Desde o decreto de isolamento social por conta da atual pandemia do coronavírus, resultados notórios foram gerados. Diminuição da poluição atmosférica em grandes cidades, águas mais limpas, passagem incomum de animais silvestres em centros urbanos, praias vazias com tartarugas desovando em massa são alguns dos fenômenos observados. A redução do movimento urbano, da circulação humana e suas consequências são alvos de atenção para muitos estudiosos, pois embora a mudança de cenário tenha trazido muitos efeitos positivos, tais são vistos como pontuais e temporários, ao passo que os efeitos negativos consequentes do isolamento são preocupantes a longo prazo.
Em dados recentes divulgados pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), a média de consumo de plástico aumentou mais de 25% durante a pandemia. O número tem contribuição significativa dos serviços de delivery, que viram os valores gastos com pedidos crescerem 95% entre janeiro e maio de 2020, em comparação com 2019.
Com o avanço da pandemia, o plástico se tornou o maior aliado na proteção contra a COVID-19. O aumento no uso de luvas, máscaras, proteções faciais e barreiras usadas em estabelecimentos, afetaram os esforços de campanhas para redução no uso do material. O problema que já era presente antes, agora se intensificou, agravando a poluição marinha.
A bióloga e oceanógrafa Cinthia Masumoto, atual fiscal do Ibama, afirma: “Na pandemia, tivemos redução do trânsito marítimo e redução do turismo. Isso seria muito positivo para a vida marinha: uma pausa no branqueamento dos corais, atropelamento de baleias, e vazamentos de combustível. Por outro lado, tem esta situação do aumento da produção de lixo. Ou seja, o mar sofre impactos cronicamente. Mas como não temos isso quantificado, fica difícil identificar o verdadeiro vilão.”
A experiência globalizada do isolamento social ilustra que a cultura de produção e consumo têm impactos sobre meio ambiente e a fauna. Mesmo os efeitos positivos da pandemia podem ser apenas um alento temporário, mas não a solução para os problemas que a civilização humana causa na natureza, como superexploração, poluição ambiental e extinção em massa de espécies.
O Fórum Econômico Mundial apresentou um dado preocupante em estudo sobre a produção desenfreada de plástico: a projeção é de que a quantidade de lixo despejada nos oceanos, em 2050, será superior ao número de peixes. Além do crescimento na produção de lixo doméstico e hospitalar, o material de pesca deixado no mar corresponde a quase 85% de lixo plástico. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), cerca de 8 milhões de toneladas de plástico são descartados de forma irregular nos oceanos. Mais de 80% do plástico do oceano vem da terra. A quantidade desse material chega a exceder o número de algas marinhas presentes no oceano.
A indústria da pesca
Localizada entre a costa da Califórnia e o Havaí, a grande mancha de lixo do Pacífico é resultante do acúmulo de detritos, principalmente derivados de plásticos. O tamanho estimado é de 80 mil toneladas de lixo flutuando em uma área de 1,6 milhão de quilômetros quadrados. Os detritos encontrados têm origem em diferentes países, isso se dá por causa das correntes marítimas que favorecem a acumulação de lixo nessa região do planeta.
Embora raramente discutidos, apenas 0,03% dos resíduos de poluição de plástico são provenientes dos canudos. Então por que não se questiona qual é realmente o grande vilão dos oceanos? Com uma quantidade significativa para degradação da vida marinha, as redes e equipamentos de pescas são responsáveis por 46% do material encontrados na grande mancha de lixo do Pacífico, o que acaba sendo muito mais perigoso do que os nossos canudos, por que ao contrário deles, esses foram projetados para matar.
Acerca da pesca sustentável, Cinthia explica o porquê de não existir: “É teórica porque a pesca é extrativista, só retiramos e não repomos, então, dependemos do esforço da própria natureza em se recompor, mesmo com pressão de pesca em cima. A maioria das vezes a natureza não aguentou, em consequência tivemos vários estoques de pescados dizimados pelo homem.”
O Japão possui a maior indústria pesqueira do mundo, que fatura 42 bilhões de dólares e captura em torno de 15,2 milhões de toneladas de peixes por ano. O porto de pesca de Kii-Katsuura, é o maior porto de comércio de atum-rabilho, e a Mitsubishi, responsável por controlar 40% do peixe em extinção.
A sobrepesca, a perda de habitat e a poluição estão levando a maioria das populações das espécies marinhas a entrar em declínio, à beira da extinção. Porém, existe outro fator colaborando: a captura indiscriminada decorrente da pesca de arrasto. Uma grande e pesada rede é arrastada pelo fundo do oceano para recolher tudo o que estiver em seu caminho.
Estima-se que 40% de toda vida marinha capturada é jogada de volta ao mar, classificada como captura "acidental". Ainda que as tartarugas marinhas não sejam alvos da pesca comercial, seis em cada sete espécies estão ameaçadas de extinção. No entanto, os leitos oceânicos mais profundos também estão sendo afetados pela pesca de arrasto, que não só extermina animais marinhos, como também destrói ecossistemas frágeis, o que colabora para a desertificação dos oceanos e alterações significativas no ciclo do carbono.
Coronavírus e degradação ambiental
A transmissão do coronavírus está relacionada à degradação ambiental. Com o meio ambiente degradado em terra, na costa ou nos oceanos, o ecossistema perde um serviço conhecido como regulação de doenças e isso facilita o processo de transmissão para a espécie humana. Então, quanto mais se agride o ambiente, incluindo o mar, mais sujeitos estamos às pandemias.
A indústria da pesca em lugares como a África ocidental é impulsionada por subsídios da União Europeia, ou seja, empresas e pescadores locais não conseguem competir com o poder econômico — uma continuação de uma história de exploração no continente africano — e por consequência, sofrem com a insegurança alimentar.
A diminuição da captura de peixes pela população local, provocada pela sobrepesca em embarcações internacionais chinesas e europeias, subsidiadas pelo governo, gerou fome na sociedade fragilizada. Em busca de uma fonte alternativa de proteínas, foi crescente o aumento da caça e o consumo de carne de animais selvagens em várias comunidades pesqueiras ao longo da costa oeste, portanto, o roubo de populações marinhas foi considerado agravante e até mesmo responsável pelo surto de ebola na África ocidental.
As consequências da poluição e o futuro dos oceanos
A poluição está alterando cada vez mais o PH dos oceanos. Esta mudança de acidez afeta diretamente a reprodução, fisiologia e distribuição geográfica de populações e até mesmo espécies de organismos marinhos, além de prejudicar a calcificação de indivíduos como crustáceos, plânctons, moluscos e corais. O desaparecimento ou redução destes seres, que fazem parte da base da cadeia alimentar de muitos peixes e baleias, pode acarretar problemas na biodiversidade e extinção de espécies.
A consequência causada pela acidificação dos oceanos é o desaparecimento dos recifes coralinos, que funcionam como barreiras naturais, e a falta deles pode diminuir a proteção dos litorais contra eventos extremos como tempestades, inundações e perda da biodiversidade.
Outro problema do descarte irregular é a produção de microplásticos. Esses pequenos fragmentos, que medem cerca de 5 milímetros de diâmetro, não são visíveis, mas são uma grande ameaça. A liberação desse material se torna um problema emergente, que pode gerar impactos na saúde humana e no ecossistema — principalmente marinho —. Em pesquisa realizada pela World Wide Fund For Nature (WWF), a quantidade de microplásticos ingeridos por semana pelos seres humanos equivale ao tamanho de um cartão de crédito. Esses plásticos não biodegradáveis podem ser ingeridos pela água potável, pelo ar, e pela ingestão de alimentos.
Os animais marinhos, por sua vez, correm o risco de confundir estes materiais com comida e acabam se intoxicando ou até morrendo. Além disso, estão sujeitos a amputações, deformidades e até falecimento por ficarem presos aos objetos ou redes fantasmas.
Os oceanos cobrem aproximadamente 70% de toda a superfície terrestre, e os ecossistemas marinhos são regiões que sofrem a influência da água do mar. Por serem maiores e mais antigos do que os ecossistemas terrestres, possuem quase que o dobro de filos animais, sendo um local de grande biodiversidade. A sobrevivência humana na Terra está diretamente ligada às condições dos oceanos, pois além de produzirem a metade do oxigênio disponível, eles ainda regulam as condições climáticas, absorvem gás carbônico e fornecem alimentos a milhões de pessoas.
O plástico segue sendo um problema, e as empresas continuam sem oferecer embalagens alternativas, ou com materiais alternativos aos consumidores. Muito se fala a respeito de um novo “normal” pós-pandemia. Alguns cientistas acreditam que as mudanças socioambientais observadas até então podem ser duradouras, já outros afirmam ser temporário. Os benefícios do isolamento social ao meio ambiente são apenas pontuais e temporários. Para serem observados a longo prazo, é necessário mudanças nos padrões de consumo e conscientização da população.
Ao ser questionada se repensar e planejar nossos hábitos de consumo causaria alguma mudança diante do cenário atual, a fiscal do Ibama declara: “Sempre! Lembrando que os efeitos negativos que o mar sofre são eventos de larga escala no tempo. Ou seja, nossas ações individuais, pequeninas neste mundo, não são percebidas em curto prazo, por isso sempre falamos em “Sustentabilidade de gerações futuras.”
Por Silvana Vieira da Luz e Suzana Rufino
Na pandemia, muitas empresas demitiram seus funcionários por não terem condições de pagá- los e arcar com as despesas. Porém, há aquelas que não só aumentaram a demanda de serviço como contrataram mais colaboradores, isto é, estão lucrando nesses tempos da covid-19, são os chamados calls centers. Segundo a Sintratel (Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing) as empresas de prestações de serviços empregam mais de 1,5 milhões de jovens/adultos com idade entre 18 e 29 anos. Nota-se que essa forma de trabalho é a única rentável no momento, porém quem ganha não são os operadores, mas sim as empresas terceirizadas.
A média salarial é sempre de um salário mínimo com alguns benefícios, o horário de trabalho é de 6h20min/dia, 6 dias por semana (sábado e domingo alternado). As áreas são variadas como: ativo de vendas, receptivo, híbrida, cobrança, retenção, sac, chat e email. E agora, com essa nova fase da pandemia, essas empresas adaptaram seus serviços de uma forma remota, isto é, migraram seus operadores para trabalharem em casa, disponibilizando máquinas com o sistema já instalado, suporte via Whatsapp, enfim, tudo para o colaborador atender de uma maneira mais cômoda e eficaz possível.
Visto por este ponto de vista, até parece um emprego tranquilo e com várias atuações, mas não, pois todos os dias os colaboradores sofrem as pressões acima do normal, por que há metas a serem cumpridas em determinado tempo, e muitas vezes, além das cobranças, o assédio moral e até sexual surgem para piorar o contexto (e sim, assédio sexual também pode ser virtualmente). A forma tranquila de se trabalhar com esse ramo nunca haverá, e mesmo com a continuidade de contratações, os operadores continuarão com as mesmas pressões e aumento de serviços.
Essa área é comum entre jovens e adultos na maioria universitários ou já formados, que ao não conseguirem um estágio ou emprego em sua área, optam por serem Agentes de atendimento, pois é o que tem naquele momento e a única forma de pagar as contas e sustentar a família. Parece que não há escapatória, e o mais engraçado são que muitos, mesmo depois de formados, continuam os estudos para terem mais chances de conseguir um emprego melhor, mas percebe-se que a crise só piora, o emprego ideal não aparece e o telemarketing é a única opção de sobrevivência.
Outra questão pertinente é perguntar aos colaboradores sobre o tempo de emprego de call center, a resposta as vezes assusta, isto é, a maioria responde que já tem anos como operador, passando por várias empresas e sem chance de subir de cargo.
O dia a dia deles é sempre a mesma coisa “Do outro lado da linha, estão clientes irritados pelos problemas causados por uma empresa da qual muitas vezes você não é funcionário e sobre a qual não tem qualquer responsabilidade. No entanto, naquela ligação, é você quem personifica todos os erros e os defeitos dela e, por causa disso, acaba sendo o alvo da ira de todos aqueles consumidores insatisfeitos. Os xingamentos vão desde "burro", "incompetente" e "ignorante" a até "você não presta para nada, por isso nunca vai deixar de ser operador de telemarketing". Desligar o telefone não é uma opção, então a única alternativa é escutar os insultos calados. E não dá tempo de respirar. Enquanto você tenta esquecer as ofensas que acabou de ouvir, o telefone toca de novo, e é preciso disfarçar rapidamente e dizer com a voz simpática: "Bom dia, senhor, em que posso ajudar?”, afirma a jornalista Renata Mendonça, da BBC News Brasil.
Esse é o cotidiano de vários trabalhadores brasileiros que atuam nesse ramo, recebendo todas as reclamações dos consumidores das empresas filiadas, e também ligando para possíveis futuros clientes para oferecer serviços impertinentes. Segundo Mendonça, “o profissional dessa área é frequentemente tachado de "chato" e "odiado" pelas pessoas". Mas, se a realidade é difícil para quem precisa de seus serviços, pode ser ainda pior para quem vive na pele essa rotina. A média de ligações diárias costuma ultrapassar as centenas (cerca de 300 nas 6 horas que trabalham conectados) – enquanto a média salarial dificilmente ultrapassa um salário mínimo, com algumas remunerações variáveis a depender das metas a serem batidas”.Apesar do trabalho agora ser em home office, a rotina repetitiva continua a mesma ou até pior com a alta demanda de serviço. E claro, com isso vem o estresse, as dores por todo corpo, a ansiedade e a depressão. Geralmente, a saúde mental piora de uma tal forma que levam muitos operadores a não se fixarem no emprego e terem que se consultar todo mês com psicoterapeuta e/ou psicólogo. E também, há aqueles que antes já possuíam algum distúrbio, e no decorrer da pressão do call center, pioraram e tiveram que se afastar.
Diante desse cenário, o número de doenças diagnosticadas em pessoas que exercem essa função é crescente. Somente na Região Metropolitana de São Paulo, de acordo com dados do
Sindicato dos Trabalhadores em Telemarketing (Sintratel), existem aproximadamente 100 mil profissionais nesse segmento. Dados do sindicato relacionados a doenças do trabalho apontam que 36% sofrem de lesão por esforço repetitivo (LER), 30% de transtornos psíquicos e 25% apresentam alguma perda auditiva ou de voz”, relata a jornalista.Cotidiano estressante
De acordo com psicólogos sociais, depressão, transtorno de ansiedade e síndrome do pânico são algumas doenças/distúrbios psíquicos desenvolvidos ou piorados por operadores de telemarketing.
É como afirma Letícia Costa, de 25 anos, que tinha o dia a dia estressante quando trabalhava na área.“Para mim era uma tortura, só de pensar já fico agoniada. Infelizmente a maioria de meus empregos foram em telemarketing, e pior, por voz. Em meu penúltimo, que também foi em call center, era uma escravidão, fazia várias funções ao mesmo tempo como: cobrança, ativo/vendas, receptivo/sac, suporte técnico, chat e email, enfim, sofria com crises de ansiedade direto. Fiquei por 2 anos, difícil de acreditar, mas não conseguia outro emprego”.
"Na verdade esse foi o meu limite, mas lamentavelmente durou pouco, pois por não conseguir nada em minha área que é em Letras, resolvi me sujeitar ao telemarketing novamente. Já sabia como seria, então não criei expectativas de mudanças nesse ramo, porém como só faria uma função, pensei que seria menos pior, mas não, foi muito ruim. Levantava todos os dias com um aperto no peito, boca seca, ansiosa e desanimada”.
“Segurei por quatro meses, depois disso comecei a ter várias crises em seguida, desmaiava nos transportes públicos, quando tentava ir não conseguia entrar na operação, por que já lembrava dos xingamentos dos clientes, cobranças da supervisora, gritaria no ambiente, falta de ajuda, tudo me apavorava. Sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada há três anos, desde lá tomei diversos remédios, me consultei com psiquiatras, só não pude fazer psicoterapia por falta de tempo e dinheiro”.
“Pedi muitas vezes para minha supervisora me mandar embora, mas era em vão. Empresas como esta não mandam, não se preocupam com o operador, só quer lucrar. Em março, comecei a trabalhar em home office, pensei que diminuiria a cobrança e as ligações, mas não, piorou. As ligações era todo momento, cobrança a toda hora, metas dobradas, por que na concepção deles, estar em casa é cômodo e dá para produzir mais. Me senti um gado, todos os dias levantava com vontade de desistir, porém as contas não perdoavam, tinha que continuar”.
“Chorava todos os dias, rezava para acabar logo, e mesmo em casa, minhas crises não pararam. Por entregar vários atestados em menos de 60 dias, o RH em julho me afastou pelo INSS, ficando 30 dias sem trabalhar. Estava mal, não era só o psicológico, mas meu corpo começava a doer, tudo doía. Em agosto tentei voltar, mas não consegui e me afastaram novamente, dessa vez foi definitivo. Nesse meio tempo, me consultei com um psiquiatra e ele constatou que eu estava com depressão e Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade pois mal conseguia dormir e me concentrar nas atividades. De outubro do ano passado a fevereiro desse ano, o médico mudou meus remédio três vezes e com tosagem máxima. O trabalho, desde agosto estava afastada, recebendo praticamente nada do INSS, me virando de todo jeito para não faltar o sustento de casa, e em maio, pedi as contas. Hoje, o único trabalho que não enfrento é de telemarketing, por que a humilhação, a pressão, a cobrança, os xingamentos que sofri, não desejo para ninguém. Não estou 100%, ainda não consegui fazer psicoterapia, mas só de não estar atendendo, já é um alívio”.
Karen do Carmo, 23 anos, estudante de Fisioterapia, conta como foram suas experiências torturantes em call centers. “Trabalhei em cinco empresas de telemarketing, com salários baixos e humilhações. Todos os dias eu ensaiava para pedir as contas, porém por ter aluguel para pagar, sustentar a casa, pagar a faculdade e me manter, tive que suportar o assédio moral. Por não dar um basta, desenvolvi ansiedade e consequentemente sofri várias crises. Então, tudo virou uma bola de neve, com dívidas acumuladas, assédio dos supervisores, clientes raivosos, meus problemas se juntaram com os dos clientes e supervisores, imagine como estava a minha mente? Um caos!”
Houve uma situação, que o supervisor bateu em minha P.A e gritou comigo na frente da operação inteira. Tentei fazer processo para subir de cargo, mas ele não me deixou mudar de setor, pois muitos supervisores tem a sua “panelinha” e essa era uma chance única para eu ganhar um pouco a mais, porém não fui ajudada, o supervisor me odiava. Daí, minhas crises de ansiedade foram aumentando e nessas cinco empresas de call center tive que pedir as contas. De tanta crises comecei a passar em psiquiatras, o primeiro me diagnosticou com Síndrome do Pânico”.
“No decorrer dessas companhias, houve momentos que eu não aguentava com tanta ansiedade e pedia para ir embora. Quando eu entrava no transporte público, não conseguia descer no ponto ou na estação, pois eu ficava paralisada, me dava crises de pânico só de pensar que estava chegando na empresa. E o mais frustrante é que a maioria das saídas ocorreram em 2019. No ano de 2020, fiquei desemprega por várias meses para me tratar, mesmo assim enviava currículo para as empresas, mas o salário sempre era o mínimo, e hoje em São Paulo, é impossível sobreviver com um salário quando se tem família para sustentar. Enfim, desejo que as empresas de telemarketing um dia sejam humanizadas, pois se seguirem assim, coitados dos operadores”.
Stéphanie Freitas, 21 anos, formada em radiologia, fala sobre sua rotina estressante em call center e o dilema em lhe dar com a ansiedade. “Já trabalhei de tudo um pouco, menos em call center, mas em outubro de 2019, apareceu uma vaga para trabalhar com SAC 6x1. As pessoas me falavam como era ruim trabalhar em empresas de prestações de serviços, pois os funcionários, além de não serem valorizados, não ganhavam muito bem. Hoje, percebo que o call center só serve como um quebra galho, por que fazer carreira ali, é quase impossível”.
“Pensava que sairia logo, mas ainda continuo. Já faz um tempo que não atendo, pois me colocaram para auxiliar os atendentes, enfim, está mais tranquilo para mim, porém para os operadores aumentaram a demanda de atendimento e serviços, notei isso pelo número de pedidos de auxílio. Referente a distúrbio, sofro de Transtorno de Ansiedade Generalizada, mas hoje me controlo mais que antigamente, pois no começo, cheguei a passar mal e ser afastada por quase duas semanas”. Sofrer disso é ruim demais, por que atrapalha a sua vida, não dá para se concentrar nas tarefas e no trabalho. Infelizmente conheço vários que sofrem disso, inclusive no trabalho, sendo que algumas dessas pessoas se afastaram devido a piora no quadro”.
“Agora com a pandemia, creio que as crises de ansiedades nas pessoas aumentaram, inclusive aqueles que trabalham em call center, pois a demanda de trabalho cresceu e muitas as vezes não tem o suporte adequado para ajudá-los. Para quem precisa de uma renda urgente e não encontra emprego em sua área, as prestadoras de serviços são as únicas portas imediatas, foi para mim e é para vários formados ou cursando faculdade”.
“Nesse ramo é impossível não contrair algum distúrbio/doença ou piorá-lo, há raridades que conseguem não adquirir, porém é um parte muito pequena. Seria ótimo se todos formados e os que estão cursando arrumassem um emprego em sua área, assim o mercado seria configurado pela paixão ao trabalho, não apenas por obrigação”.
Insanidade Mental
O doutor em Psicologia Social e professor associado da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Social (PSO) e na graduação do curso de psicologia da Faculdade de Ciências Humanas e da Saúde, Odair Furtado diz que nesse ramo não há uma forma de manter o equilíbrio mental. “Para falar a verdade, não existe saída, os trabalhadores sofrem. Alguns conseguem aguentar a pressão da empresa, sem afetar muito o psicológico, outras não conseguem e pedem para sair. Muitas pessoas não conseguem arrumar um emprego em sua especialidade, por conta da crise, optam trabalhar em uma empresa que foge de sua profissão, são alternativas para pagarem as contas e sobreviver.
“Esses indivíduos criam certa resistência e por mais tenso que seja, conseguem driblar as pressões diárias do trabalho. Infelizmente, hoje há uma epidemia de pessoas com depressão, principalmente as que prestam serviços, como o telemarketing. Essa epidemia foi constada quando os indivíduos pedem afastamento do trabalho para se tratarem. A LER (Lesão por esforço repetitivo), se sobressaí, pois os traumas não são só psicológicos, mas também físicos como: perda da audição, tendinite por digitar demais, dores por todo o corpo etc”.
“Tempos atrás saiu uma matéria referente às pessoas graduadas que não conseguiram arrumar emprego em sua especialidade, por isso opta por empregos alternativos, um deles é o telemarketing. Esse ramo é um destruidor de saúde mental e as histórias são horrorosas. Outro aspecto, é o assedio moral, fator que prejudica ainda mais o psicológico do individuo. Infelizmente o assedio moral e sexual é uma política comum em muitos ambientes de trabalho, geralmente as pessoas que sofrem com isso estão em uma situação vulnerável, isto é, se reclamarem vão para o olho da rua, e por ter família para sustentar, suportam”.
“Com o País em crise, o medo de perder o emprego é tão grande que a pessoa se submete a situações conflituosas no trabalho. Por já haver ficado sem trabalho há algum tempo, e por ter sido complicado arrumar o atual, o trabalhar assediado não tem escolha, suportar os insultos calado, pois tem receio de ser dispensado. Esse ato é um “crime” sistemático em algumas empresas. Há uma síndrome que se chama burnout e que é típico dessa situação”.
“Por conta do cotidiano desgastante e assedio moral/sexual no trabalho, o individuo começa a ficar deprimido, desmotivado, não crer mais em si, não tem força para combater o abuso, enfim, seu psicofísico reage retroativamente. Quando chegam ao estado acima, muitos ou descontam nas pessoas ou ficam paralisados, afetando todos os sentidos da vida, e quando acha que não tem jeito de sair dessa situação, se suicidam”.
“Esse tipo de trabalho é total desgastante, tudo é controlado e a produção não pode parar, esse é um dos piores empregos que existem, só perdem para os trabalhos escravos. Uns se apropriam e consegue subir de cargo, outros só ficam por que não há alternativa, então, aguentam até não puderem mais, pois já estão destruídos fisicamente e psicologicamente. Quando se entra nesse ramo, não há tratamento psicológico que ajude. Não adianta se consultar com psicoterapeutas, psicólogos, psiquiatras que não vai adianta. O único jeito é sair o mais rápido possível trabalho”. O Brasil em telemarketing só perde para a Índia e EUA, no quesito de acumulação de doenças mentais e físicas nos operadores. Infelizmente não há escapatória”.
Após mais de um ano de pandemia, diversas mudanças aconteceram na rotina das pessoas. As crianças não ficaram de fora dessas mudanças, pelo contrário, elas pertencem ao grupo dos que mais sentiram com as mudanças na rotina durante essa quarentena estendida.
São diversos fatores que levam a essa piora no comportamento e na saúde mental das crianças. Entre eles, o principal é não ter mais aulas presenciais, o que acaba por afastar os colegas e elimina as atividades físicas em grupo. Agora elas não têm mais onde brincar, a não ser dentro de casa.
E como fica essa brincadeira tendo que dividir a casa com os pais que foram obrigados de uma hora para outra a aderir o home office como meio de trabalho? Segundo a Roberta Cristina de Moura, mãe do pequeno Lucca de apenas um ano, a nova rotina foi de início desesperadora, mas agora já estão vivendo uma melhor adaptação.
"Não teve jeito, ele teve que voltar para a creche. Eu trabalho em home office, já meu marido trabalha fora. Como o Lucca ainda é muito pequeno, fica impossível conciliar a rotina dele durante o meu expediente. A idade dele ainda exige uma supervisão constante, não dá pra deixar ele vendo TV e ir trabalhar, ele vai chorar, subir nos móveis, correr risco de se machucar etc. A solução infelizmente foi o retorno para a creche mesmo sabendo dos riscos. Era isso ou deixar de trabalhar para cuidar dele, o que seria totalmente inviável em um momento de crise como o que estamos vivendo", declara Roberta.
A professora de educação infantil Renata Lima, também nos conta as dificuldades e diferenças de comportamento nas crianças durante a pandemia. "Dou aula na periferia da Zona Leste, no bairro de Sapopemba, então a princípio a adaptação das crianças foi muito difícil por diversas razões. A principal foi a falta de equipamentos e internet para que eles pudessem assistir às aulas", diz Lima. Outro fator apontado por ela foi a diferença no comportamento dos alunos. "Eles têm dificuldade em se concentrar na aula e demoram mais para entender e fazer as atividades propostas em aula. Isso se deve por vários motivos, muitos deles têm aula em um horário que a casa está cheia, muito barulho e muita distração.
"Quando o aluno tem dificuldade em aprender, a tendência é que aos poucos ele deixe a disciplina de lado, por isso é essencial a participação dos pais na monitoria das atividades escolares dos filhos. Só o professor não consegue garantir que as tarefas atribuídas a eles serão feitas", desabafa.
Para combater essa situação, a prefeitura de São Paulo adotou um programa chamado Psicólogos na Educação. O programa conta com pelo menos mil profissionais para atender 3,5 milhões de estudantes e 250 mil professores e servidores da rede estadual paulista.
O atendimento remoto é feito em mais de 5 mil escolas. Os psicólogos vão apoiar o desenvolvimento das ações do Programa de Melhoria da Convivência e Proteção Escolar (Conviva-SP) e orientar profissionais sobre possíveis sinais passíveis de identificação de traumas e abusos entre os alunos, além de conduzir testes e ferramentas psicológicas, conforme planejamento de cada escola. Todas as mais de 5 mil unidades da rede estadual serão beneficiadas.
Cada escola terá à disposição, no mínimo, 5 horas semanais de atendimento por um psicólogo. Quanto maior o número de alunos atendidos pela unidade, maior será a carga horária semanal disponibilizada pelos profissionais segundo o site da secretaria de educação.
Os funcionários da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM). Os metrôs, ônibus e trens não pararam desde o início da pandemia, o que expõe a necessidade da categoria de motoristas, condutores, cobradores e outros funcionários do transporte público se vacinarem com prioridade. Embora os motoristas de ônibus ainda não tenham entrado na fila, os funcionários do metrô e CPTM, conseguiram.
Serão vacinadas 9.500 pessoas, incluindo todos os operadores de trens, independentemente da idade, e demais funcionários da operação, que lidam diretamente com o público, acima dos 47 anos. Entram ainda, os trabalhadores da operação das linhas 4-amarela e 5-lilás, que são privatizadas.
Em vídeo, Alexandre Baldy, secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, divulga que “estaremos vacinando trabalhadores das operações, aqueles que estão nas estações como operador, aqueles que estão como segurança e aqueles que estão para a limpeza, a higienização de todas as superfícies das pessoas que tocam a todo momento. Exclusivamente os que estão em contato com milhões de pessoas a cada dia estão sendo vacinados pelo Governo de São Paulo”.
A AGEMT conversou com o Altino Prazeres Jr, coordenador do Sindicato dos Metroviários de São Paulo e militante do PSTU. Perguntamos qual a visão dele sobre a vacinação para a categoria. Para ele, “O setor de transporte deveria ter sido incluído logo depois dos idosos e setores de saúde já que são grandes transmissores''. Ele acrescenta criticando a situação atual.
“Se o governo bolsonaro tivesse comprado as vacinas antes, e não fizesse campanha contra elas no seu início. E também, os próprios laboratórios, se não tivessem fazendo leilão da vacina, mas quebrassem a patente, a vacinação ocorreria de forma mais abrangente em todo o mundo."
Em sua opinião, “a velocidade da imunização está muito atrasada, descaso de todas as esferas governamentais”. Altino ressalta ainda que, “A ganância das grandes empresas e milionários está impedindo a sociedade de colocar um fim na pandemia. A falta de esforço está sendo o maior obstáculo para a imunização mais rápida e trazer ajuda para o maior número de pessoas possíveis”, conclui.
O Metrô já soma 22 mortes entre seus funcionários, além de cerca de 1.500 contaminados, segundo contagem do sindicato dos Metroviários, que convocou uma “greve sanitária”.
Prazeres traz também que, “Por mais que todos os trabalhadores sejam imunizados, ainda há o risco de serem infectados por diferentes mutações do vírus". O coordenador relata que tem ansiedade, pois gostaria que "ele e os colegas fossem vacinados mais rápidos”.
O relatório da Administração do Metrô divulgado, mostra que embora a pandemia tenha tirado passageiros nos primeiros meses da chegada do vírus ao Brasil, foram feitas quase 3 bilhões de viagens nos transportes públicos que passam pela capital, entre metrô (764 milhões), CPTM (505 milhões) e ônibus municipais (1,6 bilhão).
Prazeres ainda expõe, que a notícia deixou o sindicato contente, porém, frustrados por garantir a vacina apenas para os funcionários com idade a partir de 47 anos e o Governo do Estado de São Paulo não deu explicações ou informações para o sindicato, os trabalhadores e para os funcionários da área de segurança. “Há um desejo, mas ainda uma insatisfação, pois grande parte da categoria não vai ser vacinada no momento”.
Na pandemia, o metrô do Estado teve um prejuízo de cerca de R$1,7 bilhões devido à queda do número de passageiros, acarretando diminuições de vagões e trens em circulação pela capital. As linhas 1 – azul e 3 – vermelha sofreram uma retirada de 17% comparado com anos anteriores, enquanto a linha 2 – verde foi a mais atingida, com menos 29% de viagens diárias.
Por Gabriella Lopes, Beatriz Aguiar e Sara de Oliveira
*Narração pela entrevistadora Sara de Oliveira
Dermatite, oleosa e acneica. Essas são as características das peles das jornalistas que vos escrevem. Mergulhadas em um mar de produtos estéticos, uma tábua aparece boiando no horizonte: produtos de beleza brasileiros - parece que estamos salvas. A curiosidade para entender melhor as marcas que estão bombando no Instagram entre as influenciadores digitais e suas seguidoras falou mais alto. Barato e bom é o que o marketing anuncia sobre elas, mas será que é isso mesmo?
A nova moda entre as blogueiras e influenciadores digitais é fazer publicidade para as marcas estéticas nacionais. Quando bem sucedidas — ou seja, quando possuem milhões de seguidores — acabam criando sua própria marca. Isso vai desde maquiagem, roupa, calçado e produtos estéticos.
Rafaela Tomaz (@rafatomaaz) de 19 anos é uma influenciadora jovem no mercado, com 1.362 seguidores e crescendo rápido. Seu sonho é viver como influencer. Atualmente, cursa biomedicina porque tem conexão com a questão estética. No entanto, Rafaela conta que não criaria sua própria marca se dependesse de fornecedores e tecnologia brasileira. “Eu não gosto muito de produtos do Brasil, porque, infelizmente, eu não me dei bem com os produtos nacionais. Se eu morasse fora, talvez, eu pensaria, porque eu gosto muito das tecnologias coreanas e japonesas”, comenta. E Rafaela está certa.
O Brasil está bem atrás no quesito pele e beleza, enquanto os produtos asiáticos infiltram o País e tomam o mercado. Em entrevista ao Correio Braziliense, Heloisa Yonekura, diretora técnica, pesquisadora e química da empresa Yokata! Mahy Skincare (empresa que produz produtos asiáticos para o Brasil), explica que o diferencial está na personalização. No Brasil classificamos as peles como oleosa e seca, mas existe uma infinidade de tipos de peles e, consequentemente, diferentes agentes químicos que podem ajudá-las. Esse é o “quê” do produto asiático; você encontrará uma variedade de opções, cada uma com sua função, podendo personalizar sua skincare a fim de atingir todos os objetivos.
Isso mostra que esse mercado ainda tem muito a crescer no Brasil e é ele que as influenciadoras estão tentando preencher. Seja criando sua própria marca ou incentivando por meio de publicidade o seu uso. A própria Rafaela está surfando aos poucos nessa onda. Depois de algumas experiências ruins, ela conta que gosta muito da "Creamy", uma marca brasileira criada por Luiz Romancini, médico dermatologista. Segundo a marca, Romancini é quem cria as fórmulas dos produtos.
São marcas como a Creamy que estão crescendo. Por um lado, isso é positivo. Os preços são acessíveis, o que torna a rotina de cuidados possível para diferentes tipos de consumidores. Ao mesmo tempo, essa onda não é o mar de rosas que imaginamos. Além de correr os riscos de passar na pele um produto novo, com pouca confiabilidade dentro do mercado, também somos extremamente afetadas pelas propagandas exageradas feitas pelas próprias influenciadoras.
A médica Mônica Ramos de Freitas, da rede de clínicas ""Meu Dermato", frisa a importância de sempre consultarmos uma dermatologista antes de testarmos qualquer produto, seja ele indicado por uma influenciadora ou não. “Quando se fala de skincare, vemos muito conteúdo nas redes sociais sendo disseminado por influencers, gerando expectativas em quem está do outro lado da tela. Consequentemente, acaba-se criando um desejo de compra dos produtos, que muitas vezes não terão o mesmo efeito nesse público, afinal cada pele é única”.
As influencers são fundamentais nas propagandas em geral, com os produtos de cuidados da pele ainda mais. O skincare (termo em inglês para “cuidados com a pele”) é a febre do momento. Tornou-se uma questão de autoestima que mexe com todas as idades, desde a adolescente que começa com seus problemas com espinha e pele oleosa, até a pessoa com mais idade com medo de envelhecer. Reconhecendo o poder de criação de opinião que as influencers têm, a Beyoung chamou diversas blogueiras e atrizes para fazer a propaganda de seu booster que promete retardar o envelhecimento.
O produto foi um sucesso, em partes, pelos reviews das influenciadoras das redes sociais, levando diversas pessoas às compras. Porém, a opinião de muitos clientes não foi positiva. O produto prometia um efeito permanente quando, na verdade, era temporário, o que levou a diminuição das vendas. Logo, dá para perceber que as influencers foram fundamentais no primeiro período, mas o produto tem que se consolidar sozinho. Foi isso que a digital influencer Anna Carolina Neves (@anacaroll_ ),19, disse.
Com mais 83 mil seguidores, Carol não pensa em viver somente como influencer como Rafaela. Ela pensa em seguir na carreira de Administração, graduação que está cursando. Mesmo o crescimento das redes sendo totalmente inesperado, ela não mudou os planos de ter uma carreira, pois acredita que é bem arriscado trabalhar apenas com isso e o mercado digital é complicado.
Carol é influencer de diversos produtos e não conhece tanto sobre skincare. Está sempre fazendo fotos e campanhas de roupas. Na sua vida particular, porém, segue a tendência de cuidados e montou uma rotina com uma dermatologista. As únicas alterações que fez por conta própria foram para marcas que não testam em animais. E mesmo sendo uma influencer, ela também é influenciada pelas opiniões de colegas e amigas. “A maioria dos produtos que compro foram indicações de amigas. Mas, passo no dermatologista regularmente para saber se o produto é realmente bom para o meu tipo de pele. Ou também se percebo que não fazem resultados na minha pele, eu deixo de usar imediatamente”.
Independente do tamanho, tanto Rafaela quanto Anna acreditam que o produto deve ser bom para fechar a parceria. Inclusive testariam antes de usar e deixariam claro que não é porque não funcionou com elas que teriam resultados positivos com outras pessoas, mas que vale arriscar. Mas, como elas disseram, o produto deve ser bom. Aquele booster da "Beyoung" era bom? Talvez, mas o que mais incomodou as influenciadas é que, na época, a formulação do produto não era disponibilizada pela marca.
A rotulagem no Brasil é um problema. Não é levada a sério nem mesmo nos alimentos, segundo Cíntia Rosa Pereira de Lima, professora da USP de Ribeirão Preto e doutora em Direito Civil. “O ideal é que a rotulagem já tenha todas informações essenciais sobre o produto, mas existe o problema de limite físico. Certas embalagens são menores e não comportam as informações, mas é claro que o tem a opção do papel dentro da embalagem igual aos remédios. Porém, se mesmo assim não couber, o certo é colocar os componentes principais, visando a transparência prevista no direito do consumidor”.
As influenciadoras afirmam visitar um profissional qualificado constantemente, ainda que algumas façam personalizações por conta própria. Num País onde sete em cada dez brasileiros dependem do SUS, segundo dados do IBGE de 2019, sistema sucateado pelo governo, conseguir uma consulta pode ser uma batalha que muitos não estão dispostos a enfrentar. Muitas delas mostram suas rotinas como parte de atrair seguidores e ganhar dinheiro, já que marcas pagam para serem anunciadas nas redes sociais delas. Tais rotinas, em sua maioria cheia de produtos e regras, não são a solução universal. Para bons resultados, primeiro deve-se conhecer seu tipo de pele, segundo a médica. E depois lembrar dos passos básicos: limpeza, hidratação e proteção solar. “Não adianta ter o melhor produto em mãos se ele não for o ideal para você. Muitas pessoas que sofrem com acne sabem que tem que usar produto antiacne, mas não lembram de usar creme hidratante. O básico é: um produto bom para limpeza de pele; um para tratar aquilo que incomoda, como acne, manchas, linhas de expressão, etc.; e, não menos importante, o filtro solar para proteger”.
Julia Petit, fundadora da Sallve, marca de cuidados faciais também com forte presença nas redes sociais, afirmou em uma entrevista ao Universa do Uol que "ter pele boa é ser o novo magra". Os padrões sociais costumam mudar de tempos em tempos, criando e/ou reciclando velhas pressões, pois, como coloca Naomi Wolf em “O Mito da Beleza”, mulheres “naturais” são automaticamente rotuladas de feias e obrigadas, pela vergonha, a aceitarem uma identidade física, produzidas. O crescimento do autocuidado durante a pandemia foi uma das soluções encontradas para resistir às novas dificuldades. Porém, é importante e saudável reconhecer quando é uma imposição social ou uma simples vontade própria para não cair em mais um buraco negro de consumo e infelicidade.