Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
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13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
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10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

Primeiro trimestre do republicano é marcado por decisões controvers as
por
Felipe Bragagnolo Barbosa
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04/04/2025 - 12h

 

 

Em março, Donald Trump completou seu primeiro trimestre de um segundo mandato como presidente dos Estados Unidos, iniciando uma cruzada regressiva que desmantela conquistas sociais, ambientais e diplomáticas das últimas décadas. Em apenas 30 dias, o republicano já havia assinado dezenas de ordens executivas, promovendo uma agenda nacionalista e corporativa sob o slogan "America First" (América em Primeiro). Suas decisões priorizam os interesses de magnatas e aliados políticos, enquanto ignoram as vozes das minorias, dos trabalhadores e das comunidades mais afetadas pela desigualdade e pela crise climática.

Entre as medidas mais controversas estão as tarifas de 25% impostas a produtos do México, Canadá e China, que economistas progressistas alertam que irão encarecer bens essenciais para os mais pobres, e a retirada dos Estados Unidos da Organização Mundial da Saúde (OMS), uma decisão vista como um golpe contra a saúde global em tempos de pandemias e desigualdades crescentes. Trump também reverteu compromissos ambientais cruciais e intensificou políticas anti-imigração que violam princípios básicos de direitos humanos, reacendendo debates sobre justiça social, solidariedade internacional e a responsabilidade dos EUA como líder global.

Imigração

A promessa de deportação em massa, um dos pilares de sua campanha populista, começou a ser implementada com uma brutalidade que horrorizou defensores dos direitos humanos e organizações como a Anistia Internacional. O plano inicial de expulsar 11 milhões de imigrantes indocumentados em dois anos enfrentou forte resistência de movimentos de base, com protestos massivos em cidades como Chicago, Los Angeles e Nova York, forçando a Casa Branca a adiar parte das ações para março. Até agora, cerca de 25 mil pessoas — muitas delas mães, trabalhadores essenciais e vítimas de violência em seus países de origem — foram deportadas, com Trump desviando US$ 5 bilhões do orçamento militar para financiar essa máquina repressiva, em vez de investir em áreas essenciais, como a saúde ou a educação.

No dia 21 de janeiro,declarou estado de emergência na fronteira sul, mobilizando a Guarda Nacional e reinstaurando a cruel política "Remain in Mexico", que força requerentes de asilo a aguardarem em campos improvisados no lado mexicano, expostos a violência, fome e doenças. A extinção do "capturar e libertar" e a criação de "centros de triagem" com capacidade para processar 10 mil pessoas por dia transformaram a fronteira em uma zona de guerra contra os mais vulneráveis. "Estamos vedando o acesso a quem infringe as nossas normas", declarou Trump, em um discurso carregado de xenofobia e elitismo. Suas medidas também cortaram benefícios como o Medicaid para imigrantes legais e propuseram um sistema de vistos que privilegia os ricos e fluentes em inglês, aprofundando a exclusão social e o racismo institucional.

Conflitos Internacionais

Nas relações internacionais, Trump anunciou uma pressão por um acordo imediato entre Rússia e Ucrânia, mas sua abordagem autoritária e pró-Rússia gerou alarme entre progressistas e defensores da soberania ucraniana. Em uma reunião tensa com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky no Salão Oval, Trump elevou o tom, repreendendo-o com frases como “Você não está em uma posição boa agora. Você não tem as cartas. Você está jogando com a Terceira Guerra Mundial”. Ele ainda exigiu gratidão pelos US$ 114 bilhões de apoio militar americano desde 2022, ignorando que essa ajuda foi aprovada por uma coalizão bipartidária e que a Ucrânia luta por sua sobrevivência contra a agressão imperialista de Vladimir Putin.

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Trump arrogante confronta e destrata Zelensky. Foto: REUTERS/Brian Snyder

 

 

O Professor de Relações Internacionais da PUC-SP, Rodrigo Amaral, em entrevista à AGEMT, analisou o impacto do segundo mandato de Trump nas alianças tradicionais dos EUA, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Segundo ele, há duas dimensões principais: “Uma primeira é a discursiva, que gira em torno da posição política do Trump desde a sua candidatura, que era um presidente que valorizaria os Estados Unidos em primeiro lugar, por isso que ele usava aquele termo, America First, ou o mais pop, Make America Great Again. Isso, em termos de discurso, impactou muito os aspectos multilaterais que os Estados Unidos faziam parte”. 

Amaral destaca que a OTAN, o mais importante corpo multilateral militar do qual os EUA fazem parte, enfrenta incertezas com essa postura: “No âmbito prático, imediatamente o Trump anunciou que pressionaria pelo fim da guerra, um cessar-fogo na Ucrânia. Isso era visto como positivo no âmbito da solução dos conflitos, mas temeroso no âmbito do que vai ser a estratégia desse corpo multilateral, segurança coletiva, mediante uma ordem liberal em crise”.

O professor aprofunda a análise sobre a Ucrânia: “Nós vimos recentemente uma conversa constrangedora do Zelensky na Casa Branca com o Trump, que demonstra como os Estados Unidos podem mandar e desmandar na Ucrânia. Diferentemente de Israel, não é uma relação tradicional que os Estados Unidos têm com a Ucrânia, é uma relação de conveniência. A Ucrânia como um espaço para contenção do aumento da esfera de influência russa no leste europeu”. No entanto, ele critica: “Deu errado, porque a guerra na Ucrânia não só aconteceu como aconteceu de forma imprevisível. A Rússia conseguiu redefinir sua economia em direção a uma economia de guerra e para os contra-hegemônicos, como Irã, Coreia do Norte e China, enquanto a guerra só gerava gasto para a Ucrânia e seus aliados”.

 A postura de Trump é vista por analistas como uma traição aos valores democráticos e uma capitulação aos interesses de Moscou. Movimentos pacifistas e organizações como a CodePink criticam sua pressão por um acordo rápido como uma tentativa de apaziguar Putin, sacrificando a autodeterminação ucraniana em nome de uma suposta "estabilidade" que beneficia autocratas. Amaral reforça: “Ainda não há determinantes finais. Essa incerteza é o que toca o que tem acontecido até aqui”. Enquanto isso, a população ucraniana, já devastada por anos de guerra, teme que os EUA, sob Trump, abandonem seu papel de aliado em favor de uma política externa egoísta e transacional, que prioriza acordos com ditadores em vez de apoio aos povos oprimidos.

No conflito entre Israel e Hamas, Trump reivindicou crédito por um cessar-fogo iniciado na gestão Biden, propondo uma "paz pela força" que inclui a possibilidade de intervenção militar direta dos EUA em Gaza. Amaral comenta: “Mesmo antes do início do cessar-fogo em Gaza, Trump havia anunciado que isso era o plano dele. Ele teve representantes que foram até Israel pressionar Netanyahu, e fato é que houve um cessar-fogo. No entanto, semanas depois, ele não perdurou, ainda que houvesse um discurso de reconstrução de Gaza, que seria um plano neoliberal, incluindo empresas privadas multinacionais”. Ele critica essa abordagem: “Isso vem à esteira da expulsão palestina sistemática, que já acontece há, no mínimo, 75 anos, ou mais, se considerarmos o mandato britânico na Palestina”. 


Amaral vai além, denunciando a gravidade da situação atual: “Nós vivemos talvez o pior momento da história palestina. Por conta da maneira pela qual o Ocidente autorizou o assassinato em massa de palestinos, a expulsão em massa de palestinos do Oriente Médio, a tal ponto que temos mais de 50 mil mortos, assassinados pelo Estado de Israel desde o início da Guerra de Gaza de 2023”
 

 

Meio Ambiente

No âmbito ambiental, Trump declarou uma chamada "emergência energética", uma jogada que ambientalistas e cientistas classificam como um crime contra o planeta e as gerações futuras. Ele autorizou a exploração de petróleo em territórios prístinos do Alasca, destruiu incentivos para veículos elétricos — uma esperança para reduzir emissões — e oficializou, pela segunda vez, a saída dos EUA do Acordo de Paris. Essas ações, vendidas como estímulo econômico, são na verdade um presente às gigantes do petróleo, que lucrarão às custas de ecossistemas frágeis e do agravamento das mudanças climáticas. Ativistas do Greenpeace e do Movimento Sunrise denunciam que tais políticas condenam comunidades vulneráveis, como as populações indígenas e costeiras, a desastres ambientais, enquanto Trump ignora o apelo global por uma transição energética justa e sustentável.

Economia e Governo

Na economia, Trump lançou o Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), liderado por bilionários como Elon Musk e Vivek Ramaswamy, com a meta de cortar US$ 2 trilhões do orçamento federal até 2028. Esse plano, disfarçado como "modernização", visa desmantelar programas sociais essenciais, como assistência à saúde, moradia e educação, enquanto demite milhares de servidores públicos que garantem o funcionamento do Estado. A suspensão de contratações baseadas em diversidade e a imposição do trabalho presencial em órgãos federais são vistas por sindicatos e movimentos antirracistas como ataques diretos à equidade e aos direitos trabalhistas.

"Queremos transformar o governo em uma empresa: eficaz, enxuta e focada em resultados", declarou Musk, uma visão que críticos alertam que entrega o bem público nas mãos de uma elite corporativa, aprofundando a desigualdade e enfraquecendo serviços que protegem os mais pobres. Trump prometeu que o DOGE será "o maior impacto na burocracia desde a fundação do país", mas organizações como a AFL-CIO e a National Education Association denunciam que o projeto ameaça o acesso a direitos básicos, beneficiando apenas os ricos e os poderosos enquanto abandona as comunidades marginalizadas.

O Partido Social-Democrata (SPD) perde a maioria e marca o fim do governo de Olaf Scholz
por
Octávio Alves
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13/03/2025 - 12h

 

Após uma eleição com recorde de eleitores desde a unificação do país em 1990, com 83,5% dos votantes aptos, a União Democrata-Cristã (CDU), em aliança com a União Social-Cristã (CSU), liderada por Friedrich Merz, conquistaram 208 cadeiras no Bundestag, parlamento alemão, garantindo 28,52% dos votos. O resultado marca o retorno da legenda conservadora ao poder após 4 anos de domínio do Partido Social-Democrata (SPD), do chanceler Olaf Scholz, que sofreu uma derrota, ficando em terceiro lugar com 120 cadeiras e 16,41% dos votos.

Friedrich Merz, o provável novo Chanceler da Alemanha. Fonte: Ralf Hirschberger/ AFP
Friedrich Merz, o provável novo Chanceler da Alemanha. Fonte: Ralf Hirschberger/ AFP

O grande destaque da eleição, no entanto, foi o avanço da extrema-direita. O partido Alternativa para a Alemanha (AfD), liderado por Alice Weidel, que teve apoio do bilionário e aliado de Donald Trump, Elon Musk, atingiu seu melhor resultado desde a fundação, tornando-se a segunda maior força política do país com 152 cadeiras e 20,8% dos votos. O crescimento da ala conservadora confirma a insatisfação de parte do eleitorado com a política tradicional e reforça a tendência de fortalecimento do nacionalismo no país.

 

O sistema de eleição na Alemanha segue sendo misto, combinando elementos de voto distrital e proporcional. Cada eleitor tem dois votos: o primeiro escolhe um candidato que representará seu distrito no parlamento, enquanto o segundo é destinado a um partido político. 

Friedrich Merz, líder do CDU, após a divulgação dos primeiros resultados das urnas.  Foto: Odd Andersen/AFP
Friedrich Merz, líder do CDU, após a divulgação dos primeiros resultados das urnas.  Foto: Odd Andersen/AFP

Para a eleição federal no total tem o Bundestag que conta com 630 cadeiras, sendo que 299 são ocupadas por candidatos eleitos diretamente nos distritos, enquanto as demais 331 são distribuídas proporcionalmente entre os partidos que ultrapassam a cláusula de barreira de 5% dos votos nacionais.

Depois que os parlamentares forem definidos, se o partido vencedor não possuir a maioria da câmara, ele terá de fazer coalizões para formar a maioria e então eleger o novo chanceler.

Com o fim das urnas chegou-se à vitória da CDU, porém o Merz enfrenta agora o desafio de formar uma coalizão governamental estável. Seu partido, que não conseguiu maioria para governar, agora está buscando alianças com outros partidos, tais negociações podem demorar meses para serem finalizadas.  

Apesar do avanço, a AfD continua isolada politicamente. Os demais partidos mantêm uma política de "cordão sanitário", recusando qualquer aliança com a sigla devido às suas posições controversas. Isso significa que, mesmo sendo a segunda maior bancada do Bundestag, a AfD não deverá integrar o governo.

Outro aspecto curioso desta eleição foi a clara divisão geográfica do país, que ainda reflete os resquícios da Guerra Fria. O mapa eleitoral das eleições parlamentares evidenciou uma separação entre os antigos territórios da Alemanha Ocidental e da Alemanha Oriental, com a AfD tendo um desempenho expressivo no leste do país, enquanto os partidos tradicionais, como CDU e SPD, que acabam perdendo forças nestas regiões

O Professor do curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Bruno Huberman, explicou que  esta divisão é explicada pela maneira em que foi feita esta reunificação entre as duas alemanhas na época: “Ainda há uma segregação entre a Alemanha Ocidental e a Oriental. Isto acaba provocando um ressentimento importante, pois as elites que continuam governando são da Alemanha Ocidental.” 

Com isso e outros fatores sociais como o sentimento de abandono pelo governo alemão, o professor Huberman explica que a população quer uma mudança radical no país, que é vista no discurso da AfD de mudar o sistema.

Alice Weidel a líder da AfD dando o discurso pós eleição. Foto :Maryam Majd/ AFP
Alice Weidel a líder da AfD dando o discurso pós eleição. Fonte :Maryam Majd/ AFP

Essas eleições evidenciam uma reconfiguração no panorama político alemão, com o fortalecimento de forças conservadoras e nacionalistas, desafiando as formações centristas e tradicionais a repensarem suas estratégias e políticas para reconquistar a confiança do eleitorado alemão.

Michel Barnier é o primeiro a ser deposto em mais de 60 anos com mandato mais curto da história
por
Marcelo Barbosa
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06/12/2024 - 12h

Michel Barnier, primeiro-ministro da França, foi deposto pelo Parlamento, nesta quarta-feira (04). Barnier é o primeiro a ser deposto em mais de 60 anos, tendo o mandato mais curto da história do país, que começou em setembro deste ano.  


A crise política acontece no contexto da aprovação do Orçamento de 2025. Os dois blocos de extremos opostos do espectro político decidiram colocar um basta ao governo atual depois que Barnier confirmou suas intenções de usar uma manobra constitucional para passar por cima da Assembleia Nacional. 

Barnier foi nomeado pelo presidente Emmanuel Macron há apenas 3 meses. Em junho, os franceses foram às urnas para escolher os que iriam compor o Parlamento. A esquerda foi predominante na disputa, vencendo a Reunião Nacional, de extrema direita. No entanto, isso não foi suficiente para formar a maioria do governo. Macron, então, escolheu um primeiro-ministro de direita. Isso gerou uma onda de protestos no país, em mais de 100 cidades. De acordo com os organizadores em entrevista ao Jornal O Globo , 300 mil pessoas estiveram nas ruas, sendo 160 mil apenas na capital.  

Michel Barnier, ex-primeiro ministro, da França com as mãos juntas em frente ao peito.
Governo Barnier é o mais curto da Quinta República (1958). Foto: Alain Jocard / AFP.


Durante uma visita oficial à Arabia Saudita, na última terça-feira (4), o presidente Marcon afirmou que "o interesse do país é mais importante que o interesse dos partidos", apelando para que o Governo não fosse derrubado. Apesar disso, a votação no parlamento uniu esquerda e direita. O governo de Barnier tornou-se o mais curto da Quinta República francesa, que iniciou em 1958.

O principal motivo para a Moção de censura foi a rejeição da proposta de orçamento.Para contornar a dívida pública francesa, o Orçamento propunha reduzir o gasto público e aumentar o imposto  para os empresários. 
 Apesar da queda do governo Barnier, a permanência de Macron, até o momento, não foi afetada. O mandato do presidente vai até 2027.  Enquanto a maioria dos franceses atribui a Emmanuel Macron a responsabilidade pela situação atual e sua aprovação despenca, cresce o coro de demandas por sua renúncia como uma solução para a crise. No entanto, na terça-feira (03), o presidente descartou essa possibilidade, classificando-a como uma "ficção política".
 

Presidente Yoon Suk Yeol enfrenta tentativa de impeachment após tentativa de lei marcial
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
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06/12/2024 - 12h

A Coreia do Sul vive uma das maiores crises políticas das últimas décadas após o presidente Yoon Suk Yeol decretar lei marcial por algumas horas, uma medida inédita desde o fim dos regimes militares no país nos anos 1980. A decisão, revogada rapidamente devido à forte pressão parlamentar, gerou acusações de tentativa de golpe e abriu caminho para um possível impeachment, que será votado neste sábado (7), às 19h (horário local).

Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul. Foto: Im Hun-jung/Yonhap via AP
Yoon Suk Yeol, presidente da Coreia do Sul. Foto: Im Hun-jung/Yonhap via AP

Decreto polêmico e reação parlamentar

Na noite da última terça-feira (3), Yoon anunciou a lei marcial em um discurso televisionado, justificando a medida como uma ação para proteger a "ordem constitucional da democracia livre" contra forças que ele chamou de "antiestatais". O decreto previa a suspensão de atividades políticas, censura à mídia e proibição de protestos. No entanto, a Assembleia Nacional, liderada pela oposição, reagiu prontamente, reunindo 180 parlamentares para derrubar a medida e forçar a retirada das tropas.

A situação ganhou contornos dramáticos quando helicópteros militares cercaram o prédio legislativo, e parlamentares foram impedidos de entrar. Lee Jae-myung, líder do Partido Democrata e principal rival político de Yoon, precisou escalar cercas para acessar o local, transmitindo o ato ao vivo em redes sociais, onde o vídeo rapidamente viralizou.

A lei marcial é uma medida extraordinária em que os militares assumem o controle, suspendendo leis civis e restringindo direitos, como liberdades políticas e de expressão, para lidar com crises graves ou ameaças à ordem pública.

Acusações e consequências

O decreto de Yoon foi amplamente criticado como uma tentativa de golpe, agravando sua já baixa popularidade, que atingiu 19% segundo a última pesquisa da Gallup. O Partido Democrata, que controla 192 das 300 cadeiras do Parlamento, busca apoio suficiente para atingir os dois terços necessários para o impeachment. Se aprovado, o primeiro-ministro Han Duck-soo assumirá interinamente, enquanto a Corte Constitucional decidirá o futuro do presidente.

A tentativa de lei marcial também provocou a renúncia do ministro da Defesa, Kim Yong-hyun, e pedidos de afastamento de outros membros próximos ao governo. Yoon ainda enfrenta acusações que podem levar à prisão perpétua ou até à pena de morte, segundo a legislação sul-coreana.

Histórico de Yoon e desafios políticos

Yoon Suk Yeol, eleito em 2022, iniciou sua trajetória política como promotor e ganhou destaque ao investigar casos de corrupção envolvendo figuras importantes. No entanto, seu governo foi marcado por controvérsias, incluindo inflação, restrições à liberdade de expressão e escândalos envolvendo sua esposa.

A decisão de declarar lei marcial ocorre em um momento de tensão com a oposição e em meio a negociações sobre o orçamento do próximo ano, em que o governo sofreu derrotas significativas no Parlamento.

Implicações regionais e internacionais

A medida alarmou tanto aliados quanto adversários internacionais. Enquanto os Estados Unidos declararam surpresa com a decisão, a Rússia considerou o episódio "preocupante". Internamente, a ação foi vista como um retrocesso democrático, algo impensável após 40 anos de consolidação de liberdades civis no país.

A crise atual não apenas ameaça o mandato de Yoon, mas também coloca em xeque a estabilidade de um dos principais aliados dos Estados Unidos na Ásia, reacendendo debates sobre a força das instituições democráticas sul-coreanas diante de líderes autoritários.

Com o impeachment à vista e a pressão internacional aumentando, o destino de Yoon Suk Yeol será decidido em um ambiente político marcado por incertezas e divisões profundas.

Conheça detalhes da proposta que pretende reduzir jornada de trabalho no Brasil
por
Ricardo Dias de Oliveira Filho
Marcelo Barbosa
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02/12/2024 - 12h

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que pretende acabar com a jornada de trabalho 6×1, em que o trabalhador cumpre seis dias de trabalho para ter direito a apenas um dia de folga, está ganhando força no Congresso Nacional. 

A PEC, que tem como principal defensora a deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), alcançou o número mínimo de 171 assinaturas necessárias para ser protocolada e iniciar sua tramitação na Câmara dos Deputados. O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), criado por Rick Azevedo, vereador eleito pelo PSOL no Rio de Janeiro, desempenhou um papel crucial ao dar visibilidade à questão, mobilizando apoiadores e aumentando a conscientização sobre a importância da mudança na legislação trabalhista.

De acordo com informações do gabinete da deputada, cerca de 231 assinaturas de deputados federais já foram registradas até a manhã de sexta-feira, 15 de novembro de 2024. Com isso, a proposta segue agora para as próximas etapas legislativas, com previsão de ser discutida e votada no plenário.

O que propõe a PEC?

A deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP), responsável pela proposta para redução da jornada. Foto: Câmara dos Deputados.
A deputada federal Érika Hilton (PSOL-SP), responsável pela proposta para redução da jornada. Foto: Câmara dos Deputados.


A proposta busca alterar a Constituição Federal para reduzir a carga horária de trabalho semanal de 44 para 36 horas, com a implementação de uma jornada de quatro dias de trabalho seguidos por três dias de folga. 

A justificativa apresentada pela deputada Erika Hilton para a PEC destaca que a alteração proposta à Constituição reflete um movimento global em direção a modelos de trabalho mais flexíveis. 

Isso envolve o reconhecimento de que o mercado de trabalho precisa se adaptar às novas demandas sociais, oferecendo uma melhor qualidade de vida para os trabalhadores e suas famílias. Hilton afirma que é essencial uma mudança nas normas de jornada de trabalho para equilibrar a vida profissional com o tempo para lazer e convivência familiar.

A mobilização popular e o Movimento VAT

Um dos pilares que sustentam a proposta da PEC é o apoio da população, especialmente de trabalhadores que reivindicam melhores condições de trabalho. O Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), criado por Rick Azevedo, vereador eleito pelo PSOL no Rio de Janeiro, foi fundamental para dar visibilidade à questão. 

Rick, fundou o movimento após se tornar uma figura popular nas redes sociais, especialmente no TikTok, ao compartilhar vídeos sobre a rotina de trabalho exaustiva e os impactos psicológicos que a escala 6×1 tinham em sua vida.

O vereador Rick Azevedo, criador do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT).  Foto: Rick Azevedo via Instagram/Reprodução
O vereador Rick Azevedo, criador do Movimento Vida Além do Trabalho (VAT). Foto: Rick Azevedo via Instagram/Reprodução.

Em seus vídeos, Rick relatava como a jornada de trabalho intensa afetava sua saúde mental, destacando a sobrecarga de responsabilidades para quem trabalha em empregos como auxiliar de serviços gerais, vendedor, frentista, ou balconista de farmácia. 

Ele mencionava também as dificuldades que enfrentava por não ter tempo para estudos, familiares ou lazer. Ao ganhar visibilidade, Rick organizou grupos no WhatsApp e Telegram, que posteriormente se expandiram para diversos estados do Brasil, com o objetivo de conscientizar e mobilizar mais pessoas em torno da causa.

A petição online iniciada pelo movimento VAT, intitulada "Por um Brasil que vai além do trabalho: VAT e Ricardo Azevedo na vanguarda da mudança", foi uma das principais ferramentas de mobilização. 

A petição solicita que o Congresso Nacional altere a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e revise a escala de trabalho 6×1, propondo alternativas que permitam aos trabalhadores desfrutar de mais tempo para suas vidas pessoais e familiares. Até o momento, a petição já alcançou mais de 2 milhões de assinaturas, o que evidencia o grande apoio popular à iniciativa.

Procuramos a assessoria do Vereador Rick Azevedo e da deputada federal Erika Hilton para maiores esclarecimentos sobre a PEC e sobre o movimento VAT mas não obtivemos retorno até o fechamento desta reportagem..

A PEC no Congresso: desafios e apoios

Com o número de assinaturas alcançado, a PEC agora está pronta para ser protocolada na Câmara dos Deputados. Contudo, o caminho até a aprovação ainda não está garantido, e o processo pode ser longo. A deputada Erika Hilton fez um pronunciamento na tarde de quarta-feira (13) para reforçar os argumentos a favor da mudança na legislação trabalhista.

Minutos antes de uma reunião com o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a deputada Erika Hilton, líder do PSOL (SP), exigiu “apoio aberto e declarado” do governo federal para a proposta de emenda constitucional que visa acabar com a escala 6x1 (seis dias de trabalho e um de descanso).

As declarações de Hilton ocorreram logo após ela anunciar que havia obtido as 171 assinaturas necessárias para protocolar a PEC. Ela também confirmou que participaria de uma reunião com Padilha e o deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), autor de uma outra PEC sobre o mesmo tema.

“Vou primeiro ouvir o que o ministro Padilha tem a nos dizer”, afirmou Hilton. “O que precisamos é do apoio do governo para fortalecer essa discussão no Congresso Nacional, com mediação do ministro, para que consigamos avançar na tramitação dessa PEC, com o respaldo claro e explícito do governo.”

A PEC 221/19, apresentada pelo deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), também propõe a redução da carga horária semanal, mas sem alterar o modelo de quatro dias de trabalho e três dias de folga. Essa PEC está atualmente na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, dependendo do andamento, pode ser unificada com a proposta de Erika Hilton ou seguir separada. A decisão sobre a tramitação de ambas as PECs caberá a Arthur Lira (PP-AL), Presidente da Câmara dos Deputados.

Visões contrárias e a reação do governo

A proposta tem gerado controvérsias, com diferentes setores da sociedade e do governo expressando suas opiniões. Entre os defensores da PEC, há o argumento de que a jornada de trabalho 6×1 é excessiva e desgastante, e que sua eliminação poderia criar novos postos de trabalho. A redução da jornada, segundo esses defensores, permitiria que os trabalhadores tivessem mais tempo para o lazer, o que também beneficiaria a saúde mental e a qualidade de vida da população.

No entanto, especialistas e setores do empresariado levantam preocupações em relação aos possíveis impactos da medida. Para eles, a redução da jornada de trabalho poderia aumentar os custos das empresas, sem que houvesse um aumento significativo na produtividade, o que pode gerar alta na inflação e no desemprego.

Cristina Helena Pinto de Mello, economista e professora da PUC-SP, diz que uma das possibilidades para manter o equilíbrio entre a manutenção do ritmo de atividade, se adequar às novas regras e manter o nível de produtividade será necessário contratação adicional ou pagamento de horas extras: “Neste caso, veremos um aumento nos custos de produção e elevação dos preços finais”. 

Mello diz que, com o passar do tempo, esses custos tendem a se diluir pelo endurecimento das negociações salariais com reajustes menores. “Uma alternativa é otimizar processos com tecnologia. Neste caso, os aumentos de custos podem ser menores e diluídos ou rateados em maior atividade produtiva”.  

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está dividido em relação à proposta. O vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) tem se mostrado favorável à redução da jornada de trabalho, destacando que ela é uma tendência global e que merece ser debatida. Por outro lado, o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho (PT), se mostrou mais cauteloso, sugerindo que qualquer mudança na jornada de trabalho devesse ser discutida de forma mais detalhada e, preferencialmente, por meio de negociações coletivas entre trabalhadores e empregadores.

Reações no Congresso: preocupação com o impacto para as empresas

No Congresso, a reação também tem sido mista. O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), favorito para assumir a presidência da Câmara em fevereiro, expressou preocupações sobre a PEC. Ele acredita que é necessário ouvir os empresários e considerar os efeitos econômicos da proposta antes de avançar. 

Em uma reunião com a Frente Parlamentar pelo Empreendedorismo, Motta afirmou: “O que se criou é um verdadeiro movimento nas redes sociais a favor da PEC, que é um tema que temos e vamos discutir, mas precisamos ouvir ambos os lados.” 

T3: A aprovação da PEC pode desestabilizar a economia?

Desde que ganhou visibilidade, a proposta  passou a ser motivo de críticas. No Congresso Nacional, a grande maioria que votou a favor da PEC eram de partidos da base aliada ao Governo Lula. A oposição de direita contestou a proposta, mas, mesmo assim, obteve um voto a favor do deputado federal Fernando Rodolfo (PL). Alguns parlamentares conservadores, como Nikolas Ferreira (PL-MG) e José Medeiros (PL-MT), e empresários são contra as mudanças propostas na lei.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), contrário à proposta da redução da jornada. Foto: Câmara dos Deputados.
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), contrário à proposta da redução da jornada. Foto: Câmara dos Deputados.

No vídeo divulgado nas redes sociais, Nikolas classificou a votação como "ataque coordenado" e disse que não vai ceder às pressões. Ele alegou que a proposta pode gerar mais inflação no país e que nenhum outro político foi pressionado a tomar posição no tema. Apesar do que foi dito pelo deputado, a pressão nas redes sociais afetou diferentes políticos, incluindo parlamentares do PT.  

Procuramos a assessoria do Deputado Nikolas Ferreira, mas não obtivemos retorno.

Países do mundo inteiro estão testando ou já efetivaram um modelo de redução na jornada de  trabalho. Através de uma parceria entre a organização 4 day week e a construtora Reconnect Happiness, esse caminho foi experimentado em países como Espanha, Estados Unidos e Austrália.

Um relatório publicado pelo Think Tank Autonomy, juntamente de acadêmicos da Universidade de Cambridge, mostrou resultados positivos. Mais de 90% das empresas que participaram do teste decidiram continuar com a semana de quatro dias, já que o esgotamento dos funcionários diminuiu 71% e as empresas ficaram satisfeitas com a produtividade dos empregados. Além disso, nações de grande relevância econômica possuem jornadas de trabalho com menos de 40 horas. A Holanda possui, em média, 29,2h; A Dinamarca, 32,4h; A Alemanha, 34,4h; A Suíça, 34,4h e a Irlanda com 34,9h semanais.

Entretanto , a professora Cristina Helena ressalta que o cenário brasileiro é diferente do internacional, onde a mudança foi implementada com o aumento da produtividade ou por conta do investimento em tecnologias: “Faremos em um contexto de desindustrialização, forte mercado informal de trabalho, pressões inflacionárias e economia aquecida”, argumenta.