Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

ONG Jardim das Borboletas se destaca no acolhimento e na luta por dignidade
por
Manuela Dias
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27/11/2025 - 12h

A falta de diagnóstico precoce, o preconceito e a dificuldade de acesso ao básico ainda moldam a dura rotina de quem convive com a Epidermólise Bolhosa (EB) no Brasil. A doença genética rara, caracterizada pela extrema fragilidade da pele e pela formação de bolhas internas e externas, permanece pouco conhecida até mesmo entre profissionais de saúde.  


Em meio a essa realidade, a ONG Jardim das Borboletas, fundada em 2017 por Aline Teixeira, tornou-se um dos principais pilares de apoio a pessoas com EB no país. Hoje, a instituição acompanha 162 famílias, atua em 24 estados e no Distrito Federal e oferece atendimento totalmente gratuito, humanizado e multidisciplinar.

Cuidado começa pela informação

Com sede em Caculé (BA) e uma casa de apoio em São Paulo (SP), o Jardim das Borboletas nasceu da sensibilização de Aline ao conhecer uma criança com EB. A história, inicialmente marcada por uma campanha de ajuda individual, tornou-se a semente de um projeto nacional. “Eu vi a necessidade daquela criança e quis ajudar. Mas percebi que existiam muitas outras na mesma situação ou até pior. Então a gente segue acolhendo outras crianças”, lembra Aline.

Hoje, a ONG dispõe de uma equipe composta por assistente social, enfermeira, nutricionista, psicóloga e advogada. O atendimento remoto acontece de segunda a sexta-feira, sempre de forma individualizada.

O processo de inclusão de novos pacientes passa por um setor assistencial estruturado: “Nós temos uma assistente social que faz toda a triagem, conhece a família, avalia a situação e identifica como podemos ajudar”, explica.


O peso do preconceito

Além da fragilidade da pele, as pessoas com Epidermólise Bolhosa enfrentam outra ferida: o preconceito. A desinformação sobre a doença faz com que muitos pacientes sejam olhados com estranhamento, evitados em espaços públicos e, em alguns casos, até impedidos de frequentar escolas ou ambientes comunitários.


Para Aline Teixeira, essa é uma das barreiras mais dolorosas: “A segunda maior dificuldade é o preconceito da sociedade pela falta de conhecimento. Isso machuca muito”, afirma.

A aparência das lesões costuma gerar medo e julgamentos equivocados, reforçando o isolamento das famílias e agravando o sofrimento emocional. Muitas mães relatam episódios de exclusão, como pessoas que mudam de assento ao lado de seus filhos ou que se afastam por acreditar, erroneamente, que a doença é contagiosa. Por isso, a informação é um dos pilares do Jardim das Borboletas: “Nossa principal frente é divulgar a doença para o máximo de pessoas possível. Quando a sociedade entende o que é a EB, o preconceito diminui e isso já transforma vidas”, explica Aline.


A falta de conhecimento público, combinada com a invisibilidade da doença rara, aprofunda desafios que vão além da saúde física. Enfrentar o preconceito significa também lutar por pertencimento, inclusão e respeito.

 

 A ONG busca ser reconhecida como referência e destaque na área de reabilitação e assistência a crianças com Epidermólise Bolhosa e outras doenças raras de pele.

A ONG busca ser reconhecida como referência e destaque na área de reabilitação e assistência a crianças com Epidermólise Bolhosa e outras doenças raras de pele. Foto: Divulgação


Caixinha do Amor

Todos os assistidos recebem mensalmente a “Caixinha do Amor”, que inclui itens de higiene, curativos especiais, suplementos e medicamentos. O acesso a esses materiais é vital, já que a manutenção da pele exige curativos específicos e de alto custo. Para Aline, mais do que suprimentos, a ONG entrega dignidade: “Quando você tem acesso ao tratamento, você se sente uma pessoa mais digna. O projeto dá dignidade não só às crianças, mas às famílias inteiras.”


Ao mesmo tempo, a ONG enfrenta suas próprias batalhas: “Nosso maior desafio é conseguir padrinhos que nos ajudem a manter a assistência. E precisamos construir nossa sede para ter um espaço próprio e realizar ações ainda mais assertivas.”


Como ajudar a ONG

O trabalho do Jardim das Borboletas só é possível graças à solidariedade de pessoas e empresas que entendem o impacto transformador de cada gesto. 


Contribuir com a ONG é simples e acessível: é possível fazer doações mensais ou avulsas, que garantem a compra de curativos, suplementos e outros materiais essenciais; também é muito bem-vinda a doação de itens de higiene e curativos especiais, indispensáveis para o cuidado diário e para a prevenção de infecções. 


Quem deseja se envolver ainda mais pode atuar como voluntário, oferecendo tempo e conhecimento em áreas como saúde, comunicação, direito, administração ou educação. Outra forma poderosa de ajudar é compartilhar a causa, divulgando informações sobre a Epidermólise Bolhosa e sobre o trabalho realizado pela ONG, contribuindo para combater o preconceito e ampliar o alcance do projeto. Para conhecer todas as formas de participação e apoio, basta acessar o site do Jardim das Borboletas.

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Os efeitos que o TCC causa nos universitários expõem a fragilidade do cuidado com o psicológico diante da pressão no encerramento da graduação
por
Olivia Ferreira
Sofia Morelli
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18/11/2025 - 12h

 

A fase final da faculdade é uma época de ansiedades e pressões que vêm tanto do ambiente acadêmico quanto social e, o Trabalho de Conclusão de Curso, o famoso TCC, é visto por muitos como o grande desafio da vida universitária. Ele representa o encerramento de um ciclo, a consolidação de anos de estudo e o primeiro grande passo em direção ao mercado de trabalho. Mas, por trás das apresentações de sucesso e das bancas avaliadoras, há um lado pouco falado: o impacto que o processo de criação do TCC tem sobre a saúde mental dos estudantes.

 

Mulher mentalmente esgotada diante livros de estudo
Foto: Vestibular Brasil Escola UOL 

 

Ao longo do processo do trabalho é comum os graduandos se concentrarem totalmente nesse projeto, deixando para segundo plano sua saúde mental e até mesmo a saúde física. Além do encerramento da fase universitária, estudantes lidam com o início da vida profissional, causando ainda mais estresse durante esse período e diversos problemas graves de saúde que atingem diretamente o bem-estar do profissional, como o conhecido “burnout” e crises de ansiedade e pânico. Uma pesquisa feita pela Universidade de Brasília (UnB) e a Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) revelou que quanto maior a percepção de relação com professores e colegas, conciliação dos estudos e do lazer, pressão das disciplinas, provas, trabalhos e conciliar o estágio profissional, maior o índice da Síndrome de Burnout em estudantes.

 

 

Causas principais 

Essa vivência dramática- a primeira experiência angustiante com grande peso emocional- muitas vezes ocasiona o “burnout”, um termo utilizado para designar um trauma de longa exposição gerado quando o corpo é continuamente informado de perigo. Esse problema derivado de uma alta carga de estresse e exaustão compromete sua capacidade de concentração e produtividade. Ele se manifesta por meio de sintomas emocionais que atravessam a psique, impactando o físico. Essa pressão transforma o processo de aprendizagem em um ciclo de sofrimento e desmotivação, o que evidencia a urgência de se discutir e promover práticas de cuidado e prevenção dentro do ambiente educacional.

Mapa mental sobre os sintomas do burnout
Foto: Infográfico/ Laura Urbano

As pressões externas e internas que acorrentam discentes- e que ocasionam diversos sentimentos maléficos tanto para o desempenho didático quanto para a saúde mental- reproduzem discursos de esgotamento marcados por cobranças, falta de tempo e medo do fracasso. Além disso, a carga de tarefas é intensa: aulas, estágio, trabalho, relatórios e reuniões com o orientador,  o que resulta em  um cotidiano sobrecarregado e sem espaço para descanso ou autocuidado.“É importante equilibrar essa época da vida com atividades relaxantes e que tirem o foco do trabalho e até mesmo do tema. Saiba até onde você consegue ir, você é limitado.” afirma o psicólogo Paulo Scholze. 

Praticar atividades físicas, buscar suporte emocional e fazer coisas que sejam prazerosas são maneiras que auxiliam para um processo mais leve. Segundo Scholze, o apoio emocional é o ponto chave para lidar de forma mais calma na criação do trabalho. Os orientadores devem  escutar o aluno, e caso isso não seja possível, deve-se procurar pessoas que já passaram por essa fase e que possam oferecer apoio.

Paulo Scholze conta sua experiência com o TCC, durante a pandemia. Apesar do prazer de dar espaço para “sua própria voz”, como o mesmo explica, de poder se descobrir como autor desta pesquisa e do trabalho final —“Me descobri um pouco nesse lugar de autoria”—, o psicólogo também sofreu com a angústia costumeira. Explica como as tensões se agravam conforme se aproximam do prazo de entrega. 

Para lidar com a pressão, cada estudante cria sua própria estratégia. Alguns se apoiam em grupos de amigos, outros buscam terapia, e há quem recorra ao café e à força de vontade. “É difícil falar sobre como pacientes em geral lidam com essa fase da vida, porque todos vivem de forma muito distante. Mas, posso afirmar que acho difícil que seja algo muito tranquilo, sempre tem uma dose de angústia.” diz o psicólogo. 

Uma forma de evitar o peso maciço de demandas como a do TCC, foi descrita pela escritora inglesa, Virgínia Woolf. A mesma dizia intercalar seus romances complexos e profundos com narrativas mais simples e mais facilmente prazerosas, “livros de férias”,  como uma forma de escape da pressão que sentia na escrita dos livros mais difíceis. 

Se pode trazer este conceito para perto do assunto do TCC, ideia desenvolvida por Paulo Scholze, que usou essa analogia para exemplificar uma orientação que ajuda a lidar com a complexidade do trabalho, usando os hobbies e outros interesses como um escape para os formandos.

 

Prevenção do estresse excessivo

Algumas orientações e indicações gerais de Scholze para levar o desenvolvimento do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de maneira mais equilibrada são:

  • Fazer com que não seja um esforço contínuo: pensar no projeto com calma e tentar um ritmo menos intenso;

  • Escolher um tema que lhe agrade para manter o interesse;

  • Encontrar uma voz: não precisa ser perfeito e se auto cobrar menos;

  • Ter alguém que te escute e auxilie nessa fase desafiadora; 

  • Encontrar paz;

  • Refletir sobre como o projeto é algo que irá se concluir, algo passageiro;

  • Fazer coisas que te interessam;

  • Falar de temas que instigam algo dentro de você.




 

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Os hormônios chamados bioidênticos têm sido usados no tratamento de sintomas da menopausa.
por
manuela schenk scussiato
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17/11/2025 - 12h

Por: Manuela Schenk

 

Maria Rosa é moradora de um bairro tranquilo em Belo Horizonte e tem 58 anos. Vivia dias que pareciam sempre nublados. A menopausa havia chegado silenciosa, mas dominando cada detalhe de sua rotina: noites interrompidas por ondas de calor, cansaço persistente e um humor tão instável quanto o clima da cidade. Professora aposentada, ela se viu pela primeira vez incapaz de organizar sua própria vida, como se o corpo tivesse assumido o comando sem pedir permissão.

Os meses seguintes foram marcados por idas e vindas a médicos, tentativas de adaptar a rotina e conversas demoradas com amigas que compartilhavam experiências semelhantes. Nada parecia surtir efeito, até que ouviu falar de uma abordagem que ganhava espaço em consultórios especializados: a terapia com hormônios bioidênticos. Curiosa e cansada de sentir que estava vivendo apenas no piloto automático, Maria decidiu buscar uma avaliação completa para entender se aquela alternativa poderia ser adequada para ela.

A equipe médica analisou seu histórico e, após uma explicação detalhada sobre os possíveis benefícios e limitações, apresentou a reposição hormonal bioidêntica como uma opção. Maria aceitou iniciar o tratamento, não como uma promessa de solução mágica, mas como a possibilidade de reencontrar a si mesma. Nos dias seguintes, seu ceticismo dividia espaço com uma esperança tímida, que ela mal ousava verbalizar.

As mudanças começaram de forma sutil. As noites tornaram-se menos turbulentas, os suores repentinos diminuíram e, com o sono mais estável, veio também uma energia que Maria acreditava ter perdido para sempre. Pequenas vitórias foram se acumulando: a disposição para caminhar pela manhã, o prazer em preparar o próprio café e até a vontade de retomar projetos que havia abandonado quando os sintomas apertavam.

Com o passar dos meses, a melhora deixou de ser apenas física, ela sentiu seu mundo voltando a ter cor. Amigos próximos notaram o brilho renovado no olhar, e Maria passou a falar abertamente sobre sua experiência, sempre destacando que cada mulher tem sua trajetória e que o acompanhamento profissional é indispensável. Para ela, a reposição hormonal bioidêntica representou mais do que um tratamento: foi a reconquista de uma vida que parecia ter escapado pelas frestas do tempo.

Hoje, Maria Rosa caminha pela praça do bairro com passos firmes, como quem recuperou não só o controle do próprio corpo, mas também o entusiasmo pelos dias que virão. Sua história é uma entre tantas que ilustram a complexidade da menopausa e a importância de abordar o tema com informação, cuidado e sensibilidade. E, enquanto observava o movimento ao redor, ela resumiu sua jornada com simplicidade dizendo que a menopausa tentou paralisá-la mas aos poucos ela aprendeu que existe sempre um caminho para voltar a florescer.

Com o tempo, Maria foi percebendo que a melhora não se refletia apenas no cotidiano, mas também em suas relações. Ela voltou a frequentar rodas de leitura, retomou encontros semanais com antigas colegas de profissão e até se animou a planejar pequenas viagens. “Parece que eu reencontrei minha própria companhia”, comentou certa vez, rindo com a naturalidade que havia deixado de sentir. O que antes era medo de enfrentar os dias transformou-se em vontade de ocupar novamente os espaços que sempre foram seus.

Seu marido, Antônio, também testemunhou essa transformação de perto. Ele lembra que, antes do tratamento, as noites eram marcadas por inquietação e cansaço, e as conversas acabavam ofuscadas pela exaustão. Agora, o casal redescobre uma rotina mais leve, com caminhadas ao entardecer e longas conversas na cozinha. Para ambos, a mudança de Maria representou não apenas um avanço individual, mas uma renovação de laços, mostrando como o bem-estar de uma mulher reverbera por toda a família.

Os hormônios desempenham papéis essenciais no equilíbrio do organismo, regulando funções como metabolismo, humor, sono e, quando falamos em reposição hormonal, especialmente para mulheres na menopausa, é comum surgirem dúvidas sobre a diferença entre hormônios tradicionais (sintéticos) e hormônios bioidênticos. Embora ambos tenham o objetivo de aliviar sintomas decorrentes da queda hormonal, eles se distinguem principalmente pela estrutura química e pela forma como o corpo os reconhece.

Os hormônios tradicionais, frequentemente chamados de sintéticos ou não bioidênticos, são produzidos em laboratório, mas não necessariamente possuem a mesma estrutura molecular dos hormônios humanos. Apesar de eficazes para muitas mulheres, podem apresentar respostas variáveis no organismo porque sua interação com os receptores hormonais nem sempre ocorre da mesma forma que com os hormônios naturais. Isso pode influenciar tanto os efeitos desejados quanto o perfil de efeitos colaterais.

Já os hormônios bioidênticos são formulados para terem estrutura molecular idêntica à dos hormônios produzidos naturalmente pelo corpo humano. Por esse motivo, o organismo costuma reconhecê-los e metabolizá-los de maneira mais semelhante aos hormônios endógenos. Essa similaridade é o principal argumento de profissionais e pacientes que relatam maior tolerabilidade e adaptação, embora a resposta possa variar de pessoa para pessoa.

A reposição hormonal feita com hormônios bioidênticos pode oferecer benefícios para mulheres na menopausa, como alívio de ondas de calor, melhora da qualidade do sono, redução da irritabilidade, maior lubrificação vaginal e, em alguns casos, melhora da vitalidade e do bem-estar geral. Algumas mulheres relatam que os bioidênticos promovem um equilíbrio mais suave, possivelmente por serem metabolizados de forma mais natural pelo organismo.

Além disso, especialistas ressaltam que os hormônios bioidênticos podem ser formulados de maneira personalizada, ajustando dosagens e combinações conforme as necessidades individuais de cada mulher, sempre com supervisão de profissionais qualificados. Essa possibilidade de personalização é um dos pontos que costumam atrair pacientes que buscam uma abordagem mais adaptada ao próprio corpo, embora continue sendo fundamental o acompanhamento regular, exames periódicos e avaliação cuidadosa dos resultados.

Apesar das vantagens relatadas, é importante lembrar que qualquer terapia hormonal exige acompanhamento médico, independentemente de ser feita com hormônios sintéticos ou bioidênticos. A combinação adequada de hormônios, a forma de administração e o monitoramento regular são fundamentais para garantir segurança e eficácia. Cada mulher possui necessidades individuais, e somente um profissional qualificado pode orientar a melhor abordagem para cada caso.


 

É importante saber até onde ela esbarra no limite da ética científica
por
Chloé Dana
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18/11/2025 - 12h

Por Chloé Dana

 

Em "A Condição Humana", Hannah Arendt analisa de que maneira a época moderna alterou a centralidade da experiência humana. No passado, a política era o ambiente onde as pessoas se reuniam para construir um mundo compartilhado, um espaço vibrante de debate, divergências e criação coletiva. Atualmente, ela afirma que a política se transformou na gestão da vida orgânica. O foco mudou para a preservação do corpo, aumentando sua longevidade e minimizando seu sofrimento. Assim, a vida pública foi substituída pela luta pela sobrevivência. É nesse cenário que a bioética surge como uma resposta aos desafios que reconfiguram a visão que a humanidade tem de si mesma. Ela facilita discussões sobre o começo e o término da vida, a qualidade da vivência humana, os limites éticos dos experimentos científicos e as implicações das decisões relacionadas ao corpo. Baseia-se em valores como autonomia, dignidade e justiça, tornando-se um guia essencial em um mundo em que a ciência pode interferir de maneira cada vez mais profunda na nossa essência.

A vastidão desse domínio reflete a complexidade da vida atual, envolvendo discussões sobre aborto, euthanasia, objeção de consciência, maternidade substitutiva, tecnologias reprodutivas, decisões médicas influenciadas por crenças religiosas, modificações genéticas e os efeitos ambientais sobre os organismos vivos. A bioética surge porque a ciência contemporânea ganhou a capacidade de editar genes, escolher embriões, manipular dados pessoais, prolongar vidas e transformar corpos. Questionar “até onde a ciência deve ir” é, na essência, perguntar como proteger a humanidade que reside por trás das inovações. É assegurar autonomia, privacidade, proteção dos vulneráveis e igualdade no acesso aos benefícios da biotecnologia. Contudo, essas questões não se restringem apenas à filosofia. Elas se materializam nos consultórios, onde ciência e vulnerabilidade humana se encontram diariamente.

É nesse contexto que a vivência do geneticista Elias Monteiro ilumina, com seu corpo e voz, aquilo que muitas vezes permanece no abstrato. Uma pessoa que carrega, sem alardear, a serena responsabilidade de lidar diariamente com escolhas complicadas. Seu dia inicia cedo, sempre com exames dispostos sobre a mesa, fragmentos de DNA organizados como se fossem pequenas cartas enviadas pelo corpo humano. Cada laudo gera indagações, cada sequência genética oferece uma nova possibilidade, cada variante pode alterar o rumo de uma vida.

Entre esses documentos, aparecem histórias concretas: famílias que buscam esclarecimentos após anos de dúvidas, casais que tentam planejar o futuro com menor temor, adultos que carregam desde a infância incertezas que nunca foram nomeadas. A rotina dele é composta por precisão técnica, mas também por gestos sensíveis. A genética, em suas mãos, não se restringe à análise molecular; se transforma também em tradução, convertendo a linguagem científica em algo que alguém possa utilizar para respirar melhor, entender mais e viver de forma mais plena.

E ao discutir os limites éticos na ciência, é perceptível uma leve alteração em sua perspectiva. Não se trata de medo; é clareza mental. Ele percebe que a tecnologia vigente tem o potencial de modificar estruturas que antes eram imutáveis: realizar edições genéticas, selecionar traços, alterar direções que vão além da vida de quem está na sua frente. Para ele, tal poder requer mais cautela do que entusiasmo. Interferir no DNA de um indivíduo afeta também o futuro de gerações que ainda estão por vir. Por essa razão, ele argumenta que todo progresso deve ser acompanhado por dignidade, autonomia e justiça, pilares fundamentais para que a ciência mantenha sua integridade moral.

A genética, em sua visão, representa um domínio onde a precisão se alia à sensibilidade. Não há imparcialidade diante de um diagnóstico que pode reconfigurar a vida de uma família inteira. Cada explicação, cada resultado e cada previsão traz um impacto emocional que um algoritmo não consegue prever. Para ele, sua função não se encerra ao descobrir uma mutação; é aí que realmente começa. E talvez seja isso que faz sua presença parecer a de alguém que transita entre dois mundos: a exatidão dos dados e a fragilidade humana, a rigidez do código e a empatia da experiência. Seguindo suas considerações, torna-se claro que a bioética não é um território isolado da vida cotidiana, mas uma demanda urgente que permeia cada exame, cada consulta e cada decisão. Pois enquanto a ciência evolui, a ética deve avançar simultaneamente, não como entrave, mas como salvaguarda.

A manipulação genética em humanos traz à tona esse desafio em sua forma mais intensa. Alterar o código que forma a identidade de um ser envolve riscos imprevisíveis e consequências que podem se estender por gerações. Há também a tentação de empregar essas tecnologias para fins não terapêuticos: melhorar a aparência, a capacidade cognitiva, a força física, aumentando desigualdades, criando distinções artificiais, convertendo diferenças em produtos. Portanto, estabelecer limites éticos e legais se mostra essencial para resguardar a dignidade humana e assegurar que o futuro não fique moldado apenas pelos anseios dos mais favorecidos.

Ao considerar todos esses aspectos, desde as inquietações filosóficas de Arendt até os dilemas éticos que a genética contemporânea propõe, torna-se claro que estamos em um ponto crucial da trajetória humana. Nunca tivemos tanta influência sobre a vida e nunca fomos tão responsáveis por decidir como utilizá-la. A ciência avança, rompendo barreiras que antes eram sagradas; a bioética tenta acompanhar esse movimento, lembrando que nenhuma descoberta é isenta de influência, e que qualquer intervenção na vida deve ser feita com cuidado, prudência e compaixão.

O debate acerca da edição genética transcende uma mera questão técnica. é uma reflexão sobre a humanidade que almejamos ser. É nossa responsabilidade, tanto como indivíduos quanto como coletividade, determinar se iremos criar um mundo impulsionado pela urgência de aprimorar a existência ou pela compreensão de sua preservação. Nesse contexto, a bioética aparece não como um obstáculo, mas sim como um guia: uma ferramenta para assegurar que, ao alterarmos elementos do código da vida, não negligenciamos a conservação daquilo que nos caracteriza como seres humanos.

 

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Perda do pai ainda quando bebê, levou Laura Martins Paro a vivenciar importância da terapia como tratamento
por
José Pedro dos Santos
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30/06/2022 - 12h
Sessão de terapia Autora: zebradaa (Fernanda Bornancin)
Sessão de terapia zebradaa (Fernanda Bornancin)

Laura Martins Paro explica que a perda de seu pai quando ainda era bebê, acarretou um comportamento introvertido, apesar de ter diversos amigos na infância, além de achar que se não tivesse feito acompanhamento psicológico não seria quem é hoje. Segundo Ana Monteiro, mestre em linguística aplicada na PUC e psicanalista, a morte e o luto afetam cada um de uma forma singular e profunda, mas para a criança, essa perda pode ter consequências muito serias sem um acompanhamento.

Para a psicanalista, a importância da terapia de maneira geral está em permitir um melhor autoconhecimento, mas ao tratar sobre o luto, a possibilidade de ajudar na elaboração e compreensão da morte e a construção de um novo caminho sem a presença deste ente querido. A psicanálise e psicologia não são apenas para esse tipo de questão, podendo também atender pessoas que sofrem com outros tipos de problemas, como depressão e ansiedade e até mesmo pessoas que não são diagnosticadas, para ajudá-las a se entenderem melhor e controlarem melhor suas emoções e sentimentos.

A Psicanálise foi criada pelas ideias do médico Sigmund Freud, ela visa a procura do bem-estar do analisando a partir de uma série de introspecções que levam o mesmo a concluir e conseguir entender coisas de seu funcionamento por conta própria, partindo do auxílio de um psicanalista.

 

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A humanização proposta pelo voluntariado faz com que o hospital seja um ambiente mais confortável e acolhedor para pacientes internados ou em tratamento.
por
Sônia Xavier
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07/06/2022 - 12h

 

A atividade de Clown Care - cuidados com palhaços, em tradução livre - é uma prática de humanização hospitalar, na qual voluntários se vestem de palhaços e tentam de forma lúdica distrair pacientes da realidade carregada de estresse, ansiedade e melancolia dos hospitais. Conforme a história do movimento, a prática de palhaços-doutores teve início na década de 60, com participação do médico norte americano Hunter Adams - o Patch Adams -, que teria sido o primeiro a entrar num ambiente hospitalar vestido de palhaço a fim de levar alegria a pacientes que passavam dificuldades psicológicas e físicas por conta das suas enfermidades. 

O próprio Adams passou por um período de grave crise depressiva, logo após a morte do pai, chegando a se internar numa clínica psiquiátrica, percebendo assim que “o riso, a alegria e a criatividade são parte integrante do processo de cura” (The Gesundheit Institute). Em 1971, com ajuda de amigos, acaba fundando o Instituto Gesundheit para abordar todos os problemas de saúde em um único modelo. 

No Brasil o primeiro grupo de Clown Care foi o “Os Doutores da Alegria” criado pelo brasileiro Wellington Nogueira, em 1991, inspirado pelo projeto similar do qual participava em Nova Iorque - a Clown Care Unit . Hoje em dia são várias as instituições sem fins lucrativos que utilizam a arte do palhaço para desmistificar tratamentos e levar conforto a pacientes em situações sensíveis. O uso da dramaticidade e do improviso tenta reduzir o estresse e a ansiedade provocada pela rotina hospitalar, buscando aliviar e dar conforto psicológico e social para essas pessoas.

O simples fato de se caracterizar já atrai um novo olhar sobre o voluntário. Abgail Menezez, voluntária pelo Instituto Nenex desde 2019, relata a sensação de entrar como palhaço no ambiente hospitalar "Quando você entra num hospital sem estar caracterizado, as pessoas mal te olham, mas quando você se caracteriza todos te olham e geralmente abrem um sorriso, então o nariz de palhaço te dá liberdade pra falar com as pessoas, brincar”. 

Voluntários caracterizados de palhaços
Atendimento com voluntários caracterizados. (Foto: arquivo pessoal)

O voluntário coloca à disposição do paciente o prazer de rir, fazendo com que se sinta acolhido, o que para o psicoterapeuta Árlon Miqueias pode  fazê-lo acreditar mais na cura. Tal posicionamento também é partilhado pelo professor e psicólogo Claudinei Affonso, que acredita na mudança da postura perante o tratamento e, ademais, nas relações entre todos os atores que partilham do espaço, como médicos e acompanhantes. Para ele, "algumas intervenções auxiliam na forma como o paciente reage diante do tratamento, outras, ajudam na recuperação e, outras, resgatam a dignidade e identidade perdida em uma internação ou nos modos de tratamento”.

As ações também acrescentam muito na vida do voluntário. Abgail relata que acha o voluntariado muito gratificador: “É muito gratificante você chegar perto de uma criança, fazer bolinha de sabão e na hora ela parar de chorar, ou a enfermeira te chamar pra distrair a criança enquanto aplica a medicação, ou mesmo, colocar as senhorinhas pra dançar. Eu fico com uma sensação de que sirvo pra alguma coisa, mesmo que seja uma palhaçada, risos”. 

Menezez revela que na sua vivência, os adultos lhe parecem mais fragilizados e carentes. Ela acredita que como as crianças geralmente estão acompanhadas ou com brinquedos, elas se distraem com mais facilidade. Os adultos geralmente se sentem mais sozinhos: “ Às vezes, você quer sair do quarto e eles querem continuar conversando, isso é muito legal”. Com a ajuda desse mundo lúdico eles distraem e fazem com que o processo fique um pouco menos doloroso e como é uma atividade sem fins lucrativos é fácil sentir o carinho e o cuidado dos voluntários para com os pacientes “Eu quando estou sem o nariz sou uma pessoa, quando coloco o nariz sou outra. E o legal é que qualquer brincadeira que fizermos se não der certo não tem problema porque a gente é palhaço, se a gente canta e desafina não tem problema, a gente é palhaço”, ressalta Abgail. 

Voluntários caracterizados de palhaços
Palhaços em visita à hospital.(Foto: arquivo pessoal)

Dessa forma os doutores- palhaços têm auxiliado na recuperação de enfermidades físicas e mentais das pessoas, se preocupando com o bem estar delas num ambiente muitas vezes pesaroso. Levando a arte aos outros com amor e, claro, muito bom humor. 

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O que dizem os especialistas a respeito deste hábito?
por
Maria Eduarda Magalhães
Pedro Labigalini
Rafaela Eid
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24/09/2021 - 12h

Neste episódio, Eduarda Magalhães, Pedro Labigalini e Rafaela Eid contam a história da haste flexível de algodão, ou melhor, do cotonete. No bate-papo, a Dra. Gisele Bianchini, otorrinolaringologista, explica sobre o uso do cotonete. Afinal, é mesmo saudável?


O primeiro episódio da série "Desde Quando" já está disponível na plataforma do Spotify:
https://open.spotify.com/episode/7nxUYqH7Xrbzx0kPjPnZAa

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Nos primeiros meses de 2020, o país registrou 40 mil internações por falta de saneamento básico.
por
Bianca Monteiro e Raíssa Haddock Lobo
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08/07/2021 - 12h

A falta de saneamento básico não é novidade no Brasil. Entretanto, durante a pandemia de COVID-19, a falta de estrutura passou a contribuir com a transmissão do vírus. Podendo ser encontrar no ar e na água, o problema afetou justamente a parcela mais vulnerável da população: os moradores de baixa renda. 

Cristina Fonseca, 26 anos e mãe de três crianças pequenas, vive de perto a destruição causada pela estrutura precária, o desemprego, a falta de apoio estatal e as vidas perdidas pelo coronavírus. Até março de 2020, Fonseca conseguia alimentar as crianças com trabalhos periódicos, "bicos" como ela mesma chama de faxineira em casa de família, manicure e babá. Impossibilitada financeiramente de prover pelo os próprios filhos, ela teve que cuidar de outras crianças para garantir o minímo para as dela. O pai de seus filhos, uma paixão forte que durou só até a gravidez do terceiro bebê, não tem contato com ela nem com as crianças há mais de um ano. 

Quem a ajudava na manutenção da casa e nas contas do dia a dia era seu pai: "minha família sempre foi simples, nunca sobrou um real em casa. Mas meu pai também nunca deixou faltar, sempre me ajudou com as crianças e com as contas de casa." Infelizmente, a situação se agravou quando o pai de Cristina, um senhor de 67 anos foi diagnosticado com COVID-19 em setembro de 2020. "Entrei em desespero, os hospitais estavam todos lotados, eu e nem as crianças podíamos ficar perto dele. Ficou impossível de sair para trabalhar e nossa situação financeira piorou muito."

Cris, como gosta de ser chamada, acredita que ela mesma pode ter passado o vírus ao pai, "me culpo muito, mas eu não tinha o que fazer! O auxílio que o governo dá não dava pra nada e eu precisava sair para trabalhar para continuar colocando comida na mesa."

Na mesma época que Lourenço Fonseca, pai de Cristina, foi diagnosticado houve um surto de coronavírus na região. As áreas mais pobres das cidades de todo o Brasil foram as mais afetadas pelas altas taxas de contaminação e número de óbitos. Essa epidemia singular se deu porque para essa população, seguir as recomendações convencionais de prevenção à COVID-19 não é tarefa fácil. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), 10% das casas têm falta de água, pelo menos, uma vez por semana. O acesso à água potável é uma das instalações de saneamento básico.  

Na casa da família Fonseca não era diferente. A falta de água era mais cotidiano para eles do que a presença. O cotidiano para as crianças, a mãe e o avô era encher baldes para que fosse possível fazer o básico da higiene pessoal e pudessem cozinhar e ter um pequeno estoque do líquido em casa. A água parada, a impossibilidade de manter a quarentena, a necessidade de trabalhar fora de casa, o desemprego e a falta de um auxílio emergencial justo fez com que muitos moradores não conseguissem cumprir as medidas de isolamento social. Em entrevista, o médico infectologista da Sociedade Brasileira de Infectologia, Renato Grinbaum, explica que esses fatores foram extremamente prejudiciais para a saúde dessas famílias em vulnerabilidade. O tamanho e a estrutura das casas também faz diferença, a falta de ventilação e de cômodos para isolamento tornou a vida dessas famílias ainda mais complicada. 

Durante a pandemia, a desigualdade social ganhou ainda mais evidência. De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o número de brasileiros em extrema pobreza triplicou entre agosto de 2020 e fevereiro de 2021: o país saltou de 9,5 milhões para 27 milhões de pessoas.

No caso da família Fonseca, que já lutava contra as estatísticas a situação tomou outro rumo quando Lourenço veio a óbito, por causa de complicações devido ao COVID-19. "Agora só me resta meus filhos, não tenho emprego, o auxílio do governo só diminuiu e não consigo mais segurar as pontas seu meu pai. Dói muito a falta dele, tanto dentro de mim quanto em casa." Cris tem família no interior de São Paulo e, assim que conseguir juntar dinheiro para sua passagem e das crianças, pretende pegar a estrada para nunca mais voltar. "Vou atrás de dignidade."

 

Como o assunto reverbera na internet e entre especialistas  

 Raul Santiago, morador do Complexo do Alemão, criou a hashtag #diáriodeumfaveladonapandemia poucos dias após a Organização Mundial da Saúde decretar a pandemia em março de 2020. Na ocasião, o morador e ativista social na ONG Papo Reto, estava sem água em casa há 3 dias. 

Nas redes sociais, Raul ensina os moradores a lavarem as mãos com a menor quantidade de água. Em um tweet de abril de 2020, explicou como ele e a família costumam fazer para estocar (e manter a água limpa) durante a pandemia.

A falta de água durante a pandemia não afeta apenas a parte da higiene básica, mas pode contribuir para espalhar o vírus. O projeto "Estação de Tratamento de Efluentes Sustentáveis ​​do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia", da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), confirmou a presença do vírus Sars-Cov-2 em esgotos perto dos hospitais da cidade. Isso facilita a possibilidade de infecção pelo contato com a água não tratada - o vírus resiste até 10 dias nesses locais. 

O médico infectologista, consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia e professor na faculdade de medicina do ABC, Munir Aiub, apontou que o esgoto rastreia o coronavírus nos bairros: “O vírus é excretado pelas fezes e pela urina. Com a coleta de amostras de esgoto, podemos inferir como está a distribuição da doença em determinada região.”

Aiub comentou sobre projetos não concluídos de tratamento de esgoto e criticou o Estado por não investir o suficiente no saneamento básico. Para o infectologista, o governo pode melhorar a situação ao investir o dinheiro das "coletas de impostos e arrecadação pela União” nos serviços de esgoto.

O infectologista afirmou que o ciclo de doenças e internações continuarão existindo caso o governo federal, municipal ou estadual não olhe para o saneamento básico. Segundo a Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental (ABES), o país teve 40 mil internações em 2020. Isso custou cerca de R$ 16 milhões ao Brasil.        

Em 2018, dados do Trata Brasil registraram 233.880 internações e 2.180 óbitos por doenças causadas em função do contato com esgoto. Por Bianca Ferreira

 

A importância do saneamento antes, durante e depois da COVID-19

Para Juliana de Lemos, bióloga e professora, oferecer saneamento básico com logística é essencial: “A importância das instituições que gerenciam instrumentos de saneamento básico desde o planejamento atuam nessa área.”                                   

A professora reforçou a importância de um saneamento básico de qualidade para combater doenças: “Quando as formas de transmissão estão ligadas com o mantimento da saúde das pessoas e do meio ambiente ou quando o saneamento básico não existe ou tem problemas, os organismos se tornam mais vulneráveis a contrair doenças causadas por vírus.”

Sobre as medidas para evitar danos ao meio ambiente por conta do saneamento básico, a bióloga pontua três ações: presença de órgãos gestores para planejar instrumentos de saneamento básico e garantir sua distribuição; consulta constante com instituições especializadas na área; contato com pessoas diretamente afetadas pela situação.

O saneamento básico é um direito garantido na Constituição e pela Lei 11.445/07. Ele assegura a distribuição de água potável, a coleta e tratamento do esgoto, a drenagem urbana - que lida com a água da chuva -, e a coleta de resíduos sólidos para todos. 

Em levantamento do Ranking de Saneamento de 2020, 100 milhões de brasileiros não possuem cobertura da coleta de esgoto e 35 milhões não usufruem de água tratada. 

No Brasil, uma em sete casas não está ligada à rede de água. Dados do Trata Brasil em 2016 apontam 9,6 milhões de residências sem água na torneira e cerca de 90% do esgoto em áreas irregulares nas 100 maiores cidades do país.

 

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Pessoas das mais diversas idades relatam crises de ansiedade e pânico durante o isolamento
por
Bruna Galati e Letícia Galatro
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27/06/2021 - 12h

Em março de 2020, no início da pandemia de Covid-19, Ana Oliveira, de 23 anos, trabalhava em quatro escolas infantis. Com o fechamento de todas, perdeu seus empregos e buscou alternativas para manter sua renda. A única opção que surgiu foi praticamente se mudar para casa de uma prima - com medo de pegar o transporte público e se infectar -  e cuidar de seus filhos de 5 meses e 7 anos. Essa reviravolta na sua vida gerou um avanço de exaustão e falta de tempo durante o isolamento. "Quando aceitei ser babá estava tudo indo bem, mas no decorrer dos meses, duas escolas pediram para eu retornar. Como precisava de dinheiro extra, aceitei. De segunda a sexta fico na casa das crianças, me restando apenas o fim de semana para preparar e gravar as quatro aulas de inglês. Com tanta coisa acontecendo deixei de ter um tempo só meu e quando tenho pausas acabo limpando meu quarto", afirma.

Relatos como o da professora de artes ficaram comuns durante a pandemia. O aumento de jornadas exaustivas, imposição de metas abusivas e medo de ficar desempregado, agravaram os transtornos mentais e são eles uma das principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. Segundo a Previdência Social de 2017, os transtornos ansiosos estão na 15º  posição de doenças que mais geram afastamento do trabalho no país, e resultam em 28,9 mil casos. Em 2018, o INSS concedeu 8.015 licenças para o tratamento de transtornos mentais adquiridos no ambiente de trabalho. No ano seguinte, uma empresa de recrutamento relatou que 44% dos colaboradores brasileiros já sofreram de Burnout (transtorno  depressivo, gerado pelo esgotamento físico e mental).  

Com a chegada da pandemia, a incerteza do que irá acontecer no dia seguinte preocupou a todos. O medo do contágio da Covid-19 pelos familiares, a angústia dos cortes nas empresas, em razão da crise econômica atual e o estresse para aqueles que o trabalho triplicou, são algumas das razões para o avanço dos transtornos mentais no último ano. As doenças mais comuns são: crise de ansiedade, ataques de pânico, síndrome de Burnout e depressão. Cerca de 54% das pessoas entrevistadas pela Área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril, estão extremamente preocupadas com a situação atual, 47% sentem dificuldade para descansar e 23% não estão mais conseguindo dormir direito. 

A engenheira mecânica Thayna Zattar, de 24 anos, foi uma entre milhares trabalhadores demitidos durante a pandemia. No início do isolamento, recebeu a notícia de que não poderia mais trabalhar na empresa, já que muitos clientes haviam cancelado projetos de sua área, resultando na impossibilidade de manter os funcionários. "Com a perda do emprego, eu percebi que tive um aumento na minha ansiedade, principalmente por conta do atual cenário onde várias pessoas também perderam seus empregos. Não está sendo fácil dormir e relaxar", afirma. Já Thayna acredita, que a consequência disso é uma concorrência maior no mercado de trabalho, gerando uma disputa acirrada.

As empresas estão cada vez mais exigentes para contratar, mesmo que seja para uma vaga no nível Júnior. A jovem comenta sobre os pré-requisitos da vaga que exigem atuação na área de 2 a 3 anos e conhecimentos específicos avançados. Não sendo em vão que a cada ano, surgem 160 milhões de novos casos de doenças relacionadas ao trabalho, conforme a Previdência Social de 2017. Outro dado da pesquisa do Grupo Abril mostra que 76% das pessoas se preocupam com a superlotação dos hospitais. É o caso de Natália Barbosa, advogada de 25 anos, que continuou trabalhando presencial, já que sua empresa não aderiu ao isolamento social. Ela pegou Covid-19 e transmitiu para os pais, já em idade avançada. 

"Nesse período, senti novos sintomas, como síndrome do pânico, junto com as crises de ansiedade e episódios depressivos que eu já tinha anteriormente", afirma. Hoje, já curada do vírus e com os pais bem, continua trabalhando presencial e se cuidando com um psicólogo.

De acordo com o Jornal do Campus, na semana de 29 de março a 4 de abril de 2020, as pesquisas no Google por atendimento psicológico chegaram a 88% e para o serviço online avançou para 41%. Segundo uma apuração da Isma-BR e da consultoria Betânia Tanure Associados, no Brasil, 75% da população tem alguma sequela de estresse e 30% destes sofrem de burnout. Esse desgaste físico e psíquico afeta diretamente a lucratividade das empresas. Quem sofre de burnout trabalha, em média, 5 horas a menos. 2020 e 2021 certamente serão lembrados como os anos mais estressantes, cansativos e tristes da história. 

Esse cenário trouxe uma nova realidade para a área de recursos humanos, mudando a maneira como as equipes interagem e trabalham. Esgotado física e mentalmente, a produtividade de um profissional diminui consideravelmente. A situação se torna um lembrete para as empresas, pois antes de qualquer meta de trabalho, existem seres humanos que precisam de cuidados, compreensão e atenção.   

Para evitar ao máximo o avanço dos transtornos mentais durante a pandemia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um guia chamado "Cuidados para saúde mental durante a pandemia", indicando para fazer pausas e descansar entre os turnos de trabalho ou até mesmo tirar um momento para relaxar dentro do expediente. Também não esquecer de prestar atenção na alimentação, já que passamos mais tempo em casa e não recusamos algumas bolachinhas, bolos ou pão.

Continuar se exercitando foi outra sugestão da OMS e manter sempre o contato com a família e amigos, da maneira que for possível. E é claro, evitar o uso de tabaco, álcool ou outras drogas. Segundo o órgão, isso é uma ilusão passageira e a longo prazo, piora o bem-estar físico e mental. Para alcançar uma boa qualidade de vida e conseguir aproveitar os momentos felizes, a saúde mental é essencial. Porém, mantê-la exige atenção, esforço e cuidado diário. Apenas o fim da pandemia não será suficiente para melhorar o estado de ânimo daqueles que vêm sofrendo crises de pânico e ansiedade durante o isolamento.

Pensando nisso, ainda em 2020, a Pfizer, uma das empresas responsáveis pela realização de uma das vacinas em circulação, liberou um guia sobre saúde mental pós pandemia. Construído de forma colaborativa por 21 especialistas renomados no Brasil, o guia oferece um olhar sensível e sistêmico sobre o cuidado mútuo. Ele foi feito para servir como auxílio a profissionais da saúde que trabalham no atendimento diário de pessoas que tiveram suas vidas afetadas pela Covid-19. De tudo isso, é possível analisar uma coisa boa: as consequências da pandemia fez com que as pessoas começassem a valorizar mais com sua saúde mental. De acordo com uma pesquisa feita pela Mastercard, 62% dos brasileiros passaram a se preocupar mais com sua saúde mental, enquanto 58% acreditam que cuidar da saúde se tornou essencial. 

A demanda de psicólogos e psiquiátricos nos serviços da Prefeitura de São Paulo aumentou consideravelmente durante o isolamento social. De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria a procura aumentou 82% em consultórios particulares no Brasil. Com isso, o número de atendimentos nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de SP passou de 24 mil em setembro de 2019 para 52 mil em outubro de 2020. Independente da forma, todos devem buscar meios de cuidar de sua saúde mental e psíquica para evitar danos cada vez mais graves. Procurando respeitar seus limites e dominar os pensamentos, as pessoas podem usar esse momento caótico como forma de fortalecer sua saúde e o autoconhecimento. 

 

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