A cultura popular jamaicana de sistemas de som comove e inspira transformações no estilo de vida dos brasileiros
por
Bianca Abreu
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01/10/2024 - 12h

Por Bianca Abreu

Ao ar livre ou em um espaço fechado, caixas e auto-falantes são empilhadas umas sobre as outras formando grandes estruturas - por vezes tão altas que é preciso erguer a cabeça rumo ao céu para acompanhar seu tamanho. A elas se unem o toca-discos, vinis e amplificadores. Com a missão de manter esse grupo em harmonia chega o selecta, comandante desse conjunto que, desde seu surgimento na Jamaica na década de 40, foi nomeado Sound System. De lá pra cá, esse cenário já se repetiu incontáveis vezes e, faça chuva ou faça sol, esse movimento segue firme em seu objetivo coletivo de unir, informar e empoderar o povo negro e periférico - seja ele jamaicano ou brasileiro.

Foi uma espontânea sequência de oitos de maio na vida de um homem chamado Hadley Jones a responsável por tecer o surgimento desse que é um dos movimentos culturais mais relevantes do século XX. Em 1943, ele foi convocado para a Força Aérea da Inglaterra por conta da Segunda Guerra Mundial. Lá foi treinado como engenheiro de radar e enviado para a guerra na Europa um ano depois. Nessa mesma data, em 1945, o conflito foi dado como encerrado e, em 1946, Jones embarcou em Glasgow, na Escócia, para atravessar o Oceano Atlântico e retornar à sua terra natal.

 

Hadley Jones.
Hadley Jones. Foto: Acervo Hadley Jones / RedBull Music Academy / reprodução.

Em sua volta pra casa, ele trouxe na bagagem a habilidade de desenvolver circuitos elétricos e uma rede de contatos para a importação de discos de vinil. Em 1946, fascinado pelo rádio e sua capacidade de transmissão, o jamaicano - que também era músico - abriu uma loja de consertos do aparelho e aplicou ali seus novos conhecimentos adquiridos na Força Aérea. Confiando em seus novos saberes, Hadley Jones projetou, em 1947, seu primeiro amplificador. Em seguida, montou a loja Bop City e passou a comercializar vinis, tendo consigo uma coleção distinta de toda a ilha. Para valorizar essa coleção musical, trabalhou no desenvolvimento de um outro amplificador - dessa vez, de alta potência - e investiu em alto falantes poderosos. Seu equipamento realçava as frequências baixas, médias e altas como entidades separadas e permitia ao operador remixá-las. Seu principal objetivo era anunciar seus discos promovendo uma experiência de proximidade entre o público e a música.

Em certa ocasião, para promoção de um baile, o dono de uma loja de ferragens chamado Tom Wong encomendou à Hadley Jones um equipamento sonoro como o dele e o nomeou com o que, dali em diante, seria a nomenclatura substancial daquele conjunto: Sistema de Som. Assim, outros pedidos surgiram e o músico-engenheiro se firmou como o pioneiro inventivo da cultura Sound System jamaicana.

 

Pelo ar ou pelo mar, as ondas promoveram o intercâmbio cultural entre Brasil e Jamaica

O Mapa Sound System Brasil, primeira publicação nacional de mapeamento dos sistemas de som no país, explica que a ilha de São Luís do Maranhão foi a primeira parada em solo brasileiro que o reggae desembarcou. Na década de 70, o trajeto musical de uma ilha a outra foi realizado por meio das ondas de rádio, que superaram as marítimas e levaram as mensagens que protestam por justiça social aos ouvintes maranhenses. A conquista foi tamanha que, hoje, a cidade é conhecida como a Capital do Reggae.

Daniella Pimenta, integrante do coletivo Feminine-HiFi, seletora, produtora cultural e idealizadora do levantamento é uma das brasileiras arrebatadas pelo movimento. Ela conta que nenhum outro ambiente musical foi capaz de proporcioná-la uma experiência tão gratificante. O sentimento de pertencimento e a maneira como, a partir do grave, a música atinge, adentra e envolve o corpo são os principais fatores que contribuíram para o fascínio desde seu primeiro contato com o Sound System. Natan Nascimento, (também) seletor, produtor cultural, fundador do Favela Sound System e parceiro de Daniella no desenvolvimento do mapa, teve uma experiência semelhante a da colega: se apaixonou pela atmosfera da festa jamaicana à primeira vista. Já conhecia o reggae enquanto ritmo musical, mas a aliança entre o sistema de som e a música apresentou a ele a amplitude de sua dimensão cultural e social.

Tanto Dani quanto Natan foram atravessados pela magia desse movimento e o impacto foi terem seu estilo de vida transformado por ele, com convicções lapidadas e rotas profissionais reconduzidas. Mas apesar dos bons ventos nas festas do movimento, Dani confidencia que, em dado momento, empacou enquanto produzia o mapa. Ela própria contatava os coletivos para inseri-los no catálogo ilustrado mas, por alguma razão, passou a ser ignorada. O levantamento era fundamentado em perguntas simples, como fundação, equipe atual, principal vertente e localização. Além disso, uma foto do sistema de som era solicitada para que o conjunto pudesse ser registrado por completo.

O projeto só voltou a andar quando, em 2018, findou a parceria com Natan. Parte das equipes que não estavam listadas pelo fato de não terem retornado o contato a ela, curiosamente, o fizeram quando, por meio de uma publicação no Facebook, ele solicitou aos interessados o envio das mesmas informações. Ela ficou com a pulga atrás da orelha se perguntando, afinal, qual teria sido a razão para que ela nunca tenha recebido essas mesmas respostas. O resultado foi que ela conseguiu registrar 50 equipes e seu parceiro, o dobro.

Capa do Mapa Sound System Brasil.
Capa do livro Mapa Sound System Brasil. Composição: Daniella Pimenta / Natan Nascimento.

 

Vivendo de Sound System

Vitor Fya.
Vitor Fya, 25 anos, morador da Brasilândia e apreciador da cultura Sound System jamaicana. Foto: Vitor Lima / arquivo pessoal / Facebook.

Outro brasileiro seduzido pela cultura jamaicana é João Vitor Lima, de codinome Vitor Fya, morador da Brasilândia - distrito mais populoso da zona norte de São Paulo - e entusiasta da cultura Sound System há mais de uma década. Hoje, ele trabalha como serralheiro, mas aspira ter condições de fazer de seu estilo de vida mais do que um hobby: uma fonte de renda aliada à paixão.

Seu caminho se cruzou com o movimento Sound System quando ele tinha 15 anos. A primeira festa foi na extinta Fazendinha Skate Parque, pista de skate que fazia parte do complexo esportivo do Centro Educacional Esportivo Oswaldo Brandão (C.E. Vila Brasilândia). O espaço foi eliminado para ceder lugar à construção do Hospital Municipal da Brasilândia - cuja obra, de acordo com a secretaria de Infraestrutura Urbana e Obras, devia ter sido completamente entregue em 2017. No entanto, apenas em 2020 o hospital foi parcialmente aberto. A inauguração ocorreu pressionada pela alta da demanda hospitalar decorrente da pandemia de Covid-19. Não houve compensação pela retirada da pista de skate com a inclusão de um outro espaço público de lazer e esporte pela região e ficou “por isso mesmo”.

Fazendinha aos domingos
Movimentação dominical no Fazendinha Skate Park. Foto: Fazendinha Skate Park / Felipe Gomes / Facebook / Reprodução.
Obras no Fazendinha.
“No momento a obra passa por movimentação de terra e fundação. Nas áreas onde estamos trabalhando havia o CDC e parte do Centro Esportivo”, explica publicação da secretaria de Infraestrutura e Obras um dia antes do início das construções, 2015. Foto: Érika Kwiek / Site Prefeitura SP / Reprodução.
Obras do complexo Brasilândia.
À esquerda, o prédio do Hospital da Brasilândia. À direita, os guindastes das obras do metrô Brasilândia, linha 6, laranja. Construções planejadas de forma que possam atuar como um anexo. Foto: Bianca Abreu.

O Natural Dub, sistema de som comandado por Thales Silva, que comandava as sessões no Fazendinha, se posicionou via Facebook acerca da derrubada da área de lazer. Em nota, pontuou que é a favor de que mais hospitais possam ser construídos na Brasilândia, mas que isso ocorra - preferencialmente - em locais onde áreas de lazer recém construídas não precisem ser destruídas. Assim, o investimento na saúde do bairro não implicaria na dissolução de um espaço cultural frequentado pela juventude na região. Junto à mensagem datada de 22 de julho de 2015 foi publicado um conjunto de fotos do derradeiro evento realizado no local.

24º Vibe.
24º Vibe.
24º Vibe, último evento e amplificação realizados pelo Natural Dub no Fazendinha Skate Park, 2015. Fotos: Natural Dub SP / Facebook / Reprodução.

Em seguida, o Vitor conheceu o Anhangabaroots - como eram chamadas as sessões de diferentes coletivos promovidas ao longo do Vale do Anhangabaú, na região central de São Paulo - e ele foi essencial para aprofundar seu interesse pelo movimento Sound System. Foi lá que a chave virou, seus olhos brilharam e ele decidiu que a cultura dos sistemas de som seria a protagonista de seu estilo de vida. Ele relembra coletivos como o Trezeroots Sistema de Som e festas como a Terremoto, em que não só os sistemas de som das equipes África Mãe do Leão e Zyon Gate se agrupavam, mas que também formavam uma grande estrutura para amplificação a partir da união com outros coletivos.

Trezeroots.Trezeroots.
Trezeroots.
Anhangabaroots com Trezeroots Sistema de Som, 2014. Foto: Trezeroots Sistema de Som / Facebook / Reprodução.
Reunion of Dub.
Reunion of Dub.
Anhangabaroots com Reunion of Dub, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.
Terremoto.
Anhangabaroots com Terremoto, 2014. Foto: DC Santos / Flickr / Reprodução.

Outro evento apontado pelo paulistano é a Virada Cultural. Ele destaca a variedade de vertentes reggueiras que podia prestigiar por conta da Arena Sound System, iniciativa que reuniu, simultaneamente, os principais coletivos no centro de São Paulo - sendo eles da capital ou não. Ele lamenta a falta de continuidade dessa programação.

 

Um sistema de som de qualidade aliado a bons discos faz relaxar e viajar sem sair do lugar

João Vitor considera que a cultura Sound System fisga seu público pela experiência completa e transformadora que proporciona. A qualidade dos equipamentos, sua instalação no espaço escolhido para a festa e o domínio musical de quem comanda a sessão são elementos essenciais para que a experiência seja agradável e enriquecedora. Estar em um ambiente seguro, acolhedor e com elementos educativos contribuem para instigar a curiosidade sobre os detalhes daquela cultura, expandindo sua consciência e fortalecendo a admiração e o vínculo com esse estilo de vida. São profundamente cultivados os princípios como respeito, tolerância e inclusão.

O sistema de som é estruturado por um conjunto de caixas equipadas de modo que a experiência sonora alcance e comova o público com o melhor desempenho possível. Para João Vitor, logo de cara, esse conjunto estrutural é o que mais chama a atenção. Os elementos gráficos, como cores e texturas, e a disposição de cada uma das peças de todo o aparato estrutural compõem a identidade do coletivo.

Salto Sound System
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

 

Salto.
Formato de sistema de som do Salto Sound System, coletiva que apresenta-se em busca da “emancipação de mulheres negras e pessoas trans negras através da cultura Soundsystem”. Ilustração: Natan Nascimento / Mapa Sound System, 2019 / Reprodução.

A preocupação com o repertório também é parte indispensável da construção da identidade do sistema de som e de seu seletor. Ele deve ser capaz de aliar diferentes elementos sonoros a fim de abrilhantar sua performance e complementar o impacto artístico trago com a escolha dos discos reproduzidos - afinidade com o vinil é fundamental para qualidade do espetáculo. João explica que cada seletor costuma se especializar em um dos vários gêneros possíveis, mas que, nas sessões, costumam transitar entre eles, trazendo variedade e alguns ineditismos às suas apresentações. Vivenciando diferentes festas, ele passou a reconhecer uma variedade de vertentes como Roots, Steppa e Rub-A-Dub.

Questionado sobre conhecer a qualidade feminina na cena, João Vitor Lima exalta o trabalho do coletivo Feminine Hi-Fi, formado pelas seletoras e produtoras Laylah Arruda e Daniella Pimenta - reggueira que deu o pontapé no mapeamento dos sistemas de som em solo nacional.

Feminine HiFi.

 

Feminine HiFi.Feminine HiFi.Feminine HiFi.
Feminine HiFi.
Tendal da Lapa recebe 3ª edição do festival Feminine Hi-Fi, onde a line-up e o comando da sessão são 100% femininos. Foto: Bianca Abreu / Flickr.

 

Entre todos, ele: o pioneiro

Em vários momentos ao longo da conversa, Vitor salienta as virtudes do DubVersão Sound System - comandado por Fábio Murakami, o Yellow P (pronuncia-se ‘pi’) e pioneiro em terras paulistas. Desde 2001, ele propaga a cultura por toda São Paulo e o faz no mais genuíno modelo jamaicano, no que diz respeito à escolha por ambientes abertos e vertentes clássicas em sua performance. É o predileto de João Vitor - que comparece tanto às suas apresentações públicas como privadas - e foi o primeiro contato de Daniella Pimenta com o movimento. O evento Dub Na Praça acontece anualmente na Praça João Cabral de Resende, no Jardim Primavera, zona norte da capital paulista. É um espaço aberto e convidativo para curtir uma tarde gratuita nos moldes tradicionais do Sound System jamaicano. Já o Java, também comandado pelo Yellow P, é o braço pago dos eventos realizados pelo DubVersão e hoje ocorre na Rua Simonsen, na Sé. Além dessas duas festas inegociáveis, a agenda cultural paulista costuma integrar o DubVersão a novos espaços ao longo do ano.

Dubversão.Dubversão.
Dubversão.
DubVersão Sound System no Tendal da Lapa, 2023. Foto: Bianca Abreu.

João ressalta que prioriza as festas em que sente seu corpo e espírito em estado de conforto e harmonia. Ele conta que, quando vai ao Java, renova suas forças e sai de lá novinho em folha. Segundo ele, mesmo quando uma força maior impede que consiga adquirir o ingresso de uma das edições da festa, ele não reclama da cobrança existir pois a considera justa diante da qualidade da experiência promovida. Ele frisa que o coletivo sempre promove eventos gratuitos e que a qualidade da performance não se abala diante da cobrança da entrada no evento.

Ele conta que já leu comentários nas redes sociais em que alguns perfis reclamavam do fato de o Yellow P performar de costas para o público e questionam se isso seria sinal de vergonha. Vitor esclarece que, na realidade, isso faz parte da apresentação do seletor. Sua intenção é que o público visualize os caminhos que ele percorre para projetar os efeitos sonoros que escolhe ao longo da sessão. Para ele, isso é uma aula. Ele assiste atento e idealiza meios de reproduzir aquela performance em seus próprios equipamentos. O Susi In Transe, casa noturna que recebeu a seleção de Yellow P em suas primeiras apresentações declarou o fechamento de suas portas no último mês. O jovem paulistano lamenta o encerramento das atividades de mais um espaço cultural da cidade.

Susi In Transe
Produtor Daniel Ganjaman e Yellow P, em sessão no antigo Susi In Transe. Foto: Acervo Miguel Salvatore / UOL / Music Non Stop.

 

O desejo de compartilhar

Por conta da influência positiva que o Sound System como estilo de vida o proporcionou, João Vitor deseja ter a oportunidade de multiplicar os beneficiados por ele com a mesma maestria que os pioneiros que admira. Até hoje, como Vitor Fya, ele pôde comandar sessões em eventos de terceiros, como o RNR, sistema de som de seu bairro que o apadrinhou. Entretanto, sua intenção é alçar voos maiores para expansão do conhecimento sobre a cultura em seu território. Para ele, o que mais dificulta sua atuação na cena é o alto custo para tirar um plano como esse do papel, pois montar um sistema de som envolve custos com equipamentos, locomoção e investimentos no repertório musical. Ele gostaria de envolver a criançada do seu bairro nesse movimento cultural, despertando seu interesse em se aproximar da música a partir do manuseio de um toca-discos, estimular sua criatividade na administração dos botões da amplificação e inseri-los em uma prática onde é forte a relação de comunidade.

O intercâmbio cultural entre as ilhas jamaicana e brasileira se findou pela recíproca identificação dos oriundos das periferias de ambos os territórios. Os discos de vinil puderam expandir o alcance dos protestos de um subúrbio ao outro tendo as caixas empilhadas como aliada no ecoar dessas mensagens. Essa celebração reggueira reafirma a importância da valorização do território e o vigor dos encontros presenciais - por isso, conectando sensibilidade e força, tornou-se tradição cá e lá.

A alteração climática trouxe melhorias para a saúde da população e retirou a cidade do topo do ranking mundial de pior qualidade do ar
por
Gabriel Porphirio Brito
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17/09/2024 - 12h

 

Calçada com pessoas com roupa de frio e segurando guarda-chuva
A previsão é de dias frios até quinta-feira (19). / Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

 

Após quinze dias de calor intenso e qualidade do ar comprometida, a cidade de São Paulo experimenta mudança significativa nas condições climáticas, com a chegada de uma frente fria. Entre os dias 15 e 16 de setembro, o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura registrou uma alta na umidade relativa do ar, que chegou a 98%, com algumas áreas atingindo 100%. 

Melhoria da qualidade do ar

De acordo com dados do IQAir, São Paulo chegou a figurar na primeira posição do seu ranking global de metrópoles com piores índices de qualidade do ar, consequência direta da onda de calor, poluição, queimadas, e das condições atmosféricas desfavoráveis.

O CGE informou, na segunda-feira (16), que a formação de uma área de baixa pressão vinda do Paraná, na região Sul do país, trouxe instabilidades atmosféricas, o que provocou a chegada da chuva e a melhora da qualidade do ar. 

Além disso, a precipitação e o aumento da umidade permitiram a dispersão de poluentes que se acumulavam na atmosfera, tornando o ar mais respirável. A expectativa é de que essa melhora seja contínua ao longo dos próximos dias, já que a previsão meteorológica indica que a umidade e as temperaturas amenas devem persistir.

A capital, que até a semana passada estava em primeiro lugar no índice global de poluição, agora ocupa a posição 73, com o ar classificado como “bom”, segundo a plataforma IQAir.

Previsão do tempo

Segundo o Climatempo, a chegada da frente fria trouxe queda nas temperaturas, com máximas que não ultrapassam os 20°C até quarta-feira (18). Para esta terça-feira (17), a mínima registrada foi de 14°C e a máxima não deve passar 20°C. 

Embora a frente fria traga alívio momentâneo, ainda de acordo com o Climatempo, o efeito pode ser temporário. Com a previsão de retorno de temperaturas mais elevadas até o final da semana, com máximas de até 34ºC a partir de sexta-feira (20), é possível que a qualidade do ar volte a piorar, embora em menor intensidade e ainda com pancadas de chuva pontuais.

Estado de alerta

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, na segunda-feira (16), o alerta amarelo de “perigo potencial”, para a cidade, áreas do litoral e da região metropolitana. A previsão é de chuvas entre 20 e 30 mm/h, com um volume total de até 50 mm por dia, e ventos intensos, que variam entre 40 e 60 km/h. O Inmet também alerta para a possibilidade de alagamentos e pequenos deslizamentos, embora o risco seja considerado baixo.

Já nas regiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, que recentemente sofreram com incêndios florestais devido ao tempo seco, há previsão de chuvas intensas. Essa chuva, que pode alcançar 50 mm por dia e ser acompanhada de ventos de até 60 km/h, representa uma mudança significativa para áreas que sofreram com a seca prolongada. No entanto, há riscos adicionais, como queda de galhos de árvores, cortes no fornecimento de energia elétrica e alagamentos localizados.

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Apenas mais uma batata na feira, palco onde somam-se histórias nutridas de amor e resiliência
por
Vitor Nhoatto
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06/06/2024 - 12h

Não é apenas o sol que consegue aquecer o gélido concreto urbano. Lonas abertas, madeiras estruturadas, produtos apresentados, todos a postos. Uma reunião de almas comunicadoras, que buscam o sustento colocando suas hábeis mãos no que a terra melhor tem a oferecer. Em meio a gritos, sons de facas, sacolas e máquinas de cartão, o alimento cuidadosamente regado de energia pelos carregados olhos de amor dos personagens principais dessa festa, passa de um para o outro. Essa é a feira.

Como um palco a ser percorrido, fregueses vem e vão na Rua Ministro Godói em Perdizes, devidamente fechada para que o show possa continuar. No local encontra-se uma variedade de objetos, posicionados delicadamente pelos atores da peça, esses com texto ensaiado por anos e para diferentes públicos. À medida que se adentra no universo artisticamente comerciante a sensação térmica sobe. Sem ser desconfortável como as recentes ondas de calor ocasionadas em São Paulo pelas mudanças climáticas, o calor humano cativante dos negociantes sob as tendas das barracas fabrica uma atmosfera aconchegante.

Mais ao centro do palco asfaltado, uma estrutura de aço acompanhada de sacas de variadas batatas, instrumentos de batalha como balanças e sacolas, é preenchida pela irradiação energética de uma das protagonistas do evento. O bordado na roupa de gala anuncia seu nome, e a voz alegre e cheia de vitalidade proclama: "Fala amor, você quer um pinhão? Você vai fazer ele hoje ou não? Se for pode levar ele assim no saquinho plástico, porque esse outro assim respira mais, e esse tem que fazer ou tirar do saquinho". Um olhar cuidadoso debaixo dos óculos enxerga para além do físico. No alto dos seus 78 anos, Dona Beatriz alavanca sua barraca. Suas mãos vibram dentro das luvas de látex e cuidadosamente revelam a beleza dos alimentos que vende. "É oito amore. Yuri passa o PIX para ele aqui? Foi, passou! Obrigada amor". Sempre ressoando palavras de alto astral, e atendendo com todo o empenho os consumidores que ali param, assim segue ela durante o restante da apresentação, a qual já repete há 60 anos.

Dona Beatriz limpa uma cebola com uma faca e veste luvas de látex
“Essa tava com a casquinha feia, nem parecia que era tão bonita” - Foto: Vitor Nhoatto

Entre idas e vindas de fregueses, uma tela começava a ser preenchida, e o que os cabelos brancos e as marcas de uma vida bem vivida no rosto, materializadas em forma de rugas, contavam, vão sendo verbalizadas. "Os meus pais eram feirantes, eu já vim assim de uma tradição. Quando conheci o meu marido, tinha 13 anos quando comecei a namorá-lo, ele comprou uma barraca de batata, e depois de 5 anos a gente se casou e ficamos nessa vida, sempre com batata". O rumo segue e mais cores vão compondo a atmosfera. "Nós somos os dois portugueses, nascemos lá. Ele que tem 88 anos, veio com 14, agora eu não. Eu vim em 1946, ano que nasci. Nasci em março, em setembro meus pais vieram para aqui".

As terras lusitanas passaram por uma crise econômica na metade da década de 1940, no final da segunda guerra mundial e após seu encerramento. Durante o conflito, Portugal registrava recordes positivos ao ser um dos maiores vendedores do minério volfrâmio, usado em armas. No entanto, apesar de ter se mantido neutro na época, acatou a pressão dos países aliados e a comercialização do volfrâmio foi proibida em junho de 1944, impactando fortemente o país. Isso levou a imigração de milhares de pessoas em busca de melhores condições. O Brasil foi o principal destino desses portugueses de 1930 a meados de 1960, e Dona Beatriz com seus pais e mais tarde seu marido, representam quatro dos 148.699 portugueses que entraram em terras brasileiras entre 1931 e 1950 segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Com uma voz que diz muito mais do que as palavras que da boca saem, a viagem no tempo segue com uma gratidão apaixonada. "Tivemos outros lugares, trabalhamos em Osasco, em Itapevi… mas sempre uma aqui, 60 anos aqui. E a vida foi assim, a vida foi para trabalhar na feira, criar os filhos, e viver eu e meu marido muito felizes graças a deus. 46 anos nós vivemos casados". Preenchida cuidadosamente de lembranças, o amor pelo marido, o qual se refere em alguns momentos ainda no presente, pode confundir o telespectador da obra. Antônio partiu há 12 anos e 10 meses, como especifica. "A vida é assim meu amor". 

Antiga habitante do centro expandido de São Paulo, Dona Beatriz vive hoje com  seus dois filhos no bairro transmorfo e de história curiosa, Granja Viana. Com nome que remete às suas origens de fazenda familiar, rodeado pela Mata Atlântica, o local já foi uma ilha de descanso de alto padrão, mas hoje está denso e prejudicado, apesar de aos olhos da ilustre moradora soar como um oásis pertencente a Cotia. "Eu moro no quilômetro 22,5 da Raposo Tavares, fui para lá em 2001, era bastante mato, até a rua que a gente desce para nossa casa era terra ainda, agora não, tudo lindo asfaltado. Muitas árvores. O lugar é gostoso para gente morar".

Em sua Kombi branca, vai e vem, cortando a rodovia nos cinco dias de trabalho, sempre bem pela manhã. "A gente chega mais ou menos 5 horas, e eu levanto todo dia 4 horas, todo dia… mas tô acostumada. Nem precisa mais do despertador, é aquele hábito, na graça de Deus é bom, que a gente tem saúde". As aparições da feirante e seu fiel escudeiro Yuri, com quem trabalha há quase uma década, foram designadas para ocorrer em bairros paulistanos distantes de sua atual casa pela prefeitura, em uma época que Dona Beatriz morava na zona oeste da cidade. "A vida é assim, a gente vai levando aonde se sente bem, onde tá feliz… e eu tô". 

Formalmente regulamentadas em 1914 no estado de São Paulo, as feiras livres movimentam a economia e seguem resilientes frente à disputa de atenção. Os shows familiares e intimistas  passaram por uma crise nas décadas de 1960 e 1970, com a chegada dos super festivais, chamados de supermercados. Espelhava-se na imprensa que era próximo o fim dos artistas locais, alegadamente incapazes de peitar as estrelas refinadas recém chegadas como Pão de Açúcar, Carrefour e o extinto Sirva-se. 

Porém, representando mais do que um espaço de trocas comerciais, e sim de laços humanos, as constituintes da identidade nacional resistiram e se expandiram. De 2013 a 2023 houve aumento de 10% no número de feiras segundo a Prefeitura de São Paulo. Dona Beatriz integra 5 das 955 hoje registradas, e conta alegre que graças ao local de convivência e negócios, criou dois filhos. "O que importa é que dá para gente sobreviver com dignidade né? E a gente vai vivendo" O tempo não para, e os fregueses sobem ao palco, buscando matéria prima que alimenta além de seus corpos, mas a alma também.

Vestindo um avental amarelo com seu nome bordado em vermelho ao centro, Dona Beatriz segura uma cebola enquanto olha para a câmera
Não é a individualidade que faz uma feira e as falas no plural de Dona Beatriz reforçam tal fato, enquanto seu olhar profundo cativa quem por ali passa - Foto: Vitor Nhoatto

"Bom dia meu amor, tudo bem minha querida? Olha que coisa linda essa batata maravilhosa". Aqui tem-se um momento de pausa na recapitulação histórica, mas não no trilhar do presente. Dona Beatriz agarra com a sua tonalidade vocal levemente estridente e recoberta por ternura e simpatia, a aura de quem para na barraca. "Aqui tem 1,6kg meu amor, quer completar dois? Pode deixar que a gente pega. Essa outra é só escovada por isso não tem tanta terra, mas essa daqui como eles colheram com a terra molhada ficou assim. Dois quilos, tá amor? Deu 18 com 16, é PIX? Brigada meu amor. Tchau amore, vai com Deus".

Apesar de não ser tão agitada como costumava, percebem-se vários públicos na feira. Entre alunos e funcionários da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), pedreiros das obras do entorno, e moradores da rua, que entram e saem dos prédios, algumas vezes em veículos de luxo. O bairro de Perdizes se transformou ao longo dos 60 anos de trabalho de Dona Beatriz no local. Nas últimas décadas a classe média se apropriou da região, originalmente familiar e pacata, como revela a arquitetura das poucas construções tombadas que resistiram à especulação imobiliária. Levantamento da Data Lello, instituto de pesquisas e inovação da Lello Condomínios, aponta que no ano vigente, 818 condomínios serão entregues, com destaque ao bairro da feira.

Engrenando-se novamente no monólogo, o brilho de Dona Beatriz é como uma chama intensa que ilumina o ambiente. Ela percorre seus antecedentes e os manifesta à plateia sempre que tiver quem escute, mas não por desespero de ser ouvida, e sim pelo orgulho de sua trajetória.  O avental com seu nome inscrito, de cores intensas, faz jus ao magnetismo da pessoa que o veste, a qual não para em um só lugar. Nada parece abalar o desempenho da estrela da peça, que se refere aos potenciais clientes e amigos como uma artista se dirige a seu público. "Aqui só atrapalha quando o pessoal não vem". 

Mãe orgulhosa, o amor por sua família reluz nas lentes grossas de seus óculos e na tela de seu celular com capinha cor de limão vibrante. As pálpebras se apertam e os olhos levemente se enchem de lágrimas de alegria enquanto mostra uma fotografia com seus dois netos, Rafael e Carolina. A feirante então para por um instante e com um suspirar profundo, desacelera para refletir sobre tudo que já viveu. "Foi assim, uma vida maravilhosa, feliz. Criei meus filhos, tenho dois netos [...] o que importa é que dá para gente sobreviver com dignidade. É difícil, não é fácil não, mas consegue… a gente tem que ter sempre bastante equilíbrio para ir sempre pelo caminho certo, a vida é assim, a gente vai levando."

A população brasileira vem envelhecendo gradualmente devido a melhores condições em áreas como a da saúde, educação e alimentação, refletindo em mais longevidade, apesar de haver muito ainda o que melhorar. Segundo o Censo 2022, a média nacional de vida dos brasileiros é 75,5 anos. "Agora só esperar o fim da vida, né? Tô com 78 anos e agora a gente não pode esperar mais muita coisa. Eu pretendo chegar aos 80 trabalhando, mas vamos ver o que Deus vai nos reservar, se eu tiver força do jeito que eu to agora acho que eu chego até os 80… é assim meu amor", comenta Dona Beatriz em tom de agradecimento, longe da lamúria ou de um esperado cansaço.

Batatas rosadas, batatas doces, pinhão e batatas inglesas expostas na barraca em caixas
O ato principal permanece, mas como os novos tempos pediram, convidados aparecem lá de vez em quando em meio as batatas -  Foto: Vitor Nhoatto

O tempo vai passando, e sem perceber o show se encaminha para seu fim. É chegada a hora de voltar a coxia e desmontar o palco para a próxima apresentação. A emoção transparece no olhar e as bochechas se alargam e se erguem dando lugar a mais um sorriso, dessa vez de despedida. "Você vê como a feira é gostosa? O contato, a amizade, o amor que a gente tem". Pouco a pouco o movimento vai cessando e as batatas, cebolas e pinhões vão entrando na Kombi pelas mãos de Yuri e Dona Beatriz, afinal, o tempo não para. O dia seguinte começa cedo e é de mais trabalho, na quarta-feira sendo a vez do bairro Pompéia. 

A sensação térmica incômoda do calor escaldante volta a se impor sob as cabeças agora desprovidas de lonas. Cada um volta a seus próprios universos e preocupações da vida contemporânea incessante. Cascas, resíduos e alguns papéis ficam pelo chão, que será limpo pela Prefeitura, ao passo que as peças teatrais históricas que quase ninguém conhece, se dissipam no emaranhado de vias urbanas da selva de pedra. Esse é o ciclo, semana que vem haverá mais. E como diria Dona Beatriz, "é assim, a vida é um paraíso".

 

Esta matéria foi produzida como parte integrante das Atividades Extensionistas do curso de Jornalismo da PUC-SP.

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No meio da avenida mais movimentada do país, há arte e cultura espalhadas pela avenida Paulista
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02/06/2024 - 12h

Todo domingo na Avenida Paulista, o destino mais comum para aqueles que querem espairecer do caos do dia a dia paulistano, podemos desfrutar de diversas culturas e entretenimentos. Espalhados pelas ruas ou calçadas, encontramos "gente que faz trabalho de gente". Pessoas que colocam seu dom, seja vocal, corporal ou manual, em exposição à céu aberto e nos dá a honra de prestigiar.

 

Av. Paulista
Dia de domingo na Avenida Paulista, São Paulo | Foto: Beatriz Alencar


As ruas que diariamente são cheias de carros, ônibus, trânsito e fumaça, dão mais cor aos diversos tipos de cultura. Em meio a tantas barracas, encontramos a de Vitor Amra. Ele vende placas pirografadas e além disso, também é tatuador. A arte da pirografia, basicamente é um modo de desenho sob uma madeira, que utiliza uma ponta de metal aquecido para gravar a peça. Para saber mais um pouco desse processo e de como é trabalhar na avenida mais movimentada do país, acesse o vídeo abaixo. "É o trabalho e um pouquinho de festa ao mesmo tempo", de acordo com o Vitor. Venha conferir nesta cobertura no Instagram! 

 

 

 

Evento reúne entidades e trabalhadores em São Paulo para celebrar a solidariedade e conscientização sobre segurança no trabalho
por
Geovana Bosak
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01/05/2024 - 12h

No dia 28 de abril, a Praça Memorial Vladimir Herzog recebeu o evento "Todo mundo tem que falar, cantar e comer!", que acontece todo último domingo de cada mês. Dessa vez, o encontro "Ato e Canto pela Vida" reuniu diversas entidades, trabalhadores de diversas centrais sindicais em um ato unificado em memória às vítimas de acidentes e doenças relacionadas ao trabalho, em homenagem ao dia mundial dessa causa. O encontro foi resultado de uma articulação significativa envolvendo 45 entidades, desde sindicatos até órgãos governamentais e organizações da sociedade civil. Entre elas estavam centros acadêmicos, federações, centrais sindicais, Ministério do Trabalho e Emprego, Fundacentro, Dieese, entre outras.

A reunião aconteceu a céu aberto, ao lado da Câmara Municipal de São Paulo, livre para todos que quisessem participar. O espaço estava decorado com faixas e cartazes trazidos pelas organizações e sindicatos, com mensagens e reivindicações de distintas origens. 

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Evento "Ato e Canto pela Vida", em praça pública.
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Pessoas reunidas em ato em memória às vítimas de acidentes de trabalho, na "Escadaria da Liberdade".
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Interação e integração entre trabalhadores, organizadores e participantes.
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Entrevistas para a cobertura do evento, realizada pelo Canal da Praça.

A celebração iniciou às 11 horas, com o encontro e reencontro dos participantes, familiares e entidades. Em seguida, o grupo "Inimigos do Batente", comandado pelo cantor Paulinho Timor, apresentou em uma roda de samba músicas ao vivo que representam o trabalhador. Além das discussões, interações e música, o evento também contou com um almoço no sistema "quem pode, paga, quem não pode, come", servindo o prato Baião de dois, preparado pelos "Cozinheiros da Liberdade". 

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"Cozinheiros da Liberdade" e pessoas se servindo no sistema "quem pode, paga, quem não pode, come"
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Por último, a artista plástica Laura Andreato conduziu uma intervenção artística coletiva, "A árvore da vida". A intervenção foi feita em uma lona, instalada próxima à Banca Livraria dos Jornalistas. Os participantes foram convidados a deixarem suas marcas carimbando suas mãos na lona, dando uma ideia de "folhas", criando assim uma imponente copa, simbolizando o compromisso com a vida e a solidariedade com as vítimas de acidentes de trabalho.

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Artista Laura Andreato pintando o tronco da "Árvore da vida".

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Para Danilo Zelic, estudante de Jornalismo, o evento foi especial. "É a primeira vez que eu vejo a praça super cheia. Por conta dessa articulação entre entidades e organizações, o evento foi grande. Comemorar esse ato do dia 28 lá na praça, que é um espaço público e unindo todas as centrais sindicais para um único propósito, é muito simbólico. O samba deu uma animada. O roteiro de músicas foi super importante porque reuniu sambas ligados ao trabalho e ao trabalhador, importante pensar isso. Fiquei bem feliz de ver o desenrolar do evento", comenta Danilo.

O “Todo mundo tem que falar, cantar e comer!” é uma realização do Instituto Elifas Andreato com apoio de Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo (SEESP), Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos de São Paulo, Banca Livraria dos Jornalistas Vladimir Herzog, Canal da Praça, Coletivo Café Sem Pauta, Coletivo Paulo Freire, Colibri & Associados Comunicações, FotosPúblicas.com, Instituto Paulo Freire, Instituto Premier, Instituto Vladimir Herzog, OBORÉ e Câmara Municipal de São Paulo. A Praça Memorial Vladimir Herzog – Espaço Cultural a Céu Aberto Elifas Andreato fica na rua Santo Antônio, 33-139, no bairro de Bela Vista, São Paulo. Para saber mais sobre o evento, assista o vídeo feito por José Mota, do Coletivo Paulo Freire Zona Norte, disponível no Canal da Praça.

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Trabalhadores, organizadores e participantes na "Escadaria da Liberdade", na Praça Vladimir Herzog

 

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O papel dos institutos de mobilidade na incorporação do ciclismo no dia a dia de uma grande metrópole
por
Isabelle Maieru
Laura Paro
Marina Jonas
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02/05/2023 - 12h

Reprodução: arquivo pessoal / Yuri Vasquez
Reprodução: arquivo pessoal / Yuri Velasquez

O direito de ir e vir, assim como diversos outros direitos assegurados por lei ao cidadão, é, muitas vezes, negado. Os grandes centros urbanos brasileiros costumam ser repletos de desigualdade e segregação socioespacial, fazendo com que aqueles com menos condições financeiras vivam longe de seus centros – onde costumam ficar importantes áreas de lazer, cultura, educação e trabalho – e tenham que percorrer maiores distâncias para chegar até ele. Além disso, essas cidades têm a tendência de direcionar parte significativa de seus espaços aos carros, que acabam virando um de seus principais meios de locomoção, levando a menos investimentos em serviços públicos de transporte e mais investimentos em rodovias, por exemplo, excluindo, novamente, grande parte de sua população.

Diante das dificuldades enfrentadas para se ter uma mobilidade democrática, possível e sustentável nos centros urbanos, surge, no ano de 2009, a CicloCidade: Associação dos Ciclistas Urbanos de São Paulo. Seu principal objetivo é ampliar o uso da bicicleta na cidade e, também, “torná-la mais humana, equitativa do ponto de vista de raça e gênero”, explica Yuri Vasquez, associado da CicloCidade. Segundo ele, são diversos os benefícios e importâncias de se incentivar o uso desse transporte nas cidades. Primeiramente, do ponto de vista climático, pois como sabemos, a bicicleta é um dos veículos que mais potencializa a força humana e que faz com que as pessoas emitam menos gases do efeito estufa, que contribuem para a crise climática. Também é benéfica para o uso equitativo do espaço urbano, humanizando as relações, pois com ela há um contato mais próximo entre uma pessoa e outra. 

Mesmo com essas vantagens, o uso de bicicletas ainda parece ser uma realidade distante para maioria da população da cidade de São Paulo. Além desse modo de locomoção não estar ao alcance de todos, aqueles que possuem automóveis não consideram abandonar seus veículos ao percorrer trajetos curtos, seja a pé ou de bicicleta. Yuri explica que o certo seria fazer uma troca dessas viagens curtas para que as pessoas usassem os automóveis só quando for realmente necessário, e também usar mais o transporte público: “São viagens de 3km a 5km que correspondem a quase 80% das viagens diárias, mas muitas pessoas ainda insistem em fazer essas viagens de automóvel pelo simples conforto, por não conseguirem pensar em alternativas individuais”, afirma. 

Hoje em dia, não é possível mensurar ao certo, qual o uso diário real das bicicletas na cidade de São Paulo. A última pesquisa divulgada passou por período de pandemia, causando uma deficiência incapaz de indicar o número real. Porém, o associado revela que o instituto já está desenvolvendo uma pesquisa que seja capaz de mostrar indicadores reais: “A gente está em um projeto agora em conjunto com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), a Secretaria de Trânsito e Transporte (SMT), junto com a Metrópole Um para Um, projeto capitaneado pela CicloCidade com financiamento conseguido pela própria Associação com a maior série histórica de contagem. São 218 contagens para tentar mensurar quantas viagens/dia a gente tem na cidade. Ao final desse projeto a gente vai ter real noção da proporção.”

Além da importância do ciclismo para a cidade de São Paulo, Vasquez também explica que o uso de carros elétricos não seria o suficiente para solucionar os problemas que a cidade enfrenta, pois deve-se levar em conta os inúmeros acidentes decorrentes do trânsito: somente em 2021, 823 pessoas morreram nas ruas e avenidas paulistanas, segundo dados da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). “Só eletrificar os carros e não acalmar o trânsito, a vida e o convívio das pessoas a partir dele, mantém um dos maiores problemas que é a morte no trânsito, da qual sabemos que é um dos fatores que mais mata no Brasil”, afirma. 

Para Yuri, o uso cotidiano das bicicletas como principal meio de transporte só será possível se houver uma mudança na mentalidade da população. A cultura da construção da cidade, que desde o início do século XX, se deu voltada para a especulação imobiliária e o uso do automóvel, construiu um pensamento difícil de lidar. “A mentalidade das pessoas que também acreditam que andar de bicicleta na Europa é super especial e quando retornam para São Paulo voltam para a "síndrome de vira-lata” de que aqui não é possível(...) é muito difícil lidar com pessoas que acreditam que o automóvel é o mandatário do espaço urbano, que deve ocupar todos os espaços que deveriam ser comuns”, explica. 

Além disso, o representante da CicloCidade relata que os tomadores de decisão, que representam a população na esfera política, continuam a insistir em um projeto privatista do espaço urbano, que contempla apenas o automóvel como meio de transporte. “A gente sabe que a expansão do metrô é muito lenta, a expansão do transporte público é lenta, a expansão da caminhabilidade e ciclomobilidade também é muito lenta(...)A gente vê uma cidade que só cresce pra cima, verticalmente, prédios cada vez maiores e cada casa com mais de um carro.”, relata. 

Enquanto medidas que podem ser adotadas pelo público em geral a fim de buscar uma redução de danos, Vasquez sugere: “Eu acho que o transporte público é sim o grande salvador da realidade de uma cidade tomada por carros e que enfrenta todos os problemas que esse tipo de veículo traz. De forma coletiva, eu acho que se unir em grupos, trabalhar coletivamente para que a cidade se torne uma cidade mais agradável: com trabalho coletivo, com trabalho ligado à preservação do meio ambiente, de preservação das praças, de manutenção dos parques, de rodas de conversa, de encontros que discutam alternativas para que essa cidade possa se desenvolver de uma maneira mais sustentável”.

 

Para saber e entender mais, assista o vídeo no canal do CicloCidade: https://www.youtube.com/watch?v=OkrDeDkwCCY


 

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O diretor do Instituto de Mobilidade Urbana Cidadeapé, Oliver Cauã, expõe os principais desafios encontrados na luta por um deslocamento urbano democrático
por
Isabelle Maieru
Laura Paro
Marina Jonas
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11/04/2023 - 12h
Oliver Cauã durante entrevista para a AGEMT
O Geógrafo e Diretor do Instituto Cidadeapé, Oliver Cauã, durante entrevista concedida para a  AGEMT

No último dia primeiro, a AGEMT recebeu o geógrafo e diretor do Instituto Cidadeapé, Oliver Cauã na PUC-SP. Em entrevista, Oliver explicou um pouco sobre o funcionamento do instituto e os desafios que encontra ao abordar o tema de mobilidade urbana, principalmente em uma grande metrópole como São Paulo, repleta de interesses econômicos e desigualdades em todos os aspectos. 

Criado em 2015, durante a gestão Fernando Haddad, o Cidadeapé é um instituto que visa promover uma mobilidade urbana mais acessível e democrática a todos. Atuando como um mediador entre a sociedade civil e a gestão governamental local, tem papel complementar de cobrar o Estado a tomar atitude em relação à questão da mobilidade urbana, ouvindo e levantando pautas trazidas pelos cidadãos, ao mesmo tempo em que os incentiva para também reivindicar por melhorias para aqueles que desejam se locomover a pé pela cidade. 

Durante a entrevista, o diretor expõe os desafios encontrados pelo instituto ao tentar desenvolver seu trabalho, segundo ele, um dos principais desafios é o diálogo com o atual governo à frente da Prefeitura do Estado de São Paulo, que banaliza o tema e inviabiliza o diálogo, “Parece que estamos na década de 80, com Paulo Maluf”, afirma. 

“O caminhar é o modal mais utilizado no Brasil”. Poucos sabem desse fato, que não é divulgado a conhecimento público, pois apenas sabendo o quão essencial é o caminhar no país é que se desperta o olhar para reivindicar ações de melhoria das condições das calçadas e ruas por parte da prefeitura. Segundo o geógrafo, o caminhar se torna amplamente utilizado pois é usado para realizar pequenos deslocamentos que não são contabilizados.

Importantes iniciativas trazidas por ele no bate papo são, por exemplo, o alargamento das calçadas e a redução da velocidade dos carros, afinal o excesso de velocidade dos automóveis está entre os principais fatores de risco no trânsito. Oliver ainda destaca a importância de nós, enquanto cidadãos, cumprirmos o nosso papel e cobrarmos os órgãos responsáveis para que medidas efetivas sejam tomadas. Para fazer a nossa parte, podemos contribuir com denúncias na central 156, que também funciona pelos canais telefônicos ou nos associarmos ás ONGS e Institutos de Mobilidade Urbana e participar dos diálogos com a prefeitura, além de participar das manifestações. Com o intuito de participar, as informações sobre as reuniões nas redes sociais e no site do Cidadeapé.

Para conferir a entrevista completa em vídeo, acesse o link: https://youtu.be/ig_EjFsP6Pk. Recomendamos que a qualidade de reprodução seja alterada para HD, para que tenha uma melhor experiência. 

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Lorena em Campinas, Mariana em Limeira e Júlia em Bauru. Elas contam como foi o processo de cada uma.
por
beatriz preto gabriele
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15/11/2022 - 12h

Por Beatriz Gabriele

Com o fim do colégio, as mudanças entram com tudo na vida dos jovens. A hora de fazer escolhas importantes chega e é necessário lindar com um turbilhão de emoções. Escolha de curso, vestibulares, sair de casa e lidar com a saudade são algumas das principais sensações. Lorena, Júlia e Mariana passaram por todas essas questões.  As três viveram a mesma experiência de passar na faculdade, mas vivências muito diferentes na hora de mudar.

Lorena Martinez, que cursa Psicologia na PUC Campinas, conta que como passou na faculdade no início da pandemia, teve bastante tempo para se planejar e como ingressou no período de quarentena começou as aulas por EAD e teve o tempo de um semestre inteiro para se planejar com calma.

Já Mariana Okada, que se mudou de São Paulo para Limeira para cursar Ciências do Esporte teve uma experiência bem diferente. Quando foi aprovada, as aulas já tinham iniciado, então precisou se mudar com urgência. O lugar que encontrou foi uma República e começou a morar com várias meninas, mas mesmo assim, ela explica que não se adaptou e saiu,. Aos poucos, procurado casas e kitnets para morar, sempre levando em conta o conta o valor já que, como tudo foi muito rápido, ela não se planejou para morar com ninguém nesse semestre “Só no ano que vem” 

A estudante de Arquitetura, Urbanismo e Paisagismo Júlia Catelli, se mudou para Bauru em poucas semanas. Ela conta que foi de São Paulo para Bauru e neste tempo teve que buscar o melhor bairro e entender a dinâmica da cidade. Em São Paulo morava com os pais e com a irmã. Já hoje, mora com uma amiga que veio junto. Júlia conta das dificuldades práticas de se mudar para uma cidade mais de 370 quilómetros de distância. Uma dessas dificuldades foi trazer todas as suas coisas e organizar sua casa de maneira que conseguisse compreender a dinâmica do novo espaço. 

Sobre o processo de adaptação, elas contam que continuam a se adaptar. Júlia, que se mudou em abril de 2022, diz que ainda está aprendendo a lidar com a cidade que é muito diferente de São Paulo. Para ela, lidar com o tempo é um desafio. Compreender seus compromissos, responsabilidades, separar e dividir o tempo entre limpeza e vida social é uma dificuldade. Essa transição de cabeça mesmo, de ter que ligar uma chavinha de ‘opa, aqui você tem que se virar sozinha”. 

Para a Lorena a adaptação é constante, ela conta que desenvolveu sistemas para cuidar da casa, estudar e cozinhar. Ela conta que busca entender o sistema que funciona melhor para ela, o que faz sentido e o que não faz. Essa busca, segundo ela, a mantem no processo de adaptação. ”Então eu acho que eu estou continuamente me adaptando”.

Mariana pontua “apesar de ter sido muito atropelado, as coisas estão começando a se construir”. 

Sobre a rotina, as três se mostram focadas para tentar administrar o tempo e a vida social. Como as três cidades são universitárias o os eventos não param de acontecer, sendo assim, fica mais difícil organizar a vida. 

Mariana conta que além das matérias, ela começou agora uma iniciação científica e está na atlética da universidade. “São muitos compromissos, muitas responsabilidades”. A estudante conta que faz um cronograma para conseguir se organizar e ter uma base. “Eu tento limpar pelo menos a minha casa no final de semana porque a minha casa não é grande (...) então dá pra arrumar todo final de semana, dia de semana quando dá tempo”

Júlia faz o mesmo esquema de cronograma e vai marcando conforme completa as atividades. Como Bauru é uma cidade universitária, ela conta que é difícil de ser organizar com festas e compromissos sociais durante as semana. 

Sobre a saudade, talvez a maior dificuldade de todo esse processo, Júlia pontua que tenta abafar a saudade mas ela “coexiste com a gente”. Apesar de ser cansativo, ela conta que pode ir par São Paulo quando quiser, mas lembra: “no dia a dia é uma coisa constante e acho que o jeito de aprender a lidar é viver com ela e também ligando, ter esse contato online”. 

Quem também conta desse contato virtual com a família é Lorena. Apesar do contato existir, ela conta que sente mais falta de quem fala menos “eu sinto mais falta de ter um contato próximo com minhas avós, meu irmão, com pessoas que eu não costumo falar muito por mensagem. Eu acabo sentindo essa distância”Diferente de Júlia, Lorena sente mais saudades em momentos específicos: “Eu sinto que no cotidiano, como eu tenho muitas coisas para fazer, eu acabo não dando muita atenção para a saudade (...) mas ela se faz muito presente quando eu estou em São Paulo e vou voltar pra cá, no caminho de volta eu fico com o coração apertadinho, ou quando meus pais vem me visitar e a gente faz alguma coisa por aqui, são momentos que aperta o peito, assim  de saudade”. 

Mariana sente mais saudades à noite quando está sozinha “tem dias de noite que eu me pego pensando no que que está acontecendo em casa, saudade do meu irmão, das nossas conversas à noite, de dormir no mesmo quarto mesmo porque antes eu tinha companhia toda a hora e agora eu estou sozinha. Acho que é uma questão que você vai acostumando”. Mariana também pensa que só talvez no último ano da faculdade entenda tudo o que passou. “A cada momento é uma coisa nova que eu descubro ou uma coisa nova que acontece”. 

Nos três casos, a maneira que as jovens encontraram em comum para lidar com a saudade é visitar quando dá e ligar quando sente falta. Elas mostram que, existem dificuldades, mas não é preciso desistir dos sonhos e dos objetivos por conta desses obstáculos. 

 

 

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A primeira edição do festival preenche o Allianz Parque e junta público diversificado com bandas de rock de diferentes gerações.
por
Luana Barros Galeno
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15/11/2022 - 12h
Banda Fresno abre GP Week
Banda Fresno abre GP Week

Neste sábado (12), ocorreu a primeira edição do festival de música GP WEEK, na cidade de São Paulo. Com shows de Fresno, The Band Camino, Hot Chip, Twenty One Pilots e The Killers.
Em referência ao ‘Grande Prêmio’ de Fórmula 1, o evento trouxe bandas que caminham entre sub estilos do rock e atraíram públicos de todas as idades. Com performance eletrizante de Twenty One Pilots e The Killers, a GP Week conquista espaço no grande calendário de festivais da cidade.

Fresno, a única banda brasileira a participar, abriu a sequências de shows às 14 horas e trouxe aos palcos o emo, juntando clássicos com novidades para conquistar a plateia que timidamente começava a preencher o Allianz Parque. Lucas Silveira, vocalista, finalizou a participação do grupo questionando o fato de ser apenas uma banda com canções em português, mas instigou os ouvintes a valorizarem o som nacional com uma versão de Eva, originalmente da Banda Eva, que foi cantada por todos ali presente. 

The Band Camino canta pela primeira vez em solo brasileiro.
The Band Camino canta pela primeira vez em solo brasileiro.

As homenagens ao Brasil não acabaram por aí, pois The Band Camino não poupou palavras para descrever a emoção de, pela primeira vez, tocarem no Brasil - e na América Latina. Pela formação recente, a presença de um público significativo em outro território pareceu surpreender os musicistas, pois não deixavam de agradecer recorrentemente a presença de todos. Aproveitando a oportunidade, convidaram ao palco Mateus Asato, guitarrista brasileiro, famoso internacionalmente por ter tocado com Bruno Mars e Jessie J. Vestidos com a camisa do Palmeiras, a banda encerrou sua participação com uma energia contagiosa. 

A banda The Hot Chip, criou um clima ainda mais animado para as bandas mais esperadas da noite, Twenty One Pilots e The Killers. O primeiro transformou o estádio às 19:00, o uníssono dos ouvintes era eletrizante e a entrega do duo incomparável. Com momentos surpreendentes, como a escalada da torre de apoio pelo Tyler Joseph e a bateria em cima da plateia por Josh Dun, a banda cria mais um show inesquecível em solo brasileiro. A interação com o público foi fundamental para que pudessem ser considerados os protagonistas da festa, sendo ovacionados ao finalizarem com “Heathens”.

O atestado da união de gerações ficou ainda mais claro com o show de The Killers, que encerraram a noite. O Allianz, que à tarde encontrava um público mais jovem, encarava durante o show espectadores maduros, mas com a vitalidade de Brandon Flowers, vocalista da banda. Com as letras na ponta da língua, os 50 mil presentes, entregaram todos os hits da banda de forma excepcional, demonstrando que a pergunta de Brandon “vocês esqueceram da gente?” era apenas ironia. Porém, um destes fãs foi convidado ao palco para tocar “For Reasons Unknown” e o fez perfeitamente em meio a aplausos e gritos. A GP Week conquista através das atrações e do público, o espaço necessário para se consagrar como mais um festival paulista no calendário nacional. 

Twenty One Pilots ganha protagonismo no festival
Twenty One Pilots ganha protagonismo no festival

 

Trilhos e melodias entrelaçados na capital da desigualdade
por
Gabriela Figueiredo Rios
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11/07/2022 - 12h

O sol da tarde entra pelos vidros do vagão moderno que corre para o centro de São Paulo, os rostos se viram, olham e voltam para as telas de brilho artificial, alguns continuam a observar. A cantoria que vem do lado tem história, tem poder, objetivo, e vem de dentro, do vagão e da alma. “a rotina do vagão é uma terapia realmente... e a música transformou a minha vida, não só por ela pagar as minhas contas hoje, mas por tudo que ela já fez, as coisas que já vivi foi através da música, através do vagão, e transformar o dia das pessoas é uma coisa que não tem preço”.

Em dupla, me contam suas histórias. Guitta tem 34 anos, carioca, vivia em Volta Redonda e veio para São Paulo em 2009. Após ter perdido a família, explica, em baixo tom e meio rouco, que morou na rua por muito tempo, “conheci muitas “coisas boas” né, as drogas, a cola o crack”. Acolhido por uma ONG, que lhe deu a oportunidade de aprender a tocar instrumentos, saiu das ruas para trabalhar com a música. É aquele que não põe valor em transformar o dia dos outros e se dispõe a ser transformado.

“São várias situações malucas que você pensa: só no vagão para acontecer isso, a pessoa se levantar e falar com você “posso te dar um abraço? Você cantou uma música que lembra do meu filho e eu não tenho mais meu filho hoje aqui” e se derramar em lágrimas, ou “perdi meu pai, precisava ouvir alguém”. São situações que a música coloca a gente, não tem preço, não tem valor, não tem moeda que pague um negócio desses”.

Do lado esquerdo, atrás do corrimão das escadas que encostei no meio da estação, ouço o Dagmar, de 26 anos, filho de pastor, aprendeu a tocar no ministério e vive no mundo da música desde os 13 anos. Enxerga o metrô como uma escola, aquela que melhora a qualidade do som e mostra a variabilidade do público, do povo. O objetivo de Dag é ser a voz da sociedade brasileira.

“A arte é uma forma de expressão, e tem muita gente que se cala diante de coisas que não são para ficar quieto, então a arte ajuda a gente a falar, a arte é a voz do povo. Botar a boca no trombone, você se expressar dentro de uma letra, de uma canção, é maravilhoso”. Quem não gosta, quem reclama e não ouve não foge ao seu foco, o músico está nesse mundo para mudar opiniões.

No vagão, a música é o instrumento. Dois homens e dois violões, carregam o sonho de gravar CDs e eternizarem suas vozes e mensagens, salvam vidas. A dupla canta MPB, samba, rap, forró e o que a Música Popular Brasileira permitir de encaixe. Ambos lembram aos que se sentam nos bancos azuis o legado de protesto, paz, amor e vida que a música brasileira carrega. Cantando todos os dias pelas estações da linha vermelha, os itinerantes já viram e viveram todo tipo de histórias e criticam fortemente a vida forçada dos seres da capital.

“Hoje os valores infelizmente estão sendo invertidos, o sistema obriga a gente a viver uma vida monótona, uma vida sem muitos prazeres ou até objetivos nossos, pessoais, só de pagar as contas e viver um dia de cada vez assim... o stress, a depressão é o que rola, é a doença do século, e a gente está para combater isso, através da arte, da música e da cultura”, explica o carioca.

Dag conta que já se deparou com várias pessoas no metrô que estavam prestes a se jogar na linha, “cê olha, canta, faz um som e tenta uma forma de comunicação, isso muda o dia das pessoas”. E esse é o cenário brasileiro e dos cantores que fazem para além de música. A pandemia rendeu 25% de aumento nos casos de depressão e ansiedade no mundo em seu primeiro ano, segundo a OMS, e atingiu o cotidiano de todos por aqui. A tensão é aliviada com a arte, tanto para o artista quanto para o público.

Vivendo no centro da desigualdade da cidade, os artistas criam uma consciência social que seria impossível sem a vivência das ruas e dos trajetos. O som é influenciado pelo cotidiano, pela vida na cidade, e cada detalhe é reparado. A mulher que anda no escuro sem segurança, os hospitais sem leitos, as mortes de frio na rua, são os sintomas reconhecidos da negligência do Estado e da crise do atual governo. O destino do balanço das cordas dos violões não é só entretenimento, como aquele que passa na TV, o agro passa longe de ser pop por aqui, a ideia é lembrar às cabeças baixas que “está tendo uma guerra, é só olhar para o lado e você vai ver”.

A desigualdade é a realidade e as palavras ritmadas são o melhor jeito de gritar. Guitta deixa claro quando me diz que esse trabalho “é relatar nossa vida, você vai no interior, vê o sertanejo contando o que ele vive ali, vai na periferia e vê o rap, é a realidade dele, a nossa realidade é um tapa na cara, a desigualdade social, essa coisa de classe, a pessoa não conseguir comer direito uma vez ao dia, e por quê? O que a gente fez para merecer todo esse destrato. A gente precisa falar disso, a fome e a miséria ainda existem no Brasil, o país que joga toneladas de comida fora”.

            Conduzido pela Rede PENSSAN e divulgado no início de junho, o Inquérito Nacional de Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil aponta que 33,1 milhões de brasileiros vivem em situação de fome no país. Eram 19,1 milhões no fim de 2020.

            São duas vidas, dois narizes que respiram Brasil, no estilo cantado e na realidade individual. Os seguranças estão ali para lembrá-los todos os dias que os seus sons estão fora da legalidade, segundo o site do metrô, tem que se inscrever para cantar por lá, e quando a empresa decidir, mas eles lembram aos passageiros que eles estão ali para “ficar bem à vontade e na verdade são assim, descobridores dos sete mares”.

            Depois de perguntar sobre como os passageiros reagem, eu, a entrevistadora , virei o foco. “como você reage quando alguém entra cantando no vagão?”. Minha própria resposta de passageira foi de que ajudo quando posso, mas sempre presto atenção. Os artistas me explicam que lidam com todo tipo de gente, os que se incomodam, os que gostam… e aproveitam para me perguntar sobre a vida de jornalista. “e no seu trabalho? Como as pessoas regem?” Os itinerantes não passeiam apenas pelos vagões, mas pela vida real daqueles que passam por eles. Expliquei os desafios de ser repórter e entrevistar pessoas em diferentes condições, nunca se sabe o que vai chegar até você.

Conversamos um pouco sobre os lugares que conhecemos pelo Brasil antes de me convidarem para ouvi-los tocar no trajeto de uma linha que vai conectando nossas vidas. Para minha surpresa, os dois já caminharam por cidades da Bahia, o Estado de onde vim.

            E ao som de “Descobridor dos Sete Mares” do Tim Maia, na voz de Guitta e Dagmar, viajo até a nossa última parada, sobre as linhas de ferro do metrô, que se encaixam nos versos Populares Brasileiros das próximas estações e nas linhas de outras vidas.

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