Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
|
12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Doença que afeta cerca de 8 milhões de brasileiras ainda tem diagnóstico complicado e demorado
por
Giovanna Takamatsu
|
12/11/2024 - 12h

Por Giovanna Takamatsu 

Eram 4h00min, talvez 5h00min, de algum dia da semana de 2017. Estava chovendo forte, uma daquelas tempestades com trovoadas, que deixa o céu totalmente escuro e tudo parece noite. Lara foi acordada por uma dor descomunal. Nunca tinha sentido algo assim antes em toda sua vida. Parecia que tinha sido atingida por uma faca ou um machado em sua perna direita. Ou então como se uma mão gigante estivesse apertando cada vez mais forte seus músculos da coxa. Ela não sabia o que fazer, pois não tinha nada aparentemente errado com seu membro; começou então a chorar e soluçar de tanta dor. Isso fez com que seus pais acordassem e checassem o que estava acontecendo. 

Sua mãe, que é farmacêutica, ao entender a situação, logo pensou em remédios disponíveis pela casa para tentar acabar com a dor, mas nenhum chegou nem perto de melhorar o sintoma de Lara – mesmo tomando remédios fortes, como codeína + paracetamol. O último recurso menos ‘drástico’ que sua mãe pensou foi uma massagem. A família tinha um massageador automático que esquentava enquanto agia. E por algum milagre, era exatamente isso que a adolescente precisava. Depois de uma longa hora - que pareceu uma sessão de tortura -, a dor de Lara finalmente diminuiu e ela conseguiu pegar no sono novamente. 

Um mês se passou sem que essa agonia voltasse, e Lara chegou a pensar que foi somente um episódio de dor de crescimento mais intensa– aqueles desconfortos que parecem uma mistura de câimbra e um apertão que acontecem com os pré-adolescentes – já que era muito comum disso acontecer com ela. Mas novamente, Lara acordou com aquele sofrimento, na mesma perna, no mesmo local. Não era possível. Dessa vez ela já sabia o que fazer, como proceder, mas precisa entender a causa dessa dor. 

Claro que a menina foi avisar sua mãe. E como se fosse uma epifania, a mãe percebeu sobre o que se tratava essas dores misteriosas. Ela já havia passado por algo parecido. Notou que ambas as vezes que essa dor na perna aconteceu, Lara estava menstruada. Esse era o ponto em comum entre as aflições. Só podia ser algo relacionado a isso. Fazia total sentido; ela sempre sofreu com sua menstruação: tinha dores e cólicas intensas nas costas, seu fluxo era intenso, já tinha o diagnóstico de Síndrome do Ovário Policístico (SOP) e seu ciclo era extremamente desregulado. 

Talvez seja endometriose, disse a mãe que lembrou ter tido isso quando era mais nova. Endometriose. Lara perguntou o que sua mãe fezpara resolver. Sua mãe foi enfática ao dizer que a gravidez, em sua época, era o tratamento mais comum. Mas Lara ainda era uma adolescente, e nem sabia se queria ter filhos. E o tratamento para a pior dor da vida não poderia ser engravidar.  Ela se sentiu em uma distopia, em ‘O Conto de Aia’. Lara foi procurar sobre essa tal de endometriose e na Internet viu que demora entre 4 a 10 anos para conseguir fechar o diagnóstico. 10 anos!!! E que não há cura, somente manejo dos sintomas. 

            O próximo passo lógico era ir à uma ginecologista. Lara não estava muito animada com isso já que entendeu que talvez demoraria anos e anos para resolver aquela situação. Mas enfim, ela foi. A ginecologista não deu muita atenção à queixa de Lara. Na consulta foram feitos os exames de rotina, e no final foi receitado uma pílula de gestrinona, que deveria bloquear totalmente sua menstruação, assim não teria nenhum sintoma relacionado a ela. Mas ainda sim não recebeu a confirmação de endometriose. 

Após alguns anos de dúvidas em seu diagnóstico, Lara decidiu a passar em outra ginecologista especialista em endometriose. Essa nova médica pediu que ela fizesse um exame de ressonância magnética da pelve, para identificar se havia focos de tecido endometrial fora do útero. Somente após que o exame voltou positivo, foi fechado o diagnóstico, ou seja, após 4 ou 5 anos do primeiro episódio de dor. Hoje, ela maneja seus sintomas com a pílula. Por se tratar de uma doença crônica, sua médica se preocupa com a questão de sua fertilidade, mesmo que Lara seja nova ainda. Demorou alguns anos, mas hoje Lara sabe que possuí uma rede de apoio médico que a auxilia em qualquer momento e respeita suas escolhas.   

Mas se sabe que essa realidade não é de todas as mulheres brasileiras com endometriose. Segundo o Ministério de Saúde, 1 em cada 10 mulheres sofrem com a endometriose. Isso são 8 milhões de brasileiras no total com essa doença. O diagnóstico dessa moléstia não é fácil, devido a inespecificidade dos sintomas, que podem significar muitas doenças ginecológicas. Mas o preconceito por parte de profissionais de saúde, que constroem estigmas cerca às aflições da mulher, afeta muito no tempo do diagnóstico e ressalta como as mulheres ainda não são levadas a sério nos diversos âmbitos sociais

Eliane tem 26 anos e é moradora do Campo Limpo, periferia de São Paulo. Desde adolescente, ela sofre com os sintomas da endometriose, tendo um quadro parecido com o de Lara: dores e cólicas fortes em diversas regiões próximas ao útero, fluxo intenso, ciclo desregulado. A principal diferença entre as mulheres é que, enquanto Lara conseguiu atenção médica e diagnóstico preciso já no início de sua dor, Eliane precisou de quase 10 anos para finalmente fechar seu diagnóstico. 

Isso se deve muito a desvalorização médica em casos de dores e cólicas uterinas. Eliane já escutou de profissionais da saúde em UBSs e UPAs que isso era normal da menstruação – o que não fazia o menor sentido em sua cabeça; não é normal uma dor que parece que suas pernas, seu abdome, suas costas estão sendo esmagadas. Ela se sentia ignorada toda vez que tentava falar sobre o assunto, e, de certa forma, ela desistiu de procurar ajuda para aquelas dores terríveis que tinha todos os meses. 

Aos 22 anos, Eliane conheceu seu atual marido. O casal começou a tentar engravidar, mas isso nunca se concretizou. Após 1 ano de tentativa, Eliane decidiu que iria passar por uma ginecologista para entender o que estava acontecendo. Essa médica não deu muita importância para as queixas de dor intensa, e alegou que era normal. Mas, para desencargo de consciência, a ginecologista pediu que ela realizasse o ultrassom transvaginal com preparo intestinal – prática comum para o diagnóstico de endometriose, uma vez que, com as alças do intestino vazias, a visualização dos focos de tecido é mais fácil – tanto para a endometriose quanto para o problema de fertilidade. 

Finalmente, no retorno da consulta, Eliane recebeu seu diagnóstico: endometriose. Entretanto, pelos anos que ela passou sem tratar essa doença, ela desenvolveu problemas de fertilidade. Hoje, ela realiza tratamentos que auxiliam resgatar sua fertilidade, mas ainda não conseguiu carregar uma gestação a termo. 

     

Tags:
Para além de desafios científicos, programas de planejamento familiar frequentemente ignoram a necessidade de inclusão dos homens nas decisões reprodutivas
por
Laura Mariano
|
23/10/2024 - 12h

Desde da década de 1960, esforços têm sido feitos para desenvolver um método contraceptivo masculino que seja reversível e possua uma eficácia comparável, ou até superior, à da pílula anticoncepcional. Contudo, até o presente momento, esse produto não chegou ao mercado. Ainda que a pesquisa sobre contraceptivos masculinos seja conduzida desde a introdução dos métodos contraceptivos femininos à população, os métodos convencionais de contracepção continuam predominantemente focados no controle da fertilidade das mulheres.

As razões abrangem desde os desafios fisiológicos do sistema reprodutivo masculino, uma vez que isso implica na redução das taxas de testosterona, podendo levar a problemas de função erétil e incapacidade de conceber, até a insuficiente dedicação por parte da indústria farmacêutica e aos estigmas associados aos diversos métodos potenciais, sejam eles baseados em hormônios ou de natureza de bloqueio, como exemplificado pelo Risug — Inibição Reversível do Esperma sob Orientação: um conceito que atraiu interesse desde o início de suas pesquisas nos anos 1970.

Dessa ideia, surgiu o Risug que injeta um polímero — popularmente conhecido como gel, chamado SMA (anidrido maleico de estireno) — no canal do deferente que, próximo à bolsa escrotal, inibe a passagem do fluido espermático local. Como alternativa, o procedimento promete, de acordo com estudos em modelos animais, esterilidade em até 10 anos.

O Instituto Indiano de Tecnologia (IIT), que estuda o procedimento com SMA, divulgou que os testes estão em estágio avançado e o Risug estaria disponível para a população. Isto é, caso haja a liberação dos órgãos reguladores de cada país, como a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), no Brasil. A injeção contraceptiva chegaria ao mercado valendo, em média, R$400,00, segundo o IIT.

O médico urologista do Centro de Medicina Sexual do Hospital Sírio Libanês, Celso Gromatsky, explicou que existe a possibilidade de reversibilidade do procedimento através de uma nova injeção no deferente, com uma mistura de bicarbonato de sódio e ácido dinitrosalicílico (DNS), um composto de moléculas redutoras.

“O gel atua na motilidade do esperma. Então, o indivíduo vai ejacular normalmente, só não vai conter espermatozoide. Há uma semelhança com a vasectomia, ou seja, o mecanismo é mais ou menos o mesmo, a diferença é que a reversibilidade do Risug é mais simples”, afirma Gromatsky.

Métodos contraceptivos espalhados com um fundo rosa
Nova método contraceptivo masculino foi eficaz em reduzir a fertilidade em testes do Instituto Indiano - Fonte: Freepik
​​​​​​

Mesmo assim, não parece a solução perfeita. Os espermatozoides ainda conseguem ultrapassar a barreira, e quando entram em contato com SMA, após uma transformação química, acabam sofrendo defeitos morfológicos, fragmentação do DNA e habilidade e fertilização prejudicada. Para além disso, os métodos propostos à população masculina ainda apresentam taxas de insucesso, além dos riscos de reversão, infertilidade e obstruções locais. 

A partir do momento em que os primeiros estudos sobre esse assunto foram divulgados, os pesquisadores enfrentam desafios para introduzir os medicamentos na indústria farmacêutica, dado que a taxa de eficácia se destaca como um fator de risco significativo. Ao analisar os resultados, a pílula anticoncepcional feminina, por exemplo, emerge como um dos métodos mais seguros quando utilizado de forma adequada, demonstrando uma eficácia de 99,9% dos casos.

“É muito caro produzir medicamentos, ainda mais quando falamos de uma situação na qual existem métodos muito mais efetivos. A pílula feminina, por exemplo, tem um perfil de segurança e um custo benefício maior, né? Tem que ser um produto que seja tão eficaz e tão seguro quanto, para ser lançado ao mercado”, afirma Erick José Ramo da Silva, doutor em Farmacologia e professor do Departamento de Biofísica e Farmacologia da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp).

A sociedade contemporânea está mais inclinada a deixar a responsabilidade de controle da reprodução para mulheres. Uma possível razão para essa situação é que, em sua grande maioria, a determinação da fertilidade é conduzida pelas mulheres, uma vez que são elas que enfrentam os riscos associados à gravidez e desempenham predominantemente o papel principal na criação dos filhos. Como resultado, a maioria dos métodos contraceptivos é voltada para o público feminino, deixando apenas três opções disponíveis para o público masculino: preservativo, vasectomia e o método de retirada.

“Estamos no século XXI, a vasectomia existe há mais de um século e existem homens que acreditam que o procedimento impactaria no desempenho sexual. Por isso, o advento do anticoncepcional masculino no mercado possibilita compartilhar a responsabilidade da gravidez de forma igualitária entre parceiro e parceira”, pondera Celso Gromatsky. 

No presente, em que se enfatiza tanto a necessidade de os homens assumirem suas responsabilidades reprodutivas, fica mais evidente essa lacuna de conhecimento e cada vez mais evidente a reivindicação da participação masculina no mérito da reprodução, bem como sua percepção acerca dos diferentes papéis de gênero em relação às decisões sobre quando ter relação sexual e uma gravidez.

Tags:
Segundo secretário de Polícia Civil do Rio, erro nos resultados dos testes tinha objetivo de obter lucro
por
Laura Mariano
|
14/10/2024 - 12h

 

A Polícia Civil do Rio de Janeiro iniciou nesta segunda-feira (14) uma operação que investiga o laboratório PCS-Saleme. A empresa é apontada como responsável pelo erro que provocou a infecção por HIV em seis pacientes após o transplante de órgãos infectados.


Os agentes prenderam duas pessoas envolvidas na emissão de laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV. As prisões de Walter Vieira, médico ginecologista e sócio do Laboratório PCS-Saleme; e Ivanilson Fernandes, técnico do laboratório, foram resultado da primeira fase da operação “Verum”, realizada pela Delegacia do Consumidor (DECON).

“As informações iniciais, colhidas até o momento, dão conta de que houve uma falha operacional de controle de qualidade nos testes aplicados ao diagnóstico de HIV. E tudo isso com o objetivo de obter lucro”, afirmou o secretário de Polícia Civil, Felipe Curi, em coletiva nesta segunda-feira (14).

Segundo as investigações, a análise das amostras deixou de ser realizada diariamente para se tornar semanal para diminuir os custos. A questão contratual com o laboratório também está sendo investigada pela Polícia Civil.

O outro sócio do laboratório, Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, filho de Walter, se apresentou à polícia para prestar depoimento. Ao todo, onze mandados de busca e apreensão foram expedidos pela Justiça do Rio de Janeiro. Duas pessoas estão foragidas.


“Assim que tive conhecimento sobre os casos, determinei a apuração imediata dos fatos. Todos os envolvidos estão sendo investigados e os culpados serão punidos com o rigor da lei. Esse crime atenta contra todo o estado, e daremos uma resposta dura”, declarou o governador Cláudio Castro.

Em nota, o Laboratório PCS Saleme afirmou que Walter Vieira, em depoimento nesta segunda-feira (14), disse que a sindicância interna do laboratório apontou falha humana na transcrição dos resultados de dois testes de HIV. 

“A defesa dele e de Mateus Vieira repudia com veemência a insinuação de que existiria um esquema criminoso para forjar laudos no laboratório, que atua no mercado desde 1969. A defesa confia que, após os esclarecimentos prestados por Walter, a Justiça entenderá desnecessário mantê-lo preso”, diz o posicionamento da defesa.

“O laboratório reafirma que dará todo suporte necessário às vitimas assim que tiver acesso oficial à identidade delas; e que está à disposição das autoridades que investigam o caso”, finaliza a nota. 

autoridades da policia civil sentadas a mesa durante uma coletiva de imprensa
Coletiva de imprensa sobre a operação contra envolvidos em contaminação de transplantados por HIV - Fotos: Rafael Campos (Polícia Civil)

Entenda o caso


No dia 10 de setembro, um paciente que fez um transplante de coração foi ao hospital com sintomas neurológicos e teve o resultado para HIV positivo — ele afirmou que não tinha o vírus antes.

A partir daí, as autoridades refizeram todo o processo e chegaram aos exames feitos pelo PCS-Saleme com resultado falso negativo. O doador infectado morreu em 23 de janeiro, aos 28 anos, no Hospital Municipal Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias.

Foram doados os rins, o fígado, o coração e a córnea. Todos foram testados, de acordo com o laboratório PCS, e não reagentes para HIV. Sempre que um órgão é doado, uma amostra é guardada. A SES-RJ, então, fez uma contraprova do material e identificou o HIV.

Em paralelo, a pasta rastreou os demais receptores e confirmou que dois doadores tiveram exames com falsos negativos no laboratório. Ao todo, foram duas pessoas que receberam os rins testaram positivo para o HIV; a paciente que recebeu o fígado morreu pouco depois do transplante, mas o quadro dela já era grave, e a morte não teria relação com o HIV. Um paciente recebeu a córnea, que não é tão vascularizada, e testou negativo.

No dia 3 de outubro, outro transplantado apresentou sintomas neurológicos e testou positivo para HIV. Essa pessoa também não tinha o vírus antes da cirurgia.

Na última sexta-feira (11), a Polícia Civil informou que investigava o caso. O Ministério Público do Rio de Janeiro também instaurou um inquérito para apurar as infecções. O objetivo é identificar os responsáveis pela emissão de laudos falsos que resultaram no transplante de órgãos infectados com HIV. A investigação ainda suspeita que o laboratório tenha falsificado laudos em outros casos.

A Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) contratou o laboratório PCS-Saleme para realizar os exames dos doadores de órgãos a partir de dezembro de 2023. Ao todo, até agora, seis pessoas foram infectadas por HIV após passarem por transplantes de órgãos na rede pública de saúde do Rio de Janeiro.

De acordo com a secretaria, todos os exames de sorologia dos doadores deste laboratório foram transferidos para o HemoRio, uma unidade de saúde estadual, que vai retestar o material armazenado de 286 doadores.

A polícia investiga ainda se o PCS-Saleme falsificou laudos em outros casos além dos transplantes. A unidade atendia outras 10 unidades de saúde estadual.

As autoridades também chegaram a outro exame errado, o de uma doadora no dia 25 de maio deste ano. Uma mulher de 40 anos morreu no Hospital Municipal Albert Schweitzer, em Realengo, e teve os rins e fígado doados. Os exames na PCS haviam dado negativo, mas a contraprova constatou que os três receptores dos órgãos dela haviam sido infectados.


O laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS-Saleme) tem como sócios dois parentes do ex-secretário estadual de Saúde do estado, Doutor Luizinho, atualmente deputado federal e líder do Partido Progressistas (PP) na Câmara. Na época, os parentes de Luizinho chegaram a fazer campanha para a candidatura dele para o Legislativo — são eles Walter Vieira, casado com a tia do deputado; Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo de Luizinho.


Em nota, o deputado disse que jamais participou da contratação de qualquer laboratório e lamentou o ocorrido — Luizinho deixou a secretaria três meses antes de o laboratório ser contratado.

Tags:
A saúde mental dos universitários tem sido um tema cada vez mais urgente nos debates atuais
por
Victória Toral
|
26/09/2024 - 12h

 

A transição para a vida adulta, marcada pela entrada na universidade e a busca por independência financeira, é um período que desencadeia em muitos jovens uma crise psicológica. A pressão pela excelência e o não entendimento de que errar é humano estão criando jovens com transtornos mentais que se não diagnosticados e tratados de forma correta, geram adultos ansiosos, estressados e depressivos. 


O advogado João Victor de Oliveira Silva, atualmente especialista em Direito à Saúde e Direito dos Autistas e PCDs, compartilhou sua história contra a depressão, em entrevista à Agemt. 
Em 2017, após alcançar todas as metas que havia traçado para a faculdade, incluindo estágios, pesquisas e prêmios, o jovem se deparou com uma realidade inesperada: a infelicidade diante das conquistas. 


Após o diagnóstico do transtorno mental, João contou que interrompeu seus estudos e buscou tratamento psicológico e psiquiátrico.“Tive, além de apoio familiar e de amigos próximos, o apoio dos meus superiores no trabalho.”
Após um ano de tratamento, ele percebeu que seu maior desafio era o perfeccionismo em suas conquistas. “Mesmo quando eu atingia meus objetivos, se eu não tivesse feito como planejei, não comemorava, mas sim me criticava. Como quando passei na OAB, eu não tinha o material que queria para estudar, e passei mesmo assim, mas não fiquei satisfeito.” 


Essa busca incessante pela excelência, comum entre muitos jovens, pode levar a altos níveis de estresse e ansiedade.
No período de transição para a vida adulta, ocorrem grandes mudanças na vida: a entrada na universidade e a busca por independência, com a criação e o desenvolvimento profissional, entre outros fatores que influenciam a incidência de transtornos mentais.


A Organização Mundial da Saúde (OMS) define a saúde mental como um estado de bem-estar que permite ao indivíduo usar suas habilidades, recuperar-se do estresse, ser produtivo e contribuir com a comunidade. 
Um estudo realizado pela organização, conhecido como World Mental Health Survey, revelou que 35% dos universitários de diversos países apresentam sintomas de ansiedade ou depressão.


O estudo conduzido pela psicóloga Giovanna Belei Miyazaki, especialista em análise comportamental de Rio Preto, mestre e doutora em Psicologia pela FAMERP, revela dados sobre a prevalência de transtornos como ansiedade e depressão entre os jovens universitários.


A pesquisa de Miyazaki embasa o estudo da OMS e analisa universitários desde o primeiro ano, de faculdades públicas e privadas de São José do Rio Preto. Segundo a especialista, por mais que estudantes de universidades privadas apresentassem níveis mais altos de ansiedade em comparação com os de instituições públicas, todos tinham ou estavam desenvolvendo algum tipo de transtorno mental, como estresse ou depressão.


No entanto, ela ressalta que a intervenção precoce pode fazer toda a diferença. "Nosso estudo mostrou que um programa de intervenção no início do curso pode melhorar significativamente o bem-estar mental dos estudantes e até mesmo prevenir o agravamento de problemas", afirma à Agemt.

 

um a cada três universitários tem problemas de saúde mental, segundo a OMS. Foto: Beatriz Toral.
Um a cada três universitários tem problemas de saúde mental, segundo a OMS. Foto: Beatriz Toral.


Como identificar os sinais de alerta?


João Victor contou ainda que durante o período pré tratamento, seu comportamento social mudou. O consumo de bebidas alcoólicas durante eventos sociais tornou-se mais frequente. Além também de utilizar o período de descanso para que pudesse trabalhar mais. 
A identificação precoce dos transtornos mentais é fundamental para um tratamento eficaz. Segundo a especialista Miyazaki, é importante estar atento para mudanças de comportamento, como perda de interesse em atividades antes prazerosas, isolamento social, alterações no sono e no apetite, e aumento do consumo de álcool ou outras drogas.


"Ansiedade, depressão e estresse são rótulos que damos para mudanças de comportamento", explica a psicóloga. 
Ela completa: "A ansiedade, por exemplo, se caracteriza por uma preocupação excessiva e sintomas físicos como taquicardia e sudorese. Já a depressão se manifesta pela perda de prazer nas atividades, tristeza profunda e falta de energia. E o estresse, é um transtorno complexo, porque ele envolve um estado de alerta, mas para coisas específicas".  


A importância do diagnóstico e tratamento


Durante o período de tratamento, João buscou escrever. Ele produziu o livro “Amarelo: Diálogo com a depressão”, que surgiu por meio destes textos, “Amarelo não é um livro sobre depressão e suicídio, mas um livro feito em depressão e pela ideia de suicídio. 
O advogado contou que seu foco não foi que o livro ficasse famoso, mas apenas expressar o que estava sentindo e se conhecer ainda mais.


É fundamental buscar ajuda profissional para um diagnóstico preciso e tratamento adequado. A psicóloga ressalta a importância de desmistificar os transtornos mentais e incentivar as pessoas a procurarem ajuda.
A saúde mental é tão importante quanto a saúde física e com o tratamento adequado, é possível superar os desafios e viver uma vida mais plena e feliz. 


Se você ou alguém próximo estiver precisando de ajuda é importante buscar por uma psicoterapia. O atendimento também pode ser feito pelo Sistema Único de Saúde, pelo Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), que encaminhará um psicólogo gratuito. Em momentos de crise, é possível também entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV)  pelo telefone 188, disponível 24 horas por dia. 

Tags:
O avanço de estudos sobre o uso de substâncias psicodélicas em tratamentos médicos e psiquiátricos
por
Rodrigo Marques e Guilherme Carvalho
|
02/05/2023 - 12h
Tags:
Para 2023 as metas estão mais altas e profissionais da saúde já alertam sobre as doenças desta época do ano.
por
Maria Fernanda Müller
Leonardo de Sá
|
25/04/2023 - 12h

Na segunda-feira (10), a Secretaria Estadual da Saúde (SES) iniciou a campanha de imunização contra o vírus Influenza em todos os 645 municípios do Estado de São Paulo. Segundo as informações liberadas pelo site da Secretaria, este ano é diferente dos anteriores, pois não haverá escalonamento do público prioritário. Sendo assim, cerca de 18,4 milhões de paulistas estão aptos a serem imunizados desde o primeiro dia da campanha. 

Por enquanto, o Ministério da Saúde enviou mais de 5 milhões de doses para o início da campanha. Essas doses foram distribuídas pelo Estado e já é possível aplicá-las na população prioritária.

O grupo prioritário é composto por idosos com 60 anos ou mais, crianças entre 6 meses e 5 anos, gestantes, pessoas em período do puerpério (até 45 dias após o parto), pessoas com imunossupressão e povos indígenas.

Desde do dia 17 deste mês, a aplicação foi liberada para as outras pessoas que compõem os grupos prioritários, profissionais da saúde e da educação, pessoas com deficiência permanente e comorbidades, profissionais de transporte coletivo, portuários, forças de segurança e salvamento, forças armadas, profissionais do sistema prisional, população privada de liberdade e adolescentes em medidas socioeducativas. 

Em entrevista, o médico infectologista do Hospital das Clínicas (HC), Evaldo Stanislau, afirma que o Influenza é um vírus agressivo que pode levar à pneumonia viral grave, sobretudo em pacientes mais vulneráveis como idosos e portadores de doença crônicas. Segundo o infectologista, “Além disso abre as portas para complicações bacterianas igualmente severas, como as pneumonias. Causa ainda um absenteísmo importante. A vacina reduz efetivamente essas situações e, dessa forma, é essencial!”

O ano em que a campanha contra Influenza teve maior adesão foi em 2020, quando atingiu uma cobertura vacinal de 92,5%, e desde então ainda é a maior porcentagem. Em 2023, o plano é alcançar o número de três anos atrás. Assim, a meta é de 90%, uma expectativa alta apesar das baixas coberturas que ocorreram em 2021 (55,5%) e em 2022 (69%). 

Além disso, profissionais de saúde já alertam que o outono traz variações de temperaturas, tempo seco e aumento da poluição, ou seja, é uma época propícia à contração de doenças respiratórias típicas da estação.

“Nesta temporada temos maior incidência de doenças respiratórias, como é o caso da gripe, causada pelo vírus Influenza, que pode apresentar sintomas como febre alta, tosse, coriza amarelada, dor no corpo e perda de apetite", conta o supervisor da UTI Pediátrica do Hospital Infantil Cândido Fontoura, Dr. Marcos Alvo. “Há também o resfriado, causado pelo Rinovírus, Boca vírus, entre outros, e que causa espirros, coriza clara e febre baixa”, finaliza. Os mais frequentes são gripes, resfriados, sinusites, bronquites, bronquiolite, crises de asma e pneumonias. 

Para isso, as unidades de Pronto Atendimento, os hospitais e outras redes de saúde já estão preparados para receber pacientes que tiverem febre persistente, dificuldades respiratórias graves, entre outros sintomas. Qualquer um que apresente algum sintoma insistente deve procurar um especialista. Além disso, há casos em que o quadro evolui para a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), causando principalmente insuficiência respiratória passíveis de internação. Consequentemente o paciente fica dependente do suporte de oxigênio.

A diretora do Centro de Vigilância Epidemiológico (CVE), Tatiana Lang D’Agostini, destaca a importância de se conscientizar sobre a vacinação contra a gripe também, pois essa é uma época do ano em que há inúmeros fatores que contribuem para o contágio por Influenza.

“É de suma importância que a população compareça aos postos para se imunizar contra a gripe, principalmente crianças e idosos, que são os grupos mais sensíveis à síndrome gripal e que pode evoluir para casos graves.”, enfatiza a diretora.

O dr. Evaldo Stanislau reforça algumas medidas para aumentar o índice de vacinação. Segundo ele, o mais importante é o desempenho do canal comunicativo entre cientistas e médicos com o público. “Precisamos nos comunicar de forma clara, com linguagem simples e sem o tom professoral da academia. Como cantou Milton Nascimento, todo artista tem de ir aonde o povo está", cita o médico. “Ou seja, adaptando, toda informação científica deve ser veiculada pelos profissionais de saúde, muitos com o dom da comunicação, por todas as maneiras possíveis.” finaliza ele.

Evaldo também fala brevemente sobre a luta contra as fake news. “Se ficarmos presos ao puritanismo da comunicação acadêmica, perderemos essa guerra para as fake news. Porém as consequências dão-se no mundo real e impactam os indicadores da saúde.”

Além disso, o médico diz ser importante haver acessibilidade. É necessário que os postos fiquem abertos em terceiro turno para atender quem trabalha, levando em consideração que idosos dependem do apoio de alguém. Essas medidas facilitariam a adesão. 

Os imunizantes estão disponíveis em Unidades Básicas de Saúde (UBS), esses postos de vacinação funcionam de segunda à sexta das 7 horas até as 19 horas. 



 

 

Tags:
Cerveja pode ser uma aliada da saúde
por
Vitor Simas
|
25/11/2022 - 12h

Por Vitor Simas Ribeiro Costa

Uma pesquisa realizada pela na Universidade Milano-Bicocca na Itália revela que beber cerveja pode reduzir o risco de desenvolver doenças neurodegenerativas, como demência e Alzheimer ao longo da vida.  Segundo o estudo publicado na revista ACS Chemical Neuroscience no final de outubro, um componente por trás do amargor dessas bebidas impede a aglutinação de proteínas ligadas ao Alzheimer. A doença começa quando o acúmulo de proteínas anormais causa a morte de células nervosas no cérebro humano.

O componente responsável por impedir que isso aconteça está nos extratos de flores de lúpulo, presente na grande maioria das cervejas. Essas plantas têm antioxidantes naturais que podem proteger as células do corpo, ajudando na redução de aglomerados tóxicos que poderiam ser marcadores do desenvolvimento de Alzheimer 

Isso quer dizer que devemos promover o consumo de cerveja?

Deve forma alguma. O estudo não afirmou que o consumo de cerveja ajuda na prevenção do Alzheimer, o estudou testou o efeito do lúpulo – que é um componente da cerveja, porém in vitro, usando uma espécie de verme chamado C. Elegans. Aponta a cientista Gabriela Bailas em análise feita em seu próprio Instagram. Ou seja, a cerveja não está diretamente ligada na prevenção de nenhuma doença neurodegenerativa, aliás o teor alcoólico presente na bebida faz com tenham mais malefícios do que benefícios à saúde. O consumo excessivo leva a reduções significativas no rendimento cerebral.  As descobertas não sugerem que o consumo de cerveja deve aumentar, mas que extratos da planta podem entrar em outros alimentos para reduzir o risco de doenças neurodegenerativas. 

 

 

 

Tags:
A jornada do abuso de substâncias até a dependência química e o tratamento de reabilitação voluntário
por
Bruna Quirino Alves
Maria Eduarda Camargo
|
28/10/2022 - 12h

 

Ela vinha em pequenos frascos, de metal ou vidro, com imagens ilustrativas e crianças sorridentes — comercializada para fins anestésicos e tratamento do vício em morfina ou álcool. Assim nasceu a cocaína, droga originada das folhas da coca e que teve — há mais de 100 anos  — seus anos dourados de legalidade. Mas a realidade do vício é muito diferente do glamour dos ternos dos empresários e das festas dos fins de semana.

De acordo com o novo Relatório Mundial sobre Drogas divulgado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) em 2021, cerca de 5,5% da população entre 15 e 64 anos usou drogas pelo menos uma vez em 2020, enquanto 36,3 milhões de pessoas, ou 13% do número total de pessoas que usam drogas, sofrem de transtornos associados ao uso de drogas. A psicóloga Lúcia Silva explica que: "A dependência química não se trata de uma vontade de consumir determinada substância e sim da incapacidade de não consumi-la".

No Brasil, segundo pesquisas da OMS, cerca que 6% da população brasileira atual possui dependência química, totalizando 12,4 milhões de pessoas. Os hospitais credenciados pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tiveram um aumento de 54% em 2020 no atendimento de dependentes químicos em relação a 2019, de acordo com os dados do Ministério da Saúde.  

A lei de n°13840 — sancionada pelo atual presidente Jair Bolsonaro no ano de 2019 — prevê a alteração da lei n°11343, possibilitando a internação involuntária de pacientes com dependência química. A internação involuntária ou compulsória é toda aquela que ocorre sem o consentimento do paciente. Para que ocorra, é necessário um pedido de internação vindo do médico psiquiatra — mesmo sem o consentimento ou pedido de internação da família.

Em entrevista à Revista Veja, o ator global Fábio Assunção conta as dificuldades que enfrentou na sua luta contra a dependência química e os danos gerados pela exposição sofrida por ele durante o seu processo de reabilitação. 

"Fui pela primeira vez aos Alcoólicos Anônimos há cerca de quinze anos. Na saída fui fotografado por um paparazzo e saiu uma nota no jornal. Aquilo me prejudicou muito e demorei anos para voltar.’’ 

Fábio faz parte da nova série da Globoplay ‘’Onde está meu coração’’ na qual ele interpreta o pai de uma jovem médica que se torna usuária de crack, a série retrata como o vício atravessa uma família e os conflitos que são gerados a partir disso, escrita por George Moura e Sergio Goldenberg, com direção artística de Luísa Lima.  

No painel realizado pela Globoplay na Comic-Con Experience (CCXP), o ator ressalta como fazer parte da produção foi importante na sua jornada com a dependência química. "Pra mim, tudo foi emocionante. Cada coisa que eu falava pra minha filha [na série] por causa da dependência, é como se eu estivesse me ouvindo também. É uma série em que eu estava presente de todas as formas, como ator, como pessoa.’’

Lúcia ainda comenta que: "O ideal é que a intervenção terapêutica combinada seja feita em instituições especializadas e que disponibilizem uma equipe multidisciplinar composta por médicos clínicos, psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e outros. Além do uso de remédios, o trabalho de aconselhamento auxilia na importância de evitar comportamentos que colocam a saúde em risco. Por meio de uma intervenção multiprofissional é possível alcançar resultados mais satisfatórios na reabilitação do paciente. Quando se trabalha em equipe, o compartilhamento de ideias ajuda a perceber, com mais clareza, a necessidade de eventuais ajustes para tornar as terapias ainda mais eficientes". 

Existe uma importância significativa no tratamento combinado e que é ainda mais alavancado pelo apoio individual e familiar. Assim, o paciente é incluído no próprio tratamento e pode, ativamente, contribuir com sua melhora. E a internação voluntária é a chave para que haja a colaboração e a humanização do paciente e para que o tratamento possa evoluir positivamente.

Tags:
Entenda como abandonar seu parceiro prejudica também a vida dos seres humanos.
por
Luísa Ayres Dias de Oliveira
|
28/10/2022 - 12h

Pelas ruas, a cena se repete. Quem nunca viu um animal desabrigado, revirando lixo ou se escondendo da chuva?

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), sobrevivem cerca de 30 milhões de animais abandonados no país. Desses, aproximadamente 20 milhões são cães e, 10 milhões, gatos.

Apesar de corriqueiro, o cotidiano do abandono revela um problema grave de responsabilidade, empatia e, principalmente, conhecimento da lei. Abandonar animais de estimação é crime. Além do pagamento de multa e proibição da guarda, a reclusão do indivíduo pode chegar a 5 anos – tratando-se de cães e gatos. Caso o animal venha a falecer, a pena aumenta de um sexto a um terço (Conforme a Constituição Federal e a Lei de Crimes Ambientais de nº 9.605/98).  

Priscila Gaieta, voluntária da ONG Canto da Terr, pontua que as causas para o abandono são uma somatória de 3 fatores: Falta de recursos e planejamento, pouco acesso à informação e irresponsabilidade.

“Eu resgato muito animal que ninguém quer. Agora terça feira (18), resgatei uma (cadela Vivi) que foi jogada de um carro a 80 km/h. Está cheia de ponto na cabeça”, conta Priscila, que também cuida de vários bichinhos portadores de alguma deficiência ou dificuldade motora, sobretudo cães cadeirantes que também foram abandonados. “O Banzé foi abandonado na ONG, muito machucado, muito idoso. Hoje está comigo, é o amor da minha vida”, conta emocionada sobre um dos seus cachorros resgatados.

Através de seus relatos, percebem-se os diversos tipos de abandono. Desde aqueles animais que são deixados nas ruas ou nas portas dos abrigos, até os cenários mais desumanos possíveis, como aconteceu com Paçoca, um cãozinho atropelado e abandonado em um dia de chuva ainda dependendo do uso de acesso venoso.

Na pandemia, o índice de abandono cresceu cerca de 61%, conforme aponta a Associação das Mulheres Protetoras dos Animais Rejeitados e Abandonados (Ampara Animal). Como agravante, houve menores índices de adoção em 2022 se comparado ao ano passado, causando superlotações em muitos abrigos.

O que pode ser feito?

Apesar de tentar convencer os donos a ficar com os bichos, Priscila conta que as desculpas são sempre as mesmas: “Ai, já tentei de tudo”, “Meu marido não quer”, “Eu não tenho como cuidar”. Isso quando muitos não mentem, chegando à ONG com um bicho supostamente achado na rua.

Por isso, ela conta que exige uma adoção responsável, em que é feito todo um processo de acompanhamento com os novos tutores, que devem enviar fotos e vídeos do animal pelo tempo que for necessário, além de assegurar a aplicação das vacinas no prazo. Caso contrário, o bicho é retirado através de meios legais.

Além disso, os animais são entregues castrados e os novos donos são informados com antecedência sobre as necessidades e personalidade do animal.

“A gente não tira da rua pra voltar pra rua”, afirma.

Legenda: Rafaela, Carlos Eduardo e a gatinha Flora, respectivamente, durante evento de adoção realizado no pet shop Pata Natural.
Legenda: Rafaela, Carlos Eduardo e a gatinha Flora, respectivamente, durante evento de adoção realizado no pet shop Pata Natural. Créditos: Luísa Ayres.

 

Pensando na causa, o Dezembro Verde, uma campanha realizada em diversos lugares do país, inclusive na ONG e nos projetos de Priscila, tenta conscientizar a população acerca do tema - apesar do mês ser um dos que apresenta maior índice de rejeição animal, sobretudo em meio às festas de fim de ano e viagens de férias.

Cuidar dos animais é cuidar das pessoas

Além de ameaçar a vida dos próprios animais, o abandono também prejudica a vida da população, sobretudo, devido à maior disseminação de doenças. Dentre elas, a raiva, leptospirose, micose, infestação de lombrigas, sarna, giardíase e toxoplasmose. Todas apresentam risco letal, podendo ser transmitidas através de mordidas, arranhões e contato com ferimentos dos bichos.

A ONG internacional World Animal Protection orienta para a denúncia de casos de abandono ou maus tratos: Há a possibilidade de lavrar um Boletim de Ocorrência (BO) ou então de comparecimento à Promotoria de Justiça do Meio Ambiente. É possível denunciar também ao órgão público do município, utilizando-se inclusive da Lei Estadual ou Federal. Já pelo telefone, pode-se discar 190 (polícia), 181(disque denúncia) ou 0800 61 8080 (IBAMA – em caso de animais silvestres). Pela internet, é possível acessar os portais do Ministério Público Federal ou do Safer Net. Para informações mais específicas de como denunciar em cada região e estado do país, acesse a página da ONG.

Tags: