Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

"Meu filho se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia, e sim, um estúdio onde faria música", diz mãe de ex-aluno do Alma de Batera
por
Vitória Nunes de Jesus
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22/11/2024 - 12h

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), 1 em cada 700 pessoas no Brasil nascem com Síndrome de Down. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 2 milhões de brasileiros tenham autismo, o que equivale a 1% da população brasileira. No Brasil, estima-se que surjam pelo menos 30 mil novos casos de paralisia cerebral por ano. 

Para ajudar no processo de inclusão dessas pessoas, Paul Lafontaine criou o Instituto Alma de Batera em 2008, com o propósito de ensinar bateria para pessoas com deficiência. Os alunos acolhidos vão desde crianças até adultos.

Segundo Paul, a ideia de formar o Alma de Batera surgiu após trabalhos voluntários. “Depois de alguns trabalhos voluntários em instituições para pessoas com deficiência, eu fiquei com vontade de trabalhar na área. Decidi fazer faculdade de pedagogia e imaginava que fosse trabalhar em algum setor de alguma instituição para esse público. Mas nenhuma instituição me respondia aos e-mails que enviava para ser estagiário, e então, meu professor me ligou e me indicou para dar aulas de bateria para quatro alunos, todos eles com alguma deficiência. Foi aí que surgiu a ideia de montar minha própria instituição”.

“Escolas de música especificamente para esse público, eu não conheço e nunca soube algo voltado só para PCDs”, diz o fundador do Instituto, mesmo com tantas pessoas que podem desfrutar de projetos como este.

Raquel Chicarelli, mãe do Gian, 13, que tem paralisia cerebral, ex-aluno do Instituto, conta um pouco da experiência que tiveram no Alma de Batera. “Gian gostou muito, aprendeu a segurar a baqueta e assim a melhora na motricidade, sempre quis ir às aulas, mas por conta da rotina de terapias ficava cansado”.

Paul diz que se sente realizado em seu trabalho. “Sensação de dever cumprido. Independentemente se os alunos têm alguma deficiência ou não, para um professor é ótimo saber e ver que o trabalho feito gera um impacto positivo na vida de cada um deles”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

A mãe do Gian diz que o Instituto é um lugar que seu filho gostava e é o espaço ideal para PCDs aprenderem bateria. “Se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia e sim, um estúdio onde faria música com um instrumento possível para ele e sempre recebidos com carinho e alegria. Com certeza deve ser ampliado para se multiplicar pelo país”.

Paul conta as dificuldades enfrentadas na sua profissão, mas que não anulam as alegrias. “No processo de aprendizagem, a conexão entre o professor e o aluno é a parte mais difícil e primordial para trazer algum resultado prático. Sem criar conexão, não gera empatia entre ambas as partes, e assim, o conteúdo se torna irrelevante”.

Raquel conta as principais dificuldades que seu filho Gian tem para aprender e diz que a bateria é algo divertido para ele. “Gian por conta da paralisia cerebral tem muita dificuldade em manter a atenção e isso faz qualquer aprendizado ficar mais difícil, não só a bateria, mas por ser instrumento e ele gostar, tornou-se algo prazeroso para ele”.

“Todos os alunos, de alguma forma, nos mostram algum retorno positivo, seja na felicidade de querer tocar, ou na melhoria na hora da execução do instrumento, que traz uma satisfação enorme e um sentimento de pertencimento”, diz o fundador do Instituto sobre a alegria de observar a devolutiva dos alunos.

Raquel conta um pouco sobre seu filho e sua rotina. Fala sobre a falta de inclusão e diz que o convívio com as pessoas o ajuda. “Gian nasceu prematuro, teve muitas intercorrências que causaram a paralisia cerebral, afetando o cognitivo, fala e mobilidade. Cada dia é um ganho, a evolução vem dos esforços contínuos nas terapias, estimular sempre na escola, convívio com a sociedade que melhorou, mas ainda falta mais inclusão, acessibilidade.
E, persistir a evoluir nesses campos, manter os desafios diários para que ele seja o mais independente possível, proporcionando tudo que estiver ao nosso alcance”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Por fim, Paul conta uma situação, no início do projeto, que o marcou. “Bem no começo, quando ainda nem tínhamos um espaço próprio, eu alugava um estúdio e estava atendendo apenas 1 aluno na época. Era um aluno com Síndrome de Down. E eu, pensativo antes da aula começar, com a cabeça longe e acreditando que esse trabalho não iria para frente, bem desanimado, recebi esse único aluno. Não sei se ele percebeu que eu estava meio triste e desanimado, mas ele veio, me deu um abraço e me disse uma frase que nunca esqueci: “Paul, você é o melhor professor do mundo!”. Aquela frase dele me fez continuar e acreditar que, enquanto eu estiver fazendo a diferença na vida de um aluno, eu iria continuar com as aulas. Hoje temos cerca de 40 alunos, todos com alguma deficiência”.

Diante desses apontamentos, é possível concluir o quão bem faz o trabalho do Instituto Alma de Batera, e não só para os alunos, mas também para os envolvidos no projeto, pais e professores. Deveriam existir mais institutos como este, pensados em PCDs e na inclusão.

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Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Na rotina do Instituto para Cegos cada som, toque e aroma ganham vida como conexões sensoriais
por
Sophia Dolores
Mariana Melo Castilho
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20/11/2023 - 12h

Ser capaz de reconhecer o som de cada carro estacionando e já esperar a visita no portão de braços abertos. O Seu Chizu e o Zé Carlos fazem isso diariamente. O Tunico e o Mathias sabem qual é, exatamente, sem errar nenhum ingrediente, o almoço que será servido no dia, antes mesmo de ser servido. A Ana e o Olavo acertam o nome da pessoa para quem dá a mão sem antes vê-la. Esses são os seis moradores do Instituto para Cegos Santa Luzia.

Instituto
Seu Zé Carlos (Foto: Mariana Melo Castilho)

Eles acordam entre 6h30min e 7h00min da manhã, tomam um café coado com bolinho de fubá, e partem para ginástica, localizada no pátio central, que fica entre a “casa dos quartos” e a “casa geral". Durante a prática da atividade física, cada um obedece seu próprio ritmo, com uma música de fundo e muita animação, a professora Dayane, fala o nome de cada exercício e descreve como executar, apesar de todos já conhecerem de cabo a rabo a sequência passada todas as segundas, quartas e sextas.

Após a prática dentro dos muros, chega a hora de caminhar pelas ruas da cidade de Araçatuba. Tonico diz que não vai sair "nesse sol". Ele afirma que está cego mas não está doido. O restante segue rumo à Avenida Pompeu de Toledo. Ao longo do trajeto, as mãos esquerdas vão apoiadas na parede, guiados pela voz da instrutora e por seus conhecimentos da área, prestam atenção a cada som, e percebendo cada desnível da calçada, o silêncio só é interrompido pela falação eterna do Zé Carlos, sempre com alguma piada pronta ou comentário pensado.

Voltando para a habitação é chegado o momento do almoço. A essa hora, todos já conseguiram sentir o cheiro do que foi preparado e sabem o menu, cada um pega seu prato de plástico para serem servidos pela Patrícia, cozinheira do Instituto. As mesas de madeira são compridas com espaço para todos sentarem juntos.

Instituto
Seu Chizu (Foto: Mariana Melo Castilho)

Um por um eles se levam e seguem para o quarto, saindo da “casa geral”, a qual abriga a cozinha, o refeitório, a sala de visitas e uma segunda sala para a parte administrativa, com computador e telefone, passam pelo pátio e vão a caminho da “casa dos quartos”, com oito quartos individuais. Para a organização do tráfego, a direita é ida e a esquerda é a volta, assim evitam acidentes de colisão na via de duas mão que é o longo e largo corredor no centro da morada.

            O descanso sagrado tem fim quando a professora de braille aparece para a aula. Como rotina, todas as terça e quintas-feiras, acontecem as classes pela parte da tarde, algumas vezes, outros deficientes visuais vão ao a entidade aprender também. Os que fazem as leituras com maestria utilizam o tempo para ajudar os outros e conhecer novos livros e histórias.

Terminando a lição, depois de um dia todo juntos, Seu Chizu conta do seu tempo como ajudante de seus pais na feira, como ia para chacará ajudar seu pai a colher o que seria vendido no dia seguinte e como não teve a escolaridade completa por não terem a assistência de que ele precisava quando criança, hoje em dia sua irmã insiste para o levar para morarem juntos em outra cidade, “com tudo do bom e do melhor” mas ele nega por já ter uma casa com tudo que precisa.

Zé Carlos relata seu acidente de moto que aconteceu depois de um dia de trabalho no escritório de contabilidade, e fala das várias cirurgias falhas para tentar recuperar sua visão, com 26 anos, preferiu ir viver no Instituto de Cegos, longe de sua família, para ter uma vida ajustada a suas necessidades “sem atrapalhar ninguém" . Seu Olavo ensina que a diabetes é uma das causas para a cegueira, e sobre como isso é comum, Ana, sua esposa, também passou pela mesma situação e hoje tem lar na fundação.

Instituto
Instituto para Cegos Santa Luzia (Foto: Mariana Melo Castilho)

Nesse momento o lanche da tarde fica pronto e eles vão comer, provavelmente depois da comida tem mais tempo livre até o jantar e antes das 19h00min estão deitados para dormir e assim, no dia seguinte, a rotina continua como na semana anterior, e a próxima será como esta, e assim, passei quase um dia todo observando com os olhos e sendo observada pela voz, pelo toque, pela força das passas, me encantei pela calma da vida levada com tempo para estar presente e, pela primeira vez, passei horas sem escutar nenhuma reclamação, tirando a parte do sol, estava muito quente mesmo.

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Com a Covid-19 cerimônias precisaram se adaptar ao cenário pandêmico, consolidando várias mudanças, desde indicados a falta de espaço físico: podcast discute isso e muito mais
por
Julio Cesar Ferreira
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10/04/2021 - 12h

 

 

Ronaldo Trancoso Jr., jornalista e editor do blog Cinematic Tips; especializado em cinema, premiações e festivais, conversa com Julio Cesar Ferreira, aluno do curso de Jornalismo, colaborador da AGEMT, discutiram as principais mudanças ocorridas na temporada de premiações com o advento do novo coronavírus.

 

cinematic tips
Página inicial do blog Cinematic Tips. Foto: (Captura de tela/Site online) 
ronaldo
Ronaldo Trancoso Jr., editor do blog Cinematic Tips. Foto: (Acervo Pessoal) 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O Emmy de 2020 foi a primeira cerimônia que adotou o formato virtual, o que antecipou as outras cerimônias e consolidou algumas mudanças para a apresentação de indicados e vencedores. Determinadas entidades conseguiram realizar seus eventos de forma híbrida, como o Grammy 2021  que contou com a presença de alguns artistas indicados mais importantes, o SAG Awards 2021 decidiu ocorrer de maneira gravada e o Oscar 2021 será presencial, sem adotar o hibridismo. 

 

troféus oscar

 

Questões como estas foram discutidas na conversa que contribuiu para a construção do podcast, para além disso, também foi comentado sobre o Governo de Trump e Joe Biden, e seus diferentes posicionamentos acerca da pandemia e o papel da vacina. 

Abordaram, ainda, as principais mudanças de indicações, a diferença entre filmes independentes e os blockbusters nesse momento, o acesso e o lugar do streaming, a falta de diversidade, e como o público vêm consumindo e questionando as cerimônias ao longo dos anos, de modo que a audiência é refletida nisso. O debate se desdobra de maneira informal, criando uma relação próxima entre o emissor e o receptor. 

Para ouvir esse debate leve e descontraído, clique aqui. 

 

Conheça os prós e os contras, os maiores perrengues e as curiosidades de ser um correspondente internacional
por
Raphael Dafferner, Lucas Martins e Paulo Castro
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08/04/2021 - 12h

Para quem é ainda estudante de jornalismo ou não trabalha com a profissão, a vida de um comunicador parece perfeita. Quando se trata de exercê-la em outro país, enquanto conhece outros lugares e culturas, então, parece um sonho. Porém, na verdade, não é bem assim. Às vezes, é necessário que o jornalista faça plantões durante a madrugada, se coloque em situações de perigo e enfrente várias dificuldades da cultura e da língua, que muitas vezes são completamente diferentes.

Foto: Reprodução Twitter
Anita Efraim, repórter da Yahoo! no Chile (Foto: reprodução Twitter)

Esse choque cultural e essa convivência em ambientes com os quais os repórteres não conheciam, entretanto, trazem uma perspectiva diferente em comparação com a dos brasileiros. Foi o que ressaltou Anita Efraim, repórter do Yahoo! no Chile: “Acho que o mais legal de ser correspondente é você poder levar para o público no Brasil uma visão diferente sobre alguns temas”.

Anita contou ainda sobre a visibilidade que ganhou nesse período no Chile, em especial no caso do jogo entre Internacional e Universidad de Chile, no qual os torcedores chilenos, durante um protesto, atearam fogo no Estádio Nacional.

“Eu acabei conseguindo fazer entradas em vários canais televisivos. Depois do jogo também falei em rádios do Brasil e em programas de TV”, afirmou.

Foto: Reprodução Twitter
Tim Vickery, correspondente da BBC Sports na América do Sul (Foto: Reprodução Twitter)

A Agência Maurício Tragtenberg (AGEMT) conversou com mais alguns jornalistas que resolveram se aventurar em outro país: o também brasileiro Marcus Alves, que trabalha em Portugal por vários veículos de imprensa; e o inglês Tim Vickery, que está no Brasil desde 1994, sendo atualmente correspondente da BBC Sports na América Latina e comentarista do programa Redação SporTV.

Foto: Reprodução Twitter
Marcus Alves, jornalista brasileiro que trabalha em Portugal (Foto: Reprodução Twitter)

Se interessou pelo assunto e quer saber mais sobre? Escute o nosso podcast! Para ouvir o primeiro episódio de "Correspondentes Pelo Mundo" no Spotfy, clique aqui.

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Abrigo no interior de São Paulo vê abandonos crescerem e adoções diminuírem, gerando dificuldades de funcionamento
por
Beatriz Aguiar e Sara de Oliveira
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14/05/2021 - 12h

Por Sara de Oliveira e Beatriz Aguiar

 

Depois de um sábado gasto na tentativa de construir um gatil (espaço para gatos) sem muito sucesso para a gata que mora no canil ela não gostou Rita e Regina se preparam para a entrevista online. Com o celular na vertical, Rita segurava o aparelho e  o apontava para Regina. Iniciaram pedindo desculpas pelo atraso e por estarem descabeladas. No “corre” desde cedo, não tinham com o que se preocupar. “Nem almoçamos ainda. Só tomamos água e ‘tubaína'”; já se passavam das 17h do dia 27 de março. As protetoras de animais estão trabalhando como nunca na pandemia. Há uma alta nos abandonos e elas crêem que muitas famílias não queiram cuidar dos animais de parentes vitimados pela doença.

Rita de Cássia e Regina Cardoso são duas ativistas da causa animal. Ambas trabalham na área da saúde. Rita é professora de enfermagem na UNIFACAMP - Universidade Faculdade de Campo Limpo Paulista e enfermeira. Regina é técnica de enfermagem da Prefeitura. Ambas trabalham em Campo Limpo Paulista, a 62 km da capital. A cidade tem 85.541 habitantes espalhados nos mais de 80 quilômetros quadrados, segundo o IBGE 2020. Uma cidade relativamente pequena. Não tem grandes comércios, não tem shopping, não tem McDonalds, mas tem a Krupp, a metalurgia responsável por trazer um grande movimento econômico na cidade desde os anos 1960, quando se instalou na cidade.

Alaska
Conheça Alaska

 Rita e Regina estão resgatando animais há mais de vinte anos. São inúmeras histórias, em sua maioria tristes. O “Abrigo Amigo Fiel” (não se confunda: é o amarelo e marrom nas redes sociais) tem uma capacidade para 120 cães, mas, no momento, estão com 200. Elas fazem os resgates pelas ruas da cidade. Os animais são em sua maioria idosos e vira-latas. “Você deixa uma cachorra cega no meio da pista pra que? Outro dia eu parei meu carro no acostamento, liguei o pisca alerta, desci e resgatei a cachorra”, disse Regina totalmente indignada com a falta de amor do ser humano para com os animais.

Desde o começo da pandemia foram resgatados mais de quarenta cães, com uma média de dois a três por semana. Na maior parte dos casos, os cães chegam doentes e machucados por maus tratos. Durante a semana do dia 22 de março de 2021, foram resgatados cinco cachorros, um com priapismo, uma ereção persistente do pênis, frequentemente dolorosa que dura mais de quatro horas, na ausência de estímulo ou desejo sexual. É uma patologia pouco frequente em cães, segundo o artigo científico do Pubvet. Outro com tumor nas costas está internado. Além de mais três abandonados, todos machucados e desnutridos.

Em áudio, as protetoras contam as histórias de alguns animais que as marcaram, sejam pelos maus tratos que sofreram, sejam pela doçura para enfrentar seus obstáculos:

 

Segundo a Ampara Animal, uma associação de mulheres que ajuda abrigos e protetores independentes, aumentou em 70% o abandono de animais no Brasil durante a pandemia. Embora Rita e Regina não tenham dados específicos para comparar o número de cães acolhidos antes e depois da pandemia, seus relatos dão uma ideia. “Se nós pegarmos as ninhadas do ano passado [2020], eu posso te falar que resgatamos pelo menos uns 50, 60 cachorros e doamos uma média de 20 cães. O resto ficou”.

Para Júlia Fink, psicóloga clínica e professora de Psicologia da UNIP, houve um aumento da ansiedade relacionado às circunstâncias incontroláveis da pandemia. Esse aumento combinado à visão social de animais como objetos para o prazer humano, ao invés de seres vivos com sentimentos, pode estar culminando na expansão do abandono. “É uma experiência nova [a pandemia], é um estado de exceção. As pessoas estão num senso de urgência para tomar decisões que subtraiam de suas vidas tudo que possa estar gerando um peso. Seja um peso financeiro, emocional…”. Maus-tratos também podem estar relacionados ao aumento dos transtornos mentais durante o período. Algumas condições, como a depressão, podem levar a quadros limitantes, quando a pessoa não consegue cuidar de si nem dos outros, como animais domésticos. “Se a pessoa está num episódio desses de depressão, o ideal seria que houvesse uma rede de apoio que pudesse cuidar da pessoa e do animal (...) Agora, existem pessoas que sentem prazer em infligir dor a animais. Nesses casos, não sei se a pandemia faz tanta diferença”. 

Regina e Nescau
Regina e Nescau

Como o acolhimento dos cães é feito a partir do resgate nas ruas, Rita e Regina não sabem ao certo o histórico do animal. Porém, Rita acredita que esses animais estão sendo abandonados pelos parentes dos donos que faleceram por conta da COVID-19: “Eles têm hábitos domiciliares. Não são cachorros que foram criados na rua. A gente percebe que quando o animal é criado na rua ele tem um outro comportamento”. Cachorros criados em lares gostam de ficar perto das pessoas, obedecer, são aparentemente calmos e não têm medo de contato humano; ou, pelo contrário, estão completamente assustados com a situação. A maioria dos cães abandonados são vira latas ou das raças poodles, lhasas e chitsons. Cachorros de raça são abandonados com mais frequência quando envelhecem.

Rita com Nescau e Sherá
Rita, Nescau e Sherá

A dupla está junta há mais de 11 anos. Antes de se encontrarem, já trabalhavam no resgate de animais. Elas reuniram os cães resgatados de cada e montaram o “Abrigo Amigo Fiel”. A rotina é dura: Rita trabalha das 7h às 22h como professora e Regina das 7h às 16h na UBS. Os finais de semana são exclusivos para resolver questões do abrigo. 

A pandemia afetou muito também as adoções. Tiveram um começo promissor, com muitas pessoas adotando por se sentirem sozinhas em suas casas nos primeiros meses da pandemia. Cachorros idosos, que não costumam ser a preferência, estavam sendo selecionados. Uma pesquisa de julho de 2020 da ONG União Internacional Protetora dos Animais corrobora sua fala: a procura por cães e gatos cresceu 400% durante a quarentena em São Paulo. 

Houve um estímulo da mídia para a adoção de animais durante esse último ano, através de matérias que mostravam os efeitos positivos na saúde mental. Fink concorda que a adoção pode ser boa, desde que seja feita de forma responsável. “A interação com animais pode ser positiva [para a saúde mental], mas ela tenderá a ser positiva quanto mais responsável ela for. Adotar um animal é maravilhoso, adotar um animal de forma irresponsável é complicado. Ele é um ser vivo e merece carinho e condições dignas de existência”. A adoção, como ela mesmo frisa, é uma escolha de médio a longo prazo, uma vez que animais domésticos vivem anos, até mais de uma década. Não pode ser pautada por um desejo imediato produzido durante esse período de confinamento. A imprudência de quem adota, aliada a alguns processos de adoção igualmente descuidados, pode estar levando a um fenômeno observado no Abrigo Amigo Fiel: a devolução de cães por adotantes.

"Ninguém nos procura mais e quem procura devolve”, lamenta Rita. “Devolve porque faz xixi, devolve porque faz cocô; ainda bem né”, ironiza Regina. “Se não tem vaga no coração [para o cachorro], não aguenta mesmo e devolve”.

Zeus
Zeus, Pitbull

As duas protetoras de animais são cuidadosas na adoção. É feita uma entrevista com o interessado, que, caso aprovado diante dos requisitos estipulados, pode adotar. Alguns dos requisitos são: a casa ser fechada ou murada; o cão possuir um espaço próprio, seja dentro ou fora de casa; os interessados possuírem condições materiais de manterem o cachorro. Ambas ainda se interessam pela profissão dos requerentes e por animais de estimação que tenham ou tiveram. Afirmam que se o interessado deseja o cão para presente, rejeitam. Os aprovados são acompanhados semanalmente durante o primeiro mês; na primeira semana o contato é diário. Quando ambas sentem que o animal está seguro em seu novo lar, as visitas são espaçadas. 

Por conta da superlotação, as amigas pedem ajuda. O abrigo funciona a partir de doações. Felizmente, possuem amigos que ajudam fielmente o projeto, mas na atual situação, não está sendo o suficiente. Além disso, como os animais chegam doentes, alguns com câncer, machucados, desnutridos, cada um tem uma demanda diferente. Como não são veterinárias, precisam pagar pelo serviço. Já chegaram a gastar R$31.000 reais, fora a medicação, num único ano. Se tudo está bem, elas gastam em média R$8.900 por mês, já contando com as doações. 

 

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Quem quiser ajudar o abrigo pode entrar em contato: 

Facebook: Abrigo Amigo Fiel

Instagram: @AbrigoAmigoFiel

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"Esses modelos são muito radicais, não acredito que seja necessário" diz professora e jornalista Marlivan de Alencar
por
Anna da Matta, Beatriz Loss, Vanessa Orcioli
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06/04/2021 - 12h

 

 

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Paywall: modelo de cobrança de assinaturas por conteúdo. (Foto: Reprodução/Dooder do Freepik)

 

“Exclusivo para assinantes” ou “Você já ultrapassou o limite de notícias gratuitas do nosso jornal” são expressões cada vez mais comuns quando se clica em um link de sites noticiosos. O paywall, traduzido do inglês, muro de pagamento, surgiu com o intuito de auxiliar os veículos de comunicação a monetizar suas atividades na internet devido ao declínio de leitores - e consequentemente, de renda - que houve nos últimos anos com o crescimento da web. Esse sistema de cobrança de assinatura por conteúdos digitais foi implementado de forma lenta, mas nos dias atuais, domina uma boa parcela da imprensa - tanto das grandes mídias, como das pequenas.

 

Durante muito tempo, o jornal impresso fazia parte da vida cotidiana dos brasileiros, mas com a chegada da internet, a maneira com que as pessoas se informam foi se modificando. Para acompanhar as mudanças constantes que acontecem no jornalismo, e para resgatar esse serviço financeiramente, os veículos de comunicação foram se adaptando e implementando o sistema do paywall. “Acredito que [o paywall] seja um método de salvar o jornalismo de uma decadência financeira, mas não concordo que seja o único” relata a estudante de jornalismo, Julia Rugai. Assinante de alguns jornais, ela declara que a crise pela qual o jornalismo está passando vai muito além da financeira, mas crê que esse sistema de assinaturas de cobrança possa aproximar o leitor das matérias que mais lhe interessam, e consequentemente dos jornais. 

A professora e jornalista, Marlivan de Alencar, também relata que o paywall é uma maneira de manter o jornalismo, mas discorda da privatização total de alguns paywalls de jornais: "Esses modelos são muito radicais, não acredito que seja necessário”. Por outro lado, ela elogia os modelos híbridos desse sistema, e dá o exemplo do jornal El País. O modelo se caracteriza pelo nome de freemium, metade pago e metade grátis. Isso permite com que o público possa ler e checar se gosta das informações que estão atrás do muro, para assim, poderem assinar. 

Interface gráfica do usuário, Aplicativo

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Print do paywall barrando uma matéria no site do jornal Estadão. (Foto: Reprodução/ Internet)

 

            A busca pela notícia verdadeira tem sido cada vez mais urgente e necessária nessa nova era da desinformação. Segundo a pesquisa feita pela Câmara dos Deputados, no final de 2020 revelou que 79% dos brasileiros se informam principalmente pelo WhatsApp,  já através  do  Youtube e Facebook aparecem com 49% e 44% respectivamente, deixando os sites oficiais de notícias com apenas 38% de buscas.   

Queda durante a pandemia 

No ano de 2018, ocorriam as eleições presidenciais e as disseminações de notícias falsas aumentavam regularmente através de correntes, post e tweets. A queda do paywall se deu durante a pandemia, uma decisão necessária e  adepta por diversos veículos, com o intuito de que as notícias sobre a Covid-19 apuradas e embasadas proliferam mais que mentiras e boatos. A necessidade de  informações verídicas sobre o assunto, incluindo os sintomas e as formas de prevenção, passaram a ser urgentes devido ao crescimento das  fake news sobre o vírus,  para assim ser possível combater injúrias sobre a doença ainda pouco conhecida .

Apesar de o jornalismo online ter se transformado em um grande negócio, ainda é possível se informar de graça. “Embora o paywall tenha problemas, eu realmente acredito que é possível estar bem-informado com informações gratuitas, porque hoje, nós temos uma quantidade maior de informações disponíveis que antes, que não estavam disponíveis para o grande público”, afirma Tai Nalon, cofundadora e diretora executiva do Aos Fatos, para o podcast Braincast.

Hoje em dia, com um celular na mão é possível acessar muitas plataformas online e se informar através delas. No ano passado, devido ao aumento de desinformação sobre a pandemia do Covid-19, o Twitter verificou a conta de muitos jornalistas, mostrando que os conteúdos compartilhados por essas pessoas são confiáveis, além disso colocou avisos embaixo de posts que poderiam conter informações falsas, com um redirecionamento para notícias verdadeiras.

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Alunos respondem aos atos de interferência na Universidade Federal de Pelotas
por
Julia Roperto
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06/04/2021 - 12h

Localizado no estado do Rio Grande do Sul, o campus da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) soma-se aos alvos de interferências do governo Bolsonaro. Ao final do mês de fevereiro, Pedro Hallal - até então, reitor da UFPel -  foi notificado através da Controladoria Geral da União, que estaria sofrendo um processo movido pelo órgão em razão de uma denúncia feita por um deputado bolsonarista. Tal investigação, aberta contra Hallal e o professor Eraldo dos Santos Pinheiro, nasceu a partir de críticas ao governo proferidas em uma transmissão ao vivo feita para os alunos no dia 7 de fevereiro. 

          Ex-reitor da Universidade Federal de Pelotas e epidemiologista, Pedro Hall.  (Foto: Charles Guerra/Divulgação)


 

Reitor da Universidade Federal de Pelotas até o ano de 2020, Pedro Hallal tornou-se referência no mapeamento do avanço da pandemia no território brasileiro, coordenando a pesquisa Epicovid. Agora, atuando como colunista na Folha de S. Paulo abordando ciência e saúde pública, Hallal não é visto com bons olhos por apoiadores do governo atual devido a sua postura ativa de críticas à conduta de enfrentamento da covid-19, adotada pela presidência do país. 

 

A denúncia feita em decorrência de um posicionamento oposto ao governo em uma live para estudantes da universidade, foi mais um dos atos de perseguição contra o epidemiologista. Acusado por “manifestação desrespeitosa e de desapreço direcionado ao presidente da República”, o professor enxergou como desfecho para o caso, assinar um termo de ajustamento de conduta que o proíbe de fazer qualquer tipo de manifestação política dentro de ambientes universitários além de ter que atender a um curso de ética no serviço público. 

 

Como defesa aos ataques dirigidos à universidade e aos professores mencionados, cientistas e acadêmicos, como a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (ABRASCO), mobilizaram-se através de manifestos.

 

“Acho que foi um choque pra todo mundo ver dois professores da UFPel tendo que assinar um termo de ajustamento de conduta” diz Fabiana Cândido, estudante de direito da universidade. Fabiana complementa que, o caso demonstra como o governo segue à espreita, observando os movimentos dos docentes e discentes, pronto para intervir da forma que preferir. “Sinto, especialmente por parte dos docentes da universidade, que há no momento um clima de "medo", um receio de conseguir de fato exprimir suas opiniões.”comenta a estudante. 

 

Fabiana aponta que desde 2019, a UFPel sofre por consequências do governo Bolsonaro. Segundo a mesma, quando houveram cortes nos repasses financeiros, os alunos, por vezes, tiveram que ter aulas no escuro como forma de economia além de terem ocorrido turbulências no momento em que o projeto Future-se - desenvolvido pelo MEC - esteve em discussão.

 

Um pouco antes do processo contra os docentes acontecer, a universidade preparava-se para a recepção de uma nova reitoria, escolhida através de uma eleição democrática. Em meados de novembro de 2020, todos já tinham conhecimento da chapa vencedora. No entanto, em janeiro deste ano, o corpo estudantil foi surpreendido com a notícia de que o reitor eleito através dos alunos, Paulo Ferreira Júnior, não seria acatado pelo governo. 

 

Ao invés do primeiro nome colocado na lista tríplice, o presidente escolheu para se encarregar da reitoria, a professora Isabela Fernandes Andrade. 

 

Universidade Federal de Pelotas, Imagem: UFPel Portal.

 

“Como estudante da UFPel, fiquei muito desconfortável com essa notícia, porque acredito que todas as universidades devem ter sua autonomia, principalmente as federais.” diz Regina Vieira, estudante de direito da universidade.  “Se um governo está interferindo na democracia de uma universidade, até que ponto ele poderá interferir na democracia do país? São pequenos atos que nos levam a temer outras coisas” complementa. 

 

Patrocinadas pelo presidente, duas medidas provisórias foram criadas para tentar modificar o formato de escolha dos reitores em uma tentativa de reduzir a autonomia das instituições. A primeira, em 2019, não agradou parlamentares e a segunda, em 2020, procurava autorizar nomeações sem a realização de consulta à comunidade. Ambas propostas não tramitaram. 

 

Diante das tentativas de intimidação contra professores e reitores federais, há de se observar o reflexo desses atos nos alunos. “Não temos como estabelecer um termômetro para todos os estudantes, mas acho que quanto mais informado e engajado ao movimento estudantil, aos professores e a universidade em si, mais preocupadas essas pessoas estão.” avalia Fabiana Cândido. A estudante comenta que, assim como outros colegas, segue preocupada. “Não tanto com a troca da reitoria” pois, segundo ela, a universidade apresentou uma boa desenvoltura ao lidar com o caso, “mas com a incerteza política que nosso país está vivendo e como o governo Bolsonaro pode continuar afetando o funcionamento das universidades públicas federais.”




 

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