Centro acadêmico de Jornalismo da PUC-SP divulgou em nota, nas redes sociais, o fechamento do espaço após denúncias de furto e vandalismo
por
João Curi
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12/09/2024 - 12h

Campus — Entrada restrita. Somente pessoal autorizado. Não era para ser assim, mas as circunstâncias são outras. A diretoria está tensa, pressionada. Não tinha o que fazer. Levaram os cadeados, conforme disseram que fariam. Foi quando as ameaças ganharam os papéis, mais do que as línguas cuspidas nos corredores. Foi demais, até para elas. O espaço precisa ser fechado.

Mas a chave ainda é da Comunicação. Ironias à parte, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, carinhosamente apelidado de “Benê”, publicou um comunicado nas redes sociais relatando o caso. No dia 29 de agosto, a notícia que chegava ao público era que “o espaço físico será trancado durante à noite e aberto pela manhã”. Até aí, nada diferente da rotina de uma casa bem guardada. Só que estes repórteres não se contentaram só com o que se expunha nas vitrines. O nosso curso pedia mais informações, quer saber o que houve. Está na grade apurar a fundo, cadeado por cadeado, e entender o que motivou a decisão. 

A nota entregava o descaso dos ocupantes com o espaço. De fato, as fotos comprovam a sujeira e a falta de decoro com a arrumação. A casa de mãe Livia parecia mais a de Joana, por mais esforços que ela fizesse para manter limpinho e agradável aos estudantes que guardam o direito de ocupá-lo. 

O direito permanece ali, apesar das aparências. “Vale ressaltar que a convivência amigável de alunos dos mais diversos cursos é sempre bem-vinda e incentivada pelo CA”, conclui a nota. A diretoria foi transparente, pelo menos o quanto podia ser. O buraco, claramente, é mais embaixo. 

Em meio às conversas com a Diretoria, a AGEMT ouviu que o espaço sofria de maus tratos há algum tempo, e não só por parte dos estudantes compreendidos na cartilha do curso de Jornalismo – o que, por comparação, não foge da rotina desconfortável dos demais centros acadêmicos. Contudo, o que não se divulgava era justamente o que abriu os primeiros cadeados. 

Eles entrariam de qualquer jeito. Deixaram por escrito. “Trancar CA? Destranquem ou vão perder, além do espaço, a tranca”, alertava a folha avulsa de fichário. “Desta vez estamos sem alicate”.

A decisão permanece. O espaço físico do Benê continuará fechado durante as noites e reaberto pela manhã, sob responsabilidade das dirigentes. Não é um caso isolado. Como se pode imaginar, outros CA’s seguem a mesma conduta em razão de comércios presentes no espaço, seja cantina ou xérox. 

Ameaça escrita à diretoria do Benê, em folha avulsa de fichário.
A diretoria concedeu acesso exclusivo às ameaças escritas encontradas na última semana de agosto, sobre a mesa rabiscada do Benê. (Divulgação/CA Benevides Paixão)

Mas aqui deve ser diferente. O Benê é uma casa no meio do bosque. Guarda toda uma história por trás dos portões emperrados. Aliás, no semestre passado, a FAFICLA - faculdade que rege o curso - conduziu uma visita especial ao recanto dos jornalistas, e a direção do CA se inspirou com a possibilidade de uma reforma. 

“Levei o diretor de campus ao Benê para verificar o que poderia ser feito lá”, confirmou o diretor da FAFICLA, Fábio Cypriano. 

Por enquanto, sem previsão de datas, mas é questão de formalidade. “A gestão ficou de formalizar as necessidades”, explica o diretor. “Creio que isso não foi feito”. 

A urgência, entretanto, amarga a burocracia. Em meio ao sumiço de cadeados, descuido com os forros dos sofás e amostras de bitucas de cigarro, o espaço pede socorro. Os ocupantes, contudo, cospem as chaves, teimosos em entrar. 

O conflito, já agravado com caneta e palavrões em páginas avulsas de fichário, não chegou à FAFICLA, situada no prédio velho, a poucos metros dos portões violados, não fosse a parede reforçada que os separa.

“Não recebemos nenhuma informação a respeito”, declara Cypriano. 

As paredes não têm ouvidos, afinal. E quem perde é a Comunicação. 

 

Com a proposta de rodas de conversa, a caravana da União Nacional dos Estudantes passou pela PUC-SP
por
Natália Perez
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26/04/2024 - 12h

“Comunicação para as universidades do Século XXI” foi o tema da discussão realizada pela União Nacional dos Estudantes (UNE), na última quarta-feira (24/04). Como sede, o campus escolhido da vez foi o principal da PUC-SP, que contou com a colaboração do Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão (Benê).

De passagem em diferentes instituições de ensino superior, a caravana “Clima de Futuro” busca discutir reformas universitárias com alunos de todo o Brasil. "É inadmissível que, hoje, vários estudantes tenham que evadir da universidade porque seu projeto não está dentro dos requisitos para ser identificado como ciência para as universidades”, comenta Tel Guajajara, coordenador do Circuito de Cultura e Arte da entidade. "Universidade é território cultural."

Além dele, dividiram a mesa puquiana a co-fundadora do Mídia Ninja, Driade Aguiar; a presidente do Benê, Melissa Joanini; e o diretor cultural da União Estadual dos Estudantes de São Paulo, Heitor Batista, também aluno da PUC.

 

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Lado a lado, da esquerda para a direita: Melissa Joanini; Heitor Batista; Driade Aguiar e Tel Guajajara. Foto: Natália Perez

 

A comunicação foi ponto fundador da reunião, e o papel do jornalismo teve destaque na discussão sobre como traduzir as informações para os mais variados públicos. “Uma coisa que a gente é muito perguntado é: como estourar a bolha? É simples: precisamos falar com quem não gostamos. É incômodo, afinal, como é que a gente vai se forçar a criar outras narrativas que não dialogam só com o que estamos acostumados?”, questionou Driade.

Alunos também puderam se inscrever para contribuir com a conversa, como foi o caso do militante do Movimento por uma Universidade Popular (MUP), Pedro Bezerra. “Queria que tirássemos daqui pensamentos e ideias para construir uma nova possibilidade de circulação de informação na universidade. É necessário que a gente se paute”, declara.

 

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Pedro Bezerra fez comentário sobre a necessidade de olharmos e lutarmos para as pautas que afetam a PUC e os demais sistemas universitários. Foto: Natália Perez.

 

Seja promovendo a organização estudantil em centros acadêmicos ou movimentos estudantis, discussões e rodas de conversa são necessárias para que os estudantes entendam a relevância e o impacto do que é pauta hoje. Segundo a UNE, a partir de reuniões como essa, surgiram diferentes projetos que ajudaram a transformar a realidade universitária, como “QGs” de auxílio para inscrição em editais, o fortalecimento da defesa da Lei de Cotas (Lei nº 12.711/2012), entre outras reivindicações estudantis.

Em nota exclusiva à AGEMT, o Centro Acadêmico Benevides Paixão expressou a importância de engajar esses eventos no campus da PUC. "Consideramos de extrema importância receber eventos desse tipo em nossa Universidade, ainda mais com o Benê participando. Nós fomos convidados pela UNE para somar e ajudar no debate por sermos um Centro Acadêmico de Comunicação e pelo papel que desempenhamos desde que assumimos o CA. Ficamos supergratos com o convite e esperamos que a Caravana da UNE passe mais vezes pela PUC-SP", declara.

Abaixo confira mais fotos do evento.

 

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Adesivos e panfletos explicam quais são as organizações envolvidas nas reformas estudantis. Foto: Natália Perez
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Representantes de três organizações estudantis junto a uma convidada especial formaram a mesa puquiana. Foto: Natália Perez
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Co-fundadora do Mídia Ninja, Driade Aguiar, levantou questionamentos sobre como fazer jornalismo e trabalhar a comunicação nos dias atuais. Foto: Natália Perez
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Estudantes reunidos no Auditório 100 da PUC-SP ouvindo os participantes da mesa "Clima de Futuro." Foto: Natália Perez
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Depois das falas da mesa principal, aqueles que assistiam tiveram a oportunidade de contribuir para a conversa com suas próprias falas no microfone. Foto: Natália Perez
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O time principal de organizadores e representantes da Caravana posam com a convidada especial Driade Aguiar no meio deles. Foto: Natália Perez
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Cartazes, livros, adesivos e listas dispostos na recepção dos alunos para o auditório, onde aconteceu o evento. Foto: Natália Perez
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Ao final da reunião, estudantes que assistiram a discussão se reuniram para tirar uma foto junto aos participantes da mesa principal. Foto: Natália Perez

 

Coletivo Da Ponte Pra Cá e centros acadêmicos divulgam repúdio a mensagens de ódio disseminadas no perfil "Spotted PUC-SP", no Instagram
por
João Curi
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11/04/2024 - 12h

Quem paga a conta? Essa parece ser a pergunta-chave que abriu portas demais no principal campus da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, em Perdizes. Desde as reivindicações por direitos a uma refeição gratuita no refeitório até o desconforto de apresentar, periodicamente, um grande volume de documentação para comprovar a baixa renda, estudantes bolsistas são alvo de posicionamentos agressivos de alguns estudantes.


Nos últimos anos, centros acadêmicos têm se preocupado mais com a condição social de estudantes contemplados por bolsas, sejam de natureza filantrópica (fomentada pela FUNDASP) ou por programas governamentais. Isso se dá pelo aumento de denúncias e reclamações desse mesmo público quanto ao tratamento recebido por outros estudantes (qualificados como “pagantes”), tanto presencialmente quanto online.


Segundo relatos, houve episódios de discriminação socioeconômica, conhecida como aporofobia, que tem confrontado a permanência de estudantes bolsistas na universidade. Embora não exista um coletivo com esta finalidade, nos últimos anos, o perfil de Instagram “Spotted PUC-SP” (@spottedpucsp) veiculou publicações que trouxeram à tona uma série de movimentos considerados elitistas, como a contestação do direito ao posicionamento de estudantes "não-pagantes" sobre decisões estruturais do campus.


A página, inclusive, já foi investigada, em setembro do ano passado, pelo jornal laboratorial da PUC-SP, o Contraponto, que trouxe à tona os ideais políticos do perfil desde seu surgimento até as recentes manifestações em favor de campanhas eleitorais de centros acadêmicos. Este ano, porém, a principal campanha defendida pela conta originalmente dedicada à paquera é a implementação de catracas no campus Perdizes.


Ainda que a discussão tenha se aquecido nas redes sociais, a pauta foi reclamada para debate entre as entidades competentes à decisão: a mantenedora FUNDASP, a Reitoria, coletivos estudantis e centros acadêmicos da PUC-SP. Mesmo assim, os esforços da página em reacender essa suposta reivindicação deram abertura, na verdade, a uma enxurrada de comentários ofensivos e caluniosos direcionados aos estudantes bolsistas.


Em consequência, entidades acadêmicas, lideradas pelo coletivo Da Ponte Pra Cá - Frente Organizada de Bolsistas, organizaram-se para apresentar materiais de denúncia e repúdio aos atos discriminatórios observados dentro e fora do campus. Na última terça-feira (9), 28 entidades acadêmicas e administrativas ligadas à universidade assinaram uma publicação conjunta de um vídeo-denúncia, acompanhado de um documento completo reunindo imagens comprobatórias e exigências à mantenedora, FUNDASP, por medidas efetivas em prol dos bolsistas.


Diante disso, o Centro Acadêmico Benevides Paixão, o Benê, trouxe a pauta à tona como uma de suas prioridades de gestão. "A situação é grave e requer cuidado e vigilância. Estamos em constante contato com o nosso corpo docente, coordenação e direção para tomarmos todas as ações possíveis", declara a entidade acadêmica, em nota exclusiva à AGEMT.


O dossiê acusa, principalmente, o Spotted PUC-SP por disseminar casos de roubo e demais ocorrências ligadas à criminalidade de forma irresponsável e suposta motivação política por detrás. De acordo com o texto, “o que fica sempre evidenciado é que aqueles que são relatados como suspeitos dessas atividades são sempre pessoas negras, reforçando novamente o estereótipo racista que permeia nossa sociedade, que associa criminalidade e violência a uma raça/cor”, aponta o documento.


Não obstante, a garantia do sigilo também deu vazão a um fluxo de informações desprovidas de checagem dos fatos ou comprovação da verdade em torno dos casos relatados, “muitas vezes de caráter aporofóbico e racista, causando, sem fundamento, um pânico generalizado na comunidade estudantil”, descreve o texto. Nessa direção, a página se tornou um dos principais hospedeiros de manifestações consideradas elitistas, segundo as denúncias coletadas.

 
Quando o alarme soa, dada a notoriedade de algumas discussões acaloradas pela dualidade de posicionamentos nos comentários, é comum que as publicações sejam removidas do perfil. Ainda assim, de acordo com os apontamentos da denúncia endossada pelo coletivo Da Ponte Pra Cá nas redes sociais, o movimento de cunho discriminatório se fez presente também em outros meios, como em grupos do aplicativo de mensagens Whatsapp.

 

''Não podemos ignorar a realidade de negligência e discriminação das demandas e das necessidades das pessoas pobres em uma universidade elitizada", declara o coletivo Da Ponte Pra Cá, em nota exclusiva à AGEMT. "A denúncia produzida e a mobilização dos estudantes bolsistas torna-se urgente e extremamente necessária diante de um cenário de descaso, como o da PUC-SP".

 

Afinal, quem paga a conta? Desde a segunda-feira, 15, até o momento de publicação desta reportagem, o perfil do Spotted PUC-SP está desativado. A AGEMT tentou contato com o administrador da conta, mas não teve retorno.

 

Nota da PUC-SP

A PUC-SP, na sua prática cotidiana, não compactua com discriminação de qualquer tipo. Essa questão figura no Estatuto e no Código de Ética da Universidade, que toda comunidade deve seguir.

A Instituição entende que qualquer pessoa que for testemunha ou alvo de um ato de discriminação deve procurar as autoridades competentes.

Afirmamos que a PUC-SP não tem nenhuma responsabilidade sobre o perfil privado e anônimo do Instagram @spottedpucsp.     

Assessoria de Comunicação Institucional (ACI)

As obras reunidas no Centro Cultural Banco do Brasil, convidam cada visitante a navegar por diferentes aspectos da produção de mais de 60 artistas negros
por
Beatriz Alencar Gregório
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15/03/2024 - 12h

O Centro Cultural do Banco do Brasil abraçou, dessa vez, o Projeto Afro: uma plataforma afro-brasileira de mapeamento e difusão de artistas negros; com a exposição “Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira”.

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OBRA - Paty Wolff : Divulgação: Projeto Afro


Com uma experiência imersiva, educativa e cativante, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) proporcionou uma visão de que “a população afro-brasileira não é só centrada na questão da escravidão (...) a gente sabe fazer arte. A arte não é só a europeia; a gente sabe desenvolver, temos vários fatores culturais”, explicou Otávio Rodrigues, visitante da exposição. A mostra é composta de mais de 60 artistas e obras que vão desde pinturas a formatos áudio visuais. “Foi uma exposição que não falava sobre nossos colonizadores e sim sobre nossos povos, de preto para preto, e mostra que a gente sabe fazer muita coisa. Me senti num lugar que realmente falava sobre a real história afro-brasileira”. Para interagir, como ocorreu com Otávio, visite o CCBB até o dia 18/03/2024. Mas, você pode conferir uma prévia que a AGEMT preparou, acessando o link:

https://www.instagram.com/reel/C4iXXhYrdLK/utm_source=ig_web_copy_link&igsh=MzRlODBiNWFlZA==

 

 

O CA de Jornalismo, Benevides Paixão, sofre três renúncias ao cargo de presidente em apenas um ano. Novas eleições serão convocadas.
por
João Curi
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14/12/2023 - 12h

Depois dos portões escancarados, siga o caminho das pedras. Contorne a Prainha, que não tem areia nem mar, e aproveite para observar as artes nas paredes. Elas te guiarão ao outro lado, de frente à quadra – estamos perto. Continue andando até as escadas, e já o verá. Não se distraia com a natureza ainda, atente-se às pedras irregulares deste trecho final, são traiçoeiras com os desavisados. Cuidado, cuidado, e... agora sim.
 

Portão de entrada do centro acadêmico Benê
Foto: Mohara Ogando Cherubin

 

Este é o Centro Acadêmico de Jornalismo Benevides Paixão. Mas pode chamar de Benê. É mais íntimo. Não repare nos rasgos do sofá, é o charme. Guarde a atenção às paredes. São nelas que estão os nomes, protestos, intervenções artísticas, lembretes, tudo que você não pode encontrar no conforto de um sofá macio. A realidade acadêmica. Interprete como poesia.

Este espaço custa a ser abandonado. Quando largam de mão, chegam outras duas para cuidar. É quase um amor de mãe, não fosse a efemeridade. No período de um ano, o Benê já teve três.

 

A primeira: Rafaela Serra

Esteve na gestão do centro acadêmico desde 2021 até o início de 2023. Como presidente, foi eleita em 2022 e deixou o cargo, por vontade própria, no começo deste ano. “Sinto que o Benê foi muito mais ativo nessa época por conta da oposição ao governo Bolsonaro”, aponta. “Todos os centros acadêmicos, de alguma forma, tinham essa demanda. E também éramos contrários a algumas políticas da FUNDASP à época”.

A ex-presidente relembra grandes colaborações do Benê em eventos de destaque na PUC nos últimos anos, como o Tribunal do Genocídio organizado pelo Coletivo Professor André Naveiro Russo, junto a docentes, funcionários e estudantes dos cursos de Jornalismo e de Direito. O julgamento simbólico foi sediado no teatro TUCA, na manhã do dia 25 de novembro de 2021, e condenou o então presidente Jair Bolsonaro aos crimes contra a humanidade, de genocídio, de epidemia, infração de medida sanitária preventiva e charlatanismo.

No ano passado, a gestão também foi ativa na campanha “Vira Voto”, em favor da campanha presidencial do então candidato Luís Inácio Lula da Silva, que esteve presente no campus durante o “Ato em defesa da democracia e do Brasil”, no dia 24 de outubro de 2022. No dia seguinte, inclusive, o teatro TUCA sediou a cerimônia da 44ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, que compôs o cronograma da também 44ª Semana do Jornalismo, ministrada pelo centro acadêmico com apoio da coordenação do curso e da FAFICLA (Faculdade de Filosofia, Comunicação, Letras e Artes).

O Benê, que tem nome de gente, já não é o mesmo de anos atrás, assim como acontece entre as gentes. A mudança acompanha o tempo, e quem vem de trás mal o reconheceria agora. Quando as máscaras levantaram, custaram a cair. Com o campus vazio, o espaço dos estudantes perdeu o sentido. Mas sobreviveu.

“Não sei se foi por conta da pandemia, mas o movimento estudantil todo sofreu modificações”, observa Rafaela. “A PUC se tornou uma faculdade mais elitista no decorrer dos tempos. Vemos cursos ainda com um movimento estudantil forte, como o Direito, mas isso já não acontece no curso de Jornalismo, talvez por conta da quantidade de alunos”.

Dentre os projetos implementados pela gestão, o Benemateca não teve a adesão esperada em nenhuma de suas três edições. Com o intuito de assistir a filmes selecionados que incentivassem discussões sociais, o público presente – uma média de dez pessoas - acalorava debates mediados pelo professor Mauro Perón, que se dispôs a agregar-se à iniciativa. A falta de quórum, entretanto, desmotivou Rafaela e demais organizadores para uma quarta edição.

Este ano, no primeiro semestre, o Benê divulgou em suas redes sociais uma campanha contra o Spotted - uma conta na plataforma Instagram, mantida por estudantes anônimos da PUC-SP, com o propósito informal de mediar flertes e mensagens de paquera entre os discentes. A ex-presidente aponta que o perfil “estava disseminando mentiras, falando de assaltos ao redor da PUC com imagens falsas, de abordagens policiais, implementando medo e caos”.

 

Depois de tantas contribuições, mobilizações, e mais importante, fazer-se presente no movimento estudantil, Rafaela admite que a atividade se tornou incompatível com suas prioridades e expectativas. No começo deste ano, enquanto se preparava para elaborar o TCC, a presidente eleita decidiu abdicar do cargo para focar em concluir sua graduação. “Saí porque eram poucas pessoas para tocar a quantidade de demanda que tínhamos e não sentia muito apoio dos estudantes do próprio curso”, declara. “Vemos uma mudança no que os alunos querem abordar. Estão cansados de falar de política, e consequentemente isso irá refletir na adesão ou não do movimento estudantil”.

 

A segunda: Maria Clara Alcântara

 

Em agosto deste ano, Maria Clara também abdicou do cargo. Segundo a ex-presidente, as atividades necessárias para gerir o centro acadêmico se tornaram incompatíveis com sua nova rotina de estágio e aulas no período noturno. Apesar de sua vontade de entregar o cargo através de novas eleições, o Centro Acadêmico de Jornalismo não organizou uma nova chapa e, portanto, não convocou os processos eleitorais necessários para a sucessão democrática.

Mas isso não significa que o cargo ficou em aberto.

 

A terceira: Giovanna Freitas

Chegou este ano, como caloura. Conheceu o campus já nos primeiros dias de aula, ao contrário de sua antecessora, e entregou-se ao movimento estudantil assumindo a Tesouraria do Benê.

Com a saída do vice-presidente da gestão reorganizada, Murari Vitorino, ainda no primeiro semestre, Giovanna decidiu que assumiria o cargo para as supostas próximas eleições, previstas para agosto deste ano. “A Macla até mandou um documento falando que a gente tinha que se organizar para fazer essa votação, durante as férias, só que nunca aconteceu”, relata. “Eu achei estranho porque não sabia quando ia acontecer, não tinha ninguém se mobilizando. No final de agosto, ela [Maria Clara] mandou uma mensagem falando que não ia mais ser a presidente do Benê, e que se alguém podia se disponibilizar para ser. Como eu já tinha esse planejamento de assumir o cargo de vice, pensei: ‘Posso me encaixar nesse cargo’. Ela perguntou no grupo, e só eu respondi”.

Sem eleições – com planos frustrados desde maio -, sem presidente ou vice, Giovanna assumiu o cargo de forma automática. Sua liderança foi decidida por uma única mensagem, solitária e decisiva perante o silêncio dos demais integrantes. “Foi muito rápido esse processo”, admite. “Eu falei que queria e, no dia seguinte, eu já era presidente. Não teve processo eleitoral, não teve votação, não teve formação de chapa”.

Diante disso, a incerteza prevaleceu sobre a primeiranista, que convocou uma reunião, no começo de outubro, para tratar com urgência sobre as eleições previstas para o mesmo mês e preencher os cargos em aberto. Contudo, a única decisão acordada foi a remodelagem da gestão, que detinha caráter provisório “porque ainda pretendemos que mais gente entre”.

Relação de cargos do Benê (outubro de 2023)

Presidente: Giovanna Freitas

Vice-presidente: Melissa Joanini

Coordenadora de Eventos: Beatriz Barbosa

Coordenadora de Espaço Físico: Livia Soriano

Coordenadora de Comunicação: Laura Celis/Eduarda Basso

Relações Públicas: Romulo Santana/Artur Maciel

Tesouraria: Artur Maciel

A presidente provisória ainda relembrou um episódio que ocorreu durante o evento de recepção aos novos estudantes do segundo semestre de 2023, no dia 9 de agosto. Ao final da Aula Magna ministrada pelo jornalista e apresentador Serginho Groisman, no Tucarena, uma das integrantes do Benê se manifestou da plateia, em meio à seção dedicada às perguntas, para contestar a ausência do Centro Acadêmico de Jornalismo na organização do evento. Diante do constrangimento, os centros acadêmicos e coletivos à frente da organização – CA Leão XIII, da FEA (Faculdade de Economia, Administração, Contábeis e Atuariais); CA 22 de Agosto, do curso de Direito; coletivos Glamour e Da Ponte Pra Cá - responderam que um convite foi enviado ao Benê, mas não obtiveram resposta. Na época, a então coordenadora de redes sociais, Lais Bonfim, assumiu o erro e reconheceu a responsabilidade da gestão pela ausência contestada de forma pública pela companheira de CA.

“Meu desejo como presidente é que o Benê esteja mais engajado com os assuntos dentro da faculdade, como foi o que aconteceu no evento ‘Lembrar é resistir’, que estivemos presentes”, destaca. “A gente está passando por um processo de reestruturação, mas não vai ter diferença quanto às linhas de pensamento. Eu vi como a Macla tocou o Benê, e eu tento seguir desse jeito”.

Esta reportagem foi apurada desde outubro deste ano. Giovanna assumiu o cargo, de forma provisória, e o deixou antes de completar dois meses, por discordâncias com a nova gestão. Até o momento desta reportagem, o Benê permanece sem uma presidente definitiva.

Mas não sem cuidados.

 

Mãe é quem cuida

Lívia Soriano, diretora do espaço físico do Centro Acadêmico Benevides Paixão, estufa o peito para falar dele. Dá nome inteiro e tudo. Chegou na PUC há menos de um ano, mas tempo é detalhe. Nesse breve primeiro período, já trouxe vida para dentro do centro acadêmico – literalmente. Fez caber um aquário minúsculo numa mesinha, no canto, onde abrigou um peixe de estimação. Nomeou-o mascote do Benê, e a novidade repercutiu entre os estudantes do curso.

“Eu comecei a frequentar muito o bosque e eu notei que o espaço físico não era tão agradável assim”, confessa. “Eu e as meninas, a gente se juntou, limpou o Benê inteiro, limpou lá dentro, começou a organizar, e a gente quer mudar ainda bastante coisa”.

E o cuidado prevalecia para além das ideias soltas e da empolgação de primeiranista. Com a ajuda de mais três colaboradoras, todas do segundo semestre, botou as mãos na massa para cumprir com o projeto de revitalização do espaço, que jazia negligenciado. Chamou ajuda para a faxina do depósito, livrou-se das tralhas, abriu espaço onde não tinha e reorganizou os móveis para encaixar o divã novo. Deixou tudo nos trinques.

Lívia cuida do CA como se fosse sua casa, e não deixa de ser. Enquanto a quarta presidente não chega, pensa no pequeno de terça a terça, até mesmo nos finais de semana. Campus afora, vê as mobílias nas vitrines e planeja onde encaixaria no espaço bem-varrido. Tem a planta inteirinha decorada em sua cabeça. “A gente quer mudar o sofá porque vemos que os outros centros acadêmicos têm uma área de lazer, têm um lugar para as pessoas ficarem, e aqui a gente não tem praticamente nada, e ninguém fazia nada sobre isso”, e foi quando encarou o forro rasgado, que era impossível de ignorar. “O sofá que estamos agora também tem muitas fofocas. Falam que tem pombo aqui dentro, é difícil. É todo furado, e nunca mudaram”.

Os planos se estendem à longa data, com arrecadação de fundos para reformar o centro acadêmico revitalizado. Falta o brilho que os seus olhos enxergam e querem compartilhar com o mundo. Não basta reforçar a tinta branca nas paredes, recolher os descartes indevidos, ajeitar os móveis, deixar espaço para mais artes, isso tudo foi apenas o primeiro passo. “A gente não sabe ainda se vai chamar alguém ou coisa parecida, mas temos planos...”, estima.

O centro acadêmico continua se reorganizando. Em todos os âmbitos.

“O Benê tem passado por uma reestruturação”, declara Melissa Joanini, indicada pela gestão como a possível sucessora ao cargo de presidente. “Neste momento, a diretoria está sendo reformulada, a fim de lançar a chapa o quanto antes. Estamos organizando as ideias e projetos internos e externos, sem mais detalhes no momento”.

Até o fechamento desta reportagem, já encerrado o período letivo de 2023, o Benê não convocou novas eleições e não apresentou uma nova chapa de forma oficial.

“Provavelmente, consigo te dar um parecer mais concreto em janeiro”, continua Melissa.

Cinco anos após aprovação da reforma, movimento sindical lida com queda de 97,5% na arrecadação e se vê afastado das relações trabalhistas, apontam advogadas
por
Matheus Marcolino
João Curi
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26/05/2022 - 12h
Sindicato
Foto: Divulgação/Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo

 

Em sessão realizada no dia 11 de julho de 2017, o Senado Federal aprovou (com 50 votos a favor, 26 contra e uma objeção) o texto da Reforma Trabalhista, proposta por Michel Temer, então presidente em exercício. Na época, Benedito de Lira, senador favorável à mudança, negou que a medida retirasse direitos do trabalhador. A nova lei foi apresentada como “moderna”, sob a promessa de promover a geração de empregos e estreitar as relações de trabalho. Quase cinco anos após sua aprovação, porém, a reforma parece distante de atingir os objetivos prometidos.


De acordo com a advogada trabalhista Mayara Schneider, os impactos da reforma, até o momento, são negativos. “Após a reforma trabalhista, os índices de desemprego foram mantidos e em alguns períodos até piorados. Os milhões de empregos que seriam gerados pela mudança na legislação jamais existiram e sequer chegaram perto de existir. Já são quatro anos e meio da reforma e não vemos qualquer expectativa de mudança positiva para o cenário atual”, afirma. 


As altas taxas de desemprego, agravadas em meio ao contexto pandêmico, “empurraram” muitos trabalhadores para o empreendedorismo. De acordo com dados do Sebrae, o ano de 2020 foi marcado por um recorde nas inscrições de MEI (Micro Empresário Individual).


Atuante em centrais sindicais, a advogada trabalhista Thais de Santis aponta que a reforma facilitou o processo de desligamento e desequilibrou ainda mais as relações entre empregados e empregadores. “O patrão fala e o trabalhador acredita”, explica a advogada.


Thais ainda argumenta que a reforma afastou os sindicatos da relação trabalhista por meio de medidas como o incentivo à negociação direta entre patrão e empregado, dispensa da intervenção sindical obrigatória em demissões coletivas e o fim da contribuição compulsória. Em 2020, foram realizadas 649 greves, representando uma queda de 42% em relação ao ano anterior, segundo informações do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).


O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes, Miguel Torres, alega que a reforma tentou acabar com o movimento sindical “asfixiando” suas finanças. “Tivemos de fazer grande redução de despesas para continuarmos com uma estrutura mínima de lutas em defesa dos direitos e benefícios da categoria. O mesmo ocorreu em outras entidades”, relata.


Em 2017, último ano com registros anteriores à reforma, as contribuições compulsórias beneficiaram as centrais sindicais com mais de R$ 3 bilhões. Contudo, em 2021, houve uma redução superior a 97%, alcançando R$ 65 milhões, de acordo com dados do Ministério do Trabalho.


Neste ano de eleições presidenciais, a reforma trabalhista promete ser uma pauta relevante na disputa. “Já entregamos nossas agendas e a Pauta da Classe Trabalhadora, aprovada na Conclat 2022, ao Congresso Nacional, ao TST e ao ex-presidente Lula, em recente encontro com sindicalistas. O próprio Lula, ao ler a nossa pauta, disse que era “quase” um plano de governo”, declara Torres.


Em evento da CUT (Central Única dos Trabalhadores) realizado em abril deste ano, o ex-presidente Lula afirmou não planejar restituir a contribuição obrigatória, mas que deve tratar a revogação da reforma como uma das bandeiras de sua campanha.


Para Schneider, “a revisão ou até revogação da reforma se faz urgente” e operadores do Direito Trabalhista já se movimentam neste sentido: “Não digo que necessariamente devemos voltar ao texto antigo, mas é importante reavaliar as previsões e as aplicações na prática, e perceber que o prejuízo do trabalhador é um prejuízo para a sociedade como um todo”, conclui a advogada.
 

As equipes devem inscrever-se até o dia 17 de maio no site oficial da ONG PDMIG.
por
Gustavo Pereira
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26/04/2022 - 12h
Imagem de divulgação do início das inscrições para a "Copa dos refugiados e Imigrantes" - Foto: ONG Pacto Pelo Direito de Migrar
Imagem de divulgação do início das inscrições para a "Copa dos Refugiados e Imigrantes" - Foto: ONG Pacto Pelo Direito de Migrar

Após três anos de paralisação por conta da pandemia, a “Copa de Refugiados e Imigrantes” está de volta. Os capitães ou representantes das equipes interessadas em participar do torneio devem responder o formulário disponibilizado no site oficial da ONG Pacto pelo Direito de Migrar até o dia 17 de maio de 2022. A inscrição para o campeonato é gratuita. 

O que é a “Copa dos Refugiados e Imigrantes”? 

Criada em 2014 pela ONG PDMIG, o campeonato já conta com 6 edições e é atualmente apoiada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública, ACNUR, Cruz Vermelha Brasileira, OIM (Organização Internacional para as Migrações) e da SJMR (Serviço Jesuíta a Migrantes e Refugiados Brasil). Apesar do início humilde, há oito anos, em um campo improvisado no bairro do Glicério, a Copa já atinge grandes proporções. Um exemplo disso foi a última edição realizada em 2019, dividida em etapas regionais com mais de 1200 atletas e disputada em 5 estados diferentes: Recife, Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo, além do Distrito Federal. Na etapa de São Paulo a final ocorreu no histórico Estádio do Pacaembu. 

O principal objetivo desse projeto é promover a integração dos imigrantes e refugiados por meio do futebol e das oficinas que acontecem no evento, além de gerar o protagonismo destes na sociedade brasileira. 

Como irá funcionar o campeonato? 

A 7ª edição terá um alcance ainda maior, sendo disputada em dois países: No Brasil, com jogos no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Minas Gerais e Distrito Federal e em Buenos Aires, capital da Argentina. 

A “Copa dos Refugiados e Imigrantes” terá início no mês de setembro com o seguinte formato: A primeira fase será dividida em nível local, como na edição anterior; na segunda etapa, os vencedores de cada estado disputarão o nacional e, por fim, o campeão brasileiro enfrentará o vitorioso da Copa Argentina. 

A premiação é muito mais do que um troféu, como diz o presidente da ONG PDMIG, Jean Katumba, “O principal prêmio do campeão é a união, a confraternização e a celebração da nossa causa de imigração, é isso que vale. Não tem taça como a Copa do Mundo, mas tem taça da solidariedade e da conquista de nossa nova vida em um país que não é nosso”. 

O evento não se baseia apenas nos jogos. Acontecerão simultaneamente feiras culturais, oficinas e a “Corrida Coração Acolhedor”. 

Qual a importância de ter um evento como esse? 

Para Luiz Fernando Godinho, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), a Copa “chama a atenção primeiro para a situação das pessoas refugiadas no Brasil, para a integração deles com a cultura nacional representada por meio do futebol e é também um momento de demonstrar que as pessoas refugiadas são capazes de organizar eventos. Elas têm suas capacidades e sua interação com a comunidade onde elas vivem”.  

Luiz ainda comenta sobre a importância do esporte como um todo para os refugiados e imigrantes: “Por um lado o esporte é uma maneira de retomar uma certa normalidade da vida das pessoas. É uma atividade de lazer que contribui para reduzir o estresse e para aliviar um pouco do sofrimento dessas pessoas, além de um mecanismo de socialização muito forte, tanto para pessoas refugiadas, quanto entre elas e as nacionais. No caso do Brasil, o futebol é uma tremenda ferramenta de integração”, concluiu. 

Expectativa para o retorno 

Após uma paralisação de três anos, os organizadores estimam que o campeonato terá 1520 atletas. Katumba se diz esperançoso com o retorno: “Depois dessa paralisação da pandemia queremos retomar tudo, para tentar sensibilizar e acabar com essa xenofobia que cada vez mais cresce dentro da sociedade”, afirmou. 

O efeito neoliberal do capitalismo tecnológico sobre o trabalho
por
Murari Vitorino
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26/04/2022 - 12h

As sacolas que entram nas casas, carregadas sob duas rodas e uma mochila, alimentando as famílias nas noites de preguiça, as vezes saudáveis, às vezes não tanto, entregues por um trabalhador que irá passar mais o resto da noite na rua para conseguir o suficiente para se alimentar no final do mês. 

Desde a reforma trabalhista do governo Temer em 2017, diminuição dos empregos assalariados com carteira assinada se instaura cada vez mais no cotidiano, e uma forma de “capitalismo criativo” se instaurou na base econômica do país, criando assim uma ruptura ainda mais vasta entre as condições dos empresários do Vale do Silício e os entregadores que compõe toda a força proletária do modelo tecnológico, denominados como empreendedores perante a lei. 

Como apontado pelo advogado Antônio Vicente Martin para Carta Capital, a reforma marginaliza a massa para um ambiente de trabalho dominado pelo mercado de aplicativos cujos não possuem legislações para os proteger, sem um mínimo de garantia oferecida pelas corporações, e devido a desvinculação das mesmas perante o estado, uma disparidade começa a emergir “[...] o trabalhador que está desempregado, ou no subemprego, trabalhando como Uber, quando ficar doente, vai ter atendimento por parte do Estado, apesar de não ter feito nenhum tipo de contribuição para esse atendimento. E a empresa a qual ele está vinculado, também não fez nenhum tipo de contribuição, ou seja, é uma situação dramática a curto e médio prazo”. 

Portanto, com este cenário a vista, uma revolta se torna inevitável e uma mobilização dos entregadores, reivindicando seus direitos desde meados de 2020 com o aumento exponencial do mercado de venda por aplicativos, tendo um aumento significativo de pedidos perante a pandemia e sem um reajuste de pagamento digno para quem fazia tudo isso possível. 

Surge em meio do furacão um movimento sindicalista de união dos motoqueiros, com seu personagem mais reconhecível sendo o Paulo Lima ‘Galo’, líder do movimento Entregadores Antifascistas, vem fazendo fronte reivindicando direitos aos trabalhadores tais quais ele, que passam 16 horas por dia na rua para ter o suficiente para se alimentar e sem direito a uma carteira assinada. 

No dia 2 de abril deste ano foi feito um reajuste de R$5,51 para R$6,00 como o novo piso por rota e com o quilometro rodado aumentando de R$1,00 para R$1,50, porém não chega perto de ser o suficiente. Com o aumento drástico do preço da gasolina, o piso que seria o aceitável, como aponta os próprios entregadores, seria de R$8,00, caso contrário eles quase saem no prejuízo. Em contrapartida, o iFood afirma que este é o terceiro reajuste em 12 meses. 

No dia anterior, dia 1, ocorreu um “apagão dos aplicativos” como realizado nos demais anos, uma forma de greve organizada através das mídias sociais e mobilizando as pessoas a não pedirem comida pelo aplicativo no dia para paralisá-lo. Todavia, esta mobilização foi a mais fraca como apontada pelo Galo em live nas mídias sociais, com pouca adesão e pouco barulho. 

Um fator contribuinte para este ocorrido pode ser o que foi levantado pela reportagem da Agência Pública cuja traz à tona toda a campanha de desmoralização dos movimentos unificantes dos entregadores financiado pelo próprio iFood e realizada pela empresa de marketing SQi. 

A reforma trabalhista, com suas promessas da melhora de relações de trabalho entre empregador e empregado e com seus ideais neoliberais em seu coração, conseguiu realizar o feito de colocar 66 mil pessoas na rua na grande capital econômica São Paulo, as sementes do cenário atual em que o Brasil se encontra foi plantada nesta reforma e os frutos estão sendo colhidos agora, com o processo sendo agilizado com a pandemia. Os entregadores são apenas um dos vários personagens, que apontam de forma mais gritante os problemas desta reforma. 

Se nada for conquistado por eles, dificilmente será conquistado por outra categoria.