Entenda como funciona a manipulação da extrema-direita que reacende sinal de alerta para 2026
por
Oliver de Souza Santiago
Rafael Pessoa
|
15/04/2025 - 12h

O cenário político brasileiro tem apresentado um rumo preocupante nestes últimos anos. O aumento dos lobbies de outsiders como Elon Musk e Luciano Hang, somados com a polarização e diversas linhas ideológicas dos partidos nas redes sociais, tem alertado o Legislativo, Judiciário e o Executivo. O discurso de mudanças e urgências, baseado em instigar emoções como ódio, medo e esperança, tem fortalecido o crescimento de políticas extremistas.

No dia 6 de março, o ex-presidente Jair Bolsonaro e outros políticos de sua base, como Tarcísio de Freitas (Republicanos/SP), Eduardo Bolsonaro (PL/SP) e entre outros,  reuniram-se em Copacabana,  para manifestar o apoio à anistia para os crimes cometidos no atentado do dia 8 de janeiro de 2023. O evento teve a participação de 18,3 mil apoiadores, e apesar da derrota de Bolsonaro nas eleições de 2022, a presença do poder de controle e manipulação do bolsonarismo se mantém presente. Afirmações sobre uma suposta manipulação do pleito eleitoral de 2022 e apoio à anistia para Bolsonaro, que está sendo investigado por envolvimento na trama golpista, foi um dos temas mais comentados.

A imagem acima retrata uma charge do ex-presidente Jair Bolsonaro no ato pró-Anistia, realizado em Copacabana
Charge sobre o protesto sobre o ato pró-Anistia para presos do 8 de janeiro em Copacabana. Foto/Reprodução: Rafael Pessoa (Agemt)

O que começou com o Movimento Passe Livre em 2013, para o atentado de 08 de janeiro de 2023, evidencia o uso de mecanismos de manipulação das massas na mídia ocidental. Veículos de comunicação como Jovem Pan, Brasil Paralelo e Revista Oeste, destacam-se por sua linguagem fácil para todos os públicos, alcance midiático e por propagação de fake news. Além do surgimento de figuras como o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro, o deputado federal, Nikolas Ferreira, o vereador Lucas Pavanato e a vereadora Zoe Martinez, com todos sendo do mesmo partido: o Partido Liberal (PL). Os parlamentares são conhecidos nas redes sociais por sua comunicação intensiva com seus apoiadores e grande parte do eleitorado brasileiro.

Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)
Da esquerda para a direita: a vereadora, Zoe Martinez, o ex-presidente, Jair Bolsonaro, a ex-primeira dama, Michelle Bolsonaro e o vereador, Lucas Pavanato (Foto/Reprodução: instagram @zoebmartinez, instagram @lucaspavanato)

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, o influencer político Henrique Lopes, 25 anos, mestrando em Ciências Sociais na USP, explicou quais são os métodos utilizados em maioria pela extrema-direita. “[..] Dentro do universo das redes sociais hoje, principalmente quando você trabalha com política, é praticamente impossível fugir da questão emocional. Toda influência que você tem, e faz conteúdo, para poder influenciar alguma pessoa, tratando-se aqui no Brasil, somos um povo em que a emoção é mais aflorada. Há uma necessidade muito grande de comover alguém a ter algum sentimento. A extrema-direita consegue convencer facilmente com sentimentos negativos.”

“Gerando ódio nas pessoas, deixando elas assustadas, e trabalhando narrativas que se montam em cima desses sentimentos, é fácil conseguir que aquele que está te assistindo tenha a reação que o criador de conteúdo queira passar para o consumidor.”

 

Henrique relembrou sobre o caso da suposta taxação do pix, divulgada amplamente pelo deputado federal Nikolas Ferreira (PL), e apresentou quais argumentos são mais utilizados na propagação destes conteúdos: “Não é sobre defender a família, é colocar um temor na população de caso o outro lado ganhe, ele é inimigo. você precisa ter medo dele, porque senão a sua família vai ser destruída. Que a sua família vai acabar, não ter mais dinheiro para se manter, que todos vão passar fome e o Brasil virar uma Venezuela.”

“A questão do Pix, era o medo de ser vigiado e o governo pegar as suas informações e forçar o povo a pagar mais imposto. De onde ele (Nikolas) tirou essas informações? Ele inventou. O vídeo foi convincente o suficiente para ter 300 milhões de visualizações e muita gente acreditou. Então, são pautas delicadas. As pessoas têm um certo amor por aquilo. Amam a família delas, querem ter condições de comprar o que quiserem, morar no Brasil, e ter a liberdade de expressão. E aí, se eu ataco tudo isso de que o ‘outro lado’ irá destruir tudo o que você gosta, é bem substancial!”

Henrique também respondeu sobre os principais objetivos dos outsiders brasileiros e internacionais: priorizar o lucro próprio ou apoiar a ideologia que estão investindo. Seja por interesse próprio, ou às vezes, de alguém que está financiando aquilo.

Um desses que está super em alta agora, não é brasileiro, mas é um nome forte, é o Elon Musk. Ele faz toda aquela articulação em cima das políticas que acredita, porque ele tem interesses secundários. Um dos ataques ao Brasil que o bilionário fez, por exemplo, é porque uma mina de lítio, que ele tinha interesse, foi leiloada para a China.

Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP
Gesto de Elon Musk para apoiadores de Trump durante o desfile inaugural dentro da Capitol One Arena, em Washington, DC - ANGELA WEISS / AFP

Henrique também citou sobre o lobby político do agro, onde o representante desta indústria recebe o dinheiro, e beneficia este mercado no Legislativo, além de manter uma relação mútua onde ambos podem “sair felizes”.

Sobre os possíveis resultados desta manipulação, Henrique ressalta: “Hoje em dia, de um jeito bem grosso, parece que a esquerda eram ‘os caras legais’. Os anti-sistemas. O discurso foi tomado pela direita e extrema-direita, que hoje domina majoritariamente a internet.”

Relatório mostra a fatalidade das intervenções beirando o cotidiano dos jovens
por
Leticia Falaschi
|
11/04/2025 - 12h

Na última quinta-feira (3) foi publicada a segunda edição do relatório As câmeras corporais na Polícia Militar no estado de São Paulo: Mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes, realizado pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP). O que se destacou no documento foi o aumento no número de vítimas fatais das intervenções policiais entre crianças e adolescentes: de 2022 para 2024 houve um salto de 120%. O estudo buscou explorar a origem desse salto e analisar sua relação com atual gestão do estado.  

O que mudou nos últimos dois anos, nos órgãos de segurança, foi o aumento de ataques aos programas de contenção de risco. Essas ofensivas tiveram força e apoio pois foram oriundas de representantes de altos cargos, como o atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Guilherme Derrite, secretário de Segurança Pública. A primeira edição do relatório, realizada em 2022, conseguiu acompanhar os números antes e depois da implementação das câmeras corporais nos policiais militares do estado. Os resultados foram esclarecedores: comparando dados de 2017 e 2022, houve uma queda de 66,3% nas mortes na faixa etária de 10 a 19 anos por autoria da polícia militar. Na publicação, a queda foi atribuída ao Programa Olho Vivo adotado pela PMESP e pela Secretaria de Segurança Pública no segundo semestre de 2020. 

gráfico de mortes causadas por intervenção policial em São Paulo de 2001 a 2024
Fonte: Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo; Fórum Brasileiro de Segurança Pública. 

As crianças e adolescentes vítimas da ação truculenta da PM, registradas no ano passado, superaram o dobro do que foi contabilizado em 2022: saindo de 35 mortes para 77, entre elas, as negras são 3,7 vezes mais atingidas em intervenções letais. Segundo o relatório, a maioria das alterações no modo operante da PM diz respeito ao controle de força e punição dos responsáveis. Apesar do número de câmeras a disposição não ter diminuído, o uso não está sendo cumprido, e a quantidade de arquivos a serem consultados estão mais escassos. Além disso, a acessibilidade desses arquivos foi burocratizada: “Um levantamento da Defensoria Pública do Estado de São Paulo, baseado em 457 solicitações de ocorrências entre julho e novembro de 2024, mostrou que a PMESP não forneceu resposta para 48,3% dos casos. No caso das ocorrências respondidas, em apenas 100 casos foi possível realizar a análise.” diz um trecho do estudo. 

O afrouxamento da Corregedoria da PMESP também foi fortemente sinalizado no relatório. Isso, somado às declarações de representantes do governo questionando a efetividade das câmeras parece ter encorajado os oficiais a abandonarem o uso. A Corregedoria também teve sua autonomia reduzida: agora, para realizar o afastamento de um oficial, a decisão será submetida à solicitação do um subcomandante geral. 

O governo assinou, em setembro de 2024, um contrato com a empresa Motorola para a compra de 12 mil novas câmeras, que substituirão as atuais. Porém, esse novo modelo apresenta alterações sensíveis: além das gravações não serem ininterruptas, o seu acionamento depende da decisão do policial que a usa. As inflexões do programa Olho Vivo são protagonistas nos resultados que assombram a juventude paulista. Apesar de representar apenas 0,6% do orçamento da Secretaria de Segurança, ao longo de 2023 o programa sofreu 37% de cortes do valor inicial de investimento. 

Tabela de princiais mudanças na gestão da Polícia Militar de SP - 2024 para 2025
Fonte: Unicef

No panorama geral, o relatório é alarmante para as crianças paulistas. As reformas questionáveis que insistem em ser realizadas pelos gestores, mesmo diante a eficiência das câmeras se traduzem em letalidade para os jovens do estado. “É importante destacar que 30,1% das mortes de crianças e adolescentes nos últimos oito anos foram provocadas por policiais militares durante a folga desses agentes, o que soma mais 316 vítimas. Em 2024, 1 em cada 4 mortes de adolescentes pela PMESP foi causada pela ação de policiais militares de folga, em ocorrências que não foram classificadas como homicídio doloso.”, expõe a investigação. 

Motoboys articularam-se em cidades por todo o Brasil exigindo melhores condições de trabalho
por
Leticia Falaschi
|
07/04/2025 - 12h

Na última segunda-feira (31) motociclistas articulados pela Anea (Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativo) e outras associações, realizaram uma paralisação dos serviços como forma de protesto. O objetivo era reivindicar ajustes nas taxas e na remuneração, limites de distância para entregas feitas com bicicletas, conciliação do tempo diário de operação, entre outras demandas de trabalho. Com destaque para o ato na cidade de São Paulo, os manifestantes expuseram seu descontentamento com a desvalorização da categoria, que, principalmente na pandemia, foi vital para o funcionamento da vida nas cidades. A paralisação começou em frente ao estádio do Pacaembu, durante a manhã, seguiu para a Avenida Paulista e, ao final, se concentrou em frente à sede do IFood na cidade de Osasco, na zona oeste da região metropolitana. 

Entregadores no movimento na Av. Dos Autonomistas na cidade de Osasco, São Paulo.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil 

Uma das principais exigências levantadas pelos motoboys foi o aumento da taxa das corridas, que hoje é de R$ 6,50. O que revolta muitos dos trabalhadores são os valores baixos oferecidos para um serviço de imensa demanda. Quando se trata do trabalho autônomo, a segurança e a saúde para exercer os serviços estão intrinsecamente ligados a remuneração. No Brasil, só no ano de 2024, foram 483 mortes no trânsito envolvendo motociclistas, segundo dados do DETRAN (Departamento Estadual de Trânsito). A realidade de boa parte dos motoqueiros, infelizmente, é escolher entre pagar as contas ou fazer a ajustes em suas motocicletas, o que acaba precarizando os trajetos do trabalhador e colocando sua segurança em risco.  

Em 2023, o Ministério do Trabalho criou um GT (grupo de trabalho) para discutir a regulamentação do trabalho por aplicativo, mas os termos propostos foram muito desvantajosos, segundo os motociclistas. Os motoristas de aplicativo (que levam passageiros, como os serviços oferecidos pela Uber), porém, aderiram às medidas, o que, segundo os motoboys, enfraqueceu o movimento. Desde então, o órgão prometeu um relatório com uma resposta aos motociclistas da categoria, o que nunca aconteceu: a discussão segue estagnada. Os breques acontecem desde 2020, e os resultados oferecidos até então pelo IFood (empresa que controla, hoje, cerca de 80% do mercado brasileiro de delivery) foi a alteração da taxa de R$ 6,00 para R$ 6,50 em 2022, depois disso não houve mais reajustes. Apesar de necessárias para impor as reivindicações de trabalho, as paralisações são difíceis de serem realizadas pois significam um dia a menos de captação para os motoboys. 

Manifestantes em frente à sede do IFood em Osasco, São Paulo
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil 

Entre os outros pedidos, estavam o aumento de R$ 1,50 para R$ 2,50 no pagamento por quilômetro percorrido nas corridas, limite de 3 quilômetros para entregas feitas por bicicletas e o pagamento de taxas separados por número de entregas, e não pelo número de corridas.  

Quando os manifestantes se concentraram em frente à sede do IFood, exigiram que o João Sabino, diretor de Políticas Públicas da empresa, saísse do estabelecimento para negociar com os líderes do movimento publicamente. O pedido foi negado, e diante a pressão, a empresa convocou nove representantes para entrarem e discutirem as demandas, mas nenhuma delas foi atendida. Como resultado, os motociclistas se dispersaram em clima de descontentamento. A paralisação seguiu por 48h. 

Supremo Tribunal Federal julga altos oficiais e políticos, incluindo o ex-presidente Jair Bolsonaro
por
Manoella Marinho
Carolina Zaterka
|
05/04/2025 - 12h

Nas eleições de 2022, o cenário político brasileiro foi marcado pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro. Em meio a esse contexto, a Procuradoria-Geral da República apresentou uma denúncia fundamentada em uma ampla gama de evidências, que vão desde manuscritos e arquivos digitais até planilhas e trocas de mensagens, acusando um esquema destinado a manter Bolsonaro no poder. De acordo com a acusação, tal grupo teria se empenhado em adotar medidas que minassem os pilares do Estado Democrático de Direito, configurando uma possível trama golpista.

No cerne do processo, o STF analisa a participação de um núcleo de altos oficiais militares e políticos, conhecido informalmente como “Núcleo 1’’. Entre os denunciados estão: Jair Bolsonaro, Almir Garnier Santos, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Mauro Cid, Paulo Sérgio Nogueira, Augusto Heleno e Walter Braga Netto.

O ex-comandante da Marinha na gestão Bolsonaro, Almir Garnier, responde a seríssimas acusações devido a uma suposta conspiração de golpe de Estado. Ele foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República e está incluído no “inquérito do golpe”, instaurado após a pressão pública das eleições de 2022. A acusação afirmou que o então comandante da Marinha vinha discutindo com outros generais da reserva a elaboração de um plano de golpe, cujo cotidiano previa a execução de um atentado contra altas autoridades. Nesse plano, nos seus próprios termos, Garnier enfrentava a missão de assassinato do presidente eleito, do vice-presidente e de um ministro do Supremo Tribunal Federal.

Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil
Ex-comandante da Marinha, almirante da reserva Almir Garnier Santos, durante programa A Voz do Brasil/ Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil 

Em uma reunião realizada com Jair Bolsonaro, pouco após a derrota eleitoral, Garnier teria supostamente afirmado que suas tropas estavam prontas para agir, enquanto outros comandos militares haviam se recusado a aderir ao plano. Conversas interceptadas pela Polícia Federal mostram que Garnier estava disposto a mobilizar recursos militares e, assim, foi o único chefe das Forças Armadas a se opor, pela força, à posse do presidente eleito.

Em 26 de março de 2025, a Primeira Turma do STF admitiu a denúncia contra Garnier e seus corréus, tornando-o réu em um processo no qual, se condenado, cumprirá mais de 30 anos de prisão. Antes disso, sua carreira no Exército não foi marcada por escândalos especiais; no entanto, seu nome foi associado a investigações de organizações golpistas, e o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos atos de 8 de janeiro definiu motivos para acreditar que Garnier cometeu três crimes relacionados à intenção golpista. Outra notícia em torno do ex-comandante foi a contínua ocupação de um apartamento da Marinha após sua aposentadoria, o que levou a especulações e suspeitas sobre sua ação durante a transição.

No entanto, no mérito, a defesa de Garnier, encampada pelo advogado Demóstenes Torres, anteviu “nulidade absoluta” do processo, por ausência de justa causa, e “frágil prova” – classificando a denúncia como uma “grande mentira”. O que foi voto vencido na Corte no julgamento deste caso. Contudo, com base na manifestação do relator, ministro Alexandre de Moraes, os ministros da Suprema Corte entenderam que todos os elementos, relatos, mensagens e depoimentos autorizavam o prosseguimento, sobretudo mantendo a validade dos depoimentos da delação premiada de Mauro Cid.

Portanto, o processo vai agora para a fase de instrução, com as oitivas das testemunhas e a produção de novas provas. Nota-se, dessa forma, um julgamento de impacto político e institucional, o primeiro contra um ex-comandante militar desde a reabertura da redemocratização, por tentativa de ruptura democrática.

Posteriormente, Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro no início do mandato (2019–2022) e atualmente delator dos criminosos nas maiores acusações, atua como réu nas denúncias. Na medida em que a acusação o incluiu no “núcleo decisório” da conspiração, ele foi envolvido nas mesmas narrativas de crime organizado por armamento e atentado contra a ordem democrática, dentre outros. Em 2 de março de 2025, o STF também aceitou denúncia contra o acusado, consolidando-o como réu no processo do golpe.

Após defesa de Bolsonaro pedir a nulidade da delação, o advogado de Cid reforçou a integridade    do acordo.    Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil
Após defesa de Bolsonaro pedir a nulidade da delação, o advogado de Cid reforçou a integridade do acordo/ Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil 

Além da acusação de participar da tentativa de golpe, Mauro Cid está sob investigação por outros crimes graves. Uma das principais acusações diz respeito à fraude em cartões de vacinação da Covid-19. Ele foi preso pela Polícia Federal em maio de 2023 na Operação Venire, que investigava a fraude nos dados inseridos no sistema de vacinação do Ministério da Saúde. Cid está sendo acusado de liderar um grupo que falsificou os certificados de vacinação do próprio Bolsonaro, de sua filha e de outros assessores que, em seguida, foram utilizados para driblar as exigências sanitárias impostas a viajantes internacionais.

Outro crime investigado foi a comercialização de joias e presentes de alto valor roubados em feiras clandestinas de Cid, apreendidos de sua posse, que ele alega ter ganhado do ex-presidente da República, subtraídos do acervo presidencial de bens, com valor total em torno de 86 mil dólares.

Historicamente, Mauro Cid era visto como um fiel executor das ordens do ex-presidente. Ele havia ganhado a confiança do círculo bolsonarista e era chamado de “faz-tudo”. Apesar disso, assim que o governo caiu, seu nome passou a ser envolvido em uma série de esquemas controversos, que vão desde a participação em reuniões para discutir a invasão das urnas eletrônicas até os ilícitos envolvendo vacinação e patrimônio.

Em setembro de 2023, após alguns meses de investigação, ele fechou um acordo de delação premiada. Em seus depoimentos, Cid levou provas documentais e fez de sua fala um relato de base factual que traçou, procedimento a procedimento, cada passo que garantia a conexão de Bolsonaro com os crimes, incluindo a ordem para fazer cartões de vacina com mais doses do que a real e o envolvimento em tratativas para vender presentes oficiais dados ao presidente brasileiro.

Em seu primeiro dia de julgamento, Bolsonaro  acompanha julgamento no STF na primeira fila   Reprodução - TV Justiça
Em seu primeiro dia de julgamento, Bolsonaro  acompanha julgamento no STF na primeira fila./ Reprodução: TV Justiça

Seu papel como colaborador, apesar de resultar em benefícios da perspectiva do processo, foi cercado por dificuldades, exemplificadas pela referida prisão em março de 2024, após vazamento de áudios que implicavam sua coação para incriminar Bolsonaro. Enquanto isso, sua colaboração foi retida, mantendo-o uma peça vital do conjunto maior das investigações, que abrangem não apenas o golpe, mas também o falso processo de vacinação e a corrupção patrimonial.

Essa interposição peculiar, réu e testemunha ao mesmo tempo, intensifica os efeitos explosivos de suas apresentações, que quebraram o véu de segredo e jogaram luz nos detalhes das atividades ilícitas por trás do governo, além de acentuar a pressão legal abrangente sobre o ex-presidente e seus associados.

Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) avança nos julgamentos de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, também acusado de envolvimento no caso de golpe de Estado.

Anderson Torres responde a três crimes principais: Omissão nos atos de 8 de janeiro de 2023, posse de Minuta de Decreto para Estado de Defesa e disseminação de Conteúdo Golpista.

O advogado Eumar Roberto Novacki, defensor do réu, apresentou argumentos afirmando que não poderiam julgar Torres pelo atentado do dia 8 de janeiro pelo fato de ele não estar em território nacional no período do ocorrido. Além disso, afirmou que as provas encontradas em sua residência não comprovaram sua participação ativa no plano golpista, além de reiterar a desconsideração de mensagens que deveriam ser privadas e não necessariamente demonstrariam uma intenção criminosa.

A Procuradoria-Geral da República sustenta que a soma de elementos, aliada à postura passiva diante do golpe, à presença de um documento com teor anticonstitucional em sua casa e o incentivo a discursos antidemocráticos, revela uma justificativa de sua responsabilização penal.

Já o outro acusado, Paulo Sérgio Nogueira, também envolvido nos recentes atos, é acusado dos seguintes crimes: Participação em reuniões para planejar um golpe e pressão sobre comandantes militares.

Poder 360 Gustavo Moreno Sustentação oral do advogado de Paulo Sérgio Nogueira, Andrew Fernandes Farias (esq.), em julgamento da denúncia.
Sustentação oral do advogado de Paulo Sérgio Nogueira, Andrew Fernandes Farias (esq.), em julgamento da denúncia./ Foto: Gustavo Moreno/Poder 360

Porém, seu advogado de defesa, no momento do julgamento, afirmou que o réu teria sido um dos que se opuseram a um golpe de Estado e que apenas participou de reuniões onde se debatiam diferentes cenários políticos, baseando-se na delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que citou Paulo Sérgio como um dos militares contrários à tentativa de golpe. Andréa Fernandes Farias afirmou:

A aceitação das denúncias contra Anderson Torres, Paulo Sérgio Nogueira, Almir Garnier e Mauro Cid pelo STF representa um avanço na responsabilização de agentes que, direta ou indiretamente, contribuíram para o agravamento da crise democrática no Brasil, principalmente no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro.

O caso reflete a tensão entre setores militares e a política institucional. Enquanto parte da cúpula das Forças Armadas tentou se distanciar dos acontecimentos, há registros de que militares de diferentes patentes se envolveram nos atos antidemocráticos. O STF está avaliando cada caso e os julgados aguardam resultado.

 

 

 

 

135 anos após o fim dos reis no Brasil, articuladores trazem pauta
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
26/03/2025 - 12h

A Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Congresso Nacional colocou em pauta uma proposta inusitada: a realização de um plebiscito para substituir o atual sistema presidencialista por uma monarquia parlamentarista.

A monarquia foi abolida no Brasil em 1889, quando Dom Pedro II foi deposto por um golpe militar liderado pelo Marechal Deodoro da Fonseca. Sob intensa pressão política, Deodoro comandou a transição para a República, encerrando o período imperial.

Atualmente, os descendentes da antiga família real brasileira formam a chamada Casa Imperial do Brasil, que reúne os herdeiros de Dom Pedro II e tem raízes nas Casas de Bragança e Órleans. O atual chefe da Casa Imperial é o príncipe Bertrand de Órleans e Bragança.

Curiosamente, um dos entusiastas do tema dentro do Congresso é Luiz Philippe de Órleans e Bragança, tetraneto de Dom Pedro II e integrante do partido de Jair Bolsonaro, um ex-militar. A proposta, porém, não especifica quem assumiria o trono caso a monarquia fosse restaurada, nem detalha como funcionaria a estrutura desse governo.

Iniciativas semelhantes já ocorreram no Brasil. Em abril de 1993, um plebiscito decidiu entre presidencialismo, parlamentarismo e monarquia, resultando na manutenção do atual sistema presidencialista.

Apesar de estar em discussão no Senado, a proposta não partiu de parlamentares, mas sim da sociedade civil. Uma petição reuniu 29 mil assinaturas e foi encaminhada à CDH em 2024 por um cidadão identificado como "Ilgner A.", segundo apuração do jornal O Estado de S. Paulo.

A senadora Damares Alves (Republicanos-DF), ex-ministra de Jair Bolsonaro e atual presidente da CDH, foi a responsável por dar andamento ao tema. Segundo ela, a proposta estava paralisada até sua chegada à comissão. Em entrevista ao Estadão, Damares defendeu o debate:

"Uma iniciativa vinda da sociedade não pode ficar na gaveta. Nem que seja um 'não' bonito, tem que ser apreciado. Não é o presidente de uma comissão que decide o que deve ser discutido, é o plenário. Vamos colocar o assunto em debate. Por que não?"

Enquanto isso, pesquisas indicam que a principal preocupação dos brasileiros está voltada para temas como economia, saúde e segurança pública. Sob a óptica da professora de história da PUC-SP Yvone Dias Avelino, "não é possível a volta de uma monarquia. Os parlamentares da câmara preferem uma democracia e Damares não é um exemplo de uma política forte para conduzir essa ideia. A Europa, por exemplo, demonstra que as monarquias estão desaparecendo. No Brasil, não se ouviram os cidadãos brasileiros, não se ouviu o STF, não se ouviram os jornais, não se ouviram a câmara e o Senado. Ou seja, as instâncias políticas, jurídicas e sociais não foram consultadas. Os gastos ainda poderiam ser enormes.” Então, essa é uma pauta que eu acredito que não vai pra frente.” Segundo um levantamento da Quaest, a volta de uma monarquia poderia significar custos elevados para o país, a exemplo do Reino Unido, onde a manutenção da família real custou mais de 102 milhões de libras (aproximadamente R$ 650 milhões) aos cofres públicos apenas em 2021.

Caso a CDH aprove a proposta, ela seguirá para votação no Senado e, posteriormente, na Câmara dos Deputados. Se aprovada em ambas as casas, ainda dependerá da sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


 

Primeiro candidato tem 32% de intenções de votos, e o segundo 24%
por
Lucas de Paula Allabi
|
11/09/2023 - 12h

A pesquisa Datafolha divulgou intenção de votos para prefeito de São Paulo feita com 1092 eleitores da capital paulista. Nela, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) lidera com 32% de intenção de votos. O atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) ocupa o segundo lugar nas pesquisas com 24% das intenções.

Em 3° e 4° estão a deputada federal Tabata Amaral (PSB), com 11%, e o também deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil), com 8%. A pesquisa tem margem de erro de 3 pontos para mais e para menos, colocando os dois em empate técnico.

Com quantidade inexpressiva, o pré-candidato Vinicius Poit (NOVO) tem 2% das intenções. 18% dos eleitores afirmam votar nulo ou branco, o esperado pela distância de um ano entre a pesquisa e o pleito. 5% não souberam afirmar em quem votariam.

Na pesquisa espontânea, em que os entrevistados não são apresentados às opções existentes, Boulos lidera com 8% das intenções, seguido de Nunes com 4% e Kim Kataguiri com 1%.  Apenas 2% citaram “o candidato do PT” e 72% não tem candidato em mente.

 

Guilherme Boulos 

A aparente vitória do deputado do PSOL na pesquisa se deve ao apoio de Lula conquistado por ele. Boulos fez um acordo com o PT, em 2022, no qual garantiu apoiar a candidatura de Haddad ao governo do estado, enquanto o Partido dos Trabalhadores manteria apoio a ele nas próximas eleições da prefeitura da capital.

O apoio político oferecido ao Boulos tornou-se uma vantagem a partir do momento que São Paulo votou mais em Lula, candidato do PT à presidência, que a Bolsonaro. Uma grande margem de eleitores pode migrar ao candidato do PSOL por ter apoio estreito do presidente e de seu partido. 

Boulos também recebeu 40% dos votos na última eleição que concorreu à prefeitura da cidade, quando os votos de Gilmar Tatto (PT) e Márcio França (PSB) migraram para ele no segundo turno. 

Em um cenário atual parecido com o anterior é possível prever que o deputado do PSOL ganhe votos de Tabata Amaral, se o desempenho dela não for suficiente para levá-la a um possível segundo turno. A candidata é de centro-esquerda e do PSB, que em nível nacional tem aliança com o PT, que apoia Boulos.

Por outro lado, Boulos incomoda a parcela conservadora da população paulistana. Por muito tempo ele foi líder do MTST, movimento que ocupa prédios no centro e reivindica justiça social a quem não tem onde morar. 

Isto se reflete na sua preferência por 45% da população do centro, mas também na sua rejeição pela parte da população mais próxima ao conservadorismo, correspondente aos  católicos e os evangélicos, na faixa etária entre 45 e 59 anos.

Sua ligação a Lula, enquanto pode dar frutos positivos, também pode se tornar um empecilho ao candidato. Na recente pesquisa do Datafolha divulgada no dia primeiro, 37% da população afirma não votar em candidato atrelado ao presidente, enquanto apenas 27% votariam com certeza em um candidato apoiado por ele. 37% afirmaram que talvez votariam em alguém apoiado por Lula.

Em relação ao presidente, 45% afirmam que sua gestão é ótima ou boa, enquanto apenas 25% não a aprovam. O bom desempenho de Lula, atrelado ao seu apoio ao prefeito, pode escorrer como força positiva na campanha de Boulos. 

 

Ricardo Nunes

 

O atual prefeito Ricardo Nunes vive uma situação diversa, e talvez difícil. Com o apoio da máquina estatal, sua reeleição seria a resposta mais provável. Porém, as pesquisas de intenção de voto e aprovação nos mostram uma realidade diferente.

Seu plano é abocanhar os votos de quem rejeita a esquerda. Ele é mais tradicionalmente ligado à cidade como parte do “tucanistão”, estado que sempre votou em candidatos do PSDB para o governo. Esse é o mesmo público que  recentemente votou em outro candidato de direita para o palácio dos bandeirantes, o governador Tarcísio de Freitas (Patriota).

A última eleição, entretanto, mostrou uma capital paulista mais à  esquerda do que o resto do estado, dando mais votos a Lula e Haddad em comparação com Bolsonaro e Tarcísio.  Isso dá desvantagem ao candidato do MDB, partido tradicionalmente atrelado ao centro e à direita .

Pensando nessa realidade, Valdemar da Costa Neto, líder do PL, tenta emplacar Marta Suplicy, ex-prefeita de São Paulo, como vice de Ricardo Nunes.  Ela foi historicamente alinhada ao PT, mas se distanciou do partido em 2016 por apoiar o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Em seguida, se filiou ao MDB, atual partido de Ricardo Nunes. Sua nomeação como candidata a vice seria uma ponte para facilitar as conversas com os eleitores de esquerda.

Concomitante a esse movimento, o governador Tarcísio deu apoio ao candidato que quer se firmar como o homem da direita no pleito. Esse suporte, entretanto, pode ser mais negativo que positivo à campanha. 

46% dos eleitores ouvidos pelo Datafolha disseram que não votariam de forma alguma em alguém apoiado por Freitas, e apenas 15% disseram que iriam votar com certeza nesse candidato. A aprovação do governador em São Paulo é de 30%,  enquanto 35% da população o rejeita. Ou seja, é possível que a grande rejeição do governador seja associada a Ricardo Nunes.

O candidato a prefeito busca muitos aliados para poder ganhar votos de diversas camadas dos eleitores paulistanos. O encontro de muitas personalidades, porém, pode  ser negativo. Na onda direitista que tenta se aliar contra Boulos, Jair Bolsonaro decidiu apoiar a candidatura do prefeito do MDB. 

A pesquisa do Datafolha revelou que 68% dos eleitores nunca votariam em alguém apoiado pelo ex-presidente, mas 15% votariam com certeza em figura apoiada por ele. Esta porcentagem pode ser preciosa numa decisão acirrada. Por causa disso, Nunes deverá fazer um malabarismo político para não se associar ou distanciar de Bolsonaro.

Outro ponto que deverá ser um empecilho para a campanha de Ricardo Nunes é o fato de que, no mesmo levantamento sobre a gestão do prefeito de São Paulo, 79% dos entrevistados demonstraram desejo de mudança de rumos na administração pública.

Tabata Amaral

O terceiro lugar da candidata Tabata Amaral pode parecer ruim, mas contém bons números a serem explorados por sua equipe. Seu nome é conhecido por apenas metade dos entrevistados (dentre eles, 15% conhecem pouco e 22% só ouviram falar), o que lhe dá margem para formar sua campanha quase do zero, moldando-a com poucos estigmas acumulados em comparação com Boulos ou Nunes 

Tabata Amaral acumula também 23% de rejeição, a menor dentre os candidatos.

Por ser de centro, ela deve buscar os votos dos que não que rejeitam Boulos e a esquerda mas tampouco se identificam com Bolsonaro e a extrema-direita. Sua posição, entretanto, se mostrou pouco eficiente com os extremistas de ambos os lados do espectro político, que acumulam críticas à deputada.

 

Kim Kataguiri

O candidato do União Brasil faz parte do MBL (Movimento Brasil Livre), historicamente alinhado à direita , que foi importante nas mobilizações de rua a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff em 2016.

Essa associação positiva pela parcela de direita da cidade pode também trazer dores de cabeça ao deputado federal. Kim Kataguiri era muito próximo de outro membro do movimento, Artur do Val, que recentemente foi expulso por estar envolvido em um escândalo de mensagens sexistas que ele escreveu sobre ucranianas.

O candidato demonstra  maior apoio da parcela jovem, de 16 a 24 anos, da cidade. Também tem bom desempenho online, possui um canal no Youtube e demonstra mais eficiência em sua campanha nas redes que outros candidatos. 

Com 35%, Kim Kataguiri é quem mais tem rejeição na cidade.

 

Em 5 meses, manifestações políticas a favor de Jair Bolsonaro se tornaram golpistas
por
Artur Maciel Rodrigues
|
07/09/2023 - 12h

(Apoiadores de Bolsonaro na esplanada dos ministérios no sete de setembro de 2022. Foto:Gabriela Biló/Folhapress)

O dia da independência do Brasil em 2022 teve bandeiras que não representavam a nação, mas sim uma pessoa:  Jair Bolsonaro. O político utilizou a data para alavancar as suas chances de ganhar  as eleições presidenciáveis e atacar “inimigos” como o STF. A comemoração teve uma elevação dos gastos. Comparado a 2019, o orçamento para o desfile aumentou em R$4,4 para 8,4 milhões de reais. A Defesa repassou as informações por causa da Lei de Acesso à Informação.  

Em Brasília, o  presidente segurou uma bandeira escrito “Brasil sem Aborto, Brasil sem drogas”. Junto a ele estavam seus aliados e familiares, como Luciano Hang. O público de mais de 100 mil pessoas viu a demonstração das forças armadas e  desfiles de tratores. Os apoiadores  que vestiam verde, amarelo e azul,  seguravam placas com “22 pelo bem do Brasil” e pedidos de acionamento das forças armadas para  destituir o Supremo Tribunal Federal.

Em seu discurso, Bolsonaro pediu votos, falou da “luta do bem contra o mal”nas próximas eleições e comparou as primeiras damas Michelle  e Janja (Rosângela Lula da Silva).   Após chamar sua esposa de "mulher de deus", incitou um coro de “imbrochavel”. Por fim, deu uma indireta ao STF, esperando vaia do público contra seus “adversários políticos” 

A insatisfação bolsonarista foi ativamente contra a sociedade civil desde o resultado das eleições . No dia 30 de outubro, rodovias em 25 estados e Distrito Federal foram bloqueadas como protesto pela vitória de Luiz Inácio Lula da Silva. No dia 2 e 15 de novembro, foram  realizadas  manifestações golpistas em prol da intervenção militar em diferentes estados da nação, inclusive na frente do prédio das Forças Armadas. Em 12 de dezembro de 2022, a sede da Polícia federal foi vandalizada e 8 carros foram queimados, além de botijões de gás terem sido espalhados por Brasília.

(Golpistas no oito de janeiro de 2023 na praça dos três poderes, foto:Marcelo Camargo/Agência Brasil)
(Golpistas no oito de janeiro de 2023 na praça dos três poderes. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Depois de semanas acampando na frente dos prédios militares em todo país, foi a vez da Praça dos Três Poderes de ser ocupada. Quatro mil golpistas, novamente vestindo verde e amarelo, criticaram o STF,  afirmando que as eleições não foram justas e exigindo ação militar. Para provar seu ponto, saquearam obras de arte públicas, picharam as estátuas do planalto e vandalizaram a justiça. Não só feriram o prédio público, como também agrediram a própria democracia brasileira.

O Sete de setembro representa a liberação do Brasil de mãos portuguesas.Contudo, o medo do totalitário nunca saiu da história da nação. Com Jair Bolsonaro, representante da ideologia extremista, inelegível, a data se torna um símbolo de resistência da democracia. Ao mesmo tempo, é uma mensagem de cautela sobre os grupos nocivos que cercam a sociedade civil do país. 

Articuladores do Planalto correm contra o tempo para abrigar centrão na Esplanada e conquistar apoio do bloco
por
Khauan Wood
|
04/09/2023 - 12h

Confirmada pelo ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT-SP), em um evento ocorrido na capital paulista em 26 de agosto, a primeira reforma ministerial do atual Governo Lula dá seus primeiros passos para sair do papel. Um dos objetivos principais da reforma é negociar com partidos de centro e garantir maior apoio da categoria.

Lula, que já encara seu terceiro mandato como presidente da República, pretende garantir ao centrão algumas pastas de seu governo em troca de apoio político. Ao todo, o governo lulista já possui 37 ministérios.

Recentemente, o líder do Partido dos Trabalhadores anunciou a criação de uma nova pasta, o Ministério das Micro e Pequenas Empresas. A ideia é que o novo ministério, ainda em criação, também seja concedido ao centrão. Com a medida, a Federação passará a ter ao todo 38 ministérios.

NOVO DESENHO MINISTERIAL

É certo que os deputados André Fufuca (PP-MA), atual líder do partido na Câmara, e Silvio Costa Filho (Republicanos-PE), ambos parlamentares considerados de centro-direita, terão cargos no Governo.

Gráfico representando as mudanças ministeriais
Ilustração da reforma ministerial - Foto: Khauan Wood

Desde o início, o PP gostaria de assumir uma pasta com um grande orçamento, chegaram a ser negociadas pastas como Saúde e Desenvolvimento Social. Após uma longa negociação, o destino de Fufuca será o de assumir o Ministério do Esporte, com mais secretarias, como uma ligada às apostas esportivas, além de um orçamento maior. A atual ministra, Ana Moser (Sem Partido) deixa o Governo.

Gráfico representando as mudanças ministeriais
Ilustração da reforma ministerial - Foto: Khauan Wood

Já o desejo do Republicanos, é que Costa Filho chefie o Ministério de Portos e Aeroportos. O partido já possui o comando do governo de São Paulo, com Tarcísio de Freitas, estado que possui o maior porto da América Latina, em Santos, e o aeroporto mais movimentado da América do Sul, em Guarulhos. A AGEMT procurou a assessoria do deputado, que preferiu não se manifestar sobre o assunto.

O atual comandante da pasta, Márcio França (PSB-SP), será redirecionado ao novo Ministério das Micro e Pequenas Empresas, que aceitou o convite após longas conversas com o presidente da República e o seu partido, que incluíram ainda Geraldo Alckmin (PSB-SP), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços.

Os partidos reivindicam ainda a presidência da Caixa Econômica Federal. O banco, que atualmente é gerido por Maria Rita Serrano, passaria para as mãos da ex-deputada federal, Margarete Coelho (PP-PI), aliada do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). Além da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que ainda não tem nome definido para o cargo.

O INTERESSE DO CENTRÃO

Por trás destes bastidores, está a busca do Governo por aliados no Congresso. Com isso, os partidos de centro e centro-direita, que juntos formam maioria da bancada parlamentar no Senado e na Câmara dos Deputados, possuem o “trunfo” de negociar cargos em troca desse apoio esperado.

Para entender essa queda de braço, entrevistamos Mayra Goulart, cientista política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Segundo a especialista, existe um pressuposto na ciência política de que todo o comportamento de um político é determinado pelo desejo de obter mandato ou reeleger-se:

“A vontade de distribuir recursos em seus territórios eleitorais e a acomodação de apoiadores em importantes cargos estão por trás das reivindicações”, observa Goulart.

De acordo com um levantamento feito pelo portal Poder 360, os ministérios do Esporte, Desenvolvimento Social e Portos e Aeroportos somam juntos R$ 1.3 bilhão em emendas parlamentares.

Para 2024, a previsão é de que as pastas somarão R$ 287.7 bilhões, segundo o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) enviado ao Congresso na última quinta-feira (31).

Em 2021, Jair Bolsonaro, ex-presidente da República, fez um movimento similar quando nomeou o senador Ciro Nogueira (PP-PI) como chefe da Casa Civil. Além dele, personalidades do centrão como João Roma, Fábio Faria e Flávia Arruda, também ganharam espaço.

O senador Ciro Nogueira e o ex-presidente Bolsonaro abraçados em 2021, durante um evento no estado do Piauí
Bolsonaro e Ciro Nogueira em evento no Piauí, em 2021 - Foto: Isac Nóbrega/Divulgação

Goulart analisa as diferenças entre as mudanças de cargos promovidas por Bolsonaro, durante seus 4 anos no poder, em comparação com Lula. Segundo a professora, o líder da direita no Brasil abriu mão de uma agenda em termos de implementação de políticas públicas e alterações macroeconômicas para a ocorrência dessas mudanças de cargos desejados. A especialista não vê a mesma abdicação fácil por parte do governo Lula.

A NOVA CARA DO GOVERNO

O presidente Lula com seus 37 ministros no dia de sua posse
Foto oficial de Lula com seus ministros - Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

Desde o início de sua governança em 2023, Lula perdeu dois ministros: o General Gonçalves Dias, do Gabinete de Segurança Institucional – que saiu em meio a polêmica dos atos antidemocráticos de 08 de janeiro – e Daniela Carneiro (União-RJ), do Turismo que foi substituída por Celso Sabino (União-PA) após sua turbulenta briga com a cúpula de seu partido.

No dia da posse, havia 26 ministros homens e 11 mulheres. Atualmente, são 27 homens e 10 mulheres. Após a reforma, o governo perderia uma figura feminina e a substituiria por um homem. Goulart atesta que o Planalto está abrindo mão da inclusão de minorias no governo em prol de uma melhor governabilidade. .

Lula e Arthur Lira dando um aperto de mãos
Lula e o Dep. Arthur Lira - Foto: Ricardo Stuckert/Divulgação

As mudanças foram anunciadas nesta quarta-feira (06). A demora nas negociações e no anúncio oficial se deu por conta de um acordo do centrão, de que todas as nomeações fossem feitas sequencialmente.

A decisão tomada por unanimidade cita, além da ex-presidenta, Guido Mantega e Aldemir Bendine
por
Laura Teixeira
|
31/08/2023 - 12h

Na segunda-feira da semana passada(21), o Tribunal Federal Regional da 1° região de Brasília (TRF-1), manteve arquivada a ação de improbidade contra a ex-presidenta Dilma Rousseff. O caso faz referência às supostas “pedaladas fiscais” que foram denunciadas em 2014 pelo Estadão e embasaram o processo de impeachment contra a petista em 2016. A decisão do TRF-1 favorece também outros nomes, como o ex-presidente do Banco do Brasil Aldemir Bendine, o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, o ex-presidente do BNDES Luciano Coutinho e, por fim, o ex-secretário do Tesouro  Arno Augustin.

Em 2020, Dilma foi condenada pela 10a Vara Federal do Rio de Janeiro a pagar um valor por ter prejudicado o cofre público. O montante deveria ser calculado  pelo Tribunal de Contas da União (TCU).  A defesa de Dilma, entretanto,  não aceitou a decisão. Dois anos depois, o TRF-2 entendeu que não foram oferecidas provas suficientes  para comprovar que a petista causou prejuízo à União. O Ministério Público Federal recorreu à segunda instância, mas a situação não mudou. Por unanimidade, foi julgado que Dilma era inocente e que o caso deveria permanecer arquivado.

Dilma Rousseff/Foto por Mauro Pimentel AFP
                             Dilma Rousseff/Foto por Mauro Pimentel AFP

Apesar da similaridade entre os julgamentos, a decisão do TRF-1 apenas qualifica como ruim o veredito dos senadores que avaliaram as atitudes da petista em 2016. Não existe uma relação jurídica direta entre as duas sentenças. Em vídeo para o “Canal Meio”, o jornalista Pedro Dória explica que o senado julgou que Dilma havia maquiado as contas da União e, portanto, deveria sair do cargo. O que foi julgado em agosto de 2023 é o quanto essa “maquiagem” feita pela ex-presidenta afetou o país.

Ao declarar o arquivamento do caso, o TRF-1 entende um atraso brando das contas fiscais, não sendo compatível com a escolha de 2016 de depô-la do cargo de presidenta do Brasil. Em seu vídeo, Dória explica : “Nós podemos discordar da opinião dos senadores, podemos dizer que eles foram cínicos, que na verdade queriam Temer no poder para barrar a operação Lava Jato, eu acho que foi isso, que se arranjou uma desculpa [..] Porém, os senadores são os juízes desse tipo de processo, eles que decidem se a lei foi cumprida ou não”.

Durante o Impeachment, a petista foi acusada de atrasar as contas fiscais em valores maiores do que os feitos pelos seus antecessores, o que foi chamado de  pedalada fiscal. Porém, em entrevista ao podcast “Mano a Mano”, apresentado por Mano Brown, Dilma afirmou  que, apesar de ter atrasado em um valor maior, começou uma política de pagamento adiantado quando comparado com seus antecessores. “Nós pagamos dentro do mesmo ano fiscal. Nenhum governo pagava dentro do ano fiscal, meu governo começou a pagar. Me produziram um impeachment por algo que nunca tinha sido diferente, eu tinha mudado pra melhor”, explica. 

Além disso, a petista entende que o verdadeiro alvo de condenação em 2016 foram  as políticas sociais que incentivava ” Eu levei o golpe porque eu representava um projeto”.    

País recorreu ao uso de água insalubre após decreto de emergência nacional
por
Lucas de Paula Allabi
|
31/08/2023 - 12h

Desde maio deste ano, o Uruguai registrou níveis de água entre 1,7 e 6% na represa Paso Severino, principal reservatório que abastece a região sul do país. Com a iminente crise hídrica, o presidente de centro-direita, Luis Lacalle Pou, autorizou a mistura da água do rio da Prata, com maior concentração de substâncias impróprias, ao resto do reservatório para complementar o estoque.

O acúmulo de sal e cloreto no rio é três vezes maior que o recomendado pela OSE (Obras Sanitarias del Estado), empresa estatal responsável pela manutenção dos sistemas hídricos. Várias famílias, sem dinheiro para comprar água engarrafada, ficaram impossibilitadas de consumir o líquido no país que foi o primeiro a reconhecer o direito à água como universal.

O estado uruguaio, em meio a insatisfação popular, afirmou que a crise hídrica foi agravada pela seca dos últimos três anos, causada pelo fenômeno oceânico La Ninã. O vice-ministro do meio ambiente, Gerardo Amarilla, em entrevista a rede local Canal 12, disse esperar as chuvas futuras para resolver o problema. Nós atuamos pensando que era uma questão temporal e que as chuvas iriam chegar”, comentou o ministro.

	Em imagens da NASA capturadas por satélite, é possível ver o leito reservatório Paso Severino completamente seco e envolto por fazendas, que prejudicam a retenção de água no local.
Em imagens da NASA capturadas por satélite, é possível ver o leito reservatório Paso Severino completamente seco e envolto por fazendas, que prejudicam a retenção de água no local.

A população, que se mobilizou em manifestações desde o final de maio, reclama, também, que os últimos governos fizeram mau uso dos recursos hídricos, dando a sua maior destinação à indústria e à agropecuária. A organização ambiental Redes-Amigos de La Tierra expôs que 80% da água do país é destinada a fábricas de celulose e cultivos de arroz e soja.

As acusações de descaso com o abastecimento se agravaram ainda mais com a tentativa da Google de instalar uma data base no país. De acordo com dados do Ministério do Meio Ambiente, o centro usaria 7,6 milhões de litros de água por dia para resfriar seus servidores, o equivalente ao uso doméstico diário de 55 mil pessoas.

A frase “não é seca, é roubo”, em protesto contra a empresa, foi vista em vários cartazes em Montevidéu. O Ministério do Meio Ambiente rebateu dizendo que os dados estavam desatualizados e que a instalação do Google será menor.

A BNamericas, consultora e analista de mercados para empresas que querem firmar negócios em países latino-americanos e que presta serviços ao Google, declarou que a empresa está buscando soluções: Esperamos que as cifras preliminares, como o consumo de água projetado, sofram alterações. No Google a sustentabilidade está no centro de tudo o que fazemos, e a forma em que desenhamos e administramos nossos centros de dados não é uma exceção".

Manifestantes seguram cartazes contra a política da seca em Montevidéu
Manifestantes em Montevidéu reinvindicam o direito à água. Foto: Redes-Amigos de la Tierra