A pesquisa Datafolha divulgou intenção de votos para prefeito de São Paulo feita com 1092 eleitores da capital paulista. Nela, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 32% de intenção de votos. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) ocupa o segundo lugar nas pesquisas com 24% das intenções.
Em 3° e 4° estão a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 11%, e o também deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%. A pesquisa tem margem de erro de 3 pontos para mais e para menos, colocando os dois em empate técnico.
Com quantidade inexpressiva, o pré-candidato Vinicius Poit (NOVO) tem 2% das intenções. 18% dos eleitores afirmam votar nulo ou branco, o esperado pela distância de um ano entre a pesquisa e o pleito. 5% não souberam afirmar em quem votariam.
Na pesquisa espontânea, em que os entrevistados não são apresentados às opções existentes, Boulos lidera com 8% das intenções, seguido de Nunes com 4% e Kim Kataguiri com 1%. Apenas 2% citaram “o candidato do PT” e 72% não tem candidato em mente.
Guilherme Boulos
A aparente vitória do deputado do PSOL na pesquisa se deve ao apoio de Lula conquistado por ele. Boulos fez um acordo com o PT, em 2022, no qual garantiu apoiar a candidatura de Haddad ao governo do estado, enquanto o Partido dos Trabalhadores manteria apoio a ele nas próximas eleições da prefeitura da capital.
O apoio político oferecido ao Boulos tornou-se uma vantagem a partir do momento que São Paulo votou mais em Lula, candidato do PT à presidência, que a Bolsonaro. Uma grande margem de eleitores pode migrar ao candidato do PSOL por ter apoio estreito do presidente e de seu partido.
Boulos também recebeu 40% dos votos na última eleição que concorreu à prefeitura da cidade, quando os votos de Gilmar Tatto (PT) e Márcio França (PSB) migraram para ele no segundo turno.
Em um cenário atual parecido com o anterior é possível prever que o deputado do PSOL ganhe votos de Tabata Amaral, se o desempenho dela não for suficiente para levá-la a um possível segundo turno. A candidata é de centro-esquerda e do PSB, que em nível nacional tem aliança com o PT, que apoia Boulos.
Por outro lado, Boulos incomoda a parcela conservadora da população paulistana. Por muito tempo ele foi líder do MTST, movimento que ocupa prédios no centro e reivindica justiça social a quem não tem onde morar.
Isto se reflete na sua preferência por 45% da população do centro, mas também na sua rejeição pela parte da população mais próxima ao conservadorismo, correspondente aos católicos e os evangélicos, na faixa etária entre 45 e 59 anos.
Sua ligação a Lula, enquanto pode dar frutos positivos, também pode se tornar um empecilho ao candidato. Na recente pesquisa do Datafolha divulgada no dia primeiro, 37% da população afirma não votar em candidato atrelado ao presidente, enquanto apenas 27% votariam com certeza em um candidato apoiado por ele. 37% afirmaram que talvez votariam em alguém apoiado por Lula.
Em relação ao presidente, 45% afirmam que sua gestão é ótima ou boa, enquanto apenas 25% não a aprovam. O bom desempenho de Lula, atrelado ao seu apoio ao prefeito, pode escorrer como força positiva na campanha de Boulos.
Ricardo Nunes
O atual prefeito Ricardo Nunes vive uma situação diversa, e talvez difícil. Com o apoio da máquina estatal, sua reeleição seria a resposta mais provável. Porém, as pesquisas de intenção de voto e aprovação nos mostram uma realidade diferente.
Seu plano é abocanhar os votos de quem rejeita a esquerda. Ele é mais tradicionalmente ligado à cidade como parte do “tucanistão”, estado que sempre votou em candidatos do PSDB para o governo. Esse é o mesmo público que recentemente votou em outro candidato de direita para o palácio dos bandeirantes, o governador Tarcísio de Freitas (Patriota).
A última eleição, entretanto, mostrou uma capital paulista mais à esquerda do que o resto do estado, dando mais votos a Lula e Haddad em comparação com Bolsonaro e Tarcísio. Isso dá desvantagem ao candidato do MDB, partido tradicionalmente atrelado ao centro e à direita .
Pensando nessa realidade, Valdemar da Costa Neto, líder do PL, tenta emplacar Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, como vice de Ricardo Nunes. Ela foi historicamente alinhada ao PT, mas se distanciou do partido em 2016 por apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em seguida, se filiou ao MDB, atual partido de Ricardo Nunes. Sua nomeação como candidata a vice seria uma ponte para facilitar as conversas com os eleitores de esquerda.
Concomitante a esse movimento, o governador Tarcísio deu apoio ao candidato que quer se firmar como o homem da direita no pleito. Esse suporte, entretanto, pode ser mais negativo que positivo à campanha.
46% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha disseram que não votariam de forma alguma em alguém apoiado por Freitas, e apenas 15% disseram que iriam votar com certeza nesse candidato. A aprovação do governador em São Paulo é de 30%, enquanto 35% da população o rejeita. Ou seja, é possível que a grande rejeição do governador seja associada a Ricardo Nunes.
O candidato a prefeito busca muitos aliados para poder ganhar votos de diversas camadas dos eleitores paulistanos. O encontro de muitas personalidades, porém, pode ser negativo. Na onda direitista que tenta se aliar contra Boulos, Jair Bolsonaro decidiu apoiar a candidatura do prefeito do MDB.
A pesquisa do Datafolha revelou que 68% dos eleitores nunca votariam em alguém apoiado pelo ex-presidente, mas 15% votariam com certeza em figura apoiada por ele. Esta porcentagem pode ser preciosa numa decisão acirrada. Por causa disso, Nunes deverá fazer um malabarismo político para não se associar ou distanciar de Bolsonaro.
Outro ponto que deverá ser um empecilho para a campanha de Ricardo Nunes é o fato de que, no mesmo levantamento sobre a gestão do prefeito de São Paulo, 79% dos entrevistados demonstraram desejo de mudança de rumos na administração pública.
Tabata Amaral
O terceiro lugar da candidata Tabata Amaral pode parecer ruim, mas contém bons números a serem explorados por sua equipe. Seu nome é conhecido por apenas metade dos entrevistados (dentre eles, 15% conhecem pouco e 22% só ouviram falar), o que lhe dá margem para formar sua campanha quase do zero, moldando-a com poucos estigmas acumulados em comparação com Boulos ou Nunes
Tabata Amaral acumula também 23% de rejeição, a menor dentre os candidatos.
Por ser de centro, ela deve buscar os votos dos que não que rejeitam Boulos e a esquerda mas tampouco se identificam com Bolsonaro e a extrema-direita. Sua posição, entretanto, se mostrou pouco eficiente com os extremistas de ambos os lados do espectro político, que acumulam críticas à deputada.
Kim Kataguiri
O candidato do União Brasil faz parte do MBL (Movimento Brasil Livre), historicamente alinhado à direita , que foi importante nas mobilizações de rua a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.
Essa associação positiva pela parcela de direita da cidade pode também trazer dores de cabeça ao deputado federal. Kim Kataguiri era muito próximo de outro membro do movimento, Artur do Val, que recentemente foi expulso por estar envolvido em um escândalo de mensagens sexistas que ele escreveu sobre ucranianas.
O candidato demonstra maior apoio da parcela jovem, de 16 a 24 anos, da cidade. Também tem bom desempenho online, possui um canal no Youtube e demonstra mais eficiência em sua campanha nas redes que outros candidatos.
Com 35%, Kim Kataguiri é quem mais tem rejeição na cidade.
(Apoiadores de Bolsonaro na esplanada dos ministérios no sete de setembro de 2022. Foto:Gabriela Biló/Folhapress)
O dia da independência do Brasil em 2022 teve bandeiras que não representavam a nação, mas sim uma pessoa: Jair Bolsonaro. O político utilizou a data para alavancar as suas chances de ganhar as eleições presidenciáveis e atacar “inimigos” como o STF. A comemoração teve uma elevação dos gastos. Comparado a 2019, o orçamento para o desfile aumentou em R$4,4 para 8,4 milhões de reais. A Defesa repassou as informações por causa da Lei de Acesso à Informação.
Em Brasília, o presidente segurou uma bandeira escrito “Brasil sem Aborto, Brasil sem drogas”. Junto a ele estavam seus aliados e familiares, como Luciano Hang. O público de mais de 100 mil pessoas viu a demonstração das forças armadas e desfiles de tratores. Os apoiadores que vestiam verde, amarelo e azul, seguravam placas com “22 pelo bem do Brasil” e pedidos de acionamento das forças armadas para destituir o Supremo Tribunal Federal.
Em seu discurso, Bolsonaro pediu votos, falou da “luta do bem contra o mal”nas próximas eleições e comparou as primeiras damas Michelle e Janja (Rosângela Lula da Silva). Após chamar sua esposa de "mulher de deus", incitou um coro de “imbrochavel”. Por fim, deu uma indireta ao STF, esperando vaia do público contra seus “adversários políticos”
A insatisfação bolsonarista foi ativamente contra a sociedade civil desde o resultado das eleições . No dia 30 de outubro, rodovias em 25 estados e Distrito Federal foram bloqueadas como protesto pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 2 e 15 de novembro, foram realizadas manifestações golpistas em prol da intervenção militar em diferentes estados da nação, inclusive na frente do prédio das Forças Armadas. Em 12 de dezembro de 2022, a sede da Polícia federal foi vandalizada e 8 carros foram queimados, além de botijões de gás terem sido espalhados por Brasília.

Depois de semanas acampando na frente dos prédios militares em todo país, foi a vez da Praça dos Três Poderes de ser ocupada. Quatro mil golpistas, novamente vestindo verde e amarelo, criticaram o STF, afirmando que as eleições não foram justas e exigindo ação militar. Para provar seu ponto, saquearam obras de arte públicas, picharam as estátuas do planalto e vandalizaram a justiça. Não só feriram o prédio público, como também agrediram a própria democracia brasileira.
O Sete de setembro representa a liberação do Brasil de mãos portuguesas.Contudo, o medo do totalitário nunca saiu da história da nação. Com Jair Bolsonaro, representante da ideologia extremista, inelegível, a data se torna um símbolo de resistência da democracia. Ao mesmo tempo, é uma mensagem de cautela sobre os grupos nocivos que cercam a sociedade civil do país.
Confirmada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), em um evento ocorrido na capital paulista em 26 de agosto, a primeira reforma ministerial do atual Governo Lula dá seus primeiros passos para sair do papel. Um dos objetivos principais da reforma é negociar com partidos de centro e garantir maior apoio da categoria.
Lula, que já encara seu terceiro mandato como presidente da República, pretende garantir ao centrão algumas pastas de seu governo em troca de apoio político. Ao todo, o governo lulista já possui 37 ministérios.
Recentemente, o líder do Partido dos Trabalhadores anunciou a criação de uma nova pasta, o Ministério das Micro e Pequenas Empresas. A ideia é que o novo ministério, ainda em criação, também seja concedido ao centrão. Com a medida, a Federação passará a ter ao todo 38 ministérios.
NOVO DESENHO MINISTERIAL
É certo que os deputados André Fufuca (PP-MA), atual líder do partido na Câmara, e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), ambos parlamentares considerados de centro-direita, terão cargos no Governo.

Desde o início, o PP gostaria de assumir uma pasta com um grande orçamento, chegaram a ser negociadas pastas como Saúde e Desenvolvimento Social. Após uma longa negociação, o destino de Fufuca será o de assumir o Ministério do Esporte, com mais secretarias, como uma ligada às apostas esportivas, além de um orçamento maior. A atual ministra, Ana Moser (Sem Partido) deixa o Governo.

Já o desejo do Republicanos, é que Costa Filho chefie o Ministério de Portos e Aeroportos. O partido já possui o comando do governo de São Paulo, com Tarcísio de Freitas, estado que possui o maior porto da América Latina, em Santos, e o aeroporto mais movimentado da América do Sul, em Guarulhos. A AGEMT procurou a assessoria do deputado, que preferiu não se manifestar sobre o assunto.
O atual comandante da pasta, Márcio França (PSB-SP), será redirecionado ao novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas, que aceitou o convite após longas conversas com o presidente da República e o seu partido, que incluíram ainda Geraldo Alckmin (PSB-SP), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.
Os partidos reivindicam ainda a presidência da Caixa Econômica Federal. O banco, que atualmente é gerido por Maria Rita Serrano, passaria para as mãos da ex-deputada federal, Margarete Coelho (PP-PI), aliada do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Além da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que ainda não tem nome definido para o cargo.
O INTERESSE DO CENTRÃO
Por trás destes bastidores, está a busca do Governo por aliados no Congresso. Com isso, os partidos de centro e centro-direita, que juntos formam maioria da bancada parlamentar no Senado e na Câmara dos Deputados, possuem o “trunfo” de negociar cargos em troca desse apoio esperado.
Para entender essa queda de braço, entrevistamos Mayra Goulart, cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo a especialista, existe um pressuposto na ciência política de que todo o comportamento de um político é determinado pelo desejo de obter mandato ou reeleger-se:
“A vontade de distribuir recursos em seus territórios eleitorais e a acomodação de apoiadores em importantes cargos estão por trás das reivindicações”, observa Goulart.
De acordo com um levantamento feito pelo portal Poder 360, os ministérios do Esporte, Desenvolvimento Social e Portos e Aeroportos somam juntos R$ 1.3 bilhão em emendas parlamentares.
Para 2024, a previsão é de que as pastas somarão R$ 287.7 bilhões, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado ao Congresso na última quinta-feira (31).
Em 2021, Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, fez um movimento similar quando nomeou o senador Ciro Nogueira (PP-PI) como chefe da Casa Civil. Além dele, personalidades do centrão como João Roma, Fábio Faria e Flávia Arruda, também ganharam espaço.

Goulart analisa as diferenças entre as mudanças de cargos promovidas por Bolsonaro, durante seus 4 anos no poder, em comparação com Lula. Segundo a professora, o líder da direita no Brasil abriu mão de uma agenda em termos de implementação de políticas públicas e alterações macroeconômicas para a ocorrência dessas mudanças de cargos desejados. A especialista não vê a mesma abdicação fácil por parte do governo Lula.
A NOVA CARA DO GOVERNO

Desde o início de sua governança em 2023, Lula perdeu dois ministros: o General Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional – que saiu em meio a polêmica dos atos antidemocráticos de 08 de janeiro – e Daniela Carneiro (União-RJ), do Turismo que foi substituída por Celso Sabino (União-PA) após sua turbulenta briga com a cúpula de seu partido.
No dia da posse, havia 26 ministros homens e 11 mulheres. Atualmente, são 27 homens e 10 mulheres. Após a reforma, o governo perderia uma figura feminina e a substituiria por um homem. Goulart atesta que o Planalto está abrindo mão da inclusão de minorias no governo em prol de uma melhor governabilidade. .

As mudanças foram anunciadas nesta quarta-feira (06). A demora nas negociações e no anúncio oficial se deu por conta de um acordo do centrão, de que todas as nomeações fossem feitas sequencialmente.
Na segunda-feira da semana passada(21), o Tribunal Federal Regional da 1° região de Brasília (TRF-1), manteve arquivada a ação de improbidade contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. O caso faz referência às supostas “pedaladas fiscais” que foram denunciadas em 2014 pelo Estadão e embasaram o processo de impeachment contra a petista em 2016. A decisão do TRF-1 favorece também outros nomes, como o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho e, por fim, o ex-secretário do Tesouro Arno Augustin.
Em 2020, Dilma foi condenada pela 10a Vara Federal do Rio de Janeiro a pagar um valor por ter prejudicado o cofre público. O montante deveria ser calculado pelo Tribunal de Contas da União (TCU). A defesa de Dilma, entretanto, não aceitou a decisão. Dois anos depois, o TRF-2 entendeu que não foram oferecidas provas suficientes para comprovar que a petista causou prejuízo à União. O Ministério Público Federal recorreu à segunda instância, mas a situação não mudou. Por unanimidade, foi julgado que Dilma era inocente e que o caso deveria permanecer arquivado.

Apesar da similaridade entre os julgamentos, a decisão do TRF-1 apenas qualifica como ruim o veredito dos senadores que avaliaram as atitudes da petista em 2016. Não existe uma relação jurídica direta entre as duas sentenças. Em vídeo para o “Canal Meio”, o jornalista Pedro Dória explica que o senado julgou que Dilma havia maquiado as contas da União e, portanto, deveria sair do cargo. O que foi julgado em agosto de 2023 é o quanto essa “maquiagem” feita pela ex-presidenta afetou o país.
Ao declarar o arquivamento do caso, o TRF-1 entende um atraso brando das contas fiscais, não sendo compatível com a escolha de 2016 de depô-la do cargo de presidenta do Brasil. Em seu vídeo, Dória explica : “Nós podemos discordar da opinião dos senadores, podemos dizer que eles foram cínicos, que na verdade queriam Temer no poder para barrar a operação Lava Jato, eu acho que foi isso, que se arranjou uma desculpa [..] Porém, os senadores são os juízes desse tipo de processo, eles que decidem se a lei foi cumprida ou não”.
Durante o Impeachment, a petista foi acusada de atrasar as contas fiscais em valores maiores do que os feitos pelos seus antecessores, o que foi chamado de pedalada fiscal. Porém, em entrevista ao podcast “Mano a Mano”, apresentado por Mano Brown, Dilma afirmou que, apesar de ter atrasado em um valor maior, começou uma política de pagamento adiantado quando comparado com seus antecessores. “Nós pagamos dentro do mesmo ano fiscal. Nenhum governo pagava dentro do ano fiscal, meu governo começou a pagar. Me produziram um impeachment por algo que nunca tinha sido diferente, eu tinha mudado pra melhor”, explica.
Além disso, a petista entende que o verdadeiro alvo de condenação em 2016 foram as políticas sociais que incentivava ” Eu levei o golpe porque eu representava um projeto”.
Desde maio deste ano, o Uruguai registrou níveis de água entre 1,7 e 6% na represa Paso Severino, principal reservatório que abastece a região sul do país. Com a iminente crise hídrica, o presidente de centro-direita, Luis Lacalle Pou, autorizou a mistura da água do rio da Prata, com maior concentração de substâncias impróprias, ao resto do reservatório para complementar o estoque.
O acúmulo de sal e cloreto no rio é três vezes maior que o recomendado pela OSE (Obras Sanitarias del Estado), empresa estatal responsável pela manutenção dos sistemas hídricos. Várias famílias, sem dinheiro para comprar água engarrafada, ficaram impossibilitadas de consumir o líquido no país que foi o primeiro a reconhecer o direito à água como universal.
O estado uruguaio, em meio a insatisfação popular, afirmou que a crise hídrica foi agravada pela seca dos últimos três anos, causada pelo fenômeno oceânico La Ninã. O vice-ministro do meio ambiente, Gerardo Amarilla, em entrevista a rede local Canal 12, disse esperar as chuvas futuras para resolver o problema. “Nós atuamos pensando que era uma questão temporal e que as chuvas iriam chegar”, comentou o ministro.

A população, que se mobilizou em manifestações desde o final de maio, reclama, também, que os últimos governos fizeram mau uso dos recursos hídricos, dando a sua maior destinação à indústria e à agropecuária. A organização ambiental Redes-Amigos de La Tierra expôs que 80% da água do país é destinada a fábricas de celulose e cultivos de arroz e soja.
As acusações de descaso com o abastecimento se agravaram ainda mais com a tentativa da Google de instalar uma data base no país. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o centro usaria 7,6 milhões de litros de água por dia para resfriar seus servidores, o equivalente ao uso doméstico diário de 55 mil pessoas.
A frase “não é seca, é roubo”, em protesto contra a empresa, foi vista em vários cartazes em Montevidéu. O Ministério do Meio Ambiente rebateu dizendo que os dados estavam desatualizados e que a instalação do Google será menor.
A BNamericas, consultora e analista de mercados para empresas que querem firmar negócios em países latino-americanos e que presta serviços ao Google, declarou que a empresa está buscando soluções: “Esperamos que as cifras preliminares, como o consumo de água projetado, sofram alterações. No Google a sustentabilidade está no centro de tudo o que fazemos, e a forma em que desenhamos e administramos nossos centros de dados não é uma exceção".
