A história do grupo que ultrapassou as barreiras sonoras pode ser vista no centro de SP até o fim de agosto
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Por Guilbert Inácio
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26/06/2025 - 12h

A exposição “O Quinto Elemento”, em homenagem aos 35 anos do notório grupo de rap Racionais MC’s, está em cartaz desde o dia 06 de dezembro de 2024, no Museu das Favelas, no Pátio do Colégio, região central da cidade de São Paulo. A mostra era para ter sido encerrada em 31 de maio de 2025, mas, devido ao sucesso, vai agora até 31 de agosto.

A imagem mostra um painel os quatros membros dos Racionais MC's
Em 2024, o museu ganhou o prêmio de Projeto Especial da Associação Paulista de Críticos de Artes (APCA) pela exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Museu das Favelas

O Museu das Favelas está localizado no Centro histórico de São Paulo, mas esse nem sempre foi o seu endereço. Inaugurado no dia 25 de novembro de 2022, no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas ficou 23 meses no local até trocar de lugar com a Secretaria de Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo, no dia 26 de agosto de 2024.  

Fechado por três meses, o museu reabriu no dia 06 de dezembro de 2024, já com a nova exposição dos Racionais MC’s. Em entrevista à AGEMT, Eduardo Matos, um dos educadores do museu, explicou que a proposta da exposição chegou neles por meio de Eliane Dias, curadora da exposição, CEO da Boogie Naipe, produtora dos Racionais e esposa do Mano Brown. Eduardo complementou que o museu trocou de lugar para ter mais espaço para a mostra, já que no Campos Elísios não teria espaço suficiente para implantar a ideia. 

Tarso Oliveira, jornalista e historiador com pós-graduação em Africanidades e Cultura Afro-Brasileira, comentou que a gratuidade do museu é um convite para periferia conhecer a sua própria história e que, quando falamos de Racionais MC's, falamos de uma história dentro da história da cultura hip-hop, que salvou várias gerações fadadas a serem esquecidas e massacradas pelo racismo estrutural no Brasil. “Nós temos oportunidades de escrever a nossa narrativa pelas nossas mãos e voltada para o nosso povo. Isso é a quebra fundamental do epistemicídio que a filósofa Sueli Carneiro cita como uma das primeiras violências que a periferia sofre.”, afirma o historiador. 

O Quinto Elemento

Basta subir as escadas para o segundo andar do museu, para iniciar a imersão ao mundo dos Racionais. Na entrada, à sua direita, é possível ouvir áudios do metrô, com o anúncio das estações. Uma delas, a estação São Bento da linha 1-Azul, foi o berço do hip-hop em São Paulo, na década de 1980. À esquerda está um som com músicas dos Racionais, uma trilha que você irá ouvir em todos os espaços da exposição.

A imagem apresenta três placas, em sequência, com os dizeres "X", "Racionais MC's" e "Vida Loka".
Placas semelhantes às placas com nomes de rua trazem as letras do grupo. Foto: Guilbert Inácio.

No primeiro espaço, podemos ver o figurino do Lorde Joker, além de uma breve explicação da presença recorrente na obra do grupo da figura do palhaço em apresentações e músicas como “Jesus Chorou”, em que Mano Brown canta: “Não entende o que eu sou. Não entende o que eu faço. Não entende a dor e as lágrimas do palhaço.”

A imagem mostra uma fantasia laranja de um palhaço. Ao lado, há uma televisão.
O figurino é usado em shows pelo dançarino de break Jorge Paixão. Foto: Guilbert Inácio. 

Ao adentrar o segundo espaço, você mergulha na ancestralidade do grupo. Primeiro vemos imagens e um pouco da história das mães dos quatro membros, Dona Benedita, mãe e avó de Ice Blue; Dona Ana, mãe do Mano Brown; Dona Maria José, mãe de KL Jay e Dona Natalícia, mãe de Edi Rock. Todas elas são muito importantes para o grupo e ganharam, inclusive, referências em músicas como “Negro Drama” em que Brown canta: “Aí Dona Ana, sem palavra. A senhora é uma rainha, rainha”. 

É nessa área que descobrimos o significado do nome da exposição. Há um painel no local com um exame de DNA dos quatro integrantes que revela o ponto de encontro entre eles ou o quinto elemento – a África.

A imagem mostra um painel com o exame de DNA dos quatro membros dos Racionais MC's
Na “Selva de Pedra”, antes de todos se conhecerem, todos já estavam conectados por meio da ancestralidade. Foto: Guilbert Inácio.

O título se torna ainda mais significativo quando lembramos que a cultura hip-hop é composta por quatro elementos: rap, beat, break dance e grafite. O quinto elemento seria o conhecimento e a filosofia transmitida pelos Racionais, grupo já imortalizado na cultura brasileira, sobretudo na cultura periférica. 

Na terceira área, podemos conhecer um pouco de Pedro Paulo Soares Pereira, o Mano Brown; Paulo Eduardo Salvador, mais conhecido como Ice Blue; Edivaldo Pereira Alves, o Edi Rock e, por fim, Kleber Geraldo Lelis Simões, o KL Jay. Entre os inúmeros objetos, temos o quimono de karatê de Blue e o trombone de seu pai, a CDC do KL Jay, rascunhos de letras de Brown e Edi Rock.

A imagem mostra um bicicleta BMX azul
Primeira BMX de Edi Rock. Foto: Guilbert Inácio. 

O próximo espaço é o “Becos do som e do Tempo”, que está dividido em vários pequenos slots que mostram a trajetória musical do grupo. Podemos ver rascunhos de letras, registros de shows e a história de algumas músicas, além de alguns prêmios conquistados durante a carreira do grupo. 

Algumas produções expostas são “Holocausto Urbano” (1990); “Escolha seu Caminho” (1992); “Raio X do Brasil” (1993); “Sobrevivendo no Inferno” (1997); “Nada Como um Dia Após o outro Dia” (2002).

A imagem mostra um painel com os dizeres "Minha palavra vale um tiro, eu tenho muita munição" e uma foto dos quatro membros dos Racionais MC's. Ao lado, há fotos individuais dos membros.
O grupo confirmou um novo álbum para este ano, mas ainda não divulgou o título da obra nem a data de lançamento. Foto: Guilbert Inácio.

Nos próximos espaços, tem uma área sobre o impacto cultural, um cinema que exibe shows e o local “Trutas que se Foram” em homenagem a várias personalidades da cultura hip-hop que já morreram. A exposição se encerra no camarim, onde estão disponíveis alguns papéis e canetas para quem quiser deixar um registro particular na exposição.

A imagem mostra uma pequena placa com a foto da Dina Di e os dizeres: "Dina Di. Cria da área 019, como as quebradas conhecem a região de Campinas, no interior de São Paulo, Viviane Lopes Matias, a Dina Di, foi uma das mulheres mais importantes do rap no Brasil. Dina era a voz do grupo Visão de Rua. Dona de uma voz forte, assim como sua personalidade, a rapper nasceu em 19 de fevereiro de 1976 e morreu em 19 de março de 2010. Foi uma das primeiras mulheres a conquistar espaço no rap nacional. Dina nos deixou por causa de uma infecção hospitalar, que a atingiu 17 dias após o parto de sua segunda filha, Aline."
Nomes como Sabotage, Chorão, WGI, entre outros são homenageados na exposição. Foto: Guilbert Inácio. 

Segundo Eduardo, a exposição está movimentando bastante o museu, com uma média de 500 a 800 pessoas por dia. Ele conta que o ápice da visitação foi um dia em que 1500 pessoas apareceram no local. O educador complementa que, quando a exibição chegou perto da sua primeira data de encerramento, em maio, as filas para visitar o espaço aumentaram consideravelmente. O que ajudou a administração a decidir pela prorrogação.  

Eduardo também destaca que muitas pessoas vão ao museu achando que ele é elitizado, mas a partir do momento em que eles veem que o Museu das Favelas é acolhedor, com funcionários dispostos a tirar suas dúvidas e com temas que narram o cotidiano da população brasileira, tudo muda. 

 “Dá para sentir que o pessoal se sente acolhido, e tendo um movimento desse com um grupo que é das favelas, das quebradas, que o pessoal se identifica, é muito melhor. Chama atenção e o pessoal consegue ver que o museu também é lugar da periferia”, conclui. 

Impacto Cultural

Os Racionais surgiram em 1988 e, durante todo o trajeto da exposição, podemos ver o quão importante eles são até hoje para a cultura brasileira, seja por meio de suas músicas que denunciaram e denunciam o racismo, a violência do Estado e a miséria na periferia – marcada pela pobreza e pela criminalidade –, seja ocupando outros espaços como as provas nacionais e vestibulares.

A imagem mostra duas provas do Exame do Ensino Médio de 2023 com os trechos "Até no lixão nasce Flor" e É só questão de tempo, o fim do sofrimento".".
Trechos de Vida Loka, parte I e II nas provas do Exame Nacional do Ensino Médio de 2023 (ENEM). Foto: Guilbert Inácio. 

Em 2021, foi ao ar a primeira temporada do podcast Mano a Mano, conduzido por Brown e a jornalista Semayat Oliveira, que chegou a sua terceira temporada em 2025.

Inclusive, o podcast, que já teve inúmeros convidados da cultura e da política vai virar  um livro, homônimo. A publicação sairá pela Companhia das Letras, que já publicou o livro “Sobrevivendo no Inferno”, em 2017. 

Segundo Tarso, o grupo representa a maior bandeira que a cultura negra e periférica já levantou nesse país, visto por muitos como super-heróis do gueto contra um sistema racista e neoliberal; além de produtores de uma música capaz de mudar a atitude e a perspectiva das pessoas, trazendo autoestima, além de muito conhecimento. 

“Um dos principais motivos do grupo se manter presente no cenário cultural é não se acomodar com a "força da camisa", como cita o Blue.  E sempre buscar ir além artisticamente, fazendo com que seus fãs tendam a ir para o mesmo caminho e continuem admirando sua arte e missão.”, finaliza Tarso. 

 

Serviço

O Museu das Favelas é gratuito e está aberto de terça a domingo, das 10h às 17h, com permanência permitida até às 18h. A retirada dos ingressos pode ser online ou na recepção do museu. Além da exposição “O Quinto Elemento”, também é possível visitar as exibições “Sobre Vivências” e “Favela é Giro”, nos mesmos horários.

Obra de Amailton Magno Azevedo discute como o rap colaborou na elaboração de uma estética da resistência
por
Julia Sena
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09/06/2025 - 12h

 

Em março de 2025, o grupo “Racionais MC 's” recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Unicamp, título concedido pelas universidades a personalidades de projeção nacional e internacional que fizeram contribuições notáveis à cultura e à sociedade. Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue, receberam a homenagem, que fez questão de enfatizar a importância do grupo para a construção de uma narrativa negra urbana no Brasil e serviu, entre outras coisas, para o reconhecimento do rap pela academia.  

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Mano Brown, Edi Rock, KL Jay e Ice Blue recebem o título de “Doutor Honoris Causa”.  Foto/Reprodução: Antônio Scarpinetti (SEC/Unicamp)  

A proposta da honraria foi feita professores do IFCH e aprovada pelo Conselho Universitário em novembro de 2023. Dentre os docentes estavam Daniela Vieira dos Santos e Jaqueline Lima Santos, responsáveis pela organização do livro Racionais: Entre o Gatilho e a Tempestade (Ed. Perspectiva, 2023). A obra busca analisar como a linguagem utilizada pelos Racionais MC´S dialoga com os jovens periféricos, usando como fio condutor a estética, letras, melodias e referencias do grupo, com análises de diversos pesquisadores da área, como Acauam de Oliveira, Ana Lúcia Silva Souza e Janaína Machado, entre outros.  

No final de 2024, Amailton Magno Azevedo, que este ano relança seu livro As micro Áfricas em São Paulo: sambas, quintais e arranha-céus (Editora Dandara, 2025), lançou sua obra intitulada Na Trama do Rap (Educ, 2024). O pesquisador e professor do programa de pós-graduação de história da PUC-SP conta, em entrevista para a AGEMT, que sua jornada intelectual foi atravessada diretamente pelo impacto que o Racionais teve em sua formação. “Foi uma revelação, uma descoberta, como se eles estivessem falando de mim, para mim. Eu me reconhecia muito naquelas letras, aquilo me estimulou a querer saber quem eram aquelas pessoas”, conta relembrando quando ouviu Raio X do Brasil, ainda na graduação. 

Amailton defende que o rap, longe de ser apenas um gênero musical, constitui uma “espécie de veículo de transmissão de uma complexa gama de visão de mundo, de quereres, fazeres, expectativas e projetos de sociedade e de cidade”. Ele observa que o gênero cumpre um papel semelhante ao de outras expressões culturais negras, como o samba e o funk, ao permitir a elaboração de uma estética de resistência. Ao longo dos anos o movimento tem se transformado em uma cultura de massa, o que segundo o pesquisador é um bom indicativo de que as vozes negras estão sendo ouvidas. 

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Amailton e KL Jay no evento de Lançamento do livro “Na Trama do Rap”. Reprodução: @amailtonazevedo/Instagram 

Na área acadêmica, o pesquisador compartilha em trechos de seu livro um conceito estabelecido por Kabengele Munanga, que visa acabar com a ideia do negro visto apenas como um objeto de análise. “É preciso buscar e examinar a subjetividade. O negro como sujeito é uma perspectiva metodológica. Produzir um conhecimento que leve em consideração o negro como sujeito de si mesmo, como produtor de conhecimento e não apenas objeto de estudo.”, defende. 

Em Na Trama do Rap, Amailton também destrincha o papel da alegria, do riso e da celebração como sendo ferramentas políticas fundamentais na luta contra o racismo, ao invés de serem ferramentas de alienação, como algumas pessoas afirmam. “A música, a festa e, a dança negras foram e continuam sendo vitais no sentido de afirmar e realizar um jeito negro de ser no mundo. Sem dança e sem música a festa não tem graça. E nenhuma revolução será exitosa se não passar pelo riso.”, completou.  

Com o relançamento do livro, o autor pretende aprofundar a investigação sobre a chamada “velha geração” do rap nacional, da qual os Racionais MC’s são os principais representantes. “O livro joga luz nessa tendência que o Racionais inaugura e consolida: o rap político”. O reconhecimento institucional do grupo é um marco que evidencia o quanto a cultura de rua, a arte negra e a linguagem  periférica ganham espaço no fazer acadêmico. 

“Na Trama do Rap” foi publicada pela Educ, editora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A obra está disponível para compra aqui.

Liberado no dia 13 de março, o projeto retoma a tradição do rapper, além de trazer inúmeras referências culturais
por
Guilbert Inácio
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24/03/2025 - 12h
O ambiente da imagem é uma casa antiga. Djonga aparece em pé do lado direito com boné, jaqueta e correntes de ouro. A parede atrás do artista está quebrada e os tijolos que faltam aparecem empilhados ao lado direito do rapper. Em cima dos tijolos, há pepitas e correntes de ouro, além de um galo. Há uma janela desgastada em cima da pilha do lado esquerdo.
Djonga no material promocional do álbum / Foto: Reprodução - @djongador

Djonga lançou seu novo álbum intitulado "Quanto Mais Eu Como, Mais Fome Eu Sinto!". A produção marca o retorno de uma data significativa para o rap nacional e conta com as participações de Milton Nascimento, Samuel Rosa, RT Mallone, Dora Morelenbaum, além dos já conhecidos DJ Coyote Beatz e Rapaz do Dread.

Até então seu último álbum era "Inocente 'Demotape'", lançado no dia 13 de outubro de 2023, com uma pegada diferente do resto da discografia do artista, pois Djonga focou em temas como amor, sexo e o cotidiano. Em 2024, o rapper mineiro participou apenas de projetos de outros artistas, quebrando o ciclo de lançamentos anuais desde seu primeiro álbum, em 2017.

Agora, Djonga retomou os lançamentos, ao dar vida ao seu novo álbum que contém 12 faixas, traduzindo o conceito que o artista trouxe no título da obra. A fome que antes era um impulso de sobrevivência do rapper mineiro, hoje representa uma inquietação, uma busca por evolução e superação, além de afirmar quem ele é.

Nas faixas ele passa por temas marcantes de sua obra como o racismo, a justiça social e a violência na sociedade, mas também, há uma análise antropológica ao falar sobre angústias, dúvidas, frustrações, conquistas do ser humano e ainda, sobre o reconhecimento que obteve de seus ídolos e de pessoas periféricas. Características que marcam a nova fase de experimentação do artista. Não é mais seu corpo que sente fome, mas sim sua alma, faminta de autoconhecimento.

Referências culturais

Djonga sempre trouxe sua religião, Umbanda, para suas músicas. No novo projeto não foi diferente. Dentre as referências citadas, a mais marcante é o paralelo do nome da obra com a história de Exu, um dos Orixás primordiais, presente em religiões de matrizes africanas. Segundo a crença, Exu come primeiro por causa de sua fome insaciável. A história do Orixá aparece, parcialmente, encerrando as músicas "Fome" e "Ponto de Vista".

Já a participação de Milton Nascimento no álbum é um encontro entre Gustavo Pereira Marques, nome real de Djonga, com uma de suas referências na música. O primeiro álbum de Djonga, Heresia, tem como capa uma releitura do LP "Clube da Esquina", lançado em 1972, por Milton Nascimento e Lô Borges.

Do lado esquerdo, há a capa do álbum Heresia, composto por uma edição fotográfica que colou Djonga sentado do lado dele mesmo. Ambos estão sentados em uma estrada de terra e ao fundo há uma floresta. Do lado direito está a capa do LP Clube da Esquina que mostra duas crianças sentadas em uma estrada de terra. Ao fundo, há uma cerca de arame e uma floresta.
Capa de “Heresia”, à esquerda, e “Clube da Esquina”, à direita / Fotos: Reprodução - Spotify

O célebre artista da MPB está presente na faixa "Demoro a Dormir" que, assim como “Heresia”, une o passado e o presente. Por meio de citação do Melhor Filme Internacional do Oscar 2025, "Ainda Estou Aqui" - obra que retrata a história de Eunice Paiva, a qual lutou por justiça na Ditadura Cívico-Militar - a música nos lembra que a violência e o autoritarismo permanecem presentes na sociedade atual.

Na faixa "Te Espero Lá", Djonga fala da passagem de sua antiga fome para a nova, com destaque para um trecho em que ele diz que as marcas mais importantes não são as que ele pode comprar, mas sim, as que estão na alma e que tenta curar com o que compra. A música também traz um refrão que flerta com o Pop, cantado por Samuel Rosa, outro ícone da música brasileira.

A música "Ponto de Vista", traz o artista RT Mallone, atual campeão do reality musical "Nova Cena" da Netflix, que conta um pouco das dificuldades que passou em Juiz de Fora (MG) e a ascensão social que adquiriu por meio do rap. Djonga canta sobre as críticas superficiais que os haters fazem a respeito dele, enfatizando que tudo é só um ponto de vista.

A faixa que encerra o álbum, "Ainda", tem a voz marcante de Dora Morelenbaum que acompanha a voz de Djonga, cantando sobre os caminhos escolhidos pelo artista durante sua vida.

Além de tantas outras referências, todo o álbum tem beats e arranjos feitos por Coyote Beatz e Rapaz do Dread, velhos conhecidos pelos fãs do artista. O destaque da produção musical fica para a música "Melhor que Ontem" que traz um sample de "Último Romance", canção da banda "Los Hermanos".

Por que dia 13 de março?

"Lanço todo dia 13 pra provar pra tu / Que um raio cai de novo no ‘memo’ lugar" verso da música "Oto Patamá", lançada por Djonga em 2020, que sintetiza o que a data significa para o artista. O rapper explicou em 2021, ao Marcelo Tas, no programa Provoca da TV Cultura, que lançou o seu primeiro álbum na data, um ano depois, seu novo projeto ficou pronto antes de março, então ele decidiu lançar no mesmo dia. 

A partir daí virou um compromisso com ele mesmo, de se desafiar, ao lançar um álbum novo com o prazo de um ano. Embora o ciclo tenha sido quebrado em 2022, o dia 13 permaneceu. O número é simbólico para o Atlético-MG, time de coração de Djonga.

Confira a discografia do rapper:

  • Heresia (13 de março de 2017);
  • O Menino que Queria Ser Deus (13 de março de 2018);
  • Ladrão (13 de março de 2019);
  • Histórias da Minha Área (13 de março de 2020);
  • Nu (13 de março de 2021);
  • O Dono do Lugar (13 de outubro de 2022);
  • Inocente "Demotape" (13 de outubro de 2023).

Criado pelo rapper mineiro, a data é uma espécie de "feriado" no rap nacional. O artista também criou a icônica frase utilizada pelo movimento negro: "Fogo nos Racista", refrão de seu perfil "Olho de Tigre" na PineappleStormTV. A frase evoca a resistência antirracista e a luta por justiça social, tornando Djonga, um dos mais importantes artistas do gênero no país, além de ser uma inspiração para as próximas gerações.

 

Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

Pesquisa do Datafolha evidencia a complexidade das percepções raciais no país
por
Letícia Alcântara
Sophia Razel
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03/12/2024 - 12h
Garotas negras em pé e sentadas em um corredor
Jovens reunidos em um espaço que reflete a diversidade  Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil

Na última terça-feira de novembro (25), uma pesquisa conduzida pelo Instituto DataFolha e divulgada na mesma semana revelou dados significativos sobre a percepção racial no Brasil. O levantamento mostrou que 6 em cada 10 pessoas que se autodeclaram pardas não se consideram negras, evidenciando uma desconexão entre a autodeclaração oficial e a forma como essas pessoas percebem sua identidade racial. Por outro lado, entre os brasileiros que se identificam como pretos, 96% se reconhecem como negros, enquanto 4% não compartilham dessa visão.

Em relação a preconceito e racismo, a mesma pesquisa revelou que 59% dos brasileiros consideram que a maioria da população é racista, 30% considera que apenas uma minoria, 5% que toda a população seria, 4% que ninguém seria, enquanto 2% não souberam responder. Entre os gêneros, 74% das mulheres  acreditam que todos ou a maioria dos brasileiros são racistas. Por sua vez, entre os homens, esse percentual cai para 45%.

 

Percepção e Vivências do Racismo no Brasil

Ainda sobre a percepção referente ao racismo no Brasil, para 45% da população o racismo aumentou ao longo dos anos, enquanto 35% acreditam que o cenário  permanece o mesmo. Apenas 20% dos entrevistados enxergam uma redução nos casos de discriminação.

Quando perguntados em relação ao contexto onde o racismo está mais presente, a maioria dos brasileiros, 56%, aponta que as atitudes das pessoas são a principal manifestação do problema. Outros 27% acreditam que ele está mais evidente nas estruturas institucionais, como empresas e governos, enquanto 13% consideram que o racismo está igualmente distribuído entre comportamentos individuais e sistemas institucionais. Por fim, 4% dos participantes não souberam opinar sobre a questão.

A pesquisa também abordou vivências individuais de discriminação. Entre os entrevistados que se identificam como pretos, 56% relataram já ter sofrido preconceito relacionado à cor da pele. Esse percentual é significativamente maior entre os pardos, dos quais 17% relataram ter enfrentado situações semelhantes. Já entre os brancos, o índice cai para 7%.

Realizado em 113 municípios brasileiros, o estudo contou com a participação de aproximadamente 2.004 pessoas e buscou compreender as nuances entre autodeclaração racial e identidade, além de explorar como os brasileiros enxergam o racismo na sociedade. O objetivo do levantamento é fomentar debates mais aprofundados sobre a questão racial no país. 

De grandes personalidades na história do país à experiência contemporânea de nascer em dois mundos segregados de raça e de gênero
por
João Curi
Marcelo Zanardo Penna
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29/10/2022 - 12h
Obra da série "As filhas de Eva", da artista visual Rosana Paulino.
(Foto: Reprodução/Galeria de Rosana Paulino)

Ao longo da história do Brasil, é inegável a importância das mulheres negras na luta por uma sociedade mais igualitária, ainda que essas presenças passem despercebidas pelo povo brasileiro. Grandes personagens como Dandara, que foi líder do grupo feminino do exército de Palmares e um dos maiores nomes do país na luta contra a escravidão, detêm uma a duas páginas nos livros didáticos, enquanto os colonizadores ocupam a maior parte do conteúdo.

No âmbito da literatura, Maria Firmina dos Reis foi a primeira romancista brasileira a ter sua obra publicada em território nacional. Além disso, foi a primeira mulher aprovada em um concurso público no Maranhão, e fundou a primeira escola pública mista na região. 

Nas telonas, Ruth de Souza foi a primeira indicação brasileira ao prêmio de melhor atriz em um festival internacional de cinema, o Leão de Ouro, em 1954, por sua atuação no filme “Sinhá Moça”. Ruth também foi a primeira mulher negra a atuar no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.  

Yvonne da Silva Lara, também conhecida como Dona Ivone Lara, foi a primeira mulher a compor um enredo de escola de samba: “Os Cincos Bailes Tradicionais da História do Rio”, em 1965, apresentado pela escola Império Serrano. Formada em Enfermagem e Serviço Social, ela se especializou em terapia ocupacional e atuou em conjunto com a médica psiquiátrica Nise da Silveira no Serviço Nacional de Doenças Mentais. Dona Ivone Lara se destacou ao compor sambas, assinando como um de seus primos, uma vez que as obras produzidas pelos homens tinham mais chances de serem aceitas e reconhecidas na época. A sambista escreveu sucessos como “Sonho Meu” e “Alguém Me Avisou”, regravados por grandes nomes da MPB.

Não à toa, a tradicional escola Estação Primeira de Mangueira foi consagrada campeã do carnaval carioca, em 2019, com um samba-enredo que bradava “Brasil, chegou a vez de ouvir as Marias, Mahins, Marielles, malês”. Durante o desfile, a Marquês de Sapucaí foi palco da “história que a história não conta”, preenchendo a avenida com as passagens de Dandara, Luiza Mahin e demais personalidades tão relevantes e pouco abordadas nos livros.

Nesse caminho, é necessário compreender os desafios sociais que permeiam a vida de mulheres negras desde a sua ancestralidade, principalmente no Brasil.

Retrato da educadora e escritora Beta Ferreira
Beta Ferreira (Reprodução/Acervo pessoal)

Beta Ferreira é educadora social e empresarial, fundadora do projeto “Uma Deusa Africana” e coautora da antologia “As Áfricas dentro de mim”, lançada este ano na modalidade presencial. “A gente já tem essa questão de não saber de qual país africano vem a nossa família”, compartilha. “Todas as pessoas afrodescendentes têm isso como interrogação, e só conseguem tirar essa dúvida fazendo aqueles testes de DNA supercaros, então quem é de classe social mais baixa não consegue”.

A educadora ainda relata sobre sua busca pela ancestralidade, que se concretizou no ano passado, enquanto morava em Salvador. Sua mãe perdeu os pais ainda muito nova e teve que morar em um orfanato, onde se distanciou de suas raízes baianas. Após pesquisar documentos e endereço, Beta foi a primeira de sua família paulista a visitar a cidade de origem de seus avós, no sertão baiano. “Eu queria muito saber de onde eles vieram, queria muito ouvir o sotaque dos meus avós de alguma forma, saber o que eles faziam”.

 

Retrato da estudante Mare Baptista
Mare Baptista (Reprodução/Acervo pessoal)

 

Por outro lado, Mare Baptista, estudante de Moda e integrante da comunidade “Black in Business” da Ascential pela WGSN, relata que buscou saber mais sobre sua ancestralidade já no período da escola, quando estudava em colégio particular. “A maioria dos meus amigos, majoritariamente brancos, sabiam a nacionalidade de suas descendências e, quando me perguntavam, eu não sabia o que dizer”, expõe. “Então eu perguntei para a minha mãe, que sabia responder com mais precisão porque minha avó é branca”.

Mare relembra o período de seu ensino médio, quando começou a sair mais e viveu, na pele, os reflexos da segregação racial. “Quando eu ia para as festas, os meninos que eu queria beijar preferiam minhas amigas brancas”, desabafa. “Chegou ao ponto em que um menino falou que só me beijaria se minha amiga – branca - beijasse ele primeiro, e foi nesse momento que caiu a ficha”.

Em razão da recorrência dessa prática, a estudante percebia que não era tratada, tampouco enxergada, da mesma forma que suas amigas brancas. Desse modo, conversando com uma amiga de descendência asiática, que também passava pela mesma situação, as duas uniram forças para entender o que estava acontecendo. “Foi quando descobri que existe a solidão da mulher negra, o que ela é e que eu passei por isso a maior parte da minha vida”.

Dentro disso, Beta denota a importância de aquilombar ao se reconhecer na sociedade enquanto mulher preta. “Quando você tira os filtros [coloniais] dos olhos, você enxerga com mais clareza e com mais dor, mas também é mais resistência, mais vontade de lutar e até mais vontade de desistir porque a luta cansa”, explica. “Você vai entendendo que só os nossos - as pessoas que também vivem isso - vão entender essa dor, então é importante aquilombar para também se fortalecer porque você vai ter mais vontade de lutar com os seus”.

Nesse sentido, a educadora compartilha sua experiência de levantar provocações aos seus alunos, adaptando os exercícios de reflexão às faixas etárias de suas turmas. Com as crianças, por exemplo, Beta questionava a partir da pintura, começando pelos lápis de cor atribuídos à “cor-de-pele”. Já com o público adolescente, ela incentiva a quebra de barreiras, a ir além dos muros sociais, a reconhecer os espaços que podem ocupar, além dos que lhes foram apresentados. “Como educadora, essa é a missão: abrir os olhos desses educandos, fortalecendo a autoestima, o autoconhecimento e o reconhecimento no mundo”, reforça.

Para além da educação, as artes também atuam em apoio a essas reflexões, não somente pela ancestralidade, como pela identificação com as letras. Por influência da família, Beta foi naturalmente se aproximando da MPB e do samba-rock, crescendo com esse fortalecimento de sua cultura através da música. “Querendo ou não, mesmo que não saibam, as pessoas estão cantando um pouco da nossa história”, aponta. “A minha escuta, meu olhar e a forma como vejo o mundo mudaram depois que eu comecei a desconstruir esse olhar do racismo estrutural que foi imposto para mim”.

No âmbito da grande mídia, em menção à literatura e ao cinema, Mare discorre sobre uma representação romantizada da cultura afrodescendente, que muitas vezes não mostra toda a violência que as pessoas negras sofrem no Brasil. Ela cita o longa-metragem distópico “Medida Provisória” (2020), de Lázaro Ramos, como o marco inicial de uma onda de produções visuais que possam retratar o que a comunidade negra reivindica. “Os livros e filmes que realmente contam a história da cultura negra só são consumidos pelos negros”, defende a estudante. “Acredito que agora o mercado e a mídia entenderam o que os pretos querem que seja mostrado quando pedem representatividade”.

Mare ainda destaca a artista visual Rosana Paulino como uma de suas maiores referências culturais desde que conheceu a série de obras “As filhas de Eva” (2014), que reforça a imagética de que as mulheres pretas também são filhas de Eva. “Todas as obras [da série] têm uma sombra preta, que é a sombra da mulher tentando se encaixar na sociedade”, analisa a estudante.

A representação nas páginas e nas telas acende a identidade de mulheres negras, principalmente jovens, que começam a se enxergar em suas semelhantes e compreender o que o espelho insiste em refletir. Com o avanço, a passos de formiga, das lutas raciais, a transição capilar se torna um processo mais viável e acessível, ao passo que reacende as raízes e incentiva o mercado a fomentar essas mudanças. “Hoje em dia, tem prateleiras só para cachos e cabelos crespos”, aponta Beta. “Na época da minha mãe e das minhas tias, era só um ou dois tipos de creme, e aí alisavam porque não sabiam o que fazer com o cabelo”.

Por outro lado, essa exposição de um corpo retratado às vontades dos opressores pode aprofundar também as raízes do preconceito, que se sustentam por meio de estereótipos caricatos e da hipersexualização. “Só por ser negra eu automaticamente tenho que ter uma bunda grande, peito grande e uma personalidade que foi criada na grande mídia: a negra cômica, a negra barraqueira, a mãe que não é tão amorosa com os filhos e está sempre gritando”, ressalta Mare.

Não obstante, a opressão também se manifesta redutora nas relações de trabalho, seja de forma velada ou não. Quando Mare se inseriu no mercado de trabalho, foi estagiária de uma pequena empresa, em que trabalhava com colegas de trinta a cinquenta anos mais velhos. “Se apenas ser mulher no Brasil já é difícil, ser mulher negra é três vezes pior porque as pessoas vão te diminuir cada vez mais”, afirma. “Eu era estagiária de e-commerce em uma loja de roupas de luxo e fazia feira para a minha chefe. Eu ia na feira de rua, comprava melancia e tudo mais que ela pedisse, e deixava na casa dela”.

Para Beta, desde criança, o reconhecimento do espaço social que ocupava nestes dois mundos – dos brancos e dos não-brancos – foi esclarecido já no começo de sua criação e se estende até hoje. “Minha mãe não é uma militante extrema, mas ela sempre criou uma filha preta. Criar uma filha preta é conscientizá-la”.

A fundadora do projeto “Uma Deusa Africana” ainda planta uma mensagem às meninas pretas que estão no começo de sua transição capilar, e no início dessa jornada de autoconhecimento e reconhecimento: “É um processo individual. Tem o tempo da pessoa para ela se reconhecer. Mais do que falar, eu daria um abraço e mostraria que tem um quilombo esperando por ela”.

O cenário da comunidade negra na PUC-SP
por
Fernanda Querne
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29/10/2022 - 12h

 

 

Pelos corredores da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), poucas pessoas andam com suas tranças nagôs. Na nécessaire básica da típica puquiana, não há um pente garfo para o seu crespo. Nem uma esponja nudred para texturizar o seu “short afro”. Tanto que, muitos leitores estão se sentindo perdidos com essas referências da comunidade negra - como se não fossem deste mundo. Esse é o sentimento dos estudantes pretos em ambientes majoritariamente brancos - não pertencimento. 

 

Há uma ausência em relação aos dados oficiais sobre como os negros se sentem na PUC-SP e até sobre a quantidade deles, bolsistas ou pagantes, em certos cursos. Para tentar saber mais sobre esses estudantes, a reportagem criou um formulário de preenchimento opcional que circulou nos grupos de mensagens puquianos. Quinze estudantes responderam a pesquisa. Eles participam do coletivo negro Saravá. As perguntas são de escala linear, indo do número 1 (de jeito nenhum) até o 5 (com certeza). Também é possível ver os gráficos circulares das respostas de múltipla escolha. 


 

REPRESENTAÇÃO

 

 

De acordo com a pesquisa, os alunos pretos que não se sentem representados pela PUC-SP, de jeito nenhum, totalizam 66,7%. Em entrevista à AGEMT, a estudante de Relações Internacionais, Júlia Medeiros, verbalizou as suas emoções: “Eu me sinto meio excluída e às vezes eu não consigo conversar”. A participante do Saravá evidenciou a dificuldade de discutir sobre questões íntimas raciais com os seus colegas: “Meus melhores amigos da PUC são brancos, não tem nenhuma pessoa preta. Às vezes, me sinto nessa solidão”. 

 

Porém, esse sentimento não é exclusivo de Júlia. A aluna de psicologia, Camilla Silva, explica como a falta de “hospitalidade” a sufocou, até perdendo a noção dos sentidos: “Quando eu cheguei, vi tanta gente branca que tive a sensação de tudo ser branco, as paredes e as árvores”. 

 

Já o professor da PUC, Amailton Azevedo, explicou o que é ser um docente negro: “Me sinto uma alma no exílio. A ausência da diversidade humana empobrece as relações, a produção do conhecimento e torna o ambiente acadêmico medíocre”. A quantidade de educadores pretos é muito pequena. Tanto que, ambas as entrevistadas nunca tiveram aulas com professores negros. A estudante de psicologia clama por aulas mais construtivas sobre paridade racial, menos teóricas: “Eu sou a única daquela sala que sofre por ser negra. O racismo não está distante, como falam. Ele está aqui e agora”. 

 

SOLIDÃO DA MULHER NEGRA 

 



 

As pretas sentem com certeza a solidão da mulher negra, e essas são ao todo: 72,7%. Esse sentimento é derivado das situações que as colocaram em segundo plano. Medeiros e Silva compartilham da mesma emoção. Júlia enfatiza o como o tratamento dos garotos com ela é diferente em comparação às meninas brancas: “Não me chamam para encontro, cinema ou até ir na casa deles. Normalmente, ficam comigo nas festas - sem compromisso”. Já Camilla, abordou a parte de ser uma mulher gorda preta: “Não me sinto bonita o suficiente. Para mim, ir em festas da PUC, só se for para beber. Se for para conhecer pessoas, no quesito sentimental, nem rola”.  

 

PRETOS BOLSISTAS


 




 

Segundo o Forms, mais da metade dos pretos bolsistas não se sentem representados de jeito nenhum. Medeiros, aluna pelo programa da Fundação de São Paulo (FUNDASP), denunciou o como o bandejão, aquele que estava fechado no começo do ano, é um das únicas iniciativas em prol dos bolsistas. Já a Camilla, ingressante pelo Programa Universidade Para Todos (Prouni), relembrou algumas políticas de auxílios que já estiveram presentes no campus: "Temos alimentação, não tenho o que reclamar, a comida é ótima. Porém, antes davam apoio com xerox, mas agora não”. 


 



 

Como é visto no gráfico, a maioria dos negros bolsistas (46,7%) são atendidos pelo Prouni. Enquanto a Fundasp totaliza 13,3%. Entretanto, de acordo com o site oficial da PUC-SP, a Fundação concede 30% das suas vagas de graduação para: negros, pardos e indígenas de baixa renda. Ainda é pertinente mencionar que os ingressantes do Fies não possuem a gratuidade do bandejão.

 

Em 2022, a Lei das Cotas fez dez anos. Determinando que as instituições federais de educação e universidades públicas reservassem 50% das vagas dos cursos e turnos para negros, pardos, indígenas e pessoas de baixa renda - estudantes de escolas públicas. Porém, algumas faculdades privadas agregaram esses valores, como é o caso da PUC-SP. 

 

Medeiros argumentou sobre a importância dessa lei para as pessoas pretas: “Agora, a gente tem uma comunidade preta, principalmente, nas faculdades públicas e tudo graças às cotas”. Convergindo com Júlia, a estudante de psicologia explica que essa norma dá um fôlego para os pretos alcançarem aqueles que já estão na frente. 

 

Já o professor Azevedo retratou os avanços dentro da Pontifícia em relação à política da paridade racial: “Implementação das cotas raciais na reserva das bolsas de estudo em toda a pós-graduação da PUC/SP. A determinação do consun, aprovada em maio de 2017, contribuiu para a permanência de alunos negros, indígenas e pobres na pós graduação”. 

 

O docente menciona que, em 2020, a PUC/SP, no âmbito de sua pro-reitoria comunitária e de cultura, aprovou a criação da biblioteca negra, favorecendo, a aquisição de títulos de autores negros/negras e aprovou a criação do selo 'autorias negras' que objetiva fomentar a publicação de suportes pretos. 

 

 A partir de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) - feitos pelo site Quero Bolsa - entre 2010 e 2019, o aumento dos negros no ensino superior foi de 400%. Entretanto, a comunidade preta só totaliza 38, 15%. Portanto, mesmo com esse enorme crescimento, não há paridade racial. Porém, ainda há estudantes que refutam a necessidade de cotas.

 

A Camilla já ouviu dos futuros psicólogos como não é preciso uma política de igualdade entre negros e brancos. Já a aluna de RI lembra que as vagas das cotas não são retiradas de brancos para dar a  negros. Cota não é privilégio, e sim reparação histórica”, diz Medeiros. 


 

LUTA ANTIRRACISTA 


 



As pessoas pretas negam a ideia dos brancos estarem ativos na luta antirracista. Será que postar um #BlackLivesMatter nas redes sociais, é o suficiente? Dizer que o Brasil é um país racista, é o suficiente ou o óbvio? Não existe o esquerdomacho? Então, há o aliado fake - o qual só opina quando é confortável e pertinente para sua imagem. Camilla diz o quanto é necessária a empatia dos brancos em relação às suas posições de privilégio: “Eles poderiam falar por mim, não porque eu não posso falar, mas porque não me escutam”. Júlia afirma que ninguém tomará as dores da comunidade. Logo, a criação do Saravá é para não roubarem as vozes da liberdade.     

 

Fundada no bairro da Penha (zona leste de SP), o local marca o legado da história de luta contra a escravidão
por
Gustavo Oliveira de Souza
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28/10/2022 - 12h

Em 2002, um grupo chamado Comissão do Rosário dos Homens Pretos da Penha resolveu retomar a velha tradição de celebrar Nossa Senhora do Rosário e São Benedito, celebrando os 200 anos da Igreja Rosário dos Homens Pretos da Penha, uma das únicas obras erguidas por negros que ainda se mantêm em seu local de origem. A importância da Igreja se deve ao fato da junção de duas outras igrejas de São Paulo: o Santuário Eucarístico Nossa Senhora da Penha e a Capela de Nossa Senhora do Rosário e outro fato que evidencia o valor da obra é o fato dela ter sido construída “dando as costas” para o centro da cidade, já que era uma igreja frequentada por escravos. Desde sua reinauguração, uma celebração no primeiro domingo de todos os meses do ano que é a Celebração Inculturada Afro Brasileira é feita com o intuito de resgatar a memória dos antepassados e relembrar a luta deles pela religião de matriz africana em São Paulo. A estrutura chamada de Largo do Rosário fica localizada no bairro da Penha, bairro de grande importância da Zona Leste da cidade e o prédio foi tombado no ano de 1982 depois de ter recebido pequenas reformas, reforçando a importância desse patrimônio para São Paulo. 

Em entrevista com Cristiane Gomes, coordenadora do corpo de dança do bloco Ilú Oba de Min, bloco fundado em 1987 e explora ritmos brasileiros e africanos, juntando toda a diversidade cultural desses locais fala um pouco da importância da Igreja: “Ela surgiu como forma de resistir à Igreja Católica, que era predominante na cidade. Todos os escravos e refugiados iam até o local para terem seu momento de conexão com seus ancestrais e festejarem que ainda estavam vivos, mesmo com toda a tentativa de extermínio dos povos por parte do catolicismo. Esse resgate que está sendo feito é de extrema importância para o Brasil por que fortalece ainda mais a nossa luta pelas religiões de matriz africana”.  

Falando um pouco a respeito do Projeto Ilú Oba de Min, Cristiane fala da pesquisa feita acerca da música afro-brasileira: “O bloco tem como intuito preservar a identidade negra brasileira na música abrindo espaço com outras áreas do conhecimento através de aulas, debates e exposições e é feito de forma independente, sem nenhuma ajuda de uma grande empresa ou ajuda de governo”. 

O Bloco Ilú participa de algumas das festividades da Igreja do Rosário e a última delas aconteceu no mês de setembro, no Festival Musical Agô, exaltando toda a música ancestral, começando pelo circo, passando pelo samba e terminando com a apresentação do bloco.  

Foto de Douglas de Campos

                                                                                                               Foto de Douglas de Campos/Facebook 

O tamanho da importância da Igreja Rosário dos Homens Pretos da Penha para as religiões de matriz africana, para os negros e para a cidade de São Paulo deve sempre ser exposta. Sem ela, os escravos não teriam locais para exaltarem sua fé e a luta dos escravos seria ainda mais difícil e o significativo é tamanho devido o fato da Igreja do Rosário ainda ser um dos únicos locais construídos pelos negros que ainda se mantém de pé, como forma de protesto a Igreja Católica e de luta contra o racismo, e nós devemos sempre exaltá-la.  

Entenda como o Mundo Nerd deixou de ser um ambiente acolhedor e representativo para se transformar em um lugar recheado de preconceito e opressão
por
Matheus Monteiro da Luz
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29/06/2022 - 12h

Por Matheus Monteiro

Ser nerd nem sempre foi “cool”. Antigamente o bullying e a violência eram comuns na vida de alguém que pertencesse ao mundo geek. Na escola, fãs de videogames, RPG’s e quadrinhos sempre eram excluídos pelas pessoas mais “populares”, aquelas que julgavam o que era certo e errado, inclusive, quem ousasse não se encaixar aos padrões impostos, estaria sujeito a opressão.

De alguns anos para cá, porém, a cultura nerd deixou de ser algo alternativo, agora passa a ser valorizada e domina o mainstream. Ironicamente, no entanto, alguns indivíduos que se consideram nerds, em vez de usar essa sua nova posição de destaque na sociedade para integrar novos fãs e expandir as fronteiras de suas histórias preferidas, preferem promover o ódio e a opressão já vividos por eles.

E mesmo cercados de histórias de cunho obviamente progressistas – como as dos “XMen”, heróis que lutavam contra o preconceito de todas as formas –, o mundo nerd tem sido tomado por uma onda conservadora e purista que constantemente vira manchete por problematizar praticamente toda a tentativa de representatividade em filmes, séries e adaptações.

Evidentemente, não são todos que promovem esse discurso. Essas ofensas costumam vir daqueles que são conhecidos nas redes sociais como “nerds raiz”, “nerdolas” ou “nerd boomers”. Por vezes, eles mesmos ostentam essas alcunhas. Eles escondem o seu racismo e intolerância no sentimento de nostalgia, com aquele clássico discurso de que “antigamente era melhor”. Não podem ver sequer uma obra que contenha uma representação de alguma minoria que já a taxam como “lacradora”, ou esquerdista.

Raphael Augusto Alves, estudante universitário e geek, contesta se esse universo sequer já teve uma premissa inclusiva. Para ele, “a comunidade nerd foi realmente criada nesse contexto, mas dizer que ela nasceu em um ambiente de inclusão, é exagerar. Isso porque, aquele jovem que jogava Dungeons & Dragons no porão de casa e não se sentia bemvindo no resto das atividades, partia naturalmente para a exclusão. É aquela coisa, quando você não entende como mudar a opressão, você tende a se tornar o opressor. O conservadorismo nasce do medo de mudança. Porque pensam que qualquer mudança que afete uma memória antiga pode ser um grande problema. Então de fato há um purismo. É um conservadorismo nascido de um preconceito que também gera preconceito. É um ciclo.”

© @lukaswerneck  Halle Bailey como Ariel em desenho de Lucas Werneck

 

Um dos casos mais emblemáticos causado por esse fenômeno foi quando houve o anúncio de uma Ariel negra para a adaptação com atores reais do filme animado “A Pequena Sereia”, uma das mais famosas princesas da Disney. Os fãs da animação foram à loucura. A exceção foram aqueles que ficaram indignados pelo fato que trocariam a etnia de uma das princesas mais queridas do estúdio. 

Em julho de 2019 divulgaram quem seria a Ariel. Muitas fontes apontavam a atriz Zendaya para pegar o papel principal, só que quem levou essa foi a atriz Halle Bailey conhecida por seu trabalho na série Grown-ish e por cantar em um duo com sua irmã Chloe Bailey. 

Mesmo com debates sobre racismo espalhados pelo mundo todo, Bailey não ficou imune aos ataques feitos pela internet quando por três dias a hashtag “not my Ariel” (não é minha Ariel) ficou nos trend topics do Twitter mundial. Por outro lado, muitos apoiaram a iniciativa, uma vez que personagens racializados das produções dos estúdios Disney geralmente ficam em forma de animais ou de seres inanimados, como a Tiana da animação “A Princesa e o Sapo” e Kuzco de “A Nova Onda do Imperador”. 

A dubladora de Ariel na animação de 1989, Jodi Benson, declarou apoio a cantora em sua entrevista para o ComicBook. com. “Não importa nossa aparência por fora, não importa nossa raça, nossa nação, a cor de nossa pele, nosso dialeto, se eu sou alto ou magro, se estou acima do peso ou abaixo do peso, ou meu cabelo e a cor que for, realmente precisamos contar a história”. 

Outra situação em que o discurso de ódio dominou as entrelinhas dos “nerds conservadores” nas redes sociais ocorreu logo após o lançamento do primeiro trailer da série “Senhor dos Anéis”, que está sendo produzida pela Amazon.

Fotografia do elfo de 'Senhor dos Anéis' - Divulgação/ Amazon Prime Vídeo

Por incrível que pareça, o retorno do rico universo de J. R. R. Tolkien não foi motivo para a celebração de alguns de seus fãs, que preferiram concentrarse em um detalhe com menos de 10 segundos de tela: um dos elfos representados na trama terá pele negra. O assunto rapidamente foi aos trending topics do Twitter e, novamente, gerou calorosas discussões sobre a possibilidade de algo tão indiferente. Vale ressaltar que elfos, brancos ou negros, são personagens fictícios que sequer existem.

Episódios como dos elfos interpretados por negros em Senhor dos anéis e da Ariel de Halle Bailey não são casos isolados. Qualquer pessoa que tenha contato com a bolha geek nas redes sociais já presenciou ou irá presenciar uma discussão onde a luta antiracista é menosprezada.

Infelizmente para o “nerd raiz” a cultura está mudando, queira ele ou não, e, infelizmente, a  representatividade negra está deixando de ocupar apenas espaços secundários, inclusive, com inúmeros exemplos disso.

Em um quadrinho do Capitão América, “Truth: Red, White and Black”, há uma marcante história de um Capitão América Negro durante um periodo de grande tensão racial nos Estados Unidos. Essa trama é aproveitada na aclamada série em Live Action da Marvel, “Falcão e o Soldado Invernal”, onde todo o grande público pôde conhecer Isaiah Bradley, esse mesmo Capitão América negro das histórias em quadrinhos, e sua jornada para superar a intolerância do Governo e Sociedade Americana.

Nesse "duelo" não nos resta dúvidas de que de um lado está o mau-caratismo e do outro a grandeza e a luta.
por
Henrique Alexandre
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28/06/2022 - 12h

Não que seja novidade para os brasileiros a conduta baixa de Nelson Piquet, mas agora ficou ainda mais visível, principalmente ao mundo do automobilismo, que o ex-piloto e tri-campeão mundial de fórmula 1 se encontra no panteão de seres humanos de caráter desprezível. Eu sei que são palavras fortes, mas se tratando de atitudes racistas como foi a de Piquet, a passividade não tem mais espaço. 

 

O ex-piloto e apoiador devoto de Jair Bolsonaro conseguiu, com sua asneira, algo inimaginável: mobilizar a sociedade elitista e não menos preconceituosa da Fórmula 1 contra o racismo. É fato e notório que a categoria não abre espaço para lutas progressistas. Um exemplo disso foi quando Lewis Hamilton, alvo de racismo de Piquet, se posicionava pelo fim do preconceito racial e membros do esporte tentavam boicotar as ações do heptacampeão. Portanto, o fato de a fórmula 1 e equipes se posicionarem contra Nelson Piquet já evidencia que a atitude do ex-piloto passou totalmente do limite. 

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Mercedes, a equipe de Hamilton, se pronuncia sobre o racismo cometido por Nelson Piquet

Mais do que ofender Lewis Hamilton, o Uber presidencial, como Nelson Piquet é chamado na internet, também atacou negros e negras do mundo todo que tentam se inserir no esporte mais elitista do planeta. Hamilton, que segue sendo o único piloto negro da história da categoria, além de esportista, é um sinal de esperança para a negritude. E para azar de Piquet, o heptacampeão brilha cada vez mais, apesar da sua fala enojada. Hamilton é o que há de melhor na categoria, mesmo com o ódio que sofre por conta da cor da sua pele.

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A fórmula 1, que historicamente não se posiciona, repudiou racismo sofrido por ​​​​Lewis Hamilton
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Ao comentar a manobra que Hamilton fez em cima de seu genro, Max Verstappen, no GP da Grã-Betanha de 2021, dá pra notar o nojo que Piquet sente pelo "neguinho". Mais do que isso, evidencia que sua rixa com o heptacampeão ultrapassa a seara do esporte. Dá para interpretar que o ex-piloto, na verdade, não gosta do fato do piloto mais relevante da história da categoria tenha a pele escura. Dito isso, só dá para ter um sentimento em relação a Nelson Piquet: o de pena. 

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Mesmo sendo inglês, Hamilton parece ser mais brasileiro do Nelson Piquet

Agora resta saber quais serão os próximos passos sobre esse caso incontestável de racismo. Será que a fórmula 1 vai proibir que Nelson Piquet circule pelo padock? Acho difícil, mas é o que deveria ser feito. Hamilton vai processar o ex-piloto? Ao que tudo indica, sim. Mas mais do que isso, é preciso mudar a mentalidade desse esporte elitista. Vai demandar tempo, sabemos, mas urge a necessidade de priorizar para essa mudança, pois dar voz a párias como Nelson Piquet não é mais aceitável.

Still we rise.