A cultura popular jamaicana de sistemas de som comove e inspira transformações no estilo de vida dos brasileiros
por
Bianca Abreu
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01/10/2024 - 12h

Por Bianca Abreu

Ao ar livre ou em um espaço fechado, caixas e auto-falantes são empilhadas umas sobre as outras formando grandes estruturas - por vezes tão altas que é preciso erguer a cabeça rumo ao céu para acompanhar seu tamanho. A elas se unem o toca-discos, vinis e amplificadores. Com a missão de manter esse grupo em harmonia chega o selecta, comandante desse conjunto que, desde seu surgimento na Jamaica na década de 40, foi nomeado Sound System. De lá pra cá, esse cenário já se repetiu incontáveis vezes e, faça chuva ou faça sol, esse movimento segue firme em seu objetivo coletivo de unir, informar e empoderar o povo negro e periférico - seja ele jamaicano ou brasileiro.

Foi uma espontânea sequência de oitos de maio na vida de um homem chamado Hadley Jones a responsável por tecer o surgimento desse que é um dos movimentos culturais mais relevantes do século XX. Em 1943, ele foi convocado para a Força Aérea da Inglaterra por conta da Segunda Guerra Mundial. Lá foi treinado como engenheiro de radar e enviado para a guerra na Europa um ano depois. Nessa mesma data, em 1945, o conflito foi dado como encerrado e, em 1946, Jones embarcou em Glasgow, na Escócia, para atravessar o Oceano Atlântico e retornar à sua terra natal.

 

Hadley Jones.
Hadley Jones. Foto: Acervo Hadley Jones / RedBull Music Academy / reprodução.

Em sua volta pra casa, ele trouxe na bagagem a habilidade de desenvolver circuitos elétricos e uma rede de contatos para a importação de discos de vinil. Em 1946, fascinado pelo rádio e sua capacidade de transmissão, o jamaicano - que também era músico - abriu uma loja de consertos do aparelho e aplicou ali seus novos conhecimentos adquiridos na Força Aérea. Confiando em seus novos saberes, Hadley Jones projetou, em 1947, seu primeiro amplificador. Em seguida, montou a loja Bop City e passou a comercializar vinis, tendo consigo uma coleção distinta de toda a ilha. Para valorizar essa coleção musical, trabalhou no desenvolvimento de um outro amplificador - dessa vez, de alta potência - e investiu em alto falantes poderosos. Seu equipamento realçava as frequências baixas, médias e altas como entidades separadas e permitia ao operador remixá-las. Seu principal objetivo era anunciar seus discos promovendo uma experiência de proximidade entre o público e a música.

Em certa ocasião, para promoção de um baile, o dono de uma loja de ferragens chamado Tom Wong encomendou à Hadley Jones um equipamento sonoro como o dele e o nomeou com o que, dali em diante, seria a nomenclatura substancial daquele conjunto: Sistema de Som. Assim, outros pedidos surgiram e o músico-engenheiro se firmou como o pioneiro inventivo da cultura Sound System jamaicana.

 

Pelo ar ou pelo mar, as ondas promoveram o intercâmbio cultural entre Brasil e Jamaica

O Mapa Sound System Brasil, primeira publicação nacional de mapeamento dos sistemas de som no país, explica que a ilha de São Luís do Maranhão foi a primeira parada em solo brasileiro que o reggae desembarcou. Na década de 70, o trajeto musical de uma ilha a outra foi realizado por meio das ondas de rádio, que superaram as marítimas e levaram as mensagens que protestam por justiça social aos ouvintes maranhenses. A conquista foi tamanha que, hoje, a cidade é conhecida como a Capital do Reggae.

Daniella Pimenta, integrante do coletivo Feminine-HiFi, seletora, produtora cultural e idealizadora do levantamento é uma das brasileiras arrebatadas pelo movimento. Ela conta que nenhum outro ambiente musical foi capaz de proporcioná-la uma experiência tão gratificante. O sentimento de pertencimento e a maneira como, a partir do grave, a música atinge, adentra e envolve o corpo são os principais fatores que contribuíram para o fascínio desde seu primeiro contato com o Sound System. Natan Nascimento, (também) seletor, produtor cultural, fundador do Favela Sound System e parceiro de Daniella no desenvolvimento do mapa, teve uma experiência semelhante a da colega: se apaixonou pela atmosfera da festa jamaicana à primeira vista. Já conhecia o reggae enquanto ritmo musical, mas a aliança entre o sistema de som e a música apresentou a ele a amplitude de sua dimensão cultural e social.

Tanto Dani quanto Natan foram atravessados pela magia desse movimento e o impacto foi terem seu estilo de vida transformado por ele, com convicções lapidadas e rotas profissionais reconduzidas. Mas apesar dos bons ventos nas festas do movimento, Dani confidencia que, em dado momento, empacou enquanto produzia o mapa. Ela própria contatava os coletivos para inseri-los no catálogo ilustrado mas, por alguma razão, passou a ser ignorada. O levantamento era fundamentado em perguntas simples, como fundação, equipe atual, principal vertente e localização. Além disso, uma foto do sistema de som era solicitada para que o conjunto pudesse ser registrado por completo.

O projeto só voltou a andar quando, em 2018, findou a parceria com Natan. Parte das equipes que não estavam listadas pelo fato de não terem retornado o contato a ela, curiosamente, o fizeram quando, por meio de uma publicação no Facebook, ele solicitou aos interessados o envio das mesmas informações. Ela ficou com a pulga atrás da orelha se perguntando, afinal, qual teria sido a razão para que ela nunca tenha recebido essas mesmas respostas. O resultado foi que ela conseguiu registrar 50 equipes e seu parceiro, o dobro.

Capa do Mapa Sound System Brasil.
Capa do livro Mapa Sound System Brasil. Composição: Daniella Pimenta / Natan Nascimento.

 

Vivendo de Sound System

Vitor Fya.
Vitor Fya, 25 anos, morador da Brasilândia e apreciador da cultura Sound System jamaicana. Foto: Vitor Lima / arquivo pessoal / Facebook.

Outro brasileiro seduzido pela cultura jamaicana é João Vitor Lima, de codinome Vitor Fya, morador da Brasilândia - distrito mais populoso da zona norte de São Paulo - e entusiasta da cultura Sound System há mais de uma década. Hoje, ele trabalha como serralheiro, mas aspira ter condições de fazer de seu estilo de vida mais do que um hobby: uma fonte de renda aliada à paixão.

Seu caminho se cruzou com o movimento Sound System quando ele tinha 15 anos. A primeira festa foi na extinta Fazendinha Skate Parque, pista de skate que fazia parte do complexo esportivo do Centro Educacional Esportivo Oswaldo Brandão (C.E. Vila Brasilândia). O espaço foi eliminado para ceder lugar à construção do Hospital Municipal da Brasilândia - cuja obra, de acordo com a secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, devia ter sido completamente entregue em 2017. No entanto, apenas em 2020 o hospital foi parcialmente aberto. A inauguração ocorreu pressionada pela alta da demanda hospitalar decorrente da pandemia de Covid-19. Não houve compensação pela retirada da pista de skate com a inclusão de um outro espaço público de lazer e esporte pela região e ficou “por isso mesmo”.

Fazendinha aos domingos
Movimentação dominical no Fazendinha Skate Park. Foto: Fazendinha Skate Park / Felipe Gomes / Facebook / Reprodução.
Obras no Fazendinha.
“No momento a obra passa por movimentação de terra e fundação. Nas áreas onde estamos trabalhando havia o CDC e parte do Centro Esportivo”, explica publicação da secretaria de Infraestrutura e Obras um dia antes do início das construções, 2015. Foto: Érika Kwiek / Site Prefeitura SP / Reprodução.
Obras do complexo Brasilândia.
À esquerda, o prédio do Hospital da Brasilândia. À direita, os guindastes das obras do metrô Brasilândia, linha 6, laranja. Construções planejadas de forma que possam atuar como um anexo. Foto: Bianca Abreu.

O Natural Dub, sistema de som comandado por Thales Silva, que comandava as sessões no Fazendinha, se posicionou via Facebook acerca da derrubada da área de lazer. Em nota, pontuou que é a favor de que mais hospitais possam ser construídos na Brasilândia, mas que isso ocorra - preferencialmente - em locais onde áreas de lazer recém construídas não precisem ser destruídas. Assim, o investimento na saúde do bairro não implicaria na dissolução de um espaço cultural frequentado pela juventude na região. Junto à mensagem datada de 22 de julho de 2015 foi publicado um conjunto de fotos do derradeiro evento realizado no local.

24º Vibe.
24º Vibe.
24º Vibe, último evento e amplificação realizados pelo Natural Dub no Fazendinha Skate Park, 2015. Fotos: Natural Dub SP / Facebook / Reprodução.

Em seguida, o Vitor conheceu o Anhangabaroots - como eram chamadas as sessões de diferentes coletivos promovidas ao longo do Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo - e ele foi essencial para aprofundar seu interesse pelo movimento Sound System. Foi lá que a chave virou, seus olhos brilharam e ele decidiu que a cultura dos sistemas de som seria a protagonista de seu estilo de vida. Ele relembra coletivos como o Trezeroots Sistema de Som e festas como a Terremoto, em que não só os sistemas de som das equipes África Mãe do Leão e Zyon Gate se agrupavam, mas que também formavam uma grande estrutura para amplificação a partir da união com outros coletivos.

Trezeroots.Trezeroots.
Trezeroots.
Anhangabaroots com Trezeroots Sistema de Som, 2014. Foto: Trezeroots Sistema de Som / Facebook / Reprodução.
Reunion of Dub.
Reunion of Dub.
Anhangabaroots com Reunion of Dub, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.
Terremoto.
Anhangabaroots com Terremoto, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.

Outro evento apontado pelo paulistano é a Virada Cultural. Ele destaca a variedade de vertentes reggueiras que podia prestigiar por conta da Arena Sound System, iniciativa que reuniu, simultaneamente, os principais coletivos no centro de São Paulo - sendo eles da capital ou não. Ele lamenta a falta de continuidade dessa programação.

 

Um sistema de som de qualidade aliado a bons discos faz relaxar e viajar sem sair do lugar

João Vitor considera que a cultura Sound System fisga seu público pela experiência completa e transformadora que proporciona. A qualidade dos equipamentos, sua instalação no espaço escolhido para a festa e o domínio musical de quem comanda a sessão são elementos essenciais para que a experiência seja agradável e enriquecedora. Estar em um ambiente seguro, acolhedor e com elementos educativos contribuem para instigar a curiosidade sobre os detalhes daquela cultura, expandindo sua consciência e fortalecendo a admiração e o vínculo com esse estilo de vida. São profundamente cultivados os princípios como respeito, tolerância e inclusão.

O sistema de som é estruturado por um conjunto de caixas equipadas de modo que a experiência sonora alcance e comova o público com o melhor desempenho possível. Para João Vitor, logo de cara, esse conjunto estrutural é o que mais chama a atenção. Os elementos gráficos, como cores e texturas, e a disposição de cada uma das peças de todo o aparato estrutural compõem a identidade do coletivo.

Salto Sound System
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

 

Salto.
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

A preocupação com o repertório também é parte indispensável da construção da identidade do sistema de som e de seu seletor. Ele deve ser capaz de aliar diferentes elementos sonoros a fim de abrilhantar sua performance e complementar o impacto artístico trago com a escolha dos discos reproduzidos - afinidade com o vinil é fundamental para qualidade do espetáculo. João explica que cada seletor costuma se especializar em um dos vários gêneros possíveis, mas que, nas sessões, costumam transitar entre eles, trazendo variedade e alguns ineditismos às suas apresentações. Vivenciando diferentes festas, ele passou a reconhecer uma variedade de vertentes como Roots, Steppa e Rub-A-Dub.

Questionado sobre conhecer a qualidade feminina na cena, João Vitor Lima exalta o trabalho do coletivo Feminine Hi-Fi, formado pelas seletoras e produtoras Laylah Arruda e Daniella Pimenta - reggueira que deu o pontapé no mapeamento dos sistemas de som em solo nacional.

Feminine HiFi.

 

Feminine HiFi.Feminine HiFi.Feminine HiFi.
Feminine HiFi.
Tendal da Lapa recebe 3ª edição do festival Feminine Hi-Fi, onde a line-up e o comando da sessão são 100% femininos. Foto: Bianca Abreu / Flickr.

 

Entre todos, ele: o pioneiro

Em vários momentos ao longo da conversa, Vitor salienta as virtudes do DubVersão Sound System - comandado por Fábio Murakami, o Yellow P (pronuncia-se ‘pi’) e pioneiro em terras paulistas. Desde 2001, ele propaga a cultura por toda São Paulo e o faz no mais genuíno modelo jamaicano, no que diz respeito à escolha por ambientes abertos e vertentes clássicas em sua performance. É o predileto de João Vitor - que comparece tanto às suas apresentações públicas como privadas - e foi o primeiro contato de Daniella Pimenta com o movimento. O evento Dub Na Praça acontece anualmente na Praça João Cabral de Resende, no Jardim Primavera, zona norte da capital paulista. É um espaço aberto e convidativo para curtir uma tarde gratuita nos moldes tradicionais do Sound System jamaicano. Já o Java, também comandado pelo Yellow P, é o braço pago dos eventos realizados pelo DubVersão e hoje ocorre na Rua Simonsen, na Sé. Além dessas duas festas inegociáveis, a agenda cultural paulista costuma integrar o DubVersão a novos espaços ao longo do ano.

Dubversão.Dubversão.
Dubversão.
DubVersão Sound System no Tendal da Lapa, 2023. Foto: Bianca Abreu.

João ressalta que prioriza as festas em que sente seu corpo e espírito em estado de conforto e harmonia. Ele conta que, quando vai ao Java, renova suas forças e sai de lá novinho em folha. Segundo ele, mesmo quando uma força maior impede que consiga adquirir o ingresso de uma das edições da festa, ele não reclama da cobrança existir pois a considera justa diante da qualidade da experiência promovida. Ele frisa que o coletivo sempre promove eventos gratuitos e que a qualidade da performance não se abala diante da cobrança da entrada no evento.

Ele conta que já leu comentários nas redes sociais em que alguns perfis reclamavam do fato de o Yellow P performar de costas para o público e questionam se isso seria sinal de vergonha. Vitor esclarece que, na realidade, isso faz parte da apresentação do seletor. Sua intenção é que o público visualize os caminhos que ele percorre para projetar os efeitos sonoros que escolhe ao longo da sessão. Para ele, isso é uma aula. Ele assiste atento e idealiza meios de reproduzir aquela performance em seus próprios equipamentos. O Susi In Transe, casa noturna que recebeu a seleção de Yellow P em suas primeiras apresentações declarou o fechamento de suas portas no último mês. O jovem paulistano lamenta o encerramento das atividades de mais um espaço cultural da cidade.

Susi In Transe
Produtor Daniel Ganjaman e Yellow P, em sessão no antigo Susi In Transe. Foto: Acervo Miguel Salvatore / UOL / Music Non Stop.

 

O desejo de compartilhar

Por conta da influência positiva que o Sound System como estilo de vida o proporcionou, João Vitor deseja ter a oportunidade de multiplicar os beneficiados por ele com a mesma maestria que os pioneiros que admira. Até hoje, como Vitor Fya, ele pôde comandar sessões em eventos de terceiros, como o RNR, sistema de som de seu bairro que o apadrinhou. Entretanto, sua intenção é alçar voos maiores para expansão do conhecimento sobre a cultura em seu território. Para ele, o que mais dificulta sua atuação na cena é o alto custo para tirar um plano como esse do papel, pois montar um sistema de som envolve custos com equipamentos, locomoção e investimentos no repertório musical. Ele gostaria de envolver a criançada do seu bairro nesse movimento cultural, despertando seu interesse em se aproximar da música a partir do manuseio de um toca-discos, estimular sua criatividade na administração dos botões da amplificação e inseri-los em uma prática onde é forte a relação de comunidade.

O intercâmbio cultural entre as ilhas jamaicana e brasileira se findou pela recíproca identificação dos oriundos das periferias de ambos os territórios. Os discos de vinil puderam expandir o alcance dos protestos de um subúrbio ao outro tendo as caixas empilhadas como aliada no ecoar dessas mensagens. Essa celebração reggueira reafirma a importância da valorização do território e o vigor dos encontros presenciais - por isso, conectando sensibilidade e força, tornou-se tradição cá e lá.

A alteração climática trouxe melhorias para a saúde da população e retirou a cidade do topo do ranking mundial de pior qualidade do ar
por
Gabriel Porphirio Brito
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17/09/2024 - 12h

 

Calçada com pessoas com roupa de frio e segurando guarda-chuva
A previsão é de dias frios até quinta-feira (19). / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

Após quinze dias de calor intenso e qualidade do ar comprometida, a cidade de São Paulo experimenta mudança significativa nas condições climáticas, com a chegada de uma frente fria. Entre os dias 15 e 16 de setembro, o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura registrou uma alta na umidade relativa do ar, que chegou a 98%, com algumas áreas atingindo 100%. 

Melhoria da qualidade do ar

De acordo com dados do IQAir, São Paulo chegou a figurar na primeira posição do seu ranking global de metrópoles com piores índices de qualidade do ar, consequência direta da onda de calor, poluição, queimadas, e das condições atmosféricas desfavoráveis.

O CGE informou, na segunda-feira (16), que a formação de uma área de baixa pressão vinda do Paraná, na região Sul do país, trouxe instabilidades atmosféricas, o que provocou a chegada da chuva e a melhora da qualidade do ar. 

Além disso, a precipitação e o aumento da umidade permitiram a dispersão de poluentes que se acumulavam na atmosfera, tornando o ar mais respirável. A expectativa é de que essa melhora seja contínua ao longo dos próximos dias, já que a previsão meteorológica indica que a umidade e as temperaturas amenas devem persistir.

A capital, que até a semana passada estava em primeiro lugar no índice global de poluição, agora ocupa a posição 73, com o ar classificado como “bom”, segundo a plataforma IQAir.

Previsão do tempo

Segundo o Climatempo, a chegada da frente fria trouxe queda nas temperaturas, com máximas que não ultrapassam os 20°C até quarta-feira (18). Para esta terça-feira (17), a mínima registrada foi de 14°C e a máxima não deve passar 20°C. 

Embora a frente fria traga alívio momentâneo, ainda de acordo com o Climatempo, o efeito pode ser temporário. Com a previsão de retorno de temperaturas mais elevadas até o final da semana, com máximas de até 34ºC a partir de sexta-feira (20), é possível que a qualidade do ar volte a piorar, embora em menor intensidade e ainda com pancadas de chuva pontuais.

Estado de alerta

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, na segunda-feira (16), o alerta amarelo de “perigo potencial”, para a cidade, áreas do litoral e da região metropolitana. A previsão é de chuvas entre 20 e 30 mm/h, com um volume total de até 50 mm por dia, e ventos intensos, que variam entre 40 e 60 km/h. O Inmet também alerta para a possibilidade de alagamentos e pequenos deslizamentos, embora o risco seja considerado baixo.

Já nas regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, que recentemente sofreram com incêndios florestais devido ao tempo seco, há previsão de chuvas intensas. Essa chuva, que pode alcançar 50 mm por dia e ser acompanhada de ventos de até 60 km/h, representa uma mudança significativa para áreas que sofreram com a seca prolongada. No entanto, há riscos adicionais, como queda de galhos de árvores, cortes no fornecimento de energia elétrica e alagamentos localizados.

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Apenas mais uma batata na feira, palco onde somam-se histórias nutridas de amor e resiliência
por
Vitor Nhoatto
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06/06/2024 - 12h

Não é apenas o sol que consegue aquecer o gélido concreto urbano. Lonas abertas, madeiras estruturadas, produtos apresentados, todos a postos. Uma reunião de almas comunicadoras, que buscam o sustento colocando suas hábeis mãos no que a terra melhor tem a oferecer. Em meio a gritos, sons de facas, sacolas e máquinas de cartão, o alimento cuidadosamente regado de energia pelos carregados olhos de amor dos personagens principais dessa festa, passa de um para o outro. Essa é a feira.

Como um palco a ser percorrido, fregueses vem e vão na Rua Ministro Godói em Perdizes, devidamente fechada para que o show possa continuar. No local encontra-se uma variedade de objetos, posicionados delicadamente pelos atores da peça, esses com texto ensaiado por anos e para diferentes públicos. À medida que se adentra no universo artisticamente comerciante a sensação térmica sobe. Sem ser desconfortável como as recentes ondas de calor ocasionadas em São Paulo pelas mudanças climáticas, o calor humano cativante dos negociantes sob as tendas das barracas fabrica uma atmosfera aconchegante.

Mais ao centro do palco asfaltado, uma estrutura de aço acompanhada de sacas de variadas batatas, instrumentos de batalha como balanças e sacolas, é preenchida pela irradiação energética de uma das protagonistas do evento. O bordado na roupa de gala anuncia seu nome, e a voz alegre e cheia de vitalidade proclama: "Fala amor, você quer um pinhão? Você vai fazer ele hoje ou não? Se for pode levar ele assim no saquinho plástico, porque esse outro assim respira mais, e esse tem que fazer ou tirar do saquinho". Um olhar cuidadoso debaixo dos óculos enxerga para além do físico. No alto dos seus 78 anos, Dona Beatriz alavanca sua barraca. Suas mãos vibram dentro das luvas de látex e cuidadosamente revelam a beleza dos alimentos que vende. "É oito amore. Yuri passa o PIX para ele aqui? Foi, passou! Obrigada amor". Sempre ressoando palavras de alto astral, e atendendo com todo o empenho os consumidores que ali param, assim segue ela durante o restante da apresentação, a qual já repete há 60 anos.

Dona Beatriz limpa uma cebola com uma faca e veste luvas de látex
“Essa tava com a casquinha feia, nem parecia que era tão bonita” - Foto: Vitor Nhoatto

Entre idas e vindas de fregueses, uma tela começava a ser preenchida, e o que os cabelos brancos e as marcas de uma vida bem vivida no rosto, materializadas em forma de rugas, contavam, vão sendo verbalizadas. "Os meus pais eram feirantes, eu já vim assim de uma tradição. Quando conheci o meu marido, tinha 13 anos quando comecei a namorá-lo, ele comprou uma barraca de batata, e depois de 5 anos a gente se casou e ficamos nessa vida, sempre com batata". O rumo segue e mais cores vão compondo a atmosfera. "Nós somos os dois portugueses, nascemos lá. Ele que tem 88 anos, veio com 14, agora eu não. Eu vim em 1946, ano que nasci. Nasci em março, em setembro meus pais vieram para aqui".

As terras lusitanas passaram por uma crise econômica na metade da década de 1940, no final da segunda guerra mundial e após seu encerramento. Durante o conflito, Portugal registrava recordes positivos ao ser um dos maiores vendedores do minério volfrâmio, usado em armas. No entanto, apesar de ter se mantido neutro na época, acatou a pressão dos países aliados e a comercialização do volfrâmio foi proibida em junho de 1944, impactando fortemente o país. Isso levou a imigração de milhares de pessoas em busca de melhores condições. O Brasil foi o principal destino desses portugueses de 1930 a meados de 1960, e Dona Beatriz com seus pais e mais tarde seu marido, representam quatro dos 148.699 portugueses que entraram em terras brasileiras entre 1931 e 1950 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com uma voz que diz muito mais do que as palavras que da boca saem, a viagem no tempo segue com uma gratidão apaixonada. "Tivemos outros lugares, trabalhamos em Osasco, em Itapevi… mas sempre uma aqui, 60 anos aqui. E a vida foi assim, a vida foi para trabalhar na feira, criar os filhos, e viver eu e meu marido muito felizes graças a deus. 46 anos nós vivemos casados". Preenchida cuidadosamente de lembranças, o amor pelo marido, o qual se refere em alguns momentos ainda no presente, pode confundir o telespectador da obra. Antônio partiu há 12 anos e 10 meses, como especifica. "A vida é assim meu amor". 

Antiga habitante do centro expandido de São Paulo, Dona Beatriz vive hoje com  seus dois filhos no bairro transmorfo e de história curiosa, Granja Viana. Com nome que remete às suas origens de fazenda familiar, rodeado pela Mata Atlântica, o local já foi uma ilha de descanso de alto padrão, mas hoje está denso e prejudicado, apesar de aos olhos da ilustre moradora soar como um oásis pertencente a Cotia. "Eu moro no quilômetro 22,5 da Raposo Tavares, fui para lá em 2001, era bastante mato, até a rua que a gente desce para nossa casa era terra ainda, agora não, tudo lindo asfaltado. Muitas árvores. O lugar é gostoso para gente morar".

Em sua Kombi branca, vai e vem, cortando a rodovia nos cinco dias de trabalho, sempre bem pela manhã. "A gente chega mais ou menos 5 horas, e eu levanto todo dia 4 horas, todo dia… mas tô acostumada. Nem precisa mais do despertador, é aquele hábito, na graça de Deus é bom, que a gente tem saúde". As aparições da feirante e seu fiel escudeiro Yuri, com quem trabalha há quase uma década, foram designadas para ocorrer em bairros paulistanos distantes de sua atual casa pela prefeitura, em uma época que Dona Beatriz morava na zona oeste da cidade. "A vida é assim, a gente vai levando aonde se sente bem, onde tá feliz… e eu tô". 

Formalmente regulamentadas em 1914 no estado de São Paulo, as feiras livres movimentam a economia e seguem resilientes frente à disputa de atenção. Os shows familiares e intimistas  passaram por uma crise nas décadas de 1960 e 1970, com a chegada dos super festivais, chamados de supermercados. Espelhava-se na imprensa que era próximo o fim dos artistas locais, alegadamente incapazes de peitar as estrelas refinadas recém chegadas como Pão de Açúcar, Carrefour e o extinto Sirva-se. 

Porém, representando mais do que um espaço de trocas comerciais, e sim de laços humanos, as constituintes da identidade nacional resistiram e se expandiram. De 2013 a 2023 houve aumento de 10% no número de feiras segundo a Prefeitura de São Paulo. Dona Beatriz integra 5 das 955 hoje registradas, e conta alegre que graças ao local de convivência e negócios, criou dois filhos. "O que importa é que dá para gente sobreviver com dignidade né? E a gente vai vivendo" O tempo não para, e os fregueses sobem ao palco, buscando matéria prima que alimenta além de seus corpos, mas a alma também.

Vestindo um avental amarelo com seu nome bordado em vermelho ao centro, Dona Beatriz segura uma cebola enquanto olha para a câmera
Não é a individualidade que faz uma feira e as falas no plural de Dona Beatriz reforçam tal fato, enquanto seu olhar profundo cativa quem por ali passa - Foto: Vitor Nhoatto

"Bom dia meu amor, tudo bem minha querida? Olha que coisa linda essa batata maravilhosa". Aqui tem-se um momento de pausa na recapitulação histórica, mas não no trilhar do presente. Dona Beatriz agarra com a sua tonalidade vocal levemente estridente e recoberta por ternura e simpatia, a aura de quem para na barraca. "Aqui tem 1,6kg meu amor, quer completar dois? Pode deixar que a gente pega. Essa outra é só escovada por isso não tem tanta terra, mas essa daqui como eles colheram com a terra molhada ficou assim. Dois quilos, tá amor? Deu 18 com 16, é PIX? Brigada meu amor. Tchau amore, vai com Deus".

Apesar de não ser tão agitada como costumava, percebem-se vários públicos na feira. Entre alunos e funcionários da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pedreiros das obras do entorno, e moradores da rua, que entram e saem dos prédios, algumas vezes em veículos de luxo. O bairro de Perdizes se transformou ao longo dos 60 anos de trabalho de Dona Beatriz no local. Nas últimas décadas a classe média se apropriou da região, originalmente familiar e pacata, como revela a arquitetura das poucas construções tombadas que resistiram à especulação imobiliária. Levantamento da Data Lello, instituto de pesquisas e inovação da Lello Condomínios, aponta que no ano vigente, 818 condomínios serão entregues, com destaque ao bairro da feira.

Engrenando-se novamente no monólogo, o brilho de Dona Beatriz é como uma chama intensa que ilumina o ambiente. Ela percorre seus antecedentes e os manifesta à plateia sempre que tiver quem escute, mas não por desespero de ser ouvida, e sim pelo orgulho de sua trajetória.  O avental com seu nome inscrito, de cores intensas, faz jus ao magnetismo da pessoa que o veste, a qual não para em um só lugar. Nada parece abalar o desempenho da estrela da peça, que se refere aos potenciais clientes e amigos como uma artista se dirige a seu público. "Aqui só atrapalha quando o pessoal não vem". 

Mãe orgulhosa, o amor por sua família reluz nas lentes grossas de seus óculos e na tela de seu celular com capinha cor de limão vibrante. As pálpebras se apertam e os olhos levemente se enchem de lágrimas de alegria enquanto mostra uma fotografia com seus dois netos, Rafael e Carolina. A feirante então para por um instante e com um suspirar profundo, desacelera para refletir sobre tudo que já viveu. "Foi assim, uma vida maravilhosa, feliz. Criei meus filhos, tenho dois netos [...] o que importa é que dá para gente sobreviver com dignidade. É difícil, não é fácil não, mas consegue… a gente tem que ter sempre bastante equilíbrio para ir sempre pelo caminho certo, a vida é assim, a gente vai levando."

A população brasileira vem envelhecendo gradualmente devido a melhores condições em áreas como a da saúde, educação e alimentação, refletindo em mais longevidade, apesar de haver muito ainda o que melhorar. Segundo o Censo 2022, a média nacional de vida dos brasileiros é 75,5 anos. "Agora só esperar o fim da vida, né? Tô com 78 anos e agora a gente não pode esperar mais muita coisa. Eu pretendo chegar aos 80 trabalhando, mas vamos ver o que Deus vai nos reservar, se eu tiver força do jeito que eu to agora acho que eu chego até os 80… é assim meu amor", comenta Dona Beatriz em tom de agradecimento, longe da lamúria ou de um esperado cansaço.

Batatas rosadas, batatas doces, pinhão e batatas inglesas expostas na barraca em caixas
O ato principal permanece, mas como os novos tempos pediram, convidados aparecem lá de vez em quando em meio as batatas -  Foto: Vitor Nhoatto

O tempo vai passando, e sem perceber o show se encaminha para seu fim. É chegada a hora de voltar a coxia e desmontar o palco para a próxima apresentação. A emoção transparece no olhar e as bochechas se alargam e se erguem dando lugar a mais um sorriso, dessa vez de despedida. "Você vê como a feira é gostosa? O contato, a amizade, o amor que a gente tem". Pouco a pouco o movimento vai cessando e as batatas, cebolas e pinhões vão entrando na Kombi pelas mãos de Yuri e Dona Beatriz, afinal, o tempo não para. O dia seguinte começa cedo e é de mais trabalho, na quarta-feira sendo a vez do bairro Pompéia. 

A sensação térmica incômoda do calor escaldante volta a se impor sob as cabeças agora desprovidas de lonas. Cada um volta a seus próprios universos e preocupações da vida contemporânea incessante. Cascas, resíduos e alguns papéis ficam pelo chão, que será limpo pela Prefeitura, ao passo que as peças teatrais históricas que quase ninguém conhece, se dissipam no emaranhado de vias urbanas da selva de pedra. Esse é o ciclo, semana que vem haverá mais. E como diria Dona Beatriz, "é assim, a vida é um paraíso".

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.

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No meio da avenida mais movimentada do país, há arte e cultura espalhadas pela avenida Paulista
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02/06/2024 - 12h

Todo domingo na Avenida Paulista, o destino mais comum para aqueles que querem espairecer do caos do dia a dia paulistano, podemos desfrutar de diversas culturas e entretenimentos. Espalhados pelas ruas ou calçadas, encontramos "gente que faz trabalho de gente". Pessoas que colocam seu dom, seja vocal, corporal ou manual, em exposição à céu aberto e nos dá a honra de prestigiar.

 

Av. Paulista
Dia de domingo na Avenida Paulista, São Paulo | Foto: Beatriz Alencar


As ruas que diariamente são cheias de carros, ônibus, trânsito e fumaça, dão mais cor aos diversos tipos de cultura. Em meio a tantas barracas, encontramos a de Vitor Amra. Ele vende placas pirografadas e além disso, também é tatuador. A arte da pirografia, basicamente é um modo de desenho sob uma madeira, que utiliza uma ponta de metal aquecido para gravar a peça. Para saber mais um pouco desse processo e de como é trabalhar na avenida mais movimentada do país, acesse o vídeo abaixo. "É o trabalho e um pouquinho de festa ao mesmo tempo", de acordo com o Vitor. Venha conferir nesta cobertura no Instagram! 

 

 

 

Evento reúne entidades e trabalhadores em São Paulo para celebrar a solidariedade e conscientização sobre segurança no trabalho
por
Geovana Bosak
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01/05/2024 - 12h

No dia 28 de abril, a Praça Memorial Vladimir Herzog recebeu o evento "Todo mundo tem que falar, cantar e comer!", que acontece todo último domingo de cada mês. Dessa vez, o encontro "Ato e Canto pela Vida" reuniu diversas entidades, trabalhadores de diversas centrais sindicais em um ato unificado em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, em homenagem ao dia mundial dessa causa. O encontro foi resultado de uma articulação significativa envolvendo 45 entidades, desde sindicatos até órgãos governamentais e organizações da sociedade civil. Entre elas estavam centros acadêmicos, federações, centrais sindicais, Ministério do Trabalho e Emprego, Fundacentro, Dieese, entre outras.

A reunião aconteceu a céu aberto, ao lado da Câmara Municipal de São Paulo, livre para todos que quisessem participar. O espaço estava decorado com faixas e cartazes trazidos pelas organizações e sindicatos, com mensagens e reivindicações de distintas origens. 

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Evento "Ato e Canto pela Vida", em praça pública.
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Pessoas reunidas em ato em memória às vítimas de acidentes de trabalho, na "Escadaria da Liberdade".
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Interação e integração entre trabalhadores, organizadores e participantes.
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Entrevistas para a cobertura do evento, realizada pelo Canal da Praça.

A celebração iniciou às 11 horas, com o encontro e reencontro dos participantes, familiares e entidades. Em seguida, o grupo "Inimigos do Batente", comandado pelo cantor Paulinho Timor, apresentou em uma roda de samba músicas ao vivo que representam o trabalhador. Além das discussões, interações e música, o evento também contou com um almoço no sistema "quem pode, paga, quem não pode, come", servindo o prato Baião de dois, preparado pelos "Cozinheiros da Liberdade". 

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"Cozinheiros da Liberdade" e pessoas se servindo no sistema "quem pode, paga, quem não pode, come"
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Por último, a artista plástica Laura Andreato conduziu uma intervenção artística coletiva, "A árvore da vida". A intervenção foi feita em uma lona, instalada próxima à Banca Livraria dos Jornalistas. Os participantes foram convidados a deixarem suas marcas carimbando suas mãos na lona, dando uma ideia de "folhas", criando assim uma imponente copa, simbolizando o compromisso com a vida e a solidariedade com as vítimas de acidentes de trabalho.

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Artista Laura Andreato pintando o tronco da "Árvore da vida".

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Para Danilo Zelic, estudante de Jornalismo, o evento foi especial. "É a primeira vez que eu vejo a praça super cheia. Por conta dessa articulação entre entidades e organizações, o evento foi grande. Comemorar esse ato do dia 28 lá na praça, que é um espaço público e unindo todas as centrais sindicais para um único propósito, é muito simbólico. O samba deu uma animada. O roteiro de músicas foi super importante porque reuniu sambas ligados ao trabalho e ao trabalhador, importante pensar isso. Fiquei bem feliz de ver o desenrolar do evento", comenta Danilo.

O “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” é uma realização do Instituto Elifas Andreato com apoio de Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, Banca Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog, Canal da Praça, Coletivo Café Sem Pauta, Coletivo Paulo Freire, Colibri & Associados Comunicações, FotosPúblicas.com, Instituto Paulo Freire, Instituto Premier, Instituto Vladimir Herzog, OBORÉ e Câmara Municipal de São Paulo. A Praça Memorial Vladimir Herzog – Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato fica na rua Santo Antônio, 33-139, no bairro de Bela Vista, São Paulo. Para saber mais sobre o evento, assista o vídeo feito por José Mota, do Coletivo Paulo Freire Zona Norte, disponível no Canal da Praça.

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Trabalhadores, organizadores e participantes na "Escadaria da Liberdade", na Praça Vladimir Herzog

 

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O apagamento histórico da memória do povo preto na região
por
Bruna Parrillo
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29/06/2022 - 12h

 

Quando pensamos no bairro da Liberdade a primeira coisa que vem no nosso imaginário são os “suzuranto”, as tradicionais lanternas japonesas que decoram as ruas principais, ou a grande predominância da cor vermelha, “akai” que culturalmente está associada a proteção. Ao caminhar encontramos vários símbolos que traduzem uma cultura, apenas uma.

O que poucas pessoas sabem é que o primeiro bairro a ser habitado por pessoas negras na cidade de São Paulo foi o Bairro da Liberdade, nos séculos XVIII e XIX a região era conhecida como a periferia da capital. Parte do coletivo UNAMCA (União dos Amigos da Capela dos Aflitos), Eliz Alves faz uma reflexão sobre a localização do bairro. “A Liberdade tinha todo o processo de punição dentro dela, o Pelourinho, o Largo da Forca, e o Largo da Pólvora. Quem quer morar do lado da cadeia? Quem quer morar onde pode ir pros ares a qualquer momento? Então a Liberdade era esse lugar. Quem veio morar aqui? Os pobres, os pretos”, comenta.

A história que vem se propagando pela oralidade está ligada à capela dos aflitos ao lado da história de Chaguinhas, traduzindo o verdadeiro significado do nome atribuído para o bairro. No ano de 1821 insurgiu a Revolta Nativista. Os  soldados estavam 5 anos sem receber seu soldo, e, revoltados vão atrás de justiça. Sendo um dos cabeças da rebelião Chaguinhas é julgado e condenado à morte em praça pública.

“Chaguinhas é enforcado três vezes, na terceira tentativa a corda se rompe, ele vai ao chão e se joga a bandeira da misericórdia sobre ele” relata Eliz Alves.“As pessoas que se aglomeraram para assistir gritavam por - Liberdade! Liberdade! Liberdade! Mas o império como estava punindo ele exemplarmente, nega. E acaba sendo executado” complementa.

Hoje no local onde Francisco Chagas foi executado ergueu-se uma cruz que anos depois deu origem a Igreja da Santa Cruz dos Enforcados. A Capela dos Aflitos se transformou em um lugar de homenagem e fé a Chaguinhas. “As pessoas para escrever pedidos ou agradecimentos, colocar na porta onde supostamente foi a cela que ele ficou em pernoite, e bater na porta 3 vezes”.

Apesar desses dois lugares serem grandes símbolos da história do povo preto no bairro da liberdade, infelizmente se limitam a eles. Sendo sufocados pouco a pouco pela cultura asiática, esses símbolos tentam sobreviver para manter parte da história viva e lembrada.  “Depois que você toma conhecimento de tudo que a Liberdade viveu de 1800 até agora, você vê a importância desse pedaço de história, é um marco para a população, dos povos originários e para todos nós paulistas”.

“É uma história que precisa ser apagada? Esquecida? Não, ela tem que ser valorizada, é a história do nosso povo, da nossa gente humilde. Por isso que a gente tem um amor tão grande nesse patrimônio. Por ser uma capela de cemitério, todo mundo se torna igual, né?” aclama Elis. 

 

 

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No dia 19 de junho ocorreu a 26 edição da Parada LGBT+
por
Cecilia Mayrink, Giuliana Nardi, Juliana Mello e Diogo Moreno
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21/06/2022 - 12h

A Avenida Paulista é um dos espaços mais importantes de São Paulo por ser palco de grandes eventos e manifestações políticas e culturais. Constantemente as comunidades e coalizões políticas se reúnem no local e levantam suas vozes em busca daquilo que reivindicam. No último domingo (19/06/2022) aconteceu a Parada do Orgulho LGBT+ 2022, que estava suspensa de forma presencial desde 2020 por conta da pandemia da Covid-19. Essa foi a 26 edição do evento e bateu recorde de público, contando com 4 milhões de pessoas e tornando-se a maior Parada LGBT+ do mundo. A Avenida Paulista ficou completamente ocupada pelos participantes. 

Para conhecer mais sobre a Parada LGBT+ é sobre os espaços culturais da Avenida Paulista, clique aqui para assistir o vídeo reportagem.

 

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Acordo diplomático entre cidades traz benefícios sociais, culturais e econômicos
por
João Curi
Matheus Marcolino
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07/06/2022 - 12h

Em março de 1962, a cidade de São Paulo declarou Milão como sua cidade-gêmea (ou cidade-irmã). Foi a primeira de uma lista que, hoje, já acumula 32 cidades. Na época, o prefeito da capital lombarda, Gino Cassini, inaugurou o Largo São Paulo; e, durante visita à capital paulista em outubro do mesmo ano, presenciou a inauguração da Praça Cidade de Milão, ao lado do prefeito Francisco Prestes Maia.

 

Praça Cidade de Milão
Localizada no bairro do Ibirapuera, a Praça Cidade de Milão é quase uma "extensão" do famoso parque/Foto: Leon Rodrigues/SECOM Prefeitura de São Paulo


Este ano, São Paulo comemora 60 anos de irmanamento com Milão, que já comemorou o marco no ano passado. Apesar de serem “gêmeas”, a data de declaração de ambas não coincide, já que a cidade meneghina anunciou a geminação com a “Terra da Garoa” em 1961. Isso se explica pelos processos políticos e burocráticos que, naquele período, eram mais lentos e acabaram atrasando o anúncio da capital paulista.

Esse processo de geminação nada mais é do que um acordo de cooperação bilateral, que ocorre quando duas cidades decidem estreitar laços políticos, culturais e econômicos. Ainda que não gere obrigatoriedades, o irmanamento contribui com a construção de amizade entre as cidades, sendo fundamental nas relações diplomáticas. “Os processos de geminação podem dar a impulsão para que as cidades estabeleçam projetos e programas de cooperação mais aprofundados, em diferentes campos, o que pode contribuir para a resolução de problemas comuns entre elas”, explica Lucas Bispo dos Santos, mestre em Relações Internacionais pela Unesp e consultor político.

Para que esse acordo aconteça, é necessária a manifestação de interesse de uma das cidades que, ao entrarem em contato, estabelecem um diálogo entre as autoridades políticas, formatam o processo de geminação e o concluem com a assinatura. “É fundamental também que o acordo de irmanamento seja recíproco”, alerta o consultor. “Não basta que uma das duas cidades se declare irmã de outra, é importante que haja o entendimento entre as duas de que o acordo será frutífero para elas”.

Nesse quesito, é comum que cidades que compartilham semelhanças, principalmente no que tange aos aspectos sociais e econômicos, busquem o acordo de geminação. Até mesmo laços culturais ou históricos, tendo como exemplo os fluxos imigratórios, podem ser fatores que contribuam para esse processo. “Os interesses podem partir tanto da esfera federal, como municipal. Porém, é mais comum que parta diretamente da esfera municipal, no caso do Brasil”, aponta o especialista.

Além de sua relevância no cenário geopolítico, o princípio de irmanamento de cidades também foi importante durante o período “mais agudo” da pandemia da Covid-19. “Durante aquele momento, diversas cidades-irmãs de São Paulo, como Seul, capital da Coreia do Sul, enviaram materiais de proteção individual, como máscaras, que foram distribuídos para as equipes de saúde do município”, relata o internacionalista.

Apesar de tudo isso, o conceito de geminação entre cidades não é muito difundido, inclusive dentro das Relações Internacionais. Para Kimberly Digolin, professora de Relações Internacionais na Universidade Paulista (UNIP) e pesquisadora do Grupo de Estudos de Defesa e Segurança Internacional (GEDES), a abordagem pouco expressiva desse tema decorre de uma questão histórica, que vem do medo de novas guerras. “Durante muito tempo, as análises sobre relações internacionais centraram-se em torno dos comportamentos e interesses dos Estados, uma vez que eles eram entendidos como os atores de maior relevância no engajamento de novas guerras”, conta. “Foi apenas com o fim da Guerra Fria que a área de Relações Internacionais passou a oferecer maior espaço para análises que extrapolassem a temática da guerra, assim como passou a oferecer mais atenção aos demais atores para além dos Estados – como ONG’s, governos municipais e secretarias estaduais”.

Segundo dados da Prefeitura de São Paulo, a metrópole reconhece, até o momento, 36 cidades-irmãs. O acordo mais recente foi firmado com Belmonte, de Portugal, em 2020. A lista inclui seis capitais sul-americanas, sendo Montevidéu (Uruguai) e Lima (Peru) as mais recentes destas; Luanda (Angola), da África; Havana (Cuba), do Caribe; nove cidades asiáticas, dentre elas, cinco capitais; sete cidades portuguesas; entre outras.

Em razão de sua importância política e econômica no Brasil e no mundo, sendo destino comum de fluxos econômicos, culturais e populacionais, São Paulo é reconhecida como uma cidade global. Lucas dos Santos, também ex-assessor da Secretaria de Relações Internacionais da Prefeitura de São Paulo, ainda reforça que a cidade deve continuar se posicionando em temas importantes, como o desenvolvimento urbano sustentável, a preservação da democracia e o incentivo às manifestações culturais. “É a partir do aprofundamento de diálogo com outras cidades globais que São Paulo pode ter conhecimento de políticas públicas que podem ser aplicadas aqui, levando em consideração a nossa realidade”, aponta. “Da mesma maneira, também possui políticas públicas que podem ser apresentadas, e é extremamente válido compartilharmos elas com o mundo”.
 

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Em São Paulo, o número de pessoas sem moradia aumentou entre 2020 e 2022, dado que explicita algumas das contradições da cidade
por
Laura Lima
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26/05/2022 - 12h

Por Laura Lima

 

No Brasil, em 2021, o número de lançamentos de apartamentos "na planta" mais do que dobrou comparado a 2020 e cresceu 49% em comparação a 2019, de acordo com o Sindicato da Habitação na Internet (SECOVI-SP). Estima-se que 85% da população brasileira viva em cidades, São Paulo é a maior delas com mais de 12 milhões de habitantes, uma população comparável a países como Cuba, Grécia ou Portugal. 

Ao pensar nos maiores problemas da atual cidade, é impossível não se deparar com questões relacionadas às condições e à falta de moradia. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, em 2019, São Paulo tinha cerca de 474 mil famílias em moradias precárias. Isso ocorre porque temos prédios muito velhos e não construímos edifícios novos? Não. Atualmente, a construção civil no Brasil tem relevância considerável na economia, emprega 10% de todos os trabalhadores, representa cerca de 7% do PIB do país e gera 9% de todos os tributos nacionais, segundo a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias - ABRAINC. 

A falta de moradia seria então, consequência da falta de locais disponíveis para se morar no centro da cidade? também não. Os últimos dados produzidos pelo IBGE são de 2010 mas, confirmam a existência de mais de 30 mil imóveis vazios no centro de São Paulo. Como explicar tantas pessoas sem casas e tantas casas sem pessoas?

A primeira vista, a crise econômica agravada pela pandemia e pelo governo de Jair Bolsonaro pode ser um bom indício: de acordo com o IBGE, em 2021 a soma de brasileiros desempregados com os desalentados (aqueles que já nem buscam trabalho), equivale a 18,6 milhões ou 12,6% da população brasileira. 

Em São Paulo, o número de pessoas que moram nas ruas praticamente dobrou em relação a 2015, aumentando 31% em relação a 2019 e totalizando, em 2021, 31.884 pessoas sem teto, de acordo com o censo de População de Rua, um levantamento feito pela prefeitura de SP e obtido com exclusividade pela Folha. Mas quem são essas pessoas? 

O levantamento da prefeitura informa que 42,8% daqueles que não tem moradia também estão sem trabalho, 33,9% vivem de bicos, 3,9% têm empregos sem registro e apenas 2,2% trabalham com carteira assinada. De acordo com o censo, o perfil daqueles que não tem um lar mudou, o número de famílias sem moradia praticamente dobrou e o número de barracas improvisadas pelas ruas da cidade aumentou 230% entre 2019 e 2021. 

70% das pessoas sem moradia são negras. 40,94% vem de outros estados, sendo Bahia, Minas Gerais e Pernambuco os principais. Não se sabe ao certo quantos nordestinos habitam São Paulo atualmente, mas o maior fluxo migratório ocorreu entre a década de 1930 a 1970, durante o "boom" da industrialização, principalmente na região sudeste do país. 

São Paulo passou por um intenso processo de urbanização onde a sua geografia foi ignorada: rios foram canalizados e as áreas de várzea, inundadas apenas durante certo período do ano, foram ocupadas e transformadas. Francisco Prestes Maia e Ulhôa Cintra criaram um projeto de desenvolvimento urbano através de um modelo radial das avenidas inspiradas em modelos europeus, mas ignoraram as necessidades de deslocamento impostas por esse modelo. 

Esquema teórico do Plano de Avenidas de São Paulo 

 

Em 1938, Prestes Maia foi eleito prefeito e pode então concretizar suas ideias. São Paulo passou a ser conhecida como a “Chicago brasileira”, tendo o carro como peça central da mobilidade e símbolo da modernização. 

As construções de rodovias e grandes avenidas, como as marginais Pinheiros e Tietê, foram feitas nas áreas de vale, lugares úmidos e alagadiços que garantiam um baixo custo de desapropriação de imóveis e prometiam a valorização de seu entorno. 

Marginal Tietê (2016) | Créditos: Neli de Mello Théry  


O plano de Prestes Maia estruturou o modo de expansão da cidade. A execução dessas modernizações atraiu um grande número de migrantes (em sua maioria nordestinos) para trabalhar no setor da construção civil e de modo geral, buscar melhores oportunidades de vida. 

Entre 1950 e 1970 mais de 39 milhões de pessoas migraram para São Paulo, que a essa altura, já dividia-se entre cidade central e cidade periférica, com uma exclusão geográfica e simbólica daqueles que não podem pagar para morar no centro e daqueles que vivem no centro mas não têm onde morar. 

Essa segregação sistêmica continua a corroborar com  aumento das desigualdades, na medida que interfere diretamente na expectativa de vida, saúde, bem-estar e empregabilidade. Segundo o Ipea, em 2020, as chances de um brasileiro da parcela dos 10% mais ricos na capital paulista morar perto do emprego superam em mais de nove vezes as possibilidades entre os 40% mais pobres. 

De acordo com o mapa da desigualdade (2017), um morador da região Jardins, próximo ao Shopping Iguatemi vivia em média 81,58 anos, expectativa de vida comparável à de países de primeiro mundo como a Áustria. Já um morador do bairro de Tiradentes, a 37 km de distância, tem uma expectativa de vida de 58,4 anos, morrendo, por exemplo,  em média 1,4 anos antes de moradores do Congo, na África. 

A taxa de mortalidade infantil em Arthur Alvim, bairro de classe média baixa na Zona Leste de São Paulo, atinge 21,34 a cada mil bebês. Já no bairro de alto padrão Socorro, na Zona Sul da cidade, esse número despenca para 2,54, algo semelhante aos registros na Noruega, de acordo com as nações unidas.

Pensando nessas questões, o Jornalista César Vieira, do Projeto BR Cidades - espaço dedicado para abordar temas referentes à agenda urbana e reunir pessoas com o intuito de construir coletivamente cidades mais justas, solidárias economicamente, dinâmicas e ambientalmente sustentáveis - nos concedeu uma entrevista exclusiva, onde afirmou que: 

“A lógica de mercado aplicada à moradia é praticamente um crime. A moradia é um direito social, está prevista na constituição. Um debate comum é 'se existe direito absoluto?’, mas se o direito à moradia é um direito relativo, quando as pessoas deixam de ter direito à moradia? Não existe nenhum momento que isso aconteça na legislação. 

A legislação prevê que as pessoas têm direito à moradia, elas podem perder o direito a um determinado imóvel, mas elas ainda têm o direito de morar em algum lugar… mas as pessoas moram na rua.

Boa parte mora na rua, mora em lugares que não devia morar, como na beira de rios e córregos, em morros, em lugares que se chover vai desmoronar. O que se vê, é que a lógica de mercado está prevalecendo sobre o direito que está previsto na constituição. 

 

Mercado Imobiliário

 

A lógica de mercado é uma lógica de potencializar o lucro. Isso, na questão da moradia, tem até um 'quê' de crueldade. O transporte, as casas construídas, os prédios e imóveis construídos pela iniciativa privada naturalmente excluem as pessoas mais pobres que não têm condições de pagar”. 

Imóveis na capital paulista não custam caro porque são exclusivos. São Paulo, só entre janeiro e agosto de 2021 lançou 41.797 unidades residenciais (SECOVI-SP), a maioria pelo programa Casa Verde e Amarela. Esse número, somado aos 20.238 apartamentos lançados em 2020 e aos mais de 290 mil imóveis desocupados em áreas centrais da cidade, já seria capaz de zerar o número de famílias paulistanas que moram nas ruas, e realocar mais de dois terços das famílias que moram em condições precárias. Cesar reitera que a culpa é de uma sociedade que não dá a mínima condição para que essas pessoas possam morar. "Assim, voltamos ao mesmo problema: casas vazias no centro e pessoas indo morar na beira do rio. Isso gera consequências ambientais que, na visão da população  que não passa por isso, na visão da classe média que tem onde morar, ‘a culpa dos rios estarem poluídos desse jeito é das pessoas que moram ali’, e na verdade não é. Elas não estão ali porque elas escolheram, elas foram empurradas para esses locais", explica. 

A mesma coisa vale para os barrancos e para as encostas. As pessoas não moram lá porque elas querem, elas estão lá porque precisam. Então, a consequência direta da especulação imobiliária desenfreada, é que ela empurra as pessoas para condições de vida que não são saudáveis nem para elas e nem para o meio ambiente.  

De fato, uma das características do nosso modelo de construção e habitação das cidades urbanas é o seu profundo impacto ambiental, tanto no uso de matérias primas para construção que consome - no Brasil, cerca de 75% dos recursos naturais extraídos da terra, de acordo com o CBCS, Conselho Brasileiro de Construção Sustentável (2007)- quanto na produção de resíduos, sendo responsável por cerca de 54% dos recursos naturais, de acordo com a Ellen Macarthur Foundation. No Brasil, segundo o Instituto Socioambiental Planeta Sustentável, o setor da construção civil produz cerca de 80 milhões de resíduos por ano (2010).

Os dados sobre os problemas causados no meio ambiente e o impacto da construção das cidades na vida das pessoas, explicitam que o problema da moradia em São Paulo não é a falta de locais para morar, mas parte de um projeto de estado que negligencia a demanda por moradia e terceiriza a função da configuração da cidade ao setor privado. 

A consequência dessa privatização, em um País periférico como o Brasil, traduz-se na  progressiva ampliação geográfica e ideológica da desigualdade.  A crise habitacional, apesar de agravada pela pandemia, é anterior aos seus gestores, pois está enraizada na estrutura social e se desenvolve em conjunto com a história da escravidão, da industrialização e da globalização.

A construção da cidade pressupõe uma ideologia. É preciso contextualizá-la, questionar  os interesses políticos e as vantagens econômicas por trás das mudanças, para compreender os motivos de suas transformações. É contraditório que a capital paulista tenha sido construída por trabalhadores braçais,  que, em sua maioria, não têm acesso a ela e, se tem, esse acesso muitas vezes se limita em consumo e trabalho.

É preciso pensar no acesso à cultura, à educação, à saúde e à qualidade de vida para todos. O que parece, é que o modelo de cidade atual, literalmente exclui aquilo que não é esteticamente agradável, marginalizando corpos, sobretudo corpos negros, sistematicamente ampliando as desigualdades. Esse modelo não é apenas ecologicamente inviável a médio prazo, é desumano. Existe uma urgência em repensar a forma de ocupação dos espaços urbanos.

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A situação nos ônibus e metrôs da capital paulista ainda preocupa passageiros por conta do Coronavírus
por
Lucas de Paula Allabi
Artur Santana dos Santos
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05/05/2022 - 12h

“Caiu 40% da lotação de antes da pandemia pra cá”, afirmou Adriel Brandão, 31, cobrador de ônibus. Os que pegam transporte público todo dia, entretanto, podem discordar.

É bastante evidente a lotação de ônibus e trens do metrô em horário de pico. Victoria Fortes, de 27 anos e bancária, disse com veemência dentro de uma estação do metrô: "Preocupante a lotação, o transporte público não suporta a população atual".

Essa incongruência entre os dados e opiniões tem explicação. Segundo a Secretaria de Mobilidade e Trânsito (SMT) da prefeitura de São Paulo, circulam atualmente 11.312 ônibus pelas ruas da cidade, todos os dias.

O número é grande, mas menor que o ideal, já que representa 88,28% da frota total. Portanto, apesar de ter um número reduzido de passageiros diários, houve também uma redução de unidades de transporte, o que dá continuidade à lotação.

Brandão se lembra do período pré-pandemia: “Tinha carro que, em meio período, levava 1000 pessoas.” Ele deu o ônibus cachoeirinha como exemplo, pois ele levava 1000 passageiros de manhã e mais outros 1000 a noite.

Para ele, falta a volta de escolas e universidades para as aulas presenciais, pois muitos dos que usam o transporte público são os estudantes.

Adriano Armelim, 42, cobrador de um ônibus intermunicipal, tem opinião divergente. Ele afirmou que as coisas continuam normais e com a mesma lotação, já que sua unidade passa por Guarulhos, perto da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), onde as aulas são presenciais.

É perceptível a variação referente a essa questão, mas os contrastes opinativos não se resumem a apenas estes. A pandemia afetou também as questões de segurança no transporte, principalmente no que tange a saúde, como o uso de máscaras e o risco de contaminação por covid-19.

Fortes reclamou: "A gente não vê fiscalização do uso de máscaras, tem muito marketing, mas não há fiscalização". Em contraponto, a aluna de 17 anos,

Carolina Hossu, se reconforta com a obrigatoriedade, que ela vê como algo que alivia os riscos.

Brandão também se queixou dos usuários do seu ônibus. Ele disse que as pessoas não usam mais álcool gel. “Distanciamento nem existe mais. Esse é meu medo”

No metrô da capital paulistana a situação parece ser diferente. Kauani Santos, 23, funcionária da linha amarela, declarou que existe bastante segurança nas estações e nos vagões, mas na linha que ela trabalha esse trabalho é mais rigoroso.

Flávia Santos, 48, tem opinião similar a de Kauani. Na sua visão a linha amarela tem mais segurança e menos lotação. Ela ficou dois anos sem usar transporte público por conta do home office.

Ainda assim, não é possível dizer que todos pensam da mesma maneira. Aureli Alves, 52, historiadora, contou com pesar: "Me sinto insegura ainda, apesar de menos lotado, ainda tem bastante gente. Gente que entra comendo, que tira a máscara"

“Agora o povo relaxou, tem gente que não quer nem usar [máscara] no ônibus, que é obrigatório” continua Brandão logo após ter pedido para uma passageira colocar a máscara sobre o nariz.

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