Acusados de colaborarem com 'trabalho forçado do regime cubano', servidores do programa têm vistos revogados
por
Victória Rodrigues
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18/08/2025 - 12h

 

O governo Trump revogou na última quarta-feira (13) os vistos de  dois brasileiros, que participaram da criação do Programa Mais Médicos em 2013. Mozart Júlio Tabosa, secretário do Ministério da Saúde do Brasil, e Alberto Kleiman, ex-funcionário do governo brasileiro, foram os alvos das sanções.

Em nota divulgada pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos, a justificativa apresentada foi que ambos teriam colaborado para um “esquema coercitivo de exportação de mão de obra” do governo cubano através do programa Mais Médicos, privilegiando o governo de Cuba às custas dos profissionais da saúde e cidadãos do país. 

O programa Mais Médicos foi uma iniciativa criada no governo de Dilma Rousseff, a fim de levar atendimento médico à áreas remotas e com maior vulnerabilidade. Dentro do programa, podem participar tanto profissionais brasileiros quanto estrangeiros, desde que cumpram com as exigências propostas, como formação com diploma e registro profissional. 

Entre 2013 e 2018 foram contratados profissionais cubanos, com uma parceria intermediada pela OPAS (Organização Pan-Americana de Saúde). Nesse acordo, os participantes recebiam 30% do valor de sua remuneração, que na época chegava a 10 mil reais, os outros 70% eram destinados ao governo de Cuba.

Em 2015, o Mais Médicos, contava com cerca de 14 mil profissionais, dos quais 11,4 mil eram cubanos. No entanto, em 2018, após a eleição de Jair Bolsonaro, a parceria foi encerrada. 

Segundo Marco Rubio, secretário do Departamento de Estado estadunidense, as contratações para o programa não cumpriam a regulamentação impostas pelo próprio governo brasileiro. Também acusou o programa de contornar as sanções dos EUA contra Cuba. 

Rubio ainda justificou as medidas dizendo que o regime cubano estava exportando seus médicos para trabalhar de forma forçada e com isso estava deixando de cuidar da saúde de seus próprios cidadãos. “Esse esquema enriquece o corrupto regime cubano e priva o povo cubano de cuidados médicos essenciais”.

Além do Brasil, autoridades de países africanos, Cuba e Granada também foram alvos das restrições de vistos por cooperarem com o programa Mais Médicos.

Bruno Rodríguez, Ministro de Relações Exteriores de Cuba, criticou a decisão do governo dos EUA. “Isso mostra imposição e adesão à força como nova doutrina de política exterior a esse governo", disse. Também afirmou que Cuba continuará enviando médicos em missões à outros países. 

Nas redes sociais, Mozart Júlio Tabosa defendeu o programa de saúde, e manifestou sua insatisfação com a situação: "Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo - universal, integral e gratuito".

Essa decisão do governo de Donald Trump segue uma sequência de retaliações contra o Brasil. Desde o mês de julho, o país recebeu taxações em produtos exportados e sanções contra o Ministro do Supremo Tribunal Federal Alexandre de Moraes. 

Presidente estadunidense evita divulgação da lista de Epstein e população levanta possibilidade de seu nome estar nela
por
Daniella Ramos
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14/08/2025 - 12h

 

Donald Trump foi eleito em 2024 tendo como uma de suas promessas a divulgação de uma suposta lista que teria o nome de todos os investigados por possível envolvimento com Jeffrey Epstein em crimes de pedofilia.

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Trump e Epstein juntos em uma festa em 1992. Foto: Reprodução/NBC

A cobrança em cima do presidente dos Estados Unidos para a divulgação da lista de investigados no caso, o levou a declarar para a imprensa que o caso era uma maneira de desviar a atenção para algo que é uma “besteira”, nas palavras dele.

“O fato de Trump não cumprir com o que prometeu pode ser pelo rumo que a política tomou… além do fato dele estar ou não envolvido”, comenta o doutor em Ciência Política da PUC-SP, Igor Fediczko. Segundo o Wall Street Journal, Donald Trump foi avisado no início do ano que seu nome estava nos documentos relacionados ao caso de Epstein, a Casa Branca respondeu dizendo se tratar de uma fake news. 

Além da indignação de eleitores a Trump sobre a falta de compromisso com a promessa de exposição dos documentos do processo de Jeffrey, os opositores também se manifestam nas redes sociais. Em sua conta no X, a deputada democrata Alexandra Ocasio-Cortez relacionou a demora na divulgação dos arquivos com supostas acusações de crimes sexuais cometidos pelo republicano. 

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Publicação feita no X pela deputada Alexandra Ocasio-Cortez. Foto: Reprodução/@AOC

 

Índices do Google Trends apontam que as pesquisas envolvendo o nome de Donald Trump e Jeffrey Epstein aumentaram no início de Junho e final de Julho, mesmo período em que o presidente estadunidense começou a distribuir altas tarifas para o mundo todo. 

“Talvez isso tenha feito com que a comunicação ou política do Trump tenha se tornado ainda mais radical”, comenta Igor Fediczko analisando que o tarifaço possa ser uma ”cortina de fumaça” para a polêmica de Epstein.

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Gráfico de pesquisa dos nomes de Donald Trump e Jeffrey Epstein. Foto: Reprodução/Google Trends

 

Apesar das hipóteses sobre a ligação do atual presidente dos Estados Unidos, os nomes que mais chamaram atenção recentemente sobre a proximidade com Epstein foram Bill e Hillary Clinton, que irão depor em outubro, e o príncipe Andrew, que aparentava ser amigo pessoal pelos e-mails trocados com Jeffrey. Assim como Trump, existe a comprovação de que eles já andaram no jato particular com Jeffrey Epstein e possivelmente tinham amizade. 

Jeffrey Epstein era um bilionário, empresário e financista americano, que ficou conhecido pela rede de tráfico sexual de menores ao qual tinha ligação. Seu trabalho com investimento fez com que construísse ligação com o ex-presidente Bill Clinton, Donald Trump, o príncipe britânico Andrew e outras celebridades. 

Em 2008, os pais de uma garota de 14 anos declararam à polícia do Estado americano da Flórida que Jeffrey Epstein havia a molestado. Naquele ano, ele firmou um acordo judicial com a promotoria, mas fotos de crianças foram encontradas por toda sua casa em Palm Beach causando sua condenação por exploração sexual de menores. Escapou de denúncias federais que poderiam causar prisão perpétua, conseguindo um acordo de 13 meses de prisão e indenização às vítimas. 

Onze anos depois, houve uma nova acusação de administração de uma rede sexual com meninas menores de idade. Logo foi preso e, enquanto aguardava o julgamento, se suicidou no presídio.

As investigações desses dois casos criminais geraram uma série de documentos que incluem transcrições de entrevistas com as vítimas e testemunhas e objetos confiscados nos imóveis de Epstein. A ex-namorada de Jeffrey, Ghislaine Maxwell, foi condenada em 2021 por associação criminosa de tráfico sexual de meninas.

As Forças de Defesa de Israel confirmaram a autoria do atentado
por
Annanda Deusdará
Maria Mielli
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13/08/2025 - 12h

Uma ofensiva de Israel matou seis jornalistas que estavam instalados em uma tenda de imprensa próxima ao hospital Al-Shifa, na Faixa de Gaza, no último domingo (10). Dentre as vítimas, quatro eram funcionários da agência de notícias Al Jazeera: dois cinegrafistas, Ibrahim Zaher e Mohammed Noufal, e dois repórteres Mohammed Qreiqeh e Anas al-Sharif. Ambos rostos conhecidos pelo êxito em denunciar diariamente o genocídio palestino. 

Minutos antes de morrer, Qreiqeh esteve no ar pela última vez, cumprindo mais um dia de trabalho. Al-Sharif havia postado em suas redes sociais, também pouco antes de se tornar mais um dos milhares de palestinos assassinados, que um ataque israelense estava acontecendo. “Oh Deus, concede-nos a paz, concede-nos a paz. Bombardeio israelense pesado e concentrado com faixas de fogo visando as áreas leste e sul da cidade de Gaza”, lamentou em sua conta no X.

O exército israelense acusou o jornalista de ser membro de uma das células do Hamas, mas sem apresentar provas. “Terrorismo em colete de imprensa ainda é terrorismo. Anas al-Sharif não estava apenas documentando para Al Jazeera. Ele era um membro do Hamas, desde 2013”, declararam em postagens feitas no Instagram oficial. A agência de notícias Al Jazeera, por outro lado, nega veementemente as acusações e afirma que o ataque foi uma estratégia israelense de silenciar um dos grandes nomes do jornalismo local. “Nós sabíamos que Anas era o alvo… Ele era nossa voz”, lastimou o jornalista independente Mohammed Qeita no site oficial da agência, após o ataque. Apesar de ter confirmado o planejamento e execução de al-Sharif, o governo de Israel não se manifestou sobre as outras cinco vítimas.

Não é a primeira vez que ataques a jornalistas ocorrem na Faixa de Gaza. Em julho de 2024, o jornalista Ismail al-Ghoul e o cinegrafista Rami al-Rifi tiveram seu carro bombardeado por um míssil enquanto cobriam o assassinato do chefe político do Hamas também para a Al Jazeera. As Forças de Defesa de Israel (FDI) confirmaram as mortes e alegaram que Ismail integrava as forças Nukhba, divisão militar de elite do Hamas. O noticiário para o qual os profissionais trabalhavam negou as acusações e fez um apelo para que fossem tomadas ações imediatas: “Insistimos que as instituições jurídicas internacionais responsabilizem Israel por seus crimes hediondos e exijam o fim do alvo e do assassinato de jornalistas,” declarou em nota a emissora à época.

No mês passado, quando acusado de ser membro do Hamas pelas FDI, al-Sharif negou toda e qualquer ligação com o grupo. Reafirmou que era um jornalista sem afiliações políticas e que sua única missão era relatar a verdade. “Num momento em que uma fome mortal assola Gaza, falar a verdade tornou-se, aos olhos da ocupação, uma ameaça”, concluiu em postagem na rede social. 

Em mensagem final preparada para o caso de sua morte e publicada postumamente por seus colegas, al-Sharif pede “que não se deixem silenciar por correntes, nem sejam impedidos por fronteiras, e que sejam pontes para a libertação da terra e de seu povo, até que o Sol da dignidade e da liberdade brilhe sobre nossa pátria ocupada”, e finalizou: “Não se esqueçam de Gaza… E não se esqueçam de mim em suas orações sinceras por perdão e aceitação”. 

Silenciamento de jornalistas 

O bloqueio que ocorre em Gaza também limita o acesso e a produção de notícias no local. Os meios de comunicação internacionais são proibidos de circular pela região, a não ser que estejam acompanhados pelo exército israelense. Atualmente, a única maneira de se ter acesso ao que acontece na região, além do relatado por Israel, se dá através das reportagens feitas por jornalistas palestinos.

De acordo com o Comitê para Proteção de Jornalistas (CPJ), 192 jornalistas foram assassinados desde outubro de 2023, quando começou o conflito. Esse número é maior do que a soma das mortes ocorridas nas duas guerras mundiais (69). Além das mortes, 90 profissionais foram presos por Israel no exercício de sua profissão. 

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Gráfico sobre o assassinato de profissionais de comunicação por razões políticas. IArte: Annanda Deusdará/Agemt

 

Ainda segundo a CPJ, em 2024 ao menos 124 jornalistas e outros trabalhadores de comunicação foram mortos; destes, 85 foram vítimas da guerra de Israel contra a Palestina. O número ultrapassou o recorde de 2007, durante a guerra do Iraque, de 113 mortes. O Comitê alerta que o crescimento da violência contra este grupo prejudica a circulação de informações.

Quem eram os seis jornalistas assassinados

Anas al-Sharif, 28 anos, pai de 2 filhos. Segundo a Al Jazeera, um dos rostos mais conhecidos por denunciar o genocídio em Gaza. Nasceu num campo de refugiados em Jabalia, no norte da região, e se formou na Al-Aqsa University Faculty of Media. Seu pai foi morto por Israel em um bombardeio na casa da família em dezembro de 2023.

Mohammed Noufal, 29 anos, era cinegrafista da Al Jazeera. Também de Jabalia, perdeu a mãe e um irmão em ataques de Israel. Seu outro irmão, Ibrahim, também trabalha no veículo. 

Ibrahim Zaher, 25 anos, também era cinegrafista e paramédico voluntário. Nasceu no mesmo campo de refugiados que seus colegas de trabalho.

Mohammed Qreiqeh, 33 anos, fez sua última aparição ao vivo um pouco antes de ser assassinado. Nasceu em Gaza em 1992 e viveu na vizinhança de Shujayea. Formou-se jornalista na Islamic University of Gaza. Israel matou seu irmão, Karim, em março, num bombardeio. 

Moamen Aliwa, 23 anos, era estudante de engenharia e cinegrafista independente.

Muhammad Al-Khalidi, 33 anos, era um jornalista independente que produzia vídeos para o Youtube documentando o conflito em Gaza.

 

Sob pretexto de "verdades econômicas", Trump usa tarifas para punir decisões judiciais do Brasil e ignora a lógica comercial
por
Victória Rodrigues
Maria Clara Palmeira
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13/08/2025 - 12h

 

Começou a valer na última quarta-feira (6) o tarifaço com taxas de 50% impostas pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros. Itens como suco, polpa de laranja, combustíveis, minérios, fertilizantes, aeronaves para uso civil, polpa de madeira, celulose, metais nobres e produtos de energia, foram isentos de taxas. Em contrapartida, café, frutas e carnes serão afetados pelo teto tarifário, 50%. 

O tarifaço anunciado por Donald Trump em abril propunha a taxação de países de acordo com o déficit da nação com os EUA. Para o Brasil estava previsto tarifas de 10% sobre os produtos exportados. No entanto, em julho deste ano, após a cúpula dos BRICS, Trump enviou uma carta ao chefe da nação brasileira aumentando o valor.

Em parte por causa dos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos norte-americanos, a partir de 1º de agosto de 2025, cobraremos do Brasil uma tarifa de 50% sobre todas e quaisquer exportações brasileiras enviadas para os Estados Unidos.” escreveu o presidente.

Uma de suas alegações na carta, foi o julgamento do ex-presidente Jair Messias Bolsonaro (PL). Segundo Trump, Bolsonaro está sofrendo “acusações criminais injustificadas”. Além disso, as ações do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a rede social X também o motivou na imposição de taxas.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva declarou, no domingo (3), que não tem a intenção de “provocar os Estados Unidos”, mas que o Brasil não deve ser visto como uma nação insignificante e não desistirá de usar moedas alternativas ao dólar.

Em entrevista a AGEMT, a internacionalista Julia Masquieto conta que será difícil implementar uma nova moeda. "Na prática é complicado efetivar essa nova moeda do BRICS, pois o dólar é usado há muito tempo em trocas comerciais. Mas acho que é uma oportunidade para os países do Brics intensificarem o comércio entre si, já que as barreiras são mais livres e não tão rígidas como o Trump está fazendo". 

A profissional comenta que o fortalecimento do bloco político exige uma ação global do mercado. "Com a instabilidade geopolítica que vivemos, é uma tendência que talvez os países procurem outros mercados, mas essa mudança exige um padrão global difícil de alcançar, entretanto, o BRICS poderia ter um alcance regional interessante." completa Julia. 

As taxas impostas pelo presidente americano não interferem diretamente sobre os preços no mercado do consumidor brasileiro. A princípio, pela baixa demanda para exportação, os preços cairão no mercado interno. No entanto, com uma menor demanda de venda externa, a produção também diminuirá, resultando em uma possível alta novamente. 

Para tentar minimizar os efeitos dessa medida, Lula se encontrou nesta segunda-feira (11) com o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin.

Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado
Lula e Alckmin em julho de 2025. Reprodução: Adriano Machado

O objetivo foi alinhar os últimos detalhes de um plano de contingência contra o tarifaço norte-americano, que será divulgado nesta quarta (13), em cerimônia de divulgação no Palácio do Planalto.

Esse pacote deve incluir linhas de crédito para empresas afetadas, o adiamento do pagamento de tributos federais por até dois meses e compras públicas de produtos perecíveis, como peixes, frutas e mel. A sobretaxa impacta cerca de 36% das exportações brasileiras para os EUA, mesmo assim, 694 produtos, como suco de laranja e aeronaves, continuam com tarifas reduzidas de 10%, estabelecida em abril

Sobreviventes relembram o ocorrido e alertam sobre o risco dos atuais conflitos no Oriente Médio e Europa.
por
Annanda Deusdará
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07/08/2025 - 12h

Em agosto de 1945, os Estados Unidos bombardearam as duas cidades. Em decorrência da explosão e dos efeitos da radiação, cerca de 200 mil pessoas morreram. A expectativa com os ataques era fazer o governo Japonês se render - único país do Eixo que faltava ser derrotado - e, desta forma, terminar a 2° Guerra Mundial que ocorria desde 1939. 

Nos dias 6 e 9 deste mês, o Japão realiza um evento anual em Hiroshima e Nagasaki com o objetivo de relembrar ao mundo dos horrores causados pelos ataques e da importância de evitar que esse tipo de tragédia volte a se repetir.

Com expectativa da participação de aproximadamente 180 países convidados, as celebrações contam com homenagens às vítimas, discursos contra o armamento nuclear e exigências para que o Estado reconheça as necessidades das vítimas sobreviventes e forneça os auxílios necessários.

 

Contexto dos bombardeios

Em 1942, o Japão atacou a base naval americana de Pearl Harbor, o que levou os EUA a entrarem na guerra como forma de retaliação. Três anos depois, no dia 26 de julho, o presidente Harry Truman exigiu a rendição do Japão, sob ameaça de “destruição total e imediata”. Apesar de não haver menção ao uso de bombas nucleares, o armamento fazia parte do Projeto Manhattan e integrava o arsenal dos EUA, que pretendia encerrar o conflito com o uso delas, se fosse necessário.

Como o presidente do Japão não se rendeu, Hiroshima, que até então tinha escapado dos bombardeios, foi atacada na manhã de 6 de agosto de 1945. A explosão gerou uma onda de calor de mais de 4.000 °C em um raio de aproximadamente 4,5 km ². Estimativas apresentam números que entre 50 mil e 100 mil mortos no mesmo dia e cerca de 60 mil edifícios destruídos.

No dia 9, foi a vez da cidade de Nagasaki, que não era o alvo inicial devido ao seu terreno montanhoso e a proximidade de um campo de prisioneiros aliados de guerra. Entretanto, devido ao mau tempo em Kokera, que impossibilitou a visão dos pilotos, foi feita uma mudança de planos. Apesar da explosão ter sido mais forte que em Hiroshima, as montanhas da cidade ajudaram a diminuir o impacto, que destruiu 7,7 km². Após ambos os ataques, o Imperador Hirohito declarou sua rendição em 15 de agosto de 1945. O documento que confirmava sua decisão foi assinado em 2 de setembro, encerrando assim a 2° Guerra Mundial.

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​​Estátuas e construções, após a bomba atingir a cidade de Nagasaki. Imagem: Foto/Getty Imagens

Em 1946, o Japão adotou a “Constituição da Paz”, na qual se comprometeu a não entrar em outras guerras e em 1967, embora não tenham sido os japoneses a lançar uma bomba nuclear sobre um território, o país implementou os “Princípios Não Nucleares”, que consistem na rejeição da posse e importação de armamentos nucleares.

Apesar de terminado o conflito, os sobreviventes viveram sequelas. A exposição à radiação causada pelas bombas ocasionou náuseas, vômitos, sangramento e queda de cabelo em milhares de pessoas.

Com o passar do tempo, algumas pessoas também tiveram problemas de longo prazo como catarata e diversos tipos de câncer. De acordo com pesquisas do Life Span Study (LSS), os casos de leucemia entre os moradores de ambas as cidades aumentaram significativamente após os ataques.

 

Como estão as cidades atualmente?

Diferente da cidade soviética de Chernobyl, que até hoje segue inabitável após o famoso acidente em sua usina nuclear, Hiroshima e Nagasaki foram reconstruídas e povoadas em segurança. Segundo John Luxat, especialista em segurança nuclear da Universidade McMaster, em entrevista à BBC Mundo, isso foi possível por dois fatores cruciais, o tipo de reação química que houve nos dois eventos e a altitude. 

A bomba atômica tem uma fissão de cadeia rápida entre os explosivos com o intuito de causar mais estragos, o que torna a vida útil da radiação menor, quando comparada à provocada pela usina de Chernobyl, que teve uma reação mais lenta. Outro fator foi a altura em que as bombas foram detonadas, o fato disso ter ocorrido acima da cidade, permitiu que as partículas de radiação se dissipassem na atmosfera, ao invés de penetrarem na terra, como ocorreu em Chernobyl, onde a explosão aconteceu no nível do solo. 

Sendo a 11ª cidade com mais moradores no Japão, Hiroshima tem 905,08 km² e uma população estimada em dois milhões de habitantes. A região é um polo industrial com empresas que vão desde indústrias pesadas, como a construção naval, até setores de ponta, como máquinas elétricas e peças eletrônicas. Desde 1947, o Sino da Paz toca no dia 6 de agosto às 8h15 (dia e horário em que a bomba estadunidense atingiu a cidade), uma cerimônia também é realizada em homenagem às vítimas nesta data. 

Em 1949, foi aprovada uma lei que permitia a construção de novas casas em Nagasaki, entretanto, alguns escombros foram deixados para lembrar o ocorrido. Em homenagem às vítimas, nos anos 1990, foi fundado o Museu da Bomba Atômica, que conta a história da Guerra e do uso de armas nucleares.

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Memorial da Paz de Hiroshima, o domo foi destruído pela bomba mas foi mantido desta forma como lembrança dos horrores do ataque. Imagem: Foto/ Pixabay

 

Memória e os desafios da reparação

Milhares de moradores de Hiroshima e Nagasaki que estavam nas cidades nos dias dos ataques dos EUA, não são reconhecidos de maneira oficial como vítimas dos bombardeios atômicos. O motivo é o Estado japonês só considerar quem estava próximo ao centro do impacto, onde a radiação foi mais intensa. A decisão negou e nega acesso gratuito a cuidados médicos para os demais afetados. 

A justificativa do governo é que essas pessoas que estavam em pontos mais afastados não sofreram sequelas e, por isso, não têm direito aos benefícios como as vítimas oficiais. A decisão é interpretada como discriminação geográfica.

De acordo com o prefeito de Nagasaki, Shiro Suzuki, a argumentação não têm sentido, pois todas as pessoas que estavam em um raio de até 2 Km do ponto de impacto foram afetadas pela radiação. Durante as comemorações, as vítimas exigem que as autoridades corrijam este equívoco. A associação Hidankyo, que reúne os sobreviventes e recebeu o Prêmio Nobel da Paz no ano de 2024, também fez esse apelo neste ano.

Toshiyuki Mimaki, copresidente da associação, comentou alertou sobre as guerras que estão ocorrendo em países com poder nuclear como Rússia e Israel e o perigo que isso representa. A comunidade pede que os países lutem pelo fim do armamento nuclear com base nos relatos das vítimas e fomentando e frequentando espaços como o do Memorial, que conta a história desse período histórico.

Os sobreviventes temem que, com a falta da lembrança viva dos horrores causados pelos ataques atômicos, o mundo volte a fazer uso desse tipo de armamento. O prefeito de Hiroshima, Kazumi Matsui, também endossou as preocupações do grupo e reiterou que a busca de potências mundiais para aumentar seu poder bélico em busca de amedrontar outros países e resolver conflitos, prejudica a conquista da paz mundial.

A cerimônia, que ocorreu nesta quarta-feira (6) em Hiroshima, contou com representantes de 120 países e regiões, segundo autoridades locais. No entanto, países com armamento nuclear como China e Paquistão não enviaram equipes.

Neste sábado (9), outra cerimônia aconteceu na cidade de Nagasaki com um grande número de países presentes, incluindo a Rússia, que não participava do encontro desde a invasão da Ucrânia, em 2022. 

Multidão foi às ruas de Tel-Aviv e Jerusalém no domingo (01) e segunda (02) a favor do fim da guerra Israel-Hamas. Primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu negou o acordo em julho.
por
Oliver de Souza Santiago
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05/09/2024 - 12h

O Estado de Israel está em momento de tensão e crise política desde o início da guerra contra o grupo palestino Hamas no dia 07 de outubro de 2023. As forças armadas israelenses anunciaram no domingo (01), a descoberta de seis corpos num túnel subterrâneo de Rafah. O acontecido causou uma crescente de manifestações no país. Na manhã seguinte (02), uma greve geral foi convocada para criticar o método das negociações do resgate de reféns e pedindo um acordo com o Hamas.

A descoberta de corpos dos reféns do Hamas gera a ira da população israelense nas ruas de Jerusalém. Foto: Florion Goga/REUTERS
A descoberta de corpos dos reféns do Hamas gera a ira da população israelense nas ruas de Jerusalém. Foto: Florion Goga/REUTERS

 

O confronto atual é marcado pela morte de 40 mil palestinos por Israel e 35 mil israelenses pelo Hamas, segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza. Israel segue criticada pela comunidade internacional, sendo citada em declaração do presidente do Brasil, Lula, que chamou o conflito de genocídio e comparou as ações tomadas por Israel com o Holocausto, no dia 23 de fevereiro, quatro meses após o início da guerra.

As seis vítimas

Os seis reféns (da esquerda para a direita): Hersh Goldberg-Polin, Carmel Gat, , Eden Yerushalmi, Almog Sarusi, Alex Lobanov, sargento-mor Ori Danino. Foto: The Hostages Families Forum/AP
Os seis reféns (da esquerda para a direita): Hersh Goldberg-Polin, Carmel Gat, , Eden Yerushalmi, Almog Sarusi, Alex Lobanov, sargento-mor Ori Danino. Foto: The Hostages Families Forum/AP

 

Segundo os militares, os prisioneiros foram mortos pelo Hamas, antes da chegada das forças israelenses. Milhares de manifestantes foram às ruas contra o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, durante a tarde do dia 01⁰, pedindo cessar-fogo do conflito entre Israel e Hamas.

Durante as manifestações, bloqueios de estradas foram feitos em Jerusalém. Na principal rodovia de Tel-Aviv, os manifestantes seguravam bandeiras com fotos dos reféns mortos. A greve geral planejada para o dia 02, foi mobilizada pelo maior sindicato de Israel, o Histadrut. O apelo principal feito pelo chefe do sindicato, Arnon Bar-David, foi para que todos os trabalhadores civis se juntem pressionando o governo israelense.

Protesto em Tel Aviv pela liberação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo grupo Hamas. Foto: Ariel Schalit/AP
Protesto em Tel Aviv pela liberação dos reféns mantidos na Faixa de Gaza pelo grupo Hamas. Foto: Ariel Schalit/AP

 

A autópsia realizada pelo Ministério da Saúde israelense, confirmou as mortes ocasionadas por tiros de curta distância. A estimativa do período do óbito é cerca de 48 a 72 horas antes da checagem feita no domingo (01) pela manhã. É possível que os reféns tenham sido mortos entre quinta e sexta-feira, de acordo com o porta-voz do ministério. 

A população israelense protestou para que Netanyahu fizesse novos esforços no resgate de reféns, que estão sob posse do Hamas em Gaza. O primeiro-ministro tem apoio significativo em sua tática de não fazer concessões ao Hamas, mesmo que isso afete no resgate dos 66 cativos israelenses e estrangeiros restantes em Gaza, segundo o jornal Haaretz.

A greve geral

O Fórum das Famílias dos Reféns e o Histardrut, convocou a paralisação total na segunda-feira (02). A greve afetou empresas de vários setores da economia e o maior aeroporto do país suspendeu pousos e decolagens.

Salas de embarque quase vazias no aeroporto internacional Ben Gourion, em Tel Aviv Foto: AFP - GIL COHEN-MAGEN
Salas de embarque quase vazias no aeroporto internacional Ben Gourion, em Tel-Aviv Foto: AFP - GIL COHEN-MAGEN

Os manifestantes tornaram a bloquear estradas novamente e passeatas foram organizadas para pressionar Netanyahu. O Tribunal Trabalhista, depois de ser acionado pelo Estado, condenou a greve, alegando ser ilegal e definiu um prazo de suspensão da paralisação até 14h30 do horário local.

Um acordo foi feito entre o Tribunal e os sindicalistas, encerrando a paralisação. Os familiares das vítimas e de reféns do grupo terrorista Hamas, incentivam a continuação dos protestos nas ruas de Tel-Aviv, Jerusalém e outras regiões do Estado.

O primeiro ministro descartou o acordo de cessar-fogo em julho deste ano, segundo o tablóide Yedioth Ahronoth. O jornal teve acesso ao relatório que continham as exigências apresentadas por Netanyahu. A suspeita apontada pela reportagem, seria a do premiê ter este posicionamento para prolongar a guerra e sabotar uma trégua em prol de benefício político para si mesmo.

Em meio a crise política, o presidente da França indicou Michel Barnier como novo primeiro ministro do país
por
Vicklin Moraes
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05/09/2024 - 12h

 

Após dois meses de impasse, o presidente da França, Emmanuel Macron anunciou nesta quinta-feira(05), Michel Barnier como novo primeiro-ministro do país. A nação vive uma crise com a ascensão da extrema-direita e meses de paralisação política, depois da derrota de Macron nas eleições do Parlamento Europeu. 

 

Em junho, o presidente dissolveu o parlamento francês, e convocou novas eleições, depois da derrota de seu partido (REM) para o partido (RN) de Marine Le Pen, política populista de extrema direita.

 

Com a nomeação de Michel Barnier, Macron dribla a extrema direita e a esquerda para evitar que o país entre em coabitação. Na coabitação, o presidente mantém o papel como representante em política externa, mas perde a autoridade de definir a política doméstica da nação e , apesar de ser um político de centro-direita, Barnier é aliado do presidente francês 

 

Depois do anúncio, Jean-Luc Mélenchon, líder do bloco esquerdista, convocou protestos. A esquerda lidera o parlamento europeu, após ganhar  as eleições legislativas do país em julho.  Apesar da vitória, como não conquistou a maioria absoluta dos assentos, não tem força para nomear de forma independente um novo primeiro-ministro.

 

Quem é Michel Barnier? 

O atual primeiro-ministro é um político tradicional conservador. Ganhou destaque por comandar as negociações do Brexit, processo que resultou na saída do Reino Unido da União Europeia, em 2020.

Michel Burnier durante a conferência do Brexit. Foto: Anadolu Agency


Michel Burnier durante a conferência do Brexit. Foto: Anadolu Agency

Michel Barnier ocupou uma série de cargos no governo do país, dentre eles o de Ministro do Meio Ambiente (1993-1995) e Ministro de Estado para Assuntos Europeus (1995-1997) no governo de Jacques Chirac. 

 

O  premiê foi o chanceler da França no início dos anos 2000. Em 2021, anunciou sua pré candidatura à presidência do país, mas desistiu por falta de apoio do partido. Aos 73 anos, ele assume a posição anteriormente ocupada por Gabriel Attal, o mais novo da história no mesmo cargo. 

 

Depois do anúncio, o presidente Emmanuel Macron agradeceu em seu Instagram, Gabriel Attal, primeiro-ministro que renunciou ao cargo em julho. “Com o Governo, você levou o país adiante e contribuiu para o seu brilho num momento importante. Ao serviço dos nossos concidadãos, a França no coração”, afirmou Macron na publicação. 

 

Macron agradece Gabriel Attal no Instagram


Macron agradece Gabriel Attal, antigo primeiro-ministro. Reprodução: Instagram 

 

 

 

 

 

 

Secretário de Estado americano, Antony Blinken, está em Tel Aviv para pressionar andamento de negociações de trégua
por
Pietra Nelli Nóbrega Monteagudo Laravia
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20/08/2024 - 12h

Desde o início do conflito na Faixa de Gaza, diversas tentativas de cessar-fogo foram realizadas, refletindo a complexidade das negociações e a persistência das partes envolvidas. Anteriormente, os esforços para interromper as hostilidades foram marcados por intensos diálogos entre os mediadores e um contínuo desgaste das condições em campo. No entanto, essas tentativas ainda não conseguiram estabelecer uma trégua duradoura.

Na última segunda-feira (19), o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, anunciou um novo desenvolvimento significativo: o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, aceitou uma proposta de cessar-fogo formulada pelos mediadores dos EUA, Catar e Egito. Esta proposta foi apresentada durante a rodada mais recente de negociações realizada em Doha, no Catar.

Blinken, que está em Tel Aviv desde domingo (18), informou que se reuniu com Netanyahu para discutir o novo plano. De acordo com a declaração de Blinken, a proposta dos EUA visa "resolver as lacunas restantes" nas negociações e permitir uma "rápida implementação" se for aceita por todas as partes envolvidas. Embora os detalhes da proposta ainda não tenham sido divulgados, o clima entre os negociadores é de otimismo após as conversas da semana passada.

Até o momento, o Hamas ainda não se pronunciou oficialmente sobre a nova proposta. As negociações deverão continuar ao longo desta semana, e Blinken expressou a expectativa de que o Hamas se comprometa com a proposta para avançar nas discussões. O secretário de estado dos EUA também alertou que esta pode ser uma oportunidade crucial para a devolução dos reféns mantidos pelo Hamas e para alcançar um desfecho mais amplo do conflito.

 O governo israelense informou que o Hamas ainda detém 111 pessoas sequestradas desde o ataque de 7 de outubro de 2023, que iniciou a guerra na Faixa de Gaza. A proposta de cessar-fogo enfrenta desafios significativos, incluindo a exigência de Israel pela destruição total do Hamas e a demanda do grupo terrorista por um cessar-fogo permanente, em vez de uma trégua temporária. Divergências também permanecem em relação à presença militar de Israel em Gaza, à movimentação dos palestinos e à identidade e quantidade de prisioneiros a serem libertados em uma possível troca.

 Em resposta a essas complexas questões, Netanyahu afirmou que busca a libertação do "máximo de reféns vivos" durante a primeira fase do novo plano de três etapas proposto pelos EUA. Após sua reunião com Netanyahu, Blinken confirmou que o primeiro-ministro se comprometeu a enviar uma delegação para as novas negociações, previstas para esta semana em Doha ou no Egito. Blinken também estará presente nas discussões. Paralelamente, os confrontos continuam em Gaza, com uma nova operação israelense em Khan Yunes e um atentado reivindicado pelo Hamas em Tel Aviv no domingo, evidenciando a fragilidade e a intensidade do conflito em curso.

 

Comandantes das Forças Armadas foram destituídos; Em rede social, presidente Luis Arce pediu respeito à democracia do país
por
Artur Maciel
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26/06/2024 - 12h

(Soldados frente ao Palácio presidencial em La Paz. foto: Juan Karita AP) 

Na tarde desta quarta-feira (26), militares do Exército da Bolívia invadiram o palácio presidencial - antiga sede do governo -, colocaram tanques nas ruas e ocuparam a Praça Murillo, que fica em frente ao palácio presidencial, na capital La Paz. 

Em uma rede social, no início da tentativa de golpe, o presidente Luis Arce denunciou “movimentações irregulares” de unidades do exército boliviano. “A democracia deve respeito”, escreveu Arce. 


 

Presidente da Bolívia se manifesta após tentativa de golpe no país. Foto: Reprodução/X @LuchoXBolivia
Presidente da Bolívia se manifesta após tentativa de golpe no país. Foto: Reprodução/X @LuchoXBolivia

 

A invasão foi liderada pelo general Juan José Zuñiga, ex-comandante do exército. Entre os momentos de tensão, nas quase quatro horas de ação, o presidente Arce chegou a ficar cara a cara com Zuñiga na porta do palácio. Em transmissão de uma emissora local, Zuñiga disse que “o país não pode continuar assim” e pediu pela formação de um novo gabinete de ministros. 

No início da semana, o general havia sido destituído do cargo de comandante do exército após ameaçar prender o ex-presidente boliviano Evo Morales - que vai concorrer nas eleições - caso ele volte ao poder. Através das redes sociais, Morales convocou a população a defender a democracia de “alguns grupos militares que atuam contra a democracia e o povo”. 

O movimento golpista foi desmobilizado após ordens de Arce e do novo comandante do exército, José Wilson Sánchez, nomeado na terça-feira (25). Os militares que participaram da ação, deixaram o palácio escoltado por soldados que não aderiram aos planos de uma ruptura institucional. 

Em pronunciamento ao povo boliviano, o presidente do país anunciou a destituição dos comandantes das Marinha e Aeronáutica, e anunciou novos chefes para as duas Forças. A Procuradoria-Geral da Bolívia abriu investigação contra os envolvidos na tentativa de golpe, incluindo o general Zuñiga. A Suprema Corte boliviana condenou os atos e pediu apoio da comunidade internacional à democracia no país. 

As ações golpistas foram rechaçadas até por opositores do governo Arce, como a ex-presidente do país, Jeanine Áñez. “Repúdio total à mobilização de militares na Praça Murillo, pretendendo destruir a ordem constitucional. Nós bolivianos defendemos a democracia”, afirmou Áñez.

Líderes da América Latina se posicionaram contra o golpe. Por meio das redes sociais, o presidente Luís Inácio Lula da Silva condenou a tentativa e reafirmou o “compromisso com o povo e a democracia no país irmão".  

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil também emitiu nota. “O Governo brasileiro condena nos mais firmes termos a tentativa de golpe de Estado em curso na Bolívia, que envolve mobilização irregular de tropas do Exército, em clara ameaça ao Estado democrático de Direito no país”, disse. “O Governo brasileiro manifesta seu apoio e solidariedade ao Presidente Luis Arce e ao Governo e povo bolivianos”, diz o Itamaraty.

Pedro Sanches (presidente da Espanha), Santiago Pena (presidente do Paraguai) Andre Manuel (presidente mexicano) e Alberto Fernandes (ex-presidente da Argentina) também repudiaram o ataque. 

Presidente francês anunciou decisão após resultado das eleições europeias
por
Khauan Wood
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18/06/2024 - 12h

O presidente da França Emmanuel Macron anunciou no domingo (09) a dissolução da Assembleia Nacional, casa legislativa francesa, e a convocação de novas eleições parlamentares para o fim do mês de junho.

O anúncio foi feito logo após o resultado da eleição do Parlamento Europeu, que deu ao Reagrupamento Nacional (RN), partido de Marine Le Pen, principal opositora de Macron, 31,5% dos votos contra 15,2% do Renascimento (RE), sigla que abriga o presidente.

Após a divulgação dos resultados, Jordan Bardella, presidente nacional do RN e forte nome da extrema-direita para assumir o cargo de Primeiro-Ministro no país caso o grupo vença as eleições, fez um discurso onde comemorava o resultado do pleito europeu e desafiava Macron a convocar novas eleições para o Parlamento local.

No ato, Bardella disparou: “o presidente não pode ficar surdo à mensagem enviada pelos franceses [...] pedimos que organize novas eleições legislativas”, o político disse ainda que “um vento de esperança sopra sobre a França e está apenas começando”.

Horas depois, veio o comunicado de Macron que anunciava a dissolução do Parlamento e marcava novas eleições para os dias 30 de junho (1º turno). Caso um segundo turno seja necessário, ele ocorrerá em 07 de julho.

As eleições da câmara baixa do Parlamento francês estavam inicialmente previstas para ocorrer somente após a disputa presidencial, em junho de 2027. O presidente definiu sua decisão como “um ato de confiança” na população francesa.

 

Caso o partido de Macron saia derrotado, a França teria que lidar com um cenário governamental difícil, a chamada “coabitação”, ou seja, teria o presidente e primeiro-ministro em posições políticas opostas. 

Macron continuaria em seu papel de Chefe de Governo e seguiria com o poder de decisão de políticas externas, porém perderia o controle das políticas nacionais, justamente por não ter o controle do Parlamento, fenômeno que dificultaria ainda mais a aprovação de projetos de interesse de sua equipe.

O fenômeno da coabitação ocorreu pela última vez entre os anos de 1997 e 2002, quando o então presidente de centro-direita Jacques Chirac (1932-2019) fez um movimento semelhante ao de Macron, dissolvendo o Parlamento por questões políticas e com a esperança de sair vitorioso, porém viu seu adversário Lionel Jospin, do Partido Socialista, ser eleito como primeiro-ministro e dificultando cinco de seus doze anos de mandato.