Mesmo após avanços na ciência, a saúde feminina continua sub-representada em pesquisas e consultas. O corpo das mulheres segue sendo tratado como exceção.
por
Helena Costa Haddad
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27/10/2025 - 12h

Por Helena Haddad

 

Apesar de representarem metade da população mundial, as mulheres continuam sub-representadas nas pesquisas médicas. A lacuna nos ensaios clínicos compromete a eficácia, a segurança e a equidade dos tratamentos disponíveis hoje. Segundo levantamento publicado na Nature Medicine (2024), menos de 35% dos estudos clínicos globais incluem dados diferenciados por sexo, e apenas 20% consideram como os medicamentos afetam homens e mulheres de forma distinta. Até 1993, o Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos (NIH) proibia a participação de mulheres em idade fértil em ensaios clínicos, sob o argumento de proteger possíveis gestações. O resultado foi uma medicina construída sobre o corpo masculino como padrão universal: dosagens, efeitos colaterais e até sintomas de doenças graves, como o infarto, foram definidos a partir de corpos de homens jovens e brancos.

Durante décadas, o corpo feminino foi visto como instável, hormonal e difícil de estudar — uma percepção que moldou uma ciência que não representa as mulheres. Até hoje, muitos sintomas femininos são subestimados ou confundidos com causas psicológicas, explica a psiquiatra Maria Franco.

Casos recentes reforçam a urgência dessa discussão. Um exemplo é o medicamento Zolpidem, usado para insônia. Estudos mostraram que as mulheres metabolizam a substância mais lentamente, o que faz com que acordem ainda sob efeito sedativo — aumentando o risco de acidentes. A FDA já havia reduzido pela metade a dose recomendada para mulheres em 2013, e, em 2024, a Anvisa atualizou as bulas no Brasil após relatos de efeitos adversos graves, como sonambulismo e confusão mental.

Um estudo publicado na Biology of Sex Differences em 2024, analisou 86 medicamentos aprovados pela FDA: em 76 deles, as mulheres apresentaram maior concentração da substância no sangue, e em 96% dos casos isso estava associado a maior incidência de reações adversas — como náusea, tontura e arritmia. Em resumo, a maioria dos remédios vendidos hoje ainda é testada e dosada para corpos masculinos.

O corpo feminino possui diferenças de massa magra, gordura e metabolismo hepático. Essas variáveis interferem diretamente na absorção e eliminação de medicamentos, explica a psiquiatra.

A desigualdade de gênero também aparece no atendimento médico. Em 2024, um levantamento do Instituto Patrícia Galvão apontou que 61% das mulheres brasileiras afirmam não se sentirem ouvidas por profissionais de saúde. As queixas vão de dores crônicas desconsideradas a diagnósticos errados de doenças cardíacas, endometriose e lúpus. Casos como o de Lidiane Vieira Frazão, que morreu 22 dias após o parto durante a pandemia de Covid-19, sem atendimento adequado, ilustram o impacto disso. A família denunciou o hospital por violência obstétrica e negligência médica. 

O viés masculino na medicina é tão antigo quanto a própria ciência. A partir do século XIX, o corpo feminino passou a ser tratado como “anômalo” — sujeito a histerias, desequilíbrios hormonais e instabilidade emocional. Essa visão ainda ecoa em práticas clínicas e diagnósticos enviesados. A Organização Mundial da Saúde reconhece que o viés de gênero é uma das principais causas de erro de diagnóstico no mundo. Não basta incluir mais mulheres nos testes. É preciso mudar o olhar, considerar o ciclo hormonal, a gravidez e a menopausa, conclui a Dra. Franco.

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Apesar da eficácia na prevenção do HIV, mulheres têm acesso limitado à medicação
por
Maria Dantas Macedo
Pedro da Silva Menezes
Yan Gutterres Ricardi
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24/09/2025 - 12h

Desde 2017, o Brasil oferece gratuitamente a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), método de prevenção eficaz contra o vírus HIV, disponível no Sistema Único de Saúde para qualquer pessoa sexualmente ativa, maior de 15 anos de idade. Na prática, o remédio é amplamente divulgado entre homens, especialmente da comunidade LGBTQIA+, enquanto as mulheres ficam excluídas dessa prevenção. 

Segundo dados do Ministério da Saúde publicados no Boletim Epidemiológico sobre HIV em 2023, 35% dos brasileiros que continham o vírus do HIV eram mulheres, representando cerca de um terço dos novos casos no Brasil todos os anos. Além disso, 80% dos casos de infecção por HIV entre mulheres se deu em relações heterossexuais, evidenciando uma vulnerabilidade específica. 

A PrEP é uma ferramenta promissora para elas, que podem usar o remédio para prevenir a infecção pelo HIV. Tanto as solteiras quanto as que estão em um relacionamento mas não sabem do histórico de testagem para infecções sexualmente transmissíveis do parceiro ou parceira correm o risco de infecção quando fazem sexo sem camisinha. 

Porém, neste ano, somente 8,8% dos usuários de PrEP foram mulheres cisgênero e 3,2% mulheres trans. A infectologista Camila Bicalho explica: “As mulheres não têm informação ou conhecimento sobre a prevenção, que pode ser utilizada por elas”. 

“Por muito tempo, a utilização do preservativo como único método de evitar casos de HIV era a única saída. Hoje, a prevenção passa por várias medidas, uma delas é a PrEP. Se utilizada corretamente reduz o risco de contrair o HIV por meio de relação sexual em até 90%, e por meio de compartilhamento de drogas injetáveis em até 70%.Quando pensamos em saúde pública, o impacto da PrEP é a diminuição de novos casos de HIV”, segundo doutora Camila. 

O QUE É PrEP? 

A Profilaxia Pré-Exposição prevê o uso de um comprimido usado antes da relação sexual que impede que o HIV se multiplique no organismo. O comprimido combina dois medicamentos (tenofovir e entricitabina) que bloqueiam alguns “caminhos” que o vírus usa para infectar o organismo. Assim, mesmo que a pessoa entre em contato, a infecção não se instala. A utilização pode ser diária ou sob demanda (somente quando a pessoa tiver uma possível exposição de risco ao vírus). 

É recomendado o uso da prevenção para pessoas que estão em um relacionamento sexual com um parceiro ou parceira que vive com HIV, não use preservativos regularmente, tem um ou mais parceiros sexuais com status de HIV desconhecido, estão envolvidos em um trabalho sexual comercial, teve uma doença sexualmente transmissível bacteriana recente ou usou drogas injetáveis ​​nos últimos seis meses. 

Mulheres cisgênero, pessoas trans ou não binárias designadas como sexo feminino ao nascer,  e qualquer pessoa em uso de hormônio a base de estradiol, que queiram fazer o uso de PrEP oral diária, devem tomar o medicamento por pelo menos 7 (sete) dias para atingir níveis de proteção ideais. 

A PrEP sob demanda deve ser utilizada com a tomada de 2 comprimidos de 2 a 24 horas antes da relação sexual,  +1 comprimido 24 horas após a dose inicial de dois comprimidos +1 comprimido 24 horas após a segunda dose. 

É possível pegar o medicamento em serviços de saúde do SUS, como UBSs, bem como em farmácias da rede privada com receita médica. Em São Paulo, pode usar o aplicativo e-saúdeSP para encontrar a PrEP ou pegar em máquinas de distribuição nas estações de metrô. 

O ESTIGMA 

Apesar da relevância preventiva, muitas mulheres não aderem ao medicamento ou nem sabem o que é. A doutora Camila explica que, até a revisão de 2022, a PrEP foi direcionada sobretudo a “populações vulneráveis”, o que na prática priorizou homens que fazem sexo com homens e travestis/trans. “As mulheres, até 2022, não eram consideradas como população vulnerável para uso de PrEP”, diz a médica.

Ainda assim, segundo a doutora, a histórica sub-representação das mulheres em pesquisas sobre a PrEP pode ter sido um dos fatores que contribuíram para a baixa adesão: “Algumas hipóteses foram levantadas, como, por exemplo, o fato de as mulheres cisgênero não terem sido incluídas nos primeiros estudos de avaliação da PrEP, inclusive com retratação de alguns laboratórios que se comprometeram a incluir mulheres cisgênero nas próximas avaliações.”

Ensaios clínicos como o VOICE e o Fem-PrEP mostraram resultados positivos pouco expressivos em mulheres. Isso ocorreu principalmente pelo uso inconsistente da medicação e a falta de campanhas voltadas ao público feminino. Mais do que limitar conclusões científicas, essa realidade contribuiu para alimentar a ideia equivocada de que a PrEP “não era para mulheres”, quando o que faltava era suporte à adesão e estratégias de comunicação adequadas. 

Mas, ainda segundo a infectologista Camila, ainda há muitas outras possibilidades para a baixa adesão das mulheres “como o fato delas se sentirem seguras em uma relação heterossexual e abandonarem a utilização do preservativo, sem buscar outra forma de prevenir as infecções pelo HIV”. “Além disso, os serviços ginecológicos, onde as mulheres frequentam anualmente para fazer o papanicolau e também a mamografia, não discutem com essas mulheres a possibilidade da PrEP.”, acrescenta ela. Os profissionais de saúde, quando não são devidamente treinados, deixam de mencionar a opção ou o fazem de forma estigmatizante, afastando as pacientes.

Para Myrt Cruz, professora e doutora em Ciências Sociais da PUC SP, essa falta de conhecimento sobre a prevenção tem a ver com uma barreira social: “Não é uma decisão deliberada de uma mulher não acessar a sua própria saúde, aos recursos disponíveis para a sua própria saúde; mas há um julgamento moral, há um machismo estrutural que impede e dificulta que ela acesse esses recursos.”

A professora explica que “o machismo estrutural faz com que essa mulher, muitas vezes, confie cegamente nesse parceiro com quem se relaciona, sem ter uma visão crítica de que esse parceiro pode estar tendo relacionamentos sexuais com outras pessoas. Essa é uma ideia muito estigmatizada e complicada, que foi, durante décadas, dissuadida pela mídia. Então, há um desconhecimento, uma ignorância em torno do que se trata e a necessidade de desconstruir esse estigma”.

Em contextos de violência de gênero, dependência econômica ou restrição de autonomia, a capacidade de negociar o uso do preservativo é limitada, e o acesso a alternativas como a PrEP fica ainda mais comprometido. Desigualdades de renda, baixa educação em saúde sexual e reprodutiva também influenciam negativamente a busca e a permanência no uso da medicação.

Assim, barreiras sociais e culturais limitam o acesso das mulheres ao diagnóstico e tratamento precoce do HIV. A ausência de campanhas voltadas ao público feminino reforça a falta de informação, enquanto o estigma em torno do uso, frequentemente associado à promiscuidade ou a práticas sexuais consideradas de risco, acaba gerando receio e vergonha.

“Há necessidade de que as universidades, centros de pesquisa, centros comunitários se apropriem desse discurso, do conhecimento e trabalhem de um jeito que chegue até essa mulher, de forma clara, objetiva, que atinja elas”, declara Myrt. 

A PrEP é uma ferramenta poderosa, mas que só cumprirá seu papel se estiver acessível a todas as pessoas que dela necessitam, especialmente aquelas que historicamente foram invisibilizadas. Incluir as mulheres é uma questão de justiça social e de saúde pública. O combate ao HIV precisa ser coletivo e livre de preconceitos. E isso começa com o reconhecimento de que a prevenção também é e deve ser para elas. 

 

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Tema em alta atravessa diferentes núcleos sociais como trabalho, práticas esportivas e afazeres domésticos
por
Fernando Amaral
Guilbert Inácio
João Paulo Moura
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06/10/2025 - 12h

O alvorecer do dia começa a despontar no horizonte, e milhares de meninos e meninas acordam para assumir responsabilidades que deveriam ser exclusivas do mundo adulto. Nas cidades, oferecem balas nos semáforos; no campo, ajudam na colheita; em lares da periferia, cuidam dos irmãos menores. Esse dia a dia revela mais do que trabalho precoce, é a adultização forçada. 

De acordo com relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), 138 milhões de crianças se encontravam em situação de trabalho infantil em 2024. Dentre elas, 61% dos casos estavam no setor agrícola, e 54 milhões ocupavam cargos de perigo à integridade do menor. 

No Brasil, os dados também são alarmantes. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do IBGE, em 2023 havia 1,6 milhão de crianças e adolescentes entre 5 e 17 anos nessa situação. O número, embora menor do que há vinte anos, ainda apresenta uma dura realidade: 4,2% de toda uma geração que deveria estar apenas estudando, brincando e crescendo sem pressa. Entre eles, 586 mil enfrentam tarefas que colocam sua saúde em risco. 

As desigualdades regionais dão forma ao problema. No Nordeste, 506 mil meninos e meninas ajudam a sustentar suas famílias, seja na roça, seja em atividades informais nas cidades. No Sudeste, os semáforos e camelódromos mostram outra face do mesmo drama. Já no Norte, quase 7% das crianças dessa faixa etária trabalham. A cor da pele também pesa, crianças pretas e pardas, que já são maioria entre os mais jovens, representam 65% de quem trabalha antes da hora. 

A rotina é pesada. Mais de um quinto dos que estão no trabalho infantil enfrentam 40 horas ou mais de serviço por semana, jornada igual à de um adulto. Para os de 16 e 17 anos, quase um terço já vive essa realidade. A escola é um dos pontos mais afetados, enquanto quase todas as crianças brasileiras estão matriculadas, apenas 88% das que trabalham conseguem permanecer estudando. As outras veem a sala de aula ser substituída pelo balcão, pelo campo, pela rua. 

O prejuízo não é só educacional, a infância roubada também deixa marcas emocionais. Muitos aprendem cedo a conviver com a preocupação da falta de comida, com o medo do desemprego dos pais ou com a responsabilidade de cuidar dos irmãos. A pressa em amadurecer elimina o espaço do lúdico, das brincadeiras que ensinam a sonhar. 

Mesmo com a proibição legal para menores de 16 anos, com exceção aos aprendizes a partir de 14, a regra é constantemente rompida. Nas comunidades mais pobres, a urgência da sobrevivência transforma a contribuição das crianças em algo naturalizado, quase obrigatório. Assim, ser criança acaba parecendo um privilégio distante. Cada hora de trabalho antecipado é também uma hora a menos de estudo, de descanso, de prática esportiva, de futuro. 

Responsabilidades no esporte 

Esse cenário também afeta o desempenho esportivo de jovens atletas, que precisam tomar decisões e assumir responsabilidade muito cedo, sendo, em alguns casos, os principais provedores de fonte de renda das famílias. 

A fotografia mostra o atleta Cristian, sentado em um banco de reserva, olhando fixamente em direção à câmera. A foto está em preto e branco
Atualmente, Cristian atua no Centro Olímpico de Treinamento e Pesquisa (COTP) / Foto: R7fotografo

Em entrevista a AGEMT, conhecemos Cristian Alves Oliveira, um dos atletas que viveu essa realidade. Hoje em São Paulo, o jovem de 18 anos é originário de Belford Roxo na Baixada Fluminense (RJ) e veio sozinho para a capital paulista por causa de uma oportunidade que surgiu no começo do ano de 2025.  

Cristian chegou a São Paulo para ser o goleiro do Real Cubatense de São Bernardo dos Campos na Taça São Paulo, campeonato amador organizado pela Federação Alternativa de Desporto.  

"Eu só ia disputar esse campeonato e voltar para o Rio, mas, ao decorrer dessa competição, outras oportunidades surgiram: morar aqui e defender o clube que estou hoje. Essa chance surgiu em um momento que eu estava pensado em parar de jogar bola. Então quando recebi essa oportunidade de poder vir para São Paulo e jogar, eu agarrei como se fosse a esperança do meu futuro." Destaca o atleta. 

Presente desde sua infância, o futebol se tornou um objetivo na vida de Cristian quando tinha 15 anos. Em 2022, ele decidiu que queria viver disso, mas não conseguia focar totalmente no esporte, pois tinha que estudar e trabalhar. O goleiro lembra que arrumou seu primeiro emprego com 14 anos, em um Sacolão, para poder ajudar sua família.

"Comecei a trabalhar cedo para poder ajudar em casa e para ter minhas coisas. Eu tinha que dividir o tempo para treinar, trabalhar e estudar. Era uma rotina muito cansativa que eu tinha no Rio e, às vezes, tinha que sacrificar alguma dessas coisas porque atrapalhava um pouco no meu rendimento esportivo, mas eu não podia deixar de trabalhar e ajudar em casa."  

Três anos depois, o atleta está se dedicando só ao futebol. Ele conta que a vida na capital paulista é muito diferente de Belford Roxo, porém ele segue atrás de seu objetivo porque a família depende dele. “É uma rotina muito cansativa, mas é a oportunidade que eu pedia a Deus e ele está me proporcionando. Cheguei em São Paulo em 4 de janeiro e vim sozinho, um grande desafio para mim. Conviver longe da família não é fácil, tem que saber lidar com as emoções, saudades etc., mas sempre tento manter contato com eles porque assim ameniza um pouco as saudades.” 

A história de Cristian mostra um cenário recorrente em nosso país, pois, embora tenhamos diretrizes que regulam a prática esportiva de crianças e jovens como Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Lei Geral do Esporte (Lei 14.597/2023), outros mecanismos sociais inviabilizam a prática esportiva plena. 

Isso leva muitos, ainda novos, a abandonarem seus sonhos. Como exemplo, uma reportagem feita pela Folha de São Paulo em 2024 analisou a trajetória dos atletas que jogaram a Copa São Paulo de Futebol Junior, a copinha, em 2010. Segundo os dados obtidos, 36,9% dos atletas desistiram de tentar a carreira no esporte. 

Esses dados em um dos campeonatos mais importantes de formação de futebolistas são preocupantes. Vale destacar que o futebol é o esporte mais popular no país, ou seja, os dados em outras modalidades, como as olímpicas, devem ser mais críticos. 

O país até tem o programa Bolsa Atleta, que entrou em vigor em 2025 com o objetivo de patrocinar individualmente atletas e para-atletas de alto rendimento em competições nacionais e internacionais de sua modalidade. Contudo a maioria dos esportivas enfrentam inúmeras barreiras socioeconômicas até conseguirem chegar de fato nessas competições de alto rendimento, em que poderão vislumbrar um futuro mais otimista. 

Trabalho doméstico 

Entre as várias faces da adultização forçada, uma das mais silenciosas é a realidade de crianças que assumem tarefas domésticas para que seus pais ou responsáveis possam trabalhar fora. Longe de ser apenas uma “ajuda”, essa dinâmica transfere a elas responsabilidades que ultrapassam os limites da infância, comprometendo seu desenvolvimento emocional, social e até escolar. 

Catia Silene, psicóloga infantil, explica que, ao assumir papéis que não condizem com sua idade, essas crianças podem carregar marcas profundas para a vida adulta. “As crianças sobrecarregadas, com muitas responsabilidades inadequadas para sua idade, podem desenvolver ansiedade, estresse e um sentimento constante de pressão”, afirma.

Segundo ela, isso ocorre porque muitas vezes o esforço não é reconhecido, o que gera “baixa autoestima e a sensação de que nunca são boas o suficiente... é uma independência colocada em um lugar que não é dela”. 

A imagem, em preto e branco, mostra uma menina de costas olhando para uma pia.
Criança realizando tarefa domésticas / Fonte: Gênero e Número 

Em 2023, segundo a PNAD, da população estimada de 38,3 milhões de crianças e adolescentes, 52,6% (cerca de 20,1 milhões) realizavam afazeres domésticos e/ou tarefas de cuidado, sendo 69% de classes baixas e 57% meninas. Em famílias numerosas ou sem condições financeiras de contratar alguém para cuidar dos mais novos, é comum que o filho ou a filha mais velha seja encarregado dessa função. 

A psicóloga alerta que esse modelo pode desorganizar a noção de autoridade dentro do lar. “Às vezes os pais dizem: ‘cuida do seu irmão porque você é mais velho’. Mas esse jovem não tem maturidade para ocupar esse lugar e acaba recorrendo a formas punitivas ou ameaçadoras. Isso confunde quem é cuidado... quando isso se perde dentro da família, a confusão se projeta para a vida em sociedade” explica. 

Esse cenário, além de prejudicar a relação entre irmãos, pode gerar dificuldades sociais futuras. Uma criança que cresce sem referências claras de autoridade tende a apresentar comportamentos desafiadores e resistência a regras, tanto na escola quanto em outros ambientes. Apesar de, em alguns casos, ‘despertar’ um senso precoce de responsabilidade, a adultização no espaço doméstico tira da criança oportunidades essenciais de brincar, conviver com os demais jovens e aprender pela sua própria experiência pessoal. 

O debate sobre adultização infantil revela que, por trás da ideia de “ajuda em casa” ou de “responsabilidade precoce”, existe uma prática que limita direitos e impõe às crianças papéis que não deveriam assumir. Longe de ser um sinal de maturidade, trata-se de um processo que compromete a infância e pode deixar marcas para a vida adulta. 

Mais do que enxergar “pequenos adultos”, é preciso compreender também que se trata de um fenômeno ocasionado por desigualdades de gênero, classe e raça, do qual sobrecarregam as crianças. Encarar essa realidade como uma violação de direitos é um passo essencial para que a infância deixe de ser vista como apenas uma passagem para a vida adulta, mas sim como uma iniciação no mundo, com práticas de aprendizado, inocência e, além de tudo, protegidas. 

Associação Paulista de Apoio ao Transplante (APAT) alia acolhimento e ajuda financeira para pacientes na fila de espera
por
Khadijah Calil
Lais Romagnoli
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04/09/2025 - 12h

Diagnosticada inicialmente com fibrose hepática, que evoluiu para uma cirrose sem causa definida, Andréa Teixeira Soares aguardou oito anos por um transplante de fígado. Nesse período, perdeu três gestações e viu a incerteza se tornar rotina. Hoje, ela é coordenadora da Associação Paulista de Apoio ao Transplante (APAT) e ajuda outros que passam pela mesma experiência da espera por um órgão.


O Brasil é referência mundial em transplantes públicos: mais de 30 mil procedimentos foram realizados em 2024, segundo dados do Ministério da Saúde. Porém, no mesmo ano,  78 mil pessoas ainda permaneciam na fila de espera sem tempo estimado, com a procura maior por rins, córneas e fígado.


A situação de Andréa, que hoje atua na tesouraria da APAT, faz parte dessa estatística que aponta que a espera por um órgão compatível e a falta de acolhimento nesse período geram um novo obstáculo para quem precisa da cirurgia.

Andréa Teixeira Soares, coordenadora da APAT.
Andréa hoje atua na tesouraria da APAT. Foto: Khadijah Calil


Após passar pela operação e por um processo delicado de recuperação, Andréa foi convidada para atuar como voluntária na APAT, na casa que hoje é localizada no Cambuci, em São Paulo. “Eu sabia o que significava estar naquela fila e eu queria ajudar. A vida é uma troca, ninguém vive sozinho”, diz a coordenadora, à AGEMT.

Criada há 20 anos por médicos clínicos e cirurgiões da clínica Hepato, a APAT atende pacientes de outros estados que não conseguem permanecer em São Paulo durante o tratamento pré e pós-transplante e auxilia financeiramente e socialmente na permanência na capital durante esse período. Todo o trabalho realizado pela associação é mantido através de doadores, voluntários, ex-pacientes, médicos e entidades sociais.

Desde sua fundação em 2004, a instituição já realizou mais de 10,5 mil atendimentos e mantém uma casa de apoio que oferece estadia, alimentação, orientação psicológica, nutricional e acompanhamento médico para pacientes e acompanhantes vindos de diversos lugares do País.

Os pacientes chegam encaminhados por equipes médicas de diferentes estados quando estão próximos de receber um órgão e chegam junto a um acompanhante, para a internação, administração de medicamentos e cuidados individuais. Sem comprometer a autonomia dos transplantados, a associação enfatiza que o processo não termina na cirurgia e que cada órgão exige um protocolo de recuperação individual.

 Todo o trabalho realizado pela associação é mantido através de doadores, voluntários, ex-pacientes, médicos e entidades sociais.
Além do acolhimento social, a APAT atua no campo científico. Foto: Lais Romagnoli

Entre os que encontraram acolhimento na instituição está André, transplantado há 19 anos e diabético. Ele perdeu a visão, mas afirma ter ganhado uma nova percepção sobre a vida ao morar temporariamente no lar de apoio: “Eu agradeço pela oportunidade de poder viver bem, de ter esse suporte. Hoje eu não enxergo mais, mas posso ver além do que meus olhos me mostram. Sinto o carinho e esforço de todos aqui.”

Casos como o dele, que passou por um transplante duplo (rim e fígado), não são incomuns, mas aumentam o tempo de espera, já que o órgão precisa vir de um “doador falecido” – que tenha morrido de AVC, morte encefálica ou com morte causada por parada cardiorrespiratória, também de acordo com o Ministério da Saúde.

Além do acolhimento social, a APAT atua no campo científico. Médicos da clínica Hepato participam de pesquisas nacionais e internacionais, estágios no exterior e projetos de formação de equipes transplantadoras. A instituição também lidera o “Transplantes sem Fronteiras”, que apoia a criação de novos centros e casas de apoio inspirados nesse modelo.

“Nosso objetivo é impedir que pacientes abandonem o tratamento por falta de recursos. Muitas vezes, o transplante é a única chance de um recomeço”, afirma Andréa.

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Psiquiatras estão preocupados com jovens que fazem uso excessivo de vídeos curtos.
por
Martim Tarifa
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20/05/2025 - 12h

Segundo a psiquiatra Luciana Bagatella, estímulos gerados pelos vídeos liberam uma carga esgotadora de dopamina no cérebro. Uma carga tão grande acaba causando colapso nesse sistema, que agora exigirá estímulos mais intensos para alcançar o bem-estar, que antes era alcançado com estímulos muitos menores. “Assim, tarefas como trabalhar, estudar e praticar atividades físicas, ficam mais difíceis de serem desempenhadas”, afirmou Luciana.  

A Dra. alerta que os jovens podem ser os principais afetados, pois seu cérebro ainda está em desenvolvimento e eles são os principais usuários de redes sociais. Segundo ela, os vídeos têm impacto direto na saúde mental desses jovens: “Podem desenvolver transtornos psiquiátricos, tais como transtornos ansiosos, transtornos de humor, dependências, dentre outros.”  

Jovens entretidas por seus smartphones. Foto: Reprodução
Jovens entretidas por seus smartphones. Foto: Reprodução

O jovem de 17 anos Téo Lima desinstalou as redes sociais por conta dos vídeos curtos. Ele se deu conta que estava viciado e que o tempo que passava vendo vídeos curtos poderia ser mais aproveitado fazendo atividades mais úteis na opinião dele. Apesar de não se sentir afetado mentalmente, ele ouviu profissionais falando disso e desinstalou para se prevenir, porque não achava que aquele conteúdo contribuía em algo para sua vida. “Eu não queria ser afetado por esses vídeos, então desinstalei de forma preventiva”, disse ele.  

Sem mais vídeos curtos, Téo percebe que sente mais vontade de realizar outras atividades e aproveita mais seu dia. “Comecei a ler jornais, assistir programas de TV e ler mais livros do que eu lia antes.” No caso desse jovem, a informação foi fundamental para que ele percebesse como sua saúde mental estava vulnerável e decidisse parar de consumir esse tipo de conteúdo. 

Mas infelizmente, Téo é um caso raro, já que 41% dos usuários do TikTok no Brasil têm entre 16 e 24 anos.  Segundo o DataReportal o Brasil tem mais de 98 milhões de usuários ativos no TikTok, o que significaria mais de 40 milhões de jovens ativos no aplicativo.  

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A pobreza menstrual que milhares de pessoas ainda sofrem no país
por
Giulia Palumbo, Maria Luiza Oliveira, Rafaela Correa
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18/06/2021 - 12h

 

No Brasil, o acesso ao sanemamento básico é decisivo para o período menstrual. Estudantes podem perder até 45 dias de aula por não terem acesso a nenhum item de higiene básica para esta fase, o que leva a improvisar com os métodos, utilizando: pedaço de pano, papelão, papel e até miolo de pão. Neste podcast vamos tratar sobre essa realidade que milhares de pessoas ainda sofrem: 

 

Falta de acesso a itens básicos de higiene é uma realidade
Itens básicos de higiene para o período menstrual

 

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Podcast sobre os desafios da área da Saúde mental durante a pandemia.
por
Pedro Catta-Preta Martins e Luise Goulart
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17/06/2021 - 12h

No contexto da pandemia, mas abordando temas atemporais, Pedro Catta-Preta Martins e Luise Goulart buscam compreender a situação atual da área de saúde mental e seus desafios em meio ao isolamento social. Para tal, foram entrevistadas a psicóloga Any Carolina Ribeiro e a estudante Luana*, que lidou com quadros de síndrome do pânico e ansiedade durante o surto de Covid. As perspectivas das convidadas não se limitam a apenas explicar o presente momento, mas também discorrem sobre temas essenciais ao combate aos transtornos psicológicos em geral. Clique aqui para ouvir o podcast.

*Preservamos o sobrenome da entrevistada por questões de privacidade.

**Imagem: vectorjuice (freepik.com)

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Entenda porque um item rotineiro pode ser tão prejudicial para esfera ecológica e quais são as possíveis alternativas para frear os impactos negativos, sem que a higiene menstrual seja negligenciada
por
Ana Luiza Pêgo e Sofia Luppi
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15/06/2021 - 12h

Combater a pobreza menstrual é um dos desafios da gestão de políticas públicas globais. No Brasil, uma em cada quatro mulheres não têm acesso a absorventes, de acordo com relatório divulgado pelo movimento Girl Up - uma iniciativa parceira das Nações Unidas (ONU). 

Entretanto, em países como a Nova Zelândia e Escócia, a questão vem sendo endereçada com mais vigor. Em fevereiro de 2021, a primeira-ministra neozelandesa anunciou que as escolas do país vão distribuir gratuitamente o item de higiene. Já o parlamento escocês, no ano passado, determinou que a distribuição de absorventes e tampões seja feita para “quem precisar deles”.

Nos últimos anos, surgiu uma onda de conscientização no que diz respeito à obtenção de absorventes descartáveis. Contudo, colocar este produto como o único meio possível de solucionar a problemática, pode se tornar um transtorno ainda maior no futuro. Visto que os itens de higiene menstrual estão ligados à degradação do meio ambiente, explorar alternativas e possibilidades é essencial para encaminhar resoluções de impacto positivo a longo prazo. 

Para começar, é preciso entender os componentes que estão envolvidos na fabricação deste produto: árvores e petróleo são as duas matérias-primas principais. De forma que a primeira é a origem da celulose e a segunda, é processada e vira diversos tipos de plásticos, por exemplo poli etileno e propileno. Todos estes são elementos usados na composição do absorvente. 

Mãos segurando dois tipos de absorvente.
Dois tipos mais comuns de absorventes. À direita, absorvente interno e à esquerda, externo/Reprodução
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Entretanto, existem três problemas que decorrem da utilização desses dois itens. São eles: geração de resíduos, gasto elevado de energia e fiscalização da origem da matéria-prima, nesse caso a madeira. A National Geographic, em novembro de 2020, publicou uma matéria abordando esse tema. Na reportagem é afirmado que os absorventes descartáveis possuem três tipos de plástico diferentes na constituição. Ainda falando desse material, vale lembrar que os absorventes são envoltos em uma espécie de capa protetora e posteriormente, colocados em outra embalagem. Tanto a capa quanto o pacote são feitos de plástico. 

Em São Paulo, na Escola Politécnica da USP, foi realizada uma pesquisa sobre o ciclo de vida dos absorventes externos. Foi avaliada toda a cadeia produtiva, desde a produção, passando por logística e transporte, até o descarte. Os pesquisadores  concluíram que a pegada de gás carbônico deixada por um absorvente durante seu ciclo de vida é equivalente a 9,6 kg/ano. Prosseguindo com os dados do estudo, os pesquisadores ressaltaram que o algodão é um componente importante desse produto, isto leva ao problema do consumo de água na produção. Estima-se que cada quilo de algodão precise de 20.000 litros de água para ser utilizado como matéria prima.

O Instituto Akatu, que trabalha na área do consumo consciente, fez uma estimativa e afirmou que uma pessoa pode, durante a sua vida, produzir cerca de 200 kg de lixo somente consumindo absorventes descartáveis. Em um raciocínio simples, pensando que a maioria dos componentes do absorvente são plásticos e estes demoram mais de 400 anos para se decompor, cada pessoa pode ser co-responsável pela degradação do ambiente por 4 séculos.

Outro fator importante na etapa do descarte é o destino dos absorventes. A maioria deles é destinada a lixões e aterros sanitários. Nos dois lugares, os produtos passam anos até se decompor e podem acabar contaminando o solo, uma vez que estes contém elementos químicos na composição. Além disso, esses aditivos são prejudiciais para a saúde daqueles que lidam com esse lixo descartado. Vale lembrar que existe um grande número de absorventes que são descartados no vaso sanitário, atitude que contribui para a degradação dos oceanos e ecossistemas.

Como tentativa de resolução, algumas empresas vêm desenvolvendo alternativas e até mesmo a reciclagem desses materiais já começou a ser desenvolvida. No Reino Unido, a empresa “Knowaste” criou uma espécie de usina para reciclar esse lixo higiênico, transformando-o em madeiras ou telhas plásticas. A corporação calcula que nesse processo, 36 mil toneladas de carbono já deixaram de ser emitidas no meio ambiente. 

  Aqui no Brasil, são duas as opções mais comuns. O coletor menstrual e a calcinha absorvente. O primeiro, é mais antigo e comum, já que é prático e possui um interessante custo-benefício. Ele é lavável e pode ser usado por cerca de 10 horas. Uma das empresas que comercializa coletores, em território nacional, é a Fleurity e em seu site, eles garantem que quando bem cuidado, o produto dura 3 anos. Sobre valores, um coletor custa em média R$60 reais, o preço pode variar entre as marcas e modelos. 

A estudante de publicidade, Amanda Ardigó, 20 anos, relatou a sua experiência como utilizadora do produto. “[Minha experiência] foi ótima, sem falar no conforto. É muito melhor do que o absorvente, mais higiênico e você pode ficar mais tempo sem se preocupar com odor.” Quando questionada sobre a motivação da mudança de hábitos, a publicitária afirmou que “Com certeza foi o meio ambiente. Na realidade, foi a melhor opção tanto a longo prazo, na questão sustentável, quanto para o meu bolso.”

Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.
Amanda Ardigó. Imagem: Acervo Pessoal.

A Fleurity também vende calcinhas absorventes, contudo a empresa que lidera esse cenário é a Pantys. Marca brasileira e fundada por mulheres, a empresa trabalha com diversos modelos da peça íntima. Com opções para todos os gostos (e fluxos), a popularidade das calcinhas absorventes da pantys vêm crescendo. “O problema de acúmulo de lixo é um dos maiores que enfrentamos hoje e Pantys nasceu pensando na raiz desse problema, em reduzir o lixo dos absorventes descartáveis [...] e agora nos preocupamos também com o “depois”, afinal, não existe jogar nada fora, tudo se transforma em alguma coisa.” 

As peças são laváveis, reutilizáveis e prometem ciclos tranquilos e sem vazamentos. Em questão de valores, cada uma custa em média 80 reais. Vale lembrar que os dois produtos são testados, certificados e se utilizados da maneira correta, não apresentam risco nenhum à saúde.

Modelos da marca Pantys. Imagem: Divulgação
Modelos vestindo a marca Pantys. Imagem: Divulgação. 

 

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No Dia Mundial da Voz ouvimos alguns profissionais que utilizam a voz como instrumento principal de trabalho
por
Adriano Madruga, Giovanna Morais de Almeida, Victor Henrique Santos
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10/06/2021 - 12h

Microfones vermelhos pendurados em estrutura de ferro No dia 16 de abril comemoramos o “Dia Mundial da Voz”, dia destacado para reforçar e conscientizar a população sobre a importância da voz, e divulgar informações sobre doenças que possam impactar a fala, auxiliando assim as pessoas a identificarem possíveis sintomas e obterem um diagnóstico precoce.

Diversas profissões têm a voz como ferramenta principal de trabalho, entre elas temos cantores, radialistas, jornalistas, vendedores, fonoaudiólogos, professores, e tantos outros. Apesar de vital, muitas vezes a voz não é cuidada da forma correta, sendo levada ao desgaste o que prejudica as cordas vocais. A professora, Tânia Neves, 55, conta que durante as aulas presenciais os desgastes na voz eram frequentes. “Antes da pandemia trabalhava em período integral numa escola infantil, então o expediente se estendia das 7 horas da manhã até as 5 horas da tarde. Fazia algumas pausas no dia, mas na maioria do tempo estava falando o que gerava muito cansaço vocal. Houve semanas que mesmo com gargarejo, pastilhas e chá de gengibre acabei passando todos os dias rouca” diz Neves.

A professora fala também sobre como tem sido a rotina na pandemia, “Estou dando aulas remotas agora, e para não gerar desgaste nem nas crianças e nem nos pais que acompanham seus filhos nas aulas, reduzimos o tempo de aulas para 3 horas diárias. Em questão da voz isso ajudou muito, já que não passo mais o dia inteiro falando”, conta a professora. É recomendado que professores realizem aquecimentos vocais antes de longos períodos falando, mantenham-se hidratados bebendo cerca de 2 litros de água por dia e não façam refeições pesadas antes das aulas

O Consenso Nacional sobre Voz Profissional informa que cerca de 2% dos professores em atividade já foram afastados por licença médica ou restrição de função por problemas atribuídos a voz. Tânia conta como ‘driblou’ as consequências de horas falando e conseguiu amenizar o dano nas cordas vocais quando dava aulas presenciais, “Depois de alguns dias com dores de garganta passei no médico que me indicou repouso absoluto da voz e aconselhou que adquirisse um autofalante portátil para dar as aulas. Ao retornar as aulas com o autofalante foi um alívio, não precisava mais falar tão alto porque a caixinha de som tinha regulagem de volume e foi uma ‘sensação’ com as crianças, todas ficaram curiosas com o fato da professora dar aulas de microfone agora”.

Em entrevista com a fonoaudióloga Laura Leite, são apresentamos pontos fundamentais de sua profissão e a importância para diversos setores da sociedade, principalmente na comunicação "O Fonoaudiólogo é um profissional da área da comunicação e da saúde, nós nos preocupamos em como melhorar e tratar a voz de nossos pacientes, sem deixar de lado a importância de como ela deve soar! Trabalhamos em diversas áreas e setores da sociedade, e temos um trabalho crucial na hora de ajudar grandes comunicadores no país a transmitir de maneira limpa e clara a mensagem que o maior número de pessoas compreenda".

"Esse tipo de terapia consiste em construir uma nova identidade para a voz da pessoa, através de exercícios vocais e de respiração principalmente, podemos melhorar não apenas a voz em si da pessoa, mas outros problemas como a língua presa, que é extremamente comum no mundo todo, além da respiração em si, que é obviamente crucial a todos nós", conta a Laura sobre a terapia fonoaudiológica.

A fonoaudióloga informa também como é tratar problemas vocais, tal como a gagueira, "Em alguns casos, a cura completa principalmente da gagueira não ocorre, a pessoa pode infelizmente continuar com alguns pequenos "deslizes", mas através de um tratamento que pode levar um bom tempo, o resultado pode sair melhor que o esperado e melhorar muito a comunicação.
O "fanho" e o "gago" ambos passam por um problema latente no mundo todo que é a questão do bullying, principalmente na infância, isso pode causar marcas e problemas psicológicos e sociais que vão muito além da questão da voz, por isso temos uma grande responsabilidade, quando recebemos um paciente que sofre de algum distúrbio, em não apenas melhorar sua comunicação da melhor forma possível, mas integra-lo de uma maneira bem melhor na sociedade."

 No universo artístico, o uso da voz, principalmente entre atores e cantores, é uma ferramenta crucial para o trabalho.

O uso intensivo da voz pode fazer o ator perder uma peça importante e o cantor perder um grande show por exemplo, portanto, os cuidados que ambos devem ter com sua principalmente com suas cordas vocais.

Entrevistamos Tania Maria Barbosa, 50 anos, Tania durante grande parte de sua adolescência e infância cantou tanto em corais da escola quanto em corais de igreja, chegando até a fazer parte de competições de canto com seu colégio na época.

Tania disse que sempre tentou cuidar o máximo possível da voz, evitando de tomar e comer alimentos com temperaturas muito frias ou muito quentes, como sorvete e café respectivamente. Ela relatou ainda que devemos entender a voz como um músculo, e o canto se baseia nas várias formas que esse músculo se movimenta dentro da sua garganta, aliado as cordas vocais, que são a parte mais importante quando se trata da voz e do som que você quer emanar.

O quanto você ouve segundo ela, também é uma parte crucial para não desgastar suas cordas vocais.

“Estar em lugares com muito barulho, faz você desgastar sua voz ainda mais, pois aumentamos o volume da nossa fala, portanto ao aumentar esse tom, aumenta a força com que as cordas vocais tem de se mover e o choque entre elas, assim elas (as cordas vocais) ficam inchadas, gerando a rouquidão”.

Tania acredita que exercícios vocais deveriam ser incentivados para todos, não apenas para aqueles que trabalham com a voz diuturnamente: “Todas as pessoas deveriam saber preservar suas cordas vocais o melhor possível, pois é algo que vai te acompanhar por toda a vida”.

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Operadores de Telemarketing relatam o estresse e os problemas que adquiriram ou pioraram com o trabalho
por
Silvana Luz e Suzana Rufino
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07/07/2021 - 12h

Por Silvana Luz e Suzana Rufino 

Nessa pandemia, muitas empresas demitiram seus funcionários por não terem condições de pagá- los e arcar com as despesas. Porém, há aquelas que não só aumentaram a demanda de serviço como contrataram mais colaboradores, isto é, estão lucrando em meio a pandemia da covid-19, e são eles, os chamados calls centers. Segundo a Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing) as empresas de prestações de serviços empregam mais de 1,5 milhões de jovens e adultos com idade entre  18 e 29 anos. Nota-se que essa forma de trabalho é uma das mais rentáveis no momento,  porém quem ganha  não são os operadores, mas sim as empresas terceirizadas.

A média salarial é sempre de um salário mínimo com alguns benefícios, o horário de trabalho são de 6:20, 6x1 e as áreas são variadas como: ativo, receptivo/sac, híbrida, cobrança, retenção, chat e email. E agora, com essa nova fase da sociedade, essas empresas adaptaram seus serviços de uma forma remota, isto é, migraram seus operadores para trabalharem em casa, disponibilizando máquinas com o sistema já instalado, suporte via  Whatsapp, tudo para o colaborador atender  de uma maneira mais cômoda e eficaz possível. Vendo acima, até parece um emprego tranquilo e com várias atuações,   mas não, pois todos os dias os colaboradores sofrem as pressões absurdas, por que há metas a serem cumpridas em determinado tempo, e muitas vezes, além das cobranças, o assédio moral e até sexual surgem para piorar o contexto. A forma tranquila de se trabalhar com esse ramo nunca haverá, e mesmo com a continuidade de contratações, os operadores continuarão com as mesmas pressões e aumento de serviços.

Essa área é comum entre jovens e adultos na maioria universitários ou já formados, que ao não conseguirem um estágio  ou emprego,  optam por serem Agentes de atendimento, pois é o que tem naquele momento e a única forma de pagarem as contas e sustentar a família. Parece que não há escapatória, e o mais engraçado são que muitos, mesmo depois de formados, continuam os estudos para terem mais chances de conseguir um emprego melhor, mas percebe-se que a crise só piora, o emprego ideal não aparece e o telemarketing é a única opção de sobrevivência. Outra questão pertinente é ao perguntar aos colaboradores quanto tempo de call center, a resposta as vezes assusta, isto é, a maioria responde que já tem anos como operador, passando por várias empresas e sem chance de subir de cargo.

O dia a dia deles são sempre a mesma coisa, afirma a jornalista Renata Mendonça da BBC News Brasil do outro lado da linha, estão clientes irritados pelos problemas causados por uma empresa da qual muitas vezes você não é funcionário e sobre a qual não tem qualquer responsabilidade. No entanto, naquela ligação, é você quem personifica todos os erros   e os defeitos dela e, por causa disso, acaba sendo o alvo da ira de todos aqueles consumidores insatisfeitos. Os xingamentos vão desde "burro", "incompetente" e "ignorante" a até "você não presta para nada, por isso nunca      vai deixar de ser operador de telemarketing". Desligar o telefone não é uma opção, então a única alternativa é                          escutar os insultos calados.  E não dá tempo de respirar. Enquanto você tenta esquecer as ofensas que acabou de ouvir, o telefone toca de novo, e é preciso disfarçar rapidamente e dizer com a voz simpática: "Bom dia, senhor, em que posso ajudar?”.

Dito acima, esse é o cotidiano de vários trabalhadores que atuam nessa área, recebendo todas as reclamações dos consumidores das empresas filiadas, e também ligando para possíveis clientes para oferecerem serviços impertinentes. Segundo Mendonça “O profissional dessa área é frequentemente tachado de "chato" e "odiado" pelas pessoas. Mas, se a realidade é difícil para quem precisa de seus serviços, pode ser ainda pior para quem vive na pele essa rotina. A média de ligações diárias costuma ultrapassar as centenas (cerca de 300 nas 6 horas que trabalham conectados) – enquanto a média salarial dificilmente ultrapassa um salário mínimo, com algumas remunerações variáveis a depender das  metas a serem batidas”.  Apesar do trabalho agora ser em home office, a rotina repetitiva continua  a mesma ou até pior com a alta  demanda de serviço.  E claro, com isso vem o estresse, as dores por todo corpo,  a ansiedade e a depressão. Geralmente, a saúde mental pior  de uma tal forma que levam muitos atendentes a não se fixarem no emprego e terem que se consultar todo mês com o psiquiatra e psicólogo. E também, há aqueles que antes, já possuíam algum distúrbio, e no decorrer da pressão do call center, pioraram e tiveram que se afastar.

Diante desse cenário, o número de doenças diagnosticadas em pessoas que exercem essa função é crescente.  Somente na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing  (Sintratel),  existem aproximadamente 100 mil profissionais nesse segmento. Dados do sindicato relacionados a doenças do trabalho apontam que 36% sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz”, relata a Mendonça.

De acordo com psicólogos sociais, depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico são algumas doenças/distúrbios   psíquicos desenvolvidos ou piorados por operadores de telemarketing.

É como afirma Letícia Costa de 25 anos, que tinha o dia a dia estressante quando trabalhava na área.“Para mim era uma tortura, só de pensar já fico agoniada. Infelizmente a maioria de meus empregos foram em telemarketing, e pior, por voz. Em meu penúltimo, que também foi em call center, era uma escravidão, fazia várias funções ao mesmo tempo como: cobrança, ativo/vendas, receptivo/sac, suporte técnico, chat e email, enfim, sofria com crises de ansiedade direto. Fiquei por 2 anos, difícil de acreditar, mas não conseguia outro emprego. Na verdade esse foi o meu limite, mas lamentavelmente durou pouco, pois por não conseguir nada em minha área que é em Letras, resolvi me sujeitar ao telemarketing novamente. Já sabia como seria, então não criei expectativas de mudanças nesse ramo, porém como só faria uma função, pensei que seria menos pior, mas não, foi muito ruim. Levantava todos os dias com um aperto no peito, boca seca, ansiosa e desanimada. Segurei por quatro meses, depois disso comecei a ter várias crises em seguida, desmaiava nos transportes públicos, quando tentava ir não conseguia entrar na operação, por que já lembrava dos xingamentos dos clientes, cobranças da supervisora, gritaria no ambiente, falta de ajuda, tudo me apavorava. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada há três anos, desde lá tomei diversos remédios, me consultei com psiquiatras, só não pude fazer psicoterapia por falta de tempo e dinheiro. Pedi muitas vezes para minha supervisora me mandar embora, mas era em vão. Empresas como esta não mandam, não se preocupa com o operador, só quer lucrar. Em março, comecei a trabalhar em home office, pensei que diminuiria a cobrança e as ligações, mas não, piorou. 

"As ligações era todo momento, cobrança a toda hora, metas dobradas, por que na concepção deles, estar em casa é cômodo e dá para produzir mais. Me senti um gado, todos os dias levantava com vontade de desistir, porém as contas não perdoavam, tinha que continuar. Chorava todos os dias, rezava para acabar logo, e mesmo em casa, minhas crises não pararam. Por entregar vários atestados em menos de 60 dias, o RH em julho me afastou pelo INSS, ficando 30 dias sem trabalhar. Estava mal, não era só o psicológico, mas meu corpo começava a doer, tudo doía. Em agosto tentei voltar, mas não consegui e me afastaram novamente, dessa vez foi definitivo. Nesse meio tempo, me consultei com um psiquiatra e ele constatou que eu estava com depressão e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade, pois mal conseguia dormir e me concentrar nas atividades. De outubro do ano passado a fevereiro desse ano, o médico mudou meus remédio três vezes e com dosagem máxima. O trabalho, desde agosto estava afastada, recebendo praticamente nada do INSS, me virando de todo jeito para não faltar o sustento de casa, e em maio, pedi as contas. Hoje, o único trabalho que não enfrento é de telemarketing, por que a humilhação, a pressão, a cobrança, os xingamentos que sofri, não desejo para ninguém. Não estou 100%, ainda não consegui fazer psicoterapia, mas só de não estar atendendo, já é um alívio”.

Karen do Carmo, 23 anos, estudante de Fisioterapia, conta como foram suas experiências torturantes em call centers. “Trabalhei em cinco empresas de telemarketing, com salários baixos e humilhações. Todos os dias eu ensaiava para pedir as contas, porém por ter aluguel para pagar, sustentar a casa, pagar a faculdade e me manter, tive que suportar o assédio moral. Por não dar um basta, desenvolvi ansiedade e consequentemente sofri várias crises. Então, tudo virou uma bola de neve, com dívidas acumuladas, assédio dos supervisores, clientes raivosos, meus problemas se juntaram com os dos clientes e supervisores, imagine como estava a minha mente? Um caos!. Houve uma situação, que o supervisor bateu em minha P.A e gritou comigo na frente da operação inteira. Tentei fazer processo para subir de cargo, mas ele não me deixou mudar de setor, pois muitos supervisores tem a sua “panelinha” e essa era uma chance única para eu ganhar um pouco a mais, porém não fui ajudada, o supervisor me odiava. Daí, minhas crises de ansiedade foram aumentando e nessas cinco empresas de call center tive que pedir as contas. De tanta crises comecei a passar em psiquiatras, o primeiro me diagnosticou com Síndrome do Pânico. No decorrer dessas companhias, houve momentos que eu não aguentava com tanta ansiedade e pedia para ir embora. Quando eu entrava no transporte público, não conseguia descer no ponto ou na estação, pois eu ficava paralisada, me dava crises de pânico só de pensar que estava chegando na empresa. E o mais frustrante é que a maioria das saídas ocorreram em 2019. No ano de 2020, fiquei desemprega por várias meses para me tratar, mesmo assim enviava currículo para as empresas, mas o salário sempre era o mínimo, e hoje em São Paulo, é impossível sobreviver com um salário quando se tem família para sustentar. Enfim, desejo que as empresas de telemarketing um dia sejam humanizadas, pois se seguirem assim, coitados dos operadores”.

Stéphanie Freitas, 21 anos, formada em radiologia, fala sobre sua rotina estressante em call center e o dilema em lhe dar com a ansiedade. “Já trabalhei de tudo um pouco, menos em call center, mas em outubro de 2019, apareceu uma vaga para trabalhar com SAC 6x1. As pessoas me falavam como era ruim trabalhar em empresas de prestações de serviços,  pois os funcionários, além de não serem valorizados, não ganhavam muito bem. Hoje, percebo que o call center  serve como um quebra galho, por que fazer carreira ali, é quase impossível. Pensava que sairia logo, mas ainda continuo. Já faz um tempo que não atendo, pois me colocaram  para auxiliar os atendentes, enfim, está mais tranquilo para mim, porém para os operadores aumentaram a demanda de  atendimento e serviços, notei isso pelo número de pedidos de auxílio. Referente a distúrbio, sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas hoje me controlo mais que antigamente, pois  no começo, cheguei a passar mal e ser afastada por quase duas semanas”. Sofrer disso é ruim demais, por que atrapalha a sua vida, não dá para se concentrar nas tarefas e no trabalho. Infelizmente conheço vários que sofrem disso, inclusive no trabalho, sendo que algumas dessas pessoas se afastaram devido a piora no quadro. Agora com a pandemia, creio que as crises de ansiedades nas  pessoas aumentaram, inclusive aqueles que trabalham  em call center pois a demanda de trabalho cresceu e  muitas as vezes não temo suporte adequado para ajudá-los. Para quem precisa de uma renda urgente e não encontra emprego em sua área,  as prestadoras de serviços são as únicas portas imediatas, foi para mim e é para vários formados ou cursando faculdade. Nesse ramo é impossível não contrair algum distúrbio/doença ou piorá-lo, há raridades que conseguem não adquirir, porém é um parte muito pequena. Seria ótimo se todos formados e os que estão cursando arrumassem um emprego em sua área, assim o mercado seria configurado pela paixão ao trabalho, não apenas por obrigação”.

O doutor em Psicologia Social e professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social (PSO) e na graduação do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Odair Furtado diz  que nesse ramo não há uma forma de manter o equilíbrio mental. “Para falar a verdade, não existe saída, os trabalhadores sofrem. Alguns conseguem aguentar a pressão da empresa, sem afetar muito o psicológico, outras não conseguem e pedem para sair. Muitas pessoas não conseguem arrumar um emprego em sua especialidade, por conta da crise, optam trabalhar em uma empresa que foge de sua profissão, são alternativas para pagarem as contas e sobreviver. Esses indivíduos criam certa resistência e por mais tenso que seja, conseguem driblar as pressões diárias do trabalho. Infelizmente, hoje  uma epidemia    de pessoas com depressão, principalmente as que  prestam serviços, como o telemarketing.  Essa epidemia foi constada quando os indivíduos pedem afastamento do trabalho para se tratarem. A LER (Lesão por esforço  repetitivo), se sobressaí, pois os traumas não são só psicológicos, mas também físicos como: perda da audição,  tendinite por digitar demais, dores por todo o corpo etcTempos atrás saiu uma matéria referente às pessoas graduadas que não  conseguiram arrumar emprego em sua especialidade, por isso opta por empregos alternativos, um deles é o telemarketing. Esse ramo é um destruidor de saúde mental e as histórias são horrorosas. Outro aspecto, é o assedio moral, fator que prejudica ainda mais o psicológico do individuo. Infelizmente o assedio moral e sexual é uma política comum em muitos ambientes de trabalho, geralmente as pessoas que sofrem com isso estão em uma situação vulnerável, isto é, se reclamarem vão para o olho da rua, e por ter família para sustentar, suportam”.

“Com o país em crise, o medo de perder o emprego é tão grande que a pessoa se submete a situações conflituosas no trabalho. Por já haver ficado sem trabalho há algum tempo, e por ter sido complicado arrumar o atual, o trabalhar assediado não tem escolha, suportar os insultos calado, pois tem receio de ser dispensado. Esse ato é um “crime” sistemático em algumas empresas. Há uma síndrome que se chama burnout e que é típico dessa situação. Por conta do cotidiano desgastante e assedio moral/sexual no trabalho, individuo começa a ficar deprimido, desmotivado, não crer mais em si, não tem força para combater o abuso,  enfim, seu psicofísico reage retroativamente. Quando chegam ao estado acima, muitos ou descontam nas pessoas ou ficam paralisados, afetando todos os sentidos da vida, e quando acha que não tem jeito de sair dessa situação, se suicidam. Esse tipo de trabalho é total desgastante, tudo é controlado e a produção não pode parar, esse é um dos piores empregos que existem, só perdem para os trabalhos escravos. Uns se apropriam e consegue subir de cargo, outros  ficam por que não há   alternativa,então, aguentam até não puderem mais, pois já estão destruídos fisicamente e psicologicamente. Quando se entra nesse ramo, não há tratamento psicológico que ajude. Não adianta se consultar com psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras   que não vai adianta. O único jeito é sair o mais rápido possível trabalho. O Brasil em telemarketing só perde para a Índia e EUA, no quesito de acumulação de doenças mentais e físicas nos operadores. Infelizmente não  escapatória”.

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