A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

por
Artur Ferreira
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29/04/2020 - 12h

Por Artur Ferreira

 

Todos os dias, novos casos de Covid-19 são registrados no Brasil. Além disso, o número de mortes cresce diariamente. Segundo o Ministério da Saúde, até o dia 14 de abril, o coronavírus causou mais de 1.500 mortes e contaminou mais de 25 mil brasileiros.

Além dos dados alarmantes, pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB) afirmam que o Brasil possui um número de pessoas infectadas 15 vezes maior que o registrado oficialmente.

A estimativa dos especialistas do portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas das duas instituições, é que o Brasil já havia passado dos 313 mil infectados até 11 de abril. O estudo também foi divulgado no dia 14 deste mês e afirma que a baixa quantidade de testes feitos gera um alto índice de subnotificações de casos.

No Brasil, além dos decretos de quarentena que permanecem vigentes em diversos estados,  a criação de  hospitais de campanha para o combate ao vírus também tem estimulado a contratação de  profissionais da saúde, como médicos, enfermeiros e farmacêuticos.

Enquanto médicos e enfermeiros dividem o ambiente hospitalar com as pessoas com suspeita ou confirmação do vírus, os profissionais das drogarias estão expostos ao contato constante com dezenas de pessoas diariamente.

Pois, da mesma forma que hospitais e postos de saúde, farmácias e drogarias não podem parar sua operação. Os farmacêuticos, além do estresse gerado pela pandemia, muitas vezes têm trabalhado mais do que o habitual,  devido ao cuidado maior com a higienização das farmácias e a assistência para clientes sobre remédios e substâncias em geral.

Segundo dados de 2018 do Conselho Federal de Farmácia, os farmacêuticos representam 221 mil dos brasileiros. O número de farmácias e drogarias supera 87 mil no setor privado e 11 mil na administração pública.

Carina França de Carvalho faz parte dessa parcela da população, e trabalha em uma rede de drogarias na Zona Sul de São Paulo. A farmacêutica afirma que, mesmo  não tendo havido aumento  da carga horária, a cobrança se intensificou muito.

De acordo com Carina, uma de suas principais tarefas hoje é orientar os clientes em relação a medicamentos. Ela conta que, além do balcão, chega a atender pessoas por WhatsApp.

Além dos clientes, os atendentes da drogaria também precisam seguir uma série de orientações, principalmente  quando se trata de medidas de higiene, explica a profissional.

Segundo Carina, o farmacêutico também tem que “ensinar a eles [a equipe] como lidar com esse paciente que vem do hospital, até mesmo casos confirmados [de coronavírus]”. Ela também cita a importância do apoio psicológico em um momento desses de crise.

“É importante ressaltar que a gente não tenha nenhum preconceito, mesmo com o paciente com caso confirmado”, explica Carina, pois a farmácia deve estar preparada para receber essas pessoas.

Ela completa dizendo que, em casos como esse, o profissional da linha de frente se torna mais alerta com a própria higienização. Mas isso nunca deve se tornar uma forma de preconceito ou um motivo para evitar atender pessoas contaminadas com a Covid-19. “É uma questão de ética”, define.

As orientações vão além das medicações. Os farmacêuticos também podem ser consultados sobre os sintomas causados pelo vírus   na maioria das vezes, para não confundi-los com os de outras doenças –,  a necessidade de ir ou não  ao hospital, entre outros detalhes que podem evitar o contágio desnecessário ou uma automedicação.

A automedicação é um grande risco. Carina deixa bem claro que uma das principais funções de sua profissão é evitar que o paciente se medique por conta própria, o que pode ser fatal.  .

 

Fora do ambiente de trabalho

 

Carina diz que o marido  também trabalha no ramo farmacêutico. O filho do casal também  atua na área, mas  já não mora  com os pais desde que se casou.

Porém, a farmacêutica relata que é a responsável pela sua mãe, que já tem 70 anos, e que realiza todos os cuidados necessários para o mínimo de interação com ela.

Conta que faz as compras  e  deixa no portão da casa da mãe, com o alerta de que   higienize com  com álcool  tudo que recebe. E  liga constantemente para saber se a mãe está bem e se necessita de algum apoio.

“Eu não quero só proteger a minha mãe da Covid, mas impedir que ela entre em uma depressão por se sentir sozinha”, explica Carina. A rotina de orientação e cuidado também é feita com seus sogros, que moram próximo de sua casa, e seu filho.

Desde o início da pandemia,  Carina e o marido seguem uma disciplina rigorosa: assim que chegam em casa, lavam todas as roupas usadas durante o dia e higienizam, um a um, os objetos que manusearam, como chaves e celulares. .

Depois desse processo, os dois sempre tomam um banho para que, aí sim, possam descansar com segurança. A casa também tem sido limpa com mais frequência.

 

O que o sindicato tem feito pelos farmacêuticos?

 

A   presidente do Sindicato dos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sinfar), Renata Gonçalves, explica que a atuação dos farmacêuticos vai além do varejo. Eles também podem estar presentes na indústria, hospitais e pesquisa científica.

A presidente conta que a distribuição variada dos profissionais da categoria acaba por dificultar a atuação do sindicato, já que o trabalhador  que deverá ser auxiliado pode enfrentar os problemas  mais diversos.

E, no momento de crise causada pela Covid-19, Gonçalves explica que a rotina do sindicato foi mudada da noite para o dia. A presidente entende que em crises anteriores na área da saúde, como a do H1N1, o peso para a categoria nunca foi tão grande como agora.

Devido à intensidade que a pandemia adquiriu no Brasil, a equipe do Sinfar tem redobrado sua atenção para as demandas, dúvidas e pedidos de orientações jurídicas dos profissionais da farmácia. “Nenhum profissional está ficando sem atendimento”, garante Gonçalves.

A dirigente explica que, atualmente, todas as ações do Sinfar estão sendo realizadas de forma remota, evitando o contato físico e a exposição de pessoas.

E, mesmo sendo parte da linha de frente, farmacêuticos também não estão imunes a demissões. De acordo com a presidente, as ações do sindicato estão muito voltadas para “que não haja demissões em massa e prejuízo na condição de trabalho do profissional”.

A sindicalista também conta que, em relação aos empregadores, qualquer forma de negociação para redução de salários, devido à crise, necessita de um acordo prévio com o sindicato, para a proteção das condições de trabalho do farmacêutico.

“A gente entende que a negociação direta entre patrão e empregado pode ser muito prejudicial ao trabalhador. Acaba pesando muito mais a pressão do patrão”, diz a presidente.

Entre as diversas ações em favor do profissional, Gonçalves cita a demanda do sindicato sobre a liberação do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) da categoria em caso de calamidade.

Porém, a presidente diz que a Caixa Econômica Federal ainda tem negado esse pedido, já que só liberaria o FGTS em caso de um “desastre natural”, como rompimentos de barragens e enchentes. O Sinfar está aguardando que a Caixa analise a demanda argumentando que uma pandemia como essa nunca poderia estar prevista na lei, e que o benefício precisa ser liberado ao trabalhador.

 Renata Gonçalves conclui que, mesmo antes da crise, mais direitos eram pleiteados pelos farmacêuticos todos os anos, como é o caso do vale-refeição e da classificação de insalubridade para a atividade. E, agora, essa luta só se intensifica devido à importância desse profissional nesse momento de crise da saúde pública.

por
Maria Fernanda Hohlenwerger
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29/04/2020 - 12h

Algo que não era falado e vivenciado antes, hoje faz parte do cotidiano de todo mundo: a quarentena. Devido à disseminação de uma nova doença na sociedade, a Covid-19, a recomendação é que ninguém saia de casa. Com isso, um sentimento pouco percebido se intensificou durante esse período, que é o medo. Ele consiste em um estado afetivo que surge em resposta à consciência diante de uma situação de eventual perigo; é algo que faz parte da nossa defesa e está intrinsecamente ligado ao nosso subconsciente, que nos alerta sobre situações de risco.

Como uma forma de conter a disseminação do vírus, o governo implementou o sistema de isolamento horizontal, que consiste em uma medida mais abrangente de distanciamento social, que pode envolver desde o fechamento de escolas, museus, shoppings, estádios, até o 'lockdown', no qual o governo proíbe completamente o fluxo de pessoas e estabelece multas, ou até prisões, para aqueles que o descumprirem. 

A partir desse novo cenário, as empresas se viram inseridas em uma situação na qual tiveram que tomar medidas que antes não eram cogitadas e hoje já fazem parte da realidade dos empregados. O sistema home office é uma delas. Como uma forma de manter o ambiente de trabalho e seus funcionários saudáveis, todos começam a trabalhar em casa, seja em um esquema 'full-time' ou em um regime de escala, em que se vai ao local de trabalho uma vez por semana, e nos outros dias se trabalha remotamente, por exemplo. 

Além disso, criou-se uma Medida Provisória (MP) que permite a diminuição da jornada de trabalho e do salário em até 70% pelo prazo máximo de 90 dias. O contrato de trabalho também pode ser suspenso completamente de forma temporária. 

Todas essas decisões e medidas foram criadas para diminuir o impacto da crise econômica, porém, ao mesmo tempo, contribuíram para um cenário de medo. Esse sentimento cresce constantemente, está presente no dia a dia dos trabalhadores, e acaba por gerar angústia, a incerteza de não ter um lugar garantido na empresa, não ter mais a renda fixa do mês garantida e o conforto da rotina. 

https://bit.ly/2y2iVp9
Foto: Pixabay. Link: https://bit.ly/2y2iVp9

De acordo com o psicanalista Christian Dunker, em uma entrevista concedida à BBC News Brasil, a pandemia gerou três perfis de comportamento: o tolo, que tende a negar a situação dramática como maneira de enfrentar o medo; o perfil desesperado, que se angustia ainda mais com a situação; e o confuso, que transita entre esses dois polos, sem saber direito como deve agir e pensar. Todos esses perfis derivam do medo, da incerteza e da falta de controle da situação. 

Todos se veem expostos a algo novo, desconhecido, e que pode nos afetar de diferentes maneiras. Uma estagiária, que não quis se identificar, falou com a Agemt sobre o medo de ter seu contrato suspenso. "O estagiário vive sempre na incerteza. Parece que nós somos superdescartáveis e que a qualquer momento não vão mais precisar da gente. Temos que mostrar nosso valor, mostrar que eu consigo, que dou conta do que me pedem."

O estagiário sofre com essa sensação diariamente ao ter que provar seu conhecimento e aprendizado para não perder sua posição na empresa. Porém, no contexto atual, qualquer trabalhador está sujeito a esse medo. É o que mostra uma pesquisa da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getulio Vargas (FGV-Ebape), feita pelos pesquisadores Marco Tulio Zanini e Eduardo Andrade.

A pesquisa entrevistou 620 executivos de diversos cargos, como o de CEO (diretor-presidente), diretores-executivos e gerentes. O levantamento mostrou que esses profissionais não se sentem imunes ao desemprego, mesmo ocupando posições de alto escalão. Isso ocorre devido aos impactos econômicos da Covid-19, que tendem a elevar fortemente as demissões. Para 47% dos entrevistados, o desemprego já é motivo de preocupação, embora não acreditem que isso vá acontecer. Já 14,7% acham que é muito provável ou quase certo que serão desligados.

De acordo com a consultora de carreiras Angélica Kuntz, é necessário saber lidar com esse medo. Segundo ela, uma das formas para fazer isso é pensar em perspectivas fora da situação atual. "Eu sempre incentivo que os clientes que eu atendo tenham planos A, B e C. Então, esse é o momento de realmente olhar para dentro, fazer uma lista de coisas ou de produtos que você tem para oferecer ao mercado, e começar a pensar em outras possibilidades que podem interdepender deste trabalho em si. Se a gente tiver a certeza de que estamos fazendo o melhor que a gente pode naquele momento, certamente isso vai trazer um conforto emocional e nos preparar para um momento que talvez seja esse desemprego."

Angélica diz que o trabalhador deve usar o medo a seu favor, pensando se de fato está contente em seu emprego, se tem interesse em permanecer na equipe neste momento de incertezas e, possivelmente, se dispor para uma demissão. É uma situação em que na maioria das vezes é necessário sair da zona de conforto e se permitir novas vivências. 

Na visão da consultora, o desempenho pode ser afetado, porém é necessário manter a calma e estar alinhado com o propósito daquilo que se está fazendo. A crise econômica gera medo, afinal é uma situação da qual não se tem controle, mas é importante ver até que ponto esse ponto é administrável ou não, e procurar ajuda se for preciso. Em tempos de instabilidade, há muito apoio profissional para aprender a lidar com o momento da melhor maneira possível, e evitar, além do colapso econômico, um colapso emocional. 

por
Gabriela Neves
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29/04/2020 - 12h

O auxiliar administrativo Guilherme Moura conta que foi desligado da empresa onde trabalhava no dia 26 de março, dois dias depois da quarentena obrigatória ser decretada no estado de São Paulo. Ele mora na cidade de Barueri (SP), tem dois filhos e sua mulher é representante de vendas. A mulher continua trabalhando de casa, mas o número de clientes diminuiu, afetando seus ganhos. “Já vou atrás de outro emprego, mas por enquanto vou ter que me virar com o dinheiro da rescisão”, afirma Guilherme.

Infelizmente, ele não é o único brasileiro demitido por causa da crise gerada pelo COVID-19. O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre) calcula que a taxa de desemprego, que antes da pandemia era de 11,6%, chegará a  16,1% no segundo trimestre deste ano.  Caso a previsão se confirme, o número  de desempregados saltará de  12,3 milhões  para 17 milhões. Ou seja,  5 milhões de pessoas vão perder seus postos de trabalho.

Quem também está entre essas pessoas é Yasmin Colombo, que estagiava em um  cartório da cidade de Campinas (SP). Antes de a quarentena começar, havia recebido a notícia de que seria efetivada. Mas, no dia 24 de março, soube que seria desligada. Ela tem a esperança de voltar a trabalhar no local depois que a quarentena acabar.

Yasmin mora com sua mãe, Adriana Colombo,  supervisora de atendimento. Adriana poderia estar trabalhando de casa, mas não tem  computador. “Ela está sofrendo uma pressão terrível da empresa, que não fornece para ela ferramentas para  trabalhar”, diz Yasmin.

A faculdade de Yasmin é paga pelo pai, que é empresário. A garota teme os impactos da crise sobre seus estudos, pois as atividades da empresa do pai diminuíram e, diante disso, ela talvez  tenha que trancar o curso.

Assim como Guilherme, Yasmin  afirma que já vai começar a mandar currículos para outros lugares. A coach e mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica Kuntz avalia que, para quem perdeu o emprego, o melhor a fazer é atualizar o currículo e adaptá-lo aos novos objetivos de trabalho.

Angélica indica o Linkedin como uma boa ferramenta para se reinserir no mercado de trabalho. Segundo ela, a plataforma é o mecanismo de busca mais utilizado por profissionais de recursos humanos. Seguir as dicas de especialistas em recolocação também pode ser interessante para ter um perfil mais competitivo na busca por emprego.

Angélica reconhece, no entanto, que o momento não é o melhor para abordar RH’s. “Há vagas dispostas no mercado, porém grande parte delas é para fazer banco de currículo, que só será usado quando a empresa voltar a contratar”, afirma .

De acordo com a especialista,  esse momento de quarentena é ideal para fazer cursos online e, com isso, melhorar suas competências. É importante pensar  que cursos se encaixam nas atribuições exigidas em possíveis vagas a que o desempregado pretenda se candidatar no futuro. Várias plataformas  oferecem cursos gratuitos ou de baixo custo.

Para quem está empregado e teme ser demitido, Angélica afirma que uma boa ideia é conversar com o RH e procurar saber se existem, de fato, perspectiva de desligamento. Neste caso, o profissional pode tentar um acordo com a empresa que evite a demissão.

A MP 936 permite que os empregadores reduzam a carga horária e os salários dos funcionários. Também pode haver suspensão temporária do contrato de trabalho. Nos dois casos, o governo vai compensar parte da perda de remuneração do trabalhador. O valor da compensação tomará como base o valor mensal do seguro-desemprego a que o trabalhador teria direito. E vai depender de como foram feitas as alterações no contrato.

Mesmo com essas medidas, o número de desempregados vai crescer e a situação deve demorar para melhorar. Na recessão de 2015 e 2016, por exemplo,  a taxa de desemprego subiu de 7% para 13%, mas só caiu 2,5 pontos percentuais nos últimos três anos.

Para ajudar quem busca emprego

Além das dicas já dadas, a mentora de carreiras especialista em recolocação Angélica faz mais alguns lembretes:

  • No Linkedin não diga que está  busca de recolocação. As empresas  procuram um profissional de determinada área e não alguém em busca de recolocação;
  • Sempre deixe seus contatos (e-mail e telefone) em fácil acesso;
  • Ative suas notificações, acesse e responda seus e-mails;
  • Nunca pague por nenhuma entrevista. Empresas sérias não cobram por recrutamento;
  • Mantenha-se ativo no Linkedin e tenha uma rede de pessoas que podem indicá-lo;
  • Tenha uma estratégia, faça uma lista de empresas que você tem como alvo. Não empresas dos sonhos, mas lugares que podem absorver seu perfil.

Angélica também deixou modelos de currículo, que podem ser baixados aqui.

por
Jennifer Dias Munhoz
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14/11/2019 - 12h

 

 

A origem do narguilé é incerta. Muitos dizem que surgiu entre os indígenas em antigos povos asiáticos, mas há quem aponte o Egito como seu lugar de nascimento. Apesar disso, o produto se tornou conhecido no Brasil recentemente e num modelo mais incrementado em relação a forma original. Além disso, a fumaça inalada hoje resulta não apenas da combustão de plantas, como tabaco e maconha, mas de misturas muito mais sortidas, que incluem melaço, glicerina e essência de fruta, ampliando as possibilidades de gosto e aroma. 

Atualmente o Brasil tem mais de 300 mil fumantes de narguilé. Entre aqueles que declaram fumar diariamente, 63% têm entre 18 e 29 anos e 37% estão entre 30 e 39 anos, o que demonstra que os jovens são os maiores usuários de tabaco, segundo a Pesquisa Especial sobre Tabagismo no ano de 2015,  realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Hoje em dia,  percebe-se um aumento do consumo tanto nas grandes cidades quanto em municípios de menor porte. Em alguns casos, a expansão é atribuída à falta de opções de lazer, como shows, cinemas, teatros ou até mesmo baladas noturnas.  

       Especialistas alertam para os riscos do hábito. O tabaco causa dependência devido à nicotina, podendo tornar os usuários do narguilé fumantes de cigarros tradicionais. Mas, no caso do narguilé, a intoxicação do usuário com monóxido de carbono é ainda maior. 

A Organização Mundial da Saúde afirma que uma sessão de narguilé de 20 a 80 minutos corresponde à exposição de componentes tóxicos presentes na fumaça de cem cigarros. O cigarro é o produto derivado do tabaco mais consumido no Brasil. A produção e o consumo de outros produtos manufaturados a partir do tabaco representam uma parcela pequena do mercado. 

Atualmente, segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer) 14,7% da população é fumante. Consequentemente, quanto maior o consumo de cigarros, maiores são os gastos com cuidados médicos - e, portanto maiores os custos econômicos para a sociedade. Ainda de acordo com Inca, o Brasil gasta anualmente R$ 57 bilhões com tratamento de doenças relacionadas ao tabaco e com despesas indiretas. 

Ou seja, considerando os impactos do tabaco no País a balança é deficitária, pois mesmo com alta arrecadação de impostos não é possível suprir os gastos com cuidados de saúde causados pelo produto. 

O Brasil é referência mundial em políticas antitabagistas e foi o segundo no mundo ao alcançar as medidas de controle estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Neste ano, o país assumiu a coordenação do Órgão Intergovernamental de Negociações da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco (CQCT) da OMS, adotando um papel de liderança no controle do tabaco no cenário internacional, apesar de ser um país em desenvolvimento e um grande produtor de tabaco. 

Curiosamente, o Brasil também é um dos maiores produtores de tabaco, se não o maior A produção se concentra na região Sul, que responde por cerca de 95% da produção nacional. 

De junho de 2018 a maio deste ano, o tabaco e seus produtos geraram uma receita de exportação de US$ 2,1 bilhões. 

O valor bruto da produção (VBP), tomando como indicador de faturamento, é de R$600,9 bilhões. (Gazeta, 2019) 

 

Lucas Escobar morava em São Paulo e há três meses voltou para sua cidade natal, Cuiabá (MT), onde ele abriu sua tabacaria “Muzie Tabacaria e Lounge”.    Diante esse assunto, ele respondeu algumas perguntas: 

Por que decidiu abrir uma tabacaria? 

Primeiro porque hoje em dia é mais fácil ganhar dinheiro com o vício das pessoas, tanto com comida, bebida, tabaco, entre outros.

Em segundo, é pelo gosto da cultura, que não é bem vista por conta de algumas tabacarias.

 

Você tem notado um aumento de consumo?

Com certeza, na minha adolescência eu já fazia consumo mas fumava cigarro, hoje vejo que muitos jovens aderem diretamente ao narguilé tanto pelo gosto quanto pela sociabilidade que ele trás.

 

Por que abrir em Cuiabá? 

Cuiabá é a cidade em que eu cresci e vejo que aqui há público sobrando, então uni o útil ao agradável.

 

Qual a faixa etária de pessoas que vão à tabacaria?

Isso varia muito, apesar de eu e meu sócio não aceitarmos menores de idade, a procura deles é grande, mas os que mais frequentam têm entre 18 e 25 anos.

 

Por que você acha que as pessoas mais novas recorrem ao narguilé?

Por conta do cheiro que fica, narguilé é mais suave que cigarro.

Também o fato do fácil acesso a isso, por mais que seja "ilícito" (proibida venda a menores). Acredito que seja por vontade própria de fumar e se tornar aceito em seus grupos sociais.

 

 Quanto você fatura até o fim do mês? 

Faturamento bruto com a pegada sossegada da minha tabacaria, porque não faço festa, nem vendo bebidas destiladas, é algo em torno dos R$ 20 mil.

 

Quanto você paga de impostos?

A aquisição dos produtos é toda feita dentro do estado, que no caso é isenta, fora alguns casos como carvão e acessórios que compramos de distribuidoras em São Paulo SP e Paraná , aí sim, incidindo ICMS. Mas, como não são compras frequentes, acabam sendo valores irrisórios.

 

Há uma tendência de aumento do tabagismo na faixa etária mais jovem, até 24 anos. Numa pesquisa rápida feita com 30 pessoas pelo Instagram, os gastos com tabaco para cigarro e narguilé são de R$ 150 a R$ 600 ao mês. A idade das pessoas consultadas varia de 19 a 28 anos. 

 

Joyce Botelho, 20 anos, que atualmente também trabalha em tabacaria como atendente, começou a fumar narguilé há seis anos. Ela disse que em outubro gastou exatos R$ 580 com o hábito. 

 

 Por que gastar esse valor em narguilé sabendo que poderia ser gasto em outras coisas?                                                                                                                              

Eu entendo que é um valor alto de se gastar... Porém, é algo que eu gosto.Eu fumo quando não tem nada para fazer, às vezes chego só a raiva do serviço e tudo que eu quero é sentar e fumar. A sensação de pegar o narguilé, lavar e preparar, é como se fosse um calmante. 

E pra mim também virou um trabalho, onde eu experimento sabores para poder falar o que é bom ou não para os clientes. Não tem sensação melhor que um cliente chegar a te esperar atendê-lo porque tem confiança em você.

 Então nem me vem à mente gastar em outras coisas, porque eu gosto de gastar mesmo com isso. 

 

Você tem medo a longo prazo de ter algum problema de saúde? 

Minha crença é que nossa história já está escrita e se tiver que acontecer, vai acontecer.  Claro que posso estar adiando, fazendo acontecer mais rápido, né. Mas medo eu não tenho.                                                                                                

por
Victória Marques
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07/11/2019 - 12h

Com a abrupta redução de 98% do teto de captação da Lei Rouanet, o atual governo praticamente inviabiliza a montagem de títulos internacionais renomados e preocupa os profissionais e admiradores de teatro musical no país. Diante da ameaça iminente, produtores solicitaram à Fundação Getúlio Vargas (FGV) um estudo completo da movimentação financeira gerada pelos espetáculos na cidade de São Paulo, onde há a maior quantidade de peças do circuito.

Calculando os valores que as produções e os espectadores de teatro musical fizeram circular na cidade no ano passado, a conta passa de R$ 1 bilhão, segundo o estudo da FGV. Ou seja, uma indústria extremamente lucrativa para a cidade.

Muito além do que se vê em cena, as grandes montagens envolvem um espectro abrangente de profissionais que extrapolam as atividades artísticas propriamente ditas. Do setor administrativo, que envolve a parte jurídica e contábil, até as camareiras do teatro, quase 13 mil postos de trabalho foram gerados do início ao final de 2018 na capital paulista em decorrência dos espetáculos, o que corresponde a R$ 196 milhões em movimentação financeira.

Fora isso, o gênero também alimenta o turismo da cidade, pois cerca de 38% do público vem de outros estados. A soma de gastos com alimentação, hospedagem, lazer e transporte chega a R$ 813 milhões, o que significa que 80% da movimentação econômica é gerada justamente por despesas extras dos espectadores. Indo mais a fundo nesse ponto, o Estado, por possuir um sistema tributário em que quase metade do que é coletado vem dos impostos sobre bens e serviços, é beneficiado pela indústria. O estudo da FGV aponta que, para cada R$ 1 investido, o retorno em tributos é de R$ 1,92, quase o dobro.

Essa movimentação financeira é o retorno de um investimento também grandioso que há por trás de cada montagem. A Lei Federal de Incentivo à Cultura, inclusive, existe por causa disso. Os títulos que mais atraem público são geralmente os mais custosos. Lucas Melo, que é produtor, explica: "O custo se eleva muito por conta dos direitos autorais, até porque se paga em dólar, e também pela dimensão do espetáculo". Para trazer um musical nos  moldes de "Wicked", por exemplo, existe um contrato que exige cenários e figurinos fiéis aos da Broadway, para que o espetáculo não seja descaracterizado.

A primeira adaptação da Broadway realizada no Brasil foi “My Fair Lady”, na década de 1960, mas o gênero só se estabeleceu de fato quando a empresa Time for Fun (T4F) comprou os direitos de "Os Miseráveis". Em cartaz durante o ano de 2001, o público alcançado na época foi de 300 mil pessoas. No ano seguinte, com a montagem de "A Bela e a Fera", o número de espectadores dobrou e o mercado dos musicais passou por um processo de consolidação que já dura mais de 15 anos. Os profissionais e as empresas produtoras se especializaram e se multiplicaram durante esse período.

Importar peças dessa dimensão só foi possível pois o teto de captação da Lei Rouanet permitia que um projeto arrecadasse até R$ 60 milhões. O atual governo reduziu para  R$ 1 milhão esse valor. Só "O Fantasma da Ópera", que atualmente está em cartaz no Teatro Renault, arrecadou pela Rouanet R$ 24 milhões para realizar essa temporada. Fernando Alterio, dono da T4F, empresa que está à frente da produção, declarou recentemente ter cancelado a negociação do título que pretendia trazer para o próximo ano.

Apesar das dificuldades, profissionais da área não acreditam que o gênero estará extinto devido às mudanças na Lei de Incentivo, pois um dos legados do crescimento do mercado foi justamente a expansão do teatro musical nacional.  Muitas peças de grande valor artístico são produzidas atualmente. Entretanto, do ponto de vista mercadológico, não são espetáculos que costumam atrair público da mesma forma que peças internacionais, logo a lucratividade não será a mesma.

Melo, que trouxe a produção de "Os Últimos Cinco Anos" em 2019, não está muito otimista com o ano que vem. "Para o meu próximo espetáculo, com R$ 1 milhão, 60% do orçamento é só para pagar os direitos. Já tive que reduzir a temporada para um período muito menor e é isso. O que vier de fora, se é que virá algo, vai ser assim, um ou dois meses em cartaz, com ensaios mínimos e as pessoas recebendo quase nada."