Apontada como uma ferramenta no combate às mudanças climáticas, a nuclearização envolve questões colaterais complexas
por
Vítor Nhoatto
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30/05/2025 - 12h

O setor de energia respondeu em 2024 por 68% de toda a emissão de CO2 no mundo, segundo relatório da United Nations Environment Programme (UNEP). O gás é o principal causador do aquecimento global e precisa diminuir drasticamente nos próximos anos, apontando para a necessidade da chamada transição energética e descarbonização. Mudar a forma como se produz energia é um desafio, e a nuclearização ressurge como uma possível resposta.

A produção de energia a partir de material nuclear é antiga, e de forma simplificada funciona em algumas etapas. O combustível radioativo (urânio) tem seus átomos divididos no processo de fissão, liberando uma grande quantidade de energia que aquece a água em torno do reator e o vapor gerado acaba movimentando turbinas na usina que geram a energia. 

O que chama a atenção para a modalidade é a produção de grandes quantidades de energia com pouco material e baixa pegada de carbono em comparação aos combustíveis fósseis. De acordo com dados de 2020 da German Environment Agency levantados pela organização holandesa fundada em 1978, World Information Service on Energy (WISE), para cada Kwh gerado por usinas nucleares, cerca de 117 gramas de CO2 são emitidos. No caso do carvão e do gás natural as médias giram em torno de 950 e 440 gramas respectivamente. 

Cláudio Geraldo Schön, doutor em Ciências Naturais pela Universität de Dortmund, mestre em Engenharia Metalúrgica pela Universidade de São Paulo (USP) e professor titular na instituição destaca o potencial e a evolução nuclear com o passar dos anos. "Expandi-la poderia substituir as usinas termelétricas, diminuindo a geração de gases de efeito estufa [...] “o processo é continuamente atualizado, e resulta em avanços mesmo sendo uma tecnologia consolidada”.

Foi na extinta União Soviética que a primeira usina nuclear para uso doméstico começou a funcionar para contextualização, a Obninsk em 1954. Em seguida vieram outras, como a de Calder Hall no Reino Unido em 1956 e Shippingport nos Estados Unidos da América (EUA) em 1957. No Brasil, a usina Angra I foi a pioneira, com operações iniciadas em 1985.

Cinza e não verde

No entanto, o cinzento urânio traz um efeito não tão expressivo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), se a capacidade de produção nuclear triplicasse, a redução na emissão de CO2 do setor de energia seria cerca de apenas 6% devido principalmente à grande quantidade de carbono liberada na construção de reatores e usinas, que exigem grandes quantidades de recursos e décadas até começarem a funcionar, e para a mineração do urânio também. 

Além disso, a pegada de carbono das principais fontes renováveis de produção de energia são bem mais baixas que a nuclear. Ainda de acordo com o levantamento de 2020 da German Environment Agency, no caso da solar, cada Kwh emite algo em torno de 30 gramas de CO2, para a eólica a cifra é inferior a 10 e para a hidrelétrica de apenas 4 aproximadamente. 

Para o especialista sênior em energia nuclear e integrante da WISE International, Jan Haverkamp, a energia nuclear não é efetiva e nem tem a emergência climática como foco. “O uso do argumento climático é uma cobertura para outros interesses [...] os países com uso tradicional de energia nuclear não a desenvolveram devido às alterações climáticas, o fator inicial foi militar como EUA, China, Rússia e Brasil. Já para outros países era um sinal de importância, como no caso da Romênia, Bulgária e Coreia do Sul. Ou ainda visando a redução da dependência do petróleo como na Alemanha e Reino Unido, ou ainda uma tentativa fracassada de desenvolver uma fonte barata de energia como na Suécia e Canadá”.

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Última usina nuclear na Alemanha começou a ser demolida em 2023, mas novo governo de extrema-direita avalia reativar a base; “resumindo, para alguns é geopolítica” comenta Jan Haverkamp - Foto: Thomas Frey / DPA / Picture Alliance

Atualmente existem 437 reatores nucleares em funcionamento no mundo, que representam 14% de toda a energia gerada no mundo, de acordo com a World Nuclear Association (WNA). Os EUA ocupam a primeira posição do ranking com 96 unidades, com França, China e Rússia em seguida com 56, 55 e 37 cada, respectivamente. O país asiático tem planos inclusive de se tornar uma potência nuclear, e até 2035 ter o dobro da capacidade atual dos EUA. 

No caso do Brasil, a geração nuclear responde por apenas 2% da matriz energética, produzidos nas usinas Angra I e Angra II. Ambas fazem parte da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto, ao lado da Angra III, ainda em obras, e o complexo começou a ser construído durante a ditadura militar no país.  

Aquilino Senra Martinez, doutor em Ciências da Engenharia Nuclear pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia da Presidência da República explica as nuances da modalidade: “O seu uso para geração de eletricidade depende do contexto de cada país. Em lugares com alta demanda e poucos recursos renováveis, a sua expansão pode ser estratégica. No cenário das mudanças climáticas, ela não pode ser descartada, mas também não deve ser tratada como solução única".

Com dimensões continentais e clima tropical, o Brasil se destaca no cenário mundial justamente pelo seu potencial de produção energética renovável, e hoje é referência no quesito. O Balanço Energético Nacional (BEN) de 2024, feito pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) em parceria com Ministério de Minas e Energia (MME), constatou que foi de 49% o índice de energia proveniente de fontes renováveis. 

Mesmo assim, no fim do ano passado a usina Angra I teve seu licenciamento para operação renovado por mais 20 anos pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), órgão do Governo Federal, e demandará investimento de R$3,2 bilhões nos próximos 3 anos. A continuação das obras de Angra III seguem em análise, mesmo com a administradora das usinas, a empresa de capital misto Eletronuclear, tendo uma dívida de R$6,3 bilhões com a Caixa e o Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES). 

As operações no terceiro reator foram paralisadas em 2015 e voltaram somente em 2022 após reajuste do orçamento, com 65% das obras concluídas. Isso demandou um investimento até então de R$7,8 bilhões, e apesar da conclusão não ter sido incluída no novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) anunciado em 2023, estima-se cerca de R$20 bilhões necessários para tal.

Para Rárisson Sampaio, porta-voz da Frente de Transição Energética do Greenpeace Brasil, essas cifras revelam como a nuclearização desvia dinheiro necessário das fontes renováveis e ameaça um desenvolvimento sustentável e acessível. “O investimento em usinas nucleares não se conecta com a realidade do país, que poderia direcionar tais recursos para outras áreas, fortalecendo políticas como o Luz para Todos, que garante acesso a fontes de energia limpa, segura e barata, combatendo a pobreza energética e alinhando-se aos ODS da Agenda 2030”, diz Sampaio. 

Criado em 2003, o programa do Governo federal tem como intuito universalizar o acesso à energia no país, especialmente em áreas afastadas e periféricas e já impactou 17,5 milhões de pessoas. Para essa nova fase, uma das frentes é justamente possibilitar a instalação de placas solares em domicílios de baixa renda. 

Jan Haverkamp, da WISE, defende como em muitos países o investimento na energia nuclear desvia efetivamente o foco e dinheiro para medidas concretas no combate às mudanças climáticas, o que não é verídico: “As fontes de energia renováveis ​​produzem atualmente mais energia do que a nuclear em todo o mundo, e essa quantidade continua aumentando. A geração nuclear está mais ou menos estável há 3 décadas. A Finlândia, por exemplo, está atrasada na implementação de energia eólica desde que decidiu construir a usina Olkiluoto 3, que sofreu um atraso significativo”.

Segurança x planejamento

De acordo com estimativas de 2024 da Agência Internacional de Energia, a demanda energética global aumentará 4% ao ano entre 2024 e 2025, cifra bem maior que os 2,5% registrados em 2023. Os principais impulsionadores serão o maior uso de ar-condicionado devido justamente às mudanças climáticas, a progressiva eletrificação da frota de veículos, imprescindível na descarbonização do setor, e pelo avanço das Inteligências Artificiais (IA). 

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Demanda por energia pelas big techs só cresce, tal qual o uso de água potável para resfriamento dos computadores, o que aponta para uma necessidade de consciência ao usar IAs e a internet -  Foto: Microsoft / Divulgação

Os data centers deverão mais que duplicar as suas necessidades de energia até 2030 segundo a AIE, ultrapassando em alguns anos a energia consumida pelo Japão. Corroborando com esses indicativos, o Ministério de Minas e Energias realizou um estudo que aponta para um aumento de 25% na necessidade de produção energética brasileira até 2034. Nesse cenário, uma questão levantada na transição energética é a segurança e expansão necessárias para a manutenção sadia da sociedade.

Carlos Schön argumenta sobre o papel da energia nuclear, portanto, e as questões em relação ao clima: “Nós produzimos muita energia, mas ainda é pouco considerando o tamanho do país [...] a energia nuclear é a principal aliada das fontes renováveis, justamente porque essas dependem de fatores extrínsecos (sol na geração fotovoltaica, vento na geração eólica) que por sua própria natureza são flutuantes”.

Uma vez extraído do solo, o urânio pode abastecer por décadas uma usina nuclear, as quais em média podem funcionar por 40 anos, com a possibilidade de extensão, como no caso de Angra I, em funcionamento desde 1985 e renovada até 2044. Tudo isso acontece também sem depender de fatores externos como o vento, que pode danificar as hélices das turbinas eólicas, as nuvens que afetam a produção solar e a variação dos reservatórios que impactam as hidrelétricas. 

Contudo, Ana Fabiola Leite Almeida, professora do Departamento de Engenharia Mecânica e Produção da Universidade Federal do Ceará (UFC) e Mestre em Química pela instituição, destaca que o problema reside no planejamento energético. Mesmo que a produção diminua, é algo manejável com vontade. “O risco não está nas renováveis em si, mas na falta de planejamento. Em cenários críticos, pode haver queda média de 20 a 40% na produção energética dependendo da região, mas com previsibilidade climática, diversificação geográfica e sistemas híbridos conseguimos mitigar esses efeitos”, explica Almeida.

Em períodos como de ondas de calor em que a demanda energética aumenta, fontes como as termelétricas passam a ter maior participação na produção de energia, e como são mais caras que as hidrelétricas, a conta de luz pressiona o bolso da população. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no acumulado de 2023 o aumento na tarifa foi de 9,52%, bem acima da inflação, de 4,62% no mesmo período. 

Relatório de 2024 do Tribunal de Contas da União (TCU) em parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Empresa de Pesquisa Energética aponta que a nuclearização não resolveria justamente essa questão. A energia nuclear produzida em Angra III aumentará em 2,9% a conta de luz por ano e custará à população até 77 bilhões em despesas na contratação se a obra for concluída.

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“Existe todo um investimento que pode ser perdido, mas não justifica a continuidade de Angra III. É o resultado do  mal planejamento e desalinhamento com a política energética aponta Rarisson do Greenpeace - Foto: Eletrobras / Divulgação

O mesmo estudo do TCU destaca que as despesas com a obra “parada” chegam a R$2 bilhões por ano e uma desistência definitiva custaria cerca de R$13 bilhões, menos que o montante necessário para conclusão. Países como Áustria, Portugal e Dinamarca não classificam a energia nuclear como uma fonte limpa, e Itália e mais recentemente Alemanha, desativaram seus reatores ainda em funcionamento.

No caso do Brasil em relação ao setor de energias, as renováveis se destacam em várias frentes. Segundo o “Atlas Eólico” de 2022 do governo do Espírito Santo em parceria com a Embaixada Alemã, o potencial de geração pelo vento somente no estado é de 160 GWh, quase um terço da demanda anual do país hoje.

A energia solar também é outro enorme potencial, levando em consideração que o Brasil é o país que mais recebe irradiação solar no mundo, até então desperdiçado. Em 2023 a companhia de consultoria BloombergNEF apontou que se as políticas de incentivo à modalidade permanecerem iguais, em 2050 a capacidade de geração será de 121 GW por ano. Na ocasião, o presidente da Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar), Ronaldo Koloszuk, defendeu que isso pode acontecer ainda em 2040 com apoio e expansão do setor. 

Ana Fabiola destaca: "O Brasil tem um dos maiores potenciais renováveis do mundo, mas para isso precisamos investir em inovação, infraestrutura de rede, armazenamento e educação técnica [...] é preciso ter suporte de armazenamento, interligação entre regiões e tecnologias de resposta à demanda. As fontes renováveis podem sim suprir a demanda crescente se houver vontade política e investimento contínuo", afirma. 

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Maior parque solar do mundo fica em Minas Gerais e foi inaugurado em 2023, fazendo com que a capacidade do estado chegue a 8 GW por ano - Foto: Solatio / Divulgação

Potencial radioativo denso

Falando em demandas futuras e recursos para sanar problemas sem gerar mais, uma outra implicação da energia nuclear gira em torno dos resíduos perigosos da atividade. A World Nuclear Association aponta que o resíduo nuclear equivalente à demanda de uma pessoa por um ano é do tamanho de um tijolo. Pode não parecer tanto de início, mas o problema está na radioatividade do material. 

A meia vida do urânio 235, o tempo que o material leva para se desintegrar e deixar de ser extremamente radioativo, gira em torno de 700 milhões de anos. Durante esse tempo as substâncias líquidas e sólidas precisam ficar armazenadas e isoladas do mundo, seja em reservatórios subterrâneos, piscinas gigantes ou toneis de chumbo. Não existe hoje uma solução para esse material, e como os primeiros usos são do século passado apenas, respostas sobre o comportamento dele também não foram encontradas. 

Isso em si já acende um alerta pois relega uma questão das gerações passadas às futuras, e a possível fuga de material radioativo das usinas pode colocar em risco a segurança nacional com a produção de bombas. Mas olhando para a história mais uma vez, a situação se complica. Em 1986 ocorreu na atual Ucrânia o famigerado desastre nuclear de Chernobyl, zona até hoje inabitável. A explosão da usina contaminou uma área de milhares de quilômetros ao seu redor, causou milhares de mortes e adoeceu os que resistiram. Um caso mais recente foi em Fukushima no Japão em 2011, que apesar de menor e diferente, reforça o cuidado exigido. 

Aquilino Senra afirma que a questão é muito relevante no debate atual, mas avanços foram feitos e que não deve ser a única levada em consideração: “É essencial que seja considerado dentro de um contexto histórico e tecnológico, à luz dos avanços obtidos nas décadas subsequentes e da comparação com outras fontes de geração de energia, como as fontes fósseis, que também provocam milhares de mortes anuais em decorrência da poluição atmosférica”.

A Organização das Nações Unidas estima que por ano a poluição atmosférica mata entre 7 e 8 milhões de pessoas ao redor do mundo. Somente no ano de 2021, 8,1 milhões de pessoas morreram, além do fator contribuir decisivamente para o desenvolvimento de câncer de pulmão e doenças respiratórias. 

Fazendas de turbinas eólicas, sítios de placas solares e usinas hidrelétricas também estão sujeitas a acidentes e impactam o meio ambiente, mas em um grau muito menor. Além dos grandes desastres, existe a possibilidade de vazamento de material radioativo. No Brasil, por exemplo, a Comissão Nacional de Energia Nuclear constatou um caso em 2022 na unidade de Angra I, no qual a água contaminada chegou ao mar. Na ocasião, a Eletronuclear foi multada em mais de R$2 milhões de reais pelo órgão

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ONG fez protestos em frente a usina de Angra I e relembrou o desejo ilegal de milhões de litros de água contaminada pela usina em 1986 - Foto: Greenpeace Brasil / Divulgação

Rárisson do Greenpeace destaca: “a energia nuclear não tem lugar em um futuro seguro, limpo e sustentável. A energia nuclear é cara e perigosa. Apesar de oferecer energia não intermitente, há outras soluções no país que podem ser mais eficientes, seguras e baratas [...] só porque a poluição nuclear é invisível não significa que seja limpa, nessa conta toda, a energia nuclear é inexpressiva”.

Mesmo assim, nos últimos anos empresas e nomes do vale do silício floresceram no cenário da nuclearização em defesa dos chamados Small Modular Reactors (SMR), em tradução livre, pequenos reatores modulares. Segundo a Agência Internacional de Energia, as unidades menores podem ser uma solução para a demanda crescente por energia dos data centers, e por serem menores, construídos em uma fábrica e depois enviados ao local de destino, podem baratear os custos.

Com um tempo de construção diminuído para cerca de 5 anos em comparação aos reatores convencionais e cinco vezes menores em tamanho, o primeiro SMR instalado no mundo data de 2023 na China, o Linglong One. A capacidade do reator será de 1 GW quando entrar em operação regular segundo a Corporação Nacional de Energia Nuclear da China. Mesmo assim, de acordo um estudo independente da Universidade de Stanford que avaliou os dados preliminares da empresa norte-americana NuScale Power, mais lixo radiativo é gerado e há maior dispersão de energia no interior dos SMRs.

Os principais projetos na área ainda vão levar tempo também, com expectativa de começarem a operar em meados da próxima década apenas, como o da britânica Rolls Royce. Ainda existe a startup de Bill Gates, Terra Power, com expectativa que o seu reator em Wyoming, o estado menos populoso do país, entre em operação no começo de 2030. No entanto, nessa data as emissões de CO2 na atmosfera já deverão ter caído 42% para que o aquecimento fique em 1,5 graus celsius de acordo com o relatório de 2024 da United Nations Environment Programme.

 “Não é surpresa que tecno-oligarcas como Gates, Musk, Zuckerberg e Bezos sejam especialmente atraídos pelas ideias por trás de pequenos reatores nucleares modulares. Mas eles não percebem que essas tecnologias são fundamentalmente diferentes da internet ou mesmo das estruturas de energia renovável, incluindo armazenamento, com custos mais elevados em comparação com sistemas totalmente renováveis, tempos de desenvolvimento muito mais longos e sérios riscos”, alerta Jan Haverkamp da WISE International.

Questões climáticas serão discutidas em meio a Amazônia
por
Cecília Schwengber Leite
Helena de Paula Barra
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09/05/2025 - 12h

Entre os dias 10 e 21 de novembro, Belém (PA) hospedará a 30° Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30). Durante o evento, a capital paraense receberá líderes mundiais, cientistas, organizações não governamentais e representantes da sociedade civil com o objetivo de discutir ações para enfrentar a emergência climática global. Os principais temas a serem debatidos são a redução de emissões de gases de efeito estufa; adaptação às mudanças climáticas; financiamento climático para países em desenvolvimento; tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono; preservação de florestas e biodiversidade; justiça climática e os impactos sociais das mudanças climáticas.

Capital paraense se prepara para receber mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência. Foto: Marcelo Souza / Agência Pará
Capital paraense se prepara para receber mais de 40 mil visitantes durante os principais dias da Conferência. Foto: Marcelo Souza / Agência Pará

Em entrevista à AGEMT, Sérgio Haddad, economista, pedagogo e mestre e doutor em História e Sociologia da Educação pela Universidade de São Paulo (USP); e Janaina Uemura, formada em relações internacionais pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), e em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) levantam as principais questões envolvendo a simbologia da COP-30 ter Belém como sede e o papel dos governos e sociedade civil em eventos como esse, principalmente com relação aos seus desdobramentos. Para ouvir a matéria completa, acesse o link:

 

Como anda o suporte aos afetados e a responsabilização pela tragédia?
por
Leticia Falaschi
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07/05/2025 - 12h

Em 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos do Fundão, localizada no distrito Bento Rodrigues, na cidade de Mariana, rompeu. Naquele dia, aproximadamente 40 milhões de metros cúbicos de lama infectada da mineração desabaram sobre Bento Rodrigues e o Rio Doce. Desde dentão, a lama assombra os sobreviventes da tragédia e deixa rastros quase que irreversíveis, sobre o rio afetado e as cidades pelas quais ele passava. Sustento, acesso a água limpa, e modo vida: fatores para sempre abalados para os habitantes de Mariana. A cidade carrega, por 9 anos, severas mudanças ambientais e desequilíbrio do ecossistema local. 

Quase uma década depois do desastre, a Samarco e suas acionistas, a anglo- australiana BHP Billiton e Vale, empresas responsáveis pela mineração e pela barragem que se rompeu, seguem tentando articular uma defesa que não as categorize como como réus. Em novembro de 2024, nove anos após o ocorrido, a Justiça Brasileira absolveu todos os denunciados pelo Ministério Público Federal, segundo a alegação de que as evidências expostas, até então não, permitiam atribuir configuração de crime aos acusados.  

Enquanto isso, o escritório de advocacia de Londres, Pogust Goodhead, processa a BHP na justiça inglesa. A ação se move em defesa de certa de 620 mil afetados pela tragédia e reivindica 260 bilhões de reais de indenização às vítimas e as cidades impactadas. A primeira fase do julgamento acabou em 13 de março, e a corte decidirá se a BHP é responsável até os dias 2 e 3 de março. Durante a primeira etapa do julgamento inglês, foram apresentadas provas de que a barragem já dava sinais de problemas na drenagem e no armazenamento muito antes do colapso de funcionamento.

Relatórios que denunciaram a existência de uma fissura na barragem notada ainda em 2014 pela Samarco, entre outros indicativos prévios de esgotamento do sistema. A defesa da BHP nega as acusações disse que os conselheiros da Samarco não foram notificados, e que os engenheiros especialistas contratados os asseguraram a estabilidade de barragem. A expectativa, dado os caminhos tomados pelo julgamento, é que a empresa seja responsabilizada.

Caso isso aconteça, as definições dos valores de indenizações pode ser um processo longo, podendo perdurar até 2026. Frente a isso, segundo a legislação inglesa, a defesa das vítimas tem direito ao adiantamento parcial da indenização quando o julgamento tende a ir a favor, uma tentativa de mitigar possíveis atrasos.  Em contraste, a justiça brasileira, no acordo firmado ano passado, pede R$ 170 bilhões para as empresas, dos quais 38 bilhões já foram gastos em ações de compensação. Em comparação ao processo internacional, o Brasil se mostrou mais passivo diante das operações de das operações das grandes empresas estrangeiras afetando a vida dos brasileiros. Uma das maiores tragédias ambientais do Brasil tende a ter maior suporte vindo de fora. Entenda o caso com a repórter Leticia Falaschi. 

Novo leilão de campos de exploração indica lentidão da transição energética
por
Anna Cândida Xavier
Camila Bucoff
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05/05/2025 - 12h

Sob pressão do Governo Federal, técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) negaram licença à exploração da Petrobras na Margem Equatorial. O pedido já havia sido negado em 2023, mas com o avanço das negociações, voltou à tona a exigência de estudos estratégicos sobre o impacto às comunidades indígenas e tempo de resposta e atendimento à fauna atingida por óleo. Em entrevista à AGEMT, a cientista política e professora da Universidade Federal do Espírito Santo e coordenadora do LAPAGE (Laboratório de Pesquisa em Política Ambiental e Justiça), Cristiana Losekann, explica como está a questão ambiental na região. 

Venha entender mais sobre o assunto no podcast!

 

 

Culpa, medo e urgência influenciam comportamento de uma geração que teme não ter tempo
por
Luane França
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03/05/2025 - 12h

“Vocês estão falhando conosco. Mas os jovens já começaram a entender sua traição. Os olhos de uma geração futura inteira estão sobre vocês. E, se vocês escolherem fracassar, eu lhes digo: nós jamais perdoaremos [...] O mundo está despertando. E a mudança está chegando, quer vocês queiram ou não", diz Greta Thunberg, ativista e ambientalista sueca, que, com apenas 16 anos, atravessou o silêncio em um discurso na Cúpula de Ação Climática da Organização das Nações Unidas (ONU), em setembro de 2019. Na ocasião, ela convocou os líderes mundiais à responsabilidade diante da crise climática.

No ano seguinte a esse pronunciamento, a humanidade enfrentaria um desafio global: a pandemia de Covid-19. Embora a origem da pandemia envolva muitos fatores, não dá para ignorar o papel da crise climática nesse contexto. O desmatamento crescente e a destruição dos habitats naturais têm aproximado seres humanos de animais silvestres como nunca antes, o que acaba facilitando o surgimento e a propagação de doenças que antes ficavam restritas à natureza. 

Até 12 de março de 2025, a Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou oficialmente mais de 7 milhões de mortes confirmadas por Covid, embora o número real de vítimas seja possivelmente ainda maior, considerando subnotificações e mortes indiretas decorrentes das repercussões da pandemia. Hoje, quase seis anos após o discurso de Thunberg, a crise climática continua crítica e novas formas de se comportar começaram a emergir. Entre elas, a ecoansiedade se destaca como um reflexo emocional desse cenário. Mas até que ponto essa sensação está moldando a maneira como as pessoas lidam com o tempo, tomam decisões e buscam viver o presente?

Significado e a transformação do presente

De acordo com a Associação Americana de Psicologia (APA), a ecoansiedade é caracterizada como um medo crônico da catástrofe ambiental, conceito que também foi integrado ao Dicionário Oxford. Embora seja um conceito relativamente recente, ela revela uma inquietação crescente diante da incerteza em relação ao futuro, tanto pessoal quanto coletivo. Marcado pelos efeitos aparentemente irreversíveis das mudanças climáticas, o fenômeno tem ganhado visibilidade na mídia e, sobretudo, entre os jovens, que sentem com particular intensidade o peso do que ainda está por vir. Matheus Arantes, estudante do 5º semestre de odontologia na Universidade Cidade de São Paulo (Unicid), relata que, por um período, foi tomado por uma sensação constante de desespero. O gatilho veio em 2019, ano em que o número de queimadas na Amazônia aumentou 30% em relação a 2018, segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Foram 89.178 focos de incêndio registrados no bioma.

“Me lembro de não conseguir parar de pensar naquilo e de me sentir sufocado por não poder fazer nada para ajudar [...] Ficava o tempo todo focado nos desastres ambientais, como se, pela primeira vez, eu tivesse realmente percebido que o mundo estava acabando. Isso me deixava exausto, como se eu estivesse carregando um peso que não conseguia controlar [...] Hoje, acordo sabendo que tudo ainda está acontecendo, mas a sensação de impotência só aumentou”, desabafa Arantes.

O relato do estudante é um entre tantos que revelam como a crise climática deixou de ser uma projeção distante para se tornar uma presença constante na vida de quem está crescendo em meio a ela. A ansiedade provocada pelas mudanças no planeta não se limita mais a sentimentos de medo ou angústia , ela já começa a interferir em escolhas práticas, inclusive nas que envolvem o futuro da vida humana, como a decisão de ter filhos. Uma pesquisa internacional, realizada entre maio e junho de 2021, conduzida por pesquisadores de diversas instituições, incluindo o Centro de Inovação em Saúde Global da Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford e a Universidade de Helsinque, e financiada pela plataforma Avaaz, entrevistou 10 mil jovens entre 16 e 25 anos em dez países.

No Brasil, 48% dos entrevistados afirmaram que a crise climática os faz hesitar quanto à possibilidade de ter filhos, o maior percentual entre os países analisados. A média global foi de 39%. O estudo também revelou que 55% dos jovens acreditam que terão menos oportunidades do que seus pais tiveram. Essa percepção revela algo mais profundo do que apenas pessimismo: trata-se de uma dificuldade real de se projetar no tempo.

A crise ambiental, juntamente com outras demandas sociais e econômicas, cria uma sensação de compressão do tempo. O futuro se torna uma ameaça, não mais algo a ser conquistado, mas uma ideia difícil de visualizar. O impacto disso se reflete nas escolhas de vida, como o adiamento do desejo de ter filhos ou a falta de planos a longo prazo. A crítica aqui não está dirigida aos indivíduos, mas ao contexto que os leva a esse tipo de decisão.

Essa mudança de perspectiva representa uma interrupção na continuidade dos projetos de vida. O luto não é apenas pelo planeta, mas pela própria ideia de futuro. O problema está na dificuldade de muitos jovens em se imaginar em um cenário concreto. Ana Lizete Farias, psicanalista e doutora em Meio Ambiente pela UFPR, dedica seus estudos a compreender o sofrimento psíquico sob a ótica socioambiental. Em sua análise, ela observa: "Os discursos hegemônicos hoje ainda estão muito centrados em uma questão urbana e de classe média, o que acaba silenciando as vivências das classes mais baixas, transformando os sofrimentos dessas populações em algo abstrato. Não estamos convivendo com essa realidade de forma direta. Não se pode viver uma romantização dos desastres ambientais", ressalta Farias. 

A ecoansiedade já faz parte da vida de quem habita regiões mais expostas aos efeitos diretos da crise climática. Para trabalhadores rurais, populações de baixa renda, indígenas e pessoas negras, os desastres ambientais não são uma previsão futura, mas uma experiência contínua. Nesse cenário, a fauna também sofre com os impactos da destruição dos habitats naturais, o que agrava ainda mais o sofrimento dessas comunidades que dependem diretamente dos ecossistemas.

A emergência climática também pressiona o sistema de saúde e acentua desigualdades já existentes. Nesses contextos, a ecoansiedade não vem apenas do medo do que pode acontecer, mas da convivência diária com um cenário que há tempos se deteriora. "Precisamos ouvir diretamente, sem a mediação de um discurso positivista. A ecoansiedade precisa ser compreendida e recolocada dentro das questões de justiça ambiental".

 

Dois homens plantam juntos em um vaso na Avenida Paulista
Dois homens plantam juntos em um vaso na Avenida Paulista - Foto: Luane França

 

Ninguém muda o mundo sozinho

Ana também chama atenção para os riscos de naturalizar a ecoansiedade.. Encará-la como um simples efeito colateral da modernidade, algo ao qual deve se adaptar, é perigoso. Além disso, é preciso atenção aos discursos catastrofistas. Muitas vezes, eles se expressam por meio de uma linguagem técnica que culpabiliza ou de uma retórica apocalíptica que, em vez de mobilizar, paralisa. Ninguém age movido apenas pelo terror, esse tipo de narrativa tende a gerar desamparo, afastando as pessoas em vez de envolvê-las. Em alguns casos, a linguagem utilizada não responsabiliza quem realmente deveria ser responsabilizado. Ela falha em atingir os setores que têm maior impacto ambiental e, ao mesmo tempo, impede que as pessoas se sintam parte do problema e parte da solução. Diante do excesso de informação, muitas pessoas acabam se sentindo sobrecarregadas e incapazes de transformar esse conhecimento em ação.

A questão não é fazer com que cada indivíduo “faça mais” sozinho, mas sim incentivar ações coletivas, que envolvam empatia, solidariedade e responsabilidade compartilhada. Precisa-se questionar as estruturas, como a indústria e os sistemas de produção e entender que é possível pressioná-las. A transformação não é individual: ela depende de laços e de pertencimento. Mais do que um bombardeio de dados, Farias destaca a importância de boas informações e de narrativas coletivas que reconectem as pessoas — formas de construir pertencimento e estar juntos, mesmo em meio ao caos.

 

 

Após reunião com representantes dos Três Poderes, governo irá disponibilizar R$ 514 milhões para enfrentar incêndios
por
Vicklin Moraes
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19/09/2024 - 12h

Em meio ao recorde de queimadas que o país enfrenta, o Governo Federal afirmou, nesta terça-feira (17), que enviará, ainda esta semana, uma Medida Provisória de efeito imediato ao Congresso Nacional para agilizar os repasses do fundo Amazônia. Além disso, serão destinados R$514 milhões para o combate a incêndios e à seca em todo o país. 

O anúncio foi feito após reunião com representantes dos Três Poderes para discutir medidas coordenadas de enfrentamento à grave emergência climática do país, agravada por incêndios. 

Para auxiliar no enfrentamento das queimadas, outras ações envolvem a compra de equipamentos - como aeronaves - e a reestruturação de bombeiros e da Defesa Civil dos Estados.


Durante a reunião, o Ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, afirmou que nos últimos dias, a Polícia Federal abriu mais 83 investigações envolvendo incêndios criminosos. O Brasil está entre o ranking de países com maior números de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) com 188.263 registros, destes quais mais de quatro mil foram contabilizados apenas nas últimas 48 horas.

 

Presidente Lula durante a reunião

​​​​​​Presidente Lula durante a reunião. Foto: Ricardo Stuckert/Palácio do Planalto

 

Segundo dados do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), o Brasil enfrenta sua pior estiagem em 75 anos. Apenas os estados do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina não têm registro de seca.

“Nessa semana, para deixar a gente mais responsabilizado com a questão climática — eu pensei que só chovia no Rio Grande do Sul e eu vi a Alemanha enchendo de água, a Romênia, a Turquia. Ou seja, há uma movimentação no planeta e, se for verdade o que os cientistas falam, nós temos muita responsabilidade”, afirmou o presidente Lula. 

Durante a reunião, o ministro da Casa Civil, Rui Costa afirmou que serão feitas revisões nas punições relacionadas a crimes ambientais. Com aumento nas penas e multas que segundo ele, estão muito abaixo do permitido.

 

Ranking internacional coloca a capital paulista na categoria de ambiente não saudável
por
Vicklin Moraes
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09/09/2024 - 12h

A cidade de São Paulo registrou o ar mais poluído do mundo, nesta segunda-feira (9), segundo dados do site suíço IQAir. O ranking mede a qualidade do oxigênio em 100  principais cidades de todo planeta, em tempo real, com base no Índice de Qualidade do Ar do instituto. Pela manhã, São Paulo liderou o Top 100 de pior qualidade do ar, superando cidades como Lahore, no Paquistão, e Kinshasa, capital do Congo, com ambiente considerado “não saudável” para a população.

A classificação indica o ar como insalubre quando atinge 151 pontos, medição feita a partir da concentração de material particulado na atmosfera. Em termos de poluição, São Paulo liderou o ranking com 160 pontos. No Brasil, outras capitais registraram índices ainda piores. As cidades de Porto Velho em Rondônia e Rio Branco no Acre, estão no topo do ranking nacional, com índices de 249 e 223,  respectivamente. Nesses municípios, a qualidade do ar é considerada pelo site suíço, como “muito insalubres”.

Segundo a Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB), nos próximos dias a atuação de uma massa de ar quente causará nebulosidade e ventos variáveis. Com isso, a situação a qualidade do oxigênio permanecerá entre RUIM e MUITO RUIM por mais um período.

Por quê a capital paulista registrou esse recorde negativo?

Os principais motivos para a cidade de São Paulo ter registrado o pior ar do mundo foram as temperaturas elevadas, a umidade relativa do ar baixa e a fumaça decorrente  dos incêndios florestais. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou 12 estados brasileiros em alerta laranja, nesta segunda-feira (09), devido à baixa umidade relativa do ar (UR). A  UR deve variar entre 20% e 12%, com risco de incêndios florestais e riscos à saúde, como doenças pulmonares e dores de cabeça.

 

região de mata pegando fogo
Incêndio em mata próxima à Rodovia Castelo Branco em São Paulo. Foto: Paulo Pinto / Agência Brasil

Além da baixa umidade, a Defesa Civil do Estado de São Paulo anunciou que a maioria do estado está em situação de emergência para incêndios. As queimadas na região ocorrem por conta da seca e também de forma criminosa. Até o momento, 15 pessoas foram presas por atear fogo em regiões de mata. 

O Brasil registrou apenas neste ano 159.411 focos de queimadas, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). O Estado de São Paulo obteve 816 pontos de fogo, sendo 113 somente nas últimas 48 horas.  




 

Autoridades do estado respondem com seguros para produtores e expansão da capacidade de atendimento em saúde
por
Pietra Nelli Nóbrega Monteagudo Laravia
Vicklin Moraes
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04/09/2024 - 12h

Queimadas registradas na última quinta-feira (22) e sexta-feira (23), no interior de São Paulo, especialmente na região de Ribeirão Preto e Oeste Paulista, fizeram com que densas nuvens de fumaça se espalhassem pelo estado. A combinação de altas temperaturas, baixa umidade e ventos fortes espalhou o fogo, gerou tempestades de poeira e carregou a fumaça para mais municípios. Alguns desses incêndios estão sendo investigados como ações criminosas. Até o momento, 11 pessoas foram presas no interior paulista, suspeitas de atear fogo em regiões de mata. 

De acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apenas em 2024 ocorreram 135.898 focos de queimadas. O estado de São Paulo registrou recorde com 5644 pontos de incêndio, dos quais 3612 foram registrados somente no mês de agosto. Este é o pior cenário tanto para um único mês quanto para o período de janeiro a agosto, desde 1998, quando os dados começaram a ser computados pelo Instituto. 

Dados preliminares levantados por 20 das 40 Regionais da Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI) apontam que 3.837 propriedades foram atingidas em 144 municípios paulistas. Estima-se que os prejuízos passaram dos R$1 bilhão. 

Na última segunda-feira (26), o Governo do Estado de São Paulo anunciou o Seguro Rural. A iniciativa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento, disponibiliza R$100 milhões de reais para produtores afetados pelas queimadas. O auxílio conta com 15 seguradoras credenciadas, que concedem subsídios de acordo com a cultura produtiva. O produtor rural pode receber no máximo R$25 mil reais do seguro. O Governo Estadual também anunciou, neste domingo (25), um plano emergencial na área da Saúde para ampliar a capacidade de atendimento das unidades na região de Ribeirão Preto, uma das áreas mais críticas no estado. 

Durante este período de seca e aumento das queimadas, é essencial que a população adote medidas de precaução para garantir a segurança e minimizar os riscos. Evite fazer queimadas ao ar livre e não jogue cigarros ou outros materiais inflamáveis em áreas secas. Mantenha as áreas ao redor das residências limpas e livres de vegetação seca que possa alimentar incêndios.

A Defesa Civil do Estado afirmou, na última segunda-feira (26), que o estado não tem mais focos de incêndio. Entretanto, nessa terça-feira (3), o cenário mudou. Nove municípios estão com focos ativos de incêndio, sendo eles: Jardinópolis, Dois Córregos, Pedregulho, São Simão, Pompeia, Piracicaba, Monte Alegre do Sul, Altinópolis e Cunha. 48 outras cidades ainda estão em alerta máximo para queimadas.    

Em caso de fumaça densa, procure permanecer em ambientes fechados e mantenha as janelas e portas fechadas para evitar a entrada de partículas nocivas. Se sentir sintomas como dificuldade para respirar, tosse persistente ou irritação nos olhos, procure assistência médica imediatamente.

Esteja atento às orientações das autoridades locais e siga as recomendações para garantir a segurança da sua família e da comunidade.

 

 

Uma nova frente fria provocará queda significativa nas temperaturas para o Centro-Sul.
por
Pietra Nelli Nóbrega Monteagudo Laravia
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22/08/2024 - 12h

A partir desta quinta-feira (22), uma frente fria de características continentais, associada a um ciclone extratropical no mar, começará a avançar sobre o país, segundo previsão da Climatempo. Os ventos frios trarão uma redução nas temperaturas, que será sentida, principalmente, no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul. As temperaturas devem cair entre 5°C e 7°C abaixo da média, com marcas previstas de 19°C em São Paulo e 17°C em Curitiba.

O cenário climático do país está prestes a mudar com a chegada dessa massa de ar polar vinda da Argentina. Ela deve promover uma queda significativa nas temperaturas no Centro-Sul, trazendo um alívio temporário para a população. Nos últimos dias, os brasileiros vêm sofrendo com calor extremo. Os termômetros registraram temperaturas recordes em diversas regiões do país. Manaus (AM) e Rio Branco (AC), por exemplo, atingiram 36,7°C, no último domingo (18), enquanto Cuiabá (MT) registrou recordes de 41,8°C e 42,0°C nos dias anteriores.

Esta onda de calor veio após uma frente fria, que estabeleceu mínimas históricas, em meados de agosto. 

O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu, na terça-feira (20), um alerta vermelho, indicativo de perigo máximo para onda de calor, para nove estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rondônia. A região de maior alerta é a central, especificamente Mato Grosso. A previsão do Inmet é que as temperaturas altas, que devem ficar, pelo menos, 5ºC acima da média, se estendam até essa sexta-feira (23).

O calor acontece devido a um “anticiclone”. O fenômeno climático é uma área de alta pressão, que influencia nas ondas de calor, pois a alta pressão dificulta a formação de nuvens, e mantém uma massa de ar quente sobre as regiões. A situação de calor intenso é ainda mais grave por estar associada a uma baixíssima umidade relativa (UR) do ar. Durante esse período, a UR ficou na casa dos 20% e 30%, sendo que o ideal para a saúde é entre os 50% e 80%. 

Dessa maneira, as circunstâncias oferecem riscos para a saúde, podendo causar problemas respiratórios, dor de cabeça e náusea. A umidade do ar abaixo de 25% pode aumentar o risco dos sintomas, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Embora o frio traga uma redução nas temperaturas, especialistas, como o meteorologista Fábio Luengo, garantem que esta onda de frio não será tão severa quanto a registrada nas últimas semanas. A expectativa é de uma queda notável, mas não extrema, evitando novos recordes de baixas temperaturas.

  O mês de agosto tem sido marcado por um comportamento climático extremamente volátil, com rápidas transições entre calor intenso e frio severo. A nova frente fria promete continuar essa tendência de variações extremas, algo que exige atenção às mudanças climáticas rápidas e suas implicações para a população.

Desastre ambiental de 2024 bate recorde no nível de água, causa 171 mortes e expulsa mais de 600 mil pessoas de casa
por
Philipe Mor
Vitor Bonets
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03/06/2024 - 12h

Em um mês, as enchentes no Rio Grande do Sul, um dos principais estados do Brasil, ultrapassaram os marcos de uma histórica tragédia. O Guaíba, lago que banha a capital e diversos outros municípios, passou dos cinco metros e causou a maior catástrofe ambiental já vista no RS. O último evento dessa magnitude havia sido em 1941, quando o nível de água atingiu 4,76 metros e deixou 70 mil pessoas desabrigadas.

FOTO: Gilvan Rocha/Agência Brasil
FOTO: Gilvan Rocha/Agência Brasil

O que parecia ser o maior desastre da história do Rio Grande do Sul, já não é mais. Desde o dia 27 de abril de 2024, fortes chuvas atingiram o estado do extremo Sul do país. O fenômeno se agravou no dia 29 de abril e na data seguinte (30) foi registrada a primeira morte. Após 10 dias ininterruptos de chuvas intensas, 6 bacias de rios ficaram sobrecarregadas e passaram a transbordar. Com isso, a água invadiu os municípios e cidades. Essa água se alastrou até o Guaíba, que também ficou sobrecarregado e transbordou. No dia 04 de maio o recorde do nível de água do lago Guaíba foi batido. Em 1941, o lago atingiu 4,76 metros e esse era o maior registro que se tinha no Estado. Entretanto, nesse novo desastre o nível ultrapassou os 5 metros. Os números mostram que no dia seguinte da marca, o nível chegou aos 5,32 metros, o maior já visto na história. Assim,  locais que nunca haviam sido afetados em outras enchentes, tiveram sua realidade modificada. A água atingiu lugares que jamais havia atingido.

As estatísticas mostram o tamanho do que acontece no Rio Grande do Sul. Até o momento (01 de junho), cerca de 171 mortes já foram registradas e esse número tende a crescer cada vez mais conforme os corpos são encontrados entre as enchentes e os destroços. Após mais de um mês de tragédia, outro número que impacta é de que existem mais de 600 mil pessoas desabrigadas por todo o Estado. A “Grande Enchente”, como é conhecida a tragédia que marcou o ano de 1941 no Rio Grande do Sul, foi um dos maiores desastres que já ocorreram no país. Por muito tempo, os gaúchos ouviram histórias desse acontecimento, como uma espécie de lenda do Estado. Na época, os temporais começaram no dia 10 de abril e duraram 35 dias. Cidades foram invadidas. Lavouras, estradas e ferrovias foram destruídas. Tudo isso pela água dos rios que transbordaram.

Em entrevista exclusiva, Adriana Teixeira, jornalista e editora executiva da revista GALÁxIA, conta como foi sua experiência quando foi para o Rio Grande do Sul e conheceu a história do Estado. “Eu tenho amigos que moram no Rio Grande do Sul. Tive a oportunidade de visitá-los em algumas ocasiões e ter acesso à história do Estado. A “Grande Enchente”, como eles chamam por lá, é de fato um momento contado de geração em geração, pois, infelizmente, marcou a vida de todos os gaúchos”, diz Teixeira. 

De acordo com registros da época, coletados pelo museu Joaquim Felizardo, cerca de 70 mil moradores do Estado ficaram desabrigados. Para se ter noção da magnitude da situação, esse número era equivalente a um quarto de toda a população do Rio Grande do Sul em 1941. Além disso, um terço dos locais comerciais ficaram embaixo d'água e diversas indústrias foram fechadas. Falta de luz e a paralisação do abastecimento de água nas cidades também fizeram parte desse momento trágico.

FOTO: RAFAEL DALBOSCO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO
FOTO: RAFAEL DALBOSCO/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Após esse evento, diversos especialistas já se voltaram ao tema para alertarem sobre uma possível nova tragédia e avisaram que se nada fosse feito, o caos poderia ser ainda maior. A arquiteta Mima Feltrin, em entrevista à Revista Veja, trata as novas enchentes como fato anunciado. “Estamos falando de, pelo menos, 25 anos de avisos”, diz. Para ela, essa falta de ações diante dos estudos realizados nos anos posteriores ao desastre, ainda é uma estratégia política. “Aqui no Brasil a lógica é inversa. Gastamos cerca de 14 vezes mais com reconstrução do que com a prevenção de tragédias”.

Adriana Teixeira, que também é doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP e estuda os impactos da desinformação no cotidiano, afirma que esse fator pode ser muito prejudicial nesse momento de calamidade. A jornalista destaca que “Centros de monitoramento de desinformação alertam para a ampla circulação no ambiente online de mensagens falsas sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul”. Além disso, ela acredita que essa “calamidade pública tem sido usada por políticos da extrema direita, influenciadores e empresários para a obtenção de lucro financeiro, engajamento e influência sobre a política nacional e o debate sobre a crise climática”

Entre alguns materiais compartilhados durante a entrevista, Adriana comentou sobre estudos realizados por algumas organizações que buscam compreender as principais narrativas de desinformação e seus impactos no desastre do RS. Ela apresentou dois levantamentos, realizados pela UFRJ e pela NetLabs entre os dias 27 de abril e 10 de maio. Os relatórios expõem que “boa parte do conteúdo desinformante sobre o desastre climático no Rio Grande do Sul tem como objetivo descredibilizar o governo federal e gerar desconfiança em torno de instituições governamentais”.

Para a editora da Revista GALÁxIA, “A imensidão de mensagens fraudulentas também serve para gerar déficit informacional e distrair a audiência sobre as informações que buscam relatar os fatos e que são necessárias para enfrentar a tragédia”. Ela também acredita que “os efeitos dessas mensagens falsas são devastadores”. Por fim, Adriana relata que “a desinformação confunde a população vítima do desastre climático, prejudica a distribuição das doações e dificulta o trabalho de agentes públicos, socorristas e voluntários”.Além disso, de maneira contundente, ela enfatiza que em situações catastróficas como essa, “a desinformação amplifica o ambiente de caos”.

Para o processo de reconstrução do estado é necessário que planos políticos e sociais, que envolvem educação ambiental e cooperação regional e internacional, sejam elaborados. Essas estratégias, quando implementadas de forma integrada e colaborativa, podem ajudar a reerguer não apenas a infraestrutura física, mas também a resiliência do Rio Grande do Sul após uma tragédia ambiental.