Fragmentos dessa vegetação sobrevivem na cidade e carregam a memória de uma paisagem que um dia foi predominante
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
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21/11/2024 - 12h

No coração da maior metrópole da América Latina, árvores como ipês, muricis e araçás do campo resistem como testemunhas vivas de um passado em que São Paulo era dominada pelo Cerrado. Muito antes das avenidas e arranha-céus, as várzeas dos rios Tietê e Tamanduateí formavam um mosaico natural de matas e campos, ocupadas por povos Tupiniquins.

Registros antigos da época da colonização retratam uma São Paulo bem diferente. Em 1585, o padre jesuíta Fernão Cardim descreveu a região como um “lugar de grandes campos… e campinas... que é formosura de ver”. Esse cenário, marcado pela vegetação arbustiva de galhos retorcidos típica do Cerrado, se estendia por boa parte do território paulista.

Quase 500 anos depois, o que restou dessa paisagem na capital está restrito a pequenos redutos. Na zona oeste, dois locais guardam a memória desse Bioma. Na Universidade de São Paulo (USP), próximo a uma caixa d’água, espécies raras, como a língua-de-tucano, um arbusto espinhoso usado pelos colonizadores para fabricar alpargatas, seguem resistindo. Já no bairro do Jaguaré, outro fragmento do Cerrado sobrevive em uma reserva fechada ao público.

A destruição do Cerrado em São Paulo reflete um processo que se intensificou ao longo do século passado. No início do século 20, 18,2% do território paulista era coberto pelo Bioma; hoje, resta menos de 1%. Deste pequeno remanescente, menos de 20% está protegido por unidades de conservação ou reservas legais.

Desmatado e fragmentado, o bioma se tornou associado apenas à região Centro-Oeste, mesmo tendo atravessado boa parte do território paulista até o norte do Paraná. Os poucos fragmentos restantes não só revelam a fragilidade das espécies endêmicas, mas também comprometem o ciclo natural de abastecimento de água. A substituição da vegetação original afeta diretamente o Aquífero Guarani, por exemplo, uma das maiores reservas subterrâneas de água do mundo.

De acordo com Daniel Caballero, fundador do projeto Cerrado Infinito, o cerrado é uma floresta invertida: “O que você vê na superfície são campos com arbustos mas no subsolo tem verdadeiras árvores, que seriam as raízes, de 30 a 40 metros enterradas que são responsáveis por carregar os aquíferos. Sem cerrado, nós ficamos sem água”.

 

Daniel Caballero em viagem ao cerrado
Daniel Caballero em viagem ao cerrado / Foto: Reprodução/Instagram/@caballeroland.art

 

Daniel é artista plástico e resolveu fazer um projeto sobre as casas da cidade. Com isso, ele se deparava com as mais diversas vegetações durante seus passeios pela metrópole. Depois de um estudo, ele descobriu que São Paulo era um grande campo cerrado; isso fez com que ele começasse a colher vegetações remanescentes desse bioma e plantasse em sua casa. 

Com a intenção de fazer crescer ainda mais essa vegetação na cidade, ele começou a plantar essas mudas na Praça da Nascente, na Sumaré. “O nome Sumaré que denomina a avenida e o bairro vem do nome de uma uma orquídea do cerrado”, acrescenta Daniel. 

 

Daniel trabalhando na renovação da Praça da Nascente
Daniel trabalhando na renovação da Praça da Nascente / Foto: Arquivo Pessoal 

 

 Caballero encerra a entrevista com uma indagação a todos nós da cidade: “A área mais urbanizada da cidade foi construída em cima desses campos de cerrado, se não tivesse cerrado, não teria a cidade de São Paulo”. 

Medida visa combater emissões de gases do efeito estufa, com regras que obrigam empresas a compensar poluentes
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
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21/11/2024 - 12h

 

Floresta Amazônica
Floresta Amazônica / Foto: Neil Palmer

 

 

A Câmara dos Deputados aprovou, nesta terça-feira (19), o Projeto de Lei 182/2024, que cria o Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SBCE). O objetivo da proposta é estabelecer um mercado regulado de carbono, com o intuito de controlar e reduzir as emissões de gases que agravam o efeito estufa, oferecendo incentivos para que as empresas adotem práticas mais sustentáveis.

O novo sistema funcionará com a criação de cotas de emissão de gases chamados créditos de carbono. Esses créditos são certificados emitidos a partir de ações que reduzem ou capturam gases de efeito estufa. Cada crédito equivale a uma tonelada de dióxido de carbono evitada ou retirada da atmosfera. Eles podem ser comercializados tanto por estatais quanto por empresas privadas.

As empresas que ultrapassarem seus limites de poluição terão que compensar com a compra de créditos. Em contrapartida, aquelas que conseguirem reduzir suas emissões, poderão vender esses créditos, o que gera uma fonte de receita para as práticas mais ecológicas.

A proposta foi idealizada para tornar o mercado mais eficiente e permitir a redução dos impactos ambientais provocados pelas indústrias. 

O projeto foi discutido e aprovado em uma sessão no plenário da Câmara, e agora segue para sanção presidencial. A proposta foi trabalhada em conjunto com o Senado, que já havia aprovado uma versão anterior. O texto estabelece um marco para a criação de um sistema transparente e confiável de monitoramento e controle das emissões no Brasil.

Além disso, o projeto inclui mecanismos de compensação de emissões para veículos automotores e prevê a criação de fundos para apoiar projetos sustentáveis. O mercado será regulamentado por um órgão especializado, garantindo a transparência e a eficácia das ações.

Preservar as nascentes é essencial para garantir a sustentabilidade e qualidade de vida na cidade.
por
Majoí Costa
Nicole Conchon
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21/11/2024 - 12h

São Paulo, a maior cidade do Brasil, esconde um tesouro natural: as nascentes de água. Essas fontes de água, muitas vezes, são invisíveis aos olhos de quem vive na correria do cotidiano paulistano. Porém, se olharmos mais de perto, podemos perceber que são elas que abastecem os rios que cruzam a cidade e que são parte fundamental de um ciclo ecológico essencial para o funcionamento de toda a metrópole. Conhecer essas fontes de água é o primeiro passo para sua preservação e, assim, para a manutenção de uma São Paulo mais verde, mais saudável e mais sustentável.

De acordo com a Secretaria do Verde e Meio Ambiente da cidade de São Paulo, há 10.403 nascentes só na capital. Essas fontes de água são vitais para o abastecimento hídrico da cidade e para o equilíbrio do ecossistema urbano. Mas o curioso é que a maioria da população desconhece sua importância ou, em alguns casos, tenta ocultá-las por acreditar que elas representam um problema. Esse comportamento leva algumas pessoas a cobrir ou "tapar" essas nascentes, o que compromete não só o abastecimento de água, mas também a biodiversidade local.

De acordo com o arquiteto e fundador da ONG Rios e Ruas, José Bueno: “A população foi ensinada a não gostar dos rios e a tratá-los como um problema urbano, mas na verdade os rios são a solução para uma cidade que enfrenta aquecimento global e mudanças climáticas extremas”. 

José andava de bike pelo Butantã quando percebeu que havia água e planta crescendo em uma linha específica da rua Iquiririm que tinha uma parte coberta por mato. Curioso, ele foi seguindo aquele rastro de vegetação e encontrou uma nascente. 

Essa nascente não tinha nome, então ele a nomeou de rio/riacho Iquiririm. Ela encontra com o rio Pirajussara Mirim, que, por sua vez, encontra com Pirajussara e deságua no rio Pinheiros. 

José Bueno junto com Luiz Campos Jr na nascente do Iquiririm
José Bueno junto com Luiz Campos Jr na nascente do Iquiririm / Foto: Arquivo Pessoal

Depois disso ele fundou, junto com seu amigo Luiz de Campos Jr., a ONG Rios e Ruas e publicou um livro sobre a presença dessas nascentes na cidade e como cuidar delas torna a cidade melhor. A intenção do projeto é mudar o nível de consciência não só da população da capital, mas do país inteiro para que as mudanças causem um impacto visível na sociedade. 

“Os rios estão pela cidade inteira, a maioria foi canalizada, desprezada, esquecida e apagada da memória. A má notícia é que eles estão longe da percepção, mas a boa notícia é que eles estão todos vivos, eles foram enterrados vivos”, acrescenta José. 

A importância dessas nascentes vai além de seu papel no abastecimento de água. Elas são fontes de vida para diversas espécies de fauna e flora e desempenham um papel crucial na manutenção da qualidade do ar e do clima na cidade. No entanto, sua preservação está diretamente ligada à conscientização da população sobre sua relevância. A falta de informação sobre o ciclo da água e sobre como o ecossistema urbano se relaciona com esses recursos naturais contribui para a negligência em relação a esses corpos de água.

José Bueno não é o único que luta pelos rios e nascentes na cidade de São Paulo. Adriano Sampaio largou sua vida na administração para fazer um curso de permacultura e nunca mais voltou atrás. Filho de nordestinos e neto de pescadores, Adriano se denomina como “da roça”. Anos depois de sua chegada em São Paulo, Adriano fundou o coletivo Existe Água em SP. “Eu sempre gostei da natureza, de pescar, mas não tinha espaço pra fazer isso em São Paulo até que eu percebi que existe sim natureza aqui, só é preciso encontrá-la”, afirma Sampaio.  

À direita, Adriano Sampaio em dos seus mutirões
À direita, Adriano Sampaio em dos seus mutirões / Reprodução: Facebook

 

E de tanto buscar, Adriano encontrou a Praça das Nascentes, local em que havia diversos charcos d’agua. Essa praça fica localizada em Sumaré, zona oeste de São Paulo. As águas da praça vêm de nascentes do córrego Água Preta. Esse córrego vai descendo, passa pelo Sesc Pompéia, até chegar no rio Tietê. 

Adriano e sua ONG, junto com o coletivo Ocupe e Abrace, juntaram todas essas nascentes e charcos d’agua e transformaram em um grande lago. 

Lago na Praça das Nascentes/ Foto: Divulgação
Lago na Praça das Nascentes / Foto: Divulgação

Adriano relata que sua vida se transformou quando começou essa luta em defesa dos rios e ainda diz: “Eu vejo os rios como artérias porque o planeta é um sistema vivo”. 

A gestão de áreas verdes e de rios precisa ser reforçada com políticas públicas que envolvam a comunidade, para que as pessoas compreendam a importância de manter essas fontes de água em seu estado natural.

Está em trâmite na Câmara Municipal de São Paulo um projeto de lei que visa criar Áreas de Preservação Permanente (APP) perto de cursos d'água naturais. O PL 4/2022,  apresentado pelo vereador Toninho Vespoli (PSOL), tem como justificativa a função de preservar os recursos naturais e garantir a segurança e o bem-estar da população.

Especialistas alertam a ultrapassagem do limite estabelecido pelo Acordo de Paris e destacam a rapidez assustadora
por
Leticia Alcântara
Sophia Razel
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19/11/2024 - 12h

É praticamente certo que 2024 irá bater recordes de temperatura e será o ano mais quente já registrado. Pela primeira vez, o planeta deve terminar o ano com a média de temperatura de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. Os dados são do relatório do Observatório Europeu Copernicus, divulgados no início de novembro, antes do início da Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP29). 

O relatório ainda mostrou que não só na Europa, mas também em regiões como o leste da Antártida, Texas, México, Canadá, nordeste da África, Irã, China, Japão e na Austrália as temperaturas também ficaram acima da média. Parte da América do Sul também enfrentou secas e incêndios florestais, como foi o caso do Brasil.

Bombeiros tentando controlar o fogo
Mudanças climáticas favorecem as queimadas Foto: Marcelo Camargo//Agência Brasil

Durante o primeiro dia da COP29, que acontece entre os dias 11 e 22 de novembro na cidade de Baku, no Azerbaijão, o relatório “Atualização do Estado do Clima 2024”  foi divulgado.

De acordo com análise feita pela Organização Meteorológica Mundial (OMM), organização da ONU, “as ambições do Acordo de Paris estão em grave perigo” uma vez que a temperatura global foi extremamente alta entre janeiro e setembro de 2024. Isso corrobora as projeções do Observatório Europeu, e destaca que 2024 deve ser o ano mais quente da história, superando 2023 que, até então, possuía o posto. 

Acordo de Paris e mobilização mundial 

O Acordo de Paris, tratado internacional que foi assinado em dezembro de 2015 e passou a valer em novembro de 2016, foi adotado por 195 países e tem como objetivo reforçar a ação global contra as mudanças climáticas. Dentre os propósitos, destacam-se reduzir os gases de efeito estufa, como, por exemplo, o dióxido de carbono - que se origina do uso intenso de combustíveis fósseis -, e manter  o aumento da temperatura global abaixo de 2 °C até o final do século. Isso inclui uma série de esforços para limitar esse aumento a 1,5°C. Diante dos dados apresentados, a meta deve ser quebrada.

A vitória do republicano Donald Trump nas eleições dos EUA coloca em xeque as negociações globais futuras e participação estadunidense do acordo.  Em 2017, durante seu primeiro mandato, Trump retirou o país do acordo; tal atitude causou preocupação mundial, já que se trata do segundo país com maiores níveis de emissão de gases de efeito estufa do mundo, perdendo apenas para a China. No início de 2021 seu então sucessor, Joe Biden, voltou a aderir ao acordo. Com o seu retorno à Casa Branca existe forte especulação de uma nova saída.

Quais são as consequências 

Danos climáticos já passaram a ser observados nos últimos anos. O aumento da temperatura dos oceanos, a elevação do nível do mar, incêndios florestais e o derretimento de geleiras são alguns deles. 

Há pelo menos uma década, cientistas já alertam para os perigos iminentes das constantes mudanças climáticas resultadas pelas ações humanas, que estão causando constante destruição e perdas irreparáveis. Desde as ondas de calor intensas à chuvas torrenciais, os efeitos já estão sendo sentidos e, se não controladas as mudanças, a tendência é piorar. 

A OMM ainda alerta para a necessidade urgente de medidas para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e garantir preparo para lidar com as consequências, especialmente em relação a pessoas em situações de vulnerabilidade.

 

Passando por vendavais repentinos e temperaturas mega variantes, fatores - para além do clima - fazem o tempo parecer imprevisível
por
Gisele Cardoso
Maria Eduarda Anjos
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08/11/2024 - 12h

Outubro foi um mês marcante para São Paulo. Na noite do dia 11, rajadas de vento de até 107,6 km/h surpreenderam a população paulista e deixaram sem energia elétrica mais de 496 mil residências na capital e 3,1 milhões no estado, além de gerar telhados arrancados, árvores derrubadas e um apagão que duraria até 5 dias em determinadas regiões. Ainda impactados com a destruição deixada, paulistanos foram notificados da possibilidade da queda de granizo e ventos a 60 km/h no final de semana seguinte. Na chegada da sexta-feira (18), o clima não poderia estar mais distante do previsto, apenas com uma leve garoa.

 

Esse cenário de inconsistência planta a dúvida: quais são os fatores que causam tamanhas alterações de tempo? Os sistemas de previsão ainda são eficazes para garantir que a população e órgãos públicos estejam preparados para lidar com crises climáticas?

 

Para entender a situação, é necessário compreender as movimentações maiores de clima e território. Por um lado, mudanças repentinas são mais comuns durante a primavera, por outro, seus efeitos em 2024 foram agravados por picos de temperatura inéditos. “As primeiras pancadas de chuva da primavera vêm com intensidade pois é o momento de virada entre o clima seco do inverno para umidade do verão. Tivemos um intenso período de estiagem e altas temperaturas no interior do Brasil, e quanto mais calor na atmosfera, mais energia para formação de nuvens de tempestade quando entra a frente fria" explica a especialista em meteorologia Maria Clara Sassaki.

 

A seca que a especialista menciona ainda afeta o país e compromete 55% do território nacional, segundo estudos feitos pela Universidade Federal de Alagoas. O Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais) relatou que, diferente do último recorde de secas em 2015, os impactos da falta de chuva e calor intenso não se restringiram ao norte e nordeste do país, mas se mostraram mais generalizados e intensos em todo território. No interior de São Paulo, as queimadas durante o mês de agosto deixaram a umidade do ar abaixo de 20% e temperatura acima de 35°C. O Monitor do Fogo do MapBiomas estima que a área queimada no Brasil cresceu em 150% em relação ao ano passado, totalizando uma área equivalente ao estado inteiro de Roraima.

 

A intensificação das secas impacta nos ventos extremos em São Paulo. fonte: Cemaden

 

Eventos extremos, como os ventos que passaram por São Paulo, são esperados pela meteorologia, mas o acúmulo de gases estufa na atmosfera, que é liberado pelas queimadas intensas - e por atividades humanas, como o uso de combustíveis fósseis -, agravam o aquecimento global e aumentam a frequência com que esses episódios acontecem. "O aquecimento global e mudanças climáticas tornaram esses eventos extremos mais recorrentes, e para isso, o modelo matemático usado para a previsão não estava preparado, como foi o caso do Rio Grande do Sul. Se o modelo não viveu aquilo antes, é difícil ter precisão nos impactos", comenta Sassaki, “são eventos que raramente acontecem e agora os detectamos com menos de um ano de intervalo entre si".

 

Maria Clara também afirma que os modelos matemáticos são constantemente atualizados para se adaptarem ao ritmo das mudanças temporais, e que ambos os vendavais em São Paulo foram previstos e notificados, mas se perderam em meio as notícias climáticas sobre o furacão Milton que atravessava os Estados Unidos naquela mesma semana. Sendo assim, até mesmo o espaço midiático contribuiu para um contexto de despreparo da população. “As atenções estavam voltadas para esse fenômeno que estava acontecendo com o furacão Milton. Havia um aviso da defesa civil e ele foi circulado entre os grupos, mas acabou se perdendo no meio de tantas notícias do furacão, foi uma falha na comunicação.”

 

Os alertas sobre esses eventos climáticos intensos, são emitidos pela Defesa Civil de acordo com os cenários mais preocupantes previstos, para que a precaução seja feita da forma mais eficiente possível. Por isso, no dia 18 de outubro houve a sinalização de uma segunda tempestade que não ocorreu, mas preparou as cidades caso acontecesse.

 

A analista de marketing, Maria Eduarda Frazzato, mora em Dolcinópolis (interior de São Paulo) e trabalha de forma híbrida para uma empresa localizada na capital. Com o alerta sobre a tempestade, sua empresa preferiu manter os funcionários em casa: “Eu voltaria para São Paulo na quinta, pois sexta seria meu dia presencial. Porém, com o alerta, meu chefe dispensou a equipe e mantemos o home office para evitar problemas na volta para casa”, relata Frazzato.

 

Algumas melhorias podem ser feitas para uma melhor previsão do tempo, como mais investimento para o aprimoramento das inteligências artificiais e modelos meteorológicos utilizados. “O Brasil tem pouquíssimos radares meteorológicos comparado com os Estados Unidos, por exemplo. Então se a gente aumentar essa quantidade, coletamos mais dados iniciais e abastecemos com com mais precisão os modelos que fazem as previsões", explica a especialista.

A Conferência das Partes (COP 28) começou na última quinta-feira, 30, em Dubai, e se encerra no dia 12 de dezembro.
por
Francisco Barreto
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05/12/2023 - 12h

As lideranças globais anualmente se encontram na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas para debaterem pautas relacionadas com o clima. O objetivo desta edição deve continuar o mesmo: limitar o aumento da temperatura do planeta para no máximo 1,5 °C, consenso firmado a quase quinze anos na França, no que ficou conhecido como "Acordos de Paris".

Cada edição é sediada em um país, neste ano o evento acontece nos Emirados Árabes Unidos, na cidade de Dubai. COP é a abreviação para "Conferência das Partes", as "Partes" são os países que ratificaram em 1992, no Rio de Janeiro, o primeiro acordo climático da ONU.

Controvérsias com o anfitrião  

Com um ano marcado por temperaturas recordes e catástrofes climáticas extremas, a escolha do país sede soou contraditória. Os Emirados Árabes Unidos são membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), além disso, é uma das 10 nações maiores exportadoras de petróleo do mundo, sendo responsável por cerca de 3% da produção mundial.

Para José Carlos Pedreira, engenheiro agrônomo formado pela UNESP Jaboticabal com especialização em Administração Rural pela Fundação Getúlio Vargas, a escolha do país como sede levou em consideração suas ações e histórico no combate a crise climática como o estabelecimento, em 2015, da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), instrumento pelo qual os países assumem compromissos voluntários para as questões climáticas no âmbito do Acordo de Paris.

"Entretanto, na opinião de muitos especialistas tudo isso não passa de lobby político visto que tudo indica que nos próximos anos a produção de combustíveis fósseis nos Emirados Árabes Unidos crescera consideravelmente", complementa Pereira.

Outra polêmica em torno do evento foi a nomeação de Sultan al-Jaber como o líder das negociações da COP 28. Al-Jaber é, atualmente, o presidente da Empresa Nacional de Petróleo de Abu Dhabi (ADNOC), a petrolífera estatal do emirado mais rico do país.

O líder das negociações da COP 28 e  presidente da ADNOC, Sultan al-Jaber. Fonte: Folha de São Paulo
O líder das negociações da COP 28 e  presidente da ADNOC, Sultan al-Jaber. Fonte: Folha de São Paulo

Em 2022, a ADNOC emitiu cerca de 24 milhões de toneladas métricas de gás, entretanto a estatal se comprometeu a eliminar suas emissões de CO, até 2030 e antecipou sua meta de Net Zero para 2045. O Net Zero é uma meta de longo prazo em que compensações somente são permitidas para aquelas pequenas frações de emissões inevitáveis. As promessas foram recebidas com ceticismo pois na última década a ADNOC não apresentou os relatórios de emissões de metano à ONU.

Sede da ADNOC, a petrolífera estatal do Emirado de Abu Dhabi. Fonte: ADNOC
Sede da ADNOC, a petrolífera estatal do Emirado de Abu Dhabi. Fonte: ADNOC 

Os Emirados Árabes Unidos terão uma produção de petróleo e gás estimada em 3.300 mil barris por dia, até o fim deste ano, segundo a Mordor Inteligence, portal focado na pesquisa de mercado.

Em maio do ano passado a estatal anunciou duas grandes descobertas: a primeira foi uma reserva de 650 milhões de barris de petróleo bruto em Abu Dhabi e uma gigantesca reserva de gás, medindo entre 1,5 a 2 trilhões de pés cúbicos de commodities. Tanto o petróleo quanto o gás são combustíveis fósseis responsáveis pelo agravamento das mudanças climáticas.

A ADNOC pretende aumentar, em cinco anos, sua produção de petróleo e gás diária para 4.939,24 mil de barris, a um CARG de 8,40%. O CARG é a taxa de crescimento anual composta é um modo de calcular a taxa média de crescimento de um investimento ao longo de determinado tempo, ajustada para a variação anual. A estatal prometeu, em novembro de 2022, investir uma quantia de US$ 45 bilhões nos próximos 5 anos, para que este aumento de produção seja possível.

A BBC News apontou, segundo documentos vazados, que os Emirados Árabes Unidos possuem interesse em utilizar seu papel de anfitrião na COP 28 para firmar acordos sobre petróleo e gás. Tudo indica que irá usar sua influência de país sede para direcionar o foco da COP de Dubai para o uso do solo, jogando mais responsabilidades e os custos para países em desenvolvimento e produtores de alimentos, com o Brasil, Sudeste Asiático e continente africano.

Pereira acredita que a questão não se traduz necessariamente como "conflito de interesse" e que cada país tenta atribuir as causas e responsabilidades que são seu "foco/prioridade"

"Pesa a favor dos países produtores de petróleo o fato que o mundo ainda depende dos combustíveis fósseis para seu suprimento de energia, cuja restrição vai exigir uma mudança geral muito grande de modelo de produção e consumo {...} Focar nos sistemas agroalimentares, em grande parte presentes nos países tropicais em desenvolvimento, atenua as restrições aos países temperados e desenvolvidos" , afirma.

Passado quase um ano, liderança indígena Yanomami fala sobre atual momento de seu povo, após Ministério da Saúde declarar Estado de Emergência de Saúde Pública na região
por
Artur Maciel
Bianca Abreu
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23/11/2023 - 12h

 

Em 20 de janeiro deste ano, o território Yanomami foi declarado em Estado de Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional pelo Ministério da Saúde brasileiro. Concentrados em uma região Amazônica entre o Brasil e a Venezuela, com cerca de 30,4 mil habitantes, Yanomamis sofrem com a intensa atividade de garimpos ilegais no local. Epidemias - como gripe e malária - insegurança alimentar, morte sistemática de crianças indígenas e destruição do meio ambiente são provenientes das ações dos extrativistas na região.

Em entrevista por telefone ao repórter Artur Maciel, da Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT), o presidente do Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami (Condisi) e representante do Conselho de Saúde Indigena (SESAI), Júnior Hekurari Yanomami, fala sobre a importância da atuação do poder público no combate ao genocídio provocado pela extração ilegal de minérios.

 

Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental
Junior Hekurari Yanomami momentos antes do IV Fórum das Lideranças Yanomami e Ye’kuana. Foto: Fabricio Araújo/ @Socioambiental

 

“A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”. Júnior Hekurari Yanomami

A fim de combater a desassistência sanitária no território Yanomami, o Ministério da Saúde instalou o Centro de Operações de Emergências em Saúde Pública (COE - Yanomami) - cuja gestão está sob a responsabilidade da SESAI. Segundo a pasta, ao chegar na terra Yanomami, o órgão “se deparou com crianças e idosos em estado grave de saúde, com desnutrição grave, além de muitos casos de malária, infecção respiratória aguda (IRA) e outros agravos”.

“Durante 6 meses, muita gente voluntária. Médicos. Enfermeiros. Farmacêuticos. De São Paulo, Rio de Janeiro, Paraíba”, explica Júnior Hekurari, quando questionado sobre o suporte atual na região após declarada crise sanitária. “A ajuda aos Yanomami deu esperança de poder olhar de novo. Olhar o sol brilhante na floresta que estava no escuro”.

Segundo ele, “antes não tínhamos uma visão, apenas medo. O garimpeiro poluindo nossas terras. Nossas águas. Interrompendo nossos rituais. Culpa do governo ladrão de jóias. As crianças voltaram a brincar e andar depois das ações”. “Eu tinha medo do povo morrer. Sem o Lula, o povo Yanomami ia morrer. Em 2020, 2021, 20 mil garimpeiros destruíram nossas vida” desabafa, citando o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, e a atuação do Estado na crise humanitária. Mas pontua com veemência que “ainda tem muita coisa a melhorar”.

Quando perguntado sobre como era tratado o impacto ambiental na região, em relação ao lixo gerado pela atividade garimpeira, o presidente do Condisi declara que “os garimpeiros não respeitam. Desmatam e tiram a terra de nossa vida”. “Durante 4 anos, fomos abandonados pelo governo brasileiro. Por um governo ladrão de jóias. Agora o governo voltou e os profissionais de saúde estão apagando o fogo das emergências pensando em uma restauração”, completa. Ele se refere ao governo do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL), que não raras vezes, ao longo de sua vida pública, legitimou publicamente as atividades ilegais dos garimpos.

 

Doença, fome e violência: genocídio em prática

As doenças, a insegurança alimentar, a violência e a morte passaram a fazer parte do cotidiano dos Yanomami diante da negligência do Estado em frear a extração indevida de minérios na região. De acordo com levantamento do Malária Journal, o aumento do número de casos de malária - causa recorrente de mortes de crianças indígenas - na região Yanomami saltou de 2.559, em 2010, para 18.765, em 2020. Sobre a presença da doença na região, o representante da Sesai afirma que a doença contamina até mesmo quem vai em seu combate. “Muitos dos médicos 'adoeceu'. Pegou malária e voltaram (para casa)”, conta. “Mas o importante é que a maioria 'desse' profissionais viram Roraima. Viram o Brasil!”, completa, demonstrando, em sua voz, um misto de preocupação pela saúde dos profissionais e esperança diante da visibilidade à situação de seu povo.

Outro aspecto da presença dos garimpeiros na região é o acúmulo de lixo nas proximidades das comunidades. Por conta disso, os indígenas locais entram em contato com elementos provenientes de fontes aquém da natureza - produzidos com materiais que não se reintegram àquele território. Pelo contrário, o desequilibram e o prejudicam. “Hoje tem lama em todo lugar, os garimpeiros deixaram lixo em todo lugar. Máquinas, latas e lixo”.

O que nos leva a outro problema que compõe esse efeito dominó no descaso com a saúde Yanomami: a fome. A alimentação indígena é, primordialmente, garantida pela natureza por meio da caça, pesca e consumo de frutas. Diretamente afetada pelo uso de mercúrio no garimpo, a água foi contaminada. Com isso, peixes mortos, impróprios para consumo, perdem-se nos rios onde a atividade garimpeira está. “O garimpo destruiu nossos rios. Nossas vidas. As mulheres não iam pescar. Não tinha peixe nem camarão para comer. Mataram tudo, não tinha alimento”, aponta Junior. E questiona, em seguida: “que dia vamos voltar a comer peixe? Voltar a comer camarão? O povo não tem”.

Além da malária e da fome, os indígenas ainda precisavam se proteger de outro perigo. Júnior Hekurari Yanomami denuncia que os crimes cometidos pelos garimpeiros também se estendem à violência sexual. Deixando, ainda mais evidente, o risco que a presença desse grupo não-indígena e extrativista provoca na população local. “O que aconteceu aqui foi muito traumático. Meninas de 12 anos grávidas. Estupradas por garimpeiros. Estamos agregando trauma de mães com luta dos filhos. Deram tiros nas crianças”, expõe a liderança. “Destruíram meu povo. Tem cicatrizes grandes até hoje e vai demorar para curar. Talvez em 50 anos. Quem sabe se cura”, conclui, reflexivo.

 

*Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

A tecnologia voltada para o meio ambiente agora mostra o quão é viável progredir enquanto cuidamos do nosso planeta.
por
Nicole Keller Lekitsch
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22/11/2023 - 12h

As consequências para o meio ambiente devido à industrialização e do progresso tecnológico são evidentes globalmente. Antes o avanço da tecnologia e da indústria parecia contradizer os esforços em prol da sustentabilidade e preservação ambiental. Porém, a tecnologia voltada para o meio ambiente agora mostra o quão é viável progredir enquanto cuidamos do nosso planeta.

A tecnologia ambiental está se tornando um grande aliado na busca por soluções sustentáveis para os desafios enfrentados pelo planeta. Desde a diminuição de resíduos até o incentivo da utilização de energias renováveis, a inovação tecnológica possui é um dos protagonistas na preservação do meio ambiente.

As energias renováveis, solar e eólica, ganharam foco quando o assunto é tecnologia ambiental, investindo para a elaboração de painéis solares mais eficientes, turbinas eólicas de mais tecnológicas e sistemas de armazenamento mais rápidos para fontes de energia limpa e sustentável, para que dessa forma haja uma redução da dependência de combustíveis fósseis.

Com a ascensão de pautas voltadas para a energia sustentável, surgiu o programa REI, lançado pelos CIFs em 2021, buscando ajudar na expansão do uso de energias renováveis por países em desenvolvimento. O financiamento e a assistência técnica oferecidos pelo Programa de Integração de Energia Renovável dos CIFs tem como objetivo apoiar a integração da gestão de riscos climáticos no setor elétrico, reduzindo os efeitos da variabilidade e das mudanças no clima. Além disso, o programa ajuda os consumidores a se envolverem mais na energia, para fazer com que seja mais viável o uso dela quando precisamos.

A maneira como lidamos com resíduos também está sofrendo mudanças, desde a reciclagem avançada até o desenvolvimento de métodos mais eficientes de tratamento de resíduos, como a compostagem de resíduos orgânicos, a tecnologia está ajudando a reduzir o impacto dos resíduos no meio ambiente.

A compostagem, por exemplo, é um processo natural em que materiais orgânicos, como restos de comida e resíduos biodegradáveis são decompostos por microrganismos em condições controladas, transformando esses resíduos em adubo orgânico. Sendo uma alternativa para a diminuição do desperdício e o consumo de agrotóxicos, pois produz um fertilizante natural.

A Internet das Coisas também é um recurso que pode auxiliar no meio ambiente, sendo usado para monitorar, gerenciar recursos da natureza e controlar o uso de agrotóxicos. Através de sensores inteligentes pode rastrear a qualidade do ar, da água e do solo, fornecendo dados em tempo real que ajudam na identificação de áreas com problemas ambientais e facilitam uma resposta mais rápida a eventos como vazamentos de substâncias tóxicas.

A utilização de câmeras IP usadas em análises de imagens também é um recurso útil para a identificação da presença de insetos ou doenças.

Entretanto, apesar de resultados otimistas da implementação desses recursos, há grandes desafios, como o custo e investimento para o desenvolvimento dessas tecnologias e regulamentações governamentais. Não se pode esquecer da necessidade de abordar o tema de maneira holística e colaborativa entre países e setores, convencendo-os a investir na prática.

A tecnologia ambiental é um grande apoio pela sustentabilidade e pela preservação do planeta. Com inovações surgindo constantemente, é essencial encarar os desafios e fazer com que essas tecnologias sejam aplicadas de forma eficaz e acessível, para que dessa forma haja uma mudança e melhora considerável na proteção do meio ambiente.

 

Discussão sobre o controle de destruição do litoral vem a tona pelas temperaturas e aumento de lixo plásticos nos mares
por
Gabriel Ferro
Gabriel Borelli
Pedro Rossetti
|
17/11/2023 - 12h

           Principalmente focado nas questões de aquecimento global, o debate pelas causas ambientais são de grande importância e vêm sendo mais corriqueiras no dia a dia. Questões de clima e lixo excessivo são cruciais, porém, casos como esse podem agravar e se relacionar com outros problemas que vêm sendo enfrentados atualmente, como a preservação da fauna brasileira.

            Por conta disso, a matéria a seguir irá tratar e discutir o que vem sendo feito pela preservação marinha nas costas do país. Sabe bem que o Brasil tem uma grande extensão litoral que é banhado 100% pelo Oceano Atlântico, e com mais de 7000 quilômetros divididos em 17 estados, está entre os 15 países com maior litoral nacional do mundo. A partir desse dado, é nítida a necessidade de um grande número de pessoas voltadas para o cuidado dessa gigantesca beleza natural.

Apresentando jurisdição sobre mais de 3,5 milhões de km² de águas costeiras com extensos estuários, lagoas costeiras, manguezais e mais de 3000 km de recifes de corais, o Brasil tem enfrentado desafios na conservação marinha que estão se tornando significativos. Em torno de 1.173 espécies brasileiras estão listadas como espécies ameaçadas de extinção, com isso, é papel do poder público a criação e organização de um bom Sistema de Unidades de Conservação (UCs). Hoje são 102 unidades de conservação por toda a costa brasileira, de modo que apenas 1,5% de todo o litoral é protegido pelas UCs, o que é muito abaixo da meta definida pela Convenção sobre Diversidade Biológica, que estipulava 10% de regiões protegidas até 2010.

Especialistas reportam que no Brasil, os governos federais, estaduais e municipais não possuem uma estrutura administrativa que priorize a gestão e governança das praias. Isso resulta em uma implementação prática limitada ou ausente das políticas públicas relacionadas a esses ambientes. Além disso, alertam que há também uma falta de cultura de planejamento a longo prazo, compreensão prática do ciclo político envolvido na gestão e governança, bem como diretrizes claras para promover a sustentabilidade nas praias pelos diversos setores econômicos, como turismo, comércio e serviços.

            Em um trabalho publicado pela revista Diversity and Distributions, foi feito um mapeamento sobre a distribuição de ameaça à biodiversidade marinha no Brasil. Foram identificados 286 mil quilômetros quadrados de áreas prioritárias para conservação, tendo em vista as 143 espécies ameaçadas, os 161 habitats marinhos e 24 fatores de impacto humano. Correspondendo a uma área do tamanho do estado do Rio Grande do Sul, a região representa menos de 8% da Zona Econômica Exclusiva do mar brasileiro.

O mapa abaixo apresenta essa região, localizando problemas maiores principalmente na região sudeste, que é marcada pelas ameaças humanas:

Mapas de locais da região costeira com ameaças, prioridades de proteção e prioridades máximas
Mapas de locais da região costeira com ameaças, prioridades de proteção e prioridades máximas

O primeiro indica as ameaças na costa, com foco maior na região Sul, Sudeste e Norte, porém, no segundo é possível identificar as regiões de prioridade que é distribuída por toda a ZEE. Por fim, o terceiro mapa apresenta as prioridades máximas, no sudeste e na região sul da Bahia. Para analisar mais a fundo esses problemas, é preciso voltar-se para as principais ameaças à fauna e flora da costa brasileira.

            Relacionada totalmente a ações humanas, a destruição da costa brasileira se dá pelos seguintes fatores:

     Poluição: com foco nas regiões mais populosas, a população provém de descargas de esgotos, vazamentos de petróleo e ansiosamente os descartes de lixo plásticos e redes marinhas.

     Destruição de habitats: pode ser causada por questões como a pesca predatória, a extração de recursos naturais e obras dentro do oceano.

     Aquecimento global: gera o aumento de temperatura da água, que compromete a sobrevivência marinha

Plástico nos oceanos pode superar os peixes até 2050
Plástico nos oceanos pode superar os peixes até 2050

Casos como esses são determinantes para a destruição da costa, que é um grande atrativo do Brasil, que conta com a maior biodiversidade do mundo, dito isso, o país conta com diversos projetos e observatórios responsáveis pela manutenção e análise do litoral, tudo para garantir a preservação. Ações do cotidiano já podem ser feitas para diminuir a destruição da região, como utilizar materiais reutilizáveis ou biodegradáveis e principalmente, praticar atividades de forma responsável e ecológica, fazendo com que o turismo, que é fonte de renda de grande parcela da população, possa ser feito sem atingir a fauna e flora marinha.

Quando questionada sobre quais as possíveis ações para preservar e trabalhar de forma mais elaborada a conservação de faunas, e em especial a marinha, a bióloga Júlia Dalto relatou: “Para preservar a fauna e flora de qualquer ambiente, existem diversos planejamentos de conservação, como a criação de parques ecológicos, áreas de proteção, como o uso sustentável de áreas protegidas”.

Sobre áreas de fauna aquática, Júlia completou: “Se tratando da fauna marinha, sabe-se que essa pertence a um habitat extremamente atingido pelas ações antrópicas, desde a exploração excessiva das espécies à contaminação da água por diversos fatores, como a falta de tratamento e descarte de efluentes”. A bióloga de 24 anos também descreveu que as mudanças climáticas estão acelerando cada vez mais e, portanto, é necessário um olhar mais crítico da sociedade quanto aos hábitos diante da natureza: “A educação ambiental deve ser mais presente no cotidiano”.

Principais pontos de observação de animais
Principais pontos de observação de animais

Outro fator pertinente que afeta diretamente a integridade dos mares e fauna presente, é o do lixo direcionado a essas regiões. A falta de reciclagem muitas vezes é um dos principais fatores atuantes em ocasiões desse gênero. Segundo Daphine Herrera, bióloga, pesquisadora e pós-doutoranda na UNESP-Bauru, essa falta de reciclagem é um dos pilares da problemática da poluição plástica; “Para se ter uma ideia, em 2019 houve uma produção global de 368 milhões de toneladas de plástico. Os relatórios atuais preveem que, no rumo atual, os oceanos conterão mais plástico do que peixes até 2050 (peso)”. “As questões mais urgentes a serem abordadas agora são sobre como reduzir o volume de fluxos de resíduos plásticos descontrolados ou mal geridos que vão para os oceanos, e como aumentar o nível de reciclagem”. Dos 7 bilhões de toneladas de resíduos plásticos gerados globalmente até agora, menos de 10% foram reciclados.

A respeito do lixo mal direcionado aos mares na fauna presente, a bióloga natural de Lins - São Paulo completou: “É importante ressaltar que as micropartículas, quando introduzidas no ambiente marinho, ficam disponíveis para toda a cadeia alimentar. Pesquisas concluíram que as partículas de tamanho reduzido que entram na cadeia alimentar podem se acumular em predadores de topo - como peixes, aves, mamíferos marinhos e seres humanos - levantando preocupações sobre o potencial de bioacumulação e biomagnificação.”

Quanto aos impactos diretos, reportou que estes variam desde a morte de organismos por emaranhamento em detritos plásticos em forma de corda ou laço. “A ingestão de detritos plásticos é o tipo de interação mais estudado. A absorção de macroplásticos pode resultar em bloqueio ou lesão dos intestinos, levando à redução da ingestão de alimentos ou até mesmo à morte”.

Daphine também relatou que os plásticos ingeridos podem criar uma falsa sensação de saciedade, fazendo com que o animal coma em excesso ou pouco, afetando sua forma física, crescimento e reprodução, além também dos sufocamentos que podem ocorrer, restringindo a movimentação e lesões de diversas espécies marinhas. Por fim, Herrera alertou: “O plástico pode promover a dispersão de espécies para além de suas áreas geográficas normais, contribuindo para a disseminação de espécies invasoras”.

O gráfico abaixo, proveniente do órgão “Recicla Sampa”, ilustra a quantidade de plásticos identificados nos oceanos ao redor do mundo entre 1990 e 2019.

Grafico sobre a quantidade de plástico no oceano de 1990 a 2019
Grafico sobre a quantidade de plástico no oceano de 1990 a 2019

A luta pela preservação marinha é fundamental e deve ser espalhada por todo o país, pela proteção de belezas naturais, faunas, e o oceano como um todo. No Brasil, atualmente, nos 1.173 táxons oficialmente reconhecidos como ameaçados, estão 110 mamíferos; 234 aves; 80 répteis; 41 anfíbios; 353 peixes ósseos (310 de água doce e 43 marinhos); 55 peixes cartilaginosos (54 marinhos e um de água doce); 1 peixe-bruxa e 299 invertebrados.

 

Esta reportagem foi produzida como atividade extensionista do curso de Jornalismo da PUC-SP.

Os eventos climáticos têm aumentado e se tornado mais intensos no país continental, os desastres causados por tais evidenciam o despreparo humano em lidar com a natureza e seus eventos
por
Alice Di Biase
Annanda Deusdará dos Santos
Nina Januzzi da Gloria
|
13/11/2023 - 12h

 

Não é de hoje que o Brasil é caracterizado por eventos climáticos extremos. Porém, o ano de 2023 foi marcado por eles do começo ao fim. Não houve um mês do ano em que os grandes veículos de jornalismo não noticiaram as chuvas ou longos períodos de estiagem e suas consequências no cotidiano das populações afetadas. 

Chuvas intensas, ondas de calor, incêndios florestais, secas extremas: esses eventos climáticos têm aparecido com mais frequência por causa do El Nino e tem se tornado mais intensos e catastróficos. Com isso tem se debatido o papel das mudanças climáticas nesses eventos que tendem a ser mais frequentes. 

O que é o El Nino e como ele afeta o Brasil

O fenômeno ocorre geralmente no segundo semestre do ano e não apresenta período de duração específico, podendo persistir por até 2 anos. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), ele consiste no aquecimento anormal da superfície do Oceano Pacífico na região da linha do Equador, afetando toda a costa da América do Sul. Durante esse período a temperatura das águas sofre acréscimo de, pelo menos, 0,5 graus Celsius. 

Os chamados ventos alísios apresentam papel fundamental na formação do fenômeno: são ventos constantes que empurram as águas da superfície, e assim, permitindo com que as águas frias das profundezas subam. Porém durante esse período essa troca não ocorre, pois os ventos estão enfraquecidos ou praticamente inexistentes. Assim, a água quente permanece na superfície por mais tempo e pode chegar até 3 graus acima da média.

El Nino no Brasil Fonte: INMET (Instituto Nacional de Meteorologia) 

Por estar muito mais quente que o normal, a água da superfície do Pacífico evapora mais facilmente e forma nuvens carregadas aumentando a umidade, ocasionando em maior probabilidade de chuvas no Sul e Sudeste. Isso ocorre porque a circulação de ventos causada pelo El Nino interfere na circulação habitual dos ventos, funcionando como uma barreira que impede que as frentes frias cheguem ao Hemisfério Sul. Permitindo que as nuvens de chuva que se formam com intensidade no meio do Oceano Pacífico cheguem à região Sul e permaneçam por mais tempo na região.

Por outro lado, o evento meteorológico provoca longos períodos de seca e estiagem na região Norte e Nordeste, o ar quente e seco circula e atinge a região norte, dificultando a formação de nuvens de chuva no Norte e Nordeste do país.

Chove chuva, chove sem parar

O cenário é alarmante, como foi alertado por diversos estudiosos do aquecimento global e das mudanças climáticas. Assim como resumido no Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC em inglês) em março deste ano: em sincronia com o aumento da temperatura média global são previstas elevações na quantidade total de chuvas no território brasileiro, principalmente na região Sul e Sudeste – onde se concentra a maior parcela da população. 

Mesmo com diversos alertas e previsões de chegadas de ciclones extratropicais ao país, não foi possível conter os estragos e as mortes causadas por tamanho volume de água em poucos dias. Foi o que ocorreu em fevereiro no litoral norte de São Paulo: um ciclone extratropical de pequeno porte atingiu a região, entre os dias 18 e 19. Em comparação com médias históricas, choveu em 24 horas o que era esperado para os meses de janeiro e fevereiro, principalmente nos municípios de São Sebastião e Bertioga. Foi registrado respectivamente a pluviosidade de 627 mm e 683 mm – segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), a maior pluviosidade registrada no país em um período tão curto de tempo. Os maiores estragos ocorreram na região da Vila do Sahy e foram registradas no total 65 mortes, tendo 64 delas ocorrido em São Sebastião.

Fortes chuvas atingem litoral de SP (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

A alta na pluviosidade é esperada na região nessa época do ano, porém, por uma combinação de fatores climáticos fez com que o litoral norte fosse atingido por um volume altíssimo de chuva em poucas horas. Quando se fala em 683 mm, muitas pessoas se assustam, no entanto muitos não entendem o que representa e como é calculada a pluviosidade. Um mm de chuva registrado é equivalente a 1 litro de água sobre a área de um quadrado com 1 metro de lado. Então, quando se fala de 683 mm de água significa que caíram 683 litros em um único metro quadrado.

Em contribuição para a Revista Pesquisa Fapesp, Pedro Camarinha, pesquisador especialista em mudanças climáticas e desastre no Cemaden explica que: "Parte dessa chuva poderia ter caído sobre o mar ou se deslocado para outros pontos, mas uma série de fatores conhecidos atuou para que ela tenha ficado parada ali por muito tempo". O aumento da temperatura na superfície dos oceanos e a mudança na participação dos ventos fizeram com que a chuva intensa permanecesse por mais tempo no litoral.

Infográfico sobre as fortes chuvas no sul e sudeste brasileiro. Fonte: Annanda Deusdará

Outros eventos climáticos extremos relacionados à chuva chamaram a atenção pela intensidade com a qual atingiram o país, principalmente a região sul. Tempestades e ciclones extratropicais atingiram a região em diversos momentos do segundo semestre do ano, o mais recente foi em Santa Catarina. O Vale do Itajaí, que circunda o Rio Itajaí-açu foi a região mais afetada, cidades como Taió e Rio do Sul ficaram em estado de calamidade pública. A terceira maior cidade do estado, Blumenau, teve a maior enchente desde 2011 devido ao aumento assustador do nível do rio. O rio Itajaí-açu apresenta nível médio de 4 metros e chegou aos 10,8 metros, de acordo com a prefeitura. 

Durante o período de chuvas extremas na região, diversos catarinenses ficaram desalojados e muitos desabrigados, comportas de barragens permaneceram fechadas para ajudar na contenção do volume de chuva e diversas avenidas foram interditadas, impedindo a chegada e saída da população e de cargas. 

 

A parte humana da chuva 

Os desastres que ocorreram devido às chuvas denunciam o despreparo e a negligência por parte do poder público ao lidar com a natureza. A tecnologia de previsões meteorológicas avança cada vez mais e atualmente é possível prever com semanas de antecedência chegadas de frentes frias, tempestades e ciclones. O pequeno ciclone que atingiu o litoral norte de São Paulo em fevereiro que deixou 65 mortos foi visto claramente via satélite. Caso tivesse sido alertado com antecedência e feito o devido processo de evacuação, as mortes poderiam ter sido evitadas?

Todo o litoral norte passou destruição: de bens materiais, casas vieram abaixo, moradores ficaram sem energia por horas e em média 2 mil pessoas ficaram desalojadas. No entanto, os eventos climáticos extremos não atingem a todos da mesma maneira, acontecimentos como esse evidenciam o cenário de desigualdade do país. 

Das 65 mortes que ocorreram, 64 foram apenas em São Sebastião e a maneira na qual a região é ocupada apresenta relação direta com isso. No município, a maior parte da população se encontra em áreas de risco, como a Vila do Sahy – comunidade localizada no bairro Barra do Sahy onde as casas se aglomeram em encostas – a região sofreu com deslizamentos de terra e foi a mais afetada durante as chuvas. Já em Bertioga, houve muitas áreas alagadas, mas os condomínios de alto padrão que compõem a região, estão mais longe das escarpas montanhosas e não houve mortes. 

A demora e a dificuldade na reparação do estrago deixado pela chuva em Santa Catarina levou ao adiamento da famosa festa alemã de Blumenau, a Oktoberfest. Também deixou muitos catarinenses sem energia por dias e a interdição de estradas fez com que mercadorias não fossem entregues e que pessoas não retornassem para suas famílias. Luciana dos Santos, natural de Pouso Redondo (SC) que mora com o marido e a filha em São Paulo, conta sobre os dias sem energia e com medo das chuvas incessantes: “Além de ter ficado três dias sem luz, a bomba elétrica que bombeava água do poço pra minha casa também não funcionava, tive sorte que não entrou água na casa da minha mãe que fica na parte alta da cidade, mas ficar sem poder tomar banho de chuveiro, sem lavar louça é extremamente desconfortável. Com a vida que a gente leva hoje é inadmissível ficar nesse estado por tanto tempo”. 

Foto da cidade de Rio do Sul Fonte: divulgada nas redes sociais

A cidade de Pouso Redondo serviu como abrigo para as cidades vizinhas que foram destruídas pela chuva como Taió e Rio do Sul. Luciana conta que fez diversas tentativas para chegar até Rio do Sul - não existem ônibus de Pouso Redondo que façam viagem direta para São Paulo, o mais próximo sai de Rio do Sul – mas a estrada estava alagada e com uma fila de ônibus e caminhões esperando a água baixar: “Existia a possibilidade de passar de trator pela área alagada mas como ia seguir viagem depois disso? Achei melhor esperar para passar de ônibus. Foi desesperador passar por aquela água toda, tivemos que tirar tudo do bagageiro porque a água estava naquela altura já. Consegui chegar na rodoviária e pegar o ônibus para São Paulo, mas passar pela cidade foi muito triste: só via os telhados das casas, pessoas carregando uma televisão na mão porque foi a única coisa que deu pra salvar.” Tempestades e ciclones não são evitáveis, porém, tragédias são.

Cidade de Rio do Sul debaixo d’água. Fonte: Luciana dos Santos

Onde falta chuva

Segundo dados do Centro de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), que levam em conta os registros de volume de chuva (em milímetros) de toda a sua base histórica, quatro estados das regiões Norte enfrentam neste ano a pior seca desde 1980 por causa da falta de chuvas: Amazonas, Pará, Acre, Amapá.

Isso ocorre devido à junção de dois fatores: o El Nino e a distribuição de calor no Oceano Atlântico Norte. Essas duas situações fazem com que a temporada de chuvas que deveria começar em novembro, seja adiada para janeiro, agravando a seca.

O problema, que já afeta mais de 600 mil pessoas no Amazonas, é acentuado pelas queimadas na região, tendo como consequência grandes quantidades de fumaça que atinge Manaus e outras cidades em seu entorno, classificando a cidade entre as piores em relação a qualidade do ar do mundo em outubro e aumentando a ocorrência de doenças respiratórias comuns nesta época do ano.

O período de seca e queimadas é comum na Amazônia durante os meses de agosto a novembro, isso ocorre porque a baixa umidade do ar favorece a propagação do fogo. O problema é o agravamento dessas circunstâncias, como mostram os dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), a média de focos de calor na região no mês de setembro supera os 32 mil. 

Infográfico sobre os principais problemas da seca. Fonte: Annanda Deusdará

As dificuldades apresentadas pela seca vão além do calor extremo e agravamento de doenças, elas se estendem à falta de alimentos, água potável, racionamento de energia e restrição de mobilidade. De acordo com a Companhia de Águas e Esgotos de Rondônia (Caerd), pelo menos 15 mil pessoas são afetadas pela falta de água na região às margens do Rio Madeira. 

O baixo nível dos rios atrapalha a navegação dos barcos, deixando comunidades isoladas e sem alimentos. Segundo a Agência Reguladora de Serviços Públicos Delegados e Contratados do Amazonas (Arsepam), 90% das 136 embarcações que atuam nas 116 linhas do estado operam com alguma restrição.

No início de outubro (2), a concessionária Santo Antônio Energia, uma das maiores do país, suspendeu suas operações da hidrelétrica em Rondônia devido à seca do Rio Madeira, segundo a empresa os níveis de vazão do rio estavam 50% abaixo da média. O serviço voltou a funcionar após duas semanas, no dia 16 de outubro, segundo a empresa o nível da água subiu possibilitando a retomada das atividades, e reforçou que o processo foi feito com alinhamento com o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). 

O impacto também tem sido sentido na falta de insumos no Polo Industrial de Manaus (PIM). Entrevistado pelo G1 AM, Marcello Do Gregorio, diretor do Super Terminais, informou que muitos navios têm ficado pelo caminho, entre o Rio Amazonas e o Rio Madeira, já que não conseguem passar por esses trechos. Segundo ele, a seca impede o transporte dos navios cargueiros, que trazem os contêineres da Ásia com os insumos para o setor de eletroeletrônico. Em razão disso, 35 das mais de 100 grandes indústrias do PIM, irão dar férias coletivas para 17 mil trabalhadores por aproximadamente 2 semanas. 

Outro problema comum nessa época do ano é o fenômeno conhecido como “terras caídas”, isso acontece quando a água atua sobre as margens dos rios, causando erosão e abrindo extensas "cavernas subterrâneas", até que uma ruptura provoque a queda do terreno, que é tragado pelas águas.

Isso foi o que aconteceu com a comunidade ribeirinha de Vila Arumã na cidade de Beruri a 170 km de Manaus. Apesar de ser algo normal de acontecer, geralmente o nível de desmoronamento é pequeno, o que não ocorreu em Arumã, que teve mais de 40 casas engolidas pela lama no deslizamento, deixando duas pessoas mortas e outras feridas e desaparecidas. 

Conforme relatos de moradores, o fato ocorreu na tarde do dia 30 de outubro, quando o deslizamento de terra iniciou, muitos sentiram um forte tremor e quem conseguiu se proteger correu em direção à floresta. Uma base dos Bombeiros foi montada na Comunidade São Lázaro, que fica ao lado do local atingido, para coordenar os atendimentos e resgate.

 

Saúde em risco  

A seca colabora para o ressecamento da mucosa das vias aéreas, o que pode agravar problemas de saúde causados pelas queimadas, como alergias, asma e dermatites. Em consequência, delas também vêm infecções bacterianas como pneumonia e sinusite. Os grupos mais afetados são idosos, crianças e gestantes

Riscos da seca para a saúde Fonte: OMS e UNICAMP

Em entrevista ao Nexo, a pesquisadora de saúde pública na Fiocruz Piauí,  Beatriz Fátima Alves de Oliveira afirmou que, além de problemas associados às queimadas, a seca favorece doenças ligadas à disponibilidade de água, como as gastroenterites. Sem acesso à água potável, as pessoas podem ingerir líquido impróprio para consumo, entrando em contato com os microrganismos que causam as enfermidades. Essa junção de enfermidades pode sobrecarregar o sistema de saúde e prejudicar ainda mais comunidades isoladas pela baixa navegabilidade dos rios.

 

Fauna e Flora em alerta

No final do mês de setembro equipes de emergência encontraram 153 botos mortos no lago, ponto onde o rio Tefé se encontra com o rio Amazonas, o caso ocorreu devido ao aumento de mais de sete graus além do habitual alcançando 39,1°C, segundo o Instituto para o Desenvolvimento Sustentável Mamirauá (IDSM, na sigla em inglês) e o grupo ambientalista WWF-Brasil. Entre os animais encontrados estão o boto-cor-de-rosa e o tucuxi, ambos estão com risco de extinção segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), as espécies são consideradas um indicador importante da saúde das águas, flora e fauna habitadas por eles.

Boto morto encontrado no Rio Solimões            Foto: Yan Boechat

 

Medidas tomadas pelo governo

Através do decreto de estado de emergência, que se caracteriza pela iminência de danos à saúde e aos serviços públicos por conta de um desastre, os governos estaduais e federal criaram uma série de medidas para enfrentar a estiagem e seus efeitos na população.

Entre elas estão a dispensa de licitação de contratos de aquisição de bens como cestas básicas, que facilita o acesso rápido e volumoso das cestas possibilitando que mais famílias sejam ajudadas; a flexibilização da licença para abertura de poços artesianos; amparo a produtores rurais; suspensão de cobrança em restaurantes do programa Prato Cheio; intensificação do combate aos incêndios florestais; dragagem dos rios mais secos, retirada de sedimentos para aumentar a profundidade do rio; acesso a programas sociais federais e liberação de emendas parlamentares.

Antes do decreto, o governo do estado do Amazonas já estava realizando a chamada Operação Estiagem com recursos estimados de R$100 milhões em ações. O pacote de medidas inclui o apoio a famílias afetadas pelo desabastecimento, distribuição de cestas básicas e kits de higiene, renegociação de dívidas e fomento para produtores rurais

O governo federal anunciou que vai pagar um auxílio no valor de R$2.640 para pescadores que foram afetados pela seca no Norte do Brasil. A medida provisória (MP) foi assinada pelo presidente Lula no início do mês de novembro. O auxílio será pago em parcela única para pescadores artesanais beneficiários do Seguro Defeso que estejam cadastrados em municípios em situação de emergência, o recebimento da ajuda não interferirá no direito de outros benefícios.

Em entrevista ao Outra Saúde, o professor do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Bahia, Adelmir de Souza Machado, falou sobre soluções de médio e longo prazo para lidar com a crise climática.  Entre elas estão o investimento em educação ambiental em todos os níveis, criação de leis ambientais mais rígidas e ações preventivas para locais de risco, visto que o sistema meteorológico brasileiro é capaz de prever com meses de antecedência mudanças climáticas dessa magnitude.

 

Brasil e as ações contra a chuva e seca extrema

O país adota medidas para mitigar e prevenir os efeitos desses eventos extremos. Na região Nordeste, devido a propensão do local a secas, são adotadas como formas de contornar e mitigar a estiagem, a construção de cisternas, programas de distribuição de água e práticas agrícolas resistentes à seca.

Incentivo a práticas agrícolas resistentes a seca Fonte: Portal do Agronegócio 

 

Já em relação às chuvas intensas, cidades como São Paulo e Rio de Janeiro, implementaram ações como as obras no rio Tietê que passam pela capital paulista, abertura de piscinões, criação de um sistema de alerta e no interior carioca a contenção de encostas. 

No Sul do Brasil, região que sofreu durante o mês de outubro com as chuvas intensas, medidas também foram implementadas, como a contenção e sobrelevação de estruturas em barragens, adquirir radares meteorológicos e a criação de um Centro Integrado de Gerenciamento de Riscos e Desastres (Cigerd) que funciona 24 horas com acompanhamento meteorológico, segundo a Defesa Civil catarinense. 

Mesmo com essas ações adotadas pelo território brasileiro, situações como a seca extrema no Norte do país e as inundações no Sul, reforçam o despreparo, a precariedade e a má distribuição de recursos que ajudam a lidar com essas condições climáticas adversas. 

 

Eventos no globo e seus efeitos

Além do Brasil, diversos países do globo vêm enfrentando os efeitos das mudanças climáticas e os eventos climáticos extremos. À medida que essas situações se tornam cada vez mais frequentes, a preocupação global sobre a ocorrência de chuvas, secas e outros fenômenos, além dos desastres causados por eles, cresce. Desse modo, há um aumento na busca e criação de meios para se enfrentar e mitigar os impactos desses acontecimentos.

Dentre os países ao redor do mundo que lidam com esses eventos e que criaram métodos de mitigação e prevenção, temos:

 

1.  Japão: o país é propenso a chuvas fortes e tufões, que podem resultar em inundações e deslizamentos de terra. Buscando minimizar os impactos, desenvolveram um sistema avançado de alerta e criaram uma infraestrutura de contenção, que protege o local, em especial Tóquio, de enchentes.

Cisterna do reservatório, localizado em Tóquio, que protege cidade de enchentes Fonte: Getty Images

2.  Austrália: propensa a várias secas severas em diversas regiões do país, criou medidas como a gestão de água, auxílio financeiro aos agricultores afetados, investimentos em tecnologias de dessalinização e programas de conservação de água. O incentivo em tecnologias de dessalinização australiano vem crescendo, de modo que além de Perth, Melbourne e Adelaide se juntem à lista de lugares que realizam o processo. Juntas, elas fornecerão 130 milhões de litros de água por dia.

Planta de dessalinização de Perth Fonte:: www.abb.com

3.  Bangladesh: localizado no sul da Ásia, o país é suscetível a inundações sazonais em razão das monções. Por isso, tem investido em estratégias de resposta a inundações e de prevenção.

   Forte chuva em Daca, Bangladesh Foto: MUNIR UZ ZAMAN / AFP

4. Califórnia, EUA: estado no oeste dos Estados Unidos, a Califórnia vive secas recorrentes, o que faz com que as autoridades adotem diversas políticas, dentre elas a de restrição de uso de água, promoção de tecnologias de conservação, como a reciclagem de água, e a gestão de reservatório

 

Deck flutuante é visto na margem seca do Lago Hodges, próximo a San Diego, na Califórnia, (Foto: Mike Blake/Reuters)

 
 Atividade realizada para a disciplina de Oficina de Texto