Por Artur Ferreira
Todos os dias, novos casos de Covid-19 são registrados no Brasil. Além disso, o número de mortes cresce diariamente. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 14 de abril, o coronavírus causou mais de 1.500 mortes e contaminou mais de 25 mil brasileiros.
Além dos dados alarmantes, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB) afirmam que o Brasil possui um número de pessoas infectadas 15 vezes maior que o registrado oficialmente.
A estimativa dos especialistas do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas das duas instituições, é que o Brasil já havia passado dos 313 mil infectados até 11 de abril. O estudo também foi divulgado no dia 14 deste mês e afirma que a baixa quantidade de testes feitos gera um alto índice de subnotificações de casos.
No Brasil, além dos decretos de quarentena que permanecem vigentes em diversos estados, a criação de hospitais de campanha para o combate ao vírus também tem estimulado a contratação de profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros e farmacêuticos.
Enquanto médicos e enfermeiros dividem o ambiente hospitalar com as pessoas com suspeita ou confirmação do vírus, os profissionais das drogarias estão expostos ao contato constante com dezenas de pessoas diariamente.
Pois, da mesma forma que hospitais e postos de saúde, farmácias e drogarias não podem parar sua operação. Os farmacêuticos, além do estresse gerado pela pandemia, muitas vezes têm trabalhado mais do que o habitual, devido ao cuidado maior com a higienização das farmácias e a assistência para clientes sobre remédios e substâncias em geral.
Segundo dados de 2018 do Conselho Federal de Farmácia, os farmacêuticos representam 221 mil dos brasileiros. O número de farmácias e drogarias supera 87 mil no setor privado e 11 mil na administração pública.
Carina França de Carvalho faz parte dessa parcela da população, e trabalha em uma rede de drogarias na Zona Sul de São Paulo. A farmacêutica afirma que, mesmo não tendo havido aumento da carga horária, a cobrança se intensificou muito.
De acordo com Carina, uma de suas principais tarefas hoje é orientar os clientes em relação a medicamentos. Ela conta que, além do balcão, chega a atender pessoas por WhatsApp.
Além dos clientes, os atendentes da drogaria também precisam seguir uma série de orientações, principalmente quando se trata de medidas de higiene, explica a profissional.
Segundo Carina, o farmacêutico também tem que “ensinar a eles [a equipe] como lidar com esse paciente que vem do hospital, até mesmo casos confirmados [de coronavírus]”. Ela também cita a importância do apoio psicológico em um momento desses de crise.
“É importante ressaltar que a gente não tenha nenhum preconceito, mesmo com o paciente com caso confirmado”, explica Carina, pois a farmácia deve estar preparada para receber essas pessoas.
Ela completa dizendo que, em casos como esse, o profissional da linha de frente se torna mais alerta com a própria higienização. Mas isso nunca deve se tornar uma forma de preconceito ou um motivo para evitar atender pessoas contaminadas com a Covid-19. “É uma questão de ética”, define.
As orientações vão além das medicações. Os farmacêuticos também podem ser consultados sobre os sintomas causados pelo vírus – na maioria das vezes, para não confundi-los com os de outras doenças –, a necessidade de ir ou não ao hospital, entre outros detalhes que podem evitar o contágio desnecessário ou uma automedicação.
A automedicação é um grande risco. Carina deixa bem claro que uma das principais funções de sua profissão é evitar que o paciente se medique por conta própria, o que pode ser fatal. .
Fora do ambiente de trabalho
Carina diz que o marido também trabalha no ramo farmacêutico. O filho do casal também atua na área, mas já não mora com os pais desde que se casou.
Porém, a farmacêutica relata que é a responsável pela sua mãe, que já tem 70 anos, e que realiza todos os cuidados necessários para o mínimo de interação com ela.
Conta que faz as compras e deixa no portão da casa da mãe, com o alerta de que higienize com com álcool tudo que recebe. E liga constantemente para saber se a mãe está bem e se necessita de algum apoio.
“Eu não quero só proteger a minha mãe da Covid, mas impedir que ela entre em uma depressão por se sentir sozinha”, explica Carina. A rotina de orientação e cuidado também é feita com seus sogros, que moram próximo de sua casa, e seu filho.
Desde o início da pandemia, Carina e o marido seguem uma disciplina rigorosa: assim que chegam em casa, lavam todas as roupas usadas durante o dia e higienizam, um a um, os objetos que manusearam, como chaves e celulares. .
Depois desse processo, os dois sempre tomam um banho para que, aí sim, possam descansar com segurança. A casa também tem sido limpa com mais frequência.
O que o sindicato tem feito pelos farmacêuticos?
A presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sinfar), Renata Gonçalves, explica que a atuação dos farmacêuticos vai além do varejo. Eles também podem estar presentes na indústria, hospitais e pesquisa científica.
A presidente conta que a distribuição variada dos profissionais da categoria acaba por dificultar a atuação do sindicato, já que o trabalhador que deverá ser auxiliado pode enfrentar os problemas mais diversos.
E, no momento de crise causada pela Covid-19, Gonçalves explica que a rotina do sindicato foi mudada da noite para o dia. A presidente entende que em crises anteriores na área da saúde, como a do H1N1, o peso para a categoria nunca foi tão grande como agora.
Devido à intensidade que a pandemia adquiriu no Brasil, a equipe do Sinfar tem redobrado sua atenção para as demandas, dúvidas e pedidos de orientações jurídicas dos profissionais da farmácia. “Nenhum profissional está ficando sem atendimento”, garante Gonçalves.
A dirigente explica que, atualmente, todas as ações do Sinfar estão sendo realizadas de forma remota, evitando o contato físico e a exposição de pessoas.
E, mesmo sendo parte da linha de frente, farmacêuticos também não estão imunes a demissões. De acordo com a presidente, as ações do sindicato estão muito voltadas para “que não haja demissões em massa e prejuízo na condição de trabalho do profissional”.
A sindicalista também conta que, em relação aos empregadores, qualquer forma de negociação para redução de salários, devido à crise, necessita de um acordo prévio com o sindicato, para a proteção das condições de trabalho do farmacêutico.
“A gente entende que a negociação direta entre patrão e empregado pode ser muito prejudicial ao trabalhador. Acaba pesando muito mais a pressão do patrão”, diz a presidente.
Entre as diversas ações em favor do profissional, Gonçalves cita a demanda do sindicato sobre a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) da categoria em caso de calamidade.
Porém, a presidente diz que a Caixa Econômica Federal ainda tem negado esse pedido, já que só liberaria o FGTS em caso de um “desastre natural”, como rompimentos de barragens e enchentes. O Sinfar está aguardando que a Caixa analise a demanda argumentando que uma pandemia como essa nunca poderia estar prevista na lei, e que o benefício precisa ser liberado ao trabalhador.
Renata Gonçalves conclui que, mesmo antes da crise, mais direitos eram pleiteados pelos farmacêuticos todos os anos, como é o caso do vale-refeição e da classificação de insalubridade para a atividade. E, agora, essa luta só se intensifica devido à importância desse profissional nesse momento de crise da saúde pública.
Algo que não era falado e vivenciado antes, hoje faz parte do cotidiano de todo mundo: a quarentena. Devido à disseminação de uma nova doença na sociedade, a Covid-19, a recomendação é que ninguém saia de casa. Com isso, um sentimento pouco percebido se intensificou durante esse período, que é o medo. Ele consiste em um estado afetivo que surge em resposta à consciência diante de uma situação de eventual perigo; é algo que faz parte da nossa defesa e está intrinsecamente ligado ao nosso subconsciente, que nos alerta sobre situações de risco.
Como uma forma de conter a disseminação do vírus, o governo implementou o sistema de isolamento horizontal, que consiste em uma medida mais abrangente de distanciamento social, que pode envolver desde o fechamento de escolas, museus, shoppings, estádios, até o 'lockdown', no qual o governo proíbe completamente o fluxo de pessoas e estabelece multas, ou até prisões, para aqueles que o descumprirem.
A partir desse novo cenário, as empresas se viram inseridas em uma situação na qual tiveram que tomar medidas que antes não eram cogitadas e hoje já fazem parte da realidade dos empregados. O sistema home office é uma delas. Como uma forma de manter o ambiente de trabalho e seus funcionários saudáveis, todos começam a trabalhar em casa, seja em um esquema 'full-time' ou em um regime de escala, em que se vai ao local de trabalho uma vez por semana, e nos outros dias se trabalha remotamente, por exemplo.
Além disso, criou-se uma Medida Provisória (MP) que permite a diminuição da jornada de trabalho e do salário em até 70% pelo prazo máximo de 90 dias. O contrato de trabalho também pode ser suspenso completamente de forma temporária.
Todas essas decisões e medidas foram criadas para diminuir o impacto da crise econômica, porém, ao mesmo tempo, contribuíram para um cenário de medo. Esse sentimento cresce constantemente, está presente no dia a dia dos trabalhadores, e acaba por gerar angústia, a incerteza de não ter um lugar garantido na empresa, não ter mais a renda fixa do mês garantida e o conforto da rotina.

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, em uma entrevista concedida à BBC News Brasil, a pandemia gerou três perfis de comportamento: o tolo, que tende a negar a situação dramática como maneira de enfrentar o medo; o perfil desesperado, que se angustia ainda mais com a situação; e o confuso, que transita entre esses dois polos, sem saber direito como deve agir e pensar. Todos esses perfis derivam do medo, da incerteza e da falta de controle da situação.
Todos se veem expostos a algo novo, desconhecido, e que pode nos afetar de diferentes maneiras. Uma estagiária, que não quis se identificar, falou com a Agemt sobre o medo de ter seu contrato suspenso. "O estagiário vive sempre na incerteza. Parece que nós somos superdescartáveis e que a qualquer momento não vão mais precisar da gente. Temos que mostrar nosso valor, mostrar que eu consigo, que dou conta do que me pedem."
O estagiário sofre com essa sensação diariamente ao ter que provar seu conhecimento e aprendizado para não perder sua posição na empresa. Porém, no contexto atual, qualquer trabalhador está sujeito a esse medo. É o que mostra uma pesquisa da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ebape), feita pelos pesquisadores Marco Tulio Zanini e Eduardo Andrade.
A pesquisa entrevistou 620 executivos de diversos cargos, como o de CEO (diretor-presidente), diretores-executivos e gerentes. O levantamento mostrou que esses profissionais não se sentem imunes ao desemprego, mesmo ocupando posições de alto escalão. Isso ocorre devido aos impactos econômicos da Covid-19, que tendem a elevar fortemente as demissões. Para 47% dos entrevistados, o desemprego já é motivo de preocupação, embora não acreditem que isso vá acontecer. Já 14,7% acham que é muito provável ou quase certo que serão desligados.
De acordo com a consultora de carreiras Angélica Kuntz, é necessário saber lidar com esse medo. Segundo ela, uma das formas para fazer isso é pensar em perspectivas fora da situação atual. "Eu sempre incentivo que os clientes que eu atendo tenham planos A, B e C. Então, esse é o momento de realmente olhar para dentro, fazer uma lista de coisas ou de produtos que você tem para oferecer ao mercado, e começar a pensar em outras possibilidades que podem interdepender deste trabalho em si. Se a gente tiver a certeza de que estamos fazendo o melhor que a gente pode naquele momento, certamente isso vai trazer um conforto emocional e nos preparar para um momento que talvez seja esse desemprego."
Angélica diz que o trabalhador deve usar o medo a seu favor, pensando se de fato está contente em seu emprego, se tem interesse em permanecer na equipe neste momento de incertezas e, possivelmente, se dispor para uma demissão. É uma situação em que na maioria das vezes é necessário sair da zona de conforto e se permitir novas vivências.
Na visão da consultora, o desempenho pode ser afetado, porém é necessário manter a calma e estar alinhado com o propósito daquilo que se está fazendo. A crise econômica gera medo, afinal é uma situação da qual não se tem controle, mas é importante ver até que ponto esse ponto é administrável ou não, e procurar ajuda se for preciso. Em tempos de instabilidade, há muito apoio profissional para aprender a lidar com o momento da melhor maneira possível, e evitar, além do colapso econômico, um colapso emocional.
O auxiliar administrativo Guilherme Moura conta que foi desligado da empresa onde trabalhava no dia 26 de março, dois dias depois da quarentena obrigatória ser decretada no estado de São Paulo. Ele mora na cidade de Barueri (SP), tem dois filhos e sua mulher é representante de vendas. A mulher continua trabalhando de casa, mas o número de clientes diminuiu, afetando seus ganhos. “Já vou atrás de outro emprego, mas por enquanto vou ter que me virar com o dinheiro da rescisão”, afirma Guilherme.
Infelizmente, ele não é o único brasileiro demitido por causa da crise gerada pelo COVID-19. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre) calcula que a taxa de desemprego, que antes da pandemia era de 11,6%, chegará a 16,1% no segundo trimestre deste ano. Caso a previsão se confirme, o número de desempregados saltará de 12,3 milhões para 17 milhões. Ou seja, 5 milhões de pessoas vão perder seus postos de trabalho.
Quem também está entre essas pessoas é Yasmin Colombo, que estagiava em um cartório da cidade de Campinas (SP). Antes de a quarentena começar, havia recebido a notícia de que seria efetivada. Mas, no dia 24 de março, soube que seria desligada. Ela tem a esperança de voltar a trabalhar no local depois que a quarentena acabar.
Yasmin mora com sua mãe, Adriana Colombo, supervisora de atendimento. Adriana poderia estar trabalhando de casa, mas não tem computador. “Ela está sofrendo uma pressão terrível da empresa, que não fornece para ela ferramentas para trabalhar”, diz Yasmin.
A faculdade de Yasmin é paga pelo pai, que é empresário. A garota teme os impactos da crise sobre seus estudos, pois as atividades da empresa do pai diminuíram e, diante disso, ela talvez tenha que trancar o curso.
Assim como Guilherme, Yasmin afirma que já vai começar a mandar currículos para outros lugares. A coach e mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica Kuntz avalia que, para quem perdeu o emprego, o melhor a fazer é atualizar o currículo e adaptá-lo aos novos objetivos de trabalho.
Angélica indica o Linkedin como uma boa ferramenta para se reinserir no mercado de trabalho. Segundo ela, a plataforma é o mecanismo de busca mais utilizado por profissionais de recursos humanos. Seguir as dicas de especialistas em recolocação também pode ser interessante para ter um perfil mais competitivo na busca por emprego.
Angélica reconhece, no entanto, que o momento não é o melhor para abordar RH’s. “Há vagas dispostas no mercado, porém grande parte delas é para fazer banco de currículo, que só será usado quando a empresa voltar a contratar”, afirma .
De acordo com a especialista, esse momento de quarentena é ideal para fazer cursos online e, com isso, melhorar suas competências. É importante pensar que cursos se encaixam nas atribuições exigidas em possíveis vagas a que o desempregado pretenda se candidatar no futuro. Várias plataformas oferecem cursos gratuitos ou de baixo custo.
Para quem está empregado e teme ser demitido, Angélica afirma que uma boa ideia é conversar com o RH e procurar saber se existem, de fato, perspectiva de desligamento. Neste caso, o profissional pode tentar um acordo com a empresa que evite a demissão.
A MP 936 permite que os empregadores reduzam a carga horária e os salários dos funcionários. Também pode haver suspensão temporária do contrato de trabalho. Nos dois casos, o governo vai compensar parte da perda de remuneração do trabalhador. O valor da compensação tomará como base o valor mensal do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito. E vai depender de como foram feitas as alterações no contrato.
Mesmo com essas medidas, o número de desempregados vai crescer e a situação deve demorar para melhorar. Na recessão de 2015 e 2016, por exemplo, a taxa de desemprego subiu de 7% para 13%, mas só caiu 2,5 pontos percentuais nos últimos três anos.
Para ajudar quem busca emprego
Além das dicas já dadas, a mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica faz mais alguns lembretes:
- No Linkedin não diga que está busca de recolocação. As empresas procuram um profissional de determinada área e não alguém em busca de recolocação;
- Sempre deixe seus contatos (e-mail e telefone) em fácil acesso;
- Ative suas notificações, acesse e responda seus e-mails;
- Nunca pague por nenhuma entrevista. Empresas sérias não cobram por recrutamento;
- Mantenha-se ativo no Linkedin e tenha uma rede de pessoas que podem indicá-lo;
- Tenha uma estratégia, faça uma lista de empresas que você tem como alvo. Não empresas dos sonhos, mas lugares que podem absorver seu perfil.
Angélica também deixou modelos de currículo, que podem ser baixados aqui.
A origem do narguilé é incerta. Muitos dizem que surgiu entre os indígenas em antigos povos asiáticos, mas há quem aponte o Egito como seu lugar de nascimento. Apesar disso, o produto se tornou conhecido no Brasil recentemente e num modelo mais incrementado em relação a forma original. Além disso, a fumaça inalada hoje resulta não apenas da combustão de plantas, como tabaco e maconha, mas de misturas muito mais sortidas, que incluem melaço, glicerina e essência de fruta, ampliando as possibilidades de gosto e aroma.
Atualmente o Brasil tem mais de 300 mil fumantes de narguilé. Entre aqueles que declaram fumar diariamente, 63% têm entre 18 e 29 anos e 37% estão entre 30 e 39 anos, o que demonstra que os jovens são os maiores usuários de tabaco, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo no ano de 2015, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Hoje em dia, percebe-se um aumento do consumo tanto nas grandes cidades quanto em municípios de menor porte. Em alguns casos, a expansão é atribuída à falta de opções de lazer, como shows, cinemas, teatros ou até mesmo baladas noturnas.
Especialistas alertam para os riscos do hábito. O tabaco causa dependência devido à nicotina, podendo tornar os usuários do narguilé fumantes de cigarros tradicionais. Mas, no caso do narguilé, a intoxicação do usuário com monóxido de carbono é ainda maior.
A Organização Mundial da Saúde afirma que uma sessão de narguilé de 20 a 80 minutos corresponde à exposição de componentes tóxicos presentes na fumaça de cem cigarros. O cigarro é o produto derivado do tabaco mais consumido no Brasil. A produção e o consumo de outros produtos manufaturados a partir do tabaco representam uma parcela pequena do mercado.
Atualmente, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer) 14,7% da população é fumante. Consequentemente, quanto maior o consumo de cigarros, maiores são os gastos com cuidados médicos - e, portanto maiores os custos econômicos para a sociedade. Ainda de acordo com Inca, o Brasil gasta anualmente R$ 57 bilhões com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e com despesas indiretas.
Ou seja, considerando os impactos do tabaco no País a balança é deficitária, pois mesmo com alta arrecadação de impostos não é possível suprir os gastos com cuidados de saúde causados pelo produto.
O Brasil é referência mundial em políticas antitabagistas e foi o segundo no mundo ao alcançar as medidas de controle estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste ano, o país assumiu a coordenação do Órgão Intergovernamental de Negociações da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da OMS, adotando um papel de liderança no controle do tabaco no cenário internacional, apesar de ser um país em desenvolvimento e um grande produtor de tabaco.
Curiosamente, o Brasil também é um dos maiores produtores de tabaco, se não o maior A produção se concentra na região Sul, que responde por cerca de 95% da produção nacional.
De junho de 2018 a maio deste ano, o tabaco e seus produtos geraram uma receita de exportação de US$ 2,1 bilhões.
O valor bruto da produção (VBP), tomando como indicador de faturamento, é de R$600,9 bilhões. (Gazeta, 2019)
Lucas Escobar morava em São Paulo e há três meses voltou para sua cidade natal, Cuiabá (MT), onde ele abriu sua tabacaria “Muzie Tabacaria e Lounge”. Diante esse assunto, ele respondeu algumas perguntas:
Por que decidiu abrir uma tabacaria?
Primeiro porque hoje em dia é mais fácil ganhar dinheiro com o vício das pessoas, tanto com comida, bebida, tabaco, entre outros.
Em segundo, é pelo gosto da cultura, que não é bem vista por conta de algumas tabacarias.
Você tem notado um aumento de consumo?
Com certeza, na minha adolescência eu já fazia consumo mas fumava cigarro, hoje vejo que muitos jovens aderem diretamente ao narguilé tanto pelo gosto quanto pela sociabilidade que ele trás.
Por que abrir em Cuiabá?
Cuiabá é a cidade em que eu cresci e vejo que aqui há público sobrando, então uni o útil ao agradável.
Qual a faixa etária de pessoas que vão à tabacaria?
Isso varia muito, apesar de eu e meu sócio não aceitarmos menores de idade, a procura deles é grande, mas os que mais frequentam têm entre 18 e 25 anos.
Por que você acha que as pessoas mais novas recorrem ao narguilé?
Por conta do cheiro que fica, narguilé é mais suave que cigarro.
Também o fato do fácil acesso a isso, por mais que seja "ilícito" (proibida venda a menores). Acredito que seja por vontade própria de fumar e se tornar aceito em seus grupos sociais.
Quanto você fatura até o fim do mês?
Faturamento bruto com a pegada sossegada da minha tabacaria, porque não faço festa, nem vendo bebidas destiladas, é algo em torno dos R$ 20 mil.
Quanto você paga de impostos?
A aquisição dos produtos é toda feita dentro do estado, que no caso é isenta, fora alguns casos como carvão e acessórios que compramos de distribuidoras em São Paulo SP e Paraná , aí sim, incidindo ICMS. Mas, como não são compras frequentes, acabam sendo valores irrisórios.
Há uma tendência de aumento do tabagismo na faixa etária mais jovem, até 24 anos. Numa pesquisa rápida feita com 30 pessoas pelo Instagram, os gastos com tabaco para cigarro e narguilé são de R$ 150 a R$ 600 ao mês. A idade das pessoas consultadas varia de 19 a 28 anos.
Joyce Botelho, 20 anos, que atualmente também trabalha em tabacaria como atendente, começou a fumar narguilé há seis anos. Ela disse que em outubro gastou exatos R$ 580 com o hábito.
Por que gastar esse valor em narguilé sabendo que poderia ser gasto em outras coisas?
Eu entendo que é um valor alto de se gastar... Porém, é algo que eu gosto.Eu fumo quando não tem nada para fazer, às vezes chego só a raiva do serviço e tudo que eu quero é sentar e fumar. A sensação de pegar o narguilé, lavar e preparar, é como se fosse um calmante.
E pra mim também virou um trabalho, onde eu experimento sabores para poder falar o que é bom ou não para os clientes. Não tem sensação melhor que um cliente chegar a te esperar atendê-lo porque tem confiança em você.
Então nem me vem à mente gastar em outras coisas, porque eu gosto de gastar mesmo com isso.
Você tem medo a longo prazo de ter algum problema de saúde?
Minha crença é que nossa história já está escrita e se tiver que acontecer, vai acontecer. Claro que posso estar adiando, fazendo acontecer mais rápido, né. Mas medo eu não tenho.
Com a abrupta redução de 98% do teto de captação da Lei Rouanet, o atual governo praticamente inviabiliza a montagem de títulos internacionais renomados e preocupa os profissionais e admiradores de teatro musical no país. Diante da ameaça iminente, produtores solicitaram à Fundação Getúlio Vargas (FGV) um estudo completo da movimentação financeira gerada pelos espetáculos na cidade de São Paulo, onde há a maior quantidade de peças do circuito.
Calculando os valores que as produções e os espectadores de teatro musical fizeram circular na cidade no ano passado, a conta passa de R$ 1 bilhão, segundo o estudo da FGV. Ou seja, uma indústria extremamente lucrativa para a cidade.
Muito além do que se vê em cena, as grandes montagens envolvem um espectro abrangente de profissionais que extrapolam as atividades artísticas propriamente ditas. Do setor administrativo, que envolve a parte jurídica e contábil, até as camareiras do teatro, quase 13 mil postos de trabalho foram gerados do início ao final de 2018 na capital paulista em decorrência dos espetáculos, o que corresponde a R$ 196 milhões em movimentação financeira.
Fora isso, o gênero também alimenta o turismo da cidade, pois cerca de 38% do público vem de outros estados. A soma de gastos com alimentação, hospedagem, lazer e transporte chega a R$ 813 milhões, o que significa que 80% da movimentação econômica é gerada justamente por despesas extras dos espectadores. Indo mais a fundo nesse ponto, o Estado, por possuir um sistema tributário em que quase metade do que é coletado vem dos impostos sobre bens e serviços, é beneficiado pela indústria. O estudo da FGV aponta que, para cada R$ 1 investido, o retorno em tributos é de R$ 1,92, quase o dobro.
Essa movimentação financeira é o retorno de um investimento também grandioso que há por trás de cada montagem. A Lei Federal de Incentivo à Cultura, inclusive, existe por causa disso. Os títulos que mais atraem público são geralmente os mais custosos. Lucas Melo, que é produtor, explica: "O custo se eleva muito por conta dos direitos autorais, até porque se paga em dólar, e também pela dimensão do espetáculo". Para trazer um musical nos moldes de "Wicked", por exemplo, existe um contrato que exige cenários e figurinos fiéis aos da Broadway, para que o espetáculo não seja descaracterizado.
A primeira adaptação da Broadway realizada no Brasil foi “My Fair Lady”, na década de 1960, mas o gênero só se estabeleceu de fato quando a empresa Time for Fun (T4F) comprou os direitos de "Os Miseráveis". Em cartaz durante o ano de 2001, o público alcançado na época foi de 300 mil pessoas. No ano seguinte, com a montagem de "A Bela e a Fera", o número de espectadores dobrou e o mercado dos musicais passou por um processo de consolidação que já dura mais de 15 anos. Os profissionais e as empresas produtoras se especializaram e se multiplicaram durante esse período.
Importar peças dessa dimensão só foi possível pois o teto de captação da Lei Rouanet permitia que um projeto arrecadasse até R$ 60 milhões. O atual governo reduziu para R$ 1 milhão esse valor. Só "O Fantasma da Ópera", que atualmente está em cartaz no Teatro Renault, arrecadou pela Rouanet R$ 24 milhões para realizar essa temporada. Fernando Alterio, dono da T4F, empresa que está à frente da produção, declarou recentemente ter cancelado a negociação do título que pretendia trazer para o próximo ano.
Apesar das dificuldades, profissionais da área não acreditam que o gênero estará extinto devido às mudanças na Lei de Incentivo, pois um dos legados do crescimento do mercado foi justamente a expansão do teatro musical nacional. Muitas peças de grande valor artístico são produzidas atualmente. Entretanto, do ponto de vista mercadológico, não são espetáculos que costumam atrair público da mesma forma que peças internacionais, logo a lucratividade não será a mesma.
Melo, que trouxe a produção de "Os Últimos Cinco Anos" em 2019, não está muito otimista com o ano que vem. "Para o meu próximo espetáculo, com R$ 1 milhão, 60% do orçamento é só para pagar os direitos. Já tive que reduzir a temporada para um período muito menor e é isso. O que vier de fora, se é que virá algo, vai ser assim, um ou dois meses em cartaz, com ensaios mínimos e as pessoas recebendo quase nada."