A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Chris Martin terá apresentação aberta ao público em Belém para promover a COP 30
por
Victória Miranda
Ana Julia Mira
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10/06/2025 - 12h

No dia primeiro de novembro, o cantor do grupo musical Coldplay, estará se apresentando no Mangueirão (Estádio Olímpico do Pará). O estado também será palco da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) e o festival, que contará com outros grandes nomes da música, faz parte da promoção da campanha #ProtejaAAmazônia.

Os shows gratuitos têm sido ferramentas poderosas do governo brasileiro para promover turismo e projetos nacionais. Mesmo sendo totalmente abertos ao público, essas apresentações movimentam a economia brasileira em diversos aspectos. Entenda mais sobre o assunto e confira as falas da doutora em Comunicação e Cultura e professora titular do programa de pós-graduação em Economia Criativa, Lucia Santa-Cruz, em entrevista em vídeo para a AGEMT. 

 

 

Esse é o maior índice desde 2006
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
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12/05/2025 - 12h

Na última quarta-feira (7), o Comitê de Política Monetária (Copom) subiu a taxa básica de juros para 14,75% por ano, um aumento de 0,5%.

 

De acordo com um comunicado lançado pelo Comitê, os fatores que colaboraram para a decisão foram o tarifaço de Donald Trump e a política econômica do presidente Lula: “Cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”, declarou o informe. 


A Selic tem um papel fundamental na economia. Ela é o parâmetro para definir todas as outras taxas no país e serve como referencial para os bancos precificarem seus créditos. Essa é a sexta elevação consecutiva da taxa e coloca a Selic em maior patamar desde julho de 2006. 

 

De acordo com a economista Cristina Helena, a taxa de juros tem um impacto considerável na economia: “Quando a taxa de juros aumenta, uma das coisas que acontecem é tornar mais atrativo o investimento externo para dentro do país. Essa entrada de capital ajuda na queda do dólar, porque tem maior oferta de moeda estrangeira”. Por outro lado, a economista pontua que a elevação da taxa pode acarretar em menor consumo familiar: “Alguns podem aumentar os recursos e consumo, mas vão ter famílias que vão ficar mais pobres.”.  

Reprodução: Getty Images
Reprodução:Getty Images

Com isso, o Brasil passou a compor a lista dos países com os maiores juros reais do mundo, ficando em terceiro lugar no âmbito internacional. Em primeiro lugar está a Turquia, com 10,47%, e em segundo a Rússia, que tem  9,17%.

 

No entanto, junto com a elevação, houve uma queda do dólar diante do real.  A elevação da taxa não foi o único fator que influenciou, visto que a perspectiva de um acordo comercial entre EUA e o Reino Unido aumentou. 

 

Para a próxima reunião, há expectativas, mas não parece ser diferente do cenário atual. Em nota, a Copom afirmou: “Para a próxima reunião, o cenário de elevada incerteza, aliado ao estágio avançado do ciclo de ajuste e seus impactos acumulados ainda por serem observados, demanda cautela adicional na atuação da política monetária e flexibilidade para incorporar os dados que impactem a dinâmica de inflação”.


 

Como o governo Trump afeta a economia no Brasil
por
Chloé Dana
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05/05/2025 - 12h

A guerra comercial entre Estados Unidos e China, embora tenha começado ainda no primeiro mandato de Donald Trump, ganhou contornos oficiais em fevereiro deste ano, quando o então presidente norte-americano declarou combate aberto aos produtos "made in China". A partir de março, Trump começou a colocar em prática sua política de “América em primeiro lugar”, com foco em fortalecer a indústria nacional, mesmo que isso significasse limitar as importações.

Uma das primeiras ações foi a imposição de tarifas de 10% sobre produtos chineses. A resposta veio rapidamente: a China retaliou com barreiras comerciais contra mercadorias americanas. Mas o episódio que mais chamou atenção aconteceu no dia 1º de abril, com o chamado “tarifaço” de Trump. Nesse dia, ele anunciou aumentos significativos nas alíquotas de importação, atingindo diversos países — inclusive aliados. A China foi a mais afetada, vendo suas exportações para os EUA sofrerem taxações de até 154%. 

No dia 7 de abril, as ações da Ásia voltaram a despencar sob os efeitos do tarifaço. O resultado representa o terceiro pregão consecutivo de quedas generalizadas e expressivas nas bolsas de valores pelo mundo inteiro. Na última semana, as bolsas de Wall Street derreteram até 10%, com o mercado reagindo mal às medidas de Trump. Os mercados caíram porque as tarifas podem aumentar os preços significativamente para empresas e consumidores americanos. Isso porque os importadores pagam as tarifas, não os países que exportam os bens que Trump tem como alvo.

O motivo é claro: tarifas elevadas encarecem os produtos importados. E quem paga essa conta são os importadores — ou seja, as empresas norte-americanas. Muitas delas acabam repassando esse custo ao longo da cadeia, atingindo os varejistas e, por fim, o consumidor final. Nem todas conseguem absorver esse impacto, o que gera inflação e instabilidade econômica. Segundo o professor Gilmar Masiero, professor de Administração de Empresas e Economia na USP, em entrevista à AGEMT, o retorno de Trump ao poder pode agravar ainda mais esse cenário.

“No primeiro mandato, o governo iniciou em 2016 o que ficou conhecido como guerra comercial com a China, marcada por sucessivas elevações e tensões políticas. Trump já sinalizou que pretende ampliar as tarifas sobre produtos chineses, com o objetivo declarado de reduzir a dependência americana da manufatura asiática e trazer parte da produção de volta ao território norte-americano” afirma Masiero. 

Essa postura, no entanto, não ocorre sem reações do outro lado. A China, embora evite um confronto direto — já que os EUA ainda são um dos seus maiores mercados consumidores —, têm adotado uma estratégia de diversificação comercial. “A tendência é que as exportações chinesas percam competitividade no mercado norte-americano. Em resposta, acredito que a China continuará acelerando sua política de diversificação, buscando acordos com mercados da Ásia, Europa e Sul Global. Além disso, empresas chinesas já vêm alocando fábricas para países como Vietnã e Indonésia para contornar tarifas”, explica o professor.

Apesar disso, Masiero lembra que a substituição total da China como “fábrica do mundo” não é simples: “a China tem uma base industrial sofisticada e infraestrutura difícil de replicar. O deslocamento será parcial e, principalmente, em setores de menor valor agregado. Mas a diversificação comercial chinesa parece inevitável”, ressalta. 

Diante dessa reconfiguração global, surge a pergunta: onde o Brasil entra nesse jogo? O professor aponta que, historicamente, o Brasil tem sido um ator passivo no comércio internacional. “Exportamos basicamente quando somos demandados, especialmente commodities. Falta uma estratégia comercial estruturada. Isso nos deixa com pouca força de barganha em disputas comerciais mais amplas.

"Com o deslocamento parcial das cadeias produtivas e o redirecionamento dos fluxos comerciais globais, o Brasil deveria buscar ampliar suas relações com países asiáticos. Podemos nos posicionar como fornecedores estratégicos ou parceiros tecnológicos, principalmente com Índia, Vietnã, Indonésia e Coreia do Sul”, diz.  

 No fim das contas, o que está em jogo é muito mais do que uma disputa comercial entre duas potências. Trata-se de uma mudança estrutural nas dinâmicas do comércio internacional — e países como o Brasil precisam escolher se vão apenas reagir ou se posicionar de forma estratégica nesse novo tabuleiro global.

(Narração de 4 minutos) . Escute o áudio

 

Grandes marcas enfrentam críticas sobre métodos de produção e as reais práticas do mercado de luxo
por
Isabelli Albuquerque
Vitória Nascimento
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22/04/2025 - 12h

No começo do mês de abril, o jornal americano Women's Wear Daily (WWD) divulgou em suas redes sociais um vídeo que mostrava os bastidores da fabricação da bolsa 11.12, um dos modelos mais populares da histórica francesa Chanel. Intitulado “Inside the Factory That Makes $10,000 CHANEL Handbags” (“Dentro da Fábrica que Produz Bolsas Chanel de US$10.000”), o material buscava justificar o alto valor do acessório, mas acabou provocando controvérsia ao exibir etapas mecanizadas do processo, incluindo a costura.

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Imagem do vídeo postado pelo WWD que foi deletado em seguida. Foto: Reprodução/Tiktok/@hotsy.magazine

Embora o vídeo também destacasse momentos artesanais, como o trabalho manual de artesãs, a revelação de uma linha de produção mais automatizada do que o esperado causou estranhamento entre o público nas redes sociais. A repercussão negativa levou à exclusão do conteúdo poucas horas após a publicação, mas o vídeo continua circulando por meio de republicações. 

Além do material audiovisual, a WWD publicou uma reportagem detalhada sobre o processo de confecção das bolsas. Foi a primeira vez que a maison fundada por Coco Chanel, em 1910, abriu as portas de uma de suas fábricas de artigos em couro. A iniciativa está alinhada ao Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis, que visa ampliar a transparência ao oferecer informações claras sobre a origem dos produtos, os materiais utilizados, seus impactos ambientais e orientações de descarte através de um passaporte digital dos produtos.

Em entrevista à publicação, Bruno Pavlovsky, presidente de moda da Chanel, afirmou: “Se não mostrarmos por que é caro, as pessoas não saberão”. Ao contrário do vídeo, as imagens incluídas na matéria priorizam o trabalho manual dos artesãos, reforçando a narrativa de exclusividade e cuidado artesanal.

Para a jornalista de moda Giulia Azanha, a polêmica evidencia um atrito entre a imagem construída pela marca e a realidade do processo produtivo. “Acaba criando um rompimento entre a qualidade percebida pelo cliente e o que de fato é entregue”, afirma. Segundo ela, a reação negativa afeta principalmente os consumidores em potencial, ainda seduzidos pelo imaginário construído pela grife, enquanto os compradores habituais já estão acostumados com o funcionamento e polêmicas do mercado de luxo.

Atualmente, a Chanel administra uma série de ateliês especializados em ofícios artesanais por meio de sua subsidiária Paraffection S.A., reunidos no projeto Métiers d’Art, voltado à preservação de técnicas manuais tradicionais. A marca divulga sua produção feita à mão como um de seus pilares. No entanto, ao longo dos anos, parte da fabricação tornou-se mais automatizada — sem que isso tenha sido refletido nos preços finais.

Em 2019, a bolsa 11.12 no tamanho médio custava US$ 5.800. Hoje, o mesmo modelo é vendido por US$ 10.800 — um aumento de 86%. Para Giulia, não é o produto em si que mantém o caráter exclusivo, mas sim a história da marca, a curadoria estética e seu acesso extremamente restrito: “No final, essas marcas não vendem bolsas, roupas, sapatos, mas sim a sensação de pertencimento, de sofisticação e inacessibilidade, mesmo que seja simbólico”.

A jornalista de moda acredita que grande parte das outras grifes também adota um modelo híbrido de produção, que combina processos artesanais e mecanizados. Isso se justifica pela alta demanda de modelos como as bolsas 11.12 e 2.55, os mais vendidos da Chanel, o que exige uma produção em escala. No entanto, Giulia ressalta que a narrativa em torno do produto é tão relevante quanto sua fabricação: “O conceito de artesanal e industrial no setor da moda é uma linha muito mais simbólica do que técnica”, afirma.

Na mesma reportagem da WWD, Pavlovsky afirmou que a Chanel pretende ampliar a divulgação de informações sobre o processo de fabricação de seus produtos. A iniciativa acompanha a futura implementação do passaporte digital, que será exigido em produtos comercializados na União Europeia. A proposta é detalhar como os itens são produzidos, incluindo dados voltados ao marketing e à valorização dos diferenciais que tornam as peças da marca únicas. A matéria da WWD foi uma primeira tentativa nesse sentido, mas acabou não gerando a repercussão esperada.

“O não saber causa um efeito psicológico e atiça o desejo por consumo, muito mais rápido do que a transparência”, observa Giulia, destacando o papel do mistério no universo do luxo. Para ela, as marcas enfrentam o dilema de até que ponto devem revelar seus processos sem comprometer a aura de exclusividade. Embora iniciativas como a da Chanel pareçam valorizar aspectos como a responsabilidade ambiental e o trabalho manual — atributos bem recebidos na era das redes sociais, a jornalista acredita que a intenção vai além da educação do consumidor: “A ideia é parecer engajado e preocupado com a produção e seus clientes, mas a intenção por trás está muito mais ligada a humanizar a grife do que, de fato, educar o público”.

 

Até onde as práticas de fabricação importam?

 

Também no início de abril, diversos perfis chineses foram criados no aplicativo TikTok. Inicialmente, vídeos aparentemente inocentes mostrando a fabricação de bolsas e outros acessórios de luxo foram postados. Porém, com o aumento das taxas de importação causada pelo presidente americano, Donald Trump, estes mesmos perfis começaram a postar vídeos comprovando que produtos de diversas grifes de luxo são fabricados na China.

Estes vídeos se tornaram virais, arrecadando mais de 1 milhão de visualizações em poucos dias no ar. Um dos perfis que ganharam mais atenção foi @sen.bags_ - agora banido da plataforma -, usado para expor a fabricação de bolsas de luxo. Em um dos vídeos postados no perfil, um homem mostra diversas “Birkin Bags” - bolsas de luxo fabricadas pela grife francesa Hermés, um dos itens mais exclusivos do mercado, chegando a custar entre US$200 mil e US$450 mil - que foram produzidas em sua fábrica.

As bolsas Birkin foram criadas em 1981 em homenagem à atriz Jane Birkin por Jean-Louis Dumas, chefe executivo da Hermés na época. O design da bolsa oferece conforto, elegância e praticidade, ganhando rapidamente destaque no mundo da moda.

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Jane Birkin usando a bolsa em sua homenagem. A atriz era conhecida por carregar diversos itens em sua Birkin, personalizando a bolsa com penduricalhos e chaveiros. Foto:Jun Sato/Wireimage.

A Hermés se orgulha em dizer que as Birkin são produtos exclusivos, principalmente devido ao lento processo de produção. De acordo com a marca, todo o processo de criação de uma Birkin é artesanal e o produto é fabricado com couros e outros materiais de difícil acesso. Porém, com a revelação do perfil @sen.bags_, o público começou a perceber que talvez a bolsa não seja tão exclusiva assim.

No mesmo vídeo mencionado anteriormente, o homem diz que tudo é fabricado na China, com os mesmos materiais e técnica, mas as bolsas são enviadas à Europa para adicionarem o selo de autenticidade da marca. Essa fala abriu um debate on-line, durante todo esse tempo, as pessoas só vêm pagando por uma etiqueta e não pelo produto em si?

Para Giulia, polêmicas desse nível não afetam de forma realmente impactante as grandes grifes de luxo, já que “A elite não para de consumir esses produtos, porque como já possuem um vínculo grande [com as marcas] não se trata de uma polêmica que afete sua visão de produto, afinal além de venderem um simples produto, as grifes vendem um estilo de vida compatível com seu público.

A veracidade destes vídeos não foi comprovada, mas a imagem das grifes está manchada no imaginário geral. Mesmo que a elite, público alvo destas marcas, não deixe de consumi-las, o resto dos consumidores com certeza se deixou afetar pelo burburinho.

Nas redes sociais, diversos internautas brincam dizendo que agora irão perder o medo de comprar itens nos famosos camelôs, alguns até pedem o nome dos fornecedores, buscando os prometidos preços baixos.

Financeiramente, a Chanel e outras marcas expostas, podem ter um pequeno baque, mas por conta de suas décadas acumulando capital, conseguiram se reequilibrar rapidamente. “Elas podem sentir um impacto imediato, mas que em poucos anos são contidos e substituídos por novos temas, como a troca repentina de um diretor criativo ou um lançamento de uma nova coleção icônica.”, acrescentou Giulia.

Outras grandes grifes já enfrentaram escandâlos, até muito maiores do que esse como menciona Giulia “A Chanel, inclusive passou por polêmicas diretamente ligadas a sua fundadora, até muito mais graves do que seu processo produtivo”, se referindo ao envolvimento de Coco Chanel com membros do partido nazista durante a Segunda Guerra. Porém, como apontado anteriormente, essas marcas conseguiram se reerguer divergindo a atenção do público a outro assunto impactante.

Esse caso foi apenas um de muitos similares na história da indústria da moda, mas, como apontado por Giulia: “A maior parte das grifes em questão tem ao menos 100 anos de história e já se reinventaram diversas vezes em meio a crises, logo a transformação será necessária.”

 

por
Liliane de Lima
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12/05/2020 - 12h

Mesmo com o cenário incerto, o setor de tecnologia é tido como um dos possíveis propulsores da recuperação pós-pandemia. O mercado brasileiro deve crescer 4,9% neste ano, segundo estimativa da empresa de pesquisa International Data Corporation, IDC Brasil. O aumento da demanda de softwares durante o período de isolamento social é um dos fatores responsáveis pela projeção.  

O professor de administração da FEA-USP, Cesar Alexandre de Souza, afirma que “a necessidade de isolamento social acabou servindo como impulsionador para adoção em massa de uma série de tecnologias que já vinham se consolidando”. Para ele, as tendências, no pós-coronavírus, “já estarão criadas, os hábitos criados agora vão permanecer e não haverá volta para trás”. Ou seja, este setor deve continuar crescendo e recuperar facilmente as perdas sofridas na pandemia.  

Ainda de acordo com o IDC, o mercado de soluções de software voltadas para analytics (uso de dados para analisar comportamentos de um consumidor) e inteligência artificial deve crescer 11,5% neste ano, movimentando US$ 548 milhões a mais que em 2019.  

Mesmo com bons índices, o setor de tecnologia também está sendo afetado pela crise. O professor da PUC-SP Jefferson de Oliveira, especialista em inteligência artificial, diz que toda a cadeia de suprimentos já sofreu impactos. “Isso atrasou, por exemplo, novos smartphones da Xiaomi, Realme e Vivo, que postergaram os lançamentos dos aparelhos até que a situação seja controlada”, comenta. 

Apesar disso, Oliveira destaca a importância do setor de tecnologia para amortecer o impacto econômico ocasionado pela Covid-19. “Como a pandemia será uma preocupação até que uma vacina seja desenvolvida (se é que será), existe a possibilidade de contarmos com inovações tecnológicas, que podem potencializar os ganhos mesmo mantendo-se variáveis do cenário atual.” 

Pandemia pode facilitar o acesso à tecnologia no mundo 

A demanda por plataformas de softwares explodiu nas últimas semanas. Realização de videochamadas e mensagens, comércio eletrônico, delivery de alimentos e produtos farmacêuticos, ensino à distância para substituir as aulas presenciais, além do trabalho remoto, tornaram-se parte da rotina das pessoas em isolamento social.  

A concentração do avanço tecnológico em grandes empresas, como Google e Amazon, tende a se manter, já que é “uma consequência natural das forças atuantes nas tecnologias digitais, principalmente as externalidades de rede”, segundo Cesar Alexandre de Souza, da FEA-USP. Ele acrescenta que “mesmo que novas empresas, como a Zoom, tenham a oportunidade de surgir, o espaço das grandes continuará amplo”. 

Em relação às pequenas e médias empresas do setor, o período de pandemia pode facilitar a consolidação no mercado e garantir um espaço importante, como no caso da Zoom. 

A possibilidade de consolidação de pequenas empresas, como as startups, ganha mais espaço neste cenário. Oliveira, da PUC-SP, diz que há espaço para todos. “Existem centenas de startups que procuram constantemente maneiras disruptivas para crescer e se tornar grandes. A startup Yellow, empresa de aluguel de bicicletas, que acabou virando Grow, é um exemplo de crescimento num mercado que parecia dominado pela Uber.” 

Tecnologia como importante aliado para o combate à Covid-19 

A tecnologia, além de facilitar a comunicação, tem sido crucial para combater a Covid-19. Umas das principais ferramentas utilizadas é a inteligência artificial.  

“Imagine como seria uma crise sanitária dessa proporção há 20 anos? As pessoas em sua maioria ficariam isoladas em casa, sem a possibilidade de trabalhar e colaborar tão intensamente como hoje. A informação e o conhecimento se disseminariam muito mais lentamente e a ciência teria dificuldade em trabalhar em conjunto para uma resposta”, exemplifica Souza. 

Oliveira, por sua vez, cita empresas de inteligência biomédica que buscam obter informações para o desenvolvimento de medicamentos e vacinas. “A DeepMind está usando dados de genomas para prever a estrutura de proteína de organismos, para iluminar quais fármacos podem funcionar melhor contra a Covid-19”, cita o professor da PUC-SP.  

Ele acrescenta que traços da doença podem ser identificados através da análise de imagens de raio-X, graças a um modelo computacional inspirado no sistema nervoso central, também chamado de rede neural. A ferramenta foi desenvolvida pela DarwinAI e tem auxiliado médicos no diagnóstico e tratamento de pacientes.  

por
Caio Moraes
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21/04/2020 - 12h

           O coronavírus chegou ao Brasil de forma avassaladora e o país permanece dividido quanto às avaliações do trabalho do presidente, que não acredita na gravidade da situação, além de incitar o caos nas grandes massas. Desde sua eleição, o presidente Jair Bolsonaro já deixava claro que não sabia nada de economia e que iria deixar esse mérito totalmente nas mãos de sua equipe. Neste momento, o presidente tem priorizado a economia, em detrimento das vidas dos próprios brasileiros.

          Com o agravamento do contágio no país, foi decretado estado de emergência e com isso o isolamento social se tornou a saída mais eficaz para evitar um número exorbitante de fatalidades por conta do coronavírus. Os governadores decretaram o fechamento do comércio não essencial para a sobrevivência, o que engloba muitos trabalhadores autônomos, informais e donos de pequenos negócios. A economia inevitavelmente será afetada e o país terá uma forte recessão no ano de 2020.

Para evitar um cenário calamitoso e conter o avanço da crise, o governo lançou algumas medidas econômicas, como o apoio à população vulnerável, o afrouxamento da meta fiscal, o auxílio para trabalhadores autônomos e informais, entre outras. Em relação às potências mundiais tais atitudes foram tomadas com certo atraso, devido à firme crença do presidente Bolsonaro de que o vírus não é tão grave, mas serão extremamente úteis para impedir um cenário muito pior após o pico de contágio passar.

"A recessão virá de qualquer jeito, com ou sem quarentena. Desemprego e inadimplência vão subir. Seja porque já há sinais fortes de recessão –  queda de faturamento em quase todos os setores, exceto supermercados e inflação ao consumidor muito baixa em março –, seja pelo contágio internacional”, afirma o economista Rafael Bianchini, professor da Fundação Getúlio Vargas.

O país se encontra em uma situação na qual o vírus cria um forte atrito entre governo federal e governos estaduais, uma vez que muitos dos governadores são contrários à política flexível e negacionista do presidente. O professor Bianchini diz que o Brasil ficará no pior dos mundos: a calamidade da superlotação dos leitos hospitalares atrelada a uma crise econômica, caso a insistência na reabertura dos comércios por parte do presidente afaste ainda mais os governadores, que são responsáveis por arcar com a superlotação de seus hospitais.

Também entrevistado sobre o assunto, o economista Marcos Henrique do Espírito Santo, professor das Faculdades Metropolitanas Unificadas (FMU), opina que as medidas tomadas pela equipe econômica são necessárias, mas para curto prazo. Nas palavras de Espírito Santo, “ela vai durar pelos próximos três meses; serve para que as pessoas não morram de fome, mas o que a gente precisa pensar agora, do ponto de vista macroeconômico, é como os economistas vão passar a pensar daqui em diante”. O professor avalia que o Brasil possui um programa “austericida” que foi imposto a partir de 2015, ainda sob o comando da ex-presidente Dilma Rousseff, uma vez que a ideia do corte absoluto do lado das despesas vem provocando uma depressão muito grande na economia. “Dar dinheiro na mão das pessoas é incentivá-las a gastar. Como a demanda está muito fraca, pensar que vai necessariamente gerar inflação, nesse caso, é um grande equívoco”, conclui Espírito Santo.

O pacote de medidas lançado pelo governo prevê também a flexibilização das leis trabalhistas para manutenção de empregos – com a possibilidade de redução de jornadas e salários , apoio financeiro a estados e o adiamento do prazo de declaração do imposto de renda. Ambos os economistas entrevistados compartilham a opinião de que o Brasil ainda se encontra muito atrás do resto do mundo quando se trata das propostas econômicas para o combate ao coronavírus. O auxílio de R$ 600 para os trabalhadores, uma das medidas mais comentadas, foi uma contraproposta da oposição na Câmara, indo contra a vontade do ministro Paulo Guedes, uma vez que o governo queria liberar apenas R$ 200 no começo de tudo.

O Brasil "está sempre muito atrás", de acordo com Espírito Santo. "Está agindo corretamente agora com essa contingência, mas não age porque quer, age porque é uma contingência internacional e vem a reboque dos outros países." Bianchini, por sua vez, acredita que o Brasil está pior, uma vez que chegou a essa crise bastante fragilizado e explica que a equipe econômica “demorou a entender a profundidade da crise e, como consequência, as previsões de organismos internacionais apontam para a maior queda do PIB no Brasil.”.

As visões dos professores colocam o Brasil em um patamar baixo no cenário mundial, com pacotes econômicos tímidos, que ainda precisam ser elaborados. Um dos empecilhos para isso é a visão do presidente, que não leva a sério a pandemia e exige reabertura de escolas e comércios. Esse descaso, inclusive, culminou na demissão do ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, cujo trabalho vinha sendo elogiado desde que assumiu a responsabilidade de comandar a resposta ao vírus.

Os EUA, por exemplo, atualmente estão injetando US$ 2 trilhões na economia. Para se ter uma noção mais clara do que isso significa, é só pensar que estão injetando um PIB brasileiro em sua própria economia durante esse período. Mesmo sendo um dos países que, de início, menos se preocuparam com o alastramento do coronavírus  também por uma visão negacionista do presidente Donald Trump, que está custando milhares de vidas –, ainda assim consegue ter medidas eficazes.

Está mais que claro que o grande problema no combate ao coronavírus em solo brasileiro está na política do país. Divergências de opinião entre membros do mesmo governo, demissão do ministro da Saúde no meio de uma pandemia, fora as articulações no governo para retirar cada vez mais direitos do cidadão e precarizar a vida do trabalhador. Não é para menos que a diferença dos números em bairros como Morumbi e Brasilândia são tão gritantes. O primeiro, com 297 casos confirmados até o dia 17 de abril, teve apenas sete óbitos; o segundo, com apenas 89 casos confirmados até a mesma data, registrou um total de 54 mortes e, até o momento, é o bairro com maior número de mortes confirmadas ou suspeitas de coronavírus. O grupo de risco desse vírus não são os idosos, são os pobres.

por
Matheus Rodrigues
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11/05/2020 - 12h

A China foi o primeiro país a registrar casos de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. O primeiro caso foi registrado oficialmente no dia 31 de dezembro de 2019 pelo governo chinês. Desde então, já foram registrados em todo o mundo quase 3,6 milhões de casos, com aproximadamente 260 mil óbitos.

Suspeita-se que o novo coronavírus tenha origem no consumo de carne de animais silvestres, como o morcego.

Os efeitos do coronavírus na China foram dramáticos. Cerca de 83 mil pessoas foram infectadas, com 4,6 mil mortes. Mas, com o surto controlado, os novos casos de infecção caem dia após dia. O modelo de combate ao vírus pela China foi exemplo para o mundo, que copiou a estratégia.

Esse modelo de combate contou com forte participação estatal na sociedade, mas também na economia, realocando produção e recursos para o combate ao vírus. Esse modelo pode ser a chave para o combate do coronavírus pelo mundo.

Em entrevista, Fernando Ustariz, bacharel em relações internacionais pela PUC-SP e mestrando em economia política mundial pela UFABC, falou sobre como a China conseguiu controlar rapidamente o surto.

“Na China, temos três aspectos-chave. O primeiro é a sensibilidade política. Como houve crises anteriores do coronavírus na China e no Oriente Médio, era sabido pela comunidade científica e o governo chinês que haveria a possibilidade de surgimento de um novo vírus”, disse.

Ustariz falou também sobre a capacidade de intervenção rápida da estrutura médica da China: “A infraestrutura sanitária da China, mesmo não sendo gratuita, tem uma boa capacidade de intervenção. A realocação de profissionais para áreas atingidas, além de colocar a construção civil à disposição da saúde para a construção de hospitais, ajudou no combate rápido ao vírus”.

O terceiro e último fator é a capacidade científica e tecnológica da China em relação aos países não centrais.

“A alta capacidade de tecnologia da China foi essencial para que, ao mesmo tempo que combatia o vírus, conseguisse estudar a engenharia genética, produzir novos testes. Essa é a principal vantagem da China em relação aos outros países (periféricos)”, expôs Ustariz.

Todos esses fatores decorrem de uma política com forte investimento e intervenção estatal, direcionados, por exemplo, para as áreas de educação, saúde, ciência e tecnologia. O modelo do Estado brasileiro, blindado com a emenda constitucional que impôs um teto para os gastos públicos, não consegue concentrar mais recursos nessas áreas, mesmo com a necessidade provocada pela pandemia.

As medidas da China tiveram efeito no Ocidente. Preocupados com a economia e com a pressão popular pela garantia de empregos, a Espanha e os EUA, por exemplo, anunciaram ações com forte intervenção estatal em suas economias.

ESPANHA

Na Espanha, o governo estatizou todo o sistema de saúde privado, colocando-o à disposição do Ministério da Saúde enquanto durar o combate à pandemia.

“Durante o período de epidemia de Covid-19, os cuidados com a saúde da população não podem ser atendidos adequadamente apenas com os recursos materiais e humanos atribuídos a cada comunidade autônoma. Portanto, eles terão à sua disposição centros e estabelecimentos de saúde privados, seus funcionários, e as entidades focadas em acidentes de trabalho”, diz o decreto espanhol.

Além dessa medida, o governo espanhol prometeu uma ajuda de 117 bilhões de euros. O pacote de empréstimos, garantias de crédito e ajuda direta representa cerca de 20% do Produto Interno Bruto do país. As medidas incluem 100 bilhões de euros em garantias de crédito asseguradas pelo Estado e ajuda de liquidez ilimitada para as empresas.

“Nosso objetivo é impedir que uma crise temporária tenha um impacto negativo permanente em nosso mercado de trabalho. Queremos proteger o emprego e queremos que as empresas saibam que o governo as ajudará. Ninguém será deixado para trás”, disse o presidente da Espanha, Pedro Sánchez.

EUA

Os EUA são outro exemplo de intervenção estatal. O presidente Donald Trump lançou mão da Lei de Produção de Defesa (LPD), criada durante a Guerra da Coreia (1950-1953), para obrigar a General Motors (GM) a fabricar respiradores para assistir pacientes com coronavírus.

Além da GM, a chamada reconversão produtiva pode levar empresas têxteis a produzirem máscaras e jalecos médicos, por exemplo.

Antes de aprovar a LPD, Trump chegou a se declarar contrário, quando afirmou: “Não somos um país que nacionaliza suas empresas”. Com a falta de respiradores nos hospitais dos EUA e a dificuldade de compra no exterior, Trump acabou revendo sua posição.

A LPD permite que o presidente obrigue as empresas a aceitarem e priorizarem contratos necessários para a defesa nacional. Também autoriza o governo a requisitar propriedades em caso de necessidade e forçar a indústria a expandir a produção e a oferta de recursos básicos, impondo controles de salários e preços.

Além dessa medida, Trump anunciou o maior pacote econômico da história dos EUA, de mais de US$ 2 trilhões (R$ 10 trilhões), aprovado no Senado e na Câmara de Representantes com o apoio de ambos os partidos.

Sobre os possíveis efeitos colaterais das intervenções estatais no sistema capitalista,Ustariz aponta três tendências internacionais. A primeira é a diminuição dos fluxos de transação comercial. “Globalização não vai se enfraquecer necessariamente, mas haverá uma reconversão produtiva para a área da saúde", projetou. Um exemplo disso é a determinação de Trump em relação à GM.

Outro efeito é o enfraquecimento dos EUA como liderança mundial e o crescimento do nacionalismo. Ustariz afirmou que não existe um protagonismo dos EUA, como havia em 2008 com o então presidente Barack Obama, que reagiu à crise financeira com um esforço de cooperação internacional.“Hoje vemos que as ações não são coordenadas através de uma liderança política internacional. O único país que poderia fazer são os EUA. A China tem feito algumas atitudes pontuais, mas não é vista como referência”, continuou.

Essa falta de cooperação internacional é uma opção política de Trump, segundo Ustariz. O isolacionismo tende a enfraquecer instituições globais como a OMS (Organização Mundial de Saúde) e a ONU (Organização das Nações Unidas).

A terceira tendência é o aumento da vigilância, da tecnologia e da inteligência artificial. Desde a crise do terrorismo, em 2001, a securitização da sociedade é uma realidade presente nos países capitalistas. “Na Coreia do Sul, por exemplo, você faz um teste, usa um aplicativo e, por geolocalização, todas as pessoas que estavam em um raio de 100 metros que tiveram contato com alguém infectado entram nas listas de suspeitos e devem fazer o teste”, finalizou.

por
Victor Prudencio
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11/05/2020 - 12h

Um dos pacientes que mais estão sofrendo com o novo coronavírus é a economia mundial. Neste começo de ano, quando o isolamento social se impôs como a principal medida de combate à pandemia,  vários recordes negativos foram quebrados.

Nos Estados Unidos, maior economia do planeta, o principal índice da Bolsa de Nova York, o Dow Jones, teve o pior desempenho para um primeiro trimestre desde 1896. O desemprego voltou a aumentar depois de dez anos, atingindo 4,4% em março. E a tendência é só piorar.

Especialistas do banco Goldman Sanchs, por exemplo, acreditam que o Produto Interno Bruto (PIB) vai diminuir em 24% no segundo trimestre, terminando o ano com recuo de 3,8%. O desemprego, por sua vez, pode superar 30%, conforme relatório do Federal Reserve (o banco central americano).

As previsões sombrias se estendem para o mundo todo. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB global deve cair 3% neste ano. No Brasil, a retração esperada é de 5,3%, a maior da história. Já a Organização Internacional do Trabalho (OIT) estima que 195 milhões de empregos vão desaparecer no mundo com a Covid-19.

Em artigo publicado no fim de março, o economista estadunidense Nouriel Roubini observou que os impactos econômicos do novo coronavírus têm sido não apenas mais rápidos, mas também mais graves do que os da crise financeira de 2008 e da Grande Depressão de 1930. O que demorou três anos para acontecer nas crises anteriores, levou menos de um mês na conjuntura atual.

Outra tragédia que a crise econômica de 2020 pode causar é a morte de centenas de milhares de crianças, de acordo com a ONU. Segundo um relatório do secretário-geral, António Guterres, quase 369 milhões de crianças de 143 países dependem das refeições que recebem na escola. Com as medidas de isolamento social, essas crianças correm o risco de não satisfazer suas necessidades nutricionais.

Outra previsão da ONU é que o número de pessoas vivendo na extrema pobreza (R$145 por mês) vai aumentar drasticamente, já que, por causa da recessão, os trabalhadores informais, autônomos e sem contrato assinado ficarão à beira do penhasco financeiro.

Pessoas perdendo o emprego, falta de alimentos para crianças e vários setores econômicos caminhando para a falência. A crise de 2020 é uma avalanche em que a bola de neve não para de crescer. De acordo com o contador Felipe Motta, os setores da economia que mais irão sofrer são o de aviação, importações e varejo. 

“Empresas de aviação cancelando voos a todo instante, o medo da população em ir para um lugar novo agora e o dólar custando mais de R$ 5 é o cenário perfeito para uma catástrofe”, diz Motta, referindo-se ao setor aéreo.

Afetadas pelo câmbio, as empresas de importação também começaram a sofrer os danos da crise, já que trazer as peças para as indústrias, por exemplo, ficou extremamente caro e, com a economia parada, as perspectivas de lucro minguaram. Isso porque as pessoas não estão indo às lojas comprar os produtos, e, se o comércio não vende, ele também não vai atrás das peças nas indústrias, gerando portanto um círculo vicioso que causa um prejuízo alto para esse ramo.

“Tudo está conectado. A indústria vai mal se o varejo vai mal e vice-versa. Com as pessoas dentro de casa, como que elas vão a shoppings e lojas? Vai ser outro setor da economia fortemente atingido”, explica o contador.

Nesse cenário caótico, líderes de grandes nações buscam meios de frear um pouco esse caminhão desgovernado que assola o planeta. O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sancionou no fim de março um pacote de US$ 2 trilhões para estimular a economia – o maior pacote do gênero já registrado na história do país. Entre as medidas anunciadas, está o envio de cheques de US$ 1.200 para os cidadãos mais necessitados.

Na Europa, o governo do Reino Unido vai garantir US$ 400 bilhões em empréstimos para empresas afetadas pela pandemia. Na França, será feita a entrega imediata de recursos a trabalhadores e empresas. Na Itália, o pagamento de hipotecas será suspenso e o governo dará auxílio financeiro às empresas afetadas e para a população necessitada. 

No Brasil, o auxílio emergencial de R$ 600 pode ser solicitado por pessoas de baixa renda. Além disso, o Congresso aprovou o estado de calamidade pública no país, o que permite maiores gastos, e o Ministério da Economia anunciou a injeção de R$147,3 bilhões para se contrapor aos impactos da crise.

“Os governos estão fazendo o necessário para que essa crise não se torne a maior da história. É um processo extremamente trabalhoso e cauteloso”, diz o economista Luis Souza, sublinhando o caráter inédito da situação atual, em que uma crise de saúde se alastra junto com uma crise econômica.

“A paralisação de quase todas as atividades também nunca havia acontecido na história. Nem mesmo nas crises de guerras, quando apenas lojas e restaurantes fechavam. Atualmente fechamos tudo”, acrescenta Souza. Ele acredita que a recuperação será demorada. “Sofreremos os efeitos até, no mínimo, 2023.”

por
Catharina Gaidzinski
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09/05/2020 - 12h

A Covid-19 chegou de surpresa e afetou o mundo inteiro, após o primeiro surto da doença na China, no final do ano passado. Como se não fosse suficiente, junto com o vírus, veio a crise. Em decorrência do isolamento social, trabalhadores ao redor do globo têm de encontrar maneiras de sobreviver. Quem não se prejudica tanto são os trabalhadores de carteira assinada, cujos empregadores em muitos casos estão dando férias antecipadas ou mantendo as atividades em home office. Os artistas, no entanto, não se encaixam nessa parcela da população, permanecendo extremamente vulneráveis.

Embora a demanda por cultura aumente por conta do isolamento social, o músico independente não lucra se sua obra não estiver disponível em plataformas de streaming. E, mesmo se estiver, lucra muito pouco. O rendimento de um artista ao adicionar sua música no Spotify é de aproximadamente US$ 4 a cada mil streams, de acordo com dados revelados pela própria empresa em janeiro de 2019. Por isso, a maioria dos artistas independentes tira sua fonte de renda de apresentações na vida noturna. Fora da crise, o salário médio desses trabalhadores já não é muito alto. Casas de show têm pagado cada vez menos para pequenos artistas se apresentarem.

"As casas de show no Brasil geralmente buscam bandas cover ou trabalham com artistas renomados, porque os dois atraem mais público. Algumas casas nos tratam com descaso e nem ao menos nos respondem", conta Juliana Altoé, vocalista e guitarrista da banda indie paulistana The Zasters.

A banda indie paulistana The Zasters. Foto: divulgação.
A banda indie paulistana The Zasters. Foto: divulgação.

Segundo Juliana, o valor recebido pelos músicos varia, mas normalmente vem do cachê de shows e merch [propaganda], que consiste em produtos oficiais com a marca do artista, como camisetas, adesivos e canecas.

Jean Forrer, baterista da banda de metal Laboratori, observa, no entanto, que muitas casas não oferecem cachê, somente uma porcentagem da bilheteria, e que já chegou a tocar de graça. “É muito difícil lucrar como músico independente", diz.

Por este motivo, a maioria dos pequenos artistas independentes também exerce outras profissões para que possam fazer os shows aos finais de semana. "Eu não consigo sobreviver financeiramente da música. Ninguém da banda consegue. A gente ganha pouco cachê e temos noção disso. Somos nós, com nossos empregos formais, que mantemos a banda viva financeiramente", conta Laura Lugo, vocalista da banda de rock Luggo.

O trabalho do músico na quarentena

A partir do mês de março, seguindo as indicações da Organização Mundial da Saúde (OMS) acerca do isolamento social, shows são cancelados e artistas têm de lutar contra a falta total de cachê. "Como nossos números nas plataformas de streaming e YouTube não são significativos para gerar alguma renda, e sem os shows acontecendo, nossa renda agora é praticamente zero”, relata Jean.

Juliana, por sua vez, conta que a The Zasters adiou as gravações do novo álbum, o que atrasa todo o possível retorno financeiro da banda neste ano. "Tenho amigos que já perderam metade da renda mensal devido ao cancelamento de shows", acrescenta.

Para não sucumbir à crise e à falta de shows, muitos artistas estão aderindo às ferramentas adicionais das redes, como as livestreams e os stories. Assim, é possível fazer shows ao vivo e conversar com o público sem sair de casa.

No entanto, Juliana explica que, para isso, é preciso um mínimo de estrutura, como softwares de gravação, interfaces de áudio, microfones e amplificadores. "Lives são uma ótima opção para manter o público engajado, mas ainda não conseguimos achar uma forma legal de fazer", diz.

Para os músicos que também são professores, a adaptação das aulas para o meio virtual é um desafio. “A bateria é muito grande e barulhenta. Muitas pessoas não têm o instrumento em casa e, por isso, acabei perdendo alguns alunos”, diz Jean. Juliana conta que também adaptou suas aulas para o meio online, mas que a aula de prática de banda não funcionou.

Para ajudar a minimizar o prejuízo trazido pela impossibilidade de trabalho presencial, o Itaú Cultural lançou um edital que visa ajudar os artistas a difundir seu trabalho pelas redes sociais. O Sindicato dos Artistas e Técnicos de Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated SP) também se mobilizou para ajudar os artistas, reunindo propostas para superarem a crise.

Já a Prefeitura de SP declarou que vai destinar R$ 103 milhões para diminuir prejuízos de artistas e da população durante a crise. E o Spotify, juntamente com a União Brasileira dos Compositores, criou um fundo de ajuda para os artistas, com o valor inicial de R$ 1 milhão, aceitando também doações.

Juliana explica que, para reverter parte das perdas deste período, existem plataformas digitais que os artistas podem utilizar para fazer shows virtuais e cobrar ingressos. O público também pode ajudar. "Neste momento, o mais importante é consumir os conteúdos que o artista tem para oferecer: suas músicas, seus vídeos e, caso tenham produtos, comprá-los, pois tudo isso volta para o artista em forma de renda, mesmo que pequena no caso dos plays em plataformas de streaming."

Quem tem condições financeiras também pode ajudar diretamente os artistas, enviando recursos e contribuindo com “vaquinhas” online. Jean conta que esse foi o meio que sua banda escolheu para arrecadar dinheiro, destinando-o ao estúdio em que ensaiam e gravam, que também está parado.

“Temos que valorizar a arte. Passar a quarentena sem música, filmes e livros seria imensuravelmente mais complicado. O melhor benefício que eu visualizo seria uma consciência coletiva da importância dos artistas. De uma forma mais palpável, ajudar a divulgar os artistas que você gosta e também comprar os produtos que ele oferece”, diz Jean.