Sem orientação adequada, donas de pequenos negócios relatam dificuldades para entender as mudanças na economia e veem sua renda ameaçada
por
Manuela Dias
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28/11/2025 - 12h

A falta de informação qualificada tem se tornado uma das principais barreiras para microempreendedoras brasileiras que dependem de insumos importados ou de produtos cujo preço varia conforme fatores globais. Em meio a mudanças recentes nas taxas, oscilações cambiais e aumento da burocracia para transações internacionais, muitas afirmam que não sabem onde buscar apoio técnico. É o caso de Danielle Nayara, maquiadora e microempreendedora, que iniciou seu negócio após deixar o emprego formal para trabalhar com eventos.

“Eu sempre gostei de maquiagem, mas nunca tinha pensado em maquiar outras pessoas. Só comecei depois de uma sugestão, fiz um curso e acabei me apaixonando pela profissão”, conta. Hoje, ela atende clientes em casa, em eventos e até pernoita em residências para preparar noivas e madrinhas. Mas apesar da agenda cheia, manter o negócio funcionando tem se tornado cada vez mais complexo.

Um desafio diário

Para Danielle, o principal custo do seu trabalho é a compra de materiais: produtos que sofrem variações constantes de preço, muitas delas impactadas por fatores externos. “Um produto que eu comprei por um valor semana passada já está mais caro hoje. Quando isso acontece, eu preciso ajustar meus preços, porque se não aumento, perco margem”, explica.

Ela relata que, muitas vezes, não entende o motivo dessas oscilações nem encontra informação clara sobre o que está influenciando o aumento. Esse descompasso entre preço e explicação não só dificulta o planejamento, como a impede de aproveitar oportunidades.

“A qualidade dos produtos é essencial. Se o material é ruim, não adianta eu ser boa. Só que para comprar produtos bons, eu preciso pesquisar muito. E os preços mudam rápido demais”, diz.

A falta de informação também interfere na profissionalização. Em eventos como a Beauty Fair, Danielle conseguiu adquirir produtos de alta qualidade com preço reduzido, mas admite que depende do acaso: “Eu fico sabendo por redes sociais. Se eu não vejo no Instagram ou no TikTok, eu perco a chance.”

Redes sociais como principal fonte

Como muitas microempreendedoras, Danielle se informa principalmente pelas redes sociais. “É onde está tudo hoje: Instagram, TikTok, WhatsApp. É ali que vejo notícias, promoções e mudanças”, afirma. O problema, segundo especialistas, é que essa dependência de canais informais deixa empreendedoras vulneráveis. Notícias sobre variações cambiais, tarifas, mudanças em importações ou novas regras para comercialização de cosméticos dificilmente chegam a essas mulheres de forma clara e estruturada. Isso faz com que muitas decisões sejam tomadas às cegas.

Economistas e organizações ligadas ao empreendedorismo feminino têm reiterado que a falta de informação clara é hoje um dos maiores riscos para pequenos negócios liderados por mulheres. À medida que insumos sofrem com oscilações globais, e que o comércio exterior se torna mais complexo, milhares de empreendedoras enfrentam um mercado imprevisível sem apoio técnico.

No caso de Danielle, o impacto ainda é administrável, mas ela admite a preocupação: “Eu tento acompanhar tudo, mas é difícil saber o que realmente vai afetar meu trabalho. Às vezes, descubro um aumento só quando chego na loja para comprar”, relata.

Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”.
“Qualidade e confiança são os dois principais pilares do trabalho de uma maquiadora”. Reprodução: arquivo pessoal 

Força para manter o negócio! 

Apesar dos desafios impostos pela falta de informação, pelos custos instáveis e pelas mudanças constantes no mercado, mulheres como Danielle continuam sustentando seus negócios com esforço diário, intuição e dedicação. A realidade que enfrentam é marcada por incertezas, mas também por uma determinação que atravessa jornadas longas, madrugadas de trabalho e decisões tomadas sem o suporte adequado.

No fim das contas, o que sustenta esses negócios não é apenas acesso a crédito ou políticas públicas: é a força de mulheres que, todos os dias, escolhem continuar. A luta feminina, silenciosa ou coletiva, segue sendo a certeza em meio ao cenário incerto e continua provando que, quando essas mulheres resistem, elas transformam não só suas próprias histórias, mas também o futuro do empreendedorismo no país.

 

Transformando a vida de milhões de pessoas todo ano, merece mais reconhecimento e recursos para manter o Brasil vivo
por
Vítor Nhoatto
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28/11/2025 - 12h

Por Vítor Nhoatto

 

Uma das poucas certezas de todo ser humano, tal qual a morte, é a doença. Sabe aquele resfriado que vem junto ao seco do frio, uma ferida que infecciona depois de cair de bicicleta, até aquelas mais sérias que podem aparecer. Fato é que sem saúde não se vive, sendo um direito constitucional não por acaso. Sendo assim, é preciso que o acesso a essa necessidade tão básica quanto respirar e se alimentar seja universal, e não um bem a se comprar apenas por aqueles que podem.

Para isso então que existe o Sistema Único de Saúde (SUS), tão falado e muito mais presente na vida do que alguns podem sequer imaginar, ou querer. Para se ter uma ideia, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), órgão regulador dos medicamentos disponíveis no país, de controle alimentar e hídrico, faz parte do SUS. Regulamentado em 1990, é responsável pelas vacinas e desenvolvimento científico ainda, e sabe os planos de saúde, a Agência Nacional de Saúde (ANS), que os regula, também é integrante do sistema.

Para falar dessa diferença real na vida, antes é preciso até olhar nos papéis para lembrar já a quanto tempo ele é médico, enfermeiro, farmácia. De cabelos curtos hoje, depois de uma repaginada no visual devido ao câncer de pulmão que teve justamente na pandemia de COVID-19, Léia Marisa celebra que há dois anos consegue receber na AME Maria Zélia o micofenolato de Mofetila. Pois é, muitas vezes quando o nome é chique o preço é alto, uns R$500 por caixa, mil reais por mês gastos antes da papelada ficar pronta e ser aceita em 30 de novembro de 2023, já que a doença não espera os trâmites e filas.

A ex-professora, atual dona de casa e empresária a distância do seu restaurante, conta como o período de descoberta e tratamento do câncer, que levou até questões reumatológicas, e ajudou a descobrir uma artrite reumatoide, foi muito difícil. Entre dezenas de idas ao hospital de 2020 até 2023 até chegar ao diagnóstico, foram dias desgastantes, assustadores, e toda ajuda foi essencial, principalmente com os custos de sobreviver à doença. No caso dela, o tratamento do tumor foi feito em rede privada graças ao seu plano de saúde empresarial, que custa salgados R$5 mil reais ao mês. Só aqui são quase quatro salários mínimos, um privilégio muito grande, como ela destaca, olhando para um país em que apenas 7,60% da população ganha entre 5 e 10 salários como o Censo de 2022 do Instituto brasileiro de Geografia e Estatística revela. 

Se aprofundando mais ainda nos fatos, de acordo com o estudo “Quanto custa o câncer” de 2023 do Observatório de Oncologia, do Centro de Estudos Estratégicos da Fiocruz (CEE) e do Movimento Todos Juntos Contra o Câncer, os custos de tratamento da doença quadruplicaram nos últimos três anos. Uma sessão de radioterapia ou quimioterapia custava quase R$800 em 2022, e dezenas são necessárias na maioria das vezes. Acrescentando nessa conta, consultas, tomografias e biópsias, mil reais ali e cinco acolá, o custo chega facilmente ultrapassa dezenas de milhares de reais. Isso é ainda mais preocupante tendo em conta a incidência do câncer na população, que segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA) entre 2023 e 2025, 704 mil pessoas terão a doença como Marisa. 

E com isso que o SUS se mostra como algo tão relevante, oferecendo tratamento integral e gratuito contra todos os tipos de cânceres. Claro que muitos problemas existem, como destaca Marisa ao lembrar que quando estava no meio do tratamento enfrentou problemas com o plano de saúde, mas que só o medo de depender da demora do SUS caso fosse preciso, a preocupava muito. A saúde é o bem mais precioso para, o que para todos provavelmente deva ser, e por isso justamente que em 2012 a lei 12.732/12 obriga que o tratamento contra o câncer tem que ser iniciado em até 60 dias após o diagnóstico. 

Mas além disso, com os olhos marejados depois de navegar novamente no mar agitado que foi a jornada até a vida que tem hoje, curada e com o diagnóstico da sua doença crônica, ela volta e lembra que a diferença que não ter que pagar pelo Micofenolato que a mantém respirando faz.  Quando tinha que arcar com as despesas era como um fardo a mais imposto a ela, que considera a saúde hoje como o bem mais valioso. As idas mensais  ao posto são um alívio hoje para ela, destacando que o seu medicamento nunca faltou até então, mas que já presenciou pessoas na situação contrária e que não tinham como arcar pessoalmente com os gastos. Essa é uma realidade infelizmente, segundo fiscalização de 2023 da secretaria de contas do Estado de São Paulo, em quase metade dos postos visitados faltavam algum medicamento.

papéis
A cada seis meses Marisa tem que renovar a receita e toda a papelada para solicitação do seu medicamento junto a AME - Foto: Vítor Nhoatto

Milhões de uns

Mesmo que falte muito, afinal, só 4,16% do orçamento federal foi destinado à saúde em 2024 segundo o Painel do Orçamento Federal, a porcentagem vem aumentando desde 2022, e milhões de brasileiros são atendidos todos os dias. O Brasil é o único país do mundo com mais de 100 milhões de habitantes com um sistema universal de saúde, e 213 milhões dependem diretamente do SUS, segundo o Ministério da Saúde, que contabiliza em média 2,8 bilhões de atendimentos por ano, empregando 3,5 milhões de profissionais.

E mais um desses uns é Valdir Sousa, que do alto de seus 63 anos de idade é um típico caso brasieleiro. Com diabetes do tipo II há 20 anos e hipertenso, conta que se não fosse o acesso ao sistema gratuito, sua vida seria muito diferente, obviamente pelo lado financeiro, e muito também pelo bem-estar. O mineiro nascido em São João do Paraíso e que vive em São Paulo há décadas já viu tanto na vida, e com o passar do tempo o que todos querem e merecem é justamente qualidade de vida. Essa no caso, em grande parte possível graças a insulina que busca no posto na Freguesia do Ó e os comprimidos que cuidam do seu coração acelerado.

Justamente essa hipertensão que é a doença mais presente nos peitos animados dos brasileiros, e 52% da população é diagnosticada com alguma DCNTs, como revela a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) de 2019. Além disso, segundo dados de 2020 da Organização Mundial da Saúde (OMS), as doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como as de Valdir são tecnicamente chamadas, são as mais comuns no mundo e no Brasil, com o diabetes inclusive tendo aumentado 70% entre 2000 e 2019. 

Para contextualização, nos Estados Unidos existe há alguns anos o movimento nas redes sociais insulin4all, criado pela organização sem fins lucrativos T1 International, que denuncia os altos custos da insulina no país, onde um frasco de 10ml gira em torno de U$330. Tal situação vem levando inclusive pessoas a racionarem o medicamento, o que pode levar a complicações e até a morte em casos mais graves. Já no Brasil, o mesmo remédio é disponibilizado pelo SUS, e o preço máximo permitido por lei é de R$125,30. 

Diante desses dados e o envelhecimento da população fica claro como a saúde vai ser cada vez mais necessária, tal qual destaca o jovem de espírito Valdir, que já foi pedreiro e auxiliar de manutenção geral em uma lanchonete, justamente no Hospital das Clínicas. As histórias que já viu na maior referência de saúde pública brasileira enchem a sua mente, e as palavras saem inquietas sobre as melhorias que o SUS precisa e as pessoas merecem. Ele conta em meio a suspiros que quando precisa de exames mais urgentes, ou consultas em meio a crises, tem que recorrer ao plano de saúde da sua esposa, do qual é dependente, já que as unidades de saúde estão sempre cheias e a fila de espera passa de meses algumas vezes. 

Foi nessas passagens obrigadas pela rede privada que ele inclusive descobriu mais um integrante do seu pacote, a doença renal crônica há um ano. Porém, é no SUS que o acompanhamento com nutricionista, nefrologista e endocrinologista foi possível, uma rotina de cuidados essenciais para uma boa qualidade de vida para quem tem a condição. É graças a essa rede de profissionais e a farmácia popular que Valdir vai aproveitando com os dois filhos e a mulher os seus dias, frisando com a voz até meia trêmula, que sem isso não poderia se ter o seu direito de viver com saúde exercido plenamente.

medicamentos
São graças a compostos como esses que tanto Marisa ou Valdir, e os mais de 100 milhões de brasileiros com doenças crônicas podem viver bem tal qual a constituição garante - Foto: Vítor Nhoatto

 

Desigualdade, corrupção e desemprego juvenil deflagram uma revolta que expõe a fragilidade econômica profundamente enraizada.
por
Pedro Bairon
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14/11/2025 - 12h

Por Pedro Bairon

 

Na primeira semana de setembro de 2025, as ruas de Kathmandu foram tomadas por uma onda de protestos liderados pela chamada Geração Z, quando milhares de jovens se reuniram para denunciar a corrupção, o nepotismo e a desigualdade que dominam a vida pública do Nepal. O estopim foi a proibição de 26 plataformas de redes sociais incluindo Facebook, Instagram, X e YouTube, decretada pelo governo, uma medida que ativistas viram como um ataque à liberdade de expressão, Raj Rana, um nepalês que participou das recentes manifestações reafirma tal posição.

Os protestos rapidamente escalaram: confrontos com a polícia resultaram em uso ostensivos de bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha e munição real, segundo Rana. No dia 9 de setembro, o primeiro-ministro KP Sharma Oli renunciou, pressionado pela magnitude da insatisfação dos jovens, porém, não se limitou ao veto digital. Por trás da indignação estava uma reclamação mais profunda: a escassez de empregos dignos, a persistência de elites privilegiadas (os chamados “nepo kids”) e a sensação de que, apesar de tanto crescimento econômico reportado, o Estado falhou em converter recursos em oportunidades para a maioria da população. De fato, segundo o Banco Mundial, mais de 80% da força de trabalho nepalesa está na informalidade, um número clássico de economias frágeis. O economista Karki Lama aponta que as remessas enviadas por nepaleses que trabalham no exterior (equivalentes a mais de um terço do PIB, segundo Fundo Monetário Internacional, FMI) sustentam o país, mas não geram empregos de qualidade e mantêm muitos jovens reféns de oportunidades materiais mínimas.

Esses protestos, segundo analistas, não são apenas uma manifestação política: são um grito de alerta sobre a saúde estrutural da economia nepalesa. A relação entre a frustração juvenil e as debilidades econômicas torna-se evidente à medida que se examina o modelo de desenvolvimento vigente no país. A economia nepalesa há muito tempo depende fortemente das remessas de migrantes para manter sua liquidez externa e financiar o consumo interno. Para Lama, entretanto, essa dependência representa um fracasso de capacidade produtiva nacional, não há trabalho suficiente internamente, e a migração torna-se quase inevitável. Mas a crise das ruas tem um custo direto para a economia. Um relatório recente do Banco Mundial alerta que a turbulência política pode reduzir fortemente o crescimento econômico em 2025-26: a previsão foi ajustada para 2,1%, com possibilidade de contração se a instabilidade persistir. O documento prevê ainda uma queda nas chegadas de turistas, um golpe duplo para o Nepal, que depende fortemente do turismo para gerar divisas e emprego formal. A erosão da confiança dos investidores já se tornou palpável. A Federação da Indústria do Nepal (FNCCI), por exemplo, emitiu um apelo para que o novo governo garanta segurança e estabilidade para os negócios, destacando que o setor privado é vital para a recuperação. Segundo esse mesmo apelo, as perdas com os danos materiais causados pelos protestos já afetam indústrias, propriedades e a cadeia de valor do turismo, hotéis, guias, transportes, tudo foi afetado.

Além disso, a insatisfação juvenil encontra respaldo em dados econômicos estruturais que expõem fragilidades profundas. O Nepal registra uma das maiores taxas de desemprego entre jovens na região: cerca de 20 %, segundo o mais recente relatório do IBGE Países. A falta de emprego qualificado, o baixo investimento em infraestrutura produtiva e a fraca diversificação industrial criam uma economia incapaz de absorver seu capital humano mais o peso das remessas, embora vital, é paradoxal: elas sustentam a economia, mas corroem o potencial de desenvolvimento autônomo. Conforme observa a New Humanitarian, muitos jovens veem sua saída como única rota possível, enquanto outros permanecem para protestar contra um sistema que lhes fecha portas. A migração, nesse contexto, deixa cicatrizes na cena política, no tecido social e nas finanças públicas.

O choque dos protestos também traz riscos no balanço externo. A volatilidade gerada pelas manifestações mobiliza redes de capital para fora do país, deixando o Nepal vulnerável a choques cambiais e restringindo sua capacidade de investir em longo prazo. A perda de turistas, a recomposição mais lenta de reservas cambiais e a alta cautela dos investidores estrangeiros são efeitos colaterais duradouros desse momento de ruptura. Do ponto de vista fiscal, a crise exige que o governo interino encontre um delicado equilíbrio. Por um lado, há pressão para responder às demandas dos jovens por mais transparência, combate à corrupção e reforma política. Por outro, há necessidade urgente de restaurar a confiança dos mercados, garantir fluxo de investimentos e sustentar a receita pública. Se o Estado optar por cortes agressivos para manter a disciplina fiscal, pode abrir mão de sua capacidade de gerar empregos, exatamente aquilo que a Geração Z exige. Por outro lado, expandir gastos sem controle também pode agravar vulnerabilidades já existentes. A situação contemporânea do Nepal também reflete um dilema geopolítico. Localizado entre Índia e China, o país sempre foi estratégico para ambos. A instabilidade recente pode frear projetos bilaterais de infraestrutura e perturbar o plano de desenvolvimento sustentável que muitos observadores internacionais defendiam para a nação. Além disso, a falta de boas políticas industriais internas limita sua capacidade de atrair investimento direto que não dependa exclusivamente de remessas ou do turismo.

Embora a revolta da Geração Z tenha derrubado um governo, ela colocou a economia nepalesa sob os holofotes: o modelo baseado em remessas e fluxo turístico é funcional, mas frágil. A instabilidade desencadeada pelos protestos expôs o dilema clássico de economias dependentes: crescer, mas sem construir uma base real de produção, oportunidades e institucionalidade. Se o novo governo quiser responder ao grito dos jovens, terá de investir não apenas na reconstrução política, mas sobretudo na transformação econômica: criando empregos, promovendo reformas estruturais e reduzindo a dependência de fatores que escapam ao controle interno. Sem isso, o Nepal pode voltar a caminhar, mas continuará sobre uma ponte frágil, com vento forte acima e abismo profundo abaixo.

Videogames se aproximam de artigos de luxo devido aos elevados custos
por
Lucca Cantarim dos Santos
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07/11/2025 - 12h

Por Lucca Cantarim

 

Quem acompanha o cenário dos videogames vem se surpreendendo com a alta nos preços dos jogos nestes últimos meses. Com valores que vão desde R$ 249,95, valor do jogo “Hundred Line – Last line of defense”, lançado em abril de 2025, até R$ 499,99, preço do jogo Mario Kart World, que chegou às lojas em junho do mesmo ano. Esses preços têm dificultado cada vez mais o acesso dos fãs aos jogos que desejam, uma vez que acaba sendo inviável para muitos precisar gastar tanto dinheiro sempre que querem jogar um jogo novo. A estudante de sistemas de computação Gabrielle Rodrigues afirma sempre se arrepender de pagar caro em um jogo no dia do lançamento e acabar ficando sem dinheiro para comprar uma roupa ou até mesmo uma passagem do Rio de Janeiro até São Paulo para visitar seus entes queridos. Já o estudante Gabriel Merino alega sentir cada vez mais que não consegue comprar jogos no lançamento, precisando esperar diversos meses até uma baixa no preço ou promoção para finalmente ter acesso ao produto.

Fazer um jogo é um processo extremamente caro, e para a desenvolvedora independente “Dumativa”, responsável por jogos brasileiros como “Enigma do Medo” e “Lenda do Herói”, esse é o principal motivo para o aumento no custo do produto final. Já para Juno Cecílio, CEO da “Gixer Entertainment”, outra desenvolvedora independente, criadora do projeto “Changer Seven”, que se encontra em desenvolvimento atualmente, existe um fator ainda mais sensível.

 

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"Changer Seven", jogo de Juno Cecílio                                                 Foto:Divulgação/Gixer

 

Juno defende que existe uma estratégia de mercado mais agressiva por parte das empresas, que almejam maximizar sua receita em cima de um público fiel e cada vez mais disposto a pagar por franquias conhecidas. O grande problema, é que não existe um teto que defina até onde uma corporação queira ganhar, o que acaba sucateando o setor. O desenvolvedor faz um comparativo com outros setores no Brasil, como o de faculdades, que são compradas, demitem o corpo docente e substituem-no por profissionais mais baratos e revendem para o próximo, que fará o mesmo. Esse caso pode se observar na faculdade Anhembi Morumbi, que sofreu demissões e perdas massivas na grade horária após ser comprada pelo grupo Ânima Educação em 2021, como afirma uma matéria publicada na UOL em 2023.

Mas ele também aponta para outro fator, que também é abordado pela Dumativa, a falta de regionalização do preço. Quando um jogo chega no Brasil apenas convertido pela taxa do dólar, sem considerar a realidade do poder de compra local, ele acaba se tornando um produto quase que de luxo, e é nessas situações que observamos preços como os R$ 500,00 de Mario Kart World. A maioria dos jogos independentes já consideram fatores regionais quando lançam seus produtos em outros países, mas as produções de empresas grandes, como Nintendo, Ubisoft e Activision não, o que agrava uma ideia de “ganância” por parte dessas empresas.

Oferecer preços acessíveis ao consumidor é importante por inúmeros fatores, e um deles é justamente oferecer a experiência de jogo para um público mais amplo. Para muitos fãs de videogames, é extremamente doloroso, apesar de não chegar a um estágio extremo, ser privado de jogar algum jogo que goste devido ao seu custo elevado.

Gabrielle, por exemplo, diz que se sentiria mal caso fosse impedida de comprar um lançamento que estivesse com vontade de jogar. Ela alega que tem vontade de jogar o “Persona 3 Reload” a cerca de um ano, mas até hoje não o fez devido ao alto custo do jogo. Ela conta que até pensou em piratear a mídia apenas para consumo, e pagar por ela quando tivesse a oportunidade – igual já fez com outras franquias – mas que os sistemas que as empresas andam colocando em seus produtos, dificultam muito a pirataria. Gabriel Merino passa por uma situação similar, ficaria chateado caso não conseguisse comprar um jogo devido ao preço, mas também não compraria um jogo à preços exorbitantes mesmo se tivesse as condições para isso.

Lançar os jogos à preços acessíveis é essencial para que essas pessoas consigam consumir a mídia que desejam sem precisar se arriscar na pirataria ou pagar valores elevados. Além disso, é essencial para a criação de um consumo saudável. Nas palavras de Juno, quando um jogo lança à um preço compatível com a realidade do brasileiro, ele vende mais e ajuda a fortalecer o mercado e a comunidade local, e a trazer mais espaço para as empresas no País. Um exemplo foi o “Hollow Knight: Silksong”, lançado pela Team Cherry em setembro desse ano. O preço de R$ 60,00 cobrado pela mídia fez com que ela vendesse muitas unidades em um único dia – culminando na queda dos servidores da plataforma de compras Steam.

As empresas e publicadoras são as primeiras que podem participar na criação de um preço mais acessível e justo para o bolso da população. Grandes empresas e distribuidoras (Nintendo, Ubisoft, Microsoft) podem ajudar aprimorando a regionalização de preços, levando em conta o poder de compra de cada país; aprimorar a educação e formação de talentos, o que em longo prazo reduz o custo de produção global; oferecer programas de incentivo e parcerias com estúdios locais, o que acaba por gerar mais empregos, e visibilidade.

Quanto às empresas independentes, não se pode transferir as mesmas responsabilidades, uma vez que estas não tem o mesmo poder financeiro que as “gigantes do setor”. No entanto, elas podem e devem estabelecer métodos de acessibilidade nos preços de seus jogos, e algumas já tomam as providências, apesar de este ser um dos maiores desafios para essas instituições.

A Dumativa têm feito uso dos sistemas de financiamento coletivo em seus lançamentos, isso ajuda as empresas a terem uma base financeira mais sólida antes mesmo do lançamento, além de estabelecer uma relação saudável com empresa e consumidor, a partir do sistema de recompensas e conteúdo adicional dependendo de quanto cada pessoa optou por investir no jogo, além do próprio produto completo após o lançamento.

Já Juno, da Gixer, amplia ainda mais sua visão, para ele, jogos independentes não precisam competir com os grandes lançamentos em preço, na realidade, esses lançamentos têm de entregar valor percebido, autenticidade e qualidade dentro de seu escopo. Além disso, ele acredita que uma das melhores formas de equilibrar as contas sem depender do preço cheio é a diversificação de fontes de receita, e podem fazer isso por meio do lançamento de edições digitais com bônus, participação em festivais e até mesmo outros tipos de produto, como colecionáveis, histórias em quadrinho e até trilhas sonoras.

Outra ajuda também pode vir das próprias lojas, plataformas como a Steam se destacam quando o assunto é tornar seus preços mais acessíveis. Além da abundância de promoções, principalmente em datas comemorativas, que podem levar um preço de R$ 200,00 a R$ 40,00, a plataforma criou um sistema de famílias, que permite que um grupo de pessoas compartilhem a mesma biblioteca, podendo jogar jogos que pertencem à conta de terceiros (desde que inseridos na mesma família, cujo limite de pessoas é seis).

 

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Logo da loja digital Steam                                                                           Foto: Divulgação/Steam

 

Para Gabrielle Rodrigues e Gabriel Merino, que participam da mesma família alegam o quão benéfico isso é para eles, ambos afirmam como conseguiram ter mais acesso à jogos que não conseguiriam ter de outra forma, além da possibilidade de repartir os custos com os membros do grupo. Gabrielle afirma que financeiramente a família Steam é algo divino.

 

Movimento nas lojas aumentam conforme as épocas temáticas do ano vão chegando
por
Nathalia de Moura
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24/10/2025 - 12h

Por Nathalia de Moura

 

Entre o vai e vem e o sobe e desce das pessoas, a 25 de Março é o centro das vendas, principalmente em épocas como Carnaval, Natal e Halloween. Cores, brilhos, formas, luzes, ocupam as fachadas das lojas fazendo cada cliente lembrar que as bruxas chegam em 31 de outubro, o Papai Noel dará o ar da graça em 25 de dezembro e o Carnaval em breve tomará conta das ruas do País. 

A correria para atender o cliente que precisa de uma abóbora laranja e gigante, a atenção para cortar o tecido para a roupa do velhinho do Polo Norte ou até mesmo separar as lantejoulas para a confecção da fantasia faz parte do dia a dia das vendedoras do centro de São Paulo. Marlene tem 53 anos e veio atrás dos sonhos na capital paulista aos 16. Hoje fala com muito carinho no orgulho em fazer parte desses momentos. Com um sorriso, mas a voz embargada e os olhos marejados, relembra a dificuldade de se iniciar nesse mundo dos produtos de aviamentos e sazonais. Sempre sonhou em ter o que possui hoje, e mesmo com tantos patrões desacreditando de seu potencial, conseguiu ir atrás daquilo que a motivava: a arte do artesanato.

Os produtos chegam na loja e dali, são transformados em grandes realizações. Ela conta que nada é mais gratificante do que poder ajudar alguém que nem sabia o que estava procurando e encontra ali no seu estabelecimento. Na correria dos dias, as horas passam, a agitação aumenta, o fluxo cresce. Cada cliente fica um tempo observando aquele ambiente repleto de oportunidades. Oportunidade de fazer algo diferente do ano anterior, a chance de colocar uma cor diferente na decoração, de enfeitar a casa com pisca-pisca ou até fazer a festa temática do dia das bruxas que não aconteceu antes.

Na salinha apertada, rodeada de papelada importante e também do quadro estampando a foto da sua família, Marlene contava que proporcionar produtos de qualidade aos clientes a transforma. Pode ser que o Papai Noel não seja vendido hoje, que a abóbora gigante ainda passe despercebida ou o letreiro de “Feliz Natal” não seja usado, mas ela segue acreditando que cada fio, botão ou glitter pode ser utilizado em outros momentos justamente para não ser desperdiçado.

Ao andar pelas lojas, percebemos os olhares atentos nas promoções, o barulho dos comentários ao ver uma peça exposta ou as perguntas em relação aos preços. Para lá ou para cá, a multidão toma conta dos ambientes. Mesmo antes dos dias de comemoração, as pessoas fazem questão de irem em busca do que procuram o quanto antes. Mas sempre tem os que preferem comprar aos 45 minutos do segundo tempo. Na pressa para conseguir atender todos os clientes, Elen, funcionária que enfrenta todas as épocas corridas de venda do ano, fala que em alguns momentos, não consegue dar a atenção que as pessoas merecem. Seu olhar acompanhava a chegada e a saída dos clientes na loja. A atenção é máxima em um lugar que a exige a todo tempo.

No meio das linhas, botões e tecidos, a cearense de sotaque presente e forte expressa que nem imagina as diversas possibilidades que podem sair dali na sacola de cada pessoa. Uma linha pode se tornar mais de uma peça no Carnaval do Sambódromo do Anhembi ou nos bloquinhos pela cidade. E quando ela pensa nisso, os olhos até brilham em saber que, de alguma forma, fez parte daquilo.

A oferta e a demanda não param, assim como a agitação que só o ambiente da mais conhecida rua de comércio paulistana é capaz de proporcionar. Pelas ruas da 25 de março andam jovens, idosos, mulheres e homens carregando pequenas sacolas ou grandes volumes de mercadorias. De um lado o consumidor, do outro o vendedor. Ambos sabem que precisam um do outro, principalmente nessas épocas agitadas do comércio. Para Marlene, inspirar pessoas com seu empreendimento é motivo de orgulho. Em meio aos elogios que sua loja recebe, ela sempre sai com o sentimento de missão cumprida ao ver seus clientes com as sacolas recheadas de produtos que farão a diferença em épocas que se tornam especiais nas particularidades de cada um.

por
Liliane de Lima
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12/05/2020 - 12h

Mesmo com o cenário incerto, o setor de tecnologia é tido como um dos possíveis propulsores da recuperação pós-pandemia. O mercado brasileiro deve crescer 4,9% neste ano, segundo estimativa da empresa de pesquisa International Data Corporation, IDC Brasil. O aumento da demanda de softwares durante o período de isolamento social é um dos fatores responsáveis pela projeção.  

O professor de administração da FEA-USP, Cesar Alexandre de Souza, afirma que “a necessidade de isolamento social acabou servindo como impulsionador para adoção em massa de uma série de tecnologias que já vinham se consolidando”. Para ele, as tendências, no pós-coronavírus, “já estarão criadas, os hábitos criados agora vão permanecer e não haverá volta para trás”. Ou seja, este setor deve continuar crescendo e recuperar facilmente as perdas sofridas na pandemia.  

Ainda de acordo com o IDC, o mercado de soluções de software voltadas para analytics (uso de dados para analisar comportamentos de um consumidor) e inteligência artificial deve crescer 11,5% neste ano, movimentando US$ 548 milhões a mais que em 2019.  

Mesmo com bons índices, o setor de tecnologia também está sendo afetado pela crise. O professor da PUC-SP Jefferson de Oliveira, especialista em inteligência artificial, diz que toda a cadeia de suprimentos já sofreu impactos. “Isso atrasou, por exemplo, novos smartphones da Xiaomi, Realme e Vivo, que postergaram os lançamentos dos aparelhos até que a situação seja controlada”, comenta. 

Apesar disso, Oliveira destaca a importância do setor de tecnologia para amortecer o impacto econômico ocasionado pela Covid-19. “Como a pandemia será uma preocupação até que uma vacina seja desenvolvida (se é que será), existe a possibilidade de contarmos com inovações tecnológicas, que podem potencializar os ganhos mesmo mantendo-se variáveis do cenário atual.” 

Pandemia pode facilitar o acesso à tecnologia no mundo 

A demanda por plataformas de softwares explodiu nas últimas semanas. Realização de videochamadas e mensagens, comércio eletrônico, delivery de alimentos e produtos farmacêuticos, ensino à distância para substituir as aulas presenciais, além do trabalho remoto, tornaram-se parte da rotina das pessoas em isolamento social.  

A concentração do avanço tecnológico em grandes empresas, como Google e Amazon, tende a se manter, já que é “uma consequência natural das forças atuantes nas tecnologias digitais, principalmente as externalidades de rede”, segundo Cesar Alexandre de Souza, da FEA-USP. Ele acrescenta que “mesmo que novas empresas, como a Zoom, tenham a oportunidade de surgir, o espaço das grandes continuará amplo”. 

Em relação às pequenas e médias empresas do setor, o período de pandemia pode facilitar a consolidação no mercado e garantir um espaço importante, como no caso da Zoom. 

A possibilidade de consolidação de pequenas empresas, como as startups, ganha mais espaço neste cenário. Oliveira, da PUC-SP, diz que há espaço para todos. “Existem centenas de startups que procuram constantemente maneiras disruptivas para crescer e se tornar grandes. A startup Yellow, empresa de aluguel de bicicletas, que acabou virando Grow, é um exemplo de crescimento num mercado que parecia dominado pela Uber.” 

Tecnologia como importante aliado para o combate à Covid-19 

A tecnologia, além de facilitar a comunicação, tem sido crucial para combater a Covid-19. Umas das principais ferramentas utilizadas é a inteligência artificial.  

“Imagine como seria uma crise sanitária dessa proporção há 20 anos? As pessoas em sua maioria ficariam isoladas em casa, sem a possibilidade de trabalhar e colaborar tão intensamente como hoje. A informação e o conhecimento se disseminariam muito mais lentamente e a ciência teria dificuldade em trabalhar em conjunto para uma resposta”, exemplifica Souza. 

Oliveira, por sua vez, cita empresas de inteligência biomédica que buscam obter informações para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. “A DeepMind está usando dados de genomas para prever a estrutura de proteína de organismos, para iluminar quais fármacos podem funcionar melhor contra a Covid-19”, cita o professor da PUC-SP.  

Ele acrescenta que traços da doença podem ser identificados através da análise de imagens de raio-X, graças a um modelo computacional inspirado no sistema nervoso central, também chamado de rede neural. A ferramenta foi desenvolvida pela DarwinAI e tem auxiliado médicos no diagnóstico e tratamento de pacientes.  

por
Caio Moraes
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21/04/2020 - 12h

           O coronavírus chegou ao Brasil de forma avassaladora e o país permanece dividido quanto às avaliações do trabalho do presidente, que não acredita na gravidade da situação, além de incitar o caos nas grandes massas. Desde sua eleição, o presidente Jair Bolsonaro já deixava claro que não sabia nada de economia e que iria deixar esse mérito totalmente nas mãos de sua equipe. Neste momento, o presidente tem priorizado a economia, em detrimento das vidas dos próprios brasileiros.

          Com o agravamento do contágio no país, foi decretado estado de emergência e com isso o isolamento social se tornou a saída mais eficaz para evitar um número exorbitante de fatalidades por conta do coronavírus. Os governadores decretaram o fechamento do comércio não essencial para a sobrevivência, o que engloba muitos trabalhadores autônomos, informais e donos de pequenos negócios. A economia inevitavelmente será afetada e o país terá uma forte recessão no ano de 2020.

Para evitar um cenário calamitoso e conter o avanço da crise, o governo lançou algumas medidas econômicas, como o apoio à população vulnerável, o afrouxamento da meta fiscal, o auxílio para trabalhadores autônomos e informais, entre outras. Em relação às potências mundiais tais atitudes foram tomadas com certo atraso, devido à firme crença do presidente Bolsonaro de que o vírus não é tão grave, mas serão extremamente úteis para impedir um cenário muito pior após o pico de contágio passar.

"A recessão virá de qualquer jeito, com ou sem quarentena. Desemprego e inadimplência vão subir. Seja porque já há sinais fortes de recessão –  queda de faturamento em quase todos os setores, exceto supermercados e inflação ao consumidor muito baixa em março –, seja pelo contágio internacional”, afirma o economista Rafael Bianchini, professor da Fundação Getúlio Vargas.

O país se encontra em uma situação na qual o vírus cria um forte atrito entre governo federal e governos estaduais, uma vez que muitos dos governadores são contrários à política flexível e negacionista do presidente. O professor Bianchini diz que o Brasil ficará no pior dos mundos: a calamidade da superlotação dos leitos hospitalares atrelada a uma crise econômica, caso a insistência na reabertura dos comércios por parte do presidente afaste ainda mais os governadores, que são responsáveis por arcar com a superlotação de seus hospitais.

Também entrevistado sobre o assunto, o economista Marcos Henrique do Espírito Santo, professor das Faculdades Metropolitanas Unificadas (FMU), opina que as medidas tomadas pela equipe econômica são necessárias, mas para curto prazo. Nas palavras de Espírito Santo, “ela vai durar pelos próximos três meses; serve para que as pessoas não morram de fome, mas o que a gente precisa pensar agora, do ponto de vista macroeconômico, é como os economistas vão passar a pensar daqui em diante”. O professor avalia que o Brasil possui um programa “austericida” que foi imposto a partir de 2015, ainda sob o comando da ex-presidente Dilma Rousseff, uma vez que a ideia do corte absoluto do lado das despesas vem provocando uma depressão muito grande na economia. “Dar dinheiro na mão das pessoas é incentivá-las a gastar. Como a demanda está muito fraca, pensar que vai necessariamente gerar inflação, nesse caso, é um grande equívoco”, conclui Espírito Santo.

O pacote de medidas lançado pelo governo prevê também a flexibilização das leis trabalhistas para manutenção de empregos – com a possibilidade de redução de jornadas e salários , apoio financeiro a estados e o adiamento do prazo de declaração do imposto de renda. Ambos os economistas entrevistados compartilham a opinião de que o Brasil ainda se encontra muito atrás do resto do mundo quando se trata das propostas econômicas para o combate ao coronavírus. O auxílio de R$ 600 para os trabalhadores, uma das medidas mais comentadas, foi uma contraproposta da oposição na Câmara, indo contra a vontade do ministro Paulo Guedes, uma vez que o governo queria liberar apenas R$ 200 no começo de tudo.

O Brasil "está sempre muito atrás", de acordo com Espírito Santo. "Está agindo corretamente agora com essa contingência, mas não age porque quer, age porque é uma contingência internacional e vem a reboque dos outros países." Bianchini, por sua vez, acredita que o Brasil está pior, uma vez que chegou a essa crise bastante fragilizado e explica que a equipe econômica “demorou a entender a profundidade da crise e, como consequência, as previsões de organismos internacionais apontam para a maior queda do PIB no Brasil.”.

As visões dos professores colocam o Brasil em um patamar baixo no cenário mundial, com pacotes econômicos tímidos, que ainda precisam ser elaborados. Um dos empecilhos para isso é a visão do presidente, que não leva a sério a pandemia e exige reabertura de escolas e comércios. Esse descaso, inclusive, culminou na demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cujo trabalho vinha sendo elogiado desde que assumiu a responsabilidade de comandar a resposta ao vírus.

Os EUA, por exemplo, atualmente estão injetando US$ 2 trilhões na economia. Para se ter uma noção mais clara do que isso significa, é só pensar que estão injetando um PIB brasileiro em sua própria economia durante esse período. Mesmo sendo um dos países que, de início, menos se preocuparam com o alastramento do coronavírus  também por uma visão negacionista do presidente Donald Trump, que está custando milhares de vidas –, ainda assim consegue ter medidas eficazes.

Está mais que claro que o grande problema no combate ao coronavírus em solo brasileiro está na política do país. Divergências de opinião entre membros do mesmo governo, demissão do ministro da Saúde no meio de uma pandemia, fora as articulações no governo para retirar cada vez mais direitos do cidadão e precarizar a vida do trabalhador. Não é para menos que a diferença dos números em bairros como Morumbi e Brasilândia são tão gritantes. O primeiro, com 297 casos confirmados até o dia 17 de abril, teve apenas sete óbitos; o segundo, com apenas 89 casos confirmados até a mesma data, registrou um total de 54 mortes e, até o momento, é o bairro com maior número de mortes confirmadas ou suspeitas de coronavírus. O grupo de risco desse vírus não são os idosos, são os pobres.

por
Matheus Rodrigues
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11/05/2020 - 12h

A China foi o primeiro país a registrar casos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. O primeiro caso foi registrado oficialmente no dia 31 de dezembro de 2019 pelo governo chinês. Desde então, já foram registrados em todo o mundo quase 3,6 milhões de casos, com aproximadamente 260 mil óbitos.

Suspeita-se que o novo coronavírus tenha origem no consumo de carne de animais silvestres, como o morcego.

Os efeitos do coronavírus na China foram dramáticos. Cerca de 83 mil pessoas foram infectadas, com 4,6 mil mortes. Mas, com o surto controlado, os novos casos de infecção caem dia após dia. O modelo de combate ao vírus pela China foi exemplo para o mundo, que copiou a estratégia.

Esse modelo de combate contou com forte participação estatal na sociedade, mas também na economia, realocando produção e recursos para o combate ao vírus. Esse modelo pode ser a chave para o combate do coronavírus pelo mundo.

Em entrevista, Fernando Ustariz, bacharel em relações internacionais pela PUC-SP e mestrando em economia política mundial pela UFABC, falou sobre como a China conseguiu controlar rapidamente o surto.

“Na China, temos três aspectos-chave. O primeiro é a sensibilidade política. Como houve crises anteriores do coronavírus na China e no Oriente Médio, era sabido pela comunidade científica e o governo chinês que haveria a possibilidade de surgimento de um novo vírus”, disse.

Ustariz falou também sobre a capacidade de intervenção rápida da estrutura médica da China: “A infraestrutura sanitária da China, mesmo não sendo gratuita, tem uma boa capacidade de intervenção. A realocação de profissionais para áreas atingidas, além de colocar a construção civil à disposição da saúde para a construção de hospitais, ajudou no combate rápido ao vírus”.

O terceiro e último fator é a capacidade científica e tecnológica da China em relação aos países não centrais.

“A alta capacidade de tecnologia da China foi essencial para que, ao mesmo tempo que combatia o vírus, conseguisse estudar a engenharia genética, produzir novos testes. Essa é a principal vantagem da China em relação aos outros países (periféricos)”, expôs Ustariz.

Todos esses fatores decorrem de uma política com forte investimento e intervenção estatal, direcionados, por exemplo, para as áreas de educação, saúde, ciência e tecnologia. O modelo do Estado brasileiro, blindado com a emenda constitucional que impôs um teto para os gastos públicos, não consegue concentrar mais recursos nessas áreas, mesmo com a necessidade provocada pela pandemia.

As medidas da China tiveram efeito no Ocidente. Preocupados com a economia e com a pressão popular pela garantia de empregos, a Espanha e os EUA, por exemplo, anunciaram ações com forte intervenção estatal em suas economias.

ESPANHA

Na Espanha, o governo estatizou todo o sistema de saúde privado, colocando-o à disposição do Ministério da Saúde enquanto durar o combate à pandemia.

“Durante o período de epidemia de Covid-19, os cuidados com a saúde da população não podem ser atendidos adequadamente apenas com os recursos materiais e humanos atribuídos a cada comunidade autônoma. Portanto, eles terão à sua disposição centros e estabelecimentos de saúde privados, seus funcionários, e as entidades focadas em acidentes de trabalho”, diz o decreto espanhol.

Além dessa medida, o governo espanhol prometeu uma ajuda de 117 bilhões de euros. O pacote de empréstimos, garantias de crédito e ajuda direta representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto do país. As medidas incluem 100 bilhões de euros em garantias de crédito asseguradas pelo Estado e ajuda de liquidez ilimitada para as empresas.

“Nosso objetivo é impedir que uma crise temporária tenha um impacto negativo permanente em nosso mercado de trabalho. Queremos proteger o emprego e queremos que as empresas saibam que o governo as ajudará. Ninguém será deixado para trás”, disse o presidente da Espanha, Pedro Sánchez.

EUA

Os EUA são outro exemplo de intervenção estatal. O presidente Donald Trump lançou mão da Lei de Produção de Defesa (LPD), criada durante a Guerra da Coreia (1950-1953), para obrigar a General Motors (GM) a fabricar respiradores para assistir pacientes com coronavírus.

Além da GM, a chamada reconversão produtiva pode levar empresas têxteis a produzirem máscaras e jalecos médicos, por exemplo.

Antes de aprovar a LPD, Trump chegou a se declarar contrário, quando afirmou: “Não somos um país que nacionaliza suas empresas”. Com a falta de respiradores nos hospitais dos EUA e a dificuldade de compra no exterior, Trump acabou revendo sua posição.

A LPD permite que o presidente obrigue as empresas a aceitarem e priorizarem contratos necessários para a defesa nacional. Também autoriza o governo a requisitar propriedades em caso de necessidade e forçar a indústria a expandir a produção e a oferta de recursos básicos, impondo controles de salários e preços.

Além dessa medida, Trump anunciou o maior pacote econômico da história dos EUA, de mais de US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões), aprovado no Senado e na Câmara de Representantes com o apoio de ambos os partidos.

Sobre os possíveis efeitos colaterais das intervenções estatais no sistema capitalista,Ustariz aponta três tendências internacionais. A primeira é a diminuição dos fluxos de transação comercial. “Globalização não vai se enfraquecer necessariamente, mas haverá uma reconversão produtiva para a área da saúde", projetou. Um exemplo disso é a determinação de Trump em relação à GM.

Outro efeito é o enfraquecimento dos EUA como liderança mundial e o crescimento do nacionalismo. Ustariz afirmou que não existe um protagonismo dos EUA, como havia em 2008 com o então presidente Barack Obama, que reagiu à crise financeira com um esforço de cooperação internacional.“Hoje vemos que as ações não são coordenadas através de uma liderança política internacional. O único país que poderia fazer são os EUA. A China tem feito algumas atitudes pontuais, mas não é vista como referência”, continuou.

Essa falta de cooperação internacional é uma opção política de Trump, segundo Ustariz. O isolacionismo tende a enfraquecer instituições globais como a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a ONU (Organização das Nações Unidas).

A terceira tendência é o aumento da vigilância, da tecnologia e da inteligência artificial. Desde a crise do terrorismo, em 2001, a securitização da sociedade é uma realidade presente nos países capitalistas. “Na Coreia do Sul, por exemplo, você faz um teste, usa um aplicativo e, por geolocalização, todas as pessoas que estavam em um raio de 100 metros que tiveram contato com alguém infectado entram nas listas de suspeitos e devem fazer o teste”, finalizou.

por
Victor Prudencio
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11/05/2020 - 12h

Um dos pacientes que mais estão sofrendo com o novo coronavírus é a economia mundial. Neste começo de ano, quando o isolamento social se impôs como a principal medida de combate à pandemia,  vários recordes negativos foram quebrados.

Nos Estados Unidos, maior economia do planeta, o principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, teve o pior desempenho para um primeiro trimestre desde 1896. O desemprego voltou a aumentar depois de dez anos, atingindo 4,4% em março. E a tendência é só piorar.

Especialistas do banco Goldman Sanchs, por exemplo, acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai diminuir em 24% no segundo trimestre, terminando o ano com recuo de 3,8%. O desemprego, por sua vez, pode superar 30%, conforme relatório do Federal Reserve (o banco central americano).

As previsões sombrias se estendem para o mundo todo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve cair 3% neste ano. No Brasil, a retração esperada é de 5,3%, a maior da história. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 195 milhões de empregos vão desaparecer no mundo com a Covid-19.

Em artigo publicado no fim de março, o economista estadunidense Nouriel Roubini observou que os impactos econômicos do novo coronavírus têm sido não apenas mais rápidos, mas também mais graves do que os da crise financeira de 2008 e da Grande Depressão de 1930. O que demorou três anos para acontecer nas crises anteriores, levou menos de um mês na conjuntura atual.

Outra tragédia que a crise econômica de 2020 pode causar é a morte de centenas de milhares de crianças, de acordo com a ONU. Segundo um relatório do secretário-geral, António Guterres, quase 369 milhões de crianças de 143 países dependem das refeições que recebem na escola. Com as medidas de isolamento social, essas crianças correm o risco de não satisfazer suas necessidades nutricionais.

Outra previsão da ONU é que o número de pessoas vivendo na extrema pobreza (R$145 por mês) vai aumentar drasticamente, já que, por causa da recessão, os trabalhadores informais, autônomos e sem contrato assinado ficarão à beira do penhasco financeiro.

Pessoas perdendo o emprego, falta de alimentos para crianças e vários setores econômicos caminhando para a falência. A crise de 2020 é uma avalanche em que a bola de neve não para de crescer. De acordo com o contador Felipe Motta, os setores da economia que mais irão sofrer são o de aviação, importações e varejo. 

“Empresas de aviação cancelando voos a todo instante, o medo da população em ir para um lugar novo agora e o dólar custando mais de R$ 5 é o cenário perfeito para uma catástrofe”, diz Motta, referindo-se ao setor aéreo.

Afetadas pelo câmbio, as empresas de importação também começaram a sofrer os danos da crise, já que trazer as peças para as indústrias, por exemplo, ficou extremamente caro e, com a economia parada, as perspectivas de lucro minguaram. Isso porque as pessoas não estão indo às lojas comprar os produtos, e, se o comércio não vende, ele também não vai atrás das peças nas indústrias, gerando portanto um círculo vicioso que causa um prejuízo alto para esse ramo.

“Tudo está conectado. A indústria vai mal se o varejo vai mal e vice-versa. Com as pessoas dentro de casa, como que elas vão a shoppings e lojas? Vai ser outro setor da economia fortemente atingido”, explica o contador.

Nesse cenário caótico, líderes de grandes nações buscam meios de frear um pouco esse caminhão desgovernado que assola o planeta. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no fim de março um pacote de US$ 2 trilhões para estimular a economia – o maior pacote do gênero já registrado na história do país. Entre as medidas anunciadas, está o envio de cheques de US$ 1.200 para os cidadãos mais necessitados.

Na Europa, o governo do Reino Unido vai garantir US$ 400 bilhões em empréstimos para empresas afetadas pela pandemia. Na França, será feita a entrega imediata de recursos a trabalhadores e empresas. Na Itália, o pagamento de hipotecas será suspenso e o governo dará auxílio financeiro às empresas afetadas e para a população necessitada. 

No Brasil, o auxílio emergencial de R$ 600 pode ser solicitado por pessoas de baixa renda. Além disso, o Congresso aprovou o estado de calamidade pública no país, o que permite maiores gastos, e o Ministério da Economia anunciou a injeção de R$147,3 bilhões para se contrapor aos impactos da crise.

“Os governos estão fazendo o necessário para que essa crise não se torne a maior da história. É um processo extremamente trabalhoso e cauteloso”, diz o economista Luis Souza, sublinhando o caráter inédito da situação atual, em que uma crise de saúde se alastra junto com uma crise econômica.

“A paralisação de quase todas as atividades também nunca havia acontecido na história. Nem mesmo nas crises de guerras, quando apenas lojas e restaurantes fechavam. Atualmente fechamos tudo”, acrescenta Souza. Ele acredita que a recuperação será demorada. “Sofreremos os efeitos até, no mínimo, 2023.”

por
Catharina Gaidzinski
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09/05/2020 - 12h

A Covid-19 chegou de surpresa e afetou o mundo inteiro, após o primeiro surto da doença na China, no final do ano passado. Como se não fosse suficiente, junto com o vírus, veio a crise. Em decorrência do isolamento social, trabalhadores ao redor do globo têm de encontrar maneiras de sobreviver. Quem não se prejudica tanto são os trabalhadores de carteira assinada, cujos empregadores em muitos casos estão dando férias antecipadas ou mantendo as atividades em home office. Os artistas, no entanto, não se encaixam nessa parcela da população, permanecendo extremamente vulneráveis.

Embora a demanda por cultura aumente por conta do isolamento social, o músico independente não lucra se sua obra não estiver disponível em plataformas de streaming. E, mesmo se estiver, lucra muito pouco. O rendimento de um artista ao adicionar sua música no Spotify é de aproximadamente US$ 4 a cada mil streams, de acordo com dados revelados pela própria empresa em janeiro de 2019. Por isso, a maioria dos artistas independentes tira sua fonte de renda de apresentações na vida noturna. Fora da crise, o salário médio desses trabalhadores já não é muito alto. Casas de show têm pagado cada vez menos para pequenos artistas se apresentarem.

"As casas de show no Brasil geralmente buscam bandas cover ou trabalham com artistas renomados, porque os dois atraem mais público. Algumas casas nos tratam com descaso e nem ao menos nos respondem", conta Juliana Altoé, vocalista e guitarrista da banda indie paulistana The Zasters.

A banda indie paulistana The Zasters. Foto: divulgação.
A banda indie paulistana The Zasters. Foto: divulgação.

Segundo Juliana, o valor recebido pelos músicos varia, mas normalmente vem do cachê de shows e merch [propaganda], que consiste em produtos oficiais com a marca do artista, como camisetas, adesivos e canecas.

Jean Forrer, baterista da banda de metal Laboratori, observa, no entanto, que muitas casas não oferecem cachê, somente uma porcentagem da bilheteria, e que já chegou a tocar de graça. “É muito difícil lucrar como músico independente", diz.

Por este motivo, a maioria dos pequenos artistas independentes também exerce outras profissões para que possam fazer os shows aos finais de semana. "Eu não consigo sobreviver financeiramente da música. Ninguém da banda consegue. A gente ganha pouco cachê e temos noção disso. Somos nós, com nossos empregos formais, que mantemos a banda viva financeiramente", conta Laura Lugo, vocalista da banda de rock Luggo.

O trabalho do músico na quarentena

A partir do mês de março, seguindo as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) acerca do isolamento social, shows são cancelados e artistas têm de lutar contra a falta total de cachê. "Como nossos números nas plataformas de streaming e YouTube não são significativos para gerar alguma renda, e sem os shows acontecendo, nossa renda agora é praticamente zero”, relata Jean.

Juliana, por sua vez, conta que a The Zasters adiou as gravações do novo álbum, o que atrasa todo o possível retorno financeiro da banda neste ano. "Tenho amigos que já perderam metade da renda mensal devido ao cancelamento de shows", acrescenta.

Para não sucumbir à crise e à falta de shows, muitos artistas estão aderindo às ferramentas adicionais das redes, como as livestreams e os stories. Assim, é possível fazer shows ao vivo e conversar com o público sem sair de casa.

No entanto, Juliana explica que, para isso, é preciso um mínimo de estrutura, como softwares de gravação, interfaces de áudio, microfones e amplificadores. "Lives são uma ótima opção para manter o público engajado, mas ainda não conseguimos achar uma forma legal de fazer", diz.

Para os músicos que também são professores, a adaptação das aulas para o meio virtual é um desafio. “A bateria é muito grande e barulhenta. Muitas pessoas não têm o instrumento em casa e, por isso, acabei perdendo alguns alunos”, diz Jean. Juliana conta que também adaptou suas aulas para o meio online, mas que a aula de prática de banda não funcionou.

Para ajudar a minimizar o prejuízo trazido pela impossibilidade de trabalho presencial, o Itaú Cultural lançou um edital que visa ajudar os artistas a difundir seu trabalho pelas redes sociais. O Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated SP) também se mobilizou para ajudar os artistas, reunindo propostas para superarem a crise.

Já a Prefeitura de SP declarou que vai destinar R$ 103 milhões para diminuir prejuízos de artistas e da população durante a crise. E o Spotify, juntamente com a União Brasileira dos Compositores, criou um fundo de ajuda para os artistas, com o valor inicial de R$ 1 milhão, aceitando também doações.

Juliana explica que, para reverter parte das perdas deste período, existem plataformas digitais que os artistas podem utilizar para fazer shows virtuais e cobrar ingressos. O público também pode ajudar. "Neste momento, o mais importante é consumir os conteúdos que o artista tem para oferecer: suas músicas, seus vídeos e, caso tenham produtos, comprá-los, pois tudo isso volta para o artista em forma de renda, mesmo que pequena no caso dos plays em plataformas de streaming."

Quem tem condições financeiras também pode ajudar diretamente os artistas, enviando recursos e contribuindo com “vaquinhas” online. Jean conta que esse foi o meio que sua banda escolheu para arrecadar dinheiro, destinando-o ao estúdio em que ensaiam e gravam, que também está parado.

“Temos que valorizar a arte. Passar a quarentena sem música, filmes e livros seria imensuravelmente mais complicado. O melhor benefício que eu visualizo seria uma consciência coletiva da importância dos artistas. De uma forma mais palpável, ajudar a divulgar os artistas que você gosta e também comprar os produtos que ele oferece”, diz Jean.