A Republica Democrática do Congo - herança colonial em meio a sangue e cobalto.
por
Pedro Bairon
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16/06/2025 - 12h

 

“Da borracha à maçã” é um documentário que traça a longa linha de continuidade entre a violência colonial imposta ao Congo e os horrores da guerra civil que ainda hoje assombram o país. A partir da exploração genocida promovida pela Bélgica no século XIX, o filme revela como as feridas abertas pelo colonialismo jamais cicatrizaram — apenas se transformaram em novas formas de conflito, exclusão e disputa por poder.

O documentário mergulha nas causas históricas e étnicas da guerra civil congolesa, dando atenção especial à tensão entre tutsis e hutus, grupos marcados por rivalidades que ultrapassam fronteiras e carregam os traumas do genocídio em Ruanda. A entrada de milícias hutus no leste do Congo após 1994, e a resposta armada dos tutsis, reacenderam conflitos internos, arrastando a população civil para o centro de uma guerra prolongada, brutal e muitas vezes esquecida pelo olhar internacional.

“Da borracha à maçã” não é apenas um registro de tragédias; é uma crítica à forma como a história se repete quando as raízes da violência são ignoradas. Mostra que o mesmo sistema que arrancou borracha das florestas a golpes de chicote, e que hoje arranca cobalto das minas congolesas, deixou um legado de instabilidade, impunidade e sofrimento. Um chamado à memória e à justiça, diante de um conflito que não começou nos anos 1990 — mas sim nos porões do colonialismo europeu

 

Duração: 26:10 

Autor: Pedro Bairon 

Para visualizar o documentário acesse o link:  

.https://youtu.be/kqtTs-vZCwo

Voluntários foram vítimas de sequestro ilegal em alto mar
por
Maria Mielli
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11/06/2025 - 12h

Nesta segunda-feira (9), o barco Madlen — batizado em homenagem a primeira e única mulher pescadora de Gaza — que levava Greta Thunberg, Thiago Ávila e outros ativistas ligados à organização Coalizão Flotilha da Liberdade foi interceptado e sequestrado pelas forças israelenses.

Os voluntários, que tinham como missão romper o bloqueio de Israel a faixa de Gaza e transportar ajuda humanitária até o povo palestino, foram alvos de drones e soldados que impossibilitam a chegada de qualquer tipo de ajuda à região. 

“A conexão foi perdida no Madleen. O exército israelense abordou o navio” foi a última mensagem dos ativistas, em seu canal de comunicação no Telegram. 

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Bombardeio no dia 1 de junho em Gaza/ Foto: Jehad Alshrafi
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Terça-feira (10), o Ministério das Relações Exteriores, afirmou que Thiago Ávila já chegou ao aeroporto de Tel Aviv (Israel) e conta com o apoio da embaixada brasileira que assiste o caso de perto. O esperado era que ele e os demais ativistas fossem deportados para seus respectivos países, mas até o momento da publicação dessa matéria, Thiago e outros 8 voluntários, como a deputada franco-palestina Rima Hassan, seguem sob prisão política de Israel. Greta foi a única verdadeiramente deportada. Os demais se recusaram a assinar o termo proposto pelos israelenses e foram enviados para prisão em Givon. Thiago aderiu greve de fome e Rima foi enviada a confinamento solitário após escrever "Palestina livre" em parede da prisão. 

“Eles cometeram um ato ilegal nos sequestrando em águas internacionais e contra nossa vontade nos trazendo para Israel, nos mantendo no fundo do barco, não nos deixando sair e assim por diante. Mas essa não é a história real aqui. A verdadeira história é que há um genocídio acontecendo em Gaza e uma campanha de fome sistemática” afirma a ativista Greta, em vídeo divulgado pela Federação Árabe Palestina do Brasil (Fepal).

Em janeiro deste ano, o site de notícias BBC, apurou que, até então, o número de palestinos mortos passava da casa dos 46 mil. Fora a destruição local, no qual diversos hospitais e escolas, e seus respectivos frequentadores (crianças e profissionais da saúde) foram também vítimas dos ataques de Israel. 

A guerra que dura mais de 2 anos é marcada por ser uma das mais violentas e desonestas da história, repleta de crimes de guerra. Israel não ataca somente os palestinos, mas também aqueles que demonstram apoio e/ou estão tentando exercer seu trabalho, como é o caso da imprensa. Em abril deste ano, durante a madrugada, tendas de imprensa do hospital Nasser, localizado no sul da Faixa de Gaza, foram vítimas de bombardeios. O ataque assassinou os jornalistas Helmi al-Faqawi e Yusef al-Jazindar e deixou outros sete feridos. 

Fatma Hassona, fotojornalista palestina responsável por divulgar diversas barbáries, foi outra vítima do exército israelense e morreu ao lado de nove membros da sua família. O cineasta Hamdan Ballal, co-diretor do documentário vencedor do Oscar No other land — que expõem as vivências dos palestinos — foi vítima de um sequestro que o deixou algemado por uma noite sendo torturado numa base militar, segundo o colega e diretor do filme, Yuval Abraham. 

O jornalista palestino Ahmed al-Naouq, em entrevista realizada no dia 3 de junho ao canal Piers Morgan Uncesored, afirmou: “Essa não é uma guerra religiosa. É uma guerra entre colonização e colonizados. Entre ocupantes e um povo sob ocupação”. Para o presidente da Fepal, Ualid Rabah, esse genocídio é a maior matança de crianças desde a Segunda Guerra. Ainda em recentes postagens, a federação emitiu uma nota oficial no Instagram: "Se a humanidade parou a Alemanha nazista e destruiu seu regime, é nosso dever histórico parar o Israel sionista e destruir seu regime".

Para brasileiro, governo quer causar um estrago imediato na vida dos estrangeiros
por
Tamara Ferreira
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03/06/2025 - 12h

 

No dia 11 de abril, o governo dos Estados Unidos enviou uma carta a Harvard exigindo uma reforma administrativa, auditorias com dirigentes, professores e alunos, além do encerramento dos programas de diversidade, equidade e inclusão. A Casa Branca também determinou a proibição do uso de máscaras — uma medida vista como direcionada aos protestos pró-Palestina, os quais têm sido tratados pelo governo como manifestações movidas por antissemitismo.

Três dias depois, foram congelados os contratos e subsídios federais da instituição, bloqueando cerca de US$2,3 bilhões (13,5 bilhões de reais). No mesmo dia, Alan Garber, presidente da universidade, declarou que as exigências extrapolam os direitos garantidos pela Primeira Emenda da Constituição dos EUA.

“Nenhum governo — independentemente do partido que estiver no poder — deve ditar o que universidades privadas podem ensinar, quem podem admitir ou contratar, e quais áreas de estudo e pesquisa podem seguir”, disse Garber em um comunicado para os alunos. “Esses objetivos não serão alcançados por meio de imposições de poder, desvinculadas da lei, para controlar o ensino e a aprendizagem em Harvard e ditar como operamos”, completou. 

Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump.
Pessoas protestando contra as medidas do governo Trump. Foto: REUTERS/Nicholas Pfosi

Ainda em abril, o Departamento de Segurança Interna dos EUA (DHS) afirmou que Harvard poderia perder a autorização para matricular estudantes estrangeiros caso não cumprisse as exigências do governo Trump. Na época, a secretaria do DHS enviou uma carta à universidade exigindo que, até o dia 30 daquele mês, fosse apresentado o registro das chamadas 'atividades ilegais e violentas' praticadas por estudantes estrangeiros com visto. Caso contrário, Harvard perderia o privilégio de matricular novos alunos internacionais.

Na carta enviada à instituição, o DHS declarou: “E se Harvard não puder comprovar que está em total conformidade com seus requisitos de notificação, a universidade perderá o privilégio de matricular estudantes estrangeiros”.

No dia 22 de maio, o governo Trump cumpriu a ameaça e cancelou a certificação do Programa de Estudantes de Intercâmbio de Visitantes da universidade. Com isso, ficou impedida de matricular novos alunos estrangeiros, e cerca de 6,8 mil estudantes internacionais, que representam 27% dos alunos da universidade, foram orientados a buscar transferência para outras instituições.

Um dia depois, após Harvard entrar com uma ação contra o governo, a Justiça dos Estados Unidos decidiu derrubar a proibição. Com isso, os estudantes já matriculados e os novos ingressantes voltaram a ter autorização para obter o visto de estudante no país.

Em entrevista à AGEMT, Danilo Linhares, estudante de Direito de Harvard, afirmou que o objetivo da proibição é causar um estrago imediato nas universidades. “A ilegalidade da medida é tão gritante que é difícil acreditar que o próprio governo ache que tem chance real de vencer na Justiça. Mas acho que o objetivo deles nem é exatamente ganhar. É causar um estrago imediato — muita universidade menor não tem recursos nem disposição para comprar essa briga nos tribunais e, talvez, acabe cedendo às exigências."

Donald Trump justificou as medidas afirmando que Harvard “perdeu o rumo” e que a universidade “só ensina ódio e estupidez”. 

Nas audiências realizadas nos dias 27 e 29 de maio, a juíza Allison Burroughs prolongou a suspensão da decisão do governo, permitindo que Harvard continue recebendo estudantes internacionais até que os dois lados apresentem seus argumentos no tribunal.

Região da Caxemira é reivindicada há mais de sete décadas pelos dois países e concentra interesses estratégicos globais, inclusive da China
por
Chloé Dana
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25/05/2025 - 12h

          Na terça-feira do dia 6 de maio, as autoridades indianas afirmaram que realizaram bombardeios em nove locais que hospedam terroristas na Caxemira controlada pelo Paquistão. O Paquistão, por sua vez, apresentou uma narrativa distinta: informou que houve ataques aéreos em seis áreas, todos voltados a alvos civis, resultando em oito mortes, incluindo a de uma criança. O governo paquistanês comunicou aos meios de comunicação que conseguiu derrubar cinco aeronaves e um drone indiano. O governo indiano responsabilizou o Paquistão, que negou estar envolvido. Os bombardeios foram desencadeados após um ataque que ocorreu em abril na Caxemira indiana, onde 26 vidas foram perdidas devido a uma ação armada em uma área turística. 
As Forças Armadas do Paquistão, na véspera, reivindicaram a destruição de cinco caças indianos na porção da Caxemira sob administração de Nova Délhi. Embora as autoridades indianas não tenham confirmado oficialmente as perdas, uma fonte ligada às forças de segurança, que preferiu não se identificar, informou que três aeronaves militares foram abatidas.

          Ao conversar com o cientista político e ex-professor de Relações Internacionais na UERJ, FGV e Candido Mendes, Maurício Santoro, o profissional nos explica sobre a crescente do conflito da Caxemira desde 1947, as políticas que os países confrotam nos dias atuais e como podemos entender melhor essa história. Veja a reportagem 

 

Ex-presidente uruguaio lutava contra um câncer no esôfago; notícia foi confirmada pelo atual presidente
por
Marcelo Barbosa
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14/05/2025 - 12h

 

 Nesta terça-feira (13), faleceu José “Pepe” Mujica, ex-líder do Uruguai. Aos 89 anos, ele travava uma batalha contra um câncer no esôfago desde abril do ano anterior. A causa exata da morte ainda não foi informada.

Na rede social X, o atual presidente do país, Yamandú Orsi, confirmou a notícia: “É com profunda tristeza que anunciamos o falecimento do nosso colega Pepe Mujica. Presidente, ativista, líder e companheiro. Sentiremos muita falta de você, querido velho. Obrigado por tudo o que nos deu e pelo seu profundo amor ao povo uruguaio.”

Ontem (12), a esposa de Mujica, Lucía Topolansky, já havia declarado que ele estava “em estado terminal e recebendo cuidados paliativos”.

A trajetória de Mujica foi marcada por sua liderança como uma das figuras mais emblemáticas da esquerda no Sul Global. Desde a infância, sob influência da mãe, Pepe se apaixonou pela literatura e pela política. Criado com a irmã, perdeu o pai aos 7 anos de idade. Iniciou sua carreira política como secretário da Juventude no Partido Nacional.

Foi também um dos fundadores e guerrilheiros do Movimento de Libertação Nacional - Tupamaros, grupo que buscava uma revolução socialista no Uruguai. Seus integrantes ficaram conhecidos por realizar assaltos a bancos para redistribuir o dinheiro entre os mais pobres. O período de maior atividade do grupo coincidiu com a ditadura militar no país, entre 1973 e 1985.

Mujica foi capturado quatro vezes, passando seu mais longo período de encarceramento em 1972. Mesmo assim, conseguiu fugir duas vezes. Durante a prisão, foi mantido em solitária e submetido a intensas torturas. Sua primeira detenção foi em 1964, após o assalto a uma fábrica em Montevidéu. Em 1971, foi preso novamente, mas conseguiu escapar junto a centenas de detentos. No total, passou mais de 14 anos na prisão.

Após ser libertado por um projeto de anistia, Mujica participou da fundação do Movimento de Participação Popular. Apesar do passado como guerrilheiro, declarou em entrevista ao jornal Búsqueda que se tornou um defensor da democracia e que considerava seus atos da juventude um erro. Na década de 1990, ocupou os cargos de senador e ministro da Agricultura.

Como presidente do Uruguai (2010-2015), Mujica ganhou notoriedade mundial por defender pautas progressistas, como a legalização da maconha, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto.

Entrou para a história uruguaia como um líder humanista, priorizando o combate à pobreza e à fome. Mesmo no cargo mais alto do país, manteve um estilo de vida simples: recusou-se a morar no palácio presidencial e preferiu continuar em seu sítio nos arredores de Montevidéu. A imprensa internacional o apelidou de “o presidente mais pobre do mundo”. Fiel ao seu Fusca 1987, doava a maior parte de seu salário, reforçando sua imagem de político avesso a luxos.

Reprodução: Reuters/Tony Gentile
Pepe Mujica no Festival de Veneza | Reprodução:Reuters/ Tony Gentile 

Sob sua gestão, a economia uruguaia apresentou resultados expressivos, com crescimento médio anual de 5,4% e redução significativa dos índices de pobreza. Ainda assim, enfrentou críticas da oposição, que o acusava de provocar aumento do déficit fiscal.

Em 2012, Mujica esteve no Brasil para a cúpula Rio+20 da ONU, realizada no Rio de Janeiro. O Ministério das Relações Exteriores do Brasil emitiu nota de pesar, afirmando: “Ele foi um grande amigo do Brasil.”

Mujica nunca escondeu sua visão serena sobre a morte, como demonstrou em diversas entrevistas: “E, por favor, não vivam com medo da morte, mas, a certa altura da vida, você sabe que, um pouco antes ou um pouco depois, ela vai chegar”, declarou em uma conversa par um livro.

 

O novo cargo faz parte da estratégia do país de se posicionar como líder global em tecnologia
por
Rafaela Eid
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01/10/2024 - 12h

No dia 21 de setembro, a França nomeou Clara Chappaz, de 35 anos, como Secretária de Estado responsável pela Inteligência Artificial (IA) e Digitalização. A medida faz parte da estratégia do país de se posicionar como líder global em tecnologia.

A nomeação foi realizada pelo presidente Emmanuel Macron, a partir de uma proposta do primeiro-ministro Michel Barnier, segundo informações do Ministério da Educação Nacional, Ensino Superior e Pesquisa da França.

Embora popularmente apelidada de "ministra da IA", Clara Chappaz não possui oficialmente esse título. No entanto, sua função terá um papel de destaque nas discussões sobre tecnologia, especialmente com a proximidade da Cúpula Internacional de IA, que será sediada pelo país em fevereiro de 2025.

A criação deste novo cargo faz parte da visão de Macron, que prevê o investimento de 500 milhões de euros até 2030 no desenvolvimento de polos de IA no país.

Graduada pela Essec Business School, em Cergy, na França, Cappaz iniciou sua carreira na Ásia, atuando em várias startups de comércio eletrônico. Em 2018, concluiu um MBA em Harvard e, posteriormente, assumiu a posição de diretora comercial na Vestiaire Collective, uma plataforma de revenda de produtos de luxo em Paris. Em 2021, passou a liderar a missão French Tech, que apoia startups tecnológicas inovadoras alinhadas às prioridades do governo francês.

Ali Kamal Abdallah é a primeira vítima brasileira morta no Líbano após bombardeios
por
Victor Trovão
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30/09/2024 - 12h

Um jovem brasileiro de 15 anos morreu durante bombardeios de Israel no Líbano, informou o Ministério de Relações Exteriores, Itamaraty, na quarta-feira, 25. Ele estava no vale do Bekaa, a leste da capital, Beirute, uma das regiões atacadas pelas tropas israelenses devido à presença de forças do Hezbollah, informação confirmada pelo Itamaraty. 

Natural de Foz do Iguaçu, município do Paraná, Ali morreu junto de seu pai  Kamal Hussein Abdallah, de 64 anos, após serem feridos por um foguete lançado por Israel que atingiu a cidade de Kelya. 

Ali
O brasileiro Ali Kamal Abdallah, 15, que morreu em ataque de Israel no Líbano - @all.eyes.on__lebanon no Instagram/Reprodução

Ainda que as circunstâncias da morte não estejam claras, em entrevista à RPC Paraná, Hanan Abdallah, irmã do adolescente, conta que Ali e seu pai morreram enquanto trabalhavam na pequena fábrica de produtos de limpeza da família. A Embaixada do Brasil em Beirute está prestando assistência aos familiares das vítimas.

“Ao solidarizar-se com a família, o governo brasileiro reitera sua condenação, nos mais fortes termos, aos contínuos ataques aéreos israelenses contra zonas civis densamente povoadas no Líbano e renova seu apelo às partes envolvidas para que cessem imediatamente as hostilidades", afirmou o Itamaraty em um comunicado oficial. 

O assassinato de Ali é a primeira morte de brasileiros no Líbano que o Ministério das Relações Exteriores pode reconhecer desde a escalada do conflito, no momento, informam que a documentação e translado dos corpos estão sendo tratadas por meio da Embaixada do Brasil em Beirute. 

O cenário apresenta alto risco no país, uma vez que o Líbano conta com cerca de 21 mil brasileiros, de acordo com os dados do Itamaraty. Milhares de pessoas estão aterrorizadas frente aos ataques iminentes de Israel e, por ora, os bombardeios acontecem mais ao sul libanês, fazendo a população local se refugiar ao norte. 

ataque
Momento do ataque de Israel à vila no Líbano. Ao menos 550 pessoas foram mortas pelos ataques israelenses e outras centenas ficaram feridas  - Foto: Rabih DAHER / AFP

Segundo dados do Ministério da Saúde libanês emitidos na última quarta (25) , ao menos 550 pessoas foram mortas pelos ataques israelenses e outras centenas ficaram feridas. 

Além do pronunciamento do Itamaraty ao lamentar a morte de Ali, durante entrevista concedida à imprensa americana após participar da 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU) que aconteceu em Nova York, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva condenou o conflito entre Israel e o Hezbollah no Líbano. 

“Em Gaza e na Cisjordânia assistimos a uma das maiores crises humanitárias da história recente, que agora se estende perigosamente ao Líbano. Portanto eu condeno de forma veemente esse comportamento do governo de Israel que eu tenho certeza que a maioria do povo de Israel não concorda com esse genocídio”, expressou Lula. 

Presidente condenou a guerra que se estende por quase um ano na Faixa de Gaza e criticou as recentes ações de Israel no Líbano
por
Matheus Almeida
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26/09/2024 - 12h

O presidente Lula discursou, na última terça-feira (24), na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova Iorque. Em sua fala, de cerca de 20 minutos, o mandatário destacou as ações de Israel em Gaza e, mais recentemente, no Líbano.  

Lula enfatizou que o mundo vive o período de maior número de conflitos desde a Segunda Guerra Mundial e constatou que os gastos militares no globo aumentaram pelo nono ano seguido, atingindo a marca de 2,4 trilhões de dólares.  

Sobre o Oriente Médio, ele classificou a situação como “uma das maiores crises da história recente”, e criticou Israel ao dizer que o “direito à defesa” alegado pelo país, se tornou um “direito de vingança” e que há uma punição coletiva para o povo palestino e não só ao Hamas, como diz o governo israelense.  

"São mais de 40 mil vítimas fatais, em sua maioria, mulheres e crianças. O direito de defesa transformou-se no direito de vingança, que impede um acordo para a liberação de reféns e adia o cessar-fogo".  

O presidente brasileiro também citou brevemente os conflitos do Iêmen e do Sudão, esse na África, mas que afeta o maior número de pessoas em termos absolutos. Segundo dados da ONU, quase 25 dos 48,7 milhões de habitantes precisam de ajuda humanitária para sobreviver no país africano.  

Lula discursa na ONU. Foto: Ricardo Stuckert/PR
Lula em discurso na ONU. Foto: Ricardo Stuckert

Guerra no Leste Europeu  

O presidente ainda lembrou da guerra entre Ucrânia e Rússia, que se estende desde fevereiro de 2022. Ele retomou o plano sino-brasileiro para a paz.  

“Já está claro que nenhuma das partes conseguirá atingir todos os seus objetivos pela via militar. [...] Criar condições para a retomada do diálogo direto entre as partes é crucial neste momento. Essa é a mensagem do entendimento de seis pontos que China e Brasil oferecem para que se instale um processo de diálogo e o fim das hostilidades.”  

Reforma na ONU  

Lula criticou a posição da própria ONU. Segundo ele, as Nações Unidas não conseguem assegurar a segurança e soberania da Palestina, sendo pouco eficaz em combater a violência, não só em Gaza, como também em outras partes do mundo. Ele também defendeu uma reforma, já que a Organização tem pouca representação dos países do Sul Global, e não abrange o mundo inteiro como na época que foi idealizada.  

“Prestes a completar 80 anos, a Carta das Nações Unidas nunca passou por uma reforma abrangente. A versão atual da Carta não trata de alguns dos desafios mais prementes da humanidade. Na fundação da ONU, éramos 51 países. Hoje somos 193. Várias nações, principalmente no continente africano, estavam sob domínio colonial e não tiveram voz sobre seus objetivos e funcionamento. A exclusão da América Latina e da África de assentos permanentes no Conselho de Segurança é um eco inaceitável de práticas de dominação do passado colonial.”  

 

Após conflitos dos últimos dias, representantes mostram temor durante Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU)
por
Larissa Soler
Victória Toral
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26/09/2024 - 12h

Os ataques entre Hezbollah e Israel foram tema do discurso de diversos líderes mundiais presentes na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU),  na última terça-feira (24).

O Secretário Geral da organização, António Guterres, criticou países que descumprem resoluções da ONU, sem citar Israel, e afirmou que eles não podem deixar que o Líbano vire outra Gaza. Joe Biden, presidente dos Estados Unidos, acrescentou que uma guerra total no Oriente Médio “não interessa a ninguém”. 

O embaixador israelense na ONU informou que o país não tem interesse em invadir o território libanes. Após discurso na Assembleia, o Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, condenou novamente as ações israelenses no norte do Líbano, na quarta-feira (25). 

Iniciado em outubro do ano passado, o conflito entre o grupo Hezbollah e o Estado de Israel começou após a organização que fica localizada no norte do Líbano, atacar a região fronteiriça onde soldados israelenses estavam posicionados.

A ação ocorreu em resposta à guerra na região da Faixa de Gaza entre o grupo Hamas e Israel, que completa um ano no dia 7 de outubro. Desde então, o grupo Hezbollah e o Estado de Israel vêm trocando ofensivas, mas foi na semana passada que o conflito entre os dois se intensificou. 

Um ataque terrorista ao sistema de comunicação móvel de integrantes do Hezbollah ocorreu na terça (17) e quarta-feira (18). O governo libanês e o Hezbollah acusam Israel pela autoria das explosões, já Israel nega qualquer envolvimento.

Na mesma semana, durante um ataque aéreo, na região de Beirute, o comandante da unidade de elite Radwan do Hezbollah, Ibrahim Akil, foi morto. Nos dois ataques pelo menos 82 pessoas morreram e cerca de 3.000 ficaram feridas. 

Segundo informações do Ministério da Saúde do Líbano, 650 pessoas, incluindo, pelo menos, 35 crianças e 58 mulheres, foram mortas em ataques israelenses desde a manhã de segunda-feira (23). O número representa mais da metade dos libaneses mortos na guerra de 34 dias entre Israel e Hezbollah em 2006. 

Em entrevista à Agemt, Rodrigo Amaral, professor do curso de Relações Internacionais da PUC-SP e pesquisador na área de política internacional no Oriente Médio, aponta que esses ataques podem ser uma tentativa do Estado de Israel de estender a conflitualidade contra o Hamas para a região norte do Líbano. 

“Tendo em vista que Gaza está sob escombros, o Hamas não tem qualquer possibilidade de reação por lá. A ideia israelense é muito provavelmente, tudo isso na prova da probabilidade, destruir o outro inimigo regional mais próximo que é o Hezbollah.” explica Rodrigo. 

Sobre as declarações dos líderes mundiais na Assembleia, Rodrigo diz que elas têm um impacto mínimo no conflito: “É um passo importante, porque significa que a comunidade internacional pode ser avessa ao que Israel está fazendo. Mas, não existe uma ação tão direta em decorrência das manifestações na Assembleia Geral das Nações Unidas”.

Amaral adiciona que as ações seriam mais eficazes se o Conselho de Segurança da organização determinasse uma resolução consensual para o fim do conflito, mas que “para que essa resolução ocorra, ela implicaria nos Estados Unidos barrarem as ações militares israelenses no Oriente Médio, algo que nunca aconteceu anteriormente” lembra o professor. 

Hezbollah:

O grupo fundamentalista nasce no contexto da Guerra Civil Libanesa, sendo uma associação político islâmico-libanês. 

“É uma organização política e social, então ele tem não apenas o braço paramilitar, que é o mais famoso que nós conhecemos, mas também um grupo que tem representação no parlamento libanês e que tem ações sociais de grande escala no sul do Líbano, onde esse grupo se desenvolveu” ,comentou. 

O professor explica que o Hezbollah surgiu nos anos 80 e 90, para ocupar a deficiência do Estado libanês na época e acabou se tornando um dos principais grupos de oposição contra o Estado de Israel. “Eles têm como aliados indiretos o eixo da resistência no Oriente Médio, forças de mobilização popular no Iraque, os houthis no Iêmen e de forma mais direta o Hamas, mas que também não há qualquer conexão material de aliança, é só uma questão de serem “inimigos” de Israel. Há também uma conexão diplomática com o Irã, mas não há confirmação de ligação de cooperação técnico militar”.

O grupo político islâmico-libanês e o Estado de Israel já estiveram em conflito antes, durante a Guerra do Líbano, em 2006. O conflito, que durou cinco semanas, teve início após membros da organização sequestrarem dois soldados israelenses. Nessa época quase 1.200 pessoas morreram no meio da guerra, sendo a maioria civis. 

Apesar da conexão diplomática entre o Hezbollah e o Irã, Amaral não vê o país entrando em um confronto com Israel: “Ele demonstrou que não tem vontade de fazer uma guerra direta com Israel e vice-versa. É improvável a inserção de forças militares iranianas, apesar de ser bastante factível o apoio indireto do Irã ao Hezbollah.”

Mossad: 

O pesquisador aponta que os ataques ao sistema de comunicação móvel de integrantes do Hezbollah na semana passada podem ter sido organizados taticamente pelo Mossad - Serviço de Inteligência de Israel e um dos mais desenvolvidos do mundo. Na ocasião, pagers e walkie-talkies de membros da organização foram utilizados como explosivos que atingiram milhares de pessoas. 

“O Mossad já atuou outras vezes na história de Israel, começou de maneira mais intensa a partir da Guerra dos Seis Dias em 1967 e desde então Israel tem ações de espionagem ativa contra os seus inimigos”. explica o professor. 

Porém, essa é a primeira vez que um ataque desse tipo é tão bem articulado tecnicamente e taticamente, o que demonstra a força da organização  “Vimos explosões simultâneas desses equipamentos, houve ali uma manipulação do hardware, de tecnologias que são dos anos 90, anos 2000 e que supostamente têm uma maior dificuldade de hackeamento”, comenta. 

O que esperar: 

Para os próximos dias, o pesquisador acredita que haja uma intensificação da ação militar israelense “há um risco alto dessa intensificação de operações aéreas militares se tornarem também operações em solo, lembrando que Israel já depositou a 98ª Batalhão das Forças Militares Israelenses na fronteira norte, que é a fronteira com o Líbano, portanto, acionou ali uma possibilidade de invasão, de ocupação, o que seria, basicamente, repetir o que aconteceu em 1982 e 2006”, finaliza. 

Destroços sendo retirados após ataque. Foto: AP Photo/Hassan Ammar
Destroços sendo retirados após ataque. Foto: AP Photo/Hassan Ammar



 

Ataque israelense deixa 492 mortos e 1.645 feridos em maior ofensiva desde o início do conflito
por
João Victor Tiusso
Lucca Fresqui
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24/09/2024 - 12h
Foto: AFP/ND
Foto: AFP/ND

Na última segunda-feira, dia 23, Israel realizou um amplo ataque aéreo contra diversos alvos no Líbano. Foi o maior e mais mortífero bombardeio desde o início do conflito entre o país e o grupo Hezbollah. 

Segundo o Ministério da Saúde do Líbano, 492 pessoas morreram e 1.645 ficaram feridas. Entre os mortos estão 35 crianças e 42 mulheres. O governo libanês informou que também há profissionais de saúde entre as vítimas.

Ao todo, foram atingidos 1.100 alvos no Líbano, inclusive na capital, Beirute. Os moradores das regiões do país atacadas receberam mensagens de texto e de voz enviadas por Israel alertando sobre a iminência dos ataques.

Os ataques desta segunda-feira foram os mais mortíferos no Líbano desde a guerra com Israel em 2006, cujo resultado foi inconclusivo para ambos os lados. 

De acordo com Israel, um dos comandantes do alto escalão do Hezbollah, Ali Karaki, está entre os mortos. No entanto, o Hezbollah afirmou em comunicado que Karaki está bem e foi movido para um local seguro. 

Em resposta ao bombardeio, o grupo libanês contra-atacou com foguetes, mísseis e drones, deixando várias cidades de Israel em estado de alerta. 

As agressões entre Israel e Hezbollah se intensificaram com a operação na faixa de Gaza, no ano passado, e vinham aumentando desde então. Porém, atingiram um novo patamar com a explosão dos pagers e walkie-talkies do grupo extremista na última semana. 

Devido à escalada do conflito, o governo dos Estados Unidos anunciou que enviará mais tropas ao Oriente Médio para reforçar as forças americanas já presentes na região.