Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.
Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.
Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.
A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela.
Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa.
E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico.
Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz. Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto
Milhões de uns
Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.
E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.
Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019.
Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30.
Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes.
Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto
Suelen Aparecida, de 27 anos, observa o próprio reflexo com certa hesitação. “É impossível não me comparar fisicamente com outras mulheres”, diz a jornalista, nascida num Brasil onde a vida ainda se dividia entre o offline e o que cabia no computador de mesa. Mas, enquanto crescia, as redes sociais se tornaram essenciais na rotina dos brasileiros, e na dela também. O padrão de vida e o mundo das tendências dentro desse ambiente a deixam insegura e, consequentemente, a levam a se comparar com outras mulheres, especialmente em relação ao corpo e ao estilo de vida.
As novas tendências passaram a ditar o que vestir, onde estar, como viver e até como sentir. O bonito, segundo ela, é influenciado pelas redes, onde as ideias, roupas, jeitos de ser e estilos de vida se concentram em uma vitrine infinita, reorganizando silenciosamente o que a sociedade aprende a considerar esteticamente agradável.
Antes de sair de casa, Suelen analisa lugares com cautela. Busca os ambientes “instagramáveis”, aqueles cantos luminosos e perfeitamente planejados para render boas fotos. É nesse movimento que o algoritmo se torna mais que um simples cálculo matemático, ele vira imaginário social, definindo o que deixará de ser invisível por merecimento de ser visto. A chamada vida perfeita, reproduzida diariamente, é intensificada por esse mecanismo que passa a inviabilizar os corpos que não se adequam ao seu padrão.
O filósofo Byung-Chul Han chama isso de “sociedade da transparência”, onde tudo precisa ser visto, nomeado, exibido — um corpo bonito, um padrão de vida elevado. A aparência vira critério moral, definindo quem pode estar e na onde cada ser humano pode chegar. Se você não se adequa aos padrões impostos, automaticamente passa a ser excluído do espaço social em que habita.
Para Suelen, observar influenciadores reforça esse pensamento. Eles narram, com naturalidade, como alcançaram riqueza, organização e prestígio. Essas figuras públicas falam de esforço, disciplina, foco, como se todos partissem do mesmo lugar e tivessem as mesmas oportunidades. A meritocracia surge como uma promessa sem sentido para quem não tem o mesmo capital, cenário, corpo e acesso. Ela afirma ainda que pessoas de classe mais simples sofrem com o alcance reduzido de seus conteúdos quando comparadas às que têm mais recursos. Na visão dela, isso não seria um problema caso o critério fosse a qualidade, mas não é isso que acontece.
O algoritmo continua priorizando conteúdos padronizados, com cenários esteticamente agradáveis e harmônicos. Tendências como clean girl aesthetic, that girl, vanilla girl e dark academia dominaram o mundo virtual e seguem ditando como as pessoas devem se apresentar nas redes.
Suelen diz que, mesmo inconscientemente, sente a necessidade de se encaixar, seguindo uma estética específica para se sentir incluída no sistema em que vive. Hoje, ela posta o que considera bonito, mas, ainda assim, continua moldando seu conteúdo de acordo com os padrões impostos pela sociedade.
A luz azul do celular ilumina o rosto de Hugo no fim da noite. O quarto está em silêncio, mas o som das notificações preenche o espaço. Ele rola a tela por instinto, sem pensar. Vídeos curtos, comentários, mensagens, publicidades . Quando o relógio marca quase meia-noite, ele percebe que não leu nenhuma página do livro que está na sua cabeceira e se sente muito cansado, mesmo que esteja deitado há horas. Na prateleira, seus outros livros empoeirados o observam de volta. Na infância dele, ler era um prazer, não uma obrigação. Hugo costumava deitar na cama e abrir o livro sem pressa. Lia sobre mundos distantes e personagens que pareciam vivos. Naquele tempo, a imaginação era o seu refúgio mais seguro, mas aos 20 anos, a rotina é outra. Trabalha em uma loja de eletrônicos em Curitiba, passa o dia cercado por telas e clientes apressados e em casa busca alívio nas redes sociais. O tempo passa rápido e a concentração se dissolve, ele lembra dos livros com saudade, mas diz que perdeu o ritmo. A leitura parece exigir um tipo de tempo que já não existe.
Segundo o Instituto Pró-Livro, o número de leitores no Brasil caiu de 104 milhões em 2015 para 89 milhões em 2023. São 15 milhões de pessoas a menos que declaram ler por prazer. A maior queda está entre os jovens, que passam mais de sete horas diárias diante de telas, de acordo com a pesquisa TIC Domicílios. Para o professor e escritor Norival Leme Júnior, mestre em Filosofia e docente de literatura e produção textual, o problema é antigo e vai além do desinteresse. Ele afirma que o Brasil nunca foi um País de leitores porque nunca resolveu suas bases educacionais. Norival recorda que o analfabetismo funcional ainda afeta a maioria da população adulta, mesmo entre os alfabetizados, muitos não conseguem compreender textos longos ou complexos. Ele lembra que, em meados de 2015, cerca de 75% dos brasileiros estavam em algum nível de analfabetismo funcional, isso significa que liam, mas não entendiam.
Em sua análise, o déficit histórico da leitura impede o desenvolvimento de um pensamento crítico consistente. Pare ele o ser humano é do tamanho da própria linguagem, quando o vocabulário se empobrece e o contato com a linguagem se torna superficial, o pensamento se estreita junto - pensar exige palavras, e palavras nascem da leitura. Norival vê a crise presente como consequência de um longo processo, em que o país nunca tratou a alfabetização e o acesso ao livro como prioridade nacional. Desde o rádio, televisão e a última revolução da Internet, a história do Brasil é marcada pela substituição da leitura por meios mais imediatos de comunicação. Em muitas regiões, o rádio ainda é a principal fonte de informação, com a chegada do celular, o livro se tornou quase um luxo.
Hugo sente vontade de voltar a ler, mas não encontra tempo nem disposição. O trabalho o consome, o transporte é desgastante e, ao fim do dia, sobra apenas o cansaço. Abre o celular porque é o que exige menos esforço, rola vídeos curtos, lê manchetes rápidas e, quando percebe, já é hora de dormir. A rotina dele se repete em milhões de pessoas. Norival acredita que o problema não é apenas a correria, mas o modo como o tempo livre foi tomado pela lógica da produtividade. Ele explica que a sociedade atual valoriza a pressa, o resultado imediato e o conteúdo rápido. A leitura, que exige pausa e reflexão, acaba parecendo uma perda de tempo. Esse padrão afeta não só o prazer de ler, mas também a capacidade de pensar. Para o professor, o excesso de estímulos visuais e de informações fragmentadas cria uma geração que se comunica muito, mas reflete pouco. O celular não é o inimigo, mas um sintoma de uma era em que a profundidade se tornou rara.
A crise da leitura não se explica apenas pela tecnologia, é também fruto da desigualdade social, entende o professor. Lembra que há cidades inteiras sem livrarias e escolas públicas com bibliotecas fechadas. Em algumas regiões não existe sequer um espaço de leitura em um raio de centenas de quilômetros. Ele afirma que o problema é político, sem políticas públicas de incentivo à leitura, o acesso ao livro continua restrito. Nos últimos anos, a falta de investimento em cultura e educação reduziu ainda mais as possibilidades de formação de leitores. O professor defende que a leitura deve ser tratada como questão de Estado. O mercado editorial não tem força para resolver o problema sozinho. Também critica a falta de interesse político em promover o pensamento crítico. Em sua avaliação, parte das lideranças brasileiras vê a leitura como uma ameaça, porque ler desperta consciência. Também acredita que a ausência de incentivo à leitura é, em parte, uma forma de manter o controle sobre uma população que pensa e questiona pouco.
Os dados do mercado editorial confirmam a visão do professor. Entre os livros mais vendidos do país estão títulos de autoajuda, religiosos e obras ligadas a influenciadores digitais. Livros clássicos e literatura contemporânea aparecem em posições muito inferiores, a leitura virou consumo, não reflexão. Norival observa que as pessoas leem buscando resultados imediatos. Querem enriquecer, melhorar a produtividade, encontrar soluções rápidas. A leitura literária, que estimula o pensamento e a imaginação, perde espaço para textos utilitários. Essa tendência, segundo ele, é reflexo direto de um modelo social que transforma até o conhecimento em produto.
Hugo e Norival se movem pela mesma convicção: a de que o contato com as palavras ainda é essencial para manter viva a capacidade de pensar. A leitura exige tempo, silêncio e disposição, três coisas cada vez mais escassas. No entanto, é ela que amplia a linguagem e, com ela, o entendimento da realidade. Sem leitura, o pensamento se reduz e a imaginação se apaga. Enquanto Hugo enfrenta o cansaço diário e tenta resgatar o prazer de ler, Norival continua insistindo em sala de aula, convencido de que ensinar literatura é desafiar o esquecimento. Entre o brilho das telas e o silêncio das páginas, os dois representam o retrato de um Brasil que lê cada vez menos e, por isso mesmo, se compreende cada vez menos.
Paula, atualmente com 35 anos, é mãe de Júlia, que tem um ano e dez meses. Desde a gravidez, ela se aprofundou em estudos sobre desenvolvimento infantil, neurociência e práticas de criação que priorizam presença, silêncio e estímulos naturais. Inspirada pelas recomendações da Organização Mundial da Saúde e pela literatura especializada, decidiu que a filha não teria contato com telas nos primeiros anos de vida. Não se tratava apenas de evitar o celular durante as refeições; Paula escolheu construir um cotidiano totalmente livre de telas, algo raro na geração atual.
A casa dela reflete essa decisão: poucos brinquedos, todos acessíveis, com texturas reais, madeira, tecidos, objetos simples do dia a dia. Júlia passa longos períodos apenas observando, manipulando ou tentando entender um único objeto. A ausência de estímulos digitais permitiu que ela desenvolvesse uma tolerância incomum ao tédio para sua idade, algo que chama a atenção de quem convive com a criança. Ela observa detalhes, mantém contato visual intenso, sustenta brincadeiras por vários minutos sem se distrair. Paula percebe esse ritmo mais calmo como consequência direta de suas escolhas diárias, não como um dom natural.
Paula comentou que a ausência de telas não tornou seus dias mais fáceis, mas sim mais presentes. Ela descobriu que, sem o recurso rápido de um vídeo para silenciar o choro ou interromper uma birra, precisou desenvolver uma escuta mais profunda da filha, entendendo seus limites, seu ritmo, suas necessidades reais. Um exemplo que a mãe contou é o uso de músicas da banda Falamansa, principalmente Xote dos Milagres, som usado para acalmar a pequena. Júlia, por consequência, se tornou uma criança que resolve frustrações pelo corpo: às vezes senta no chão para observar as próprias mãos, outras vezes abraça um brinquedo até se acalmar, outras simplesmente espera. O que poderia parecer exaustivo transformou o vínculo entre as duas em algo mais íntimo, quase visceral. Paula acredita que essa conexão é, em grande parte, resultado da rotina desacelerada que construiu, uma rotina em que o tempo existe sem interrupções artificiais e em que a curiosidade da filha pode florescer no próprio compasso.
Nos últimos anos, neuropediatras e especialistas em desenvolvimento infantil têm registrado um fenômeno preocupante: crianças e adolescentes apresentando dificuldades crescentes de atenção, impulsividade acentuada e uma incapacidade quase física de lidar com o silêncio, o tédio e a lentidão. Esse quadro, cada vez mais recorrente em consultórios e escolas, não é apenas coincidência. Ele acompanha o avanço do consumo de telas, especialmente vídeos rápidos e hiperestimulantes. Segundo levantamentos da USP (Universidade de São Paulo) o tempo médio que uma criança de 4 a 7 anos passa diante de telas subiu de uma hora e vinte minutos por dia em 2010 para quatro horas e quinze minutos em 2024. O consumo de vídeos curtos, como Reels, TikTok e YouTube Shorts, aumentou mais de 600% entre crianças de 5 a 10 anos.
A Era da Tecnologia foi responsável por essa mudança nos conteúdos consumidos por crianças, quem cresceu nos anos 2000 e 2010 lembra dos episódios longos e de narrativa lenta de desenhos como Peixonauta, Os Backyardigans, Dora Aventureira, Pocoyo e Charlie e Lola. Esses programas tinham ritmo cadenciado, pausas, repetições e até momentos de silêncio — elementos essenciais para o desenvolvimento da atenção e importantes para a construção da linguagem e da concentração. Hoje, o consumo predominante nas infâncias é formado por cortes acelerados, animações com troca constante de plano, músicas repetitivas em alta frequência e vídeos que não duram mais do que alguns segundos. Esse excesso de estímulos reorganiza o sistema de recompensa e treina o cérebro infantil a esperar novidade permanente, criando dificuldade na atenção sustentada.
Enquanto isso, a trajetória de Lucas, irmão mais novo de Paula, de 28 anos, seguiu por outro caminho. Ele é pai de Davi, atualmente com 6 anos, e quando o menino nasceu, Lucas não imaginava que permitir o uso do celular poderia gerar impactos tão profundos. Na rotina apertada, o aparelho se tornou ferramenta de conveniência: primeiro para que o filho comesse com tranquilidade, depois para distraí-lo no carro, depois para acalmá-lo antes de dormir. O que parecia um recurso eventual se tornou hábito, e o hábito se transformou em dependência. Aos poucos, Lucas percebeu que Davi reagia com irritação quando ficava sem o celular, que passava de um vídeo para outro em poucos segundos, que não conseguia acompanhar sequer um desenho infantil tradicional. A concentração fragmentada se agravou com o tempo. Hoje, Davi tem dificuldade de completar tarefas simples, perde o interesse em atividades que não envolvem estímulos rápidos, demonstra inquietação e apresenta sinais claros de déficit de atenção. Um neuropediatra o avaliou e apontou que os padrões comportamentais estavam fortemente associados ao uso excessivo de telas nos primeiros anos de vida, justamente o período mais sensível do desenvolvimento cerebral.
A diferença entre Júlia e Davi aparece de forma quase simbólica quando as famílias se reúnem. Júlia explora objetos, empilha blocos e observa o ambiente com calma; Davi, por outro lado, demonstra inquietação constante, toca em tudo, busca estímulos imediatos e, muitas vezes, abandona qualquer brincadeira em poucos segundos. Paula enxerga esse contraste com cuidado, sem julgamento. Ela entende que Lucas fez escolhas comuns à maior parte dos pais da geração atual. Lucas, por sua vez, carrega uma mistura de culpa e vontade de mudança. Ele tem tentado iniciar um processo de redução das telas, introduzindo brincadeiras mais estruturadas, atividades ao ar livre e momentos de leitura compartilhada, ainda que o caminho seja lento e cercado de desafios.
A história dos dois irmãos ajuda a ilustrar um fenômeno nacional: o País vive uma geração de crianças que raramente experimentam o silêncio, a pausa, o ócio e o tempo real das coisas. Crescem em meio a estímulos que não refletem o ritmo da vida, e quando o mundo não se movimenta na velocidade do algoritmo, o cérebro não sabe como reagir. Ao observar Paula, Lucas, Júlia e Davi, fica claro que a infância digitalizada não é destino inevitável. A cada gesto, a cada limite estabelecido, a cada momento de presença, os adultos definem o tipo de infância que as próximas gerações irão viver. Entre a velocidade artificial das telas e o ritmo humano da vida real, existe um espaço possível, e urgente,de equilíbrio, cuidado e reconstrução.
A pediatra Helena Marcondes acompanha há mais de uma década a evolução do comportamento infantil em meio às mudanças tecnológicas. Ela conta que em suas consultas, é comum receber pais que acreditavam estar diante de problemas de comportamento isolados e descobrem, pela análise detalhada da médica, que a raiz de muitos desses desafios está no excesso de estímulos digitais. Helena costuma explicar que a neuroplasticidade infantil, especialmente nos primeiros cinco anos de vida, é intensa e sensível; quando o ambiente oferece estímulos rápidos e constantes, o cérebro passa a buscá-los como única forma de interesse. Ela observa que crianças que crescem assistindo vídeos curtos apresentam uma aceleração artificial do ritmo interno, uma urgência constante por novidade e uma queda significativa na qualidade da atenção.
Essa transformação pode ser percebida de forma quase didática quando se observa a história de dois irmãos: Paula e Lucas. Embora tenham crescido na mesma casa, seguiram caminhos completamente distintos ao construir as rotinas dos próprios filhos, caminhos que, hoje, revelam impactos opostos no desenvolvimento de cada criança.
Nicolas pilotava sua moto pelas ruas de São Paulo e a única coisa que o importava era o vento batendo no rosto. Aos 22 anos, o entregador do iFood aprendeu a gostar da cidade de um jeito diferente. Com o céu cinza da cidade, pelas ruas estreitas e pelo vai e vem de pedidos que, para ele, significam liberdade. “Gosto de sentir o vento”, repete, como quem encontra no movimento uma forma de vida. Mas, neste ano, a rotina ganhou outro ritmo. Além das entregas, Nicolas passou a trabalhar com carteira assinada. O contraste entre os dois mundos opostos, o fez analisar os lados diferentes, em um deles, ele ter patrão, um horário fixo e salário mensal, mas quando fazia apenas entrega, não tem uma pessoa cobrando, uma equipe ou meta.
A realidade de Nicolas não é isolada. Segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na última quinta-feira (17), o número de trabalhadores de plataformas digitais cresceu 25% em dois anos. De acordo com a pesquisa, no terceiro trimestre de 2024, cerca de 1,7 milhão de pessoas utilizaram o trabalho por aplicativos como principal fonte de renda. O rendimento médio mensal desse grupo foi de R$ 2.996, valor acima da média do mercado, embora essas pessoas trabalhem, em média, 5,5 horas a mais por semana. O levantamento identificou quatro tipos de aplicativos usados como fonte de renda: transporte particular de passageiros (exceto táxi), entrega de comida e produtos, plataformas de serviços gerais ou profissionais e aplicativos voltados para taxistas.
Enquanto Nicolas tenta equilibrar os dois empregos, pensando única e exclusivamente em ter os benefícios garantidos, uma nova geração já observa o trabalho de longe com um estranhamento incomum.
Homem trabalhando de bicicleta para o iFood. Foto: Reprodução
Recentemente, o número de adolescentes que rejeitam a ideia de trabalhar com carteira assinada cresceu. Em um vídeo publicado no TikTok, a influenciadora Fabiana Sobrinho, mais conhecida como Fabi Bubu, aparece ao lado da Valentina, sua filha de 12 anos, que afirma não querer ser CLT para não precisar “andar de ônibus” ou estar “em um ambiente com muitas pessoas e com um chefe mandando nela”.
Enquanto Valentina pensa assim, José Carlos, de 68 anos, formou-se em Economia, mas, como não conseguiu emprego na área, passou a trabalhar com corridas de táxi, de forma autônoma. Nas ruas desde 1989, ele tem diabetes e, mesmo não podendo ficar muito tempo sentado, já chegou a trabalhar 30 horas seguidas, porque, apesar de estar aposentado, o dinheiro que recebe não é suficiente para suprir suas necessidades — como contas médicas e despesas diárias. As dores na perna são constantes, mas José relata que trabalha muito por necessidade, para poder arcar com as suas despesas, comer e comprar os remédios que precisa. No último domingo, foram 16 horas sem descanso. O dinheiro da aposentadoria não dá para remédios, contas, comida. Sentar por tantas horas agrava sua condição, mas parar não parece uma opção.
Entre correrias e recibos, José vive o oposto da liberdade que atrai Nicolas e em um “tão tão distante” em relação ao mundo que Valentina imagina estar. A rotina dupla de Nicolas tem aumentado o cansaço. O jovem revelou que sua rotina anda mais estressante e menos lucrativa, sendo cansativo trabalhar em dois empregos. Apesar de ainda achar que, com as entregas, pode ganhar mais, já que quanto mais produz, mais recebe, hoje ele enxerga no trabalho com carteira assinada uma maior estabilidade, por saber que tem direitos garantidos e um salário fixo. Mesmo gerando certa ansiedade por ser um valor menor do que o que recebia apenas com as entregas, o modelo CLT lhe traz conforto e segurança. Esse foi, inclusive, um dos motivos pelos quais Nicolas decidiu aceitar um emprego de carteira assinada e manter as entregas no restante do dia.
Entre as diferentes gerações, expectativas e necessidades, o trabalho segue se reinventando, para uns por por prazer, para outros por sobrevivência — alguns fazem por liberdade, outros por urgência.
A minissérie "Adolescência", produzida pela Netflix (2025), retrata de maneira impactante o quão prejudiciais as redes sociais podem ser para os jovens e adolescentes e a importância do acompanhamento parental. Com mais de 114 milhões de espectadores no mundo todo, a série levantou o debate acerca dos impactos do mundo digital na formação da identidade e na saúde mental da geração que nasceu envolta nesse cenário.
Para a psicóloga clínica Elis Calado, em entrevista à AGEMT, "o uso excessivo de telas pode aumentar sintomas de ansiedade, depressão e baixa autoestima, especialmente pelas comparações nas redes sociais". Além disso, a profissional cita como a superexposição às telas podem afetar a saúde física e social das crianças - que passam a ter problemas com insônia e isolamento social.
Um dos aspectos destacados pela série é a crescente imersão dos jovens no universo digital, sendo expostos diariamente ao cyberbullying, padrões irreais e discursos de ódio. As redes são marcadas pelo surgimento de novos termos e gírias que, muitas vezes, soam como um idioma próprio para quem está fora desse contexto. Expressões como "incel", "redpill" e "blackpill" exemplificam essa nova linguagem. Esses termos ilustram não apenas uma mudança de vocabulário, mas também a formação de novas culturas dentro do ambiente virtual. Essas terminologias revelam ideologias que podem moldar negativamente a visão de mundo dos adolescentes.
Infelizmente, o que se vê na série não se limita à ficção. No dia 1° de abril deste ano, em Caxias do Sul (RS), três alunos esfaquearam uma professora após receberem advertências disciplinares no dia anterior. A saúde emocional prejudicada dos adolescentes, faz com que eles ajam sem pensar nas consequências ou não se importando com elas. São moldados a um cenário em que tudo o que desejam está à disposição.
Comparado às gerações anteriores, hoje os mais novos vivem uma realidade muito distinta. No passado, as interações eram limitadas a encontros presenciais, telefonemas e bilhetes. Atualmente, com um smartphone em mãos, a geração alpha — nascidos de 2010 em diante — tem acesso irrestrito a conteúdos de todo o mundo, a qualquer hora. Segundo Elis: “na internet os jovens “perdem a noção do tempo”, experimentam “liberdade total” e se transportam para esse “mundo virtual”, que é muito importante para eles, porque funciona como uma fuga para suas angústias existenciais e promete sentido e pertencimento”.
O problema é a dificuldade de desassociar esses “dois mundos” quando vivem o dia a dia. O que acontece nas redes sociais transpassa esse ambiente e toma forma na vida material. Como o protagonista, Jamie (Owen Cooper), que assassina sua colega de turma em razão de comentários na internet, muitos adolescentes têm sido levados a tomar atitudes terríveis por serem frágeis emocionalmente e muito afetados por outros.
Por outro lado, muitas vezes o mundo virtual é como uma terra sem lei, onde todos dizem o que querem e como querem. A liberdade dada para todos por meio das redes sociais trouxe muitos benefícios ao longo dos anos, mas, cada vez mais, vemos as ações prejudiciais desses meios nas relações e na mente humana. Se antes o que era dito passava por certo filtro nas conversas cara a cara e na lentidão das cartas, hoje o distanciamento que as redes geram e a rapidez com que pode-se fazer um comentário, torna esse filtro praticamente inexistente.
Em um mundo onde os jovens estão cada vez mais conectados, é fundamental estar atento aos efeitos dessas redes sociais. Como retratado na série "Adolescência", muitas das situações que os personagens enfrentam são desafios reais da juventude moderna. As redes sociais podem ser uma ferramenta poderosa, mas também podem se tornar um terreno fértil para inseguranças e problemas emocionais, se não forem usadas com cautela.
A psicóloga ressaltou a importância do acompanhamento familiar: “O mundo moderno é muito acelerado e exigente, mas precisam desacelerar e estabelecer prioridade claras olhando com mais atenção para a relação com os filhos e entre a família, devem buscar fortalecer os laços afetivos com mais convivência e mais diálogo”.
A Salon Line, marca de enorme presença no setor de cosméticos capilares e preferida das consumidoras de cabelo cacheado e crespo, se viu no centro de uma polêmica que escancarou a distância entre o discurso e a prática. A protagonista da história é Maju Santos, influenciadora de 19 anos que cria conteúdo sobre cuidados com cabelo natural — de forma independente, sem apoio ou patrocínio da marca.
Maju publicou um vídeo em seu perfil mostrando um penteado feito com dois produtos da Salon Line. A surpresa veio depois: em mensagem privada, a marca respondeu com um comentário no mínimo duvidoso: “Amiga, você tá igual cachorro na frente da padaria olhando o frango girar e só sentindo o cheiro.”
O print foi parar no TikTok da criadora, que desabafou: “Tentei rir na hora e respondi brincando, mas depois parei pra pensar: a gente se esforça, cria conteúdo de graça, usa os produtos, e ainda tem que lidar com esse tipo de comentário?”. A fala fazia referência à famosa “caixinha” de produtos - conhecida como Migs - que a Salon Line envia para influenciadores parceiros. Maju já havia sido aceita no projeto, mas nunca recebeu nada porque seu perfil não é monetizado:
“Eu sou consumidora. Compro os produtos. Crio conteúdo porque gosto. A marca não paga, não patrocina, não envia nada. E ainda assim me tratam assim?”, completou.
Com a repercussão negativa, a Salon Line publicou um vídeo pedindo desculpas. “Erramos. Desculpa, Maju”, disse uma representante da marca, alegando que a equipe costuma responder mensagens com atenção, mas falhou nesse caso. A retratação não impediu que muita gente questionasse como uma marca que se baseia desde seu lançamento em diversidade e representatividade ainda comete esse tipo de deslize
O caso chamou a atenção não só pela fala infeliz, mas pelo retrato que pinta do mercado de influência: muitos criadores, especialmente mulheres negras de periferia, sustentam a relevância de marcas como a Salon Line nas redes — sem nenhum retorno financeiro. Essa prática, que ficou conhecida como “mimos” ou “recebidos”, é um dos modelos de marketing mais populares do mercado atual de beleza. A estratégia consiste em usar a plataforma do influencer como catálogo para a marca, considerando os produtos como forma de pagamento pela divulgação.
O problema é que essa posição não é benéfica para criadores pequenos, pois exige um período longo de exposição para gerar lucro. O mercado de marketing de influência se beneficia nesse acordo, usando da mão de obra e criatividade de outras pessoas a “preço de banana”. Vale lembrar: a Salon Line cresceu muito nos últimos anos. É líder em pós-xampu em perfumarias e terceira maior em supermercados, segundo a Nielsen. Seu portfólio tem mais de 400 produtos — entre eles, a famosa linha #todecacho.
Em 2022, somava 2,6 milhões de seguidores no TikTok e mais de 500 mil inscritos no YouTube. Tudo isso graças, em parte, a estratégias digitais que deram voz e visibilidade, justamente, para quem, agora, está cobrando respeito.
A situação escancarou o abismo que ainda existe entre o marketing de empatia e a prática real das marcas. Uma cobrança legítima por coerência, reconhecimento e respeito a quem sempre esteve na linha de frente.
Esse não foi o primeiro exemplo de má conduta entre marca e cliente, ano passado, 2024, a marca Mascavo, propriedade da também influenciadora Mari Saad, tomou a frente das notícias. A marca em questão, criou toda uma narrativa de inclusividade e aceitação pré-lançamento para depois ter em sua cartela apenas três opções de tons para peles negras e retintas.
Esse ano, a influenciadora Gabi Oliveira, conhecida como Gabi de Pretas, relatou a conduta desigual da Mascavo. Na nova onda de lançamentos da marca, de Pretas recebeu um conjunto de PR com apenas dois itens da coleção, descredibilizando sua posição de respeito nas redes e seu papel como influenciadora.
Após dois meses desde a proibição do uso de celulares nas escolas do país, alunos, professores e especialistas têm relatado as mudanças observadas com a medida. Aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro do ano passado e sancionado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT) em janeiro deste ano, o PL 4.932/2024 dispõe sobre a restrição dos aparelhos nas escolas públicas e privadas. No entanto, para atividades pedagógicas que exigem o uso do dispositivo, os alunos são permitidos a usá-lo sob orientação dos professores.
Com o uso dos dispositivos proibido inclusive nos intervalos, o objetivo da lei é proteger a saúde mental, física e psíquica das crianças e adolescentes, além de mitigar os impactos do uso excessivo do celular. Apesar de aprovada recentemente no território nacional, a medida já vigora em outros países. Desde 2018, a França, por exemplo, restringe o uso de smartphones nas escolas. Outras nações como Espanha, Holanda, Dinamarca e Finlândia, também possuem alguma restrição quanto ao uso do aparelho no ambiente escolar.
Segundo o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), de 2023, existe uma relação negativa entre o uso excessivo das tecnologias digitais e o desempenho acadêmico. O documento, coordenado pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e aplicado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) no Brasil, é inclusive citado no Relatório Global de Monitoramento da Educação da Unesco. Esse último estudo, do mesmo ano, afirma que “os aspectos negativos e prejudiciais do uso da tecnologia digital na educação e na sociedade incluem o risco de distração e a falta de interação humana”.
De maneira não surpreendente, tanto estudantes quanto quem trabalha na educação admite que o uso excessivo do celular atrapalhava o foco durante as aulas e às vezes até a interação entre os colegas. Barbara Adam, aluna do 3º ano do Ensino Médio no Colégio Rainha da Paz, localizado no bairro do Alto de Pinheiros, em São Paulo, comenta, em entrevista à AGEMT, que o telefone gerava distrações de maneira geral entre os colegas, já que “qualquer notificação que chegasse eles olhavam para ver o que era”. Mesmo fora do ambiente escolar, não é novidade que o hábito de olhar o dispositivo assim que recebe uma mensagem é sintomático socialmente.
Kauê Pereira, assistente pedagógico no Ensino Médio do colégio, complementa que o uso do aparelho em sala estava realmente descontrolado. “Era possível perceber o vício dos alunos no dispositivo, e as interações entre eles se resumiam a assistir conteúdos ou jogar no celular”. Djeferson Sousa, professor assistente na Escola Móbile, em Moema, também diz que entre as trocas de aula e intervalo “era a coisa mais comum ver a maioria no celular”.
A psicóloga clínica, mestra em educação e assessora pedagógica da Rede Metodista, em São Paulo, Vanessa Fantozzi, tampouco teve percepções diferentes. Por mais que não houvesse nenhuma proibição explícita, a orientação nas escolas do país sempre foi de não mexer no celular durante as aulas – mesmo assim, era comum ver estudantes usando o dispositivo durante as explicações. “A metodologia de ensino tinha que ser muito envolvente para o aluno realmente prestar atenção. Muitas vezes eu presenciei cenas do professor falando muito bem, passando a matéria de uma maneira bem didática, bacana, e o aluno atrás, na cara dura, mexendo no celular”. No dia a dia, Vanessa convive com alunos desde a Educação Infantil, até o Ensino Médio.
Embora passado um tempo desde a proibição, o Conselho Nacional de Educação (CNE) publicou recentemente uma resolução que orienta o uso dos dispositivos digitais nos espaços escolares. De acordo com o documento, cada instituição de ensino decide a maneira como os celulares serão guardados durante o dia letivo. O texto também informa que as punições para quem desrespeitar a norma devem ser implementadas de maneira democrática e considerando os direitos humanos.
Mesmo antes da lei federal, algumas escolas do país já haviam introduzido a restrição do uso de celulares no ambiente. É o caso do colégio de Barbara, que explica que antes da norma, no último trimestre do ano passado, a instituição deixava caixas de madeira dentro das salas para cada aluno deixar o aparelho assim que chegasse no local. “Mas muitas pessoas não respeitavam a regra, já que era pouco fiscalizado”, esclarece a aluna. Depois da regulamentação, no entanto, a orientação mudou para que cada estudante guardasse o telefone dentro da própria mochila.
Sarau realizado entre professores e alunos do Colégio São Domingos, localizado em Perdizes, em setembro de 2024. Na época, a instituição já experimentava o desuso do celular. \ Reprodução/Instagram @colegio_sao_domingos
Atualmente, as escolas onde estudam Matheus Amorim e Beatriz Ferreira, no Colégio Santa Lúcia Filippini e Colégio Arbos, respectivamente, seguem a mesma estratégia. A não ser que seja sob orientação do professor, o celular não deve ser tirado da mala em nenhum momento. Já na Escola Móbile, Djeferson explica que o dispositivo deve ser mantido necessariamente nos armários dos estudantes, disponibilizados para todos. Caso seja visto portando o dispositivo em sala, deve se retirar do ambiente. “Em uma ocasião, um aluno deixou o celular cair do bolso na sala de aula e teve que ser excluído da classe; ele não voltou até o término da aula”, cita o auxiliar. Nesse tipo de situação no colégio, o discente é orientado a ficar na coordenação até o fim da disciplina.
Segundo depoimentos dos estudantes e assistentes, no começo foi difícil a adaptação ao novo contexto, e mesmo dois meses após a restrição, não é raro ver alunos que tentam usar o dispositivo escondido. Já nos outros colégios nesses casos, se visto, o objeto é deixado na coordenação pedagógica pelos professores ou inspetores. Beatriz, que está no 3º ano do Médio e estuda em São Caetano do Sul, complementa que os jovens só podem pegar o dispositivo ao fim do dia e acompanhados dos pais.
“Todos os dias flagramos alunos indo ao banheiro para usar o celular ou tentando utilizá-lo escondido em sala. No entanto, em todos os casos, há uma intervenção. Isso apenas evidencia o quão viciante o uso do celular era para alguns estudantes”, diz Kauê. O assistente também cita que nem na cantina da escola os discentes podem usar o aparelho para pagar com Pix, ou cartão digital. “Eles precisam adicionar créditos no aplicativo da cantina para conseguir consumir, ou levar o próprio cartão físico.”
Até entre alguns professores o uso do dispositivo diminuiu, a fim de não influenciar os discentes a usarem, como no Colégio Rainha da Paz. O auxiliar pedagógico explica que formalmente, não existe nenhuma restrição, mas que os docentes foram aconselhados em reunião a ‘servir de exemplo’ para os jovens. Apesar do uso entre os educadores também ter diminuído, a orientação é bem mais flexível do que para os alunos.
Algumas instituições até disponibilizaram espaços para um “celulódromo”: local onde é permitido o uso do celular exclusivamente para fazer ligações e falar com os pais, antes e depois das aulas, se necessário. É o caso da Rede Metodista, que Vanessa acompanha, e da Escola Móbile. Diante da nova lei imposta, ao longo do tempo os alunos tiveram que se adaptar gradualmente e passaram a usar e buscar alternativas de entretenimento na escola, sobretudo nos intervalos. Além disso, as próprias instituições são orientadas pelo MEC para que ofereçam lazeres aos discentes.
Por todo o território nacional, existem relatos de diversas atividades para entreter os jovens: ping pong, pebolim, vôlei, basquete, futebol, queimada. “Uno”, truco, pular corda, leituras e até forró. Frequentemente, os alunos são consultados pela comunidade escolar para sugerir alternativas que lhe interessem. Apesar das dificuldades iniciais, alguns jovens avaliam que, de fato, se sentem mais concentrados sem a presença do dispositivo durante as aulas. Beatriz admite que a adaptação no começo foi complicada, já que quando precisava falar com alguém, era só pegar o celular naquele momento. “Com o passar dos meses eu fui me adaptando bem à nova lei e entendendo que o celular realmente afeta nossa concentração e aprendizado durante as aulas.” Para Barbara, o celular não fez falta e até achou boa a restrição por se sentir mais focada nas disciplinas.
Curiosamente, com a socialização pelo celular interrompida, alguns hábitos e transgressões que já não se viam constantemente em determinados anos, retornaram. “Bolinhas de papel voltaram a voar pela sala, colas estão sendo passadas por meio de papéis e borrachas, e piadinhas e rabiscos nas mesas tornaram-se mais frequentes”, menciona Kauê. Outra febre comum nos últimos tempos entre adolescentes, é o uso das câmeras digitais na sala de aula, sobretudo as tipo cybershot, máquinas compactas que tiveram seu auge nos anos 2000. Os dispositivos têm sido usados não só para registro entre os alunos, mas até para tirar foto da lousa – o que antes era feito com o celular.
Alunas do Colégio Rainha da Paz registram trote com cybershot. \ Reprodução/Instagram @bah.tche_
Quanto ao uso dentro de casa desde a medida, os estudantes se dividem para dizer se passaram a usar menos o celular, ou não. Barbara acha que seu uso fora da escola não aumentou nem diminuiu; para Matheus, a mesma coisa. Beatriz confessa que seu tempo de uso do dispositivo aumentou em casa, principalmente quando passa o dia inteiro no colégio. Vanessa concorda que acha muito difícil que os alunos tenham diminuído o uso do telefone em casa, e sugere que os pais talvez devessem conversar com os filhos sobre o tempo excessivo de tela.
“Infelizmente, eu gostaria de falar que não, mas eu acho que eles continuam usando, sim, dentro de casa. Acho que os pais também querem tentar controlar isso, mas os filhos ficam muito tempo sem, aí eles [pais] acham que podem ficar mais tempo dentro de casa. Então também é uma restrição que os pais precisam colocar; talvez tempo de tela, porque isso não mudou dentro de casa, eles continuam usando. Requer os familiares a essa conversa".
Ainda nos últimos meses de 2024, uma trend tomou conta das redes sociais como o TikTok e o Instagram. As tradwifes (abreviação que vem do termo em inglês Traditional Wifes, ou esposas tradicionais, no português) ganhou espaço entre as recomendações de algoritmos ressaltando o estilo de vida conservador exibido por essas influenciadoras. Até hoje hashtags e vídeos têm milhares de curtidas: suas rotinas romantizadas preparando a comida e cuidando dos filhos, claro, que com as roupas e maquiagem sempre intactas geram numerosos comentários de mulheres desabafando como essa seria a vida dos sonhos. O que vem preocupando estudiosos da sociedade é a permanência insistente desse movimento como objeto de desejo e a relação que ele estabelece o como momento político vivido. O que significa tantas mulheres querendo abdicar de suas vidas profissionais e externas ao lar?
Primeiramente, é necessário entender que o papel da mulher e as relações de gênero sempre foram uma questão para todas as sociedades. Durante a história, principalmente ocidental e em países colonizados, as mulheres se viram na posição de adaptar-se e lutar por espaços, mas os processos históricos não são lineares, e não esbanjam progresso durante o percurso. Em entrevista à AGEMT, Maria Eduarda Araújo Guimarães, doutora em Ciências Sociais pela UNICAMP (Universidade Estadual de Campinas), conta sobre os passos analisados na percepção social do feminino.
"Essa argumentação da naturalização do papel de gênero é muito fortalecida. Essa ideia de que o papel da mulher é estar ao lado do homem contribuindo, mesmo que não seja por vias econômicas e políticas, sempre esteve presente na luta das mulheres, nunca foram superadas”, afirma Maria Eduarda.
foto divulgação: flickr/SportSuburban
Muitas das mulheres que desejam esse estilo de vida carregam um cansaço, mesmo que inconsciente. Ainda hoje, a maioria das figuras femininas ainda estão responsabilizadas pela dupla jornada: o trabalho externo, que requer o deslocamento, e os trabalhos domésticos. São muitas horas e preocupações a mais do que boa parte dos homens. Maria Eduarda comenta sobre essa relação: “Você pode até ter uma relação equalitária entre um homem e uma mulher, os dois chegam do trabalho e nenhum vai lavar a louça, mas a mulher vai ficar com peso na consciência... no fundinho de seu ser vai ter um fundo de culpa”.
A entrevistada aponta, especialmente para o cenário brasileiro, o fator do desprezo do trabalho manual, devido as raízes coloniais: “o fato de que nós fomos o país que mais teve escravizados e que mais demorou para libertá-los, traz uma visão muito negativa para o trabalho doméstico. O Brasil não se fundou numa ética do trabalho. A gente desvaloriza o trabalho manual, a pessoa que o faz é desqualificada, mesmo que seja para nós”, ressalta.
Da inferiorização, involuntária e imperceptível, nasce essa angústia, esse fardo. E então, uma boia furada no meio do oceano parece ser uma solução. É necessário compreender que, quando falamos de configurações tradicionais de família, há uma hierarquia que não envolve somente as pessoas que a compõem. Boa parte das influenciadoras que postam esse tipo de conteúdo ficam apenas com o papel de supervisora: ela cuidará dos filhos enquanto uma outra mulher (paga pelo homem provedor financeiro) que fará o trabalho pesado. Em solo brasileiro, questão fica ainda mais profunda: a quantidade de homens que ganhem o suficiente para prover uma família nesses parâmetros é ainda mais difícil. "É um fenômeno branco, pelo menos no Brasil”, diz a entrevistada.
É quase inevitável não relacionar a “volta” triunfal dos moldes tradicionais de família com as ondas conservadoras e de extrema direita que vemos acompanhando. Apesar dos progressos coletados desde as revoluções culturais dos anos 1960 não foram absolutas. Uma possível atribuição para o sucesso das tradwifes é a necessidade de encaixar-se num nicho, num estilo de vida, demanda gerada pela sociedade extremamente on-line. Num mundo onde se pode ser tantas coisas, surge a insegurança na autonomia, muitas vezes calcada nas realidades femininas no mercado de trabalho: “Toda essa dificuldade que as mulheres enfrentam, fazer uma faculdade, mestrado, doutorado e mesmo assim isso não vai significar uma autonomia financeira. É um caminho mais fácil, ilusório, de as mulheres se sentirem protegidas, amparadas... essa ilusão, ao olhar para os EUA, programas de televisão, acabam gerando uma tentativa de mimetização sem levar em conta as com as diferenças das matrizes culturais”, analisa Maria Eduarda.
É curioso analisar como as ondas conservadoras se apropriam das redes sociais com tanta eficácia. Uma onda de mulheres votadas a abdicar de suas vidas profissionais e políticas é minimamente vantajoso aos que vem pregando esse movimento, há muito tempo, antes do TikTok. “sempre vai existir esse jogo de questionar o papel da mulher na sociedade... o que muda é a nomenclatura, é uma repaginação das redes sociais... O que elas trazem nesse discurso de diferente é que elas não estão ali por falta de escolha... e aí a questão de submissão é parcialmente maquiada”, explica Maria Eduarda. “Isso é um discurso para as redes sociais, nenhuma dessas mulheres vai mostrar que apanhou do marido porque ela não fez o que era esperado dela, ela vai expor o que é positivo dessa questão”.
É a figura do homem que está no controle da vida de todos, a mulher somente terá essa vida provida enquanto ele permitir. É ele quem terá maior poder para violentá-la psicologicamente, fisicamente e patrimonialmente. “Quem tem o poder econômico sempre tem o poder... é muito interessante essa volta conservadora, essa ideia de que a mulher é inimiga: nunca criticando a abolição do divórcio, que é criticada na bíblia, e a volta do adultério com crime... é questionável o ‘cara’ conservador que anda com a bíblia debaixo do braço, mas já está na quarta esposa”.
Não sou um robô, uma etapa de checagem comum ao navegar na internet e uma sentença obviamente verdadeira, ou talvez não. O curta-metragem de co-produção holandesa e belga de mesmo nome, problematiza o chamado teste Captcha, quando a protagonista Lara (Ellen Parren, produtora musical, entra em uma crise existencial ao não conseguir provar sua humanidade.
Logo de cara o enredo de Victoria Warmerdam, também diretora da obra, pode parecer apenas cômico, e a interpretação de Parren colabora para essa atmosfera. Os diálogos curtos e a indignação diante de uma suposta certeza de Lara prendem a atenção do telespectador ao fazer com que haja identificação com a situação. Provavelmente todos nós já erramos um destes testes simples em algum momento.
A história com pouco mais de 20 minutos continua com a indicação que a personagem tem a chance de ser 87% um robô, segundo um quiz online, e a essência incômoda da ficção científica começa a reluzir. Conversas entre humano e máquina existem há cerca de 60 anos, com a criação do chatbot Eliza, e com o avançar dos anos é cada vez mais comum, de fato.
Seja aquele número para marcar consultas ou o serviço de atendimento ao cliente das operadoras, a Inteligência Artificial rodeia as esferas da vida cotidiana e vem evoluindo rapidamente. Tome como exemplo o robô humanoide que já foi capa de revista e é considerada cidadã saudita, Sophia, da Hanson Robotics desenvolvido em 2015. Ou ainda os influencers virtuais com milhões de seguidores do Instagram hoje como a carismática Lu da empresa de varejo brasileira, Magazine Luiza.
Sophia foi inclusive ao Talk Show do apresentador norte-americano Jimmy Fallon - Foto: Hanson Robotics / Divulgação
Parece que a barreira entre o físico e digital, natural e artificial vem sendo quebrada, como aborda a obra de Margareth Boarini, “Dos humanos aos humanos digitais e os não humanos”, lançada em julho do ano passado pela editora Estação das Letras e Cores. O primeiro livro da doutora em tecnologias da inteligência e mestre em comunicação se aprofunda nesses casos de coexistência entre robôs e pessoas, porém, até onde se sabe as diferenças entre máquinas e humanos são perceptíveis, ainda.
Mas como uma boa teoria de ficção científica, o documentário explora justamente um possível futuro da humanidade, em que máquinas e humanos serão indistinguíveis, A saga de Lara por respostas acaba com a revelação de que Daniël (Henry van Loon), marido da personagem, a encomendou sob medida há alguns anos, como se faz com uma roupa hoje.
Suas memórias, sentimentos e até mesmo relações com outras pessoas, ou robôs, são todas fabricadas, como uma versão muito mais avançada do robô Sophia. A comédia permeia a narrativa um tanto quanto impensável aos olhos de hoje, mas curiosa. A seriedade da executiva da empresa que fabricou Lara, Pam (Thekla Reuten) cria uma atmosfera cômica ao assunto, completada pela tranquilidade que Daniël fala sobre sua “aquisição”.
Parren entrega uma atuação que transborda indignação, e o trabalho cinematográfico é inteligente, com cortes que acompanham a visão de Lara. Sobre o ambiente que o filme se passa, todas as gravações foram no CBR Building em Bruxelas, e a ambientação feita com cores vibrantes e apenas carros de época no estacionamento propõe um contraste entre antigo e moderno, frio e robótico, quente e humano.
O desfecho se dá com o desejo da protagonista de ser dona do próprio destino, relegando o fato de não poder morrer antes de seu “dono”. Isso pode ser visto talvez como uma negação em aceitar a única coisa que a diferencia de um humano, ou como uma mensagem da autora da obra sobre uma rebelião das máquinas.
Fato é que Lara se joga do topo do prédio, em um take muito inteligente por parte da direção ao filmar de cima, e que apesar de pesado e grotesco consegue ser engraçado e não desagradável aos olhos. Tal qual uma morte comum, há muito sangue saindo do corpo, as necessidades fisiológicas também são como de humanos, mas após alguns instantes a robô volta à vida.
Com cinematografia cativante e enredo inesperado, é um Sci-Fi cômico e dramático - Foto: Indie Shorts Mag / Reprodução
Incômodo e perspicaz são boas palavras para definir a quinta produção de Warmerdam, que a fez faturar uma série de prêmios internacionais incluindo o Oscar de Melhor Curta-metragem deste ano. Sua produção também se destaca por ser carbono neutro, com o plantio de uma agrofloresta na Holanda para compensar as emissões de gás carbônico (CO2) da obra.
I’m Not a Robot está disponível de forma gratuita no YouTube desde o dia 15 de novembro de 2025 no canal The New Yorker, com legendas apenas em inglês ou holandês. Mesmo com essa barreira linguística, o choque final é inevitável, e a reflexão provavelmente também, se o seu cérebro não estiver se perguntando se você pode ser também um robô.