A moda é um setor em constante evolução, tanto em termos de conceitos quanto de técnicas de produção. Com a chegada da pandemia de COVID-19, as pessoas tiveram que adaptar suas vidas e formas de trabalho, inclusive no comércio de roupas. As lojas de vestuário migraram para o ambiente online, explorando o e-commerce como forma de driblar os prejuízos causados pela crise global. No Brasil, as vendas online atingiram números recordes em 2021, totalizando mais de 161 bilhões de reais, um crescimento de 26,9% em relação ao ano anterior, de acordo com dados da Neotrust, empresa que monitora o e-commerce no país.
Este foi o caso de Isadora Abelha, proprietária da loja virtual Shop Abelha. Em entrevista à AGEMT, Isadora conta como tudo começou: "Após fazer uma pós-graduação em empreendedorismo e gestão de negócios em 2021, senti um interesse crescente em ter minha própria empresa. Inicialmente, revendia peças de fornecedores, mas com o crescimento da loja, senti a necessidade de criar peças exclusivas, desenhadas e pensadas por mim. Em 2022, lancei uma mini coleção de confecção própria e, em 2023, foquei totalmente nesse segmento, encontrando parceiros na minha cidade e buscando profissionais, importadores de tecidos e modelagens que se alinhassem comigo e com meu público. Deu muito certo."

Assim como Isadora, muitas pessoas encontraram oportunidades de negócio e reinventaram suas carreiras durante a pandemia. De acordo com o Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mais de 3,9 milhões de empresas se formalizaram como microempreendedores individuais (MEIs) em 2021, um crescimento de 19,8% em relação ao ano anterior e de 53,9% em relação a 2018. Amanda Ferreira, proprietária da marca de roupas Maezza, compartilhou sua história com o jornal, revelando que sua paixão por trabalhar na aviação foi interrompida pela pandemia. Ela decidiu adiantar outro sonho que tinha em mente: ter sua própria marca. Amanda destaca os desafios de ter uma confecção própria: "O maior desafio é lidar com a produção em si, desde a criação de processos até a entrega final ao cliente. Envolve uma cadeia complexa, desde a criação da coleção, modelagem, negociação e compra de tecidos, corte, costura, acabamento, embalagem, marketing, administração e contabilidade. É um desafio diário que demanda habilidades práticas e criativas."
Marianne Baptista, especialista em tendências na WGSN LATAM, destaca a crescente importância das marcas de confecção própria no mundo da moda, especialmente durante a pandemia: "Desde o início da crise, os consumidores têm apoiado cada vez mais pequenos e médios negócios nacionais, entendendo os impactos econômicos causados pela pandemia. Isso tem levado à atenção especial para marcas que possuem produção própria, principalmente entre os jovens adultos que valorizam marcas alinhadas aos seus valores e compreendem as mudanças que o mercado da moda passou, adaptando-se a uma comunicação remota mais eficaz." Com a COVID-19, muitas pessoas passaram a valorizar e comprar de marcas locais, fortalecendo esse mercado e impulsionando a criação de diversas lojas em diferentes nichos. Isabella Marcela, dona da loja de biquínis Maré Alta Store, afirma: "Nossa marca ganhou uma grande visibilidade, especialmente durante a pandemia, quando as lojas físicas estavam fechadas e as compras online se tornaram a principal opção. No entanto, o investimento em marketing é essencial."

Os proprietários de marcas de confecção própria precisam estar sempre atentos às tendências. Livia Sampaio, dona da loja Favorito Crochê, relata em entrevista à AGEMT como identificou a demanda por roupas de crochê: "Após me destacar entre meus amigos com roupas feitas pela minha avó, percebi que havia um público interessado nesse tipo de peça, e o crochê estava em alta na mídia, inclusive entre os famosos. Decidi investir nessa ideia, mas sei que ter uma marca própria vai além de comprar e revender roupas. Exige um planejamento abrangente." "O diferencial dessas marcas está em entender os desejos do mercado brasileiro, trazendo produtos que valorizam a diversidade, brasilidade, peças exclusivas em termos de design, cores e estampas", complementa Marianne.
O estilista Luiz Claudio da Silva apresentou no último dia 26 a coleção feita para a grife Apartamento 03, desfilada no Shopping Iguatemi.
Mergulhando na história pouco conhecida do pintor Estevão Roberto Silva, o primeiro artista negro a se formar na Academia Imperial de Belas Artes do Rio de Janeiro no século XIX, Luiz usa suas peças para apresentar essa narrativa.
“Ele foi considerado o melhor pintor de natureza morta, adorava pintar frutos”, disse o estilista sobre Estevão Silva, em entrevista que foi publicada no Instagram da marca. Os frutos foram reproduzidos de forma abstrata em algumas estampas da coleção, muitas peças tiveram as partes de baixo cortadas em pontas assimétricas, tops com pontas soltas e até saias amarradas nas laterais, ajudando a construir a sobreposição em suas peças, cujo acervo também era composto por calças largas e macacões de festa.

Luiz afirmou que gosta de explorar silhuetas: “Gosto de construir silhuetas em que você não sabe se é um vestido ou se é uma calça, se é um macacão, se é uma jaqueta, se é um casaco e um vestido…”
Vale ressaltar o trabalho em ateliê trazido para a coleção. Foram construídas flores tridimensionais com tecidos plissados, aplicados em vestidos e capas que pareciam pairar sobre os modelos. Peças metalizadas e quadriculadas também foram reveladas durante o desfile.

Luiz Cláudio da Silva, ao ser perguntado o porquê dessa criação, respondeu: “Eu acho que é o momento do país olhar para sua própria história, para a história das suas pessoas…Acho que é a maior riqueza que a gente tem e que não temos dado atenção para isso”, continuou dizendo sobre como o desfile era o trabalho de um “Silva” que estava no São Paulo Fashion Week, o mesmo que Estevão Silva, e os tantos Silvas que estão por aí, sem oportunidade de mostrar seus talentos.

The Paradise: Um festival de cores
Também no dia 26, a marca The Paradise fez sua estreia nas passarelas da SPFW, uma verdadeira festa, do início ao fim.
A marca dos estilistas Thomaz Azulay e Patrick Doering não desapontaram os fãs - que os conhecem pelo bom humor e pela paixão pela moda - já que realizaram um show colorido e vibrante.
Desfilaram a coleção de nome “Brechó Paradise”, uma mistura de peças características dos anos 1950 aos 1980, nas quais cada década ganhou uma estampa característica - marca registrada da grife, que é conhecida por seu trabalho com estamparias.
Thomas e Patrick realizaram o desfile sem nostalgia, com propostas atuais e um olhar voltado para as tecnologias que se conectam com o futuro. A coleção é bastante diversificada, tanto para o público masculino quanto feminino, além de apresentar um acabamento mais direcionado ao público jovem - de alma.

Na passarela, nomes famosos deram as caras, como: José Loreto, Pati de Jesus, Luís Lobianco, Silvia Pfeiffer, Bete Prado e outros muitos, sem contar com as ilustres personalidades que estavam na plateia.


O jeans foi um dos principais pilares da coleção, e também contou com muitas estampas. As peças incluíam compunham um guarda-roupas com ótimas variações de camisas, tops croppeds e bustiês. Os vestidos eram compostos por um toque vintage nos decotes, comprimentos médios e referências a Obis japoneses e capulanas africanas.
Até mesmo as peças em couro, desenvolvidas em parceria com Patrícia Viera, receberam cores correspondentes às estampas da coleção, para os homens, há muitas ideias de conjuntos (estampados) que substituem os tradicionais ternos.


O ambiente criado pela marca merece ser reconhecido pela imersividade. Luzes coloridas e uma trilha sonora de festa, que contou com músicas como: Under Pressure, da banda Queen e de David Bowie e Sultans of Swing, do Dire Straits, que trouxeram a verdadeira energia de comemoração para a estreia.

O desfile aconteceu no Iguatemi São Paulo, no início da tarde. A marca conhecida pela exaltação da elegância feminina, reafirmou mais uma vez o perfil maduro, moderno e refinado da estilista.
Com uma coleção semelhante à desfilada pela grife em novembro, na edição 54 da São Paulo Fashion Week, Patrícia Viera aposta novamente em looks metalizados, mas com um trabalho novo, um olhar geométrico sob suas peças.

A marca, que ganha o mesmo nome que a estilista carioca, apresentou pouco menos de 40 novos vestuários, contando quase que exclusivamente com vestidos em seu repertório. Mostrando a habilidade criada em 25 anos de história, o uso do couro é notavelmente profissional, inovando nos padrões e texturas únicas, e reiterando o cuidadoso trabalho artesanal de Patrícia.

Em um breve curta-metragem que antecedeu o espetáculo, Patrícia Viera apareceu dizendo: "Eu não estou de jaleco e fita métrica para ficar mais bonita, estou assim porque estou a serviço", mostrando o quanto a estilista leva a sério seu trabalho de criar, vestir e esculpir a mulher.
Finalizando com um inusitado vestido de noiva, a passarela se despediu do desfile com uma homenagem à recém falecida rainha do rock brasileiro, Rita Lee.

TA Studios
No mesmo dia, a estilista Gih Caldas desfilou sua coleção "Empinando Pipas e Sonhos", também no Shopping Iguatemi, para a marca TA Studios.
Buscando uma reflexão sobre saúde mental e as artes plásticas como um escape para problemas psicológicos, a carioca - conhecida pelo uso materiais sustentáveis, como: fibra de bananeira e de milho, algodão orgânico e viscose de reflorestamento, para a criação de suas peças - trouxe um belo desfile aos solos paulistanos.
Dentro da proposta da edição N55, Gih Caldas conseguiu fundir seu diploma de terapeuta com o conceito que estabeleceu para as roupas, explorando suas origens e abordando de forma inovadora a perspectiva da saúde mental dentro da moda.
O espetáculo foi bastante imagético, com cabelos altos, que remeteram à reflexão proposta pela estilista. Outro ponto favorável para a estilista se deu na cirúrgica escolha do casting, os modelos enriqueceram as passarelas de representatividade, trazendo os mais diversos biotipos e etnias. Suas peças tomaram vida diante dos holofotes sendo desfiladas por mulheres mais velhas, modelos negros, asiáticos, pessoas com deficiência e transexuais.
Sobre a coleção, os tons optados foram majoritariamente neutros, com a presença do patchwork no jeans, técnica que utiliza diversos recortes do tecido para a construção de peças geométricas ou orgânicas. As quase 20 peças se mantiveram dentro da especialidade da grife: a alfaiataria.
Meninos Rei trazem afrofuturismo e ancestralidade para o SPFW
Marca baiana reúne globais em desfile ultra colorido que celebra a cultura africana
Na quinta-feira (25) a grife Meninos Rei, comanda pelos irmãos Júnior e Céu Rocha, desfilou sua coleção Pop Ancestral, durante o SPFW (São Paulo Fashion Week). O tema escolhido pelos designers resgata as contribuições do povo africano para a história da sociedade, a partir de uma visão afrofuturista.
Baseado na cidade de Salvador, a grife é a queridinha de famosos, como Ivete Sangalo e Taís Araujo. Conhecida por suas estampas ultra coloridas, mantém suas raízes baianas e serve ao público um banquete visual com tecidos africanos que são importados da Guiné-Bissau.
O patchwork- técnica artesanal com retalhos- característico do trabalho dos irmãos vem do desejo de ambos em criarem roupas que fogem do tradicional, contando mais sobre a trajetória e ancestralidade dos dois.

Roupa da coleção Pop Ancestral Foto: Agência Fotosite
Durante o desfile passaram pela passarela famosos como a cantora e ex-bbb Marvvila, o ator Samuel de Assis, a médica e também ex participante do Big Brother, Thelma Assis, o jornalista Manoel Soares e a apresentadora Larissa Luz, que desfilou enquanto cantava Elsa Soares.
A maquiagem do desfile foi assinada por Ju Coelho, que optou por um maxidelineado invertido e prateado, que conversava com os pontos brancos das roupas.

Maquiagem feita por Ju Coelho Foto: Agência Fotosite
A grife baiana por meio dessa coleção buscou mostrar a conexão entre passado, presente e futuro. Os looks foram marcados pelo afro futurismo, movimento que junta a ancestralidade africana – representada por cores vibrantes, animal print e estampas étnicas tradicionais - e a tecnologia, trazida na modelagem das roupas, como jaquetas puffer e mangas bufantes.
Feitos com recortes assimétricos, diferentes volumes e geometrias preto e branco, o estilo escolhido pelos estilistas confere a suas produções uma linguagem moderna e com personalidade, que segue a tendência street style, confortável e inclusiva da marca.
Meninos Rei | São Paulo | N55 — Foto: Divulgação/@agfotosite
O afrofuturismo é um movimento estético que busca elementos para firmar o protagonismo negro em diversos âmbitos. O movimento trazido pelos irmãos busca colocar em destaque em sua nova coleção uma população que por muito tempo foi desprezada e deixada de lado, a abordando como elemento principal de sua própria história, a partir de uma visão futurista.
Durante o evento, a coreógrafa Tainara Cerqueira usou um look vermelho esvoaçante e trouxe vida as passarelas ao dar um show de dança afro, mostrando mais uma vez a intenção dos estilistas em celebrarem a cultura africana e suas tradições.
Com o tema “Banho de Axé”, inspirado na canção de Banho de Folha, de Luedji Luna, a grife de Isaac Silva teve seu desfile-manifesto montado em uma ocupação do movimento sem-teto, que fica no Centro de São Paulo. O evento ocorreu durante o dia 24 de maio (quarta-feira) e contou com a presença de diversos famosos, como os ex-bbs Gabriel Santana e João Luiz.
A escolha de Silva por essa locação não foi por acaso. A designer escolheu a Ocupação 9 de Julho para homenagear Carmen Silva, que trabalha e lidera o Movimento Sem-Teto do Centro [MSTC], e mostrar a importância e o objetivo do movimento. Além disso, a nova coleção ter sido exibida nessa localização, tinha como objetivo passar ao público a mensagem de que passou da hora de uma nova moda estar sob os holofotes.
Buscando passar a mensagem de inclusão e diversidade de sua grife para essa coleção, a estilista optou em suas roupas por modelagens e estruturas diversas, em comprimentos e formatos para todos os sexos e públicos, desfilados por pessoas de silhuetas e gêneros diversos. Entre o casting de modelos, a marca convidou moradores da ocupação para participarem.
Durante a passagem pela passarela, desfilaram looks jeans com dois diferentes tons, roupas estampadas, baseadas na obra da artista plástica Heloísa Ariadne, que contavam com detalhes em verde e off-white. Em seguida contando com a participação de figuras como, a cantora Jojo Todynho, Marcia Pantera e os ex-bbs Fred Nicácio e Tina Calamba, entraram produções com cores vibrantes e cheia de vida.
Algumas produções ainda contaram com a escolha do verde liso, como os que foram desfilados pelos convidados do MSTC e do jornalista Manoel Soares, que contavam também em seu look com a frase, slogan da grife, “Acredite no Seu Axé”.
A coleção também busca celebrar maneiras de se fazer roupas de uma maneira consciente, humanizada e ecológica. Para isso, as parcerias firmadas refletem o trabalho sustentável da marca, como exemplo temos a líder em produção de jeans no Brasil, Vicunha e a marca Glow Têxtil, que foi responsável pelas estampas da coleção.
Ainda seguindo a linha sustentável escolhida pela designer, os acessórios usados são feitos a mão por meio de processos de reciclagem de resina e são assinados pela marca MKWC. Outros adornos, como as bolsas-bola, feitas de fibras naturais, são de uma colaboração da grife de Silva com as artesãs quilombolas de São Lourenço de Goiana, em Pernambuco.
Ao final do evento Carmen Silva, e suas filhas Preta Ferreira e Kellen Wini, também desfilaram usando looks verde, finalizando o evento com uma bandeira do movimento MSTC, reafirmando assim a filosofia de inclusão da marca.


Foto: Agência Brazil News / Elas no Tapete Vermelho

Foto: Agência Brazil News / Elas no Tapete Vermelho




