Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

"Meu filho se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia, e sim, um estúdio onde faria música", diz mãe de ex-aluno do Alma de Batera
por
Vitória Nunes de Jesus
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22/11/2024 - 12h

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), 1 em cada 700 pessoas no Brasil nascem com Síndrome de Down. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 2 milhões de brasileiros tenham autismo, o que equivale a 1% da população brasileira. No Brasil, estima-se que surjam pelo menos 30 mil novos casos de paralisia cerebral por ano. 

Para ajudar no processo de inclusão dessas pessoas, Paul Lafontaine criou o Instituto Alma de Batera em 2008, com o propósito de ensinar bateria para pessoas com deficiência. Os alunos acolhidos vão desde crianças até adultos.

Segundo Paul, a ideia de formar o Alma de Batera surgiu após trabalhos voluntários. “Depois de alguns trabalhos voluntários em instituições para pessoas com deficiência, eu fiquei com vontade de trabalhar na área. Decidi fazer faculdade de pedagogia e imaginava que fosse trabalhar em algum setor de alguma instituição para esse público. Mas nenhuma instituição me respondia aos e-mails que enviava para ser estagiário, e então, meu professor me ligou e me indicou para dar aulas de bateria para quatro alunos, todos eles com alguma deficiência. Foi aí que surgiu a ideia de montar minha própria instituição”.

“Escolas de música especificamente para esse público, eu não conheço e nunca soube algo voltado só para PCDs”, diz o fundador do Instituto, mesmo com tantas pessoas que podem desfrutar de projetos como este.

Raquel Chicarelli, mãe do Gian, 13, que tem paralisia cerebral, ex-aluno do Instituto, conta um pouco da experiência que tiveram no Alma de Batera. “Gian gostou muito, aprendeu a segurar a baqueta e assim a melhora na motricidade, sempre quis ir às aulas, mas por conta da rotina de terapias ficava cansado”.

Paul diz que se sente realizado em seu trabalho. “Sensação de dever cumprido. Independentemente se os alunos têm alguma deficiência ou não, para um professor é ótimo saber e ver que o trabalho feito gera um impacto positivo na vida de cada um deles”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

A mãe do Gian diz que o Instituto é um lugar que seu filho gostava e é o espaço ideal para PCDs aprenderem bateria. “Se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia e sim, um estúdio onde faria música com um instrumento possível para ele e sempre recebidos com carinho e alegria. Com certeza deve ser ampliado para se multiplicar pelo país”.

Paul conta as dificuldades enfrentadas na sua profissão, mas que não anulam as alegrias. “No processo de aprendizagem, a conexão entre o professor e o aluno é a parte mais difícil e primordial para trazer algum resultado prático. Sem criar conexão, não gera empatia entre ambas as partes, e assim, o conteúdo se torna irrelevante”.

Raquel conta as principais dificuldades que seu filho Gian tem para aprender e diz que a bateria é algo divertido para ele. “Gian por conta da paralisia cerebral tem muita dificuldade em manter a atenção e isso faz qualquer aprendizado ficar mais difícil, não só a bateria, mas por ser instrumento e ele gostar, tornou-se algo prazeroso para ele”.

“Todos os alunos, de alguma forma, nos mostram algum retorno positivo, seja na felicidade de querer tocar, ou na melhoria na hora da execução do instrumento, que traz uma satisfação enorme e um sentimento de pertencimento”, diz o fundador do Instituto sobre a alegria de observar a devolutiva dos alunos.

Raquel conta um pouco sobre seu filho e sua rotina. Fala sobre a falta de inclusão e diz que o convívio com as pessoas o ajuda. “Gian nasceu prematuro, teve muitas intercorrências que causaram a paralisia cerebral, afetando o cognitivo, fala e mobilidade. Cada dia é um ganho, a evolução vem dos esforços contínuos nas terapias, estimular sempre na escola, convívio com a sociedade que melhorou, mas ainda falta mais inclusão, acessibilidade.
E, persistir a evoluir nesses campos, manter os desafios diários para que ele seja o mais independente possível, proporcionando tudo que estiver ao nosso alcance”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Por fim, Paul conta uma situação, no início do projeto, que o marcou. “Bem no começo, quando ainda nem tínhamos um espaço próprio, eu alugava um estúdio e estava atendendo apenas 1 aluno na época. Era um aluno com Síndrome de Down. E eu, pensativo antes da aula começar, com a cabeça longe e acreditando que esse trabalho não iria para frente, bem desanimado, recebi esse único aluno. Não sei se ele percebeu que eu estava meio triste e desanimado, mas ele veio, me deu um abraço e me disse uma frase que nunca esqueci: “Paul, você é o melhor professor do mundo!”. Aquela frase dele me fez continuar e acreditar que, enquanto eu estiver fazendo a diferença na vida de um aluno, eu iria continuar com as aulas. Hoje temos cerca de 40 alunos, todos com alguma deficiência”.

Diante desses apontamentos, é possível concluir o quão bem faz o trabalho do Instituto Alma de Batera, e não só para os alunos, mas também para os envolvidos no projeto, pais e professores. Deveriam existir mais institutos como este, pensados em PCDs e na inclusão.

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Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Na rotina do Instituto para Cegos cada som, toque e aroma ganham vida como conexões sensoriais
por
Sophia Dolores
Mariana Melo Castilho
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20/11/2023 - 12h

Ser capaz de reconhecer o som de cada carro estacionando e já esperar a visita no portão de braços abertos. O Seu Chizu e o Zé Carlos fazem isso diariamente. O Tunico e o Mathias sabem qual é, exatamente, sem errar nenhum ingrediente, o almoço que será servido no dia, antes mesmo de ser servido. A Ana e o Olavo acertam o nome da pessoa para quem dá a mão sem antes vê-la. Esses são os seis moradores do Instituto para Cegos Santa Luzia.

Instituto
Seu Zé Carlos (Foto: Mariana Melo Castilho)

Eles acordam entre 6h30min e 7h00min da manhã, tomam um café coado com bolinho de fubá, e partem para ginástica, localizada no pátio central, que fica entre a “casa dos quartos” e a “casa geral". Durante a prática da atividade física, cada um obedece seu próprio ritmo, com uma música de fundo e muita animação, a professora Dayane, fala o nome de cada exercício e descreve como executar, apesar de todos já conhecerem de cabo a rabo a sequência passada todas as segundas, quartas e sextas.

Após a prática dentro dos muros, chega a hora de caminhar pelas ruas da cidade de Araçatuba. Tonico diz que não vai sair "nesse sol". Ele afirma que está cego mas não está doido. O restante segue rumo à Avenida Pompeu de Toledo. Ao longo do trajeto, as mãos esquerdas vão apoiadas na parede, guiados pela voz da instrutora e por seus conhecimentos da área, prestam atenção a cada som, e percebendo cada desnível da calçada, o silêncio só é interrompido pela falação eterna do Zé Carlos, sempre com alguma piada pronta ou comentário pensado.

Voltando para a habitação é chegado o momento do almoço. A essa hora, todos já conseguiram sentir o cheiro do que foi preparado e sabem o menu, cada um pega seu prato de plástico para serem servidos pela Patrícia, cozinheira do Instituto. As mesas de madeira são compridas com espaço para todos sentarem juntos.

Instituto
Seu Chizu (Foto: Mariana Melo Castilho)

Um por um eles se levam e seguem para o quarto, saindo da “casa geral”, a qual abriga a cozinha, o refeitório, a sala de visitas e uma segunda sala para a parte administrativa, com computador e telefone, passam pelo pátio e vão a caminho da “casa dos quartos”, com oito quartos individuais. Para a organização do tráfego, a direita é ida e a esquerda é a volta, assim evitam acidentes de colisão na via de duas mão que é o longo e largo corredor no centro da morada.

            O descanso sagrado tem fim quando a professora de braille aparece para a aula. Como rotina, todas as terça e quintas-feiras, acontecem as classes pela parte da tarde, algumas vezes, outros deficientes visuais vão ao a entidade aprender também. Os que fazem as leituras com maestria utilizam o tempo para ajudar os outros e conhecer novos livros e histórias.

Terminando a lição, depois de um dia todo juntos, Seu Chizu conta do seu tempo como ajudante de seus pais na feira, como ia para chacará ajudar seu pai a colher o que seria vendido no dia seguinte e como não teve a escolaridade completa por não terem a assistência de que ele precisava quando criança, hoje em dia sua irmã insiste para o levar para morarem juntos em outra cidade, “com tudo do bom e do melhor” mas ele nega por já ter uma casa com tudo que precisa.

Zé Carlos relata seu acidente de moto que aconteceu depois de um dia de trabalho no escritório de contabilidade, e fala das várias cirurgias falhas para tentar recuperar sua visão, com 26 anos, preferiu ir viver no Instituto de Cegos, longe de sua família, para ter uma vida ajustada a suas necessidades “sem atrapalhar ninguém" . Seu Olavo ensina que a diabetes é uma das causas para a cegueira, e sobre como isso é comum, Ana, sua esposa, também passou pela mesma situação e hoje tem lar na fundação.

Instituto
Instituto para Cegos Santa Luzia (Foto: Mariana Melo Castilho)

Nesse momento o lanche da tarde fica pronto e eles vão comer, provavelmente depois da comida tem mais tempo livre até o jantar e antes das 19h00min estão deitados para dormir e assim, no dia seguinte, a rotina continua como na semana anterior, e a próxima será como esta, e assim, passei quase um dia todo observando com os olhos e sendo observada pela voz, pelo toque, pela força das passas, me encantei pela calma da vida levada com tempo para estar presente e, pela primeira vez, passei horas sem escutar nenhuma reclamação, tirando a parte do sol, estava muito quente mesmo.

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Anonimato da internet; senso de justiça; busca por superioridade e efeito manada são alguns dos motivos que encorajam o linchamento virtual
por
Giovana Yamaki e Fernanda Fernandes
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06/04/2021 - 12h

       

A propagação da cultura do cancelamento
A propagação da cultura do cancelamento. - Reprodução Pinterest

       

        Cancelamento: o termo eleito, em 2019, pelo dicionário Macquarie, continua sendo pauta ainda nos dias de hoje, principalmente agora com a 21ª edição de Big Brother Brasil no ar. Essa cultura que vem crescendo nas redes sociais, sempre esteve presente na sociedade e gera diversos impactos psicológicos e grandes consequências aos afetados. 

       Apesar desse problema já estar escancarado, a hipocrisia das pessoas faz o cancelamento se intensificar e nos leva a cada vez mais longe de uma solução. Mas afinal, quem é o cancelador e o que o influencia a cometer atitudes extremamente agressivas? 

       Pensando em entender mais sobre essa figura e os impactos causados pelo cancelamento virtual, foi feita uma entrevista com a psicóloga Beatriz Pinto Bandeira Campos e uma pesquisa no Instagram.

       Além disso, foram listados alguns tópicos que influenciam no cancelamento e encorajam o cancelador. Entre eles estão: o anonimato da internet; o senso de justiça; a busca por superioridade e o efeito manada.

Confira o vídeo aqui

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Em meio a pandemia da Covid-19 e conflitos incessantes ao redor do mundo, entenda esse grupo e conheça a uma das instituições que lhes presta apoio no Brasil
por
Marina Daquanno Testi e Thayná Alves
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08/12/2020 - 12h

 

 

     

        O número de refugiados no Brasil vem crescendo a cada ano. Só no ano de 2018, segundo a Agência da ONU Para Refugiados (ACNUR) foram relatadas 80 mil solicitações de reconhecimento de condição de refugiado no Brasil. Os grupos de maior número entre as solicitações são os venezuelanos (61.681), que saíram do país devido à crise humanitária, e os haitianos (7.030), cujo fluxo de migração se intensificou após o terremoto que atingiu o país em 2010.  

        A lei brasileira considera refugiado todo indivíduo que está fora de seu país de origem devido a guerras, terremotos, miséria e questões relacionadas a conflitos de raça, religião, perseguição política, entre outros motivos que violam seus direitos humanos. Isso pode acontecer, por exemplo, quando a vida, liberdade ou integridade física da pessoa corria sério risco no seu país.

        Para que o imigrante seja reconhecido como refugiado, é necessário enviar uma solicitação para o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE). O processo de reconhecimento, que antes era mais burocrático e mais demorado, atualmente é feito no site do Ministério da Justiça, a partir do preenchimento do formulário que pode ser feito ainda no país de origem. Todas as etapas podem ser acompanhadas pela internet, mas para o processo começar a tramitar, o solicitante deverá comparecer pessoalmente a uma unidade da polícia federal. 

        Dentre a população refugiada reconhecida no Brasil, segundo o censo da ACNUR de 2018, a maioria se concentra nas faixas etárias de 30 a 59 anos (41,80%), seguido de pessoas com idade entre 18 a 29 anos (38,58%). Do total, 34% são mulheres e 66% são homens, ressaltando os sírios, os congoleses como nacionalidades em maior quantidade (respectivamente 55% e 21%). 

         Em janeiro de 2020, o Brasil tornou-se o país com maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos na América Latina, cerca de 17 mil pessoas se beneficiaram da aplicação facilitada no processo de reconhecimento, segundo a  Agência da ONU para Refugiados. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar a fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima.

         Apesar de em grande quantidade, apenas 215 municípios têm algum tipo de serviço especializado de atenção a essa população. As maiores dificuldades encontradas por pessoas refugiadas são a adaptação com o mercado de trabalho, com o aprendizado do idioma, o preconceito e a xenofobia, educação (muitos possuem diplomas em seus países de origem que não são aceitos aqui no Brasil), moradia e saúde. 

 

Covid-19 e o amparo aos refugiados

 

        Diante de um quadro de crise em escala global, como o que acontece este ano com a pandemia da Covid-19, essa população de migrantes e refugiados, que já se encontram em extrema vulnerabilidade, conta com o apoio de poucas instituições voltadas especialmente para suas necessidades. Este é o caso da Missão Paz, uma instituição filantrópica de apoio e acolhimento a imigrantes e refugiados, com uma das sedes na cidade de São Paulo, como conta o padre Paolo Parise.

        Nascido e criado na Itália, Parise atua desde 2010 na Missão Paz, atualmente como um dos diretores, e explica que esta instituição está ligada a uma congregação da Igreja Católica chamada Scalabrinianos, que atua com imigrantes e refugiados em 34 países do mundo. “Na região do Glicério - município do estado de São Paulo-, a obra se iniciou nos anos 30 e atualmente está presente em Manaus, Rio de Janeiro, Cuiabá, Brasília, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Foz do Iguaçu, Corumbá e outros lugares.”

        Sua estrutura atual conta com a Casa do Migrante, um abrigo com capacidade de 110 indivíduos que são acolhidos com alimentação, material de higiene pessoal, roupas, aulas de português, acompanhamento de assistentes sociais e apoio psicológico; e o Centro Pastoral e de Mediação dos Migrantes (CPMM) que oferece atendimento e serviços voltados aos imigrantes, quanto aos seguintes temas: documentação e jurídico; trabalho, capacitação e cidadania; saúde; serviço social; família e comunidade. “Além disso, temos a área de pesquisa em parceria com a revista Travessia, que é o Centro de Estudos Migratórios (CEM), uma biblioteca especializada em migração e a WebRadio Migrantes”, completa Pe. Paolo.

Fonte: Site da instituição Missão Paz - Casa do Migrante
Fonte: Site da instituição Missão Paz - Crianças brincam na Casa do Migrante

        De acordo com o diretor, o maior desafio enfrentado pela instituição, durante a pandemia, foi com a saúde dos refugiados, principalmente pela impossibilidade de viver a quarentena isoladamente, já que muitos vivem em ocupações ou em lugares com muitas pessoas concentradas. Ele ainda denunciou que, dentre tantas vítimas da Covid-19 em São Paulo, um dos grupos mais afetados foi o de imigrantes bolivianos, “muitos foram contaminados e muitos morreram”.

        Diante de instabilidades políticas e econômicas, atualmente, sírios e venezuelanos são as principais nacionalidades afetadas que solicitam entrada no país. O que ratifica o Pe. Parise, “Falando pela Missão Paz, se você utiliza o termo ‘refugiados’, o maior grupo neste momento é de venezuelanos, sejam os que foram acolhidos pela missão paz, sejam os que estão entrando no Brasil. E depois encontramos outros grupos como da República Democrática do Congo. Mas se falamos de imigrantes, temos Colombianos, Bolivianos, Paraguaios, Peruanos, Angolanos e de outros países que estão recorrendo ao Brasil.”

        Mesmo com mudanças críticas, no cenário jurídico e político brasileiro, para que esta população seja recebida no país e tenha seus direitos respeitados, ainda não se pode falar em auxílio do governo ou medidas diretas de apoio a refugiados e imigrantes. 

        Paolo relembra a criação de leis que têm beneficiado a população no Brasil. Uma delas é a lei municipal Nº 16.478 de 2016, onde o Prefeito do Município de São Paulo, Fernando Haddad, instituiu a Política Municipal para a População Imigrante que garantia a esses o acesso a direitos sociais e aos serviços públicos, o respeito à diversidade e à interculturalidade, impedia a violação de direitos e fomentava a participação social; e a outra é a lei federal Nº13.445 de 2017, ou a nova Lei de Migração, que substitui o Estatuto do Estrangeiro e define os direitos e deveres do migrante e do visitante, regula a sua entrada e estada no País e estabelece princípios e diretrizes para as políticas públicas para o emigrante.

        A Missão Paz se mantém através de projetos e dinheiro injetado pela congregação da Igreja Católica. “Neste momento, a Missão Paz não recebe apoio financeiro nem do município, nem do estado e nem do Governo Federal”, relata Parise. Durante a pandemia receberam ajuda da sociedade civil, “[A Instituição] Conseguiu muitas doações de pessoas físicas, de instituições, de campanhas, fosse em dinheiro, em cestas básicas ou kits de higiene pessoal”, e com 200 cestas básicas, por mês, da Prefeitura de São Paulo. Também receberam ajuda com testes de COVID em nível municipal. 

         A instituição filantrópica ainda conta com a ajuda de vários parceiros, como explica seu diretor “na área de incidências políticas, por exemplo, nós atuamos com a ONG Conectas Direitos Humanos, temos na área de refugiados um projeto com a ACNUR, estamos preparando outro com a OIM (Organização Internacional para as Migrações) e temos algumas ações com a Cruz Vermelha”. 

        Desde o começo do ano, já atenderam por volta de 7 mil imigrantes e refugiados, e, hoje em dia, tem por volta de 40 pessoas na Casa, o que representa ⅓ da capacidade total. Além disso, entregam de 50 a 60 cestas básicas a refugiados, diariamente, e ao redor de 60 a 70 que vão, por dia, procurar os serviços do CPMM. “Outras ações incluíram a disponibilização de atendimentos online, de aulas de português a atendimentos jurídicos, psicológicos ou serviços sociais, além de ajudar a completar aluguel, água ou luz daqueles que precisam da ajuda da instituiçã”, fala Padre Paolo. 

        Todo esse esforço e dedicação da instituição foi feito, sempre, visando seguir as normas de segurança e as indicações da OMS (Organização Mundial da Saúde). Foram fornecidos a seus funcionários e a população migrante e de refugiados álcool para higienizar as mãos, máscaras e demais equipamentos e serviços de proteção e higiene.

A exclusão nas várias áreas da sociedade.
por
Marcela Foresti
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27/11/2020 - 12h

Como qualquer outro país o Brasil também enfrenta diversos problemas sociais, um destes problemas é a exclusão de deficientes. Segundo levantamento do IBGE de 2010 o país tem 46 milhões de pessoas que declaram ter algum tipo de deficiência, este número equivale a 24% da população.

Este grupo da sociedade enfrenta barreiras todos os dias e são excluídos de atividades básicas do dia a dia, como em atividades escolares. O diretor de patrimônio da  Associação dos Policiais Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo (APMDFESP) e cabo da polícia militar reformado Alexandre Miragaia de Araújo acredita que a sociedade em que vivemos está longe de ser inclusiva e que não podemos confundir a boa vontade de poucas pessoas com a tão sonhada inclusão “A exclusão já começa na infância com as súplicas de pais por uma vaga em   escolas”. Alexandre Miragaia de Araújo

 O também policial militar reformado e hoje presidente da Associação dos Policiais   Militares Portadores de Deficiência do Estado de São Paulo (APMDFESP) Antônio   Figueiredo Sobrinho, acredita que aos poucos a sociedade está caminhando para uma   maior inclusão, principalmente no trabalho já que existem os sistemas de cota, mas   que ainda estamos longe de atingirmos a inclusão total. Antonio Figueiredo Sobrinho

A sociedade infelizmente ainda enxerga os deficientes como incapazes e diferentes, muitas empresas preferem pagar a multa por não cumprir a lei de cotas do que contratar alguém que se declara deficiente. Na escola é a mesma coisa, as instituições não colocam seus alunos deficientes em eventos por julgarem que a criança é incapaz de se misturar.

Para Araújo e Figueiredo o poder financeiro ainda é um fator determinante da inclusão, ele que proporciona  maior qualidade de vida, viabiliza a mobilidade e facilita o acesso a informações. 

A falta de sensibilidade para o assunto também reflete na mídia. Araújo acha que a quantidade de reportagens sobre o assunto está se tornando constante, mas que ainda vemos uma quantidade enorme de ONGs e políticos serem representantes do assunto ao invés dos próprios deficientes que superam seus limites todo dia “Não nos sentimos representados por toda essa gama de pessoas”.

Figueiredo por outro lado acredita que os conteúdos das matérias são sempre superficiais “Falam de maneira que o conteúdo seja para beneficiar outros”, para ele esta minoria da sociedade ainda não tem crédito de valor.

O pouco interesse da sociedade sobre o assunto é uma realidade triste do Brasil, difícil vermos planos de governo que incluam medidas que irão beneficiar este grupo além de cotas. Há poucas medidas para a mobilidade nas ruas e estabelecimentos, o que dificulta o acesso e mantém as barreiras do preconceito. Araújo acredita que existe uma preocupação dos governantes, mas não se vê como programa de relevância “Não tem uma formatação de Leis com nossa realidade e ficamos na dependência de ações isoladas”.

Já Figueiredo acredita que a história está mudando e que não irá demorar muito para eles serem incluídos como pessoas normais na sociedade.

 A luta pela inclusão é de todos nós e devemos cada vez mais nos preocupar em ter uma sociedade onde todos são vistos e tratados como iguais. O Brasil ainda tem uma grande caminhada e ela é agenda de todos.

 

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A periferia mostrou-se ser um ligar a parte na gestão e manutenção de seus comércios durante a pandemia, seja com dificuldades ou com manobras ilegais para se manter ativo
por
Eduardo Rocha da Luz
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09/11/2020 - 12h

A pandemia pegou toda a população mundial de surpresa e logo mostrou à que veio. Se não apenas para mostrar como somos tão frágeis diante de um organismo ínfimo – Mas com um poder destrutivo voraz – deixou escancarado as diferenças de classe e a fragilidade dos sistemas econômicos. Em meados de março, com o primeiro caso de COVID-19 em São Paulo, iniciou-se uma corrida por suprimentos, o que causou o desabastecimento de algumas redes de supermercado. Ao longo das semanas seguintes, foi visto que a histeria foi exagerada.
Mas será mesmo?

Na periferia de São Paulo (Sapopemba), comerciantes sentiram o impacto ocasionado pela pandemia de maneira singular. Por serem de pequeno porte, sem estrutura para manterem estoques de emergência e sem poder para realizar a reposição perante as grandes redes de supermercado. “Em março e abril as vendas foram surpreendente, nunca, nos 26 anos que mantenho meu mercado, houve uma busca tão grande por alimentos não perecíveis (Arroz, feijão, farinhas), diferentemente do que era mostrado na TV, não tivemos tanta busca por produtos de higiene pessoal” - Carlos Alberto (65), proprietário de um mercado no Jd. Elba.

Outro grande problema relatado, foi que nos meses seguintes, houve um aumento no valor, justamente nos itens da cesta básica (Arroz, feijão, óleo), e dessa forma, um malabarismo para minimizar o valor do repasse desse aumento ao consumidor foi realizado. “Aqui na região, as pessoas são mais simples, muitos idosos e crianças, mães solteiras, muitos desempregados que vivem de bico ou de favor. Vejo a dificuldade que tem para vir comprar o básico. Me corta o coração, mas também não posso deixar de pagar meus funcionários, as contas de meu comercio. Por isso, nos últimos meses, tenho trabalhado no limite do limite do repasse do reajuste dos valores. Tenho tentado ser o mais patriota o possível, como pediu o presidente, mas com todos os encargos e impostos, é impossível” – Carlos Alberto.

Outra situação muito comum nessa região foram as maneiras de driblar possíveis fiscalizações de descumprimento de manter comércios não essenciais fechados. Foi muito comum encontrar salões de cabelereiro, restaurantes, bares, bazares e todos os tipos de comércios com as portas abertas ou semiabertas. Alair Jorge (25) mantem um salão de cabelereiro, de onde vem seu sustento, da esposa Jussara (23), dona de casa e seus quatro filhos. “Já tenho uma clientela fiel, que marcam horário pelo Zap (WhatsApp) e não poderia deixá-los na mão, além do mais, é daqui que tiro meu sustento. O auxílio emergencial do governo veio em uma hora boa, mas se eu deixasse de atender quem me chamasse no zap, com certeza esse iria buscar por outro cabelereiro.”
Ao ser questionado sobre uma possível fiscalização, Alair diz: “Mano, aqui é favela, os caras da prefeitura só aparecem por aqui de quatro em quatro anos, para pedir voto.”

Diferente de regiões centrais, comerciantes periféricos tiveram suas dificuldades durante a pandemia, mas também tiveram que se adequar para manter seus comércios em funcionamento.

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Em meio ao aumento de invasões e o avanço da Covid-19 em comunidades originárias, candidaturas indígenas, neste ano, cresceram 28% em relação às eleições de 2016, deixando de ser a minoria representada nas urnas.
por
Laura Trindade
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04/11/2020 - 12h

Em meio a uma pandemia que têm colocado em risco a existência de comunidades isoladas, ações do STF (Supremo Tribunal Federal), como a votação da tese do Marco Temporal, que dificulta a demarcação de terras, e o aumento do desmatamento, as candidaturas indígenas cresceram 28% em relação às eleições de 2016. Sendo assim, a etnia deixou de ser a menos representada em cargos eletivos, com 2.177 candidaturas, segundo a APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil). 

De acordo com a APIB, o aumento da população indígena na participação das eleições municipais é concomitante ao aumento dos ataques aos seus direitos em meio a pandemia de Covid-19. Segundo dados atualizados no dia 30 de outubro, foram 32.446 casos confirmados e 866 óbitos por Covid-19 entre os povos indígenas, que enfrentam, além da pandemia, desde escassez de água, como é o caso da comunidade Avá Guarani, no Paraná, até uma estrada irregular que avança por Terra Indígena no estado do Maranhão. 

Os representantes indígenas nas eleições deste ano vêm com uma pauta em comum: a retomada da demarcação dos territórios. Para Chirley Pankará, primeira indígena co Deputada Estadual em São Paulo, a demarcação de terras é uma das maiores causas e lutas. Segundo a co Deputada, só assim é possível haver políticas públicas voltadas para atender as necessidades indígenas, além de, também ressaltar que, mesmo em contextos urbanos, a demarcação é importante devido à ancestralidade e história do povo. 

Essa conquista de espaço no poder poder público têm ganhado forças com o surgimento de alguns nomes nos últimos tempos, como o de Sônia Guajajara, vice do candidato a presidência, Guilherme Boulos, nas eleições de 2018. Porém, apesar da visibilidade e credibilidade que isso tem gerado, de acordo com a co Deputada, as dificuldades nas eleições são muitas para quem é indígena, principalmente pela falta de apoio financeiro.   

Para incentivar e dar suporte às candidaturas, a APIB lançou a Campanha Indígena, de caráter suprapartidário, um mês antes do primeiro turno das eleições municipais. A Articulação alega que as candidaturas e as defesas dos direitos indígenas são mais importantes do que o partido ao qual o candidato está filiado.  

 

Candidatura coletiva

Oficialmente, não é possível haver um mandato de mais de uma pessoa, mas, desde 2018, as candidaturas coletivas têm ganhado espaço nas eleições. Ela acontece por meio de campanhas eleitorais, quando integrantes de um mesmo partido fazem um acordo para conseguir votos coletivamente. Caso o representante seja eleito, todo o grupo que faz parte da candidatura coletiva terá participação nos assuntos que permeiam a câmara. 

Em 2018, São Paulo e Pernambuco foram os primeiros estados a elegerem um mandato coletivo, caso da co Deputada Chirley Pankará, da Bancada Ativista. Segundo a eleita, as candidaturas coletivas abrem caminho para grupos minoritários. 

Nas eleições municipais deste ano, apenas em São Paulo há pelo menos 34 chapas únicas com mais de um participantes, principalmente vindos de partidos de esquerda, coletivos da periferia, movimentos sociais e indígenas. 

 

Marco Temporal 

Sendo defendido principalmente por ruralistas e setores interessados na exploração de terras, o marco temporal é uma tese que se associa a pauta de demarcações de terras indígenas, visto que restringe essa possibilidade. 

Com a aprovação dessa tese pelo STF, os povos indígenas teriam direito à demarcação  das terras que estivessem sob sua posse no dia 5 de outubro de 1988, data em que foi promulgada a atual Constituição Brasileira, ou que, nesse mesmo dia estivessem sob disputa física ou judicial comprovada. Porém, antes dessa Constituição, povos indígenas eram tutelados pelo Estado e não tinham autonomia para, judicialmente, lutar pelos seus direitos. 

O julgamento do Marco Temporal havia sido incluído na pauta do dia 28 de outubro de 2020, sendo retirado dois dias depois e, atualmente, está sem data prevista.

 

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