Estúdios acusam a plataforma de IA de violar direitos autorais ao permitir a criação de imagens com personagens protegidos.
por
Lucca Andreoli
Henrique Baptista
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17/06/2025 - 12h
Logo da Midjourney
Logo do serviço de IA Midjourney. Reprodução

A Walt Disney Company e a Universal Corporation, dois dos maiores estúdios de Hollywood, abriram no dia 11 de junho um processo conjunto contra o Midjourney — um serviço de inteligência artificial criado e desenvolvido pelo laboratório de pesquisa independente, Midjourney, Inc. —  na U.S. District Court for the Central District of California. O serviço de inteligência artificial está sendo acusado de utilizar propriedade intelectual dos estúdios sem autorização.

Segundo a ação, o Midjourney usou de forma “intencional e calculada” obras protegidas — como personagens de Star Wars (Darth Vader, Yoda), Frozen (Elsa), The Simpsons, Marvel (Homem-Aranha, Homem de Ferro), Minions, Shrek e O Poderoso Chefinho — para treinar seus modelos e permitir a geração de imagens derivadas altamente similares.

 

Disney e Universal afirmam que já haviam solicitado que a plataforma bloqueasse ou filtrasse esse tipo de conteúdo, mas não foram atendidas. Para a vice-presidente jurídica da NBCUniversal, Kim Harris, “roubo é roubo, independentemente da tecnologia usada”.

A petição descreve o Midjourney como um “poço sem fundo de plágio”. Estima-se que a plataforma tenha gerado cerca de 300 milhões de dólares em receita em 2024, contando com mais de 21 milhões de usuários.

Os estúdios pedem uma liminar para impedir novas infrações e uma compensação financeira — que pode ultrapassar os 20 milhões de dólares. Horacio Gutierrez, diretor jurídico da Disney, declarou: “Pirataria é pirataria — o fato de ser feita por uma IA não a torna menos ilegal”.
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Além disso, a ação se insere em um cenário crescente de disputas semelhantes — como os casos envolvendo a Stability AI, a OpenAI e o New York Times. Também aponta para a criação de um serviço de vídeo de IA que em breve poderá criar clipes animados com materiais não autorizados, ampliando ainda mais os riscos à propriedade intelectual e ao controle de suas criações. O processo reforça a pressão por regulamentações mais claras que protejam a criatividade humana frente ao avanço da IA.

A preocupação no meio artístico a respeito das inteligências artificiais é um tema crescente que já gerou polêmicas anteriormente, como a questão das fotos “estilo estúdio Ghibli” no início deste ano. 

O processo representa um marco legal na relação entre Hollywood e a inteligência artificial. É o primeiro grande embate judicial do tipo envolvendo empresas de entretenimento, e pode abrir precedente para que outras companhias exijam licenciamento prévio ou filtros automáticos em ferramentas de geração de imagens.

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Banda faz uma pausa na carreira, suspende shows em novembro e apresentação na COP30
por
Lucca Andreoli
João Pedro Lindolfo
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26/05/2025 - 12h
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023 Imagem: Raph_PH
Foto do show em Manchester, 3 de junho de 2023
Imagem: Raph_PH

A banda Coldplay cancelou a turnê que faria no Brasil em novembro deste ano, que incluiria cerca de dez apresentações. De acordo com o colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo, o grupo decidiu fazer uma pausa na carreira e, por isso, suspendeu toda a agenda na América do Sul. 

No entanto, não houve pronunciamento ou qualquer confirmação oficial até agora. A banda era aguardada para uma apresentação na COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Belém (PA). 

Em 2022 a banda passou pelo festival Rock in Rio e em 2023 esteve no Brasil pela última vez para 11 shows. A apresentação na COP30 seria a primeira vez da banda no Pará, algo que Chris Martin, vocalista do grupo, já demonstrava interesse. 

No ano de 2021, em uma postagem no X (antigo twitter) sobre ações climáticas, o cantor mencionou o governador do Pará, Helder Barbalho, convidando-o para assistir ao show deles no Global Citizen.

Durante a passagem da banda no Brasil em 2023, os integrantes tiveram um encontro com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em que o convite para a COP30 foi feito.

Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023— Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução
Lula, Chris Martin e Janja reunidos em 2023 — Foto: Ricardo Stuckert/Reprodução

De acordo com o colunista, a apresentação em Belém ainda deve acontecer, informação garantida pelo governo paraense. A dúvida que resta é se Chris Martin estará sozinho ou acompanhado pelo grupo.

Em sua quarta edição, ação reforça a importância da informação e do apoio às famílias
por
João Pedro Lindolfo
Lucca Andreoli
|
04/06/2025 - 12h

 

Fotografia: Wellington Freitas  Reprodução/Instagram: @35elementos
Fotografia: Wellington Freitas 
Reprodução/Instagram: @35elementos

A caminhada de conscientização sobre a síndrome Cri Du Chat - ou Síndrome do Choro do Gato, uma alteração genética rara que afeta o desenvolvimento físico e intelectual - aconteceu no sábado (17), no Parque Villa Lobos, em São Paulo.

A doença, presente em uma a cada 50 mil pessoas, ocorre quando uma parte do cromossomo cinco é perdida, o que causa características como a face arredondada, olhos separados, mandíbula pequena, orelhas baixas e um choro agudo parecido com um miado de gato, de onde vem o apelido.

O diagnóstico é realizado através da genética clínica, com testes que avaliam os cromossomos, e o teste de FISH ou CGH-array, que detectam a deleção do cromossomo cinco.

A síndrome impacta diretamente a rotina das famílias, exigindo acompanhamento contínuo com diferentes especialistas. Por isso, a disseminação de informações confiáveis e o estímulo ao diagnóstico precoce são fundamentais para promover mais qualidade de vida às crianças e a quem cuida delas.

A importância do diagnóstico precoce vai além do aspecto clínico: ele abre caminhos para que as famílias se organizem emocionalmente e encontrem apoio em redes especializadas, fortalecendo a jornada de cuidado e inclusão. O conhecimento da síndrome, associado à troca de experiências entre famílias, é um passo decisivo para transformar desafios em conquistas diárias.

Em 2022 foi lançado o primeiro livro a respeito da síndrome no Brasil, intitulado de "Síndrome de Cri du Chat: mais amor, realidade e esperança” (EFeditores e Literare Books International, 264 págs., R$ 72), além de ser o ano da primeira edição da caminhada dedicada a pessoas que convivem com a síndrome.

A publicação veio a partir da vivência de famílias e do engajamento de profissionais que acompanham de perto os desafios do diagnóstico e do tratamento. O livro se tornou referência para quem busca compreender não só os aspectos clínicos da condição, mas também as realidades sociais, emocionais e educacionais enfrentadas por quem convive com ela.

Com entrevistas de profissionais médicos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e psicólogos, a obra de Sandra Doria Xavier, Fernando da Silva Xavier e Monica Levy Andersen traz também uma perspectiva que auxilia familiares e profissionais que trabalham com portadores da síndrome.

Capa do livro: Síndrome Cri Du Chat: mais amor, realidade e esperança  Instagram: @criduchatbrasil
Capa do livro: Síndrome Cri Du Chat: mais amor, realidade e esperança 
Instagram: @criduchatbrasil

A publicação do livro e a realização da caminhada refletem o compromisso com a visibilidade da condição. Ao longo dos últimos anos, a entidade tem promovido ações que unem acolhimento, informação e mobilização social, contribuindo para a construção de uma rede de apoio mais sólida e atuante.

Em meio a esse esforço coletivo, o aspecto emocional e comunitário da Caminhada se destaca. “Encontrar outras famílias na Caminhada Cri Du Chat é encontrar a sua tribo”, define Juliane Gehm, mãe do Martin. “É um momento onde todos podem ser livres para ser quem são!”

Agora em sua quarta edição, a “Caminhada Cri Du Chat 2025” apresentou uma programação com atividades inclusivas, como áreas sensoriais (massinha, slime, bolha de sabão), desenhos e pinturas, pinturas faciais e tatuagens de adesivo, além de recreação com palhaços e personagens infantis.

Através do ato de conscientização, familiares, profissionais e portadores trouxeram luz ao tema. 

Segundo a neuropsicóloga Bianca Balbueno, a estimulação precoce é a chave: “Nos primeiros anos de vida, o cérebro da criança está num pico de neuroplasticidade, ou seja, a capacidade de aprendizagem é mais potente neste período, sendo assim, a estimulação precoce aproveita essa fase para promover o desenvolvimento de áreas centrais, como motor, cognitivo e social.” 

“Intervenção precoce promove o desenvolvimento redirecionando e fortalecendo trilhas de aprendizagem que podem estar em risco, especialmente em casos de alterações do neurodesenvolvimento”, ela acrescenta. 

Essa também foi a percepção de Lilian Lima, engenheira de software e mãe do Heitor Monteiro Lima, de 7 anos. O diagnóstico veio aos 19 dias de vida e aos 30 dias ele já iniciou a fisioterapia. “Com 2 anos e 9 meses ele andou. Hoje ele corre, chuta bola, arremessa para a cesta, ensaia quicar e treina saques de vôlei”, conta Lilian. Ela lembra que, no início, havia muitos medos — do desconhecido, do futuro e de como seria criar um filho com um prognóstico tão incerto. Mas reforça que o acesso a terapias e os estímulos desde cedo fizeram toda a diferença. “A fisioterapia foi essencial nos primeiros anos de vida, e os estímulos fizeram toda a diferença.”

Ainda sobre o plano de tratamento, Bianca afirma que deve ser individualizado “pois cada criança terá uma necessidade diferente, mesmo tendo o mesmo diagnóstico. Leva-se em consideração não apenas características da síndrome, mas áreas gerais de desenvolvimento, comportamentos desafiadores, excessos e déficits comportamentais, bem como a rede de apoio da família e o suporte fornecido pela escola”.

Participantes exploram atividades sensoriais durante a Caminhada. Fotografia: Wellington Freitas Reprodução/Instagram: @35elementos
Participantes exploram atividades sensoriais durante a Caminhada.
Fotografia: Wellington Freitas
Reprodução/Instagram: @35elementos
Caminhada tem presença de personagens infantis e momentos de interação Imagem: Wellington Freitas  Reprodução/Instagram: @35elementos
Caminhada tem presença de personagens infantis e momentos de interação
Imagem: Wellington Freitas 
Reprodução/Instagram: @35elementos
Espaço de desenho e pintura incentiva a criatividade  Fotografia: Wellington Freitas  Instagram: @35elementos
Espaço de desenho e pintura incentiva a criatividade 
Fotografia: Wellington Freitas 
Instagram: @35elementos
Cabo de guerra e outras dinâmicas de grupo promovem inclusão  Fotografia: Wellington Freitas  Instagram: @35elementos
Cabo de guerra e outras dinâmicas de grupo promovem inclusão 
Fotografia: Wellington Freitas 
Instagram: @35elementos

 

Especialista alerta para a importância do apoio jurídico e psicológico diante de um cenário de aumento da violência contra as mulheres
por
Larissa Pereira José
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28/04/2025 - 12h

Durante o feriado da Páscoa de 2025, o Rio Grande do Sul registrou uma sequência de crimes que chocou o país: dez feminicídios em apenas quatro dias. Casos como o de uma mulher grávida assassinada em Parobé e o de uma jovem degolada pelo ex-companheiro em São Gabriel evidenciam uma triste realidade: a violência contra a mulher continua sendo parte do cotidiano brasileiro. 

De acordo com dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o Brasil contabilizou 1.450 feminicídios em 2024, o que equivale a cerca de quatro mulheres assassinadas por dia. O número é alarmante e revela que, apesar dos avanços legislativos, muitas mulheres ainda são vítimas fatais de parceiros ou ex-parceiros. Em meio a esse cenário, surgem dúvidas sobre como agir diante de situações de violência e quais caminhos seguir para tentar garantir a própria segurança. 

Para a advogada Bruna Santana, especialista em Direito da Mulher, em entrevista à AGEMT, "reconhecer os sinais e buscar ajuda o mais cedo possível são atitudes essenciais. Ela alerta que não é necessário esperar por uma agressão física para procurar apoio" e acrescenta: "a violência começa muito antes das agressões físicas. Controlar, ameaçar, isolar, humilhar — tudo isso já é violência doméstica. E precisa ser denunciado”, afirma Bruna. 

A orientação, segundo a especialista, é que a mulher que sofre qualquer tipo de agressão, seja física, psicológica, moral, sexual ou patrimonial, registre um boletim de ocorrência, solicite medidas protetivas e, sempre que possível, documente as agressões. Prints de mensagens, gravações de áudios e relatos de testemunhas podem ser fundamentais para a comprovação dos fatos. Além do apoio jurídico, Bruna Santana reforça que o acompanhamento psicológico é parte crucial para que a mulher consiga sair do ciclo de abusos. “A violência doméstica fragiliza a autoestima da vítima. Muitas vezes, ela se sente culpada ou acredita que não conseguirá romper a relação. O apoio psicológico é essencial para fortalecer essa mulher emocionalmente e ajudá-la a construir uma nova trajetória”, explica a advogada. 

Centros de referência, como os CRAMs (Centros de Referência de Atendimento à Mulher), Defensorias Públicas e ONGs oferecem suporte gratuito ou de baixo custo para vítimas de violência. Em situações de ameaça iminente, a orientação é buscar ajuda imediata, acionando a polícia pelo número 190 ou procurando familiares e amigos de confiança. A Central de Atendimento à Mulher (disque 180) também está disponível 24 horas por dia, de forma gratuita e sigilosa. 

Bruna Santana reforça que a Lei Maria da Penha oferece diversos mecanismos de proteção, como o afastamento do agressor, proibição de contato e o uso de tornozeleira eletrônica. No entanto, muitas mulheres desconhecem esses direitos ou não sabem como acioná-los. "Saber que existem recursos legais, entender como eles funcionam e buscar ajuda imediatamente pode salvar vidas. Não é exagero, não é drama: é sobrevivência", conclui a especialista. 

Apesar de a responsabilidade pela proteção das mulheres ser do Estado, informação e rede de apoio são instrumentos fundamentais para fortalecer aquelas que, todos os dias, lutam para viver em liberdade e segurança.

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Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

Corte no orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia, Pandora Papers, 25 anos sem Renato Russo.
por
Letícia Coimbra e Luan Leão
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11/10/2021 - 12h

Sérgio Camargo impedido de exonerar ou nomear funcionários da Fundação Palmares. 

Sergio Camargo, presidente da Fundação Palmares, em imagem de arquivo — Foto: Fundação Palmares/Divulgação
Sergio Camargo, presidente da Fundação Palmares, em imagem de arquivo — Foto: Fundação Palmares/Divulgação

      Nessa segunda-feira, 11 de outubro, a 21ª Vara do Trabalho de Brasília decidiu impedir Sérgio Camargo, presidente da Fundação Cultural Palmares, de participar da gestão de pessoas na Fundação. Com isso, Camargo não pode mais exonerar e nomear funcionários, o que pode ser feito apenas pelo presidente Jair Bolsonaro ou outra autoridade que seja indicada por ele. O pedido foi feito pelo Ministério Público do Trabalho que solicitou o afastamento de Camargo da presidência. Segundo a determinação, ele é responsável por perseguição político-ideológica, discriminação e tratamento desrespeitoso.

Corte no orçamento do Ministério de Ciência e Tecnologia, a pedido do Ministério da Economia.

      Ontem, domingo, 10 de outubro, o ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação, Marcos Pontes, chamou de “falta de consideração” o corte de recursos que seriam atribuídos a sua pasta, e pediu que essa ação seja revertida com urgência. Pontes se referiu à aprovação de um projeto que retira R$600 milhões que estavam previstos para o financiamento de pesquisas, remanejando-os para outras áreas. Já na sexta-feira, 8 de outubro, o ministro declarou ter sido pego de surpresa e alegou que ficou muito chateado com isso. 

      Apesar disto, o corte de verbas foi pedido pelo próprio governo, atendendo a um requerimento do Ministério da Economia.

      "Falta de consideração. Os cortes de recursos sobre o pequeno orçamento de Ciência do Brasil são equivocados e ilógicos. Ainda mais quando são feitos sem ouvir a comunidade científica e o setor produtivo. Isso precisa ser corrigido urgentemente."

 

 

O presidente do Equador, Guillermo Lasso, na sexta cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, no México - Ministério das Relações Exteriores do México/via AFP
O presidente do Equador, Guillermo Lasso, na sexta cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos, no México - Ministério das Relações Exteriores do México/via AFP

      No dia 10 de outubro, o Congresso do Equador aprovou a abertura de investigação para averiguar se o presidente do país, Guillermo Lasso, atuou de maneira ilegal ao manter dinheiro em paraísos fiscais. De acordo com o que foi exposto pela investigação denominada Pandora Papers, uma série de reportagens publicadas pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos.

       A investigação feita pelo consórcio expôs operações financeiras realizadas em paraísos fiscais por pelo menos 35 líderes mundiais, inclusive Lasso. Declaradamente conservador, o banqueiro  assumiu a presidência do Equador em maio deste ano, e, de acordo com a investigação, controlou 14 sociedades offshores, sendo a maioria delas com sede no Panamá. O termo offshore é utilizado para definir empresas abertas em países onde as regras tributárias são menos rígidas e não é necessário declarar o beneficiário, a origem e o destino do dinheiro.

      Personalidades brasileiras como o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também foram citadas.

Diminuição da taxa de mortes por covid 

      O Brasil registrou 7.211 novos casos de coronavírus e 219 mortes pelo vírus no país nesta segunda-feira, 11/10. A média nos últimos 7 dias é de 440 óbitos, segundo dados da Universidade Johns Hopkins. O Brasil já soma 21.581.094 casos registrados, e 601.266 mortes por COVID-19, segundo dados do Ministério da Saúde. A boa notícia é que a vacinação segue avançando, 99.315.948 pessoas já receberam as duas doses de vacina, o que representa 46,7% da população. E 154.364.921 pessoas receberam ao menos 1 dose, o que representa 72,6% da população.

Campeonato brasileiro, eliminatórias da Copa e final da Liga das Nações

França conquista a segunda edição da Liga das Nações, ao vencer de virada a Espanha (Foto: Reuters)
França conquista a segunda edição da Liga das Nações, ao vencer de virada a Espanha - Foto: Reuters

 

      O final de semana foi de muito futebol. Na Europa, a França venceu a Espanha e conquistou o título da Liga das Nações. Na América do Sul, a Colômbia interrompeu a sequência invicta do Brasil e segurou o empate sem gols, enquanto a Argentina aplicou 3 a 0 no Uruguai, ambos os jogos válidos pelas eliminatórias da Copa do Mundo.

      No campeonato brasileiro, o Atlético-MG segue na ponta da tabela, seguido por Flamengo, Palmeiras e Fortaleza. Fecham o G-6, o RedBull Bragantino e Corinthians. Já no limite inferior da tabela, na Z-4, temos Bahia, Sport, Grêmio e o lanterna Chapecoense. 

      Às 20h desta 2a.feira, Cuiabá e São Paulo fecham a 25ª rodada do campeonato. 

 

 Nobel de Economia de 2021 vai para David Card,  Joshua D. Angrist e Guido W. Imbes

David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbes, ganhadores do Nobel de Economia 2021.
David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbes, ganhadores do Nobel de Economia 2021.

      Nesta segunda-feira (11) foram anunciados os nomes dos premiados com o Nobel de Economia em 2021. David Card, Joshua D. Angrist e Guido W. Imbens receberam a premiação pelo uso de experimentos naturais - situações da vida real para calcular seus impactos no mundo - para entender relações de causa e efeito em áreas como mercado de trabalho, e educação. 

      A premiação é de 10 milhões de coroas suecas, cerca de US $1,1 milhão. Metade vai para David Card e a outra metade será dividida entre Joshua Angrist e Guido Imbens, já que a premiação é por estudo. 

 

25 anos sem Renato Russo

Renato Russo faleceu há 25 anos, ainda com 36 anos de idade, devido a complicações da AIDS - Foto: Divulgação
Renato Russo faleceu há 25 anos, ainda com 36 anos de idade, devido a complicações da AIDS - Foto: Divulgação 


      Há exatos 25 anos, no dia 11 de outubro de 1996, faleceu o cantor e compositor Renato Russo, vítima de complicações causadas pela AIDS, com apenas 36 anos de idade, deixando o país em luto. Depois que a banda Legião Urbana, da qual era vocalista, ficou conhecida pelo grande público, na década de 80, o cantor se tornou uma referência musical. 

      Renato deu voz a canções atemporais, como “Que país é esse”, cuja letra os jovens se identificam até hoje. Lançada em um contexto pós-ditatorial, ele cantou: “Nas favelas, no senado / Sujeira pra todo lado / Ninguém respeita a constituição / Mas todos acreditam no futuro da nação / Que país é esse?”. O Brasil de 2021, que enfrenta uma crise política, econômica e uma pandemia, ainda se conecta com a letra da música. 

      O longa-metragem “Eduardo e Mônica”, dirigido por René Sampaio, inspirado na canção homônima, presente no Disco Dois, da Legião Urbana, ainda espera a volta do público aos cinemas para ser lançado. Também há um documentário sendo produzido pela Gávea Filmes, baseado na vida de Renato Russo a partir do acervo mantido pelo filho, Giuliano Manfredini. Segundo a produtora Bianca de Felippes, não haverá censura, abordando, inclusive, os problemas emocionais do cantor, uso de drogas, sexualidade, confusões e o HIV. 

      Apesar disso, enquanto aguardamos o lançamento dessas produções, é possível conferir outras obras em sua homenagem, como Somos Tão Jovens, um filme de drama musical disponível no Telecine e dirigido por Antonio Carlos da Fontoura, que acompanha Renato de 1973 em diante, quando ele se mudou para Brasília com a família. Nesse período, ele sofria de epifisiólise, uma doença rara que o deixou de cadeira de rodas após a cirurgia, e foi forçado a ficar em casa, e a partir daí surgiu seu interesse pela música, aos 15 anos de idade. 

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Bolsonaro na abertura da 76ª Assembleia-Geral da ONU, depoimento do diretor-executivo da Prevent Senior na CPI da Covid e mais.
por
Letícia Coimbra
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25/09/2021 - 12h

Bolsonaro abre a 76ª Assembleia-Geral da ONU adotando um discurso fantasioso

Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas)
Bolsonaro na 76ª Assembleia Geral da ONU (Organização das Nações Unidas). - Foto: UN Photo/ Cia Pak

Na terça-feira, dia 21, em discurso de abertura da Assembleia-Geral da ONU, Jair Bolsonaro criticou a imprensa, alegando que foi até lá com a finalidade de “mostrar um Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”, defendeu sua gestão no combate à corrupção, afirmando, "há dois anos e oito meses sem qualquer caso concreto de corrupção" e também suas medidas de contenção à pandemia e aos problemas ambientais. Apesar da expectativa de que o presidente atendesse aos apelos da ala moderada do governo, ele insistiu no tratamento ineficaz contra a covid e afirmou que o Brasil está à beira do socialismo. Além dessas inverdades, Bolsonaro alegou que a manifestação pró governo do dia 7 de setembro, na qual, a PM estimou 125 mil manifestantes, foi a maior já feita no país, e na verdade foi menor que a de 2016, quando cerca de 1,4 milhão de pessoas foram à Avenida Paulista, em São Paulo, também segundo a corporação. 

Confira o discurso do presidente na íntegra:

A ida da comitiva brasiliera à Nova York causou bastante.  Bolsonaro é o único lider dos principais países do mundo que não estava oficialmente vacinado. O prefeito de Nova York, Bill de Blasio, se referindo ao presidente, afimou que se não quisesse se vacinar, não deveria se incomodar em ir à cidade.  A delegação não pôde comer dentro dos restaurantes na cidade, uma vez é exigida a imunização em ambientes fechados públicos.  Ainda na segunda-feira, um dia antes do discurso do presidente Bolsonaro na ONU, o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, exibiu o dedo médio para manifestantes contrários ao presidente. Queiroga não voltou ao Brasil com o restante da comitiva, pois testou positivo para a Covid e precisou ficar isolado em um hotel em Nova York. Além dele, na volta ao Brasil, outras pessoas também estão com a doença, entre eles o deputado Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do presidente.

 

Diretor da Prevent reconhece alteração de código de diagnóstico da Covid

Pedro Benedito Batista Júnior na CPI da Covid
O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, afirmou que mesmo pessoas confirmadas com Covid tinham o diagnóstico mudado - Foto: Sérgio Lima/ Poder360

Em depoimento na CPI da Pandemia, Pedro Benedito Batista Junior, diretor-executivo da Prevent Senior, afirmou que a empresa realmente adotou procedimento para alterar o código de diagnóstico dos pacientes com Covid-19, fazendo com que a doença fosse mencionada após determinados dias de internação e também disse que não houve ocultação das mortes no estudo sobre hidroxicloroquina. 

O senador Renan Calheiros, relator da CPI da Pandemia, alegou ter provas de que a mãe do empresário Luciano Hang, um dos principais defensores do tratamento precoce, foi medicada com o ‘kit covid’ e faleceu. No entanto, o filho pediu para que a informação não fosse divulgada. Outra omissão teria ocorrido na divulgação da causa da morte de Anthony Wong, médico defensor do tratamento precoce, que faleceu no início de 2021. Ele havia tomado o ‘kit covid’ e faleceu por complicações da doença, apesar de no prontuário constar  que o pediatra morreu de choque séptico, pneumonia, hemorragia digestiva alta e diabetes mellitus e não fazer menção alguma à Covid. 

 

Governo Bolsonaro volta a recomendar vacina contra Covid em adolescentes

Adolescente de 14 anos é vacinado contra a Covid-19 no Rio de Janeiro, no dia 17 de setembro. — Foto: Ricardo Moraes/Reuters
Adolescente de 14 anos é vacinado contra a Covid-19 no Rio de Janeiro, no dia 17 de setembro. - Foto: Ricardo Moraes/Reuters

Na última semana o ministro Queiroga orientou a retirada de jovens da campanha de vacinação contra Covid. No entanto, na noite de quarta-feira, dia 22, o governo recuou e voltou a indicar que adolescentes sem comorbidades fossem vacinados contra a Covid-19. 

A recomendação da pasta é que isso ocorra apenas após a imunização reforçada dos idoso e grupos mais vulneráveis, o intervalo entre as vacinas ser encurtado, além de imunizar adolescentes com deficiência. Segundo Rodrigo Cruz, o diretor-executivo da Saúde, a avaliação mostrou que os benefícios são maiores que os riscos e que o uso da vacina não rtem relação com a morte do adolescente de 16 anos no interior de SP. 

 

The Crown leva sete dos prêmios principais no Emmy

Os vencedores do73º Emmy Awards Foto: RICH FURY / STR
Os vencedores do73º Emmy Awards - Foto: RICH FURY / STR

No formato presencial, o 73ª Emmy Awards aconteceu no último domingo, dia 19, em Los Angeles. A série campeã da noite foi o drama The Crown, que levou sete prêmios principais: melhor roteiro, melhor drama, melhor direção, melhor ator e atriz em série de drama, melhor ator e atriz coadjuvante em série de drama.   

A segunda série mais premiada foi Ted Lasso, com quatro estatuetas principais: melhor ator e atriz coadjuvantes, melhor comédia e melhor ator para o protagonista.  

A série Hacks, da HBO Max, levou três troféus assim como Mare of Easttown. O Gambito da Rainha conquistou dois, I May Destroy You e Halston apenas um. 

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“Eu trato dos que são os potenciais encarcerados, dos que vão acabar pegando o vírus HIV/AIDS e desses grupos de pessoas fantásticas que são os andarilhos”, diz o padre Júlio Lancellotti
por
Danilo Zelic
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22/06/2021 - 12h

No dia 2 de fevereiro de 2021, logo pela manhã, os paulistanos tomaram conhecimento de mais uma ação de Júlio Renato Lancellotti, mais conhecido como Padre Júlio Lancellotti. Na ocasião, a prefeitura comandada pela gestão de Bruno Covas (PSDB), tinha instalado pedras sob dois viadutos, localizados na Avenida Salim Farah Maluf, no dia anterior, para impedir pessoas que já faziam daquele espaço de suas casas, ficassem por lá. Assim que soube do ocorrido, o Padre não hesitou e foi até os viadutos, com uma marreta, quebrá-las.

Essa e outras ações executadas pelo religioso, foram, aos poucos, sendo reconhecidas para além dos militantes de direitos humanos e religiosos. Na medida que a juventude a partir das redes sociais, começou a seguir suas caminhadas, Lancellotti se tornou uma referência do assunto. Porém, o trabalho que faz pelos direitos humanos começou muito antes do advento da internet e até mesmo de se ordenar padre. “Quando tinha algum maltrato em uma Febem [Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor], não se chamava Casa Nova Vida, onde tinha as crianças menores, a do Tatuapé, por exemplo, em algumas unidades o tratamento era na base da porrada, ele atuava, levava advogado, criava caso, ali a gente começou a ter notícias dessa figura”, é o que conta Silvio Mieli, jornalista e professor de Jornalismo da PUC-SP. Depois que se tornou padre, aos 37 anos, realizando projetos na Pastoral Carcerária, Pastoral do Menor e na Casa Vida, Mieli diz que virou um “sinônimo de acolhimento”, diante das violações de direitos humanos. “Morador de rua maltratado, epidemia de aids se alastrando e ninguém cuidava – ‘deixa eles lá para morrer e mofar’ – Pe. Júlio atuava". 

Ao longo da conversa com a AGEMT, Mieli relatou três momentos que se aproximou de Lancellotti: na Casa Vida, na Pastoral do Povo da Rua e nas manifestações de 2013. A reportagem conversou também com Renato Levi, professor de jornalismo da PUC-SP e da USP. Confira também o podcast sobre a matéria no link.

CASA VIDA

O primeiro contato que Mieli teve com o religioso, foi entre os anos de 1996, 1997 até 2000, quando estava realizando um projeto de prevenção à AIDS para a população semialfabetizada ou analfabeta, voltado para a periferia. O jornalista desenvolveu um aplicativo multimídia, com o intuito de conscientizar seus usuários sobre a prevenção ao HIV, capaz de dialogar com uma linguagem familiar para as pessoas. “Ia rodar em computadores, distribuídos em pontos estratégicos da periferia, um telecentro, uma igreja, um posto de saúde, uma praça”. No mesmo período, Pe. Júlio realizava um trabalho, junto à Pastoral Carcerária, de combate ao vírus HIV dentro das penitenciárias paulistas. “Aqueles grupos midiáticos, principalmente do rádio na época, que tratavam os militantes dos direitos humanos daquele jeito delicado, ‘lá vêm a turma dos direitos humanos’, ‘bandido bom é bandido morto’, começaram a visar o padre Júlio. Mesmo quem não militava nessa área, diretamente ou indiretamente, todo mundo sabia quem era o Padre Júlio”, conta Mieli.

Ao perguntar aos dominicanos, que assim como o jornalista, faziam parte de um grupo solidário, se o Padre tinha um projeto específico ligado a HIV/AIDS, um deles respondeu: “Ele tem, lá na zona leste. Me deram o telefone dele e foi aí que ele [Pe. Júlio] falou: “Eu não vou te adiantar nada, vem aqui e veja”. E foi assim que passou a conhecer a Casa Vida. Criada em 1991, o projeto tinha como objetivo, criar um ambiente familiar e menos sofrido para amenizar a realidade de crianças e adolescentes acometidos pelo vírus HIV, muitos destes, órfãos dos pais, que vieram à óbito devido a evolução do vírus e, também, rejeitados por seus avós. Com data e hora marcada, Mieli contou sua primeira impressão do espaço. “Eu fui lá no sábado e cheguei antes dele [Pe. Júlio]. Era uma casa, não muito grande, devia ter uns 5 ou 6 quartos e cada quarto tinha duas crianças. De repente apareceram essas crianças limpinhas, tinham acabado de comer, perguntaram quem eu era e começaram a mexer no equipamento. Algumas eram muito magras, já estavam muito doentes, e outras não, estavam melhores”.

​   Padre Júlio com as crianças da Casa Vida - Foto: Reprodução site da Casa Vida  ​
Padre Júlio com as crianças da Casa Vida - Foto: Reprodução site da Casa Vida

Para o jornalista, o projeto era muito mais do que um simples orfanato, “parecia que aquelas crianças eram irmãos e que tinha umas tias que cuidavam lá”. Dentre as “tias” que trabalhavam na Casa Vida, havia médicos e psicólogos, além de religiosos que apoiavam a iniciativa. Durante a conversa com Lancellotti, ele explicou o principal objetivo do projeto, “tirar as crianças o medo de morrer”. “Tinha 11 crianças, de repente uma morria, então elas falavam: ai meu deus, morreu tal pessoa, o que vai ser da gente?!”, relata o jornalista. Era como “dar uma sobrevida para aquelas que tinham condição de sobreviver, que não eram muitas, isso era muito triste. Você acolheria uma criança que morreria pouco tempo depois, e ao mesmo tempo dar uma vida digna para essas crianças, até o fim, que já estavam muito doentes”, completa.

Ao mesmo tempo que o projeto ganhou uma visibilidade muito grande, Mieli relata que a Casa enfrentava dificuldades com a vizinhança, muitas vezes agredindo verbalmente o próprio Pe. Júlio e, até mesmo, jogando objetos em sua direção. Porém, ainda segundo ele, a maneira como o religioso contornava a situação faz jus ao reconhecimento que tem frente às lutas sociais que mobiliza. “Ele ia lá falar, daquele jeitão dele. A pessoa via aquela figura, querendo conversar, sem ofender ninguém, acabava conversando. Se não mudava a opinião da pessoa, pelo menos passava uma confiança e dizia: Vêm aqui, venha contar uma história para as crianças”.

PASTORAL DO POVO DA RUA

Terminado o projeto para a prevenção contra o HIV, Mieli estava no evento Agenda Latino Americana, em 2000, para escolher, junto aos organizadores, as melhores iniciativas sociais para homenageá-las. O professor se recorda que o Grupo Solidário São Domingos e outras pessoas da militância pelos direitos humanos, sugeriram o Pe. Júlio, como um possível homenageado. “Na época eu falei: Ah, mas o Pe. Júlio, a Casa Vida e tal?!, mas aí alguém falou: Não, eu estou sugerindo pelo modo como ele está focado com o trabalho da Pastoral dos Moradores de Rua [Pastoral do Povo da Rua], como ele está subsidiando esse trabalho lá na zona Leste. Como a Igreja de São Miguel está virando, um pouco, um núcleo de concentração dessa militância a favor dos moradores de rua”.

Depois de descobrir mais uma frente dentro da militância pelos direitos humanos do padre, ele se dirigiu ao próprio e logo perguntou: “Mas o senhor abandonou a questão da AIDS e está nos moradores de rua?”. O religioso explicou que, dentre os diversos temas de direitos humanos, todos em que atua estão ligados entre si. “É um problema só. Eu quando ando pela rua, eu trato dos que são os potenciais encarcerados, dos que vão acabar pegando o vírus HIV/AIDS e desses grupos de pessoas fantásticas que são os andarilhos, as pessoas que merecem ser tratadas com dignidade e não devem ser obrigados a sair da rua”.

Coordenada por Lancellotti, a Pastoral do Povo da Rua, é uma das várias pastorais ligadas a Arquidiocese de São Paulo. Com sede própria desde 1997, a Casa de Oração do Povo da Rua, construída após o então Cardeal de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns, receber um prêmio concedido pela organização japonesa, Fundação Niwano, tem como objetivo fornecer um auxílio social a população em situação de rua, disponibilizando itens básicos de saúde, uma alimentação regular, além de possibilitar a convivência entre religiosos e participantes da Pastoral com eles.

Padre Júlio em uma ação com pessoas em situação de rua - Foto: Reprodução Instagram/Daniel Kfouri
Padre Júlio em uma ação com pessoas em situação de rua -  Foto: Reprodução Instagram/Daniel Kfouri

Na Paróquia São Miguel Arcanjo, onde Lancellotti é pároco, aos olhos do professor, “ter um ponto de referência e de acolhida, para ser ouvido ou para pegar um prato de comida”, para as pessoas em situação de rua, é “ter uma porta aberta”. São frequentes as postagens nas redes sociais do Padre sobre seus trabalhos com a população em situação de rua, sempre documentando as enormes filas de pontos de entrega de alimentos, mantimentos e cuidados com a saúde deles. Com o aumento do número de óbitos e a hospitalização da população em situação de rua, Mieli se recorda do trabalho do Padre no atual momento. “Hospitalizar moradores de rua que estão doentes. Ele vai lá, liga para o SAMU, vai ele dentro da ambulância e fica no hospital. À meia noite, em uma noite fria, ele faz isso. Quem que de nós faria isso?!, talvez a gente deva começar a fazer”, conta.

O jornalista se lembra de outro momento que chamou sua atenção, dentro da militância do Padre pelos moradores em situação de rua, “quando ele começou a defender a população trans”. Para ele, há uma imagem que o marcou muito, quando o Padre perguntou a uma moradora de rua, trans, se poderia lavar o seu pé. No momento, Mieli interpretou a imagem do rosto dela com um sentido duplo: “não Padre, eu não sou digna para você fazer isso”, esse foi o primeiro impulso dela. Mas ao mesmo tempo, relata que a mulher quis dizer algo como, “você não existe”, como um ser quase que perfeito, onde ela jamais imaginaria que alguém poderia fazer aquilo.

MANIFESTAÇÕES DE 2013

Quando as manifestações de 2013 começaram a crescer e, por consequência, a repressão policial começou a ser maior, Mieli, que estava presente na primeira manifestação, conta que viu algo inesperado naquele momento, o Pe. Júlio. “O Pe. Júlio me aparece lá e fica no meio da manifestação, com a máscara, dando o braço para os caras”. No instante que o jornalista foi tentar conversar com o Padre, que estava na linha de frente junto à Black Blocs, a polícia começou a dispersar os manifestantes com truculência, “quando eu tentei falar com ele era tarde demais, por que a polícia já veio e foi porrada para tudo que é lado”, relata.

Duas semanas depois, eles se encontraram na PUC-SP. “Padre Júlio, mas que maravilha, o senhor estava lá com os Black Blocs”, lembra o professor. Quando se sentaram para conversar e tomar um café, Lancellotti disse que “Jesus era um Black Bloc”. Depois disso, se recorda Mieli, o Padre começou a narrar a figura de Jesus Cristo de um livro que leu, Zelotas, A vida e a época de Jesus de Nazareth. “Ele começa me falar umas coisas que eu não sabia, que lá no tempo da Palestina, tinha uns Black Blocs que chamavam Zelotas, que era a turma que Jesus andava”, lembra.

“Em poucas palavras, ele começou a me descrever uma figura, que era Jesus Cristo, que se aproximava muito de um militante revolucionário contemporâneo. Quando o Pe. Júlio fala de Jesus, o corpo dele começa a mudar, ele fala de um Che Guevara, ele fala de uma coisa revolucionária, ele fala de alguém que deixa a emoção se apossar do corpo”. Quando perguntou para o Padre se o motivo dele ter ido nas manifestações e se juntado aos Black Blocs foi esse, respondeu crítico: “É exatamente por causa disso. Ser cristão hoje, é praticar essa relação fé e política desse modo, com essa veemência, dessa forma”.

Em uma das manifestações de 2013, Padre Júlio esteve na linha de frente junto aos Black Blocs - Foto: Wladimir Roberg/Jornalistas Livres
Em uma das manifestações de 2013, Padre Júlio esteve na linha de frente junto aos Black Blocs - Foto: Wladimir Roberg/Jornalistas Livres

“BLACK BLOC DE DEUS”

Pouco depois das manifestações de 2013, Mieli, junto à Renato Levi, professor de jornalismo da PUC-SP e da USP, que já estavam estudando as relações entre religião e política há algum tempo, ao lado do Núcleo Perseu Abramo, do departamento de jornalismo da PUC, decidiram produzir um documentário sobre o Padre Júlio. Levi conta que, para não fazer mais um documentário sobre o religioso, sendo o protagonista do filme, priorizaram uma discussão, segundo Levi, que está por trás dos trabalhos do Padre, “a Igreja como um ator social importante nas lutas pelos direitos humanos, pela dignidade, pela democracia”.

Para além da relação entre política e religião, o documentário pretende abordar a relação do Padre com as mídias sociais. Segundo Mieli e Levi, o religioso “sacou” muito bem o papel das mídias sociais na divulgação de seus trabalhos e para a denúncia em relação às violações de direitos humanos nas mais variadas frentes que atua. Para Mieli, “ao contrário de se fechar para os meios de comunicação contemporâneo, ele se abriu totalmente”. “Que população aparece quando falam do Pe. Júlio? Ele é meio que transparente, o que aparece é o outro, você vê a população de rua, ele é um representante desses caras, ele chegou ao ponto de falar em nomes deles”, diz Mieli, sobre sua participação e o intuito do Padre ao usufruir das redes sociais.

Já para Levi, além de representar uma população abandonada, que é a população em situação de rua, Pe. Júlio virou uma celebridade em detrimento da “hyperização” de sua figura. “É importante que ele seja visível, porque dá visibilidade a luta dele, da visibilidade as pessoas em situação de rua, mas por outro lado, ele se torna mais uma celebridade, mais um influenciador”, relata.

Indagado sobre a importância da figura do Pe. Júlio frente a questões de direitos humanos e o papel que ele tem em difundir essas lutas, Mieli aponta uma qualidade do Padre que poucos possuem, “assumir uma qualidade daqueles que sofrem”. “De tanto conviver com as pessoas desqualificadas, ele acabou assumindo isso. Ele tem prazer em ser o menor entre os menores, o que é uma coisa muito rara no ser humano”. E ressalta dizendo, “de repente você [Padre Júlio]: ‘não, eu vou lá no meio dos que estão sem nada e vamos apanhar junto com ele e vamos lá. É isso o cristianismo, “Amai ao próximo como a ti mesmo” é isso. Se coloca no lugar do outro, dois minutinhos, para ver o que é bom para tosse, ao invés de ficar fazendo atos de caridade”.

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Nações que venceram o vírus e como as pessoas estão conseguindo retomar suas vidas
por
Yerko Maurício, Manuela Troccoli, Pietra Nobrega e João Carlos Ambra.
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17/06/2021 - 12h

Em meio a pandemia de Covid-19 que o mundo está vivendo desde março de 2020, “voltar a vida normal” passa uma impressão praticamente utópica. Enquanto no Brasil, no seu pior momento da pandemia, usar máscara e passar álcool gel já viraram hábito, bem como acordar cedo para estudar ou trabalhar sem sair de casa, o sentimento de desilusão e falta de esperança não é comum em outros países.

Além de existir uma série de países que estão controlando a pandemia de forma vantajosa e eficaz - dando cada dia mais esperanças para a população - existem também aqueles que já venceram os desastres do coronavírus, e a “vida normal” voltou. Surpreendentemente não são apenas países ricos ou isolados que conseguiram rebater a pandemia, bastou o governo e a população fazerem sua parte. Como é o caso do Vietnã, por exemplo, que apesar de ser um país pouco desenvolvido - com quantidade de habitantes equivalente a metade da população do Brasil - e pobre (renda per capita equivale a um terço da brasileira), trabalhou rapidamente no combate a pandemia de Covid-19. O país só teve 35 mortes, e hoje em dia o Vietnã vive uma vida normal. 

Mesmo sendo um país pobre, agiu muito rápido com muita testagem, rastreamento de contatos, isolamento social rigoroso e uma campanha de conscientização da população que entendeu a gravidade do momento. Já no Brasil as pessoas fizeram ao contrário, decidiram passar o carnaval para agir contra o vírus e mesmo quando foi feito um isolamento imediato poucos se importaram. O maior responsável pelo caos sanitário instalado no Brasil, que está vivendo os piores momentos da pandemia é o presidente Jair Bolsonaro, assim também dos governadores, prefeitos e os deputados federais. 

O presidente deixou claro que achava tudo isso uma “gripezinha”, após usar essa expressão duas vezes em rede nacional. "No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico, daquela conhecida televisão".

Em um país onde o próprio presidente não leva a sério uma das maiores pandemias que levaram a vida 500 mil brasileiros, não podemos esperar resultados positivos. O brasileiro Diego Lopes, de 22 anos, que atualmente mora e estuda em Sidney, na Austrália, um dos países que já voltaram com a vida ativa normal, não precisa usar máscara e não se tem mais nenhum caso de coronavírus no país. Diego conta como tem se sentido aliviado. 

“O sentimento é totalmente de alívio e gratidão por termos vencido a pandemia, poder voltar a viver normalmente sem nenhuma restrição é bom demais, não ter nenhuma vida mais sendo perdida por esse vírus me conforta.” afirma.  Apesar de estar sem riscos de se contaminar, o brasileiro está bem aflito com a situação atual do Brasil.

“Minha família toda está no Brasil, e ver toda essa luta para conseguir tomar uma vacina, que é direito da população, e ainda acompanhar todo esse desgoverno é demais. Se eu pudesse traria todo mundo para ca”, diz Lopes, que também conta como foi o processo de se mudar de país e como tem sido a diferença de realidade.

“Há 3 anos me mudei para Sidney, justamente por querer viver em um país onde o governo funciona de fato, conhecer uma nova cultura, e viver essa realidade durante a pandemia foi onde senti intensamente a sensação de viver em um país de primeiro mundo e ficar triste e agoniado ao acompanhar as notícias do meu país de origem”, afirma. “Espero que o Brasil saia dessa logo, estou mandando muita força para todas as famílias que perderam alguém, e espero rever a minha em breve”, diz.   

É muito forte ver países voltando à normalidade enquanto o Brasil fica tão atrasado em relação às vacinas, um país tão grande que carrega um número assustador de mortes pela Covid-19. O que o brasileiro mais quer é ver o país como esses que foram citados, porém é possível enxergar um Brasil muito distante do que tínhamos alcançado até 2019, antes da pandemia.

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Quase tão criticado e atacado como na época da ditadura, jornalismo passa por momento complicado no Brasil
por
Raphael Dafferner, Lucas Martins e Paulo Castro
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17/06/2021 - 12h

Na segunda-feira (7/06) foi celebrado, no Brasil, o Dia da Liberdade de Imprensa. A data é comemorada por conta da forte censura que a mídia sofreu durante o período do Estado Novo e, principalmente, durante a Ditadura Militar, que perdurou no Brasil por mais de 20 anos (1964-1985). O dia se tornou ainda mais significativo após a eleição de Jair Bolsonaro, quando ataques a jornalistas se tornaram frequentes por parte do governo e de seus apoiadores.

Breiller Pires
Breiller Pires usando a camiseta do Observatório da Discriminação Racial no Futebol (foto: reprodução Twitter)

Breiller Pires, jornalista da ESPN e do El Pais, acredita que a liberdade de imprensa já estava sendo atacada mesmo antes do governo de Jair Bolsonaro, mas se intensificou desde sua eleição em 2018. Os dados confirmam a opinião de Breiller. Segundo o Relatório Anual de Violações à Liberdade de Expressão, divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), os casos de agressões contra a imprensa aumentaram em 167% de 2019 para 2020, de 56 para 150, sendo 40% do total de ataques, ligado ao nome do presidente Jair Bolsonaro. 

Além disso, os constantes ataques fizeram com que o Brasil caísse 5 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa, organizado pelos Repórteres sem Fronteiras (RSF). O país, que em 2018 se encontrava na 102ª posição, caiu para a 107ª em 2020. Segundo o presidente da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, a colocação atual se deve aos “multifacetados ataques à imprensa, que seguem uma estratégia cada vez mais bem estruturada de semear desconfiança no trabalho dos jornalistas”.

Pedro Duran
Pedro Duran, jornalista da CNN (foto: reprodução Twitter)

Os ataques mais recentes a jornalistas foram destinados a profissionais da CNN. Durante as manifestações a favor do governo de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio, o jornalista Pedro Duran, da CNN, ex-aluno do curso de Jornalismo da PUC-SP, foi alvo de agressões verbais e físicas por parte dos apoiadores do presidente, que gritavam “vai para casa” e “vagabundo” para Duran. Três dias depois, no dia 26, a jornalista Daniela Lima virou alvo dos bolsonaristas – e do próprio presidente, que a chamou de “quadrúpede”. Esses ataques se deram por conta de um erro da jornalista enquanto dava uma notícia ao vivo, quando disse que “infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos”.

A frase foi tirada de contexto e utilizada para atacar a jornalista e a imprensa em geral. Para Breiller Pires, esses ataques demonstram bem o tempo conturbado que o Brasil vive: "o jornalismo vive um período difícil, um período crítico em que está em xeque não só a liberdade de imprensa, mas a própria liberdade de expressão”, afirmou. Pires ressalta, sem citar de quem está falando, que muitos veículos que estão sofrendo esses ataques normalizaram esse discurso extremista e autoritário do atual presidente. “O extremismo se apropria de um veículo de imprensa, se aproxima de um comentarista ou jornalista que é favorável a ele e demonstra simpatia. Mas, a partir do momento que se faz jornalismo, o extremismo descarta esse dito aliado”.

Essa ofensiva contra jornalistas é maior quando se trata de mulheres exercendo a profissão, que são vítimas de xingamentos machistas. Os casos de Daniela Lima, de Patrícia Campos Mello e Vera Magalhães se destacam nesse ponto. Isso foi ressaltado por pela pesquisadora do objETHOS Janara Nicoletti, na 43° semana de jornalismo da PUC-SP.

A doutora em jornalismo mostrou que, em 2020, 64 dos 428 ataques a profissionais de imprensa eram destinados a mulheres. Desses 64, cerca de 26% foram realizados por pessoas na rua, 23% pelo próprio Jair Bolsonaro e 18% por anônimos da internet. A pesquisadora conclui dizendo que o objetivo desses ataques é intimidar as jornalistas e causar o que ela chamou de uma “autocensura”, ou seja, calar o profissional da imprensa.

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