Inaugurada em 1963 com outro nome, a Galeria do Rock começou a se diferenciar de outras galerias comerciais a partir da abertura da loja punk Wop Bop. Seu fundador era o vocalista da banda de rock Olho Seco, Fabio Sampaio. A partir da abertura da loja em 76, o centro comercial passou a ser voltado cada vez mais para o comércio musical. Lojas de discos e estamparias ganharam espaço entre os corredores que passaram a ser ocupados quase exclusivamente por rockeiros, emos e amantes da música. Das 450 lojas do local, mais da metade eram exclusivamente direcionadas para esse público. Muito mais do que um centro comercial, a galeria era um local turístico e um antro cultural da cidade. Mas a realidade de 2023 é outra. Os corredores por onde mais de 5 mil pessoas circulavam diariamente estão vazios. Mais de 30 lojas fecharam as portas. O futuro de outras tantas é incerto. Luiz Calanca, o proprietário da loja de discos Baratos Afins relembra seus últimos anos na galeria e lamenta o abandono do local. "Isso aqui era outro mundo, cheio de gente de todo tipo. É lamentável".







Por Lucas de Paula Allabi
O bairro de Pinheiros sofreu muitas modificações na última década. Construções são destruídas todos os dias e prédios novos são erguidos em seus terrenos. O "projeto Faria Lima" foi o grande responsável por essas mudanças, apesar da sua crítica pelos urbanistas e especialistas em cidades. Venha conferir o vídeo para conhecer mais a história do Largo da Batata e as consequências da sua reestruturação para seus moradores.
Link: https://youtu.be/HG1ilHt0IuU

O direito de ir e vir, assim como diversos outros direitos assegurados por lei ao cidadão, é, muitas vezes, negado. Os grandes centros urbanos brasileiros costumam ser repletos de desigualdade e segregação socioespacial, fazendo com que aqueles com menos condições financeiras vivam longe de seus centros – onde costumam ficar importantes áreas de lazer, cultura, educação e trabalho – e tenham que percorrer maiores distâncias para chegar até ele. Além disso, essas cidades têm a tendência de direcionar parte significativa de seus espaços aos carros, que acabam virando um de seus principais meios de locomoção, levando a menos investimentos em serviços públicos de transporte e mais investimentos em rodovias, por exemplo, excluindo, novamente, grande parte de sua população.
Diante das dificuldades enfrentadas para se ter uma mobilidade democrática, possível e sustentável nos centros urbanos, surge, no ano de 2009, a CicloCidade: Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo. Seu principal objetivo é ampliar o uso da bicicleta na cidade e, também, “torná-la mais humana, equitativa do ponto de vista de raça e gênero”, explica Yuri Vasquez, associado da CicloCidade. Segundo ele, são diversos os benefícios e importâncias de se incentivar o uso desse transporte nas cidades. Primeiramente, do ponto de vista climático, pois como sabemos, a bicicleta é um dos veículos que mais potencializa a força humana e que faz com que as pessoas emitam menos gases do efeito estufa, que contribuem para a crise climática. Também é benéfica para o uso equitativo do espaço urbano, humanizando as relações, pois com ela há um contato mais próximo entre uma pessoa e outra.
Mesmo com essas vantagens, o uso de bicicletas ainda parece ser uma realidade distante para maioria da população da cidade de São Paulo. Além desse modo de locomoção não estar ao alcance de todos, aqueles que possuem automóveis não consideram abandonar seus veículos ao percorrer trajetos curtos, seja a pé ou de bicicleta. Yuri explica que o certo seria fazer uma troca dessas viagens curtas para que as pessoas usassem os automóveis só quando for realmente necessário, e também usar mais o transporte público: “São viagens de 3km a 5km que correspondem a quase 80% das viagens diárias, mas muitas pessoas ainda insistem em fazer essas viagens de automóvel pelo simples conforto, por não conseguirem pensar em alternativas individuais”, afirma.
Hoje em dia, não é possível mensurar ao certo, qual o uso diário real das bicicletas na cidade de São Paulo. A última pesquisa divulgada passou por período de pandemia, causando uma deficiência incapaz de indicar o número real. Porém, o associado revela que o instituto já está desenvolvendo uma pesquisa que seja capaz de mostrar indicadores reais: “A gente está em um projeto agora em conjunto com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a Secretaria de Trânsito e Transporte (SMT), junto com a Metrópole Um para Um, projeto capitaneado pela CicloCidade com financiamento conseguido pela própria Associação com a maior série histórica de contagem. São 218 contagens para tentar mensurar quantas viagens/dia a gente tem na cidade. Ao final desse projeto a gente vai ter real noção da proporção.”
Além da importância do ciclismo para a cidade de São Paulo, Vasquez também explica que o uso de carros elétricos não seria o suficiente para solucionar os problemas que a cidade enfrenta, pois deve-se levar em conta os inúmeros acidentes decorrentes do trânsito: somente em 2021, 823 pessoas morreram nas ruas e avenidas paulistanas, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “Só eletrificar os carros e não acalmar o trânsito, a vida e o convívio das pessoas a partir dele, mantém um dos maiores problemas que é a morte no trânsito, da qual sabemos que é um dos fatores que mais mata no Brasil”, afirma.
Para Yuri, o uso cotidiano das bicicletas como principal meio de transporte só será possível se houver uma mudança na mentalidade da população. A cultura da construção da cidade, que desde o início do século XX, se deu voltada para a especulação imobiliária e o uso do automóvel, construiu um pensamento difícil de lidar. “A mentalidade das pessoas que também acreditam que andar de bicicleta na Europa é super especial e quando retornam para São Paulo voltam para a "síndrome de vira-lata” de que aqui não é possível(...) é muito difícil lidar com pessoas que acreditam que o automóvel é o mandatário do espaço urbano, que deve ocupar todos os espaços que deveriam ser comuns”, explica.
Além disso, o representante da CicloCidade relata que os tomadores de decisão, que representam a população na esfera política, continuam a insistir em um projeto privatista do espaço urbano, que contempla apenas o automóvel como meio de transporte. “A gente sabe que a expansão do metrô é muito lenta, a expansão do transporte público é lenta, a expansão da caminhabilidade e ciclomobilidade também é muito lenta(...)A gente vê uma cidade que só cresce pra cima, verticalmente, prédios cada vez maiores e cada casa com mais de um carro.”, relata.
Enquanto medidas que podem ser adotadas pelo público em geral a fim de buscar uma redução de danos, Vasquez sugere: “Eu acho que o transporte público é sim o grande salvador da realidade de uma cidade tomada por carros e que enfrenta todos os problemas que esse tipo de veículo traz. De forma coletiva, eu acho que se unir em grupos, trabalhar coletivamente para que a cidade se torne uma cidade mais agradável: com trabalho coletivo, com trabalho ligado à preservação do meio ambiente, de preservação das praças, de manutenção dos parques, de rodas de conversa, de encontros que discutam alternativas para que essa cidade possa se desenvolver de uma maneira mais sustentável”.
Para saber e entender mais, assista o vídeo no canal do CicloCidade: https://www.youtube.com/watch?v=OkrDeDkwCCY

No último dia primeiro, a AGEMT recebeu o geógrafo e diretor do Instituto Cidadeapé, Oliver Cauã na PUC-SP. Em entrevista, Oliver explicou um pouco sobre o funcionamento do instituto e os desafios que encontra ao abordar o tema de mobilidade urbana, principalmente em uma grande metrópole como São Paulo, repleta de interesses econômicos e desigualdades em todos os aspectos.
Criado em 2015, durante a gestão Fernando Haddad, o Cidadeapé é um instituto que visa promover uma mobilidade urbana mais acessível e democrática a todos. Atuando como um mediador entre a sociedade civil e a gestão governamental local, tem papel complementar de cobrar o Estado a tomar atitude em relação à questão da mobilidade urbana, ouvindo e levantando pautas trazidas pelos cidadãos, ao mesmo tempo em que os incentiva para também reivindicar por melhorias para aqueles que desejam se locomover a pé pela cidade.
Durante a entrevista, o diretor expõe os desafios encontrados pelo instituto ao tentar desenvolver seu trabalho, segundo ele, um dos principais desafios é o diálogo com o atual governo à frente da Prefeitura do Estado de São Paulo, que banaliza o tema e inviabiliza o diálogo, “Parece que estamos na década de 80, com Paulo Maluf”, afirma.
“O caminhar é o modal mais utilizado no Brasil”. Poucos sabem desse fato, que não é divulgado a conhecimento público, pois apenas sabendo o quão essencial é o caminhar no país é que se desperta o olhar para reivindicar ações de melhoria das condições das calçadas e ruas por parte da prefeitura. Segundo o geógrafo, o caminhar se torna amplamente utilizado pois é usado para realizar pequenos deslocamentos que não são contabilizados.
Importantes iniciativas trazidas por ele no bate papo são, por exemplo, o alargamento das calçadas e a redução da velocidade dos carros, afinal o excesso de velocidade dos automóveis está entre os principais fatores de risco no trânsito. Oliver ainda destaca a importância de nós, enquanto cidadãos, cumprirmos o nosso papel e cobrarmos os órgãos responsáveis para que medidas efetivas sejam tomadas. Para fazer a nossa parte, podemos contribuir com denúncias na central 156, que também funciona pelos canais telefônicos ou nos associarmos ás ONGS e Institutos de Mobilidade Urbana e participar dos diálogos com a prefeitura, além de participar das manifestações. Com o intuito de participar, as informações sobre as reuniões nas redes sociais e no site do Cidadeapé.
Para conferir a entrevista completa em vídeo, acesse o link: https://youtu.be/ig_EjFsP6Pk. Recomendamos que a qualidade de reprodução seja alterada para HD, para que tenha uma melhor experiência.
Por Beatriz Gabriele
Com o fim do colégio, as mudanças entram com tudo na vida dos jovens. A hora de fazer escolhas importantes chega e é necessário lindar com um turbilhão de emoções. Escolha de curso, vestibulares, sair de casa e lidar com a saudade são algumas das principais sensações. Lorena, Júlia e Mariana passaram por todas essas questões. As três viveram a mesma experiência de passar na faculdade, mas vivências muito diferentes na hora de mudar.
Lorena Martinez, que cursa Psicologia na PUC Campinas, conta que como passou na faculdade no início da pandemia, teve bastante tempo para se planejar e como ingressou no período de quarentena começou as aulas por EAD e teve o tempo de um semestre inteiro para se planejar com calma.
Já Mariana Okada, que se mudou de São Paulo para Limeira para cursar Ciências do Esporte teve uma experiência bem diferente. Quando foi aprovada, as aulas já tinham iniciado, então precisou se mudar com urgência. O lugar que encontrou foi uma República e começou a morar com várias meninas, mas mesmo assim, ela explica que não se adaptou e saiu,. Aos poucos, procurado casas e kitnets para morar, sempre levando em conta o conta o valor já que, como tudo foi muito rápido, ela não se planejou para morar com ninguém nesse semestre “Só no ano que vem”
A estudante de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo Júlia Catelli, se mudou para Bauru em poucas semanas. Ela conta que foi de São Paulo para Bauru e neste tempo teve que buscar o melhor bairro e entender a dinâmica da cidade. Em São Paulo morava com os pais e com a irmã. Já hoje, mora com uma amiga que veio junto. Júlia conta das dificuldades práticas de se mudar para uma cidade mais de 370 quilómetros de distância. Uma dessas dificuldades foi trazer todas as suas coisas e organizar sua casa de maneira que conseguisse compreender a dinâmica do novo espaço.
Sobre o processo de adaptação, elas contam que continuam a se adaptar. Júlia, que se mudou em abril de 2022, diz que ainda está aprendendo a lidar com a cidade que é muito diferente de São Paulo. Para ela, lidar com o tempo é um desafio. Compreender seus compromissos, responsabilidades, separar e dividir o tempo entre limpeza e vida social é uma dificuldade. Essa transição de cabeça mesmo, de ter que ligar uma chavinha de ‘opa, aqui você tem que se virar sozinha”.
Para a Lorena a adaptação é constante, ela conta que desenvolveu sistemas para cuidar da casa, estudar e cozinhar. Ela conta que busca entender o sistema que funciona melhor para ela, o que faz sentido e o que não faz. Essa busca, segundo ela, a mantem no processo de adaptação. ”Então eu acho que eu estou continuamente me adaptando”.
Mariana pontua “apesar de ter sido muito atropelado, as coisas estão começando a se construir”.
Sobre a rotina, as três se mostram focadas para tentar administrar o tempo e a vida social. Como as três cidades são universitárias o os eventos não param de acontecer, sendo assim, fica mais difícil organizar a vida.
Mariana conta que além das matérias, ela começou agora uma iniciação científica e está na atlética da universidade. “São muitos compromissos, muitas responsabilidades”. A estudante conta que faz um cronograma para conseguir se organizar e ter uma base. “Eu tento limpar pelo menos a minha casa no final de semana porque a minha casa não é grande (...) então dá pra arrumar todo final de semana, dia de semana quando dá tempo”
Júlia faz o mesmo esquema de cronograma e vai marcando conforme completa as atividades. Como Bauru é uma cidade universitária, ela conta que é difícil de ser organizar com festas e compromissos sociais durante as semana.
Sobre a saudade, talvez a maior dificuldade de todo esse processo, Júlia pontua que tenta abafar a saudade mas ela “coexiste com a gente”. Apesar de ser cansativo, ela conta que pode ir par São Paulo quando quiser, mas lembra: “no dia a dia é uma coisa constante e acho que o jeito de aprender a lidar é viver com ela e também ligando, ter esse contato online”.
Quem também conta desse contato virtual com a família é Lorena. Apesar do contato existir, ela conta que sente mais falta de quem fala menos “eu sinto mais falta de ter um contato próximo com minhas avós, meu irmão, com pessoas que eu não costumo falar muito por mensagem. Eu acabo sentindo essa distância”Diferente de Júlia, Lorena sente mais saudades em momentos específicos: “Eu sinto que no cotidiano, como eu tenho muitas coisas para fazer, eu acabo não dando muita atenção para a saudade (...) mas ela se faz muito presente quando eu estou em São Paulo e vou voltar pra cá, no caminho de volta eu fico com o coração apertadinho, ou quando meus pais vem me visitar e a gente faz alguma coisa por aqui, são momentos que aperta o peito, assim de saudade”.
Mariana sente mais saudades à noite quando está sozinha “tem dias de noite que eu me pego pensando no que que está acontecendo em casa, saudade do meu irmão, das nossas conversas à noite, de dormir no mesmo quarto mesmo porque antes eu tinha companhia toda a hora e agora eu estou sozinha. Acho que é uma questão que você vai acostumando”. Mariana também pensa que só talvez no último ano da faculdade entenda tudo o que passou. “A cada momento é uma coisa nova que eu descubro ou uma coisa nova que acontece”.
Nos três casos, a maneira que as jovens encontraram em comum para lidar com a saudade é visitar quando dá e ligar quando sente falta. Elas mostram que, existem dificuldades, mas não é preciso desistir dos sonhos e dos objetivos por conta desses obstáculos.