Artista também é terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy
por
Beatriz Alencar
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14/03/2025 - 12h

A cantora Doechii foi nomeada a Mulher do Ano de 2025 pela Billboard, com o anúncio feito nesta segunda-feira (10). Com o título, a artista norte-americana tornou-se a segunda rapper a ganhar a honraria no mundo da música, a primeira foi a Cardi B, premiada em 2020.

A revista da Billboard descreveu Doechii como uma das principais artistas da atualidade a “redefinir o que é ser uma precursora na indústria musical”. Ela será homenageada em um evento da Billboard no final deste mês.

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

Foto: Divulgação álbum “Alligator Nites Never Heal” | Reprodução: Redes sociais | Fotógrafo: John Jay

A rapper, de apenas 26 anos, fortaleceu mais a carreira musical em 2024, com o lançamento do álbum “Alligator Bites Never Heal”, uma aposta de mistura entre os gêneros R & B e hip-hop. O mixtape foi indicado para três categorias do Grammy, entre eles o Melhor Álbum de Rap, marcando a primeira vez desse estilo de faixa feito por uma mulher a alcançar essa indicação.

Apesar disso, após a indicação de Melhor Álbum de Rap, Doechii foi convidada para fazer parte da faixa “Baloon” do álbum “Chromakopia”, do rapper Tyler, The Creator. A participação aumentou a visibilidade da artista que começou a fazer apresentações virais em festivais e em programas de rádio e televisão.

As composições de Doechii já viralizavam nas redes sociais desde 2020, com músicas como “What It Is” e "Yucky Blucky Fruitcake", mas as músicas não eram associadas com a imagem da artista. Foi somente após o espaço na mídia tradicional e o convite de Tyler que a rapper foi reconhecida.

Em fevereiro deste ano, Doechii se tornou a terceira mulher a vencer a categoria de Melhor Álbum de Rap no Grammy ao sair vitoriosa na edição de 2025, novamente, seguindo a história de Cardi B.

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

Foto: sessão de fotos para a revista The Cut - edição de fevereiro | Fotógrafo: Richie Shazam

A apresentação da artista norte-americana na premiação, ocorrida no dia 2 de fevereiro, também foi classificada pela Billboard, como a melhor da noite. A versatilidade, modernidade e o fato de ser uma mulher preta na indústria da música, aparecem tanto nas faixas de Doechii quanto nas roupas e shows, fixando essas características como um dos pontos principais da identidade da artista.

A rapper tem planos de lançar o próximo álbum ainda em 2025, e definiu os últimos meses como um "florescer de um trabalho longo", em declaração a jornalistas na saída do Grammy.

"Meu filho se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia, e sim, um estúdio onde faria música", diz mãe de ex-aluno do Alma de Batera
por
Vitória Nunes de Jesus
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22/11/2024 - 12h

Segundo a Federação Brasileira das Associações de Síndrome de Down (FBASD), 1 em cada 700 pessoas no Brasil nascem com Síndrome de Down. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que 2 milhões de brasileiros tenham autismo, o que equivale a 1% da população brasileira. No Brasil, estima-se que surjam pelo menos 30 mil novos casos de paralisia cerebral por ano. 

Para ajudar no processo de inclusão dessas pessoas, Paul Lafontaine criou o Instituto Alma de Batera em 2008, com o propósito de ensinar bateria para pessoas com deficiência. Os alunos acolhidos vão desde crianças até adultos.

Segundo Paul, a ideia de formar o Alma de Batera surgiu após trabalhos voluntários. “Depois de alguns trabalhos voluntários em instituições para pessoas com deficiência, eu fiquei com vontade de trabalhar na área. Decidi fazer faculdade de pedagogia e imaginava que fosse trabalhar em algum setor de alguma instituição para esse público. Mas nenhuma instituição me respondia aos e-mails que enviava para ser estagiário, e então, meu professor me ligou e me indicou para dar aulas de bateria para quatro alunos, todos eles com alguma deficiência. Foi aí que surgiu a ideia de montar minha própria instituição”.

“Escolas de música especificamente para esse público, eu não conheço e nunca soube algo voltado só para PCDs”, diz o fundador do Instituto, mesmo com tantas pessoas que podem desfrutar de projetos como este.

Raquel Chicarelli, mãe do Gian, 13, que tem paralisia cerebral, ex-aluno do Instituto, conta um pouco da experiência que tiveram no Alma de Batera. “Gian gostou muito, aprendeu a segurar a baqueta e assim a melhora na motricidade, sempre quis ir às aulas, mas por conta da rotina de terapias ficava cansado”.

Paul diz que se sente realizado em seu trabalho. “Sensação de dever cumprido. Independentemente se os alunos têm alguma deficiência ou não, para um professor é ótimo saber e ver que o trabalho feito gera um impacto positivo na vida de cada um deles”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

A mãe do Gian diz que o Instituto é um lugar que seu filho gostava e é o espaço ideal para PCDs aprenderem bateria. “Se sentia bem justamente por não ser mais uma clínica ou terapia e sim, um estúdio onde faria música com um instrumento possível para ele e sempre recebidos com carinho e alegria. Com certeza deve ser ampliado para se multiplicar pelo país”.

Paul conta as dificuldades enfrentadas na sua profissão, mas que não anulam as alegrias. “No processo de aprendizagem, a conexão entre o professor e o aluno é a parte mais difícil e primordial para trazer algum resultado prático. Sem criar conexão, não gera empatia entre ambas as partes, e assim, o conteúdo se torna irrelevante”.

Raquel conta as principais dificuldades que seu filho Gian tem para aprender e diz que a bateria é algo divertido para ele. “Gian por conta da paralisia cerebral tem muita dificuldade em manter a atenção e isso faz qualquer aprendizado ficar mais difícil, não só a bateria, mas por ser instrumento e ele gostar, tornou-se algo prazeroso para ele”.

“Todos os alunos, de alguma forma, nos mostram algum retorno positivo, seja na felicidade de querer tocar, ou na melhoria na hora da execução do instrumento, que traz uma satisfação enorme e um sentimento de pertencimento”, diz o fundador do Instituto sobre a alegria de observar a devolutiva dos alunos.

Raquel conta um pouco sobre seu filho e sua rotina. Fala sobre a falta de inclusão e diz que o convívio com as pessoas o ajuda. “Gian nasceu prematuro, teve muitas intercorrências que causaram a paralisia cerebral, afetando o cognitivo, fala e mobilidade. Cada dia é um ganho, a evolução vem dos esforços contínuos nas terapias, estimular sempre na escola, convívio com a sociedade que melhorou, mas ainda falta mais inclusão, acessibilidade.
E, persistir a evoluir nesses campos, manter os desafios diários para que ele seja o mais independente possível, proporcionando tudo que estiver ao nosso alcance”.

Imagem: arquivo pessoal
Foto: arquivo pessoal

Por fim, Paul conta uma situação, no início do projeto, que o marcou. “Bem no começo, quando ainda nem tínhamos um espaço próprio, eu alugava um estúdio e estava atendendo apenas 1 aluno na época. Era um aluno com Síndrome de Down. E eu, pensativo antes da aula começar, com a cabeça longe e acreditando que esse trabalho não iria para frente, bem desanimado, recebi esse único aluno. Não sei se ele percebeu que eu estava meio triste e desanimado, mas ele veio, me deu um abraço e me disse uma frase que nunca esqueci: “Paul, você é o melhor professor do mundo!”. Aquela frase dele me fez continuar e acreditar que, enquanto eu estiver fazendo a diferença na vida de um aluno, eu iria continuar com as aulas. Hoje temos cerca de 40 alunos, todos com alguma deficiência”.

Diante desses apontamentos, é possível concluir o quão bem faz o trabalho do Instituto Alma de Batera, e não só para os alunos, mas também para os envolvidos no projeto, pais e professores. Deveriam existir mais institutos como este, pensados em PCDs e na inclusão.

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Produzir orgânicos é um desafio que envolve altos custos, manejo artesanal e um compromisso com a sustentabilidade.
por
NINA JANUZZI DA GLORIA
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12/11/2024 - 12h

Por Nina J. da Glória

 

No coração de uma pequena fazenda nos arredores de São Paulo, a paisagem exibe fileiras simétricas de verduras, um campo verde que mais parece um quadro pintado com paciência e precisão. Cada folha simboliza uma promessa livre de químicos, cultivada à mão, mas também testemunha de um trabalho árduo, invisível ao consumidor final. Esse é o cotidiano de Mariana Silva, uma agricultora que decidiu, há quase uma década, abandonar a produção convencional para dedicar-se ao orgânico. No início, acreditava que seria um retorno ao básico, uma reconexão com a natureza. Mas a realidade mostrou-se mais densa e complexa do que o imaginado. O solo, como um organismo vivo, exigia constantes cuidados e uma compreensão que ia além dos métodos tradicionais. Cada semente carregava uma incerteza, e cada colheita trazia consigo os riscos de uma produtividade menor, vulnerável a pragas e intempéries. "O solo não aceita pressa", sua frase parece pairar na atmosfera ao redor das hortas, impregnada de paciência e resignação.

Nas redondezas, em outra propriedade de São Roque, Paulo Mendes compartilha a mesma visão, mas com uma trajetória que o levou ao orgânico por caminhos distintos. Ao contrário de Mariana, ele vem de uma família que cultivava com agroquímicos, mas sempre sentiu a necessidade de transformar as práticas de cultivo. Para ele, o orgânico é como um resgate da essência da terra, uma escolha que exige mais do que habilidades tradicionais. É um compromisso com o solo, com o ciclo de nutrientes e com o futuro. Paulo vê o campo como um delicado organismo, onde a compostagem e a rotação de culturas são essenciais, mas também um desafio financeiro. Cada safra se transforma em uma experiência quase artesanal, onde a eficácia do manejo natural precisa competir com a tentação das facilidades químicas. Esse processo, para ele, é como uma dança cuidadosa com a natureza, em que observar e respeitar o ritmo das estações torna-se tão vital quanto qualquer técnica de plantio.

                                                            Comunidade de pessoas que trabalham juntas na agricultura para cultivar alimentos

Para Mariana e Paulo, a colheita orgânica traz consigo um custo invisível ao olhar do consumidor. A vulnerabilidade às pragas, por exemplo, é uma preocupação constante. Sem pesticidas convencionais cada infestação é uma batalha natural que, muitas vezes, se perde. A introdução de insetos benéficos para conter pragas ou o uso de biofertilizantes representa um custo adicional, tornando a logística do manejo um quebra-cabeça financeiro. Além disso, há as certificações rigorosas exigidas para que o produto receba o selo de orgânico, que Mariana descreve como "um segundo trabalho", com visitas e inspeções que, embora necessárias, absorvem ainda mais recursos.

No centro dessa cadeia está Cláudia Ramos, proprietária de uma loja de produtos orgânicos em São Paulo. De seu ponto de vista privilegiado, ela percebe o esforço e as dificuldades de seus fornecedores, mas também o descompasso entre o preço desses produtos e a percepção dos consumidores. Em cada item das prateleiras, Cláudia vê um microcosmo de esforço e idealismo, mas, ao explicar as diferenças entre orgânico e convencional, enfrenta um público que ainda considera o orgânico um luxo. Ela afirma que cada produto é uma história de sacrifício, e explica que o custo mais alto representa a vulnerabilidade da produção orgânica, que exige cuidados permanentes e colheitas menos previsíveis.

                                                                                           Close-up de plantas verdes na estufa

A produção orgânica, então, emerge como uma complexa equação de valores, sacrifícios e riscos. Cada um dos envolvidos—do campo à prateleira—carrega uma parte dessa carga, como se fosse um ciclo contínuo de compromissos, onde o ideal e o real se encontram e se confrontam. A busca pela pureza e pelo cuidado no cultivo se mescla a um cotidiano cheio de dificuldades, e o produto final se transforma numa espécie de narrativa silenciosa sobre perseverança e dedicação ao que se acredita ser o melhor para o futuro do planeta e do ser humano.

Os impactos das mudanças no dia-a-dia dos pacientes e profissionais de saúde
por
Bianca Novais
Maria Eduarda Camargo
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20/11/2023 - 12h

Por Bianca Novais (texto) e Maria Eduarda Camargo (audiovisual)

 

Em um mundo pós-pandemia de Covid-19, os cuidados com a saúde deixaram de fazer parte de uma seção especial dos jornais e passaram a figurar entre os assuntos principais do cotidiano. Com a popularização dos nomes e marcas das indústrias farmacêuticas que desenvolveram e comercializam vacinas contra o coronavírus, a população passou a ficar mais atenta a outras informações sobre os produtos de saúde que consomem, em especial, medicamentos.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) publicou em 12 de dezembro de 2022 a Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 768, que estabelece novas regras para rotulagem de remédios. Kim Gonçalves, coordenador de Assuntos Regulatório de uma multinacional farmacêutica, nos conta como tem sido o processo de atualização.

 

 

Apesar da Covid-19 ter trazido mais foco para a indústria da saúde e sua regulamentação, a atualização da rotulagem era uma pauta da ANVISA há muitos anos e foi justamente a pandemia que atrasou esse processo.

 

 

 

Uma das novidades que pode ser mais perceptível ao consumidor é a "substituição" da bula de papel pelo código bidimensional: um tipo de código de barras que possui capacidade melhor de armazenar dados, inclusive dados maiores, do que códigos lineares - algo como o CPF de cada unidade do medicamento, um número de identificação próprio -, que poderá ser acessado pelo paciente através da internet.

Este é um ponto de atenção para Kim, uma vez que o acesso às tecnologias digitais no Brasil está longe do ideal. Apesar disso, a substituição é viável para a estrutura informacional que temos no país hoje:

 

 

Outro legado da pandemia, infelizmente, é o uso incorreto de medicamentos e a automedicação. Para além dos conflitos políticos e ideológicos travados durante o período da doença, que vitimou mais de 700 mil brasileiros até a redação desta reportagem, segundo o DataSUS, o perigo do mal uso de remédios não se limita ao indivíduo, mas a toda sua comunidade. A atualização das rotulagens de medicamentos também ajuda pacientes e profissionais da saúde - médicos, farmacêuticos, enfermeiros, cuidadores, psicólogos e muitos outros - a combaterem os efeitos desta outra pandemia - a de desinformação.

 

 

 

 

Na rotina do Instituto para Cegos cada som, toque e aroma ganham vida como conexões sensoriais
por
Sophia Dolores
Mariana Melo Castilho
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20/11/2023 - 12h

Ser capaz de reconhecer o som de cada carro estacionando e já esperar a visita no portão de braços abertos. O Seu Chizu e o Zé Carlos fazem isso diariamente. O Tunico e o Mathias sabem qual é, exatamente, sem errar nenhum ingrediente, o almoço que será servido no dia, antes mesmo de ser servido. A Ana e o Olavo acertam o nome da pessoa para quem dá a mão sem antes vê-la. Esses são os seis moradores do Instituto para Cegos Santa Luzia.

Instituto
Seu Zé Carlos (Foto: Mariana Melo Castilho)

Eles acordam entre 6h30min e 7h00min da manhã, tomam um café coado com bolinho de fubá, e partem para ginástica, localizada no pátio central, que fica entre a “casa dos quartos” e a “casa geral". Durante a prática da atividade física, cada um obedece seu próprio ritmo, com uma música de fundo e muita animação, a professora Dayane, fala o nome de cada exercício e descreve como executar, apesar de todos já conhecerem de cabo a rabo a sequência passada todas as segundas, quartas e sextas.

Após a prática dentro dos muros, chega a hora de caminhar pelas ruas da cidade de Araçatuba. Tonico diz que não vai sair "nesse sol". Ele afirma que está cego mas não está doido. O restante segue rumo à Avenida Pompeu de Toledo. Ao longo do trajeto, as mãos esquerdas vão apoiadas na parede, guiados pela voz da instrutora e por seus conhecimentos da área, prestam atenção a cada som, e percebendo cada desnível da calçada, o silêncio só é interrompido pela falação eterna do Zé Carlos, sempre com alguma piada pronta ou comentário pensado.

Voltando para a habitação é chegado o momento do almoço. A essa hora, todos já conseguiram sentir o cheiro do que foi preparado e sabem o menu, cada um pega seu prato de plástico para serem servidos pela Patrícia, cozinheira do Instituto. As mesas de madeira são compridas com espaço para todos sentarem juntos.

Instituto
Seu Chizu (Foto: Mariana Melo Castilho)

Um por um eles se levam e seguem para o quarto, saindo da “casa geral”, a qual abriga a cozinha, o refeitório, a sala de visitas e uma segunda sala para a parte administrativa, com computador e telefone, passam pelo pátio e vão a caminho da “casa dos quartos”, com oito quartos individuais. Para a organização do tráfego, a direita é ida e a esquerda é a volta, assim evitam acidentes de colisão na via de duas mão que é o longo e largo corredor no centro da morada.

            O descanso sagrado tem fim quando a professora de braille aparece para a aula. Como rotina, todas as terça e quintas-feiras, acontecem as classes pela parte da tarde, algumas vezes, outros deficientes visuais vão ao a entidade aprender também. Os que fazem as leituras com maestria utilizam o tempo para ajudar os outros e conhecer novos livros e histórias.

Terminando a lição, depois de um dia todo juntos, Seu Chizu conta do seu tempo como ajudante de seus pais na feira, como ia para chacará ajudar seu pai a colher o que seria vendido no dia seguinte e como não teve a escolaridade completa por não terem a assistência de que ele precisava quando criança, hoje em dia sua irmã insiste para o levar para morarem juntos em outra cidade, “com tudo do bom e do melhor” mas ele nega por já ter uma casa com tudo que precisa.

Zé Carlos relata seu acidente de moto que aconteceu depois de um dia de trabalho no escritório de contabilidade, e fala das várias cirurgias falhas para tentar recuperar sua visão, com 26 anos, preferiu ir viver no Instituto de Cegos, longe de sua família, para ter uma vida ajustada a suas necessidades “sem atrapalhar ninguém" . Seu Olavo ensina que a diabetes é uma das causas para a cegueira, e sobre como isso é comum, Ana, sua esposa, também passou pela mesma situação e hoje tem lar na fundação.

Instituto
Instituto para Cegos Santa Luzia (Foto: Mariana Melo Castilho)

Nesse momento o lanche da tarde fica pronto e eles vão comer, provavelmente depois da comida tem mais tempo livre até o jantar e antes das 19h00min estão deitados para dormir e assim, no dia seguinte, a rotina continua como na semana anterior, e a próxima será como esta, e assim, passei quase um dia todo observando com os olhos e sendo observada pela voz, pelo toque, pela força das passas, me encantei pela calma da vida levada com tempo para estar presente e, pela primeira vez, passei horas sem escutar nenhuma reclamação, tirando a parte do sol, estava muito quente mesmo.

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Quase tão criticado e atacado como na época da ditadura, jornalismo passa por momento complicado no Brasil
por
Raphael Dafferner, Lucas Martins e Paulo Castro
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17/06/2021 - 12h

Na segunda-feira (7/06) foi celebrado, no Brasil, o Dia da Liberdade de Imprensa. A data é comemorada por conta da forte censura que a mídia sofreu durante o período do Estado Novo e, principalmente, durante a Ditadura Militar, que perdurou no Brasil por mais de 20 anos (1964-1985). O dia se tornou ainda mais significativo após a eleição de Jair Bolsonaro, quando ataques a jornalistas se tornaram frequentes por parte do governo e de seus apoiadores.

Breiller Pires
Breiller Pires usando a camiseta do Observatório da Discriminação Racial no Futebol (foto: reprodução Twitter)

Breiller Pires, jornalista da ESPN e do El Pais, acredita que a liberdade de imprensa já estava sendo atacada mesmo antes do governo de Jair Bolsonaro, mas se intensificou desde sua eleição em 2018. Os dados confirmam a opinião de Breiller. Segundo o Relatório Anual de Violações à Liberdade de Expressão, divulgado pela Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), os casos de agressões contra a imprensa aumentaram em 167% de 2019 para 2020, de 56 para 150, sendo 40% do total de ataques, ligado ao nome do presidente Jair Bolsonaro. 

Além disso, os constantes ataques fizeram com que o Brasil caísse 5 posições no ranking mundial de liberdade de imprensa, organizado pelos Repórteres sem Fronteiras (RSF). O país, que em 2018 se encontrava na 102ª posição, caiu para a 107ª em 2020. Segundo o presidente da RSF na América Latina, Emmanuel Colombié, a colocação atual se deve aos “multifacetados ataques à imprensa, que seguem uma estratégia cada vez mais bem estruturada de semear desconfiança no trabalho dos jornalistas”.

Pedro Duran
Pedro Duran, jornalista da CNN (foto: reprodução Twitter)

Os ataques mais recentes a jornalistas foram destinados a profissionais da CNN. Durante as manifestações a favor do governo de Jair Bolsonaro no Rio de Janeiro, no dia 23 de maio, o jornalista Pedro Duran, da CNN, ex-aluno do curso de Jornalismo da PUC-SP, foi alvo de agressões verbais e físicas por parte dos apoiadores do presidente, que gritavam “vai para casa” e “vagabundo” para Duran. Três dias depois, no dia 26, a jornalista Daniela Lima virou alvo dos bolsonaristas – e do próprio presidente, que a chamou de “quadrúpede”. Esses ataques se deram por conta de um erro da jornalista enquanto dava uma notícia ao vivo, quando disse que “infelizmente, a gente vai falar de notícia boa, mas com valores não tão expressivos”.

A frase foi tirada de contexto e utilizada para atacar a jornalista e a imprensa em geral. Para Breiller Pires, esses ataques demonstram bem o tempo conturbado que o Brasil vive: "o jornalismo vive um período difícil, um período crítico em que está em xeque não só a liberdade de imprensa, mas a própria liberdade de expressão”, afirmou. Pires ressalta, sem citar de quem está falando, que muitos veículos que estão sofrendo esses ataques normalizaram esse discurso extremista e autoritário do atual presidente. “O extremismo se apropria de um veículo de imprensa, se aproxima de um comentarista ou jornalista que é favorável a ele e demonstra simpatia. Mas, a partir do momento que se faz jornalismo, o extremismo descarta esse dito aliado”.

Essa ofensiva contra jornalistas é maior quando se trata de mulheres exercendo a profissão, que são vítimas de xingamentos machistas. Os casos de Daniela Lima, de Patrícia Campos Mello e Vera Magalhães se destacam nesse ponto. Isso foi ressaltado por pela pesquisadora do objETHOS Janara Nicoletti, na 43° semana de jornalismo da PUC-SP.

A doutora em jornalismo mostrou que, em 2020, 64 dos 428 ataques a profissionais de imprensa eram destinados a mulheres. Desses 64, cerca de 26% foram realizados por pessoas na rua, 23% pelo próprio Jair Bolsonaro e 18% por anônimos da internet. A pesquisadora conclui dizendo que o objetivo desses ataques é intimidar as jornalistas e causar o que ela chamou de uma “autocensura”, ou seja, calar o profissional da imprensa.

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Para a apresentadora da Rádio BandNews, o jornalismo é essencial para o processo democrático
por
Pedro Bulhões
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15/06/2021 - 12h

Apresentadora do BandNews em Alta Frequência, a jornalista Gabriela Mayer, 33, conta que aprendeu muito sobre a importância da profissão ao longo da carreira. Mayer apresenta dois podcasts- Elas por Elas, na BandNews - e o Põe na Estante, sobre literatura. A jornalista, que também realizou cobertura sobre a tragédia de Brumadinho, falou em entrevista coletiva sobre sua trajetória e o panorama do jornalismo nos dias atuais.

"Parece que a notícia e o post do facebook têm o mesmo peso. É preciso encontrar maneiras de chegar mais próximo das pessoas, de forma mais eficiente" disse. 

A jornalista, que trabalha na BandNews desde 2017, com passagens pela TV Cultura, Record News e TV Gazeta, também diz que percebeu, ainda no começo do curso, o papel social da profissão e contou que para ela, o jornalismo foi "bem mais que uma escolha para prestar o vestibular".

Mayer também comentou sobre os podcasts que apresenta. A jornalista revelou que é uma leitora voraz, e que o podcast Põe na Estante, que serve como uma espécie de clube de leituras em forma de áudio, é quase inteiramente feito por ela. "Só não faço a mixagem e as capas dos episódios". 
Gabriela também deu sua opinião sobre o poder da leitura na sociedade. "Os livros são muito potentes. Imagina uma sociedade que consegue ler as entrelinhas das obras".

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Uma psicopedagoga e uma estudante decepcionada falam sobre os desafios e consequências da escolha para a vida acadêmica
por
Maria Clara Lacerda e Gabriella Maya
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13/06/2021 - 12h

É muito fácil conhecer alguém que tenha entrado em um curso e se decepcionado. A pressão sobre os estudantes em escolher uma faculdade e já decidir a carreira a ser seguida, é muito grande. Em uma conversa com uma estudante de letras decepcionada com seu curso, e com uma psicopedagoga, foi possível abordar um pouco mais sobre esse assunto.

A psicopedagoga Betty Monteiro fala da pressão exercida sobre os alunos, do sistema escolar brasileiro e de quem se sente perdido no mundo das escolhas acadêmicas.

AGEMT: Como essa pressão pela escolha de curso afeta a relação do aluno com os estudos?

Betty Monteiro: "Na verdade, essa pressão é tão séria que muitas vezes começa antes da criança nascer. A gente costuma dizer que toda família tem um filho idealizado e um filho real. Essa criança idealizada já é idealizada dentro do útero, e isso influencia absolutamente tudo, porque aí, aquele que não tem o dom ou o interesse em seguir o que foi projetado nele, costuma ser o filho fracassado. A pressão que a família exerce pro aluno seguir uma determinada profissão, ou pra que o filho seja um bom aluno, interfere muito nos estudos. Faz com que ele crie um bloqueio em relação à escolha, e sob pressão seu pensamento se fragmenta, e o aluno desiste de estudar."

Banco de Imagens IStock
Alunos cansados em sala de aula

AGEMT: Você acha que o sistema escolar do Brasil faz com que a relação do estudante com o ambiente escolar se transforme em algo ruim, negativo? E o que você acha do sistema escolar brasileiro?

Betty Monteiro: "O sistema escolar no Brasil faz com que o ambiente da escola seja algo negativo, muitas vezes. Uma coisa que eu percebo é que as escolas não investem em uma formação autodidata, ou seja, não encaminham o aluno pra aprender sozinho. Muitos professores apenas reproduzem o que eles leem, não sabem ensinar. Eles não levam o aluno a ter interesse. Eu acredito que pra gente escolher bem uma profissão, todos deviam fazer um estágio na adolescência, um trabalho voluntário, de livre escolha. 

Acredito que enquanto a gente não investir na figura do professor lá no ensino infantil, o sistema vai sempre deixar a desejar, porque tendo excelência no ensino infantil existe menos risco de o professor criar dificuldades e bloqueios. O fracasso começa lá no começo da jornada escolar, isso eu posso ver como psicopedagoga e psicoterapeuta que sou."

AGEMT: Os jovens têm esse sentimento de obrigação em escolher o que querem fazer pro resto da vida logo ao completarem 18 anos, principalmente por conta de todas as pressões ao longo da vida escolar. Como mudar isso e explicar que tá tudo bem se esse não for o caso?

Betty Monteiro: "O que eu falo pros meus jovens é que eles precisam sondar seus interesses e deixar bem claro que essa primeira escolha não precisa ser a única escolha, sempre é tempo de mudar, sempre é tempo de tentar aquilo que queríamos ter sido. Por que não fazer mais de uma faculdade ou interromper o curso que não está gostando, voltar, rever, começar outro? Sempre é tempo da gente buscar o caminho que necessitamos." 

 

 

O SENTIMENTO DE QUEM VIVE A PRESSÃO

 

Alice Severo, 22, estudante do curso de letras na Universidade Federal de Santa Maria, conta sobre a relação com o curso e o que a deixa mais decepcionada, além dos motivos que fazem com que ela permaneça na universidade.

AGEMT: Por que você escolheu o curso de letras?

Alice Severo: "Foi mais pela minha família. Eu sempre tive afinidade com literatura e língua portuguesa, mas nunca me vi trabalhando com isso, era mais um hobbie mesmo. Mas eu precisava entrar em uma faculdade logo, a nota do ENEM me colocava na primeira chamada e então eu fui."

AGEMT: O que mais te decepcionou?

Alice Severo: "O que me decepcionou foi a grade do curso que não explora tantas áreas, como escrita criativa ou até mesmo escrita na área do jornalismo ou qualquer outra coisa. Acho que a limitação é algo que me incomoda."

AGEMT: Você tem vontade de trocar de curso?

Alice Severo: "Sim e não. Trocaria pra fazer algo que tenho curiosidade e sempre quis, mas também tenho curiosidade de terminar esse."

AGEMT: Você acha que o sistema escolar brasileiro poderia ser diferente?

Alice Severo: "Acho que sim, mas acredito que isso seja um daqueles sonhos distantes que a gente passa a vida esperando ser testemunha..."

AGEMT: Você acha que ter de escolher o curso logo após sair do ensino médio fez com que você não conseguisse escolher de uma forma melhor, com mais calma?

Alice Severo: "A pressão de ter que fazer algo logo atrapalha muito. Eu tenho pouquíssimos amigos que tiveram a opção de escolher e depois mudar de curso, e mudar de novo até se achar em algo. Eu e a grande maioria tivemos que escolher a opção mais rápida e mesmo estando insatisfeitos, precisamos continuar. É todo um sistema que atrapalha uma boa parte da nossa vida, nos deixando insatisfeitos e às vezes doentes. Mas essa pressão vem desde o começo do ensino médio, então não é fácil fugir disso."

AGEMT: O que te deixa desanimada no curso?

Alice Severo: "O que mais me desanima são os professores, sinceramente. Não todos, mas aqueles que estão sempre um nível acima da gente. Isso atrapalha no aprendizado. Eles passam mais tempo se vangloriando do que passando toda a experiência para os alunos. Seria muito melhor ter uma convivência mais de colegas de profissão (em níveis diferentes, claro) do que professor-aluno." 

AGEMT: Você se sente pressionada, de algum jeito, por ter 22 anos e já ter que saber diversas coisas da sua vida? Como, por exemplo, a carreira que quer seguir, ou o que vai fazer depois que a faculdade acabar. 

Alice Severo: "Sim, muito. Mas particularmente tento não dar ouvidos a isso mais. Me deixou doente em outro momento da minha vida, e agora tento apenas viver a experiência completa pra depois decidir se preciso mesmo ter algo certo ou posso continuar tentando."


 

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Desigualdade social afeta a educação de estudantes de acordo com o tipo de instituição que frequentam
por
João Victor Rubio Tiusso, Juliana de Mello Carrara e Marcelo Ferreira Victorio
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14/06/2021 - 12h

Com o agravamento da pandemia e o caos do ensino remoto, ampliou-se a diferença entre o ensino público e privado. É evidente a existência de um contraste entre qualidade de ensino, infraestrutura, métodos, organização das aulas e a cobrança de rendimento dos alunos de acordo com o tipo de instituição observada. 

As instituições privadas investiram no uso de plataformas de aula online, enquanto as públicas se viram obrigadas a paralisar suas atividades por falta de verba. De acordo com o professor de português da rede pública e particular, Murillo Marques, “o acesso às aulas online, está com uma defasagem enorme, pois os alunos não estão absorvendo o conteúdo". Segundo ele,  mesmo assim as instituições estão cobrando mais trabalhos e provas: "Os locais de estudo em suas casas não são apropriados, não é silencioso e é cheio de distrações.” 

A desigualdade social sempre marcou estudantes brasileiros e se agravou no ensino remoto no período da pandemia da Covid-19. As aulas em EaD exigindo a disponibilidade de diversos equipamentos eletrônicos, geralmente muito caros e, portanto, inacessíveis para a maior parte da população, e conexão com a internet. Porém, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 4,3 milhões de alunos não possuem acesso à internet, por isso são privados de acompanhar as aulas online, aumentando a disparidade entre os estudantes de classe média e os de classes menos favorecidas. 

Há uma diferença entre os alunos das duas instituições: “O estudante da rede pública, muitas vezes está preocupado com o que irá comer no dia, tem que conciliar trabalho e o estudo. Muitos não veem uma boa perspectiva de um futuro melhor, abandonando assim, os estudos.” afirma Murillo. “Já o aluno do particular, entra na escola com seu caminho trilhado: passar na universidade. Há exceções, claro, mas a grande parte já entra em um ritmo que pode ser cobrado firmemente em relação ao conteúdo.”  

            A Secretaria Municipal de Educação de São Paulo liberou em 2021, a quantia de 28 milhões de reais do Programa de Transferência de Recursos Financeiros (PTRF) para o financiamento das atividades educacionais, reformas e a compra de artigos de higiene para o combate a Covid-19. Em entrevista, Solange Silva Jacinto, professora de artes da rede pública afirma que “está na hora de os governantes entenderem que as crianças não são o apenas o futuro, elas também são o presente, assim as políticas públicas precisam ser investidas na educação, para a construção de uma sociedade melhor.”

Apesar de haver muitos profissionais competentes na área, a falta de incentivo e de infraestrutura de qualidade no ensino público fizeram com que boa parte dos setores da sociedade brasileira vissem os professores e coordenadores a partir de uma ótica negativa. De acordo com uma pesquisa realizada pelo Índice Global de Status de Professores, o Brasil é a nação onde profissionais da educação possuem menos prestígio, mesmo trabalhando em uma média de 48 horas semanais, enquanto nos demais países a média geral é de 39 horas.  Uma pesquisa feita pelo IBGE diz que 48% dos professores não recomendam a profissão para outras pessoas, sendo os principais motivos a baixa remuneração e a não valorização da profissão.

Essa desvalorização faz com que os professores se sintam desmotivados e desacreditados com a própria carreira. Consequentemente, cada vez menos funcionários entram para a rede pública, que por sua vez acabou se tornando desatualizada e sucateada, com os alunos vendo pouca utilidade prática na educação. Solange conta que “a falta de investimento do Estado gera uma grande desmotivação entre os alunos, pois eles não têm uma perspectiva de um futuro melhor, não sabem o porquê de estarem estudando, e se aquilo não vai ser um diferencial na vida deles.”

A falta de democratização do ensino também afeta no ingresso dos estudantes na vida universitária, como mostra uma pesquisa feita com 97 estudantes da PUC-SP dos cursos de Direito, Jornalismo e Publicidade: 51% das pessoas são vindas do ensino privado, com a renda maior que R$ 5.500  (equivalente a 5 salários mínimos); enquanto 21%, são provenientes do ensino público, com renda média de 2200 reais (2 salários mínimos) e ingressaram na faculdade através de programas de bolsas governamentais como o ProUni e Fies.

      A democratização do ensino está ocorrendo por meio dos clubes de leituras nas lajes de comunidades, da infinidade de professores voluntários presentes diariamente nas mídias sociais e na distribuição gratuita de material escolar e livros didáticos. A democratização do ensino depende de uma experiência sistemática que possa ajudar os alunos a se expressarem bem, a se comunicar de diversas formas, a desenvolverem o gosto pelo estudo, a dominarem o saber escolar, ajudá-los na formação de sua personalidade social, na sua organização enquanto coletividade. Isto é, a democratização do ensino depende de um projeto de escola democrática.

 

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Jornalista no ramo literário, Gabriela Mayer participa de entrevista coletiva com os alunos da PUC-SP e fala sobre seu projeto “Põe na Estante”, um clube do livro no formato de podcast
por
Giulia Palumbo
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01/06/2021 - 12h

Gabriela Mayer é apresentadora e repórter especial da BandNews FM; Apresentadora do podcast Elas com Elas; Sócia-fundadora da Rádio Guarda-Chuva e apresentadora do podcast literário Põe na Estante. No mês de maio, ela concedeu entrevista para estudantes de jornalismo da PUC-SP, na qual falou sobre sua carreira e também de sua produção independente do Põe na Estante. 

Intermediada pelo professor e apresentador da TV Cultura Aldo Quiroga, a entrevista tinha uma proposta simples em que cada aluno participante teria a oportunidade de fazer uma pergunta. No geral, o “bate-papo” foi muito límpido.  A jornalista é uma leitora sagaz, como ela própria se intitula e acredita que o poder da literatura é  transformador. 

O que te motivou a estudar jornalismo?

Bom, o jornalismo não foi minha primeira opção de curso. Eu estava entre direito e jornalismo, mas na hora de preencher minha ficha no vestibular, acabei escolhendo  ele. Mas, no meio do curso encontrei muito sentido no jornalismo em cada aspecto da minha vida e hoje entendo que não foi apenas uma escolha para preencher uma ficha. Eu vejo um poder transformador no jornalismo, ainda que isso seja um pouco idealista, eu o vejo como um pilar muito importante na democracia. 

Como é feita a produção do Põe na Estante?

Ele é dividido em temporadas temáticas e eu planejo com antecedência para o entrevistado ter o seu tempo de leitura e análise da obra. Elas também variam pois em algumas eu escolho os livros ora o entrevistado, mas sempre com alguns critérios pois é muito difícil fazer essa escolha, juro! Mas elas também seguem algumas lógicas com questões atuais e também conversando entre si. 

Você acha que falta a inclusão do jornalismo literário dentro da grade jornalística uma vez  que, não temos muitas opções de veículos que abordam esse estilo?

Falta dinheiro,rs. Não é toda redação que consegue manter um repórter trabalhando na mesma história por meses, o que é um mega privilégio,- se dedicar todo esse tempo para uma única apuração -. Eu nunca vivi isso. Faço muitas coisas ao mesmo tempo e não consigo nem imaginar o que é você ter tempo para se dedicar a uma apuração. Se eu tivesse, acho que ficaria até confusa. Mas em geral, tem demanda, o que não tem é verba.

Qual sua opinião sobre a possível tributação dos livros?

Eu acho um assinte. Os livros são isentos no Brasil por uma proposta do Jorge Amado, que era deputado na época, numa tentativa de estímulo à leitura pois o brasil é um país que lê muito pouco  e quando você pára e analisa o que as pessoas estão lendo, é perceptível o espaço restrito que a literatura tem no Brasil. Então, taxar os livros sob o argumento de que só os ricos lêem e por isso é razoável taxá-los, é um descalabro completo. Até porque, se formos taxar tudo aquilo que só os ricos possuem acesso, podemos taxar grandes fortunas, o que com certeza será mais eficiente. Os livros são muito potentes. Uma sociedade leitora por completo, consegue entender as entrelinhas, ter uma amplitude de mundo, conhecer outros mundos, contar histórias,  ser dono de suas próprias palavras…

Em sua opinião, que papel a cultura desenvolve em nossa sociedade?

Bom, a importância da cultura é a importância da sobrevivência. Cultura é o que nos faz humanos. No que a gente está vivendo neste momento de pandemia, se não tivéssemos a cultura estaríamos completamente enlouquecidos. Além disso, a cultura tem o papel de nos conectar, por vários motivos, pois a cultura seja ela no livro ou não, ela conta uma história. A arte é aquilo que colocamos para fora e isso é uma forma de comunicação. No fundo, eu acredito que é pela comunicação que a gente vive pois ela permite nossas interações. Ou seja, é algo tão potente que eu me conecto com você sem ao menos te conhecer. 

Qual foi a matéria mais importante de sua vida?

Brumadinho! Essa foi a cobertura mais importante que já fiz em minha vida. Foi importante tanto para minha vida pessoal quanto para minha carreira. Por mais que eu não publique, continuo acompanhando o caso. Não foi uma matéria tranquila e relembrar também não é. Eu cabei tendo um envolvimento emocional muito grande na cobertura de Brumadinho. Quando isso acontece, há um desafio extra. Eu não acredito em um jornalismo frio e distante, mas a carga de emoção pode nublar sua capacidade de narrar a história, dessa forma, acaba sendo mais difícil trabalhar. 

Sua carreira começou na televisão e depois migrou para a rádio. Existe algo que você sente falta?

Olha, quando eu fui fazer rádio, eu ouvia muito das pessoas que rádio é apaixonante. Hoje, eu sou uma dessas pessoas. O rádio tem potência, agilidade e proximidade, que são encantadoras. Por outro lado, eu sempre fui muito apegada à imagem. Sou uma pessoa muito visual. A construção de histórias com imagens sempre fizeram muito sentido pra mim. Talvez seja isso o que mais sinto falta da televisão como plataforma.

Até agora, qual foi seu maior desafio nas rádios?

A linguagem da televisão é totalmente diferente da rádio e essa foi minha principal dificuldade. Porque é outro jeito de contar histórias, então eu tive que aprender a descrever muito bem, uma vez que não usamos imagens. Além disso, a apresentação na rádio é mais freestyle, diferente da  televisão, que é algo mais roteirizado. Ou seja, você precisa ter uma  capacidade de improviso, o que eu não tinha quando comecei. Inclusive, chorava todos os dias quando cheguei porque pensei que não ia conseguir,  mas hoje deu certo. 

E como foi sua volta à televisão, continuando na rádio? 

Foi excelente. Voltei muito melhor por ter adquirido os hábitos da rádio como o improviso. E lógico, aprendi muito com os meus colegas.  

Como você lida com sua exposição, uma vez que está em posição de destaque?

Eu lido mal. Sou muito suscetível aos comentários. tem gente que consegue não se importar, mas eu não consigo.  Uma vez na Tv Cultura um telespectador disse que eu não deveria apresentar o jornal e muito menos ficar de pé pois o meu corpo não era adequado para ser apresentadora de televisão. Isso me deixou arrasada porque eu  tenho uma relação muito difícil com o meu corpo.  Era um comentário sobre isso, mas me abalou. Meus colegas homens, não recebem críticas sobre seus corpos, apenas sobre o conteúdo, já os meus, estão sempre atrelados ao fato de eu ser mulher.

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