, assim estabelecendo a desigualdade que vemos na arte até os dias atuais. Porém pouco se sabe sobre a história da dança brasileira "Outro dia uma professora minha falou assim: 'Bartira traz os materiais aí sobre as danças regionais do Brasil’, a gente não acha, não existe, não tem a valorização nesse sentido", contou a professora de dança Bartira Mercês, 43 anos, formada pela escola nacional de ballet do Canadá, que hoje permanece no país por uma melhor oportunidade no ramo.

“A diferença do investimento feito na arte no Brasil e no Canadá é gritante. Aqui as crianças no Canadá, desde novas, nas escolas, têm acesso a arte. A arte como disciplina, o conhecimento da arte, música é vivo na vida das crianças.” disse Bartira. Essa falta de investimento faz com que poucas pessoas tenham acesso a modalidade no Brasil, visto que é preciso ir atrás de companhias, normalmente privadas, para conseguir ter um futuro na área, mais uma vez elitizando a dança no país, assim afastando cada vez mais pessoas que vivem em comunidades desfavorecidas.
Tentar uma carreira no exterior nem sempre é uma opção, por isso muitos acabam ficando no Brasil e enfrentam diversas dificuldades pela falta de investimento e pela desvalorização da dança como profissão. Roberto dos Santos, 59 anos, trabalha no ramo desde seus 16 anos e atualmente tem sua própria companhia diz que "o currículo não é muito valorizado e as condições de trabalho, muitas vezes também não são muito favoráveis", o mesmo também destaca que para se tornar um profissional credenciado são necessários 8 anos de estudos, o que normalmente não ocorre assim banalizando e desprestigiando a profissão.

A pandemia do coronavírus prejudicou o setor da cultura, que apresentou uma perda de cerca de 240 mil postos de trabalho, de acordo com o Painel de Dados Observatório Itaú Cultural. Com isso, a falta de investimento de forma adequada nesse campo, faz com que viver da arte se torne algo mais difícil do que antes, levando diversos profissionais a buscarem outras alternativas para sobreviverem. Essa situação ocorreu de forma diferente para Bartira, que mesmo tendo que parar de trabalhar para cuidar de seus filhos não passou por muitas dificuldades dado que recebeu auxílio do governo canadense, assim como outros artistas, desde professores até músicos, bailarinos e profissionais da arte de forma geral.
É de conhecimento da população que setores da saúde e comércios sofreram com a chegada da pandemia, porém há outro setor com grande importância para a sociedade, que foi bastante afetado, o Teatro.
Espetáculos foram cancelados e muitos que trabalham na área ficaram desempregados. A atriz e cantora Elisabete Almeida relata a realidade de um colega e menciona o descaso dos governos com os artistas: “Recentemente, fiquei sabendo que um grande amigo e colega que conheci na época em que eu morava na Alemanha, estava trabalhando de carregador de mudança. Apesar de ser um trabalho digno, o que revolta é saber que situações como essas são frutos da desvalorização da arte pelos governos, pois as pessoas acham que o artista tem de trabalhar de graça. Muitas pessoas que eu conheço que trabalharam em musicais grandes como O Fantasma da Ópera, no qual também fiz parte, estão vendendo doces na rua ou sendo motoristas de aplicativo. A atriz ainda lembra que muitos de seus colegas, além de sofrerem com o desemprego, lidam com a falta de um plano de saúde, que durante a pandemia, se torna algo essencial: “o artista brasileiro vive em uma situação vulnerável. Muitos dos meus colegas não têm plano de saúde, e isso dificulta ainda mais a situação”.

Além dos artistas, o teatro envolve outros profissionais que ficam nos bastidores e que são de igual importância e também enfrentam dificuldades causadas pela pandemia. O cantor e ator Thiago Arancam lembra: “na pandemia, as dificuldades foram enormes. A principal foi a parte econômica, porque não é só o artista que depende da carreira, é uma equipe inteira”.
As formas de obter conhecimento são diversas. Elisabete menciona que ao assistir uma peça, se aprende sem perceber: “É necessário ressignificar o papel que a cultura possui de mudar o pensamento das pessoas. A Arte tem a capacidade de educar sem a pessoa perceber”.

Além de ajudar no aprendizado, o teatro amplia as percepções de oportunidades profissionais, ajuda a se expressar e se relacionar, fazendo pessoas vencerem a timidez. O artista musical Roberto Srgentelli Filho, mais conhecido como Beto Sargentelli, é um exemplo de como vencer a timidez: “cresci em uma família de músicos e atores, porém eu era muito tímido. Fiz meu primeiro trabalho aos 12 anos, em uma propaganda, mas eu negava o acontecimento para os meus colegas na escola porque eu era tímido. Minha mãe insistiu muito para eu começar a fazer aulas de teatro para diminuir a timidez. Depois que iniciei as aulas, me apaixonei perdidamente pelo Teatro, nunca mais saí ou me imaginei fazendo outra coisa”.
O principal para um artista em uma apresentação, é o público e o ambiente. Beto Sargentelli lembra: “as apresentações presenciais são especiais pela troca entre a plateia e o palco. O ator consegue sentir o ritmo do espetáculo de acordo com a energia e as reações da plateia”. Bete Almeida frisa no espaço teatral: “Depois do público, o mais importante é o ambiente do teatro, que é lindo e vivo. Um palco teatral tem um tipo de luz e atmosfera que um estúdio ou uma sala não tem”.

É necessário mencionar os estudantes que teriam suas primeiras oportunidades de pisar em um palco e se apresentarem, mas esta experiência precisou ser adiada por conta do isolamento social. O estudante de Artes Cênicas, Gustavo Brait chama a atenção para este ponto de vista: “Eu sabia que as apresentações iam ser canceladas e isso deixou uma tristeza muito grande, em relação às minhas apresentações, fiquei muito triste também, principalmente porque seria a primeira vez que eu ia pisar no palco depois de dois anos”.
Muitos artistas migraram para o online e logo de cara já enfrentaram a primeira dificuldade, como conta Brait: “No espetáculo online o ator faz não só o trabalho dele, mas também o de diretor, cenógrafo, figurinista, maquiador, técnico de luz e microfone. O ator tem que assumir todas essas funções e ficar muito mais atento, coisa que no espetáculo presencial não acontece”.
As apresentações virtuais requerem exigências, como boa internet, câmeras de qualidade, microfones que possam captar todo o som, requer também aprofundamento nos conhecimentos das áreas da tecnologia, como aponta a estudante de dança, Letícia Almeida: “começar a entender e se aprofundar nos aspectos da tecnologia foi fundamental para entender as ferramentas que seriam usadas nos espetáculos dali para frente” e mostra que o online tem particularidades “o palco é tridimensional, a tela é bidimensional, essa diferença foi uma das mais difíceis de se adaptar. Tem que tomar cuidado com o que as pessoas estão vendo, o recorte da câmera. Antes do olho que vê o espetáculo tem o olho da câmera, é possível usar isso como ferramenta, colocar fitas que mudam o vídeo de cor, ou que fecham a amplitude da câmera.”

Diante desses apontamentos, é possível concluir que assim como outros setores, o teatro enfrentou dificuldades durante a pandemia. Mas como a maioria das áreas, é possível se recuperar. Vale ressaltar a importância desta arte para a formação da personalidade. Não é só o ator que se prejudicou nos tempos do coronavírus, a equipe por trás dos palcos também. Assim como grande parte da população, os artistas se adaptaram as telas, mas este recurso não traz toda a beleza de uma peça teatral.
Neste episódio do podcast Estação Cultural, as alunas Catharina Morais, Juliana Souza, Letícia Alcântara e Sophia Razel retratam o tema da diversidade e representatividade nas exposições artísticas e os desafios e contradições ainda presentes nesse ambiente.
Na estreia do Podcast Estação Cultural, as apresentadoras Catharina Morais, Juliana Souza, Leticia Alcântara e Sophia Razel conversam com os músicos André Mota e Louise Woolley, que contam os inúmeros desafios enfrentados pela classe artística, durante o delicado período de crise e caos sanitário durante a pandemia de Covid-19. Abordam ainda o fechamento e a reabertura gradual das casas de shows em São Paulo, além dos efeitos causados na carreira dos artistas dependentes desses espaços. Pontua-se também, como o governo em curso é conivente com a perpetuação de ideais preconceituosos, que atingem diretamente todas as formas de cultura, não valorizando e deixando à margem todos aqueles que dependem e tiram da arte sua subsistência.
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