Minimalismo, funcionalidade e inovação refletem mudanças econômicas e sociais
por
Luana Marinho
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18/09/2025 - 12h

A moda, frequentemente apontada como um espelho dos tempos, volta seus olhos para tempos de escassez. Em meio à instabilidade econômica global, marcada por inflação persistente e crises políticas ao redor do mundo, ganha força o chamado “Recessioncore” (estética da recessão), que traduz, de forma visual, a precariedade e o desânimo de uma geração.

“Quando falamos de recessões, de crises econômicas, dá para ver esse reflexo diretamente na moda. Hoje, vivemos uma grande incerteza econômica, e muitas marcas de luxo começaram a lançar campanhas desperdiçando comida, baguetes sendo amassadas, frutas jogadas no chão da feira, alimentos destruídos”, afirma Audry Mary, especialista em marketing de moda e influenciadora digital. “É uma forma de comunicação: enquanto a base está sofrendo com a falta, quem consome a marca pode esbanjar. E isso é extremamente político”, acrescenta Audry.

Se nos anos de crescimento econômico os desfiles explodem em cores vibrantes, brilhos e ostentação, em momentos de incerteza o figurino muda: tons neutros, silhuetas sóbrias e peças utilitárias assumem o protagonismo. É o que se vê agora com a ascensão da estética “clean girl”, termo popularizado no TikTok e em outras redes sociais que descreve um estilo minimalista, com peças básicas, cores neutras e cortes discretos 

"Elas são mais acessíveis, carregam pouca informação de moda e seguem um estilo mais recatado, mais doméstico”, diz Audry sobre as roupas identificadas com o estilo. “É conservador, e as marcas estão apostando muito nisso”, explica.

Segundo a especialista, a estética “clean girl” não surge isoladamente: é resultado direto de um contexto econômico instável, no qual o crescimento do "quiet luxury" (luxo silencioso) e de coleções minimalistas indica que as marcas buscam transmitir segurança e sobriedade. Historicamente, períodos de recessão geraram mudanças semelhantes. Durante a Grande Depressão, cortes retos e tecidos duráveis se tornaram padrão, enquanto a crise de 2008 reforçou o consumo de fast fashion e peças de baixo custo, ainda que de qualidade inferior.

O impacto econômico também se reflete no crescimento do mercado de roupas de segunda mão, que se tornou um indicativo claro das mudanças no comportamento de consumo. Nos Estados Unidos, o mercado de moda de segunda mão alcançou US$ 50 bilhões em 2024, com projeção de crescimento para US$ 73 bilhões até 2028, impulsionado principalmente por millennials e pela geração Z, nascidos entre 1981 e 2010, que buscam alternativas mais acessíveis e responsáveis. Esse movimento transforma o mercado de segunda mão em uma tendência não apenas econômica, mas também cultural, refletindo valores de sustentabilidade e consumo consciente.

No Brasil, a ascensão dos brechós segue a mesma lógica: adaptação à crise econômica, respeito às prioridades financeiras e resposta às incertezas sociais. Segundo dados do Sebrae, o país contava com mais de 118 mil brechós ativos em 2023, representando um aumento de 30,97% em relação aos cinco anos anteriores. Além disso, o mercado de brechós no Brasil deve movimentar cerca de R$ 24 bilhões até 2025, superando o mercado de “fast fashion” até 2030, conforme projeções da Folha de São Paulo.

O crescimento do mercado de brechós também é impulsionado por plataformas digitais. O Enjoei, com mais de 1 milhão de compradores e 2 milhões de vendedores ativos, abriu recentemente sua primeira loja física no Rio de Janeiro e adquiriu a Gringa, plataforma de revenda de artigos de luxo de segunda mão, por R$ 14 milhões, evidenciando a demanda crescente por itens de alto valor.

Esse movimento também pressiona a indústria tradicional, que já responde com novas estratégias. O aumento dos custos de produção deve acelerar o uso de matérias-primas alternativas, como tecidos reciclados e fibras de origem vegetal, além de experimentos com couro vegetal e biotêxteis. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por transparência nas cadeias de produção: passaportes digitais de produtos, rastreabilidade de origem e relatórios de impacto ambiental podem deixar de ser tendência para se tornar padrão da indústria.

Olhando para o futuro, a moda deve consolidar caminhos cada vez mais funcionais, atendendo à demanda de consumidores impactados pela instabilidade econômica, que priorizam praticidade e durabilidade. Segundo Audry, essa tendência deve se intensificar. “Acredito que vamos ver cada vez mais peças utilitárias, roupas multiuso e tecidos resistentes ganhando protagonismo, porque o consumidor está buscando longevidade e funcionalidade em tudo o que veste”, afirma.

O minimalismo, já consolidado, deve permanecer central, mas com variações sutis. “Minha aposta é que tons terrosos, cortes amplos e peças que permitam personalização vão se tornar ainda mais comuns, enquanto pequenos revivals dos anos 2000 e 2010 reinterpretam itens básicos para novas gerações”, diz a influenciadora, que também projeta expansão de modelos híbridos, que combinam venda de peças novas, revenda, aluguel e customização, fortalecendo a economia circular como resposta prática às restrições financeiras. 

A tecnologia surge ainda como aliada estratégica, com inteligência artificial e provadores digitais ajudando marcas a reduzir desperdícios e aproximar consumidor e produto. “A inovação permite que a indústria transforme limitações econômicas em oportunidades criativas”, conclui Audry, reforçando que, para o futuro, a moda funcionará como um laboratório de soluções, mais do que apenas reflexo de crise.

 

 

 

A semana de moda americana deu start na temporada internacional que marca o mês de Setembro
por
Felipe Volpi Botter
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15/09/2025 - 12h

De 11 a 16 de setembro, a cidade de Nova Iorque abre espaço em sua frenética rotina para as passarelas apresentarem as novidade da Primavera/Verão 2026 e abrilhantar os olhos dos fãs de moda.

No dia de ontem, 14, Manhattan foi banhada por looks com mistura de texturas entre tecidos fluidos, bordados, transparências. Além de um protagonismo para uma alfaiataria reformulada, com cortes ousados e proporções exageradas.

Cores neutras mescladas com pontos de cores vibrantes de (vermelho, laranja e estampas arriscadas), marcaram o quarto dia de evento, que integra o calendário das chamadas "Big Four" ao lado de Paris, Milão e Londres.

O street style acompanhou essa atmosfera de contrastes: looks mais sóbrios recebendo toques fortes com a adesão de acessórios chamativos, sobreposições e cortes assimétricos.

A beleza esteve com foco em peles naturais, "menos pesado”, valorizando textura natural da pele, evidenciando seu brilho sutil.

Alguns desfiles se ressaltaram na mídia pela forte identidade visual, seja pelas temáticas ou pela presença de celebridades, como Oprah Winfrey, Lizzo, Natasha Lyonne e outros.

Kai Schreiber, filha trans de Naomi Watts e Liev Schreiber, abriu o desfile de Jason Wu. O show homenageou o artista Robert Rauschenberg, mesclando arte e moda fortemente influenciadas pelo seu legado.
 

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A modelo Kai Schreiber abrindo o desfile de Jason Wu (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

O designer Christian Siriano apresentou uma coleção primavera/verão 2026 com inspiração no velho glamour de Hollywood; houve vestidos longos, looks dramáticos, mistura de masculinidade e feminilidade com peças ousadas, além de chapéus impactantes.
 

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Desfile Christian Siriano (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Sergio Hudson mostrou uma coleção vibrante, com ternos trabalhados, uso de estampas e bordados com inspiração africana, foco em alfaiataria refinada.

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Desfile Sergio Hudson, com inspiração no glamour da moda africana (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

Momentos de street style e aparições de celebridades: muita gente do mundo artístico presente nos desfiles e eventos de moda, com looks chamativos, acessórios fortes, e aquele mix de elegância + ousadia.

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Celebridades presentes no evento, como Katie Holmes e Whoopi Goldberg (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)



Vivian Wilson (filha de Elon Musk) fez sua estreia em passarela, desfilando para Alexis Bittar. O desfile abordou uma temática social/política, misturando teatralidade e crítica em sua estética.

 

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Vivian Wilson no desfile da Alexis Bittar (Foto:©Launchmetrics/spotlight/FashionNetwork)

 

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Setor têxtil cresce com foco em bem-estar, tecnologia e sustentabilidade
por
Larissa Pereira José
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05/09/2025 - 12h

 

Gradualmente, a busca pelo bem-estar deixou de ser apenas mais uma tendência momentânea e se consolidou como um dos principais motores da moda. No Brasil, de acordo com o Sebrae Paraná, o setor fitness movimenta cerca de R$ 8 bilhões por ano e cresce em média 8,2% ao ano, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O país ocupa a segunda posição no ranking mundial, atrás apenas dos Estados Unidos, e atrai investimentos que unem estilo, performance e consciência ambiental.

O fenômeno é reforçado pelo enclothed cognition, conceito que descreve como as roupas influenciam o comportamento. Vestir roupas esportivas aumenta a disposição para a prática de exercícios, unindo moda e psicologia. No Brasil, casos de sucesso confirmam o potencial. A marca catarinense Live! cresce cerca de 45% ao ano e já exporta para Ásia e Oriente Médio, consolidando a vocação nacional para o segmento.

Em entrevista exclusiva para a AGEMT, a estilista Dafne Setton, especialista em moda fitness, defende que esse cenário reflete uma transformação no comportamento do consumidor. “Hoje as pessoas querem se sentir bem durante todo o dia. A roupa precisa ter conforto, permitir mobilidade e, ao mesmo tempo, transmitir estilo. É por isso que o athleisure se tornou um símbolo de estilo de vida. Ele expressa disciplina e descontração”, afirma.

As novas preferências apontam para silhuetas mais amplas, como calças cargo e trackpants oversized, em substituição às leggings ajustadas ao corpo. Ao mesmo tempo, cresce a exigência por sustentabilidade, reforçando o protagonismo de tecidos tecnológicos que unem compressão, respirabilidade e fibras recicladas. “Tecido ecológico não é mais um diferencial e sim um requisito. O consumidor jovem exige isso”, explica Dafne. O mercado de luxo também se aproxima desse movimento, criando um fenômeno conhecido como cardio couture — tradução livre “alta costura do cardio”, expressão usada para definir treinos ou práticas esportivas que incorporam estética e sofisticação típicas da moda de luxo, transformando o exercício físico em experiência de estilo. Grifes como Louis Vuitton e Prada lançaram acessórios esportivos sofisticados, transformando o athleisure em um item de estilo de vida.

O clima tropical brasileiro também favorece o uso cotidiano de roupas leves, que transitam facilmente entre o ambiente de treino e o lazer. Além disso, a forte cultura de praia e a valorização da estética corporal ajudam a consolidar um estilo de vida em que o bem-estar é parte do cotidiano. Esse contexto cria um mercado interno robusto e uma vitrine atraente para a exportação de marcas nacionais.

Outro ponto de destaque é a crescente adesão das academias e estúdios de bem-estar a estratégias de branding ligadas à moda. Muitas oferecem coleções próprias de roupas e acessórios, transformando a experiência do aluno em um pacote completo, que vai do exercício ao consumo de estilo. Essa convergência entre saúde, moda e consumo reforça o wellness como um setor multifacetado, em constante expansão e com impacto cultural direto no modo de vestir dos brasileiros.

As redes sociais também impulsionam o processo. Plataformas como TikTok e Instagram transformaram a estética wellness em repertório visual que mistura treino, alimentação saudável e moda esportiva. “As pessoas não compram só a roupa, compram a ideia de vida equilibrada — e isso é altamente compartilhado online”, observa a estilista. Para ela, o futuro da moda fitness estará ligado à tecnologia, personalização e monitoramento em tempo real. Tecidos inteligentes capazes de acompanhar sinais vitais já estão em desenvolvimento e devem ganhar espaço. “Wellness é uma nova forma de viver. Quem entender isso estará à frente do mercado”, conclui.

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Giorgio Armani, designer italiano, que redefiniu a alfaiataria, morre aos 91 anos em Milão
por
Gabriela Jacometto
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04/09/2025 - 12h

 

  O mundo da moda se despede hoje de Giorgio Armani, falecido aos 91 anos, em Milão. Considerado um dos mais importantes estilistas da história, Armani criou um legado de precisão e sofisticação atemporal. 

  Nascido em Piacenza, no norte da Itália, Giorgio Armani construiu um império a partir de uma ideia simples, mas revolucionária: a elegância não precisa ser barulhenta. Ao longo de cinco décadas, refinou o terno masculino, suavizou as linhas rígidas que dominavam a alfaiataria e criou para as mulheres roupas que dialogavam com elegância, poder e leveza.

 Com sua marca fundada em 1975, Armani rapidamente deixou de ser apenas um estilista para se tornar um fenômeno cultural. Vestiu gerações de astros de Hollywood, de Richard Gere em Gigolô Americano a Cate Blanchett no tapete vermelho de Cannes e consolidou o imaginário de que vestir Armani era mais do que estar bem vestido: era incorporar uma postura, uma confiança silenciosa.

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Cate Blanchett de Armani Privé em Cannes na premiere de A Star Is Born, 2018 Foto: Maria Moratti / Getty Images

 

    

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Gigolô Americano. Foto: Alamy

     

  Dono de uma visão empresarial rara, manteve sua companhia independente, sempre controlando cada decisão criativa e estratégica. O império Armani se expandiu para perfumes, hotéis, esportes e design de interiores, mas nunca perdeu a identidade minimalista que o caracterizava.

 

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Armani vestiu o time do Liverpool para a Copa da Inglaterra de 1996. Foto: Mirrorpix / Getty Images

      

    A notícia de sua morte reverbera entre colegas e admiradores. Estilistas de diferentes gerações destacam não apenas sua influência estética, mas também sua disciplina e fidelidade a um estilo que não se rendia a modismos passageiros. Armani foi, em essência, um criador que acreditava que a moda deve servir ao indivíduo, e não o contrário.

 Seu legado permanecerá nas passarelas, nos filmes, nos red carpets e, sobretudo, na forma como aprendemos a olhar para a simplicidade como o mais alto grau de sofisticação.

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Documento foi entregue durante cerimônia Assembleia Legislativa de Minas Gerais, quase 50 anos após a morte da estilista.
por
Maria Julia Malagutti
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29/08/2025 - 12h

 

A certidão de óbito da estilista Zuleika Angel Jones, conhecida como Zuzu Angel, foi oficialmente retificada nesta quinta-feira (28), em uma cerimônia em Minas Gerais. A atualização faz parte de um pacote de 21 certidões entregues pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania a familiares de pessoas mortas ou desaparecidas durante a ditadura militar e atende à Resolução nº 601/2024, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

O novo documento especifica que a morte de Zuzu ocorreu de forma não natural, violenta e causada pelo Estado brasileiro, no contexto de perseguição política que marcou o regime militar. A retificação também incluiu dados complementares, como idade, estado civil, além da data e local da morte. Na cerimônia ocorrida na Assembleia Legislativa mineira, além da certidão de Zuzu Angel, foram entregues documentos retificados de outras vítimas da ditadura. 

Aos 54 anos, um acidente de carro na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado matou Zuzu Angel. O túnel foi rebatizado anos mais tarde e hoje leva seu nome. Desde os anos 1980, familiares e ativistas afirmavam que o acidente foi provocado e que seu carro teria sido jogado para fora da pista por agentes do regime.

Zuzu Angel ganhou espaço no cenário da moda brasileira ao valorizar bordados artesanais, cores vibrantes e elementos da cultura popular, em contraste com as influências europeias dominantes. Seu trabalho chegou a vestir estrelas de Hollywood, projetando seu nome internacionalmente. Um dos momentos mais marcantes de sua carreira foi o desfile realizado em Nova York em 1971, que trouxe à passarela referências à repressão vivida no Brasil. A coleção incorporou símbolos de luto e resistência, transformando a moda em uma forma de denúncia política e visibilidade internacional para a causa de seu filho Stuart Angel Jones, militante do MR-8 torturado e morto no mesmo ano do desfile.

Atualmente, parte de seu acervo está preservada no Instituto Zuzu Angel, no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. O espaço funciona como centro de memória da estilista, com peças catalogadas e, ocasionalmente, abertas a exposições sob gestão da filha, Hilde Angel.

Vestidos da estilista Zuzu Angel (Wikipedia/Reprodução)
Vestidos Zuzu Angel Foto: Wikipedia/ Reprodução

A retificação da certidão de óbito de Zuzu Angel, inserindo oficialmente a causa violenta e a responsabilidade do Estado, representa um marco na busca por reparação e preservação da memória no país. O registro traz clareza formal sobre as circunstâncias de sua morte e reforça o legado de Zuzu como estilista que abriu caminhos na moda brasileira e transformou sua dor pessoal em denúncia por meio da arte.

 

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Com grandes nomes da moda brasileira, evento chega ao seu penúltimo dia
por
Gustavo Oliveira de Souza
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14/04/2025 - 12h
Foto de desfile
Modelo durante desfile da Dendezeiro. Foto: Mauricio Santana, Getty Images
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Na quinta-feira (10), o quinto dia de desfiles na São Paulo Fashion Week  trouxe aos holofotes marcas fundamentais ao cenário nacional, pilares do reconhecimento da moda brasileira país a fora.

João Pimenta 

O primeiro desfile do dia foi do estilista João Pimenta. O já consagrado artista, que por alguns anos misturou elementos da moda voltada aos dois gêneros decidiu apostar em um conceito quase todo concentrado  no vestuário masculino. O desfile aconteceu na estação Júlio Prestes do metrô, com o nome “Em Construção”. Sua obra buscou questionar os rumos da tecnologia na moda e valorizar o trabalho manual.

Dendezeiro

No JK Iguatemi, a Dendezeiro foi a segunda grife do dia a desfilar. A marca baiana da dupla Hisan Silva e Pedro Batalha trouxe um conceito que homenageava a região Norte do Brasil, com muito destaque à Amazônia. Chamada de “Brasiliano 2: A Puxada para o Norte”, o desfile destacou a fauna, com estampas de peixe e bolsas em formato de capivara, além de camisetas com frases exaltando a cultura local.

MNMAL

O penúltimo desfile do dia foi da estreante MNMAL. Fundada em 2022, a marca tem seu conceito baseado no minimalismo, e na passarela não foi diferente. Assinada pelo estilista Flávio Gamaum, as peças têm como principal destaque o conforto, pensada para o cotidiano no lar e home-office. Mesmo com todo o conforto, a elegância não é deixada de lado.

Walério Araújo 

Fechando o dia 10, o importante estilista Walério Araújo trouxe seu conceito usualmente impactante. Já tendo sido considerado um dos maiores estilistas do mundo, o pernambucano traz, novamente, a ousadia. Com diversas homenagens às mulheres trans, a bandeira de arco-íris apareceu em vestidos e peças mais casuais. Como novidade, a alfaiataria esteve presente, com peças que mostram a diferença na manifestação de gênero em locais públicos e privados.

Todos os desfiles marcaram, novamente, uma nova trajetória na moda brasileira. Sendo dos mais novos aos mais veteranos, quem esteve presente pôde acompanhar mais um capítulo da história do fashion no Brasil. 

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Tecnologia auxilia na análise de tendências, preferências do público e desempenho de vendas, otimizando a criação de coleções mais assertivas e sustentáveis
por
Larissa Pereira José
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24/03/2025 - 12h

A moda sempre foi um reflexo do comportamento humano, e nos últimos anos, a tecnologia tem desempenhado um papel crucial na forma como as coleções são criadas. No segmento fashion, que exige inovação constante para atender a um público cada vez mais exigente, a Inteligência Artificial (IA) tem se tornado uma ferramenta essencial. Desde a pesquisa de tendências até a análise de dados de vendas, a tecnologia vem revolucionando o processo criativo e estratégico.  

Para entender melhor essa transformação, conversamos com Nayara Graziela do Lago, estilista responsável pelo desenvolvimento de roupas fitness femininas para um grande magazine. Com anos de experiência no setor, ela destaca como a IA tem otimizado seu trabalho e impactado positivamente as coleções. “Antes, a pesquisa de tendências era um processo muito manual e baseado na intuição. Hoje, conseguimos usar IA para analisar um grande volume de informações e identificar padrões com muito mais precisão”, explica Nayara.  

Ferramentas de inteligência artificial são capazes de cruzar dados de redes sociais, desfiles internacionais, comportamento de busca na internet e até avaliações de clientes em e-commerce. Isso permite que a equipe de estilo tenha uma visão mais clara do que está em alta e do que realmente pode funcionar para o público-alvo. “No segmento fitness, por exemplo, percebemos que há uma crescente demanda por peças multifuncionais, que possam ser usadas tanto na academia quanto no dia a dia. A IA nos ajuda a confirmar essa tendência analisando o comportamento dos consumidores em tempo real”, acrescenta a Nayara.  

Além de prever tendências futuras, a inteligência artificial também tem um papel fundamental na análise de coleções passadas. A tecnologia permite avaliar quais peças tiveram melhor desempenho de vendas, quais cores e modelagens foram mais aceitas e até quais tecidos proporcionaram mais conforto ao consumidor.  

“A cada nova coleção, conseguimos acessar relatórios detalhados sobre o que funcionou e o que precisa ser ajustado. A IA cruza dados de vendas com feedbacks dos clientes e nos mostra, por exemplo, se determinada peça foi muito devolvida por problemas de caimento ou se uma estampa específica teve alta aceitação. Isso nos dá uma base muito mais sólida para criar novos produtos”, explica Nayara.  

Esse tipo de análise evita desperdícios e ajuda a direcionar melhor os investimentos na produção. Em um mercado cada vez mais competitivo, entender as preferências do público-alvo é essencial para criar coleções assertivas e bem-sucedidas. Outro aspecto revolucionário do uso da inteligência artificial na moda está na criação de estampas e modelagens. Hoje, já existem softwares que geram prints exclusivos baseados em combinações de cores e texturas identificadas como tendências. Além disso, ferramentas de simulação virtual permitem testar digitalmente o caimento das peças antes mesmo da confecção dos primeiros protótipos físicos.  

“Isso reduz drasticamente o desperdício de materiais e encurta o tempo de desenvolvimento das coleções. Antes, fazíamos diversos testes com tecidos e modelagens diferentes, o que demandava tempo e custos. Agora, conseguimos visualizar um look completo de forma digital e fazer ajustes antes de costurá-lo”, explica Nayara. 

Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve peças sem costura.
Maquinário de fábrica têxtil que desenvolve produtos sem costura.

Apesar das inúmeras vantagens proporcionadas pela IA, Nayara faz questão de ressaltar que a tecnologia não substitui a criatividade humana. “A moda tem emoção, identidade e precisa criar conexão com o consumidor. A IA é uma ferramenta poderosa, mas o toque final ainda é do estilista. Somos nós que interpretamos os dados e transformamos essa informação em coleções que realmente conversam com o público.”  

Para a estilista, o futuro da moda passa pela combinação entre tecnologia e sensibilidade humana. “O uso da IA no desenvolvimento de coleções já é uma realidade e tende a crescer cada vez mais. Mas a essência da moda continua sendo a criatividade e a capacidade de contar histórias por meio das roupas”.  

Com um mercado cada vez mais dinâmico e competitivo, a inteligência artificial se consolida como um diferencial estratégico para marcas que desejam inovar, reduzir desperdícios e entregar produtos alinhados às expectativas do consumidor moderno. E, como Nayara bem pontua, quando aliada ao olhar criativo do estilista, a tecnologia se torna uma poderosa ferramenta para transformar dados e estatísticas em coleções de sucesso.

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Dezessete desfiles comemorarão três décadas do maior evento de moda da América Latina
por
Bianca Pisciottano Athaide
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17/03/2025 - 12h

No início do mês de abril, entre os dias 06 e 11, acontecerá o primeiro período da temporada de moda nacional, o São Paulo Fashion Week (SPFW). Nesta edição, dividida entre o Shopping JK Iguatemi, a Casa Higienópolis e outras locações externas, a semana, além de celebrar a inovação da indústria, também comemora o seu trigésimo aniversário. 

 

Em uma edição mais compacta que a anterior, em outubro de 2024, a programação celebratória promete trazer artistas e marcas da indústria de moda brasileira que ajudaram a consolidar a SPFW, ao longo de três décadas, como uma plataforma de expressões artísticas e impacto cultural. Estilistas como Herchcovitch; Alexandre, Lino Villaventura e Walério Araújo estão confirmados no line-up, com instalações e desfiles que entregam o DNA inovador e característico da única semana de moda da América Latina presente no calendário internacional. 

 

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Herchcovitch; Alexandre na SPFW de 2024 (Foto: Zé Takahashi - Divulgação SPFW)

 

A primeira edição de 2025 também apresentará novidades: as estreias de Leandro Castro e MNMAL abriram esse novo ciclo do evento, trazendo frescor essencial para o cenário de moda nacional. Ambos novatos são sinônimo de produção sustentável e preocupação ambiental, com peças feitas artesanalmente, através da redução de materiais. Leandro, que teve passagem pela Casa dos Criadores, sobe às passarelas no dia 09, com sua coleção construída através de materiais descartados. No dia seguinte, MNMAL esbanja no Shopping JK Iguatemi seu conceito minimamente essencialista. 

 

Outro momento muito aguardado para essa edição é o retorno da PIET para o SPFW. Depois de quase 5 anos longe das passarelas paulistanas, a marca criada pelo estilista Pedro Andrade traz de volta sua estética streetwear, agora, de maneira mais sofisticada, do que em sua última participação em 2019, já que, desde então, a PIET se consagrou internacionalmente no cenário da cultura urbana - e no guarda-roupa de muitos seguidores apaixonados por sua conexão autêntica com o estilo.

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PIET, SPFW de 2019 (Foto: Zé Takahashi - Divulgação SPFW)

Para reafirmar seu compromisso com a exaltação da criatividade e riqueza em técnicas, a SPFW também convidou nomes como Patricia Viera, referência de trabalho em couro no Brasil; João Pimenta e sua característica alfaiataria de vanguarda; a Dendezeiro novamente, para reforçar seu olhar carinhoso e analista sobre a identidade cultura brasileira e a Aluf, com suas inovações na área têxtil. 

 

A edição de número 59 é o primeiro capítulo da celebração que promete ser histórica para o mercado de moda brasileiro. Ao longo dos últimos 30 anos, entre altos e baixos, a SPFW se consagrou internacionalmente como palco para criatividade e exaltação, na mesma medida, de inovação e tradição nacional. 


O line-up completo está disponível no site do evento: https://spfw.com.br/spfw-30-anos-futuros-possiveis/

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Em meio a pressão financeira, grupo Kering nomeia ex-estilista da Balenciaga
por
Gabriela Jacometto
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17/03/2025 - 12h

 

 À frente da Balenciaga desde 2015, Demna Gvasalia redefiniu os códigos do luxo contemporâneo ao combinar elementos da cultura de rua com a alta-costura. Durante sua gestão, a marca italiana de streetwear experimentou um crescimento expressivo, com número de  vendas quadruplicando nos primeiros cinco anos e superando €1,5 bilhão em 2021.

   Foi com essa abordagem de sucesso em mente que o grupo Kering, nesta quinta-feira (13), anunciou, através de comunicado vinculado em suas redes, o  estilista como o novo diretor criativo da Gucci

  Com essa mudança, a Gucci busca reverter a queda de 23% nas vendas registrada em 2024 e retomar sua relevância cultural, assim como retomar o processo de  crescimento sustentável. 

 O CEO da Kering, François-Henri Pinault, destacou que a criatividade de Demna é exatamente o que a marca precisa neste momento. O designer é consagrado em meio a indústria fashion por dominar a arte de colisão entre luxo, cultura urbana e questões político-sociais da atualidade.  Com esse movimento, fica claro a intenção do grupo de diretores: Demna deverá transformar a Gucci, novamente, em um epicentro de tendências culturais, assim como fez com sua antiga casa.  

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Alessandro Michelle, ex-diretor criativo da Gucci e Demna. Imagem: Getty Images

 

 Em nota oficial, o estilista declarou estar entusiasmado com o novo desafio e ressaltou a honra de contribuir para uma maison que sempre respeitou e admirou. Sua despedida da Balenciaga acontecerá no desfile de Alta-Costura de Paris, em julho deste ano, antes de assumir oficialmente seu novo posto na Gucci.

 

 Essa transição estratégica faz parte dos planos da Kering para revitalizar a Gucci, sinônimo de excelência e tradição do mercado de moda, apostando na visão singular de Demna para renovar a identidade da icônica marca italiana.  

HISTÓRIA DE DEMNA

Nascido em 25 de março de 1981 em Sukhumi, na Geórgia, Demna Gvasalia se tornou um dos estilistas mais influentes da atualidade. 

 Sua trajetória foi marcada pelo deslocamento forçado durante a Guerra Vivil Georgiana (1991-1993), que levou sua família a buscar refúgio em países como Ucrânia e Rússia, antes de se estabelecer definitivamente em Düsseldorf, na Alemanha, no ano 2000.

 Antes de ingressar no universo da moda, Gvasalia iniciou seus estudos em economia internacional na Universidade Estatal de Tbilisi. No entanto, sua verdadeira vocação o levou à Bélgica, onde concluiu, em 2006, um mestrado em Design de Moda na prestigiada Academia Real de Belas Artes de Antuérpia.Sua carreira teve início no mesmo ano, quando passou a colaborar com o estilista Walter Van Beirendonck em coleções masculinas. 

Logo em 2009, foi contratado pela Maison Martin Margiela para liderar as coleções femininas. Cargo que ocupou até 2012. Depois, assumiu o posto de designer sênior de prêt-à-porter feminino na Louis Vuitton, onde trabalhou sob a direção de Marc Jacobs e, posteriormente, de Nicolas Ghesquière.

 O grande salto veio em 2014, quando fundou a Vetements, ao lado de seu irmão, Guram Gvasalia. A marca rapidamente se destacou por sua abordagem disruptiva e sua crítica às normas tradicionais da indústria. 

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Desfile VETMENTS S/S 2015. Imagem: Vogue Runway

 

 No mesmo ano, sua primeira coleção feminina foi apresentada na Semana de Moda de Paris e, em pouco tempo, a Vetements já figurava entre os indicados ao Prêmio LVMH para Jovens Designers de Moda.

O reconhecimento crescente levou Demna a assumir, em 2015, a direção criativa da Balenciaga, substituindo Alexander Wang. Desde então, ele tem redefinido a identidade da grife, consolidando seu nome como um dos mais inovadores e polêmicos da moda contemporânea.

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Ib Kamara, diretor criativo da marca, trouxe armadura futuristas para o centro político de Paris
por
João Luiz Freitas Souza
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13/03/2025 - 12h

A nova coleção da marca de streetwear italiana foi desfilada na quinta-feira passada (06), no Espaço Niemeyer, em Paris. A escolha do local foi milimetricamente pensada: o edifício em questão, construído entre o final dos anos 60 e o começo dos anos 80, foi a sede do Partido Comunista Francês. O formato da locação e os detalhes modernistas do arquiteto brasileiro criam uma atmosfera semelhante a um filme de ficção científica.

O nome da coleção é “State of Resistance” (Estado de Resistência) e para simbolizar essa ideia a maior parcela das peças desfiladas emanava a ideia de “armadura do futuro”. Elementos de roupas militares e estudantis são conciliados a detalhes de proteção, usualmente usados nos trajes de motociclismo e snowboarding. Com uma paleta de cores bem restrita, os tons sóbrios, como preto, branco e vermelho, foram evidenciados. Ombreiras marcantes, joelheiras, cotoveleiras, capuzes e bolsos estiveram fortemente presentes.

Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26
Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26 - Foto: Launchmetrics Spotlight

Apesar  de uma parte da coleção possuir estética semelhante a de figurinos cinematográficos, o prêt-à-porter não ficou de fora, e o público presente pode apreciar (ou até mesmo desejar) peças mais rotineiras, como vestidos justos e  assimétricos, e agasalhos de outwear — honrando a tradição despojada de seu criador e fundador Virgil Abloh.

Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26
Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26 - Foto: Launchmetrics Spotlight

Para representar um vestuário passível a um futuro sombrio, Kamara trouxe calças estruturadas, combinadas a  camisas de alfaiataria, acessorizadas apenas com uma gravata estampada de pássaros. Uma outra referência que busca retomar o espírito streetwear da marca fundada em 2013, é o detalhe gráfico da letra “V”, que estava presente em algumas peças, como aquelas remetentes ao motociclismo.

Após o encerramento do desfile, ficou evidente que a mensagem principal da coleção é a importância do debate em relação às dificuldades climáticas e políticas atuais.

Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26
Desfile da Off-white de Inverno, 2025/26 - Foto: Launchmetrics Spotlight

 

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