Indústria aposta em preço e modelagem para manter a demanda
por
Larissa Pereira José
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26/11/2025 - 12h

 

O jeans continua entre as peças mais consumidas no Brasil e mantém relevância estratégica para a indústria têxtil e para o varejo de moda. Mesmo após mudanças no comportamento do consumidor nos últimos anos, o denim permanece como um dos principais motores de vendas do setor.

Segundo levantamento do IEMI – Inteligência de Mercado, o Brasil produziu cerca de 280 milhões de peças de jeans em 2023. O faturamento do segmento chegou a aproximadamente R$14,7 bilhões no mesmo período. O estudo “Comportamento do Consumidor de Jeanswear no Brasil”, desenvolvido pelo IEMI em parceria com a Vicunha Têxtil, aponta que o jeans responde por cerca de 10% de todo o volume comercializado no mercado de vestuário nacional.

Uma pesquisa divulgada pela Vicunha Têxtil mostra que 80% dos brasileiros consideram o jeans uma peça obrigatória no guarda-roupa. O dado ajuda a explicar a presença constante do produto nas vitrines, campanhas promocionais e estratégias comerciais das grandes redes.

Para Diego Amaral, gerente comercial de uma grande varejista nacional, o desempenho do jeans segue consistente. “O jeans é um dos pilares do faturamento. Ele traz fluxo de clientes para a loja e influencia o desempenho de outras categorias. Quando o jeans performa bem, o restante da coleção tende a acompanhar”, afirma.

Ele explica que o consumo segue forte porque o produto atende diferentes perfis de consumidores. “Vendemos desde modelos clássicos até modelagens mais amplas, como wide leg e cargo. O jovem busca tendência, enquanto o cliente mais velho procura modelos tradicionais. O jeans atravessa gerações”, diz.

De acordo com o IEMI, o comércio eletrônico já representa mais de 5% das vendas de jeans no Brasil, com crescimento contínuo desde 2020. Apesar desse avanço, a loja física segue decisiva na jornada de compra. “O cliente pesquisa online, compara preço, avalia fotos e comentários. Mas o provador ainda define a compra de jeans”, afirma Amaral.

Outro estudo do IEMI, em parceria com o Guia Jeanswear, mostra que preço, caimento e exposição na vitrine são os principais fatores de decisão de compra. A mesma pesquisa aponta que 43% dos consumidores não se lembram da marca do jeans adquirido, o que reforça o peso da experiência no ponto de venda.

“O cliente entra pela promoção, olha a vitrine e decide pelo conforto. Se a peça veste bem, a marca passa a ser secundária”, explica o gerente comercial. Ele afirma que, embora o tíquete médio do jeans seja maior do que o de outras categorias, o consumidor aceita pagar mais quando percebe a durabilidade da peça. “O cliente pensa no custo por uso. Uma calça que dura mais tempo é vista como investimento”, diz.

O consumo de jeans enfrenta pressão ambiental crescente. Estudos da Water Footprint Network indicam que a produção de uma calça jeans pode consumir milhares de litros de água ao longo de toda a cadeia produtiva. Parte desse impacto está concentrada nos processos de lavanderia industrial e acabamento do tecido.

Esse relatório sobre polos de produção de jeans no Brasil aponta desafios no descarte de resíduos têxteis e no uso de produtos químicos, especialmente em regiões com forte concentração de lavanderias industriais, como o agreste pernambucano. O tema passou a ganhar espaço em debates setoriais e em políticas de sustentabilidade nos últimos anos.

Segundo Amaral, essa pauta já chegou ao consumidor final. “O cliente pergunta de onde vem o algodão e se a loja trabalha com práticas sustentáveis. Ainda não é a maioria, mas cresce todo ano”, afirma. Ele diz que a varejista passou a priorizar fornecedores com tecnologias de redução do consumo hídrico e processos menos agressivos ao meio ambiente.

A cadeia têxtil brasileira movimenta cerca de R$ 190 bilhões por ano, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Dentro desse cenário, o jeanswear segue como um dos segmentos mais sólidos do setor, com demanda contínua e forte presença no cotidiano do consumidor brasileiro.

Para o gerente comercial, o principal desafio agora é equilibrar preço, velocidade e responsabilidade. “O consumidor quer novidades, quer preço acessível e quer entender o impacto do produto. O jeans continua forte, mas o jeito de vender mudou”, conclui.

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Consumidores exigem práticas responsáveis e mercado responde com economia circular, inovação de materiais e inclusão social
por
Larissa Pereira
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21/10/2025 - 12h

 

A moda sustentável deixou de ser nicho e passou a ocupar espaço central nas escolhas de consumo. A pesquisa de 2023 do Instituto Akatu em parceria com a consultoria GlobeScan mostrou que 87,5% dos brasileiros preferem comprar roupas de marcas que adotam práticas sustentáveis. A tendência se confirma em levantamento da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que apontou que nove em cada dez consumidores se sentem desconfortáveis ao adquirir produtos que prejudicam o meio ambiente.

Esse movimento já se reflete no mercado. Segundo a consultoria Research and Markets, o setor de moda sustentável no Brasil foi avaliado em 200,7 milhões de dólares em 2022, com crescimento médio de 3,7% ao ano desde 2017. Projeções indicam que a moda circular, baseada em brechós, aluguel de roupas e reaproveitamento de tecidos, deve crescer entre 15% e 20% ao ano até 2030.

O impacto ambiental da moda, no entanto, continua elevado. Dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) revelam que o país gera cerca de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis por ano, sendo que 85% desse volume acaba em aterros. Em escala global, a ONU Meio Ambiente estima que a moda é responsável por 10% das emissões de carbono e ocupa a posição de segundo maior poluidor de água doce. A produção anual chega a 80 bilhões de peças, mas menos de 1% desse total é reciclado.

Diversos projetos mostram caminhos de transformação. A rede Justa Trama reúne agricultores, fiadoras, tecelãs e costureiras em cinco estados na produção de algodão agroecológico cooperado, com renda distribuída de forma justa. Na Amazônia, iniciativas como Selvática, que reaproveita retalhos de estofados, e Yara Couro, que cria materiais a partir de pigmentos vegetais, demonstram o potencial da economia criativa aliada à preservação ambiental.

Entre as grandes redes do varejo brasileiro, C&A, Renner e Riachuelo começaram a adotar iniciativas relacionadas ao uso de algodão sustentável, coleções com fibras recicladas e programas de logística reversa. Essas medidas ainda representam uma fração pequena da produção total, mas indicam que a pressão dos consumidores começa a influenciar também o fast fashion.

Apesar dos avanços, trazer produtos sustentáveis para as lojas de departamento não é tarefa simples. Em entrevista exclusiva para a AGEMT, Luiz Gustavo Freitas da Rosa, dono e criador da marca sustentável Tairú, conta que a iniciativa nasceu em 2023 a partir do contato com um projeto experimental de calçados em Tyvek e de uma pesquisa sobre cânhamo, fibra natural com propriedades ambientais superiores ao algodão. “Desenvolvi protótipos, apresentei amostras na Europa e, ao retornar ao Brasil, lançamos uma primeira coleção com seis modelos de tênis e mais de 40 variações, além de camisetas em algodão orgânico e tingimento natural”, relata.

Luiz Gustavo aponta barreiras importantes: o cânhamo não pode ser cultivado legalmente no Brasil para uso têxtil, o que obriga a importação; fábricas nacionais nem sempre estão preparadas para materiais alternativos como couro vegetal à base de milho; e o algodão orgânico tem custo superior ao convencional, encurtando margens e alongando a cadeia produtiva. “Produzir de forma sustentável ainda é mais caro. Trabalhamos com pequenas tiragens, fornecedores especializados e processos que incluem inclusão social, o que eleva o preço final”, explica.

Sobre a competição com as grandes magazines, ele afirma que a estratégia da Tairú não é disputar preço, mas oferecer uma alternativa de valor: “O consumidor da nossa marca compra conforto, design e propósito; não apenas um produto barato.” Para furar a bolha dos consumidores já engajados, a Tairú se posiciona como marca de lifestyle urbano e investe em ativações culturais, collabs e na Casa Tairú, espaços que atraem público pela música e pela cultura e só depois revelam os atributos sustentáveis dos produtos.

Na comunicação, Luiz Gustavo destaca a transparência como prática contra o greenwashing: a marca revela a origem dos materiais, mostra quem produz as peças e admite limitações. Ele cita exemplos concretos, como fábricas compostas por mulheres, ecobags produzidas por ex-detentos e etiquetas fornecidas por cooperativas que empregam pessoas com deficiência. “Não romantizamos nem prometemos perfeição; mostramos passos concretos e os desafios que ainda temos”, afirma.

Segundo ele, o maior obstáculo é transformar a consciência em hábito de compra. Para que a sustentabilidade deixe de ser exceção e se torne regra, Luiz Gustavo defende investimento em comunicação clara e aumento da escala produtiva para reduzir preços, além de mudanças estruturais na cadeia têxtil.

O debate avança em escala internacional. O relatório Fashion Transparency Index 2024, da Fashion Revolution, mostrou que a maior parte das grandes marcas ainda não divulga informações completas sobre suas cadeias de fornecimento. Já o State of Fashion 2024, da McKinsey em parceria com o Business of Fashion, destaca que a pressão regulatória tende a tornar mais rígidos os critérios de produção e comercialização, principalmente na Europa e nos Estados Unidos.

A combinação de dados, iniciativas e mudanças de comportamento mostra que a moda sustentável não é apenas uma promessa. Ela se consolida como exigência de mercado e como caminho inevitável para reduzir o impacto de uma das indústrias mais poluentes do mundo.

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Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
por
Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

A semana de moda americana deu start na temporada internacional que marca o mês de Setembro
por
Felipe Volpi Botter
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15/09/2025 - 12h

De 11 a 16 de setembro, a cidade de Nova Iorque abre espaço em sua frenética rotina para as passarelas apresentarem as novidade da Primavera/Verão 2026 e abrilhantar os olhos dos fãs de moda.

No dia de ontem, 14, Manhattan foi banhada por looks com mistura de texturas entre tecidos fluidos, bordados, transparências. Além de um protagonismo para uma alfaiataria reformulada, com cortes ousados e proporções exageradas.

Cores neutras mescladas com pontos de cores vibrantes de (vermelho, laranja e estampas arriscadas), marcaram o quarto dia de evento, que integra o calendário das chamadas "Big Four" ao lado de Paris, Milão e Londres.

O street style acompanhou essa atmosfera de contrastes: looks mais sóbrios recebendo toques fortes com a adesão de acessórios chamativos, sobreposições e cortes assimétricos.

A beleza esteve com foco em peles naturais, "menos pesado”, valorizando textura natural da pele, evidenciando seu brilho sutil.

Alguns desfiles se ressaltaram na mídia pela forte identidade visual, seja pelas temáticas ou pela presença de celebridades, como Oprah Winfrey, Lizzo, Natasha Lyonne e outros.

Kai Schreiber, filha trans de Naomi Watts e Liev Schreiber, abriu o desfile de Jason Wu. O show homenageou o artista Robert Rauschenberg, mesclando arte e moda fortemente influenciadas pelo seu legado.
 

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A modelo Kai Schreiber abrindo o desfile de Jason Wu (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

O designer Christian Siriano apresentou uma coleção primavera/verão 2026 com inspiração no velho glamour de Hollywood; houve vestidos longos, looks dramáticos, mistura de masculinidade e feminilidade com peças ousadas, além de chapéus impactantes.
 

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Desfile Christian Siriano (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Sergio Hudson mostrou uma coleção vibrante, com ternos trabalhados, uso de estampas e bordados com inspiração africana, foco em alfaiataria refinada.

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Desfile Sergio Hudson, com inspiração no glamour da moda africana (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Momentos de street style e aparições de celebridades: muita gente do mundo artístico presente nos desfiles e eventos de moda, com looks chamativos, acessórios fortes, e aquele mix de elegância + ousadia.

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Celebridades presentes no evento, como Katie Holmes e Whoopi Goldberg (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)



Vivian Wilson (filha de Elon Musk) fez sua estreia em passarela, desfilando para Alexis Bittar. O desfile abordou uma temática social/política, misturando teatralidade e crítica em sua estética.

 

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Vivian Wilson no desfile da Alexis Bittar (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

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Setor têxtil cresce com foco em bem-estar, tecnologia e sustentabilidade
por
Larissa Pereira José
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05/09/2025 - 12h

 

Gradualmente, a busca pelo bem-estar deixou de ser apenas mais uma tendência momentânea e se consolidou como um dos principais motores da moda. No Brasil, de acordo com o Sebrae Paraná, o setor fitness movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano e cresce em média 8,2% ao ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ocupa a segunda posição no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, e atrai investimentos que unem estilo, performance e consciência ambiental.

O fenômeno é reforçado pelo enclothed cognition, conceito que descreve como as roupas influenciam o comportamento. Vestir roupas esportivas aumenta a disposição para a prática de exercícios, unindo moda e psicologia. No Brasil, casos de sucesso confirmam o potencial. A marca catarinense Live! cresce cerca de 45% ao ano e já exporta para Ásia e Oriente Médio, consolidando a vocação nacional para o segmento.

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, a estilista Dafne Setton, especialista em moda fitness, defende que esse cenário reflete uma transformação no comportamento do consumidor. “Hoje as pessoas querem se sentir bem durante todo o dia. A roupa precisa ter conforto, permitir mobilidade e, ao mesmo tempo, transmitir estilo. É por isso que o athleisure se tornou um símbolo de estilo de vida. Ele expressa disciplina e descontração”, afirma.

As novas preferências apontam para silhuetas mais amplas, como calças cargo e trackpants oversized, em substituição às leggings ajustadas ao corpo. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por sustentabilidade, reforçando o protagonismo de tecidos tecnológicos que unem compressão, respirabilidade e fibras recicladas. “Tecido ecológico não é mais um diferencial e sim um requisito. O consumidor jovem exige isso”, explica Dafne. O mercado de luxo também se aproxima desse movimento, criando um fenômeno conhecido como cardio couture — tradução livre “alta costura do cardio”, expressão usada para definir treinos ou práticas esportivas que incorporam estética e sofisticação típicas da moda de luxo, transformando o exercício físico em experiência de estilo. Grifes como Louis Vuitton e Prada lançaram acessórios esportivos sofisticados, transformando o athleisure em um item de estilo de vida.

O clima tropical brasileiro também favorece o uso cotidiano de roupas leves, que transitam facilmente entre o ambiente de treino e o lazer. Além disso, a forte cultura de praia e a valorização da estética corporal ajudam a consolidar um estilo de vida em que o bem-estar é parte do cotidiano. Esse contexto cria um mercado interno robusto e uma vitrine atraente para a exportação de marcas nacionais.

Outro ponto de destaque é a crescente adesão das academias e estúdios de bem-estar a estratégias de branding ligadas à moda. Muitas oferecem coleções próprias de roupas e acessórios, transformando a experiência do aluno em um pacote completo, que vai do exercício ao consumo de estilo. Essa convergência entre saúde, moda e consumo reforça o wellness como um setor multifacetado, em constante expansão e com impacto cultural direto no modo de vestir dos brasileiros.

As redes sociais também impulsionam o processo. Plataformas como TikTok e Instagram transformaram a estética wellness em repertório visual que mistura treino, alimentação saudável e moda esportiva. “As pessoas não compram só a roupa, compram a ideia de vida equilibrada — e isso é altamente compartilhado online”, observa a estilista. Para ela, o futuro da moda fitness estará ligado à tecnologia, personalização e monitoramento em tempo real. Tecidos inteligentes capazes de acompanhar sinais vitais já estão em desenvolvimento e devem ganhar espaço. “Wellness é uma nova forma de viver. Quem entender isso estará à frente do mercado”, conclui.

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A luta pela representatividade de corpos reais nas passarelas e na sociedade.
por
Ana Kézia Andrade
Bruna Parrillo
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13/04/2023 - 12h
Arte por: Bruna Parrillo
Arte por: Bruna Parrillo

A obsessão da moda por corpos magros é um fenômeno que tem sido observado há décadas nessa indústria e no mundo do entretenimento. Desde as décadas de 1960 e 1970, o padrão de beleza idealizado passou a ser cada vez mais magro, especialmente para as mulheres. Movimentos sociais como body positive, vem para mostrar que todos os corpos devem ser aceitos, livrando as mulheres da pressão estética imposta pela sociedade. 

Nos últimos anos de Fashion Week, foi observado um progresso significativo em termos de diversidade de corpos. A luta pela inclusão caminhou em passos lentos, mas aos poucos, modelos plus size e mid size ganharam espaço nas passarelas, promovendo maior representatividade e identificação com seus consumidores. A modelo mid size Maria Clara Lima destaca a importância de a moda enxergar corpos reais: “Acho que pessoas gordas têm que passar a ser vistas como parte da sociedade, não é exceção o que você está fazendo com a sua marca de ter um tamanho maior, é o normal, é o que deveria ser normal”.

       A inclusão de modelos plus size em desfiles é de extrema importância para consolidar a representatividade e construção da imagem corporal positiva, pois mostra que a beleza não se limita a um  único tipo de corpo. Maria Clara desabafa sobre o mercado: “Se as marcas passassem a encarar o público plus size como um público ativo que de fato gasta e  investe em roupa, e tivesse investimento em modelos e blogueiras, talvez a oferta passasse a ser geral, pois você se enxergar nesse local de representatividade é essencial para que você se enxergue como uma parte importante da indústria e da sociedade.”

Arte por: Bruna Parrillo
Arte por: Bruna Parrillo

Na temporada de 2023, surgiu o questionamento: Onde foram parar os corpos reais e toda representatividade? De New York Fashion Week a Paris, o que vimos foi a predominância do cenário da extrema magreza, interrompendo tudo que já foi conquistado. É notável a volta da estética dos anos 2000, as características dessa tendência estão por todos os lugares, como na maquiagem, nas roupas, nos penteados e também no formato do corpo. Naquela época, a magreza foi incorporada como acessório e era desejada por muitas mulheres.  

 O artista visual, estilista e figurinista, Alexandre dos Anjos, expõe os motivos da falta de mudança e diversidade nas passarelas: “Foi criada uma cultura em cima da idealização de um corpo específico, este corpo foi mudando ao longo de séculos, mas na maioria das vezes, estava focado em pessoas magras e brancas. Todo este pensamento é colonialista e patriarcal, como se não houvesse diversidade no mundo.  Quem detém os meios de poder prefere manter do jeito que está, a fim de que todes se encaixem neste padrão”.

Voltamos ao pensamento que a moda tem um corpo específico, o qual nunca deixou de ser tendência. A obsessão pela magreza teve um impacto significativo na imagem corporal das pessoas, desencadeando muitas vezes distúrbios alimentares e uma visão distorcida do corpo. No tiktok, todos os dias são publicados vídeos sobre o Ozempic - um medicamento desenvolvido para diabetes tipo 2 - e que ganhou popularidade pelo uso indevido para o  emagrecimento, ultrapassando 600 milhões de visualizações. 

Mesmo em lojas de departamento, onde as roupas em teoria são mais acessíveis, os tamanhos não vestem a todos: “Sobre a positividade dos corpos, compreende-se a igualdade. Mas se corpos gordos não se veem representados, como manter essa positividade?” reflete Alexandre dos Anjos. Esse cenário é alarmante, pois a moda deve representar a diversidade da sociedade em que vivemos, a falta de espaço para corpos que fujam do “padrão” acaba em uma busca perigosa por um  ideal de beleza irrealista.

A consumidora Laís Stephano relata suas impressões sobre a experiência de ir às compras: "Muitas marcas acabam oferecendo roupas para um público muito específico, geralmente um público magro. Então, muitas vezes você olha a numeração da etiqueta e fala “isso deveria me servir”, mas na verdade não serve. Eu sinto que algumas marcas fazem roupas exclusivamente para pessoas magras.”

Essa sensação de que as roupas estão cada vez menores é algo recorrente, isso porque a indústria da moda não se desvinculou da cultura da magreza. As marcas, para tentarem servir uma “diversidade” - sem precisar fazer isso de fato - passam a diminuir os tamanhos de seus manequins,  dando a impressão de que cumprem com a promessa, mas na realidade, a pessoa que usa uma roupa 42 passará a usar  44 ou 46.

A experiência do provador, pode causar gatilhos para transtornos alimentares e problemas com a autoestima. “Primeiro você fica frustrado por aquilo não te servir e provavelmente é algo que você queria,  depois um sentimento de culpa. Será que eu deveria ser mais magra? Será que eu deveria fazer algo diferente? Será que eu deveria mudar minha alimentação? Acho que isso acaba afetando nossa relação com autoestima, querendo ou não, a gente relaciona muito o corpo e como a gente enxerga ele através do número das roupas que a gente veste” comenta Laís.

  A falta de responsabilidade daquele que produz pode adoecer milhares de consumidores, sobre isso, o estilista Alexandre dos Anjos afirma: “A moda tem como base deixar quase tudo efêmero, inclusive corpos humanos, tornando tudo descartável. Automaticamente o interesse em inclusão é pequeno, tendo em vista as últimas semanas de moda mundial que quase não trouxe modelos plus em suas passarelas.”

Arte por: Bruna Parrillo
Arte por: Bruna Parrillo

A  moda é um fator na sociedade que, além da necessidade básica de cobrir e proteger o corpo, também é um mecanismo para reafirmar sua identidade, personalidade e vivência. Alexandre vê a inclusão de corpos mid e plus size na moda como uma mudança dentro dos meios que a produzem e propagam: “A resposta está em quem produz moda, são estes os agentes que mantêm a moda do jeito que é vista hoje. Se houvesse uma conscientização das pessoas que desenvolvem produtos em torno de uma mudança, em busca de melhorias para a população que consome, talvez ela pudesse ser mais inclusiva”. Isso reforça a necessidade de políticas sociais inclusivas, que exaltem no outro características que constroem sua individualidade e a beleza presente nos corpos diversos.

 

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Depois do sucesso em 2016, o musical homenageia peças da obra original com criatividade e inovação na segunda temporada de apresentações em São Paulo
por
Mariana Souza
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30/03/2023 - 12h

Depois de 7 anos desde sua primeira estréia no Brasil, o musical original da Broadway "Wicked" retorna aos palcos brasileiros com uma proposta de produção não-réplica, ou seja, uma produção completamente diferente da original. Surgiram novas formas de atuação, mudanças no cenário, adaptações na coreografia e a alteração que mais encantou o público: a produção dos figurinos.

Wicked é um musical baseado no romance de 1995 de Gregory Maguire, que nada mais é do que uma reimaginação do filme de 1939 O Mágico de Oz, contando a história não contada das bruxas de Oz, Glinda (a bruxa boa do norte) e Elphaba (a bruxa má do oeste), anos antes da chegada de Dorothy. 

A proposta na mudança dos figurinos é homenagear a época e a obra que deu origem a história, como é visto no novo vestido da personagem Glinda, que remete ao figurino da personagem original de 1939.

Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação
Imagem: Divulgação

 

A produção dos figurinos se destaca por contar com mais de 900 tecidos importados de Londres, contendo cerca de 200 padronagens e um vestido de escamas feito a laser, construído manualmente com 15 tipos de materiais diferentes. Todo esse processo é assinado por Morgan Large, designer premiado de figurino e cenografia. Morgan já trabalhou em inúmeras peças e musicais do West End em Londres, com produções pelo mundo todo. Além dele, a produção conta com 37 costureiras e alfaiates responsáveis pela confecção dos figurinos, tornando toda essa magia possível.

Os fãs do espetáculo se surpreenderam positivamente com todas essas inovações, o que era um medo da produção. Wicked possui uma legião de fãs no Brasil e, segundo o produtor Vinícius Munhoz, uma das maiores dificuldades da produção era contentar esses fãs, o que fez com que durante o processo criativo eles sempre pensassem no que os fãs iriam achar, e essa estratégia não poderia ter dado mais certo. O musical está em cartaz hoje no Teatro Santander em São Paulo tendo sua semana de estreia esgotada e sessões lotadas toda semana. Wicked é um fenômeno mundial e essa nova montagem brasileira promete fazer com que você saia uma pessoa diferente da que entrou.

Ficou curioso para conhecer essa história e ver esses novos figurinos de perto? O musical está em cartaz de quinta a domingo, não deixe de garantir seus ingressos:

www.wickedbrasil.com

Imagem: João Caldas
Imagem: João Caldas

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Nova onda resgata ícones da moda e entra na contramão de conquistas sociais inclusivas
por
Giovanna Montanhan
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29/03/2023 - 12h

    A sigla Y2K significa: year 2000 ou, em português, anos 2000. Essa tendência tem sido amplamente disseminada por influenciadores e fashionistas no TikTok que compartilham looks inspirados na época e resgatam elementos da moda dos anos 1990 e 2000. Por meio da plataforma, uma nova geração está se apropriando e reinterpretando essa estética, trazendo referências do antigo estilo e mesclando com tendências contemporâneas.

 

 3 tendências que remetem ao estilo Y2K:

 

  1. Calça cargo: Desde 2022 elas vêm ganhando destaque e são usadas em diversos estilos, desde o casual até o mais elegante. Com bolsos laterais e corte largo, tornou-se um item indispensável de se ter no guarda-roupa.
    Rihanna - Reprodução/Backgrid
    Rihanna - Reprodução/Backgrid

     

 

  1. Look All jeans: Essa tendência consiste em vestir peças feitas de jeans em sua totalidade, tanto partes de cima como partes de baixo. O jeans é conhecido por ser versátil e atemporal, além de possuir várias tonalidades, lavagens e texturas para composição do look.

 

 Richlove Rockson - Reprodução/Instagram
 Richlove Rockson - Reprodução/Instagram

 

  1. Bolsas baguette: Esse acessório ganha destaque por ser versátil. Sendo pequena e alongada, a bolsa é usada rente ao braço, abaixo do ombro. O nome surgiu de uma semelhança com um tipo de pão de formato retangular, carregado pelos franceses debaixo do braço. O modelo se popularizou após a personagem Carrie Bradshaw - interpretada pela atriz Sarah Jessica Parker - usar vários modelos da marca italiana Fendi no seriado "Sex & the City".

 

Sarah Jessica Parker - Reprodução/GETTY IMAGES
Sarah Jessica Parker - Reprodução/GETTY IMAGES

 

Como tudo que evolui ao longo dos anos, em 2023 se tem maior aceitação do que conhecemos como corpos reais. Atualmente, o padrão de magreza e vem perdendo espaço nas capas de revista e passarelas, há um cenário mais diversificado em comparação com os anos 1990/2000, mesmo que com visibilidade menor do que gostaríamos.

Com a volta da tendência Y2K, os corpos quase que cadavéricos das celebridades voltaram a ser vistos com admiração e como objeto de desejo. O corpo magro e de barriga “chapada” se torna um objeto de ostentação, isso retoma a ideia de culto à magreza – bastante popular há 23 anos atrás - além de acentuar a margem para o desenvolvimento de diversos transtornos alimentares nos jovens de hoje.

Somado a isso, muitas pessoas recorrem também a aplicativos de edição, como o Photoshop, na tentativa de se aproximar do “padrão de beleza ideal”, esse padrão de magreza é praticamente inalcançável para determinados biotipos, especialmente para as mulheres, o que aumenta o pressão em relação às expectativas que a sociedade coloca sobre elas, além dos constantes julgamentos e discriminações por não se adequarem ao padrão imposto.

Algumas celebridades como a socialite Paris Hilton, a cantora norte-americana Britney Spears, a atriz norte-americana Lindsay Lohan e a antiga banda Destiny’s Child - composta por Beyoncé, Kelly Rowland e Michelle Williams – exemplificavam como os corpos deveriam ser, de acordo com o padrão.

 

Paris Hilton - Reprodução/Getty Images
Paris Hilton - Reprodução/GETTY IMAGES

 

Britney Spears - Reprodução/Glamour
Britney Spears - Reprodução/Glamour

 

 

Lindsay Lohan - Frederick M. Brown/Getty Images
Lindsay Lohan - Frederick M. Brown/GETTY IMAGES

 

 

Destiny's Child - Reprodução/Pinterest
Destiny's Child - Reprodução/Pinterest

O retorno dessa tendência é preocupante. Nos dias de hoje, compreendemos através de estudos e pesquisas, os malefícios que a ambição por ter um corpo magro não saudável pode trazer à saúde, tanto física quanto mental, de homens e mulheres.

De acordo com o site Sincofarma (Sind. do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo), a injeção Ozempic – liberada pela Anvisa em janeiro desse ano para tratar pacientes diabéticos tipo 2 - esgotou das prateleiras das farmácias. O medicamento, somado à prática de exercícios físicos e alimentação saudável facilita a perda de peso, entretanto, a maior parte das pessoas que o adquiriram não necessitavam fazer o uso do fármaco, o utilizando apenas para fins estéticos.

A busca pela droga acontece em função de que ela também age como uma espécie de “pílula emagrecedora”, mas que não deve ser utilizada com esse intuito. O preço também não é tão convidativo quanto sua finalidade, já que cada caneta da medicação custa, em média, R$800,00.

É fundamental preservar a luta por uma indústria mais consciente e inclusiva, além de valorizar a diversidade conquistada contra padrões ultrapassados. A moda deve ser um espaço de expressão para todos, e não só uma indústria voltada para o consumo.

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Criador de algumas das coleções mais icônicas da grife, Jeremy Scott deixa a marca após mais de uma década de trabalho
por
Giovanna Montanhan
|
21/03/2023 - 12h

Na última segunda-feira, 20 de março, o mundo da moda foi surpreendido com a saída do estilista norte-americano Jeremy Scott, após uma década de trabalho como diretor criativo na Moschino, marca de grife que surgiu na Itália em 1983. Sua saída causou comoção entre os apaixonados pela área e fãs do seu trabalho.

Desde que chegou à Moschino, em 2013, Jeremy se destacou por suas coleções extravagantes e ousadas, com peças coloridas, divertidas e irreverentes, que desafiavam os limites da moda, conquistando a cada desfile, mais espaço nas passarelas e nas ruas.

 

Referência em vários segmentos

Reprodução/Divulgação
Reprodução/Divulgação

Em 2003 foi estabelecida uma colaboração entre Jeremy Scott e a marca esportiva Adidas. Em 2008 surgiram os primeiros frutos desse trabalho com a coleção “ADIDAS ORIGINALS”, o destaque vai para o tênis com asas que impressionou o mercado na época.

Confira os momentos mais icônicos de sua carreira na Moschino:

1. Coleção da rede de fast food MC Donald's

Outono/Inverno 2014 - Reprodução/Now Fashion
Outono/Inverno 2014 - Reprodução/Now Fashion

2. Coleção em homenagem a personagem Barbie

Primavera/Verão 2015 – Reprodução/Now Fashion
Primavera/Verão 2015 – Reprodução/Now Fashion

3. Coleção com referência ao universo dos jogos e desenhos animados

Outono/Inverno 2015 - Reprodução/Getty Images
Outono/Inverno 2015 - Reprodução/Getty Images
Outono/Inverno 2016 - Reprodução/Getty Images
Outono/Inverno 2016 - Reprodução/Getty Images

4. Frascos de perfume com imitação de produtos de limpeza

Frasco
Reprodução/Divulgação

Sem dúvidas, Jeremy Scott deixou sua marca não só na grife italiana, mas em toda história da moda. Seu legado na Moschino será lembrado e reverenciado por muitos anos, Jeremy está mantendo suspense sobre os próximos passos de sua carreira, mas certamente continuará a surpreender em outros projetos que virão pela frente.

 

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Com um tema ousado e uma abordagem única nas passarelas, a marca foi um dos principais destaques da segunda noite da SPFW #54
por
Enrico Souto
Fernanda Querne
Gabriela Figueiredo
Luana Galeno
|
20/11/2022 - 12h
Enrico Cardoso junto de outro modelo no backstage do desfile de João Pimenta da São Paulo Fashion Week 54
Enrico Cardoso no backstage do desfile de João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

Tons terrosos e um tema visceral. "Das tripas ao coração", coleção de João Pimenta, conseguiu roubar todo o fôlego do público da São Paulo Fashion Week (SPFW). O stylist absorveu o tema de sustentabilidade e diversidade da edição IN.PACTOS, na temporada 54 do evento, e o levou até o limite.

Assim que o bege e o rosa tomaram os palcos e a trilha sonora arcaica preencheu a sala, todos os espectadores do desfile foram trazidos de volta às suas bases, às suas origens e ao seu íntimo. Sem uma cor vibrante sequer, as peças de João Pimenta entregaram ombros largos e fendados, cortes nos fundos das peças – o que também trouxe um ar cômico para a apresentação –, flores bordadas e, sobretudo, a sensação de que os modelos estavam com os corpos enraizados sobre a terra e com seus peitos e corações expostos.

Modelos em fila se preparando para entrar na passarela do desfile de João Pimenta, na São Paulo Fashion Week 54
Modelos se preparando para entrar na passarela durante o desfile de João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

João Pimenta explorou a vulnerabilidade, na coleção e na interação com a plateia. É possível que, para alguns, o desfile tenha sido inclusive incômodo. Não havia normalidade na apresentação, nem o habitual ambiente de “show business”. Ao se utilizar de cores e tecidos comuns, somente para os desvirtuar através de uma costura inusitada e designs absurdamente criativos, a marca transformou a atmosfera da sala por completo.

Um ponto de atenção está no caráter sutilmente medieval da coleção, tanto nas roupas quanto na trilha sonora e ambientação. Desse modo, foi impossível sair da apresentação de João Pimenta sem se perguntar: para qual tempo ele estava querendo voltar?

Ícaro Silva e outro modelo no backstage do desfile de João Pimenta na São Paulo Fashion Week 54
Ícaro Silva no backstage do desfile de João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

Com um som forte e memorável, as telas do salão escorriam um vermelho intenso como sangue assim que o desfile se iniciou. Quanto mais graves eram as melodias, mais as artes visuais refletiam a intensidade do processo de renascimento que Pimenta propunha, após passarmos por períodos tão sombrios e tenebrosos. Desse modo, é visível como o estilista reaproveitou algumas das referências góticas do seu desfile do ano passado, na SPFW #53.

Entretanto, o ápice da introdução foi a grande cruz invertida que fora projetada no telão. Lotada até a última cadeira, a multidão foi à loucura e logo depois voltou a contemplar os looks inspirados na anatomia humana. A diversidade racial e etária esteve presente na passarela, transmitindo uma mensagem de igualdade perante nossos próximos ciclos.

Dois modelos no backstage do desfile de João Pimenta na São Paulo Fashion Week 54
Backstage do desfile de João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

Por dentro do backstage

Todos estavam ansiosos. Enquanto João passava por cada modelo, verificando os últimos detalhes das roupas, a organização do evento tentava arrumar a fila do desfile. As peças com cortes inovadores eram tomadas com estampas de flores elegantes e pinturas de órgãos feitas em cores que passeavam por tonalidade nudes. Foram esses aspectos que traduziram o objetivo cardeal da coleção: refletir sobre quem somos em nosso interior.

As cores da coleção permeavam também a maquiagem. Os tons quentes e rosados estavam presentes em todos os distintos tons de pele, seja por meio do blush, batom ou até mesmo da barba. Por meio disso, o desfile também explorou ao máximo o potencial da maquiagem masculina, de forma a enaltecer a beleza de cada um dos modelos.

Igor Rickli no backstage do desfile de João Pimenta na São Paulo Fashion Week 54
Igor Rickli no backstage do desfile de João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

Modelos de todas as idades e corpos demonstravam felicidade em estarem trajados de João Pimenta. Um deles, ao sair das passarelas, revelou a AGEMT, atônito: "É a primeira vez que eu tô desfilando para o João Pimenta. [...] Foi muito bom porque eu nunca tive um contato com alta costura e eu acredito que essa nova coleção está muito elegante. Tudo combinou, a trilha sonora, a alta costura, eu adorei bastante". O talento do criador é indiscutível, o que era diretamente refletido no sorriso no rosto de cada um dos modelos, que ficou cada vez maior enquanto repetiam o trajeto: do backstage, à fila, à passarela.

Pimenta não poderia estar diferente. Emocionado, mas extremamente feliz, parecia ainda incrédulo na saída da passarela. Em instantes, as expressões de tensão e preocupação de momentos antes foram substituídas por total realização. Ao retornar ao backstage, o designer estava abraçando todos à sua frente, inclusive a repórter da AGEMT, que pôde assegurar a intensidade artística e sensorial do desfile, creditada à potência única que é João Pimenta. 

João Pimenta no backstage de seu desfile, na São Paulo Fashion Week 54
João Pimenta (Foto: Luana Galeno)

 

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