Ministério da Saúde confirmou, nesta quinta-feira (09), 24 casos e cinco mortes na capital paulista
por
Juliana Bertini de Paula
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09/10/2025 - 12h

Desde o dia 18 de setembro, diversos quadros de intoxicação por metanol têm sido relatados por hospitais de diferentes estados. Nesta quinta-feira (09), o Ministério da Saúde divulgou um novo balanço, com 5 mortes e 24 casos confirmados em tratamento. Outros 235 são investigações apenas na cidade de São Paulo. Outros casos também despontaram em diversos estados do Brasil, bem como em São Bernardo do Campo e outras cidades da Grande São Paulo.

A intoxicação é provocada pela ingestão de metanol em bebidas adulteradas. Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Piauí, Espírito Santo, Goiás, Acre, Paraíba e Rondônia também investigam casos de intoxicação. Paraná e Rio Grande do Sul confirmaram ocorrências.

Entre as mortes confirmadas estão Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, Marcos Antônio Jorge Júnior, de 46 anos e Marcelo Lombardi, de 45 anos, moradores de São Paulo, além de Bruna Araújo, de 30 anos, de São Bernardo do Campo, e Daniel Antonio Francisco Ferreira, 23 anos, de Osasco.

Na capital paulista, em 30 de setembro, 7 locais foram alvo de investigação da vigilância sanitária. Em dois deles foram encontradas bebidas com metanol. Mais 11 estabelecimentos foram interditados. O bar Ministrão, na Alameda Lorena, nos Jardins, e o bar Torres, na Mooca, foram fechados temporariamente. Seis distribuidoras e um bar em São Bernardo do Campo também foram interditados.

Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
Bar Ministrão, nos Jardins. Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

O que dizem as autoridades?

Nesta segunda-feira (06), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), realizou uma coletiva de imprensa, junto com representantes das secretárias de Saúde, Segurança Pública, Justiça e Cidadania, Desenvolvimento Econômico, Fazenda e Planejamento. Além deles, estavam presentes representantes do ramo de bebidas, que auxiliaram no treinamento de agentes públicos e comerciantes para a identificação de falsificações.

Durante a entrevista, o governador contrariou as declarações do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e descartou a possibilidade de envolvimento de facções criminosas na adulteração de bebidas, sem revelar qual a hipótese que está sendo seguida pela polícia paulista. Tarcísio foi criticado por brincar com a situação dizendo que “quando falsificarem Coca-Cola, vou me preocupar”. No dia seguinte, em suas redes sociais, Freitas publicou um vídeo no qual pedia desculpas pela afirmação.

Em fevereiro deste ano, o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) divulgou que 13 bilhões de litros de bebidas adulteradas são comercializados ilegalmente todos os anos, com perdas fiscais que podem chegar a R$ 72 bilhões, sendo a segunda maior fonte de renda das facções de crime organizado, que perde apenas para combustíveis adulterados.

O Fórum destaca ainda a prática ilegal conhecida como refil, quando há reutilização de garrafas para envasamento de bebidas falsificadas. Só em 2023 foram apreendidas 1,3 milhão de garrafas do tipo. Há também anúncios online de venda de garrafas vazias com rótulos das bebidas. Além disso, em 2016, durante o governo de Michel Temer, o Sistema de Controle de Produção de Bebidas, o Sicobe, foi suspenso sob alegação de altos custos de manutenção (R$ 1,4 bilhão ao ano), o que tornou a fiscalização federal inexistente e realizada por meio de autodeclaração dos bares.

Em nota para a AGEMT, a Secretária Municipal de Saúde de São Paulo disse que “as ações da Vigilância Sanitária do município são constantes, com fiscalizações em comércios varejistas (restaurantes, bares, adegas, lanchonetes, entre outros) e distribuidores/atacadistas de bebidas, na verificação da procedência da bebida: se há nota fiscal de aquisição, lacre de segurança, integridade e legibilidade da rotulagem, se apresenta todas as informações obrigatórias (dados do fabricante/importador, lote, registro no órgão oficial), bem como a manipulação. A pasta está intensificando ações em comércios junto à vigilância estadual e à Secretaria de Segurança Pública.”

A Secretaria de Segurança Pública não se pronunciou para a AGEMT. O espaço segue aberto.

Sintomas e tratamentos

Em entrevista à AGEMT, o farmacologista e toxicologista Maurício Yonamine conta que a rapidez para o atendimento médico é o fator mais crítico para a chance de recuperação em caso de intoxicação por metanol. “O prognóstico é melhor quanto mais rápido for o diagnóstico e o início do tratamento, pois o tempo é o que permite que os subprodutos tóxicos (principalmente o ácido fórmico) se acumulem e causem danos irreversíveis.”

Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS
Maurício Yonamine, toxicologista formado pela USP. Foto: Reprodução/RevSALUS

 

Maurício conta que o principal problema do metanol é que ele deixa o sangue extremamente ácido e, após ser metabolizado pelo fígado, gera subprodutos extremamente tóxicos, principalmente o formaldeído e o ácido fórmico. “O acúmulo desses metabólitos, especialmente o ácido, interfere na função celular, ataca nervos e órgãos.”

Os sintomas de intoxicação por metanol nas primeiras horas podem ser confundidos com uma ressaca forte, náuseas, dor abdominal, tontura e dor de cabeça. Muitas vezes, os sintomas são leves, o que atrasa a procura por atendimento médico. “Os sintomas iniciais podem ser traiçoeiros”, diz Yonamine.

Depois, começam aparecer os sintomas mais fortes, resultado do ácido fórmico que tem uma afinidade particular pelas células do nervo óptico. Entre eles estão a visão turva, a fotofobia e a aparição de pontos luminosos. Além disso, o sangue ácido causa respiração acelerada, fraqueza, confusão mental e sobrecarga no coração e nos pulmões.

Se não tratado com urgência, o quadro evolui para complicações graves em até 48 horas. O ácido atinge o sistema nervoso central, podendo causar convulsões, rebaixamento de consciência, coma e arritmias cardíacas. A partir disto, os danos passam a ser sistêmicos: coração, pulmões e rins entram em colapso progressivo, consequência direta da acidose metabólica (sangue ácido) severa e da sobrecarga tóxica. É nesse momento que o risco de morte se torna elevado e, mesmo com tratamento, as chances de cura caem drasticamente. 

No sábado (05), o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, anunciou a compra de 2,6 mil antídotos para a ingestão de metanol durante uma coletiva de imprensa em Teresina. O medicamento chamado fomepizol não possui registro no Brasil e foi comprado de maneira emergencial, juntamente com a Organização Panamericana de Saúde, de um fabricante japonês, Daiichi Sankyo. 

 

 

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Ativo desde 2011, canal produzia conteúdos sobre a Universidade de forma educativa, contava com mais de 100 mil inscritos e ficou 12 dias fora do ar
por
Khauan Wood
Victória da Silva
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01/10/2025 - 12h

Perfil da TV PUC, canal Universitário da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) no YouTube foi reativado pela plataforma na tarde desta quarta-feira (01) após ter sido retirado do ar sem aviso prévio ou justificativa no último dia 19 de setembro.

A conta tem um importante e extenso acervo histórico e cultural da instituição. 

Em publicação realizada em seu Instagram oficial, a Fundação São Paulo (Fundasp), mantenedora da PUC-SP, denunciou no dia 30 de outubro que o canal havia sido simplesmente retirado da grade da plataforma repentinamente.

Ainda na publicação, a instituição informou que a empresa, que é ligada ao Google, enviou apenas um e-mail informando que a retirada seria causada por descumprimento das regras e diretrizes da plataforma, sem detalhar de que se tratava, acrescentando que as políticas de spam, práticas enganosas e golpes não teriam sido seguidas.

A Universidade abriu uma contestação dentro da plataforma, em que constava um prazo de 48 horas para o retorno. Após o prazo, uma nova mensagem enviada dizia que uma nova resposta seria dada dentro de 24 horas. Mas esses prazos não foram respeitados, o que motivou a denúncia nas redes sociais que mobilizou a comunidade acadêmica.

O time da TV PUC afirmou à Agemt que tudo começou quando um dos integrantes da equipe tentou gerar um link para uma live, mas a página não abria corretamente. Em seguida, eles receberam uma notificação de que o perfil havia sido retirado do ar.

Também em entrevista à Agemt, Julio Wainer, professor da PUC-SP e diretor da TV PUC, relata que em anos de canal, nunca receberam sequer uma advertência. O diretor contou que houve avisos pontuais sobre conteúdos com direitos autorais, que foram retirados imediatamente.

Ainda segundo ele, a equipe jurídica da Fundasp esteve em contato direto com a plataforma durante todo o período de inatividade para tentar reaver o canal. 

De acordo com a Fundasp, a TV PUC existe desde 2007, mas publica vídeos regularmente desde 2011. O canal contava com mais de 5 mil publicações e já ultrapassara o número de 100 mil inscritos.

Ao publicar novamente o canal, a plataforma enviou mensagem à TV PUC desculpando-se pelo ocorrido. Os responsáveis pelo canal ainda avaliam se todo o conteúdo e os seguidores da página foram mantidos.

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A TV PUC produz conteúdos ativamente há 14 anos. Foto: Victória da Silva

O conteúdo do canal universitário é diverso e produzido por professores e alunos. Sobre isso, o diretor da TV PUC afirma que o canal possui “de tudo um pouco”, já que conta com trabalhos institucionais de alunos e professores sobre temas variados, além de lives e programas. 

“Tudo que nós produzimos, nós colocamos lá como repositório para ir acumulando visualizações e as pessoas ficarem sabendo”, contou. O canal tem como missão promover os assuntos debatidos na universidade, mostrando o que é feito para diferentes cursos e com o que os alunos têm engajado na rotina universitária.

A TV PUC também acompanha palestras e outros acontecimentos da universidade e publica os eventos na íntegra, além de resumi-los em outros vídeos com depoimentos dos participantes. A recepção de calouros, que acontece todos os anos e recebe figuras importantes no Tucarena para a abertura do semestre, é um exemplo dos vários registros que o canal tinha antes da retirada.

Falas de personalidades históricas, professores e intelectuais foram derrubadas após a retirada do canal do ar, além de documentários relevantes e outros materiais importantes para a história da PUC-SP apagados pela plataforma ainda sem justificativa.

A TV PUC também tenta trazer os estudantes para as telas e enxergar a PUC-SP a partir do olhar deles. Para isso, as matérias sempre contam com entrevistas e conversas com os alunos que se envolvem nas diferentes atividades que ocorrem durante o ano. Os vídeos são informativos e promovem pautas científicas, culturais e políticas.

O professor do curso de jornalismo, Aldo Quiroga, destacou em um vídeo em seu perfil no Instagram que a Roda de Conversa com os vencedores do Prêmio Vladimir Herzog, em que os jornalista contam como as reportagens vencedoras foram realizadas, também é um dos exemplos dos conteúdos “sequestrados pelo Youtube”, na derrubada do canal. É a TV PUC quem faz a transmissão anual da Roda de Conversa Vladimir Herzog e do Prêmio que também leva o nome do jornalista morto pela ditadura militar.

No vídeo, Quiroga também ressalta a influência das Big Techs sobre o Congresso Nacional para impedir a regulamentação dessas empresas pela sociedade civil, que se encontra refém de decisões como essa.

Em nota enviada à Agemt, o Google afirmou que está apurando o motivo do encerramento do canal e que retornaria em breve. O espaço segue aberto.

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Embora sem data definida, a bandeira chinesa estará no mercado ainda esse ano
por
Lucca Cantarim dos Santos
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03/10/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Os cartões da bandeira de pagamentos chinesa UnionPay chegam ao Brasil em 2025. Detendo cerca de 40% do mercado global em transações com cartões, o que é mais do que as norte-americanas Mastercard e Visa juntas, a empresa oferece uma alternativa para os Brasileiros. Segundo o financista José Kobori, a iniciativa representa uma oportunidade de “descolonizar” o mercado financeiro, justamente por diversificar o setor no País, essa discussão ganha mais potência com as recentes taxações e tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, essa tensão levantou questionamentos sobre o grau de dependência do mercado financeiro brasileiro nos estadunidenses.

Kobori, o responsável pela vinda desta forma de pagamento tem uma história que se relaciona diretamente com sua movimentação atual. O economista era conhecido por ter uma visão neoliberal de mercado, principalmente, diz ele, por estar inserido nesse setor. Em entrevista ao podcast "Market Makers", o financista conta os motivos que o fizeram mudar completamente sua visão de mercado, e por consequência, abandonar o neoliberalismo. 

O economista alega que sempre gostou de se informar e procurar pensadores com opiniões diferentes das que ele tinha, e como naquele momento era possível dedicar mais tempo a isso, ele começou a ler cada vez mais autores diversos, como autores Keynesianos.

No entanto, o maior ponto de ruptura do financista com o neoliberalismo, foi o momento em que ele começou a sair na rua e perceber com olhos mais atentos a desigualdade. Ele conta aos entrevistadores a história do dia em que saiu para almoçar, e de dentro do carro, viu um jovem comendo lixo na rua, essa experiência o levou às lágrimas, e fez com que Kobori começasse a se questionar de como era possível existir um sistema que funcionasse tão bem para ele, mas não para as outras pessoas.

Diferencial da UnionPay

Um dos diferenciais da UnionPay, é o fato de seus cartões operarem fora do sistema “SWIFT”, sigla para “Society for Worldwide Interbank Financial Telecommunication”, ou Sociedade para Telecomunicações Financeiras Interbancárias Mundiais, em português.

O SWIFT é um sistema de transações internacionais que permitem o envio de dinheiro de um país para outro, em síntese, cada banco tem um código em seu respectivo país. O problema é, que por ser gerenciado majoritariamente pelos Estados Unidos, em caso de sanções ou remoção de um banco do sistema, vários brasileiros seriam afetados.

E é justamente por operar fora do SWIFT, que a UnionPay dá à população brasileira mais opções para transferências internacionais, permitindo que sejam feitas e recebidas mesmo que em um possível cenário de sanções ou tensões geopolíticas, como afirma Cristina Helena, professora de economia na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP). Ou seja, em um cenário onde os conflitos com Trump se agravem e o Brasil acabe sancionado, usuários do cartão Union Pay não seriam afetados, e poderiam continuar recebendo e enviando dinheiro livremente para outros países.

Outro diferencial que chama a atenção, e pode ser crucial para a competitividade da bandeira no mercado é a possibilidade de redistribuição de receita, segundo informações da Contec, será possível reverter parte das taxas cobradas nas transações para causas sociais escolhidas pelo usuário. Taxas essas, que no caso de cartões de crédito de bandeiras norte-americanas, como American Express; Visa e Mastercard são taxas de câmbio, que vão diretamente para os Estados Unidos.

Os Desafios

O maior desafio enfrentado pela empresa é a aceitação ampla, segundo Cristina, além da compatibilidade com as fintechs e bancos digitais e de lojistas habilitarem essa forma de pagamento, a ideia de um cartão chinês no país ainda levanta muita suspeita e desconfiança entre os brasileiros, embora a China seja um dos maiores parceiros comerciais do Brasil na atualidade, levando em consideração sua presença no BRICS.

No entanto, as operações da UnionPay serão supervisionadas pelo Banco Central, segundo confirmado pelo Ibrachina, a bandeira deverá cumprir normas de operação, submeter-se à fiscalização do BC e precisará de autorização regulatória, assim como toda e qualquer bandeira em operação dentro do território nacional.

Outro ponto a se levar em consideração, é se a entrada de um sistema novo no mercado de crédito, principalmente em meio à tensões e conflitos geopolíticos com os Estados Unidos, não poderia significar uma troca de monopólio. A professora Cristina acredita que não, devido à robustez do sistema financeiro brasileiro, mas também alerta que caso essa integração não seja diversificada e balanceada, o Brasil corre o risco de se manter dependente de uma potência estrangeira.

Os cartões não têm data definida para serem completamente integrados no mercado financeiro brasileiro, embora esteja confirmada para chegar ainda em 2025. Mas já são aceitos em grandes centros turísticos, como Salvador, Rio e São Paulo através de terminais parceiros (Rede e Stone), além disso, como comparação, a bandeira tem alta taxa de aceitação nos Estados Unidos, somando 80% dos estabelecimentos e 90% dos caixas eletrônicos brasileiros.

 

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Estúdios acusam a plataforma de IA de violar direitos autorais ao permitir a criação de imagens com personagens protegidos.
por
Lucca Andreoli
Henrique Baptista
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17/06/2025 - 12h
Logo da Midjourney
Logo do serviço de IA Midjourney. Reprodução

A Walt Disney Company e a Universal Corporation, dois dos maiores estúdios de Hollywood, abriram no dia 11 de junho um processo conjunto contra o Midjourney — um serviço de inteligência artificial criado e desenvolvido pelo laboratório de pesquisa independente, Midjourney, Inc. —  na U.S. District Court for the Central District of California. O serviço de inteligência artificial está sendo acusado de utilizar propriedade intelectual dos estúdios sem autorização.

Segundo a ação, o Midjourney usou de forma “intencional e calculada” obras protegidas — como personagens de Star Wars (Darth Vader, Yoda), Frozen (Elsa), The Simpsons, Marvel (Homem-Aranha, Homem de Ferro), Minions, Shrek e O Poderoso Chefinho — para treinar seus modelos e permitir a geração de imagens derivadas altamente similares.

 

Disney e Universal afirmam que já haviam solicitado que a plataforma bloqueasse ou filtrasse esse tipo de conteúdo, mas não foram atendidas. Para a vice-presidente jurídica da NBCUniversal, Kim Harris, “roubo é roubo, independentemente da tecnologia usada”.

A petição descreve o Midjourney como um “poço sem fundo de plágio”. Estima-se que a plataforma tenha gerado cerca de 300 milhões de dólares em receita em 2024, contando com mais de 21 milhões de usuários.

Os estúdios pedem uma liminar para impedir novas infrações e uma compensação financeira — que pode ultrapassar os 20 milhões de dólares. Horacio Gutierrez, diretor jurídico da Disney, declarou: “Pirataria é pirataria — o fato de ser feita por uma IA não a torna menos ilegal”.
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Além disso, a ação se insere em um cenário crescente de disputas semelhantes — como os casos envolvendo a Stability AI, a OpenAI e o New York Times. Também aponta para a criação de um serviço de vídeo de IA que em breve poderá criar clipes animados com materiais não autorizados, ampliando ainda mais os riscos à propriedade intelectual e ao controle de suas criações. O processo reforça a pressão por regulamentações mais claras que protejam a criatividade humana frente ao avanço da IA.

A preocupação no meio artístico a respeito das inteligências artificiais é um tema crescente que já gerou polêmicas anteriormente, como a questão das fotos “estilo estúdio Ghibli” no início deste ano. 

O processo representa um marco legal na relação entre Hollywood e a inteligência artificial. É o primeiro grande embate judicial do tipo envolvendo empresas de entretenimento, e pode abrir precedente para que outras companhias exijam licenciamento prévio ou filtros automáticos em ferramentas de geração de imagens.

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

Desigualdade social afeta a educação de estudantes de acordo com o tipo de instituição que frequentam
por
João Victor Rubio Tiusso, Juliana de Mello Carrara e Marcelo Ferreira Victorio
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14/06/2021 - 12h

Com o agravamento da pandemia e o caos do ensino remoto, ampliou-se a diferença entre o ensino público e privado. É evidente a existência de um contraste entre qualidade de ensino, infraestrutura, métodos, organização das aulas e a cobrança de rendimento dos alunos de acordo com o tipo de instituição observada. 

As instituições privadas investiram no uso de plataformas de aula online, enquanto as públicas se viram obrigadas a paralisar suas atividades por falta de verba. De acordo com o professor de português da rede pública e particular, Murillo Marques, “o acesso às aulas online, está com uma defasagem enorme, pois os alunos não estão absorvendo o conteúdo". Segundo ele,  mesmo assim as instituições estão cobrando mais trabalhos e provas: "Os locais de estudo em suas casas não são apropriados, não é silencioso e é cheio de distrações.” 

A desigualdade social sempre marcou estudantes brasileiros e se agravou no ensino remoto no período da pandemia da Covid-19. As aulas em EaD exigindo a disponibilidade de diversos equipamentos eletrônicos, geralmente muito caros e, portanto, inacessíveis para a maior parte da população, e conexão com a internet. Porém, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 4,3 milhões de alunos não possuem acesso à internet, por isso são privados de acompanhar as aulas online, aumentando a disparidade entre os estudantes de classe média e os de classes menos favorecidas. 

Há uma diferença entre os alunos das duas instituições: “O estudante da rede pública, muitas vezes está preocupado com o que irá comer no dia, tem que conciliar trabalho e o estudo. Muitos não veem uma boa perspectiva de um futuro melhor, abandonando assim, os estudos.” afirma Murillo. “Já o aluno do particular, entra na escola com seu caminho trilhado: passar na universidade. Há exceções, claro, mas a grande parte já entra em um ritmo que pode ser cobrado firmemente em relação ao conteúdo.”  

            A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo liberou em 2021, a quantia de 28 milhões de reais do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF) para o financiamento das atividades educacionais, reformas e a compra de artigos de higiene para o combate a Covid-19. Em entrevista, Solange Silva Jacinto, professora de artes da rede pública afirma que “está na hora de os governantes entenderem que as crianças não são o apenas o futuro, elas também são o presente, assim as políticas públicas precisam ser investidas na educação, para a construção de uma sociedade melhor.”

Apesar de haver muitos profissionais competentes na área, a falta de incentivo e de infraestrutura de qualidade no ensino público fizeram com que boa parte dos setores da sociedade brasileira vissem os professores e coordenadores a partir de uma ótica negativa. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Índice Global de Status de Professores, o Brasil é a nação onde profissionais da educação possuem menos prestígio, mesmo trabalhando em uma média de 48 horas semanais, enquanto nos demais países a média geral é de 39 horas.  Uma pesquisa feita pelo IBGE diz que 48% dos professores não recomendam a profissão para outras pessoas, sendo os principais motivos a baixa remuneração e a não valorização da profissão.

Essa desvalorização faz com que os professores se sintam desmotivados e desacreditados com a própria carreira. Consequentemente, cada vez menos funcionários entram para a rede pública, que por sua vez acabou se tornando desatualizada e sucateada, com os alunos vendo pouca utilidade prática na educação. Solange conta que “a falta de investimento do Estado gera uma grande desmotivação entre os alunos, pois eles não têm uma perspectiva de um futuro melhor, não sabem o porquê de estarem estudando, e se aquilo não vai ser um diferencial na vida deles.”

A falta de democratização do ensino também afeta no ingresso dos estudantes na vida universitária, como mostra uma pesquisa feita com 97 estudantes da PUC-SP dos cursos de Direito, Jornalismo e Publicidade: 51% das pessoas são vindas do ensino privado, com a renda maior que R$ 5.500  (equivalente a 5 salários mínimos); enquanto 21%, são provenientes do ensino público, com renda média de 2200 reais (2 salários mínimos) e ingressaram na faculdade através de programas de bolsas governamentais como o ProUni e Fies.

      A democratização do ensino está ocorrendo por meio dos clubes de leituras nas lajes de comunidades, da infinidade de professores voluntários presentes diariamente nas mídias sociais e na distribuição gratuita de material escolar e livros didáticos. A democratização do ensino depende de uma experiência sistemática que possa ajudar os alunos a se expressarem bem, a se comunicar de diversas formas, a desenvolverem o gosto pelo estudo, a dominarem o saber escolar, ajudá-los na formação de sua personalidade social, na sua organização enquanto coletividade. Isto é, a democratização do ensino depende de um projeto de escola democrática.

 

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Jornalista no ramo literário, Gabriela Mayer participa de entrevista coletiva com os alunos da PUC-SP e fala sobre seu projeto “Põe na Estante”, um clube do livro no formato de podcast
por
Giulia Palumbo
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01/06/2021 - 12h

Gabriela Mayer é apresentadora e repórter especial da BandNews FM; Apresentadora do podcast Elas com Elas; Sócia-fundadora da Rádio Guarda-Chuva e apresentadora do podcast literário Põe na Estante. No mês de maio, ela concedeu entrevista para estudantes de jornalismo da PUC-SP, na qual falou sobre sua carreira e também de sua produção independente do Põe na Estante. 

Intermediada pelo professor e apresentador da TV Cultura Aldo Quiroga, a entrevista tinha uma proposta simples em que cada aluno participante teria a oportunidade de fazer uma pergunta. No geral, o “bate-papo” foi muito límpido.  A jornalista é uma leitora sagaz, como ela própria se intitula e acredita que o poder da literatura é  transformador. 

O que te motivou a estudar jornalismo?

Bom, o jornalismo não foi minha primeira opção de curso. Eu estava entre direito e jornalismo, mas na hora de preencher minha ficha no vestibular, acabei escolhendo  ele. Mas, no meio do curso encontrei muito sentido no jornalismo em cada aspecto da minha vida e hoje entendo que não foi apenas uma escolha para preencher uma ficha. Eu vejo um poder transformador no jornalismo, ainda que isso seja um pouco idealista, eu o vejo como um pilar muito importante na democracia. 

Como é feita a produção do Põe na Estante?

Ele é dividido em temporadas temáticas e eu planejo com antecedência para o entrevistado ter o seu tempo de leitura e análise da obra. Elas também variam pois em algumas eu escolho os livros ora o entrevistado, mas sempre com alguns critérios pois é muito difícil fazer essa escolha, juro! Mas elas também seguem algumas lógicas com questões atuais e também conversando entre si. 

Você acha que falta a inclusão do jornalismo literário dentro da grade jornalística uma vez  que, não temos muitas opções de veículos que abordam esse estilo?

Falta dinheiro,rs. Não é toda redação que consegue manter um repórter trabalhando na mesma história por meses, o que é um mega privilégio,- se dedicar todo esse tempo para uma única apuração -. Eu nunca vivi isso. Faço muitas coisas ao mesmo tempo e não consigo nem imaginar o que é você ter tempo para se dedicar a uma apuração. Se eu tivesse, acho que ficaria até confusa. Mas em geral, tem demanda, o que não tem é verba.

Qual sua opinião sobre a possível tributação dos livros?

Eu acho um assinte. Os livros são isentos no Brasil por uma proposta do Jorge Amado, que era deputado na época, numa tentativa de estímulo à leitura pois o brasil é um país que lê muito pouco  e quando você pára e analisa o que as pessoas estão lendo, é perceptível o espaço restrito que a literatura tem no Brasil. Então, taxar os livros sob o argumento de que só os ricos lêem e por isso é razoável taxá-los, é um descalabro completo. Até porque, se formos taxar tudo aquilo que só os ricos possuem acesso, podemos taxar grandes fortunas, o que com certeza será mais eficiente. Os livros são muito potentes. Uma sociedade leitora por completo, consegue entender as entrelinhas, ter uma amplitude de mundo, conhecer outros mundos, contar histórias,  ser dono de suas próprias palavras…

Em sua opinião, que papel a cultura desenvolve em nossa sociedade?

Bom, a importância da cultura é a importância da sobrevivência. Cultura é o que nos faz humanos. No que a gente está vivendo neste momento de pandemia, se não tivéssemos a cultura estaríamos completamente enlouquecidos. Além disso, a cultura tem o papel de nos conectar, por vários motivos, pois a cultura seja ela no livro ou não, ela conta uma história. A arte é aquilo que colocamos para fora e isso é uma forma de comunicação. No fundo, eu acredito que é pela comunicação que a gente vive pois ela permite nossas interações. Ou seja, é algo tão potente que eu me conecto com você sem ao menos te conhecer. 

Qual foi a matéria mais importante de sua vida?

Brumadinho! Essa foi a cobertura mais importante que já fiz em minha vida. Foi importante tanto para minha vida pessoal quanto para minha carreira. Por mais que eu não publique, continuo acompanhando o caso. Não foi uma matéria tranquila e relembrar também não é. Eu cabei tendo um envolvimento emocional muito grande na cobertura de Brumadinho. Quando isso acontece, há um desafio extra. Eu não acredito em um jornalismo frio e distante, mas a carga de emoção pode nublar sua capacidade de narrar a história, dessa forma, acaba sendo mais difícil trabalhar. 

Sua carreira começou na televisão e depois migrou para a rádio. Existe algo que você sente falta?

Olha, quando eu fui fazer rádio, eu ouvia muito das pessoas que rádio é apaixonante. Hoje, eu sou uma dessas pessoas. O rádio tem potência, agilidade e proximidade, que são encantadoras. Por outro lado, eu sempre fui muito apegada à imagem. Sou uma pessoa muito visual. A construção de histórias com imagens sempre fizeram muito sentido pra mim. Talvez seja isso o que mais sinto falta da televisão como plataforma.

Até agora, qual foi seu maior desafio nas rádios?

A linguagem da televisão é totalmente diferente da rádio e essa foi minha principal dificuldade. Porque é outro jeito de contar histórias, então eu tive que aprender a descrever muito bem, uma vez que não usamos imagens. Além disso, a apresentação na rádio é mais freestyle, diferente da  televisão, que é algo mais roteirizado. Ou seja, você precisa ter uma  capacidade de improviso, o que eu não tinha quando comecei. Inclusive, chorava todos os dias quando cheguei porque pensei que não ia conseguir,  mas hoje deu certo. 

E como foi sua volta à televisão, continuando na rádio? 

Foi excelente. Voltei muito melhor por ter adquirido os hábitos da rádio como o improviso. E lógico, aprendi muito com os meus colegas.  

Como você lida com sua exposição, uma vez que está em posição de destaque?

Eu lido mal. Sou muito suscetível aos comentários. tem gente que consegue não se importar, mas eu não consigo.  Uma vez na Tv Cultura um telespectador disse que eu não deveria apresentar o jornal e muito menos ficar de pé pois o meu corpo não era adequado para ser apresentadora de televisão. Isso me deixou arrasada porque eu  tenho uma relação muito difícil com o meu corpo.  Era um comentário sobre isso, mas me abalou. Meus colegas homens, não recebem críticas sobre seus corpos, apenas sobre o conteúdo, já os meus, estão sempre atrelados ao fato de eu ser mulher.

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Bichinhos trazem carinho e diminuem a solidão no isolamento
por
Iris Martins Oliveira de Freitas
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01/06/2021 - 12h

Em período de isolamento social, a procura por um pet se tornou significativa. Para suprir a solidão e animar a monótona vida em uma pandemia, muitos optaram por adotar um animalzinho. Confira a matéria clicando AQUI. (se preferir, habilite as legendas clicando na própria opção do YouTube).

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“O que me incomoda mais é ser reduzida à imagem” diz a jornalista
por
Paula Moraes
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26/05/2021 - 12h

A jornalista e radialista Gabriela Mayer (33), expressa que mesmo com tantos anos de exposição pela mídia, ainda tem dificuldade em lidar com os comentários negativos dos telespectadores. 

Ao longo de sua carreira na televisão, onde trabalhou na TV Gazeta, na Record News e na TV Cultura, Mayer via a diferença de comentários do público sobre ela e os apresentadores homens. Ela percebia que, para ela, os comentários eram mais direcionados à sua aparência do que a sua postura como apresentadora, enquanto para os seus colegas homens os comentários vinham, em sua maioria, sobre sua postura como apresentadores.

A partir de 2017, passou a trabalhar como radialista na BandNews FM. Mesmo sem ser vista, os comentários enviados por aplicativos de mensagem pelos ouvintes são diferentes dos que seus colegas homens recebem. É comum colocarem em dúvida as informações apresentadas por ela, mesmo quando cita fontes seguras de informação.

Para Mayer é muito difícil toda essa exposição e diferença de tratamento, ela sente que para o publico é mais fácil, por ela ser mulher, criticá-la com comentários relacionados ao corpo do que criticas ao seu trabalho, e que o mesmo nunca vai ser replicado com seus colegas homens. 

A jornalista confessa que lida mal com os comentários que recebe em relação ao seu corpo, visto que é muito insegura. Mesmo assim,  ela mantém o hábito de responder comentários que mandam tanto no número da rádio como em seu Instagram, mas reconhece que essa prática não lhe faz bem.

Também tem dificuldade de perceber a linha tênue entre um elogio ao seu trabalho e um flerte. “O que me incomoda mais é ser reduzida à imagem, eu acho legal que me considerem bonita, mas eu não estou em algum lugar por causa disso”.

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A curtos passos, a discussão trazida pela campanha “Save Ralph” começa a mostrar sua eficácia
por
Ana Carolina Cesar Sousa, Livia Veiga Andrade, Mikael Resende, Thais Mollo Leoni, Victória Toral de Oliveira
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24/09/2021 - 12h
Salve o Ralph / Humane Society International
                      Figura 1: Salve o Ralph / Humane Society International

 

Em 2 de setembro, o México se tornou o primeiro país da América do Norte e o 41º país do mundo a proibir a fabricação, venda e importação de produtos testados em animais. Iniciado em 2019, pelo senador Ricardo Monreal Ávila, o texto teve apoio unânime dos 103 senadores, da organização Humane Society International do México e da organização não governamental, Te Protejo.

No Brasil o cenário é diferente, os testes em animais foram banidos em apenas oito estados, sendo eles Rio de Janeiro, Minas Gerais, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Paraná, Pernambuco, Amazonas e Pará. E, no final do mês de abril, a produção em vídeo da campanha “Save Ralph”, focada em dezesseis países prioritários, realizada pela Instituição Humane Society International (HSI), viralizou nas redes sociais. O curta-metragem traz como enredo a “rotina” de um coelho cobaia, na voz do ator Rodrigo Santoro, cego de um olho e com um zumbido em uma das orelhas. Ele  chama atenção pelo diálogo que desenvolve e tem como objetivo conscientizar as pessoas sobre a crueldade dos testes realizados em animais.

Com isso, o Instituto busca o apoio de Senadores para alterar a Lei nº 11.794/08, vedando a participação de animais de qualquer espécie em atividades voltadas à produção e desenvolvimento de produtos cosméticos, de higiene pessoal e perfumes.

O Brasil é o quarto país com o maior mercado de cosméticos do mundo, com 2.794 empresas registradas na Anvisa em 2018. 47,8% eram controlados por apenas cinco representantes: Natura & Co, Boticário, grupo Unilever, grupo L’Oreal e Colgate-Palmolive. Donas de muitas outras subsidiárias, estas grandes empresas espelham a forma como diversas outras marcas farão seu marketing e venderão seus produtos. Provocar mudanças neste vasto mercado que perpetua regras e uma já estabelecida clientela fiel, não é simples.

A viralização do curta trouxe à tona a discussão da real necessidade dos testes em produtos cosméticos. Fabiana de Castro, revendedora de produtos corporais veganos da Avatim, traz a reflexão sobre a necessidade de estudar e conhecer a produção e os testes, e ressalta “é triste sacrificar tantas vidas para um produto, que muitas vezes nem é tão útil assim.” 

Figura 1: Divulgação Humane Society Internacional
Figura 2: Divulgação Humane Society Internacional

Dentre os diversos testes existentes há o Draize, criado em 1944. A modalidade de testes de irritação ocular consiste em medir a toxicidade aguda de substâncias, mantendo os animais conscientes, sem remédios para diminuir a dor e imóveis em uma estrutura. A substância a ser testada é introduzida na pálpebra inferior de um dos olhos do animal, causando uma forte queimação, irritação e dor. Em alguns casos essa aplicação acontece diversas vezes, com os animais sendo monitorados diariamente durante uma a três semanas para verificar o nível de irritação. Outra modalidade do teste é a exposição direta da pele do coelho. Para isso, todos os seus pelos são removidos com fita adesiva, o que retira também algumas camadas da pele, provocando dor, bolhas e sangramentos.

Em observações dos testes Draize descobriram que a chance de uma substância potencialmente perigosa passar no teste como segura, é praticamente nula – no máximo, 0,01%. Já a possibilidade das substâncias irritantes/suaves serem seguras fica entre 3,7% e 5,5%. Estas são etapas que podem ser evitadas, como afirma Camilla Guimarães, engenheira química e idealizadora da Gaia Cosméticos. Ela diz que não é mais caro produzir sem passar pelo processo da crueldade, os custos são os mesmos em todas as indústrias. 

Grandes empresas já abandonaram os testes com animais. A Boticário, por exemplo, abandonou a prática em 2000 e luta para que os concorrentes façam o mesmo. Apesar disso, ainda não se tornou completamente vegana, tendo em 2019 apenas 30% de sua linha sem substâncias de origem animal. Na opinião da Fabiana, por mais que haja uma preocupação com a produção cruelty free dentro da Boticário, empresa na qual já trabalhou, sente que ainda há uma diferença entre empresas nacionais e os pequenos negócios.

Já a Natura não realiza mais os testes desde 2006 e afirma que 83% de todos os seus produtos são veganos. Em seu site a marca informa que “para garantir a eficácia e a segurança dos produtos, investe constantemente em ciência, inovação, tecnologia e métodos alternativos.” Mas há a necessidade de se tomar cuidado com essas declarações, pois empresas de grande porte costumam utilizar-se da terceirização. As contratadas nem sempre seguem as mesmas diretrizes.

A terceirização dos serviços facilita  a produção de artigos de beleza e higiene pessoal, além de reduzir custos com matéria prima e mão de obra. A empresa contratada é responsável pelo registro e desenvolvimento do produto, ajustes de formulação, lote, teste de qualidade, distribuição e outros. A partir disso, o contratante pode escolher os ingredientes, as embalagens e o lote mínimo. Isso possibilita a criação de diversas fórmulas e o lançamento de uma marca no mercado sem a necessidade de montar uma fábrica. Em certos casos, como apontado pelo  People for the Ethical Treatment of Animals (PETA), pode acontecer de a mesma empresa ter suas divisões com marcas que testam e não testam em animais.

Para quem adere ao cuidado e a proteção dos animais, existem mais opções além dos produtos Cruelty free. Também há os veganos e os naturais, que são muito parecidos. Produtos veganos, além de não utilizarem testes em animais durante a formulação, também não utilizam nenhum derivado animal em sua composição. Já os naturais utilizam plantas, grãos, extratos, tudo que vem da terra, mas nem sempre excluirão os testes em animais de sua agenda. Marcas que produzem esses tipos de produtos se preocupam e preservam o meio ambiente. Os produtos que são cruelty free, mas, que possuem derivados animais, acabam sendo comuns e não tão criticados, por não fazerem uma apologia ao sofrimento animal, apenas usufruem de seus derivados, como leite, por exemplo. Assim, optar pelos produtos veganos é apenas uma questão de escolha, sendo de impacto optar por marcas cruelty free, não perpetuando os testes que são cruéis, pouco eficazes e, em sua maioria, desnecessários.

A necessidade dos testes em animais, ainda, indica que as substâncias que serão usadas são muito fortes, envolvendo álcool e ácidos, que podem chegar a queimar a pele, como aponta de Castro, revendedora da Avatim, “utilizar ingredientes do dia-a-dia é uma das melhores opções, grãos, sementes, folhas não agridem a pele ou o cabelo da mesma forma que estes cosméticos fortíssimos produzidos pelas grandes indústrias”.

Porém, o fim dos testes não é uma verdade, não é possível simplesmente vender produtos com a possibilidade de reações nas pessoas, isso poderia causar doenças e mortes. Mas há opções de substituição dos animais, por peles 3D, projeto desenvolvido pelo grupo Boticário para substituir os testes de seus cosméticos nos animais.

É uma tecnologia inovadora que promete reproduzir fielmente a pele humana para a testagem dos produtos prontos e até mesmo dos ingredientes. É um método reconhecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (Concea). É possível criá-la a partir do material descartado de cirurgias plásticas, com o consentimento do paciente, essas partes retiradas são levadas para o laboratório e lá passa pelo processo de criação de todas as camadas necessárias. Para complementar os testes, uma tecnologia conhecida como Organs-on-Chips (Órgãos-em-chip) simula diversos órgãos. O chip responde de forma similar ao organismo quando em contato com as substâncias. Agindo em conjunto com a pele 3D, eles identificam, com mais eficácia, reações alérgicas decorrentes dos produtos testados.

Há também outra possibilidade apresentada por Guimarães, da Gaia Cosméticos, a testagem em humanos voluntários, em clínicas especializadas onde é possível que os cosméticos passem pelo mesmo processo de testagem, dentro das normas internacionais e seguindo as regras do Ministério da Saúde. O custo não é muito maior do que os testes em animais e dependendo da complexidade dos cosméticos, é possível ter respostas ainda mais rápidas e eficazes, além de entender de forma ainda mais prática como as reações acontecem em diversos tipos de peles. 

A existência de testagens alternativas não significa o fim dessa prática. É preciso também anular as leis que permitem a testagem em animais e principalmente as que exigem esses testes, como é o caso da China, possuidora de um grande mercado consumidor. Para isso, é preciso ter o interesse do público em deixar de utilizar essas marcas, pondo fim no argumento de que os produtos naturais e cruelty free são sempre mais caros, uma verdade que já foi desmentida. É possível buscar informações em sites como da ONG Te Projeto ou Projeto Esperança Animal (PEA) para encontrar as marcas que seguem diretrizes cruelty free e veganas.

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