Disputa destaca segurança pública, moderação política e efeitos do voto obrigatório.
por
Fábio Pinheiro
Antônio Bandeira de Melo Carvalho Valle
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26/11/2025 - 12h

O Chile chega ao segundo turno das eleições presidenciais de 2025 em meio a intensos debates sobre segurança, migração e economia, após uma votação acirrada que colocou Jeannette Jara, do Partido Comunista do Chile (PCCh), e José Antonio Kast, do Partido Republicano (PLR), na disputa do segundo turno.

Apesar da filiação partidária, Jara adota um discurso mais moderado, enquanto Kast suavizou parte da retórica ao longo da campanha. O cenário reforça uma eleição marcada por movimentos ao centro e pela retomada do voto obrigatório.

Embora seja filiada ao Partido Comunista, Jara não deve ser interpretada como uma candidata de linha comunista clássica, explica Arthur Murta, professor de Relações Internacionais da PUC-SP: “O discurso dela é social-democrata, centro-esquerda. Ela sai das primárias com esse objetivo: reunir pautas amplas da esquerda e atrair setores moderados.” Segundo o professor, a candidata tenta recuperar votos de Franco Parisi e Evelyn Matthei, figuras que atraem eleitores flutuantes entre centro-direita e centro-esquerda.

A presença de Kast no segundo turno está diretamente ligada ao peso da segurança pública no debate chileno. Desde a pandemia, o país enfrenta aumento de furtos e crimes de menor potencial ofensivo, o que se tornou tema central no pleito. “O principal incômodo do chileno hoje é a segurança”, afirma Arthur. 

Ele explica que parte do eleitorado vinculou o aumento dos crimes à chegada de imigrantes — especialmente venezuelanos, colombianos e haitianos —, ainda que não haja dados que sustentem essa associação. Essa percepção, porém, alimenta o discurso da extrema-direita e fortalece candidaturas como a de Kast.
 

O Palácio de La Moneda
O Palácio de La Moneda. Foto: Wikimedia Commons

As chances de Jara reverter o cenário são consideradas baixas. Segundo Arthur, a candidata chegou com cerca de 26% dos votos — número insuficiente para equilibrar a disputa. “Ela precisa conquistar muitos votos, mas a maior parte dos eleitores dos candidatos derrotados é da direita”, avalia o professor. Apesar disso, ele aponta que parte dos votos do centro pode migrar para Jara, ainda que não em volume suficiente para garantir uma virada.

Outro ponto decisivo é o voto obrigatório. Esta é a primeira eleição presidencial chilena com participação compulsória, e a multa para ausência pode chegar a US$ 100. “Metade da população não votava. Agora, muitos irão às urnas pela primeira vez”, destaca Arthur. Para o professor, essa mudança tende a influenciar mais o comportamento eleitoral do que as instabilidades anteriores, como os protestos de 2019 ou o processo constitucional rejeitado em 2022.

Com o segundo turno marcado para 14 de dezembro, o Chile se vê diante de dois caminhos distintos. Jara tenta consolidar uma frente moderada capaz de ampliar sua base, enquanto Kast se apoia no discurso de segurança e no sentimento de urgência que vem crescendo no país. Em meio a transformações sociais e a um eleitorado expandido pelo novo sistema de participação, o país decide seu próximo capítulo político.

Segundo professora da Unifesp, países não demonstram mais interesse no funcionamento da instituição
por
Renata Bittar
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13/11/2025 - 12h

Fundada em 1945, logo após a Segunda Guerra Mundial, a Organização das Nações Unidas (ONU) representa um marco histórico e o compromisso da humanidade na cooperação para a paz. Atualmente, no entanto, a organização se encontra em uma posição de risco e vulnerabilidade diante da multiplicação de conflitos e governos autocráticos que desprezam os princípios do multilateralismo.

Segundo Cristina Pecequillo, professora livre docente de política internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), o 80° aniversário da ONU, embora digno de comemoração, ocorre em um momento de perda de influência da instituição. Na visão da pesquisadora, a data é um convite à reflexão sobre os caminhos que a entidade poderá trilhar para se manter essencial no âmbito internacional.  

Cristina observa que a geopolítica mundial se transforma dia após dia e coloca em xeque a segurança e a soberania de cada nação. Situações delicadas, como a de Israel e Gaza, são cada vez mais comuns. Da mesma forma, discursos autoritários como os de Donald Trump estão cada vez mais fortes, fragilizando as relações diplomáticas. A especialista afirma que a ONU vem gradualmente perdendo relevância e passa por um longo processo de definhamento financeiro e político. Segundo Cristina, a instituição se transformou em um instrumento de interesse do governo dos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, serve de palco para as ações de Trump e impõe barreiras a elas. 

Para Cristina, Trump tem diversas alternativas políticas para cada nação e situação. “Trump tem como opção, aos demais organismos multilaterais, a completa destruição, uma repactuação de relações e, no caso das Nações Unidas, um meio termo, já que não investe mas precisa dessa visibilidade para passar algumas políticas para o sistema internacional”, afirma, acrescentando que as circunstâncias atuais exigem uma reforma que permita a ampliação do Conselho de Segurança e identifique novos rumos e missões para o órgão.

Conforme a professora, as nações divergem em relação a como deve ser feita a transformação e o fortalecimento da ONU. “Nem todos os membros estão satisfeitos com o sistema multilateral: uns vão querer reformar, como o Brasil e a China, e outros vão querer fazer uma transformação mais séria e utilizar o organismo para os seus próprios objetivos”, afirma. 

Segundo ela, o interesse e o investimento na instituição ocorreram mais devido ao individualismo do que à proteção geral. Cristina explica que, se a organização não tiver apoio ou respeito de seus integrantes, ela não irá funcionar.

De acordo com a estudiosa, a instituição, que anteriormente representava manutenção e mediação da paz entre nações, ficou em segundo plano e perdeu o sentido para os Estados. Essa ausência de interesse é evidente e contestada. A organização, ainda que desempenhe algum papel em conflitos globais, foi enfraquecida e se distanciou das responsabilidades políticas. Seu funcionamento está inteiramente dependente do comportamento de grandes potências, nações com mais dinheiro e poder que controlam a política e a economia.

Em seu aniversário de 80 anos, a ONU, que se manteve firme em conflitos como a Guerra Fria, desenvolveu um novo projeto de operação devido ao aumento das crises globais e desigualdade. O projeto “ONU 80”, anunciado em março de 2025 pelo secretário-geral Antônio Guterres, busca modernizar o exercício da organização e reafirmar seu impacto. A proposta tem como principal objetivo aumentar a relevância do órgão por meio de três pilares: mais eficiência e menos burocracia, revisão de mandatos e ajustes na estrutura e nos programas.

A ONU enfrentou, e continua enfrentando, crises humanitárias de imensa dimensão e complexidade. Na guerra entre Ucrânia e Rússia, a instituição afirma trabalhar fortemente em ajuda humanitária e nos esforços que influenciam a diplomacia no conflito. Cristina afirma que a sociedade tende a ter uma visão muito positiva sobre o surgimento e a consolidação da ONU, o que se reflete nas grandes disputas geopolíticas e geoeconômicas de cada época.

António Guterres relembra, em sessão comemorativa aos 80 anos da ONU, que grande parte de antigos funcionários das Nações Unidas carregava marcas visíveis da guerra (ONU / Loey Felipe)

 

 

 

 

Oposição acusa governo de matar mais de 700 pessoas durante manifestações. Orgãos internacionais apontam irregularidades no pleito
por
Octavio Alves
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10/11/2025 - 12h

O país africano vive dias de tensão política, após as eleições gerais realizadas em 29 de outubro, que deram vitória à presidenta Samia Suluhu Hassan, do partido governista Chama Cha Mapinduzi (CCM). De acordo com os resultados oficiais divulgados pela Comissão Eleitoral Nacional do país, Samia conquistou cerca de 97,66% dos votos, garantindo um novo mandato de cinco anos. Ela atuava como vice-presidente quando o antecessor, John Magufuli, morreu em 2021. A morte de Maqufuli  transformou Samia na primeira presidenta da história do país e o pleito recente, na primeira presidenta eleita.

Embora os números sejam altos, as eleições foram duramente criticadas por observadores internacionais e organizações de direitos humanos, que relataram irregularidades, repressão a opositores e violência generalizada.

Durante o período pré-eleitoral, houve relatos de prisões arbitrárias, censura à imprensa, intimidação de ativistas e até o rompimento do sinal de internet, bem na semana do pleito. No dia da votação, diversos centros registraram falhas de comunicação e bloqueios de internet, o que dificultou a fiscalização do processo. 

O partido opositor Chadema denunciou que pelo menos 700 manifestantes foram mortos em três dias, número que subiu para 800 no sábado (08), segundo o porta-voz John Kitoka. Contudo, fontes hospitalares citadas pela agência EFE, afirmam que o número de mortos chega a, pelo menos, 150. Até o momento, a imprensa internacional não conseguiu averiguar a veracidade destes dados.

 

Samia na posse oficial se tornando a primeira presidente mulher eleita. Foto: Tanzania State House
Samia Suluhu Hassan durante a posse oficial como a primeira presidenta  eleita da Tanzânia. Foto: Tanzania State House

 

A Human Rights Watch e a Anistia Internacional denunciaram o uso excessivo da força, com dezenas de mortos e centenas de detidos, números ainda não confirmados oficialmente. A União Europeia e a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) afirmaram que as eleições “não permitiram aos cidadãos expressar livremente a sua vontade democrática”.

Em seu discurso de posse, realizado em 3 de novembro, Samia Suluhu Hassan afirmou que sua vitória “representa a vontade do povo tanzaniano” e prometeu restaurar a ordem e focar em desenvolvimento econômico, educação e infraestrutura. No entanto, líderes da oposição questionam a legitimidade do resultado.

Desde a independência, em 1961, o CCM, sucessor do primeiro partido eleito TANU, domina o cenário político tanzaniano. Críticos têm apontado para a necessidade de uma reforma eleitoral, o que foi utilizado como justificativa à prisão do líder do partido Chadema, Tundu Lissu, sob acusação de traição.

Lissu está preso desde o mês de abril, acusado de traição por defender reformas eleitorais que, segundo ele, contribuiríam para uma votação livre e justa. Outra importante figura da oposição, Luhaga Mpina, do partido ACT-Wazalendo, foi impedida de concorrer.

Observadores da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), bloco econômico regional, afirmaram em comunicado que as eleições de 29 de outubro não atenderam aos princípios e diretrizes do grupo para eleições democráticas, citando principalmente a proibição da candidatura de opositores.

A retirada aconteceu depois de Kimmel criticar Donald Trump, em um comentário sobre a morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. O caso reacendeu o debate sobre censura
por
Matheus Henrique
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06/10/2025 - 12h

O apresentador estadunidense Jimmy Kimmel teve seu programa retirado do ar, após criticar o presidente Donald Trump, no dia 15 de setembro, durante a repercussão da morte do influenciador e ativista conservador Charlie Kirk. Ele questionou a reação do líder norte-americano e sugeriu que Tyler Robinson, autor do atentado que vitimou Kirk, seria republicano e trumpista.
 


Kimmel iniciou seu monólogo afirmando que o fim de semana havia trazido mais uma cena vergonhosa ao comentar a tentativa do movimento conservador MAGA, sigla para “Make America Great Again”, de se desvincular do acusado: "A gangue do MAGA está tentando desesperadamente caracterizar o garoto que assassinou Charlie Kirk como algo diferente de um deles, e faz tudo o que pode para ganhar pontos políticos com isso.” 

Ele comentou também sobre a reação inusitada de Trump quando um repórter perguntou como ele estava lidando com a morte de Kirk. O presidente respondeu que estava muito bem e começou a falar sobre a construção de um novo salão de baile na Casa Branca. O apresentador ironizou a situação e disse que essa não é a forma de um adulto lamentar a morte de alguém de quem dizia ser amigo. 

A emissora se posicionou sobre o caso e afirmou que os comentários foram ofensivos, optando por suspender o programa. Nas redes sociais, o presidente comemorou a suspensão e aproveitou para pedir o cancelamento de outros programas que criticam a sua gestão. 
 

trump
Grande notícia para os Estados Unidos: a ABC finalmente teve a coragem de fazer o que precisava ser feito. Kimmel não tem NENHUM talento e tem uma audiência pior que a do [Stephen] Colbert, se é que isso é possível. Agora restam Jimmy [Fallon] e Seth [Meyers], dois completos perdedores, na mentirosa NBC. A audiência deles também é horrível. Faça isso, NBC!!! Presidente Donald Trump - Reprodução: Truth Social

A suspensão repercutiu também entre os Democratas. Barack Obama, ex-presidente dos Estados Unidos, acusou o governo de censura, enquanto o senador pelo Estado de Vermont, Bernie Sanders, classificou o caso como mais um episódio de autoritarismo da gestão Trump. Ambos insistiram que o atual presidente busca calar vozes críticas. 

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Depois de anos reclamando sobre a cultura do cancelamento, a atual administração levou isso a um novo e perigoso nível ao ameaçar rotineiramente com ações regulatórias contra empresas de mídia, a menos que silenciem ou demitam repórteres dos quais não gostam. -  Reprodução: X
bernie
O autoritarismo é isso: o governo silenciando vozes dissidentes. Colbert. Kimmel. Um processo de 15 bilhões de dólares contra o New York Times. Muita gente lutou e morreu para defender a liberdade. Não vamos deixar que Trump a tire de nós. - Reprodução: X 

O apresentador voltou ao ar no dia 23 de setembro. Em seu discurso, esclareceu que nunca teve a intenção de menosprezar o assassinato de um jovem e aproveitou para provocar Trump novamente: “Ele fez o possível para me cancelar, mas, em vez disso, obrigou milhões de pessoas a assistir ao programa. O tiro saiu pela culatra. Talvez agora ele tenha que divulgar os arquivos de Epstein para nos distrair disso.”

Kimmel ainda comentou sobre a decisão de que conteúdos jornalísticos terão de ser submetidos à análise antes da publicação: "Pete Hegseth [Secretário de Defesa dos Estados Unidos], anunciou uma nova política que exige que jornalistas com credenciais de imprensa do Pentágono assinem um termo de compromisso, prometendo não divulgar informações que não tenham sido explicitamente autorizadas. Eles querem escolher as notícias." 

Neste ano, a emissora americana CBS anunciou o encerramento do programa The Late Show, apresentado por Stephen Colbert. A suspeita é de que as recorrentes críticas feitas pelo apresentador a Donald Trump tenham motivado a decisão.

Maior evento europeu do setor continua na rota por novidades eletricas e mais concorrência a cada ano
por
Vítor Nhoatto
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22/09/2025 - 12h

Ocorrido entre os dias 9 e 14 de setembro, o IAA Mobility recebeu mais de 500 mil visitantes, superando a sua última edição em 2023. Estiveram presentes as germânicas Audi, BMW, Mercedes, Opel, Porsche e Volkswagen, mas Fiat, Peugeot e nenhuma japonesa compareceu. Com isso, mais uma vez uma grande parte de Munique foi palco para as chinesas se consolidarem e expandirem.

Com o lema “It’s all About Mobility”, em tradução livre, “É Tudo Sobre Mobilidade”, o foco da mostra se manteve em soluções inteligentes e inovadoras. Startups como a Linktour com  seus micro carros elétricos, e marcas de bicicletas e motocicletas elétricas estavam por todos os lados do München Expo Center. E repetindo o formato aplicado desde 2021, com o chamado “Open Space”, uma área de experiências interativas gratuitas ao ar livre, os visitantes podiam experimentar tudo isso.

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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 Além disso, a inovação tecnológica foi tema de muitos debates e coletivas de imprensa com representantes da indústria. Fornecedoras como a Bosch, Aisin e Revolt, além de empresas de carregadores como a Charge X e E-Mobilio e a gigante de baterias CATL foram só alguns dos mais de 750 expositores presentes. 

Setor premium atento

Falando em eletricidade, ela estava no centro das atenções de todas as marcas, apesar das vendas de carros elétricos (BEV) terem sido prejudicada na Europa no ano passado. O fim ou diminuição de subsídios governamentais e metas de descarbonização estagnadas na União Europeia foram os principais motivos segundo o Global EV Outlook 2025 da International Energy Agency (IEA). No entanto, as projeções para esse ano e os próximos são de crescimento.

De olho nisso a BMW lançou o novo iX3, modelo mais importante em anos ao inaugurar uma nova era para a alemã. A segunda geração do modelo estreia uma plataforma sob medida e exclusiva para elétricos de nova geração, chamada de Neue Klasse. O destaque fica com a nova bateria de 108.7kWh de capacidade integrada ao chassi, compatível com carregamento ultrarrápido de até 800V - ganha 372km em apenas dez minutos - e autonomia de 805km em uma carga segundo o ciclo WLTP. 

No quesito design a ruptura com o passado é ainda mais evidente, com uma nova linguagem visual, inspirado nos modelos da BMW dos anos 80. No interior foi inaugurado o Panoramic iDrive, com o painel de instrumentos correndo ao longo de todo o para-brisa, um novo volante de quatro raios e um multimídia com inteligência artificial de 17,5 polegadas. “A Neue Klasse é o nosso maior projeto futuro e marca um grande salto em termos de tecnologias, experiência de condução e design”, frisou o presidente do conselho de administração da marca, Oliver Zipse.

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Alemã aproveitou o evento para apresentar o futuro Sedan i3, que seguirá o capítulo iniciado pelo SUV iX3,  irmão de plataforma. Foto: BMW Group / Divulgação 

Do outro lado do pavilhão, a Mercedes-Benz fez um movimento parecido, lançando a segunda geração do GLC elétrico. O modelo foi o primeiro elétrico da marca, ainda em 2018 como EQC. Mas pelas vendas baixas havia sido descontinuado no ano passado, e agora retorna com o nome “GLC With EQ Technology”, para evidenciar as mudanças. Rival direto do iX3, segue a linguagem de design inaugurada no novo CLA no ano passado, aqui com uma grade iluminada e enormemente proeminente.

Construído sob a inédita plataforma elétrica MB.EA Medium, independente do GLC, a combustão portanto, possui carregamento de até 800V e uma bateria de 94kWh, traduzidos em 713 km de autonomia. No interior, o SUV inaugura o “Hyperscreen”, transformando o painel inteiro em uma tela de 39.1 polegadas. O interior pode ser todo vegano e certificado, e a comunicação Car-to-X - que coleta e envia dados para comunicar outros veículos - se destaca no quesito segurança. O preço inicial deve girar em €60 mil quando chegar às lojas ainda esse ano, tal qual o rival.

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Faróis possuem tecnologia Matrix, e sob o capô há um espaço de 128 litros para bagagens. Foto: Mercedes-Benz / Reprodução

Mas nem só de SUVs o mercado premium é formado, e a Polestar compareceu a Munique para o lançamento mundial do seu novo modelo de topo, o sedã 5. A marca do grupo Geely, divisão de performance da Volvo até 2017, aposta em sustentabilidade e alta performance, estreando a nova plataforma PPA do grupo. São 872 cavalos, tração integral, aceleração de 0 a 100 em 3,2 segundos e ausência de janela traseira, tal qual no crossover 4.

Um presente e futuro elétrico

Nas duas últimas edições do Salão de Munique, ambientalistas protestaram em frente ao evento em defesa de uma mudança sistêmica da indústria, o que se repetiu. As ONGs Extinction Rebellion e Attac levaram placas pedindo por mais investimento em transporte público e justiça social, jogando atenção para uma mentalidade individualista e o preço dos elétricos. 

Em relação a essa questão, um estudo da empresa de consultoria, Gartner, mostra que até 2027 os BEVs serão mais baratos de produzir que os carros a combustão (ICEVs), e o Grupo Volkswagen promete preços competitivos para sua nova geração de elétricos. 

Foram revelados no evento quatro modelos para o segmento B baseados na plataforma MEB Entry do conglomerado. O principal deles foi o ID.Polo da Volkswagen, com previsão de início de vendas em maio na casa dos € 25 mil. Como o seu nome sugere, é a versão elétrica do hatch Polo, e contará com baterias de 38 e 56 kWh, com uma autonomia de 350 e 450 km respectivamente. Uma versão GTI do modelo será também comercializada, com 223 cavalos.

Continuando o apelo esportivo que a versão encurtada da plataforma em que os modelos do segmento C, ID.3 e ID.4, são construídos, a espanhola Cupra mostrou a versão de produção do Raval. Com dimensões e motorizações basicamente iguais às do ID.Polo, promete continuar a expansão da nova marca do grupo, antigamente uma divisão de performance da Seat.

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Cupra Raval, ID.Polo e ID.Polo GTI  (direita) serão lançados em março do ano que vem, enquanto os SUVs Epiq e ID.Cross (esquerda) chegarão no segundo semestre. Foto: Volkswagen AG / Divulgação

Como era de se esperar pela relação do Polo com o T-Cross, sua versão SUV, o conceito ID.Cross foi mostrado. Com o mesmo tamanho do modelo que substituirá em 2026, integra o segmento disputado dos B-SUV elétricos, formado por nomes como Peugeot e-2008, Renault 4 e Volvo EX30. Focando em espaço e ergonomia, marca a volta de botões físicos no volante e do ar condicionado, além de um maior uso de materiais reciclados. 

Por fim, a Skoda apresentou a sua versão do SUV, denominada Epiq. Tal qual os irmãos de plataforma, será construído em Pamplona, na Espanha, e contará com a capacidade de carregar dispositivos externos como eletrodomésticos (V2L). A velocidade de carregamento é de até 125 kW, indo de 10% a 80% em 20 minutos, e o modelo estreará uma nova identidade visual para a tcheca no ano que vem.

Ascensão chinesa continua 

Aprofundando essa questão dos preços, são as marcas chinesas que se destacam globalmente, como destaca a IEA. Com grandes reservas dos minérios utilizados nas baterias, as fábricas para construí-las e anos de investimento estatal na tecnologia, seguiram com sua expansão em solo alemão. 

A BYD, maior marca chinesa em números, marcou presença com o recém lançado Dolphin Surf - a versão europeia do Dolphin Mini. Avaliado com cinco estrelas pelo Euro NCAP, é um dos BEVs mais baratos hoje à venda na Europa, custando cerca de € 20 mil. No campo dos híbridos plug-in (PHEV) a Station Wagon do segmento D, Sealion 06, foi lançada, focada em conforto e tecnologia com até 1.092 km de autonomia combinada.

Outra marca com novidades foi a Leapmotor, que já vende o hatch subcompacto T03 e o D-SUV C10 no continente, de lançamento marcado para o Brasil ainda em 2025. Pertencendo 20% à Stellantis, que controla a sua operação internacional, apresentou o inédito hatch B05, rival de Volkswagen ID.3 e BYD Dolphin. Sob a mesma plataforma do C-SUV B10, terá cerca de 400 km de autonomia e início de vendas para o ano que vem por cerca de € 30 mil.

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"O B05 (direita) reflete nosso compromisso com a inovação, acessibilidade e a capacitação da próxima geração de motoristas em toda a Europa e além", declarou o CEO global da marca, Zhu Jiangming. Foto: Leapmotor / Divulgação

Munique foi para além de um lugar de novos modelos, mais uma vez o palco de marcas inteiras debutando em solo europeu. A marca AITO, do grupo Seres, que usa a tecnologia da Huawei, se lançou no mercado internacional com os SUVs 9, 7 e 5. Mirando as marcas premium alemãs nos segmentos E e D, podem ser tanto BEVs ou elétricos com extensor de autonomia (REEV), repetindo a abordagem da Leapmotor com o C10.

O grupo Changan Auto iniciou as operações da sua marca Deepal com os SUVs de apelo jovem e esportivo S05 e S07, ambos com opções de serem elétricos ou PHEVs. No campo de luxo, a marca Avatr da gigante chinesa mostrou seu primeiro concept car, o Xpectra, além dos modelos 06, 07 e 12, já comercializados em alguns países europeus e com planos de chegarem a 50 mercados em breve.

A premium Hongqi esteve presente e revelou o C-SUV elétrico EHS5, além de anunciar planos de expansão com 15 modelos e 200 pontos de venda pela Europa nos próximos anos. E aumentando a sua aposta no evento, a Xpeng teve um stand dentro do pavilhão e apresentou a nova geração do P7, sedã que começou a ser comercializado na Europa no IAA Mobility 2023.

Além disso, a recém chegada ao Brasil, GAC, estreou no velho continente levando cinco modelos para a mostra. Seguindo com o “European Plan Market” anunciado no ano passado, lançou como modelos de topo o novo GS7, um SUV grande híbrido plug-in, e a MPV híbrida (HEV) E9. Mas os destaques da marca foram o hatch AION UT, rival de BYD Dolphin, e o D-SUV rival de Tesla Model Y, o AION V.

O primeiro possui bateria de 60 kW/h com 430 km de autonomia e previsão de início da comercialização em 2026 na casa dos € 30 mil. Já para o segundo, comercializado no Brasil por R$214.990, o preço de € 35.990 foi anunciado, muito competitivo para o segmento. Com 510km de autonomia e cinco estrelas no teste do Euro NCAP - com mais ADAS que o brasileiro - será o primeiro a chegar às lojas, já em setembro em mercados como Portugal, Finlândia e Polônia. O plano é que a marca venda em todos os países europeus até 2028.

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Estava ainda em Munique o carro elétrico voador GOVI AirCab (ao fundo) buscando mostrar os avanços da indústria chinesa, segundo a empresa. Foto: GAC Group / Divulgação

Eletrificação em todos os níveis 

Para além das novatas, ícones do mercado aproveitaram os holofotes da feira para se renovarem completamente. Esse foi o caso da única francesa presente, a Renault, que lançou a sexta geração do hatch Clio, o segundo carro mais vendido no continente em 2024.

Construído sob a mesma plataforma que o seu predecessor, mantém o motor 1.2 TCe e uma opção movida a GPL, mas as semelhanças acabam por aqui. No powertrain, estreia um novo sistema full-hybrid (HEV) formado por um motor 1.8 e dois elétricos, resultando em 160 cavalos e modo de condução elétrico na cidade. Conforme a estratégia da marca, o Clio não terá versão elétrica, papel delegado ao hatch de estilo retrô, o 5.

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Hatch cresceu 6 centímetros em comprimento, evocando uma silhueta mais esportiva e afilada. Foto: Renault Group / Divulgação

No quesito design, o carro rompe por inteiro com a geração anterior, o oposto do que havia acontecido com a quinta geração em relação à quarta. A frente ostenta uma nova assinatura em DRL, que forma o símbolo da Renault, e a traseira possui lanternas duplas, nunca vistas em um Clio. O interior é todo novo também em relação ao antecessor, mas com o mesmo layout e sistema operacional do Google do irmão elétrico 5.

A Volkswagen foi outra que debutou no IAA uma nova geração de um best-seller, o T-Roc. Em sua segunda encarnação, também não terá versões elétricas, sendo o último novo carro a combustão desenvolvido pela marca. Haverão pela primeira vez no SUV opções micro-híbridas (MHEV), já conhecidas dos irmãos de plataforma como o Golf e A3, além de um novo sistema HEV, com 134 e 168 cavalos. Não haverá, pelo menos por ora, versões PHEV, sendo o único modelo sob a MEB Evo sem essa possibilidade, no entanto.

Seu exterior é uma evolução da primeira geração, mantendo linhas semelhantes e o seu apelo descolado, descrito pela marca. As dimensões aumentaram, 12 centímetros em comprimento, chegando a 4.37 metros, o colocando alinhado a rivais como o Toyota CH-R e Mazda CX-30. Por dentro a abordagem continua, com telas maiores e mais itens de conectividade e segurança assistida, mas com uma disposição de elementos clássica, vista nos últimos Golf e Tiguan.

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Modelo construído em Portugal foi o quinto carro mais vendido na Europa no ano passado. Foto: Volkswagen Group / Divulgação

Concorrência de todos os lados

Além das chinesas em franca expansão nos últimos anos no continente, outras concorrentes vêm se destacando na corrida pelos elétricos principalmente. A coreana Kia compareceu ao evento e mostrou ao público os novos integrantes da família EV, o EV4 e o EV5. 

O primeiro é um hatch do segmento C, acompanhado de uma variante sedã. Já o último se trata de um modelo lançado em 2023 - inclusive a venda no Brasil desde o ano passado - mas que chega só agora à União Europeia como a versão elétrica do Sportage. Sua conterrânea e marca irmã também esteve em Munique com o Concept 3, prevendo o futuro Hyundai Ioniq 3, equivalente do EV4.

Mas nem só da Ásia as novidades chegam, com a primeira marca turca de automóveis elétricos, a Togg, debutando em solo alemão a sua ofensiva no continente europeu. Fundada em 2018 e com a primeira fábrica inaugurada em 2022, apresentou o C-SUV T10X e o sedã T10F ao público. A pré-venda dos modelos começará em 29 de setembro na Alemanha, e no ano que vem a empresa pretende iniciar seus trabalhos na França e Itália, com meta de ter até 2030 um milhão de veículos em toda a Europa.

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Preços ainda não foram divulgados, mas devem ficar em torno de € 40 mil tomando como base as cifras no mercado turco. Foto: Togg / Divulgação

Construídos sob uma plataforma elétrica, ambos receberam nota máxima no Euro NCAP recentemente, com mais de 9% de proteção para adultos e 80% nos ADAS. A respeito do desempenho, a bateria possui 88.5 kWh de capacidade, e autonomias de até 500 e 600 km para o SUV e o sedã respectivamente. 

“Nossos modelos proporcionam uma experiência de mobilidade voltada para o usuário e voltada para o futuro”, comentou Gürcan Karakaş, CEO da marca durante o evento. A marca anunciou ainda que trabalha no terceiro de cinco modelos que irá lançar até o fim da década, o B-SUV T8X. Karakaş finalizou destacando que prepara para introduzir baterias de pirofosfato de lítio (LFP), e que a indústria deve estar preparada para as mudanças e maior concorrência.

A coligação de centro-direita conquistou a maioria das cadeiras no Parlamento, mas precisará fazer aliança para governar
por
Octávio Alves
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12/03/2024 - 12h
Luís Montenegro discursando
Líder da Aliança Democrática, Luís Montenegro, em discurso após as eleições portuguesas . Foto: Pedro Nunes/Reuters

 

Portugal elegeu, no último domingo (10), os deputados para a Assembleia da República, o Parlamento do país. A Aliança Democrática, coalizão de partidos de centro-direita, obteve a maior parte das cadeiras disponíveis (79) e superou a soberania do Partido Socialista (PS) que esteve à frente da Casa nos últimos nove anos. O PS conquistou 77 assentos nessas eleições.
Já foram contabilizados 99.01% dos votos, faltando apenas os votos do exterior que devem ser apurados até o fim da semana. 226 das 230 cadeiras já foram ocupadas. 

O partido de extrema-direita, Chega, liderado pelo político André Ventura conquistou 48 cadeiras. O resultado mostra uma ascensão da extrema-direita desde a última eleição, o número de deputados eleitos pela legenda quadruplicou neste ano. 

“Não sabemos ainda como é que esta noite ficará conhecida na história de Portugal, mas há um dado que já temos a certeza: esta é a noite em que acabou o bipartidarismo em Portugal”, disse Ventura após o resultado. 

Gráfico
Na última eleição o Chega, partido de extrema direita, tinha conquistado apenas 12 cadeiras. Fonte: Jornal Público Portugal/ Reprodução. 

As eleições legislativas estavam previstas, originalmente, para  2026, mas foram antecipadas após a renúncia do primeiro-ministro António Costa  (PS), acusado de corrupção pelo Ministério Público português. As acusações se mostraram infundadas uma semana depois e o MP veio a público dizer que o acusado não era o político socialista, mas um homônimo.

Como funciona as eleições em Portugal? 

O país vive sob um regime semipresidencialista. O presidente, Marcelo de Sousa, exerce a função de Chefe de Estado e governa juntamente com o primeiro-ministro.

Os votos são por partido e não por candidato, caso a legenda consiga eleger pelo menos 116 deputados ganha o controle do legislativo. Se isso não ocorrer, a sigla que conseguiu maior número de cadeiras  pode se agrupar com partidos menores até chegar no número mínimo de  assentos necessários. O primeiro-ministro poderá ser, inclusive, de um desses partidos. 

Os próximos passos

Os principais candidatos
Pedro Nuno Santos (PS), Luís Montenegro (PSD) e André Ventura (Chega) — Foto: Reuters

Como o Aliança Democrática, liderado por Luís Montenegro, não conseguiu o número de assentos necessários, a legenda precisará fazer alianças para governar.

O que pode se revelar um desafio, já que Montenegro havia mencionado que não faria alianças com o Chega e reiterou isso após o resultado: "Nunca faria a mim próprio, ao meu partido e à democracia portuguesa tamanha maldade que seria incumprir compromissos que assumi de forma tão clara” disse.

Por outro lado, Pedro Nuno Santos, líder do Partido Socialista disse que apesar de não impedir a constituição de um governo minoritário da AD, não irá contribuir para uma aliança entre as legendas:  "A AD que não conte com o PS para governar. Não é a nós que [os deputados da aliança] têm de pedir para suportar um governo [da AD]”, declarou. 

O líder do Chega, André Ventura, que se mostrou favorável à uma coligação de direita,  se manifestou sobre a recusa de Luís Montenegro à formação de uma aliança: " Só um líder e um partido muito irresponsáveis deixarão o PS governar quando temos na nossa mão a possibilidade de fazer um governo de mudança”. 

O presidente, Marcelo de Sousa, anunciou que irá convidar o líder do partido vencedor para tentar formar um governo. A consulta que teve início nesta terça-feira (12) se prolongará até 20 de março. Se até lá os partidos não apresentarem nenhuma aliança que garanta o número mínimo de assentos, o chefe de Estado pode convocar novas eleições. 

O direito ao aborto está na Carta Magna e passa a ser irreversível no país. França é o primeiro país a consolidar este direito.
por
Mohara Ogando Cherubin
Sônia Xavier
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08/03/2024 - 12h

 

A decisão de tornar o direito ao aborto constitucional foi tomada no ínicio dessa semana (4). A aprovação alcançou a maioria necessária de pelo menos três quintos dos votos dos parlamentares para que a Constituição de 1958 fosse revista e a lei de direito ao aborto incluída.

A inscrição “A lei determina as condições de que a mulher tenha a liberdade garantida de recorrer ao aborto” foi adicionada nesta sexta-feira (8), Dia Internacional da Mulher, no atrigo 34 da Constituição francesa em cerimônia ao ar livre em Paris. 

A decisão torna, agora, o direito ao aborto irreversível no país segundo Macron. Ainda durante seu discurso, o presidente anunciou que pretende lutar para que o direito se expanda pela União Europeia. 

Projeção na Torre Eiffel diz: Meu corpo minha escolha
Projeção  na Torre Eifel  diz: “Meu corpo, Minha Escolha” após votação na segunda-feira (4) para constitucionalização do aborto. Foto: Abdul Saboor/Reuters

 

Por que recorrer à constitucionalização do aborto?

O aborto é permitido na França desde 1975. A lei já teve seu texto alterado nove vezes, a última modificação, ocorrida em 2022, passou a permitir abortos até a 14ª semana de gravidez, financiados pelo sistema de seguridade social francês e sem necessidade de justificativas. 

A decisão de incluir o direito ao aborto na Constituição do país surgiu após a deliberação da Suprema Corte dos Estados Unidos de revogar o direito federal ao aborto, revertendo o julgamento de Roe v. Wade. A decisão da Corte norte-americana delegou a tribunais e autoridades estaduais o poder de restringir ou proteger o acesso das mulheres ao aborto legal. 

A advogada Juliana Tanno, explicou, em entrevista à AGEMT que “aquilo que é permitido perante a lei ainda pode ser questionável se violar os princípios e disposições da Constituição”. "A Constituição é a lei fundamental que define a estrutura do governo e os direitos fundamentais do cidadão, ou seja, é a lei suprema de um país", complementa. 

Mulheres segurando cartazes e faixas em manifestação a favor do aborto
Manifestação na França a favor da constitucionalização do aborto após decreto dos EUA. Foto: Reprodução/Reuters

 

Temendo que a França fosse influenciada por esse decreto dos Estados Unidos e pelo avanço da extrema-direita no país, feministas e políticos progressistas passaram a levantar a discussão a cerca da constitucionalização do aborto, com objetivo de assegurar o direito das mulheres de realizar o procedimento. Foram apresentados no Parlamento francês mais de cinco projetos de lei pela inclusão do direito na Carta Magna.

"Liberdade garantida" 

O projeto da presidente do La France Insoumise (LFI), Mathilde Panot, até então aprovado pela Assembleia Nacional no ano anterior, passou por alterações em seu texto em fevereiro de 2023. 

Através de ações de partidos de direita, o termo "direito" foi substituído por "liberdade" da mulher de realizar um aborto. Essa modificação no documento enfureceu os movimentos feministas do país, tendo em vista que o Governo francês poderia restringir o acesso ao procedimento com mais facilidade, pois a ação deixava de ser um direito.

O projeto de Panot demandaria novamente a aprovação da Assembleia, sem demais modificações, e por ser uma iniciativa do Parlamento, precisaria da validação de um referendo também. 

Após pressão dos movimentos feministas, o presidente Emmanuel Macron elaborou seu próprio texto, agora com o termo “liberdade garantida”. O projeto foi enviado ao Parlamento em outubro de 2023, a Assembleia Nacional aprovou em janeiro e o Senado no dia 18 de fevereiro. 

 

A luta pelo direito da mulher na França: um contexto histórico

A decisão de incluir o aborto na Constituição francesa é marcada por séculos de enfrentamento dos movimentos feministas. A busca por direitos iguais se inicia no século XV com a escritora Christine de Pizan, que defendia em suas obras os direitos das mulheres à educação, tal como a escrita e a independência feminina. 

Mais tarde, no século XVIII, a ativista Olímpia de Gouges proclamou na "Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã" que a mulher possuía direitos naturais idênticos aos dos homens e que, desse modo, tinha o direito de participar, direta ou indiretamente, da formulação das leis e da política em geral após a exclusão das mulheres da “Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão” durante Revolução Francesa. 

Em 1949, Simone de Beauvoir publicou a obra "O Segundo Sexo", que aborda um novo modelo de pensamento sobre a mulher na sociedade, juntamente à definição de feminismo moderno a partir da opressão sofrida pela figura masculina.

Confusão entre mulheres e policiais em marcha pelo aborto na França em 1972
Manifestação a favor da legalização do aborto na França em 1972. Foto: Reprodução/ Getty Images

 

No ano de 1971 foi realizado o “Movimento das 343”, divulgado pelo Nouvel Observateur, no qual centenas de mulheres assinaram uma petição para legalizar o aborto no país e adimitiram já ter interrompido ilegalmente uma gestação. 

Em 1973, surgiu o MLAC (Movimento pela Liberalização do Aborto e da Contracepção) que reúne tanto as feministas quanto os membros da classe médica que passam a praticar aborto seguro, ainda que ilegal. Posteriormente, em 1974, a Ministra da Saúde e sobrevivente do Holocausto, Simone Veil, aprovou um projeto de lei que descriminalizou o método de aborto no país, e por fim, em 1975, a interrupção voluntária da gravidez foi legalizada perante a lei francesa. A Lei Veil representou um avanço da legislação sobre o aborto na França e um vitória após anos de luta dos movimentos feministas.

Entenda o que é, como surgiu e de que modo funciona o grupo islâmico responsável pela ofensiva no início de outubro de 2023
por
Luan Leão
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06/05/2024 - 12h

No dia 07 de outubro de 2023, integrantes do grupo Hamas realizaram uma ofensiva contra Israel, com uma incursão pelo sul do país. O resultado foi a morte de cerca de mil israelenses e outros 200 foram feitos reféns. Em resposta, a contraofensiva israelense - que já dura mais de seis meses - resultou na morte de mais de 30 mil palestinos, além de um cerco à Faixa de Gaza.

Para entender o conflito de décadas, a AGEMT preparou uma série especial de quatro reportagens sobre o conflito Palestina e Israel. Nesta reportagem você vai ver como surgiu o grupo Hamas, a influência política e o impacto na resistência Palestina. Além do Hamas, vamos falar sobre o Hezbollah, grupo que atua no sul do Líbano, também contrário a Israel.

Grupo Hamas tem atuação política na Palestina
Hamas surgiu na década de 1980, com atuação pelo bem-estar social.
Foto: Mohammed Abed/Getty Images

Hamas: resistência armada, política e bem-estar social

O grupo tem origem ideológica na Irmandade Muçulmana, maior e mais antiga organização islâmica do Egito, e surgiu no contexto da Primeira Intifada, em 1987. Fundado pelo Xeque Ahmed Yassin e Abdel Aziz al-Rantissi, Hamas é um acrônimo para Harakat al-Muqawama al-Islamiya (Movimento de Resistência Islâmica), e significa zelo. No seu emblema, o Hamas tem o Domo da Rocha de Jerusalém, bandeiras palestinas e o contorno de um Estado palestino, incluindo o território de Israel.

No estatuto da sua criação, o Hamas definiu o território da Palestina histórica, incluindo a atual Israel, como terra islâmica. Segundo o documento, o grupo também exclui a possibilidade de paz permanente com o Estado de Israel. Ainda pelo estatuto, o Hamas é acusado de antissemitismo, já que trechos atacam aos judeus enquanto povo. No documento, por exemplo, o grupo palestino se comprometia com a destruição do Estado de Israel.

Inicialmente, o Hamas pretendia se fortalecer em duas frentes: o braço armado contra Israel, com as Brigadas Izz al-Din al-Qassam (IQB), e a promoção de bem-estar social aos palestinos como uma espécie de entidade social com construção de escolas, hospitais, distribuição de comida e etc. Na fundação, o grupo não demonstrava interesse em manter um braço político, o que aconteceu anos mais tarde.


Dawah

Apesar da forte associação com a luta armada, o Hamas possui um braço de serviços sociais chamado Dawah. A atuação se dá, em sua maioria, na região da Faixa de Gaza, região de alta concentração populacional e bastante empobrecida. O Dawah atua na gestão de escolas, orfanatos, restaurantes populares e clubes esportivos. Assim como feito pela Irmandade Muçulmana no Egito, o Hamas entende que a assistência social está na religião e é parte da resistência.

Dawah, em tradução literal, significa “chamado de Deus”. Pela religião, este chamado obriga os fiéis a ajudar uns aos outros por meio de obras de caridade. Para entender a atuação do Dawah, em 1990, cerca de 85% do orçamento do Hamas foi destinado para assistência social. Já em 2000, 40% das instituições sociais divididas entre a Cisjordânia e a Faixa de Gaza, eram dirigidas pelo grupo.

Em 2005, a organização ajudava financeiramente cerca de 120 mil pessoas em Gaza. Dois anos depois, com apoio do Irã, o Dawah ofereceu um auxílio mensal de 100 dólares para 100 mil trabalhadores e 3 mil pescadores, impedidos de trabalhar por restrições de Israel à pesca. A concessão dos subsídios, no entanto, têm rigorosa avaliação de custo-benefício de como os beneficiados poderão apoiar o Hamas.


Brigadas Qassam

As brigadas Izz al-Din al-Qassam são o maior e mais organizado grupo armado palestino, mantendo atividades não apenas em Gaza, território em que hoje o Hamas atua, como também nos territórios ocupados na Cisjordânia. O braço militar foi fundado no começo da década de 1990, por Salah Shehadeh, morto por forças militares israelenses em um ataque aéreo em 2002. No início, se utilizou de diversos atentados suicidas para atacar Israel.

Em 1996, realizou uma série de atentados em ônibus, que culminou na morte de cerca de 60 israelenses. Os atentados foram uma resposta a morte de Yahya Ayyash, fabricante de bombas do Hamas, em 1995. A escalada de ataques do grupo foi tida como determinante para que o jovem político de direita Benjamin Netanyahu - contrários aos acordos de Oslo - fosse eleito primeiro-ministro de Israel, se distanciado das tratativas de paz na região e intensificando a expansão dos assentamentos israelenses e a repressão ao povo palestino.

O nome do braço militar é inspirado no combatente sírio Ezzedine Al-Qassam, que lutou contra colonizadores europeus durante o levante. Após ser expulso pelos franceses, assumiu a causa palestina, recorrendo à resistência armada contra judeus e colonizadores britânicos. Al-Qassam foi morto por autoridades britânicas em 1935, e acredita-se que a morte desencadeou a Revolta Árabe de 1936 a 1939. O atual comandante militar das Brigadas Qassam é Mohammed Deif, e o seu braço direito é Marwan Issa. 

Brigadas Qassam são responsáveis pelas ações militares do Hamas
Com cerca de 25 mil combatentes, a Brigada Qassam foi responsável pelo ataque de 07 de outubro.
Foto: Adel Hana/AP

De acordo com o CIA World Factbook - relatório das forças de inteligência dos Estados Unidos - estima-se que as Brigadas Qassam possuem entre 20 mil e 25 mil membros, um número não confirmado pelo grupo. O arsenal bélico do grupo não é publicamente conhecido, no entanto, os ataques são quase sempre realizados com granadas e foguetes improvisados.

Com a retirada das tropas israelenses de Gaza em 2005, o Hamas assumiu o controle político da região e desenvolveu a sua força militar. O Irã - potência militar da região - é tido, de maneira informal, como um financiador da evolução militar do grupo palestino. Recentemente o grupo também incorporou drones ao seu arsenal. Foi possível notar o uso dos equipamentos na ofensiva do último dia 07 de outubro.

Dados do Departamento de Estado dos Estados Unidos, em 2021, nos confrontos com Israel, as Brigadas Al-Qassam lançaram cerca de 4.400 foguetes. Os relatórios afirmam que o grupo palestino tem experiência com explosivos improvisados, e salientam que dependem de estratégia para os ataques. Além disso, o Hamas conta com uma poderosa estrutura de túneis que permite os combatentes se movimentarem sem serem detectados.


Massacre de Sabra e Chatila

Em 15 de setembro de 1982, a mando do então ministro da Defesa israelense, Ariel Sharon, o Tshal - força de defesa de Israel - cercou por inteiro o campo de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano. A ação foi uma resposta de Israel após um atentado de forças pró-Síria e pró-Palestina resultar na morte de cerca de 40 pessoas um dia antes. Sharon se reuniu com a milícia cristã-falange libanesa, para que invadissem o acampamento de refugiados.

Às 18h do dia 16 de setembro, cerca de 150 falangistas invadiram o campo de refugiados, armados com pistolas, facas e machados. A suposta missão do grupo era localizar guerrilheiros da Organização para a Libertação Palestina (OLP), mas não foi o que aconteceu. O grupo coordenou um massacre em sua maioria de mulheres, crianças e idosos.

A alegação do governo israelense, à época chefiado por Menachem Begin, era de que não sabiam o que se passava no acampamento. O jornal israelense Yedioth Ahronoth contradisse o governo e afirmou que oficiais israelenses sabiam sim do massacre. “Na quinta e na sexta-feira pela manhã, os ministros e funcionários (do governo de Israel) já sabiam da matança e nada fizeram para detê-la. O governo sabia desde a noite de quinta-feira e não moveu um dedo nem fez nada para evitá-la”, dizia o jornal. Além das mortes, os falangistas torturam e estupraram refugiados.

Os números de mortos no massacre não são exatos, mas números da Cruz Vermelha afirmam que pelo menos 2.400 pessoas morreram. O governo israelense foi pressionado a investigar e punir Ariel Sharon, no entanto, apenas o passou para a reserva.


Segunda Intifada

Em setembro de 2000, no dia 28 de setembro, o líder da oposição, Ariel Sharon, visitou a mesquita de Al-Aqsa escoltado por policiais e soldados israelenses fortemente armados. De acordo com o porta-voz do partido de Sharon, a visita foi para “demonstrar assim que, sob o governo do Likud, a Mesquita de Al-Aqsa permaneceria subjugada à soberania israelense”. A ação foi considerada uma afronta aos palestinos, que celebravam a memória dos dezoito anos do massacre de Sabra e Chatila, o mesmo em que Sharon foi responsabilizado pela conivência.

O resultado do descontentamento foi o segundo levante palestino contra Israel. A Segunda Intifada foi mais sangrenta que a Primeira, e durou de 2000 até 2005, quando foi declarado o cessar-fogo. Segundo o jornal israelense Haaretz, nos cinco anos de conflito, foram 3.300 mortes de palestinos e 1.330 mortes de israelenses.

Dentre as mortes, uma chamou a atenção do mundo. Em 30 de setembro, Muhammad Al-Durrah, de apenas 12 anos, foi assassinado por forças israelenses. Um vídeo registrou a criança com o seu pai, se abrigando de um tiroteio, o pai de Muhammad fazia sinais para que parassem os tiros. O cessar-fogo não aconteceu, e um dos disparos matou Muhammad Al-Durrah.


O Partido

Em 2004, o então primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, anunciou a intenção do governo de retirar as tropas e os colonos israelenses dos assentamentos - considerados ilegais pela Organização das Nações Unidas - na Faixa de Gaza. A saída de cerca de 8 mil colonos e o desmanche de 21 assentamentos aconteceu em agosto de 2005. Os militares israelenses saíram pouco mais de um mês depois, em 11 de setembro. A retirada das tropas marcou o fim de uma ocupação militar que durou 38 anos.

O Hamas organizou um desfile em Neve Dekalim, antiga capital dos colonos na Faixa de Gaza. Sem as tropas israelenses, a Palestina vivia uma situação inédita no território de Gaza, e a Autoridade Nacional Palestina (ANP) tinha um desafio pela frente. Mais da metade da população vivia abaixo da linha da pobreza e os movimentos armados - incluindo o Hamas - atraiam o apoio principalmente dos jovens.

Em 2006, com um resultado inédito, o Hamas derrotou o tradicional Fatah, de Abbas, e venceu as eleições para o legislativo palestino. Com a vitória do grupo, considerado terrorista por países como Estados Unidos, Israel, e blocos como a União Europeia, o então primeiro-ministro palestino, Ahmed Qorei, anunciou sua renúncia. A eleição foi acompanhada por observadores internacionais e considerada limpa, o resultado, no entanto, surpreendeu ao mundo.

Pelo resultado da eleição, o Hamas conquistou 76 dos 132 assentos do Conselho Legislativo Palestino, enquanto o Fatah alcançou apenas 43. Pouco depois do anúncio dos resultados, o presidente palestino, Mahmmoud Abbas - líder do Fatah e eleito pelo voto popular em janeiro de 2005-, disse em pronunciamento que continuaria com as negociações de paz com Israel. “Estou comprometido em implementar o programa para o qual vocês me elegeram no ano passado. É um programa baseado em negociações e um acordo pacífico com Israel”, disse Abbas em pronunciamento televisionado.

Sem ser reconhecido como governo, depois de conflitos internos, o Hamas expulsou o Fatah de Gaza, causando a divisão que conhecemos hoje. A Cisjordânia, que tem como capital Ramallah, segue sendo governada pela ANP, enquanto a Faixa de Gaza passou a ter o Hamas como representante político. Essa realidade, porém, trouxe uma série de bloqueios impostos por Israel e pelo Egito, que fazem fronteira com a região.


"O Fatah e o Hamas, eles se diferenciam por várias coisas, mas entre eles estavam numa disputa por corações e mentes e por uma agenda em conseguir popularidade e, lógico, conseguir apoio para as escolhas políticas que cada um fez", avalia Arturo Hartmann, pesquisador, doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (UNESP, Unicamp e PUC-SP) e membro do Centro Internacional de Estudos Árabes e Islâmicos da Universidade Federal de Sergipe.

Hamas surpreendeu ao vencer eleições de 2006
Vitória eleitoral do Hamas, em 2006, aconteceu por descontentamento da população com ações de Israel no território Palestino. Foto: Mohammed Saleh/Reuters (2021)

"O Hamas vinha crescendo, obviamente, toda a ação dentro da Segunda Intifada e como você vendia as suas ações, a noção da defesa da luta anticolonial palestina, tinha a questão religiosa e moral. [...] Eles ganharam com 60%. Então, muita gente votou como um voto de protesto, pessoas que talvez não necessariamente fossem muito simpatizantes da agenda do Hamas, não em relação à resistência, mas em relação à questão do tecido social", analisa Hartmann. "Foi um voto no Hamas para algumas pessoas, mas para outras foi um plebiscito contra o processo de paz e contra a solução que não só as lideranças israelenses e palestinas, mas que a comunidade internacional tinha endossado", conclui o pesquisador.

Quando venceu as eleições, Khaled Meshaal era o líder político do Hamas. Considerado um dos fundadores do Hamas e integrante do gabinete político desde a criação, Meshaal foi escolhido como líder após a morte do xeque Ahmed Yassin, em 2004. Em 1997, o Mossad, serviço secreto de Israel, tentou assassinar Meshaal por envenenamento na Jordânia. Na ocasião, o rei jordaniano, Hussein bin Tal, e o presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, tiveram que convencer Benjamin Netanyahu, premiê israelense, a enviar o antídoto.

Khaled Meshaal, também conhecido como Abu Al-Walid, permaneceu como líder do gabinete político até 2017, quando foi substituído por Ismail Haniyeh. O escritório político do Hamas também conta com outras lideranças como Yahya Sinwar, criador do “Majd”, uma espécie de serviço de segurança interna do Hamas. O Majd evoluiu com o tempo e, de forma limitada, trabalha com rastreio dos serviços de inteligência israelense.

Sinwar foi preso três vezes e só foi libertado em 2011, após um acordo entre o governo de Israel e Hamas e Fatah, em uma troca pelo soldado Gilad Shalit. Na troca, mil prisioneiros foram soltos, dentre eles Sinwar. Em setembro de 2015, os Estados Unidos incluiu o político na lista “terroristas internacionais”.

Outra liderança do Hamas é Mahmoud Al-Zahar, formado em medicina geral pela Universidade Ain Shams, no Cairo, Egito. Al-Zahar exerceu suas funções em Gaza e na cidade de Khan Younis, mas foi demitido pelo governo israelense devido a suas posições políticas. Em 2003, as forças israelenses tentaram o assassinar com uma bomba de meia tonelada lançada de um avião F-16 sobre a sua casa, em Gaza. Al-Zahar teve ferimentos leves, mas seu filho mais velho morreu.

Com a vitória nas eleições de 2005, Zahar serviu como ministro das Relações Exteriores. Forte liderança intelectual, é autor do livro “O Problema da Nossa Sociedade Contemporânea… Um Estudo do Alcorão e Sem lugar sob o sol”. A publicação é tida como uma resposta ao livro “O Discurso político islâmico”, escrito por Benjamin Netanyahu.


Operação Al-Aqsa Flood

Em 06 de outubro de 1973, Egito e Síria conduziram uma ofensiva contra o Estado de Israel. O conflito ficou conhecido como a Guerra do Yom Kippur, em referência às comemorações do feriado judaico do dia do perdão - Yom Kippur, em hebraico. O feriado é o mais importante do calendário hebraico e o país estava paralisado para as celebrações.

O principal motivo da guerra foi a anexação de territórios sírios e egípcios por Israel durante a Guerra dos Seis Dias, em julho de 1967. A Guerra do Yom Kippur foi considerada o último grande conflito árabe-israelense. A ofensiva foi elaborada pelo presidente do Egito, Anwar Sadat, e Hafez Al-Assad, presidente da Síria. Ao todo, o conflito durou 18 dias e terminou na morte de 15 mil egípcios, 3.500 sírios e 2.600 israelenses.

No dia 07 de outubro de 2023,  exatos 50 anos e um dia depois do início da guerra do Yom Kippur, o Hamas fez uma ofensiva contra militares e civis no sul de Israel, eclodindo no conflito com mais mortes da história entre Palestina e Israel. A Operação Al-Aqsa Flood, ou dilúvio, se tornou o primeiro embate direto no território de Israel desde a primeira guerra árabe-israelense, em 1948. A ação coordenada pelo grupo islâmico entrou no território de Israel por mar, terra e ar, e foi considerada uma falha do sistema de defesa israelenses. “Este é o dia da maior batalha para acabar com a última ocupação da Terra”, afirmou Deif,  comandante das Brigadas Qassam. O grupo queria encorajar outras nações muçulmanas a se unir no ataque.

Horas após o ataque, o Primeiro-Ministro israelense, Benjamin Netanyahu, declarou guerra contra o Hamas. Essa foi a primeira vez que o Estado de Israel se colocou abertamente em guerra desde o conflito do Yom Kippur. Em resposta, os israelenses lançaram a Operação Espadas de Ferro.

O conflito atual já deixou 15.523 mortes do lado palestino, em Gaza, e 1.402 mortes do lado israelenses, além de cerca de 200 reféns que foram levados para o território da Faixa de Gaza. Apesar da surpresa pelo ataque, o decorrer do conflito mostrou o baixo potencial ofensivo do Hamas contra o Estado de Israel, que segue com os ataques e também com incursões por terra.


Ao norte volver

Na fronteira norte de Israel, região do sul do Líbano, outro grupo também desperta a atenção: o Hezbollah. Apesar de uma corrente religiosa diferente do Hamas - que é sunita - os grupos têm em comum o objetivo de combater o estado de Israel.

Com origem muçulmana xiita, o grupo teve sua primeira formação em 1982, sob o nome de Resistência Islâmica Libanesa. O surgimento do Hezbollah - que em árabe significa “Partido de Deus” - está associado à invasão israelense ao território libanês que aconteceu em dois momentos. O início em 1978 e, depois, com a incursão por terra, água e mar em 1982.


 

Hezbollah é parte do xadrez de tensões no Oriente Médio
Hezbollah conta com apoio de considerável parte da população libanesa.
Foto: Francisco Volpi/Getty Images

O grupo ganha o nome de Hezbollah em 1984, e se oficializa em 1985, com a divulgação de uma carta aberta com suas três ideias principais: combater tendências colonialistas, julgar membros da Falange - partido Libanês criado em 1936 - pelos crimes cometidos e estabelecer um estado muçulmano no Líbano.

A ligação entre o grupo e a causa Palestina data das origens do Hezbollah, como contextualiza Karime Cheaito, mestre em Estudos Estratégicos da Defesa e da Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), membro do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (GECI/PUC-SP) e pesquisadora de assuntos voltados ao Hezbollah e organizações armadas não-estatais.

“O principal objetivo do Hezbollah era a libertação das terras libanesas ocupadas, a retomada da soberania do Líbano e, neste documento (o manifesto de 1985), também ganha destaque a libertação de Jerusalém, sendo a causa Palestina central, então, desde a fundação da organização”, explica.

Em 1989, com o fim da guerra civil que havia começado em 1975, o Hezbollah passou a se organizar como um partido político, com o intuito de representar politicamente os xiitas, classe que, até então, era subrepresentada politicamente.

Os líderes do grupo foram, em grande parte, influenciados pelos ideais do aiatolá Khomeini - antigo líder supremo do Irã e idealizador da Revolução Iraniana em 1979. Os membros tiveram uma espécie de “formação” pela Guarda Revolucionária Iraniana. Assim como o Hamas, o Hezbollah é dividido entre atuação política, social e armada. O braço armado do grupo, por exemplo, é maior do que as Forças Armadas libanesas.

De acordo com o Departamento de Estado dos Estados Unidos, o Irã é responsável por financiar o Hezbollah com treinamentos, armamentos e explosivos. Em 2021, o líder do grupo, Sayyed Hassan Nasrallah, disse em uma entrevista que o braço militar do Hezbollah contava com cerca de 100 mil combatentes.

Apesar de alguns bombardeios na fronteira norte de Israel, não é possível afirmar que o Hezbollah entrou de fato no conflito. “Ainda não temos uma resposta oficial, nem uma indicação precisa. Tudo depende de como as negociações e decisões políticas vão se desdobrar. Até o momento, os atritos que tem se desenvolvido na região da fronteira entre Líbano-Israel são pontuais, geograficamente localizados e não tem caminhado para uma escalada”, analisa Cheaito.

Controverso e acusado de crimes de guerra, político americano pautou a política internacional dos Estados Unidos no século XX.
por
Artur Maciel Rodrigues
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04/12/2023 - 12h

 

(Kissinger em 2023, foto: Janek Skarzysnki/AFP)

 

Morreu aos 100 anos o diplomata estadunidense Henry Kissinger. A informação foi divulgada na quarta-feira (29) através de um comunicado da Kissinger Associates Inc. Ainda segundo a nota, o diplomata morreu em sua casa em Connecticut, nos Estados Unidos. Dono de um Nobel da Paz. Uma das principais personalidades internacionais do século 20, Kissinger é apontado por muitos como criminoso de guerra, pelas suas ações na Indochina e pelo seu apoio a ditaduras no mundo, em especial na América Latina. 

 

Refugiado de família judaica, Kissinger nasceu na Alemanha, em 1923, e se naturalizou estadunidense aos 20 anos. Durante sua juventude, participou do Exército americano na 84° infantaria, onde participou na Batalha das Ardenas, a última ofensiva do exercito nazista. Se tornou parte da corporação de contrainteligência, responsável por rastrear membros da Gestapo, uma espécie de polícia secreta do governo nazista. Na volta da guerra, iniciou sua carreira acadêmica estudando em Harvard, onde se tornou doutor e, posteriormente, professor da universidade.

 

Desde da década de 1960, Kissinger foi um importante consultor internacional do governo Americano. Em 1969, foi parte importante dos bombardeios no Camboja, e nos anos seguintes organizou a campanha de invasão ao país e os ataques ao Khmer Vermelho, seguidores do partido comunista que governou o país de 1975 até 1979. Os bombardeios deixaram cerca de 500 mil mortes e resultaram no genocídio da população do Camboja onde mais de dois milhões de pessoas morreram.

 

Durante a gestão de Richard Nixon, na década de 1970, o diplomata foi secretário de Estado e teve destaque na política de abertura diplomática da China. Kissinger também foi responsável pela mediação das tensões entre Israel e os países árabes vizinhos na Guerra do Yom Kippur. 

 

A relevância de Kissinger não diminuiu mesmo com a renúncia de Nixon. Até no atual governo Biden, o diplomata continuou sendo uma força da agenda política internacional do país. Em 2023, por exemplo, foi a Pequim para um encontro surpresa com o presidente chinês Xi Jinping. 

 

O ex-secretário sempre será lembrado na América Latina pela Operação Condor, que bancou as ditaduras nas Américas. A postura de Kissinger é bastante criticada, principalmente seu apoio à ditadura no Chile. Comandada por Augusto Pinochet, a ditadura começou com um golpe de estado - apoiado pelo serviço secreto americano - no presidente eleito Salvador Allende. Pinochet permaneceu no poder de 1973 até 1990, e o resultado foi mais de três mil mortes, milhares de torturados e cerca de 200 mil chilenos exilados. 

 

Outra atuação questionada foi o apoio estadunidense a Margaret Thatcher, Primeira-Ministra do Reino Unido, na disputa das Ilhas Malvinas, arquipélago localizado a 500 quilômetros da costa Argentina. Em 1982, ingleses e argentinos travaram uma guerra de dois meses pelo território, que terminou se mantendo sob poder dos britânicos. 

 

Sobre a Guerra do Vietnã, Kissinger disse em entrevista à jornalista italiana, Oriana Fallaci, que se tratava de: “Uma guerra inútil”. Foi justamente pelo cessar fogo desta guerra que o diplomata recebeu um prêmio Nobel da Paz, em 1976. A premiação foi em conjunto com Le Duc Tho, diplomata do Vietnã do Norte. No entanto, Duc Tho recusou o prêmio, na que é considerada umas das premiações mais controversas da história do Nobel da Paz. 

 

Em 2023, ano do seu centenário, Henry Kissinger seguiu concedendo entrevistas a jornais renomados sobre conflitos internacionais como Rússia e Ucrânia. No dia 11 de outubro, falou sobre a ofensiva entre Hamas e Israel. “Foi um ato de agressão aberto. O único objetivo foi mobilizar o mundo árabe contra Israel e seu histórico de negociações pacíficas”, disse Kissinger para o jornal Die Welt, subsidiário alemão da revista Insider.

 

A morte de Kissinger foi repercutida por figuras públicas e nas redes sociais. Em nota, o ex-presidente americano George W. Bush, o chamou de “uma das vozes mais fiáveis e mais ouvidas na política externa”. Vladimir Putin, presidente da Rússia, descreveu o diplomata como “visionário”. “Morreu um diplomata muito notável, um estadista sábio e visionário”, disse Putin. 

 

Nas redes sociais a comoção foi oposta. Uma das publicações que viralizaram foi um trecho do livro “A Cook’s Tour: Global Adventures in Extreme Cuisines” de Anthony Bourdain, escritor e documentarista. “Uma vez que você for no Camboja, você nunca mais vai parar de querer espancar Henry Kissinger até a morte com as próprias mãos”, escreveu Bourdain.  

Uma conta intitulada “Is Henry kissinger dead yet?” ( “Henry Kissinger está morto? - em tradução para o português) repostou a morte do diplomata, rendendo ao post 22 milhões de visualizações e quase meio milhão de curtidas.

Composto por performances e discursos gravados, evento não é mais o que se espera de uma premiação
por
Victória da Silva
Vitor Nhoatto
|
23/11/2023 - 12h

Estreando seu novo formato totalmente digital e acontecendo em nova data, o Billboard Music Awards 2023 consagrou neste domingo (19) artistas como Karol G, Drake e Taylor Swift. No entanto, formado por vídeos pré-gravados e sem  tapete vermelho ao vivo. A premiação foi marcada pela baixa repercussão midiática e desapontamento com o modelo adotado.

Tradicionalmente realizado nos Estados Unidos, desde 2011, anualmente em maio, o evento promovido pela revista Billboard este ano foi reagendado para substituir o American Music Awards (AMAs). A empresa Dick Clark Production, dona de ambas as premiações, realocou o AMAs para o ano de 2024, o que gerou certa estranheza dos espectadores desde o início.

Somado a isso e a configuração inédita de performances e discursos gravados, o público ainda foi surpreendido pela transmissão não televisionada do evento pela primeira vez, tendo ficado restrita ao site da Billboard. A lista de vencedores foi divulgada durante o evento. No entanto, os artistas já haviam sido informados semanas antes do programa, e já estavam com as estatuetas nos vídeos de agradecimento. 

Performances

Cantora americana Bebe Rexha durante uma performance da música I’m Good (Blue) com os braços abertos em um cenário escuro profundo com fumaça ao fundo e uma orquestra sinfônica. Ela está em frente a um microfone e veste um vestido preto com detalhes em prateado e luvas de renda preta e com um cabelo platinado liso.
Performance de Bebe Rexha da sua música "I'm Good (Blue)” feat. David Guetta. - Foto: Reprodução/Youtube

Abrind os trabalhos da noite de domingo, Karol G apresentou um medley das músicas ‘QLONA’, ‘Labios Mordidos’ e ‘OJOS FERRARI’. Gravada em Los Angeles, a performance da cantora colombiana contou com vários dançarinos e coreografia afiada em um palco coberto por água, sendo marcada por movimentos sensuais e belos efeitos no molhado cenário.

Mesmo com o ‘flop’ do evento, fãs de Mariah Carey conseguiram apreciar a performance da aclamada música natalina ‘All I Want For Christmas Is You’ que teve pela primeira vez uma apresentação em premiações. Além disso, a cantora foi homenageada pelo prêmio Billboard Chart Achievement, já que marcou a lista Hot 100 da Billboard em várias décadas diferentes, em especial com a canção de natal apresentada — que todo final de ano volta a aparecer na parada de sucesso norte-americana.

Com direito à orquestra sinfônica e efeitos cinematográficos, Bebe Rexha entregou uma performance impecável do seu estrondoso sucesso 'I'm Good (Blue)' em parceria com David Guetta. Em seguida, em um cenário diferente e com várias dançarinas, a cantora americana cantou o seu último lançamento em conjunto ao DJ, 'One In A Million', indicada ao Grammys 2024. 

Outro destaque foi a apresentação de Tate McRae com a música 'Greedy', que viralizou no TikTok recentemente e domina as paradas de sucesso do mundo todo. Gravada em um hotel em Los Angeles, a performance foi marcada pela intensa coreografia por parte de Tate e das dezenas de dançarinos.

Para a felicidade dos stays, o grupo sul-coreano Stray Kids apresentou as faixas “S-Class” e “LALALA” com uma performance coreografada, figurinos impactantes e vários dançarinos. Mesmo não sendo ao vivo, a apresentação foi um marco para os fãs do octeto e para o próprio grupo de K-pop, já que foi sua estreia no palco da Billboard Music Awards.

Sendo o maior vencedor da edição deste ano com 11 estatuetas no total, o cantor country Morgan Wallen também se apresentou. Envolvido em polêmicas com falas racistas em 2021, ele fechou a premiação cantando sua música em homenagem ao time de baseball Atlanta Braves intitulada '98 Braves'. 

Premiações

Cantora norte-americana Karol G em um vestido de látex quase transparente bem colado ao corpo com cabelo loiro molhado segurando um troféu do Billboard Music Awards na mão esquerda com o braço para baixo, e com um microfone na mão direita para cima ao comemorar a recepção do prêmio em um estúdio de gravação totalmente branco com luzes dando um efeito degradê levemente alaranjado
Karol G durante vídeo de agradecimento ao receber prêmios no BBMAs 2023. -  Foto: Gilbert Flores 

Mesmo com a informação de que os ganhadores da BBMAs haviam sido notificados com antecedência sobre seus prêmios e não com os gritos e reação do público, ainda houve a curiosidade de quais foram os principais vencedores. De várias partes do mundo, os ganhadores enviaram vídeos já com os troféus em mãos, muitos nos cenários de suas performances e com o mesmo look do tapete vermelho.

Nessa noite de domingo, Taylor Swift levou para casa 10 das 20 estatuetas que estava concorrendo, se igualando ao rapper Drake como artista com mais BBMAs, cada um com 39 no total. Ela faturou categorias como Melhor Artista e Melhor Música em Vendas com 'Anti-Hero'. Enquanto isso, o rapper norte-americano ganhou 5 das 14 indicações que teve, dentre elas Melhor Artista de Rap e Melhor Artista Masculino de Rap. 

Tendo sido o grande vencedor da noite, o cantor Morgan Wallen ganhou 11 categorias das 17 indicações que teve, incluindo: Melhor Artista Masculino, Melhor Álbum da Billboard 200 com ‘One Thing at a Time’ e ainda, Melhor Música Hot 100 e Melhor Música em Streaming com a canção “Last Night”.

Zach Bryan se destacou ganhando 4 prêmios, dentre eles Melhor Artista Novo e Melhor Álbum de Rock com “American Heartbreak”. Além disso, Karol G marcou presença além da performance ao faturar dois prêmios, sendo eles Melhor Artista Feminina Latina e Melhor Artista Latino de Turnê, enquanto Bebe Rexha junto a David Guetta levou em Melhor Música Dance/Eletrônica por I'm Good (Blue).

SZA ganhou 4 das 17 categorias em que havia sido indicada, incluindo Melhor Artista de R&B, Melhor Artista Feminina de R&B, Melhor Álbum de R&B com ‘SOS’ e Melhor Música de R&B com a faixa “Kill Bill”. The Weeknd também brilhou na edição deste ano, recebendo a estatueta de Melhor Artista Masculino de R&B.

No gospel, pela terceira vez consecutiva, Kanye West ganhou a categoria de Melhor Artista Gospel, causando um certo alvoroço nas redes sociais. O rapper competiu pela estatueta devido às suas composições de Hip-Hop Cristão presentes no álbum “Jesus is King” de 2019 e “Donda” de 2021. Como em todas as categorias da premiação, somente o desempenho em vendas e streams nas plataformas musicais é levado em consideração, não havendo votação aberta. 

Ganhando como Melhor Trilha Sonora, “Barbie: The Album” recebeu prestígio depois de todo o sucesso cinematográfico do filme de Greta Gerwig. Contando com artistas como Sam Smith, Dua Lipa, Tame Impala e Nicki Minaj, o trabalho também está indicado ao Grammys 2024.

Uma polêmica que repercutiu entre os kpoppers foi a nova categoria de Melhor Música de K-pop, que teve como ganhador o single “Seven” do cantor Jungkook em parceria com a rapper norte-americana Latto. No momento em que o prêmio foi anunciado, somente a imagem da cantora aparece, causando revolta nas armys que tanto admiram o compositor sul-coreano.

Abaixo a lista completa de vencedores das 71 categorias:

MELHOR ARTISTA
Drake
Luke Combs
Morgan Wallen
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)

ARTISTA REVELAÇÃO
Bailey Zimmerman
Ice Spice
Jelly Roll
Peso Pluma
Zach Bryan (VENCEDOR)

MELHOR ARTISTA MASCULINO
Drake
Luke Combs
Morgan Wallen (VENCEDOR)
The Weeknd
Zach Bryan

MELHOR ARTISTA FEMININA
Beyoncé
Miley Cyrus
Olivia Rodrigo
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)

MELHOR DUO/GRUPO
Eslabon Armado
Fifty Fifty
Fuerza Regida (VENCEDOR)
Grupo Frontera
Metallica

MELHOR ARTISTA BILLBOARD 200
Drake
Luke Combs
Morgan Wallen
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)

MELHOR COMPOSITOR HOT 100 [NOVA CATEGORIA]
Ashley Gorley
Jack Antonoff
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)
Zach Bryan

MELHOR PRODUTOR HOT 100 [NOVA CATEGORIA]
Jack Antonoff
Joey Moi (VENCEDOR)
Metro Boomin
Taylor Swift
Zach Bryan

MELHOR ARTISTA HOT 100
Drake
Luke Combs
Morgan Wallen (VENCEDOR)
SZA
Taylor Swift

MELHOR ARTISTA – STREAMING
Drake
Morgan Wallen (VENCEDOR)
SZA
Taylor Swift
Zach Bryan

MELHOR ARTISTA – VENDAS
Jason Aldean
Miley Cyrus
Morgan Wallen
Oliver Anthony Music
Taylor Swift (VENCEDORA)

MELHOR ARTISTA – RÁDIO
Miley Cyrus
Morgan Wallen
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)
The Weeknd

ARTISTA GLOBAL 200
Bad Bunny
Morgan Wallen
SZA
Taylor Swift (VENCEDORA)
The Weeknd

ARTISTA GLOBAL (EXCLUSIVO NOS EUA)
Bad Bunny
Ed Sheeran
NewJeans
Taylor Swift (VENCEDORA)
The Weeknd

MELHOR ARTISTA R&B
Beyoncé
Chris Brown
Rihanna
SZA (VENCEDORA)
The Weeknd

MELHOR ARTISTA R&B MASCULINO
Chris Brown
Miguel
The Weeknd (VENCEDOR)

MELHOR ARTISTA R&B FEMININA
Beyoncé
Rihanna
SZA (VENCEDORA)

MELHOR TURNÊ R&B
Beyoncé (VENCEDORA)

Bruno Mars
The Weeknd

MELHOR ARTISTA RAP
21 Savage
Drake (VENCEDOR)
Lil Baby
Metro Boomin
Travis Scott

MELHOR ARTISTA RAP MASCULINO
21 Savage
Drake (VENCEDOR)
Travis Scott

MELHOR ARTISTA RAP FEMININA
Doja Cat
Ice Spice
Nicki Minaj (VENCEDORA)

MELHOR TURNÊ RAP
50 Cent
Drake (VENCEDOR)
Snoop Dogg & Wiz Khalifa

MELHOR ARTISTA COUNTRY
Bailey Zimmerman
Luke Combs
Morgan Wallen (VENCEDOR)
Taylor Swift
Zach Bryan

MELHOR ARTISTA COUNTRY MASCULINO
Luke Combs
Morgan Wallen (VENCEDOR)
Zach Bryan

MELHOR ARTISTA COUNTRY FEMININA
Lainey Wilson
Megan Moroney
Taylor Swift (VENCEDORA)

MELHOR DUO/GRUPO COUNTRY
Old Dominion
Parmalee
Zac Brown Band (VENCEDOR)

MELHOR TURNÊ COUNTRY
George Strait
Luke Combs
Morgan Wallen (VENCEDOR)

MELHOR ARTISTA ROCK
Jelly Roll
Noah Kahan
Stephen Sanchez
Steve Lacy
Zach Bryan (VENCEDOR)

MELHOR DUO/GRUPO ROCK [NOVA CATEGORIA]
Arctic Monkeys (VENCEDOR)

Foo Fighters
Metallica

MELHOR TURNÊ ROCK
Coldplay (VENCEDOR)

Depeche Mode
Elton John

MELHOR ARTISTA LATINO
Bad Bunny (VENCEDOR)

Eslabon Armado
Fuerza Regida
Karol G
Peso Pluma

MELHOR ARTISTA LATINO MASCULINO
Bad Bunny (VENCEDOR)

Peso Pluma
Rauw Alejandro

MELHOR ARTISTA LATINA FEMININA
Karol G (VENCEDORA)

ROSALÍA
Shakira

MELHOR DUO/GRUPO LATINO
Eslabon Armado
Fuerza Regida (VENCEDOR)
Grupo Frontera

MELHOR TURNÊ LATINA
Daddy Yankee
Karol G (VENCEDORA)
RBD

MELHOR ARTISTA GLOBAL K-POP [NOVA CATEGORIA]
Jimin
NewJeans (VENCEDOR)
Stray Kids
TOMORROW X TOGETHER
TWICE

MELHOR TURNÊ K-POP [NOVA CATEGORIA]
BLACKPINK (VENCEDOR)

SUGA
TWICE

MELHOR ARTISTA AFROBEATS [NOVA CATEGORIA]
Burna Boy (VENCEDOR)

Libianca
Rema
Tems
Wizkid

MELHOR ARTISTA DANCE/ELETRÔNICA
Beyoncé (VENCEDORA)

Calvin Harris
David Guetta
Drake
Tiësto

MELHOR ARTISTA CRISTÃO
Brandon Lake
Elevation Worship
for KING & COUNTRY
Lauren Daigle (VENCEDORA)
Phil Wickham

MELHOR ARTISTA GOSPEL
CeCe Winans
Elevation Worship
Kanye West (VENCEDOR)
Kirk Franklin
Maverick City Music

ÁLBUM BILLBOARD 200
Drake & 21 Savage, Her Loss
Metro Boomin, HEROES & VILLAINS
Morgan Wallen, One Thing at a Time (VENCEDOR)
SZA, SOS
Taylor Swift, Midnights

MELHOR TRILHA SONORA
Barbie: The Album (VENCEDORA)

Pantera Negra: Wakanda para Sempre
ELVIS
Homem-Aranha Através do Aranhaverso
Top Gun: Maverick

MELHOR ÁLBUM R&B
Beyoncé, RENAISSANCE
Brent Faiyaz, WASTELAND
Drake, Honestly, Nevermind
Steve Lacy, Gemini Rights
SZA, SOS (VENCEDOR)

MELHOR ÁLBUM RAP
Drake & 21 Savage, Her Loss (VENCEDOR)

Future, I Never Liked You
Lil Baby, It’s Only Me
Metro Boomin, HEROES & VILLAINS
Travis Scott, UTOPIA

MELHOR ÁLBUM COUNTRY
Luke Combs, Gettin’ Old
Luke Combs, Growin’ Up
Morgan Wallen, One Thing at a Time (VENCEDOR)
Taylor Swift, Speak Now (Taylor’s Version)
Zach Bryan, American Heartbreak

MELHOR ÁLBUM ROCK
HARDY, the mockingbird & THE CROW
Jelly Roll, Whitsitt Chapel
Noah Kahan, Stick Season
Steve Lacy, Gemini Rights
Zach Bryan, American Heartbreak (VENCEDOR)

MELHOR ÁLBUM LATINO
Bad Bunny, Un Verano Sin Ti (VENCEDOR)

Eslabon Armado, DESVELADO
Ivan Cornejo, Dañado
Karol G, MAÑANA SERÁ BONITO
Peso Pluma, GÉNESIS

MELHOR ÁLBUM K-POP [NOVA CATEGORIA]
Jimin, FACE
NewJeans, 2nd EP ‘Get Up’
Stray Kids, 5-STAR (VENCEDOR)
TOMORROW X TOGETHER, The Name Chapter: TEMPTATION
TWICE, READY TO BE: 12th Mini Album

MELHOR ÁLBUM DANCE/ELETRÔNICO
Beyoncé, RENAISSANCE (VENCEDOR)

Drake, Honestly, Nevermind
ILLENIUM, ILLENIUM
Kim Petras, Feed the Beast
Tiësto, DRIVE

MELHOR ÁLBUM CRISTÃO
Anne Wilson, My Jesus (VENCEDOR)

Brandon Lake, House of Miracles
CAIN, Rise Up
Elevation Worship, LION
Lauren Daigle, Lauren Daigle

MELHOR ÁLBUM GOSPEL
Jonathan McReynolds, My Truth
Maverick City Music x Kirk Franklin, Kingdom Book One (VENCEDOR)
Tye Tribbett, All Things New
Whitney Houston, I Go to the Rock: The Gospel Music of Whitney Houston
Zacardi Cortez, Imprint (Live in Memphis)

MÚSICA HOT 100
Metro Boomin, The Weeknd & 21 Savage, “Creepin’”
Miley Cyrus, “Flowers”
Morgan Wallen, “Last Night” (VENCEDORA)
SZA, “Kill Bill”
Taylor Swift, “Anti-Hero”

MELHOR MÚSICA – STREAMING
Miley Cyrus, “Flowers”
Morgan Wallen, “Last Night” (VENCEDORA)
SZA, “Kill Bill”
Taylor Swift, “Anti-Hero”
Zach Bryan, “Something in the Orange”

MÚSICA MAIS VENDIDA
Jason Aldean, “Try That in a Small Town”
Jimin, ‘Like Crazy”
Miley Cyrus,“Flowers”
Oliver Anthony Music, “Rich Men North of Richmond”
Taylor Swift, “Anti-Hero” (VENCEDORA)

MELHOR MÚSICA – RÁDIO
Metro Boomin, The Weeknd & 21 Savage, “Creepin’”
Miley Cyrus, “Flowers” (VENCEDORA)
Rema & Selena Gomez, “Calm Down”
Taylor Swift, “Anti-Hero”
The Weeknd & Ariana Grande “Die for You”

MELHOR COLABORAÇÃO
David Guetta & Bebe Rexha, “I’m Good (Blue)”
Metro Boomin, The Weeknd & 21 Savage, “Creepin’” (VENCEDORA)
Rema & Selena Gomez, “Calm Down”
Sam Smith & Kim Petras, “Unholy”
The Weeknd & Ariana Grande, “Die for You”

MÚSICA GLOBAL 200
Miley Cyrus, “Flowers” (VENCEDORA)

Rema & Selena Gomez, “Calm Down”
SZA, “Kill Bill”
Taylor Swift, “Anti-Hero”
The Weeknd & Ariana Grande, “Die for You”

MÚSICA GLOBAL (EXCLUSIVO NOS EUA)
David Guetta & Bebe Rexha, “I’m Good (Blue)”
Harry Styles, “As It Was”
Miley Cyrus, “Flowers” (VENCEDORA)
Rema & Selena Gomez, “Calm Down”
The Weeknd & Ariana Grande, “Die for You”

MELHOR MÚSICA R&B
Metro Boomin, The Weeknd & 21 Savage, “Creepin’”
Miguel, “Sure Thing”
The Weeknd & Ariana Grande, “Die for You”
SZA, “Kill Bill” (VENCEDORA)
SZA, “Snooze”

MELHOR MÚSICA RAP
Coi Leray, “Players”
Drake & 21 Savage, “Rich Flex” (VENCEDORA)
Gunna, “fukumean”
Lil Durk ft. J. Cole, “All My Life”
Toosii, “Favorite Song”

MELHOR MÚSICA COUNTRY
Bailey Zimmerman, “Rock and a Hard Place”
Luke Combs, “Fast Car”
Morgan Wallen, “Last Night” (VENCEDORA)
Morgan Wallen, “You Proof”
Zach Bryan, “Something in the Orange”

MELHOR MÚSICA ROCK
Jelly Roll, “Need A Favor”
Stephen Sanchez, “Until I Found You”
Steve Lacy, “Bad Habit”
Zach Bryan ft. Kacey Musgraves, “I Remember Everything”
Zach Bryan, “Something in the Orange” (VENCEDORA)

MELHOR MÚSICA LATINA
Eslabon Armado x Peso Pluma, “Ella Baila Sola” (VENCEDORA)

Fuerza Regida x Grupo Frontera, “Bebe Dame”
Grupo Frontera x Bad Bunny, “un x100to”
Karol G & Shakira, “TQG”
Yng Lvcas x Peso Pluma, “La Bebe”

MELHOR MÚSICA K-POP [NOVA CATEGORIA]
Fifty Fifty, “Cupid”
Jimin, “Like Crazy”
Jungkook ft. Latto, “Seven” (VENCEDORA)
NewJeans, “Ditto”
NewJeans, “OMG”

MELHOR MÚSICA AFROBEATS [NOVA CATEGORIA]
Ayra Starr, “Rush”
Libianca, “People”
Oxlade, “KU LO SA”
Rema & Selena Gomez, “Calm Down” (VENCEDORA) 
Victony, Rema, & Tempoe ft. Don Toliver, “Soweto”

MELHOR MÚSICA DANCE/ELETRÔNICA
Bizarrap & Shakira, “Shakira: Bzrp Music Sessions, Vol. 53”
David Guetta, Anne-Marie & Coi Leray, “Baby Don’t Hurt Me”
David Guetta & Bebe Rexha, “I’m Good (Blue)” (VENCEDORA)
Elton John & Britney Spears, “Hold Me Closer”
Tiësto ft. Tate McRae, “10:35”

MELHOR MÚSICA CRISTÃ
Brandon Lake, “Gratitude” (VENCEDORA)
Chris Tomlin, “Holy Forever”
for KING & COUNTRY with Jordin Sparks, “Love Me Like I Am”
Lauren Daigle, “Thank God I Do”
Phil Wickham, “This Is Our God”

MELHOR MÚSICA GOSPEL
CeCe Winans, “Goodness of God” (VENCEDORA)

Crowder & Dante Bowe ft. Maverick City Music, “God Really Loves Us”
Elevation Worship ft. Chandler Moore & Tiffany Hudson, “More Than Able”
Maverick City Music & Kirk Franklin ft. Brandon Lake & Chandler Moore, “Fear is Not My Future”
Zacardi Cortez, “Lord Do It for Me (Live in Memphis)”