Com o avanço do coronavírus no Brasil, entre os diversos setores afetados, a indústria cultural foi uma das primeiras a sentir o impacto das medidas de isolamento social tomadas para enfrentar a pandemia. Antes mesmo de sua chegada, os problemas já haviam começado. Artistas estrangeiros com viagem marcada para o Brasil tiveram que cancelar sua vinda, devido à propagação da doença em outras partes do mundo.
Grandes shows, como o da cantora americana Billie Eilish e o da banda inglesa McFly, foram adiados ou cancelados. O festival Lollapalooza, que seria realizado em abril, foi transferido para dezembro e ainda está devendo a confirmação dos diversos artistas que viriam nesse começo de ano. Muitos shows nacionais também foram suspensos ou remarcados, como o de Roberto Carlos e o de Black Alien.
Os eventos em geral, principalmente os musicais, são uma das atividades econômicas mais importantes do Brasil, representando 13% do PIB e movimentando cerca de R$ 936 bilhões na economia. Além disso, geram cerca de 25 milhões de empregos diretos e indiretos, segundo estimativas fornecidas por Pedro Augusto Guimarães, presidente da Apresenta Rio, em entrevista para a Folha de S. Paulo.
O mercado de música ao vivo, de forma geral, acredita que a crise desencadeada pela pandemia de Covid-19 será a pior já enfrentada pelo setor. Mais vulneráveis que os peixes grandes, estão os pequenos produtores, os músicos independentes e todos que trabalham com eles nos eventos e shows.
Algumas alternativas ganharam destaque no meio desse isolamento social, como as lives. Artistas com grande fama fizeram apresentações ao vivo no YouTube ou no Instagram para entreter os fãs nesses dias desanimados. A cantora Ludmilla levou isso além e continuou pagando sua equipe pelos shows que estariam acontecendo se não fosse a pandemia.
Muitos desses shows online se propõem a divulgar instituições de caridade, projetos sociais ou apenas arrecadar recursos para comunidades em situação precária que precisam de ajuda em meio às dificuldades da pandemia, motivando os que assistem às apresentações a fazerem contribuições. Gusttavo Lima conseguiu mais de R$ 500 mil para doação e a dupla Jorge e Mateus, que superou 3 milhões de visualizações em sua live no YouTube, arrecadou mais de 172 toneladas de alimentos e 10 mil frascos de álcool em gel. Já o rapper Djonga aplicou um QR Code na página da live para quem pudesse doar, ultrapassando R$ 80 mil em arrecadação para uma comunidade carente em Belo Horizonte que está sofrendo os efeitos do vírus.
Em relação aos pequenos músicos, há outras alternativas. Um fundo de ajuda para compositores e artistas atingidos pela crise do novo coronavírus foi lançado pela União Brasileira dos Compositores (UBC) e pelo Spotify. É necessário ser filiado à UBC para ter acesso ao benefício. A entidade tem 30 mil associados, entre autores, intérpretes, músicos, editoras e gravadoras, que recebem direitos autorais.
A UBC disponibilizará R$ 500 mil, que se somarão a outros R$ 500 mil doados pela plataforma de música streaming. Esse valor de R$ 1 milhão será compartilhado com todos os associados atingidos pela crise do vírus. O Spotify vai acrescentar US$ 1 para cada US$ 1 doado no site do projeto, chamado Spotify Covid-19 Music Relief, até o fundo atingir um valor próximo ou igual a US$ 10 milhões.
Em diferentes estados, sindicatos e associações de músicos, como a Associação de Compositores, Músicos e Produtores de Mato Grosso (ACMP), a companhia de teatro Os Satyros e o Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversões do Estado de São Paulo (Sated SP), também estão fazendo campanhas para ajudar os artistas prejudicados pelas medidas de isolamento social.
Muitos que vivem de shows e produções independentes ainda vão sofrer com esses impactos. Guilherme Bustamante ou GB – seu nome artístico –, um estudante de produção musical que já trabalha como produtor independente e participa de um grupo de rap, o DoideraCrew, diz que a falta de shows e batalhas está afetando sua renda e a divulgação de seu trabalho.
“A abstinência de shows para nós que somos artistas pequenos é uma das piores coisas. É um dos nossos principais meios de divulgação, sempre cantando para novas pessoas que vão conhecendo nosso trabalho e abrindo novas oportunidades de participação em outros eventos”, conta GB.
“A renda dos shows ainda não é suficiente para me manter, porém muitos shows ainda vêm como um bom complemento e ajudam bastante. Agora, sem eles, tudo fica um pouco mais apertado, mas sigo na minha motivação de fazer o que eu amo, muita música”, complementa Guilherme.
O baterista Paulo Stortini fala sobre o baque que os músicos sentiram com a pandemia. “Muitos shows que estavam agendados há tempos foram totalmente cancelados. Agora, nosso foco é se reinventar, já que todos os artistas estão sem o ganho deles.”
Além de baterista, Stortini diz que tem sorte de trabalhar com outras coisas envolvendo música, como gravação, produção, mixagem e ainda dar aula de bateria. Porém, outras atividades, como transcrições de músicas e produções maiores, em que recebia por ensaio e pelo espetáculo, foram completamente excluídas de sua renda no momento. “Minha impressão é que, quando tudo voltar ao normal, a relação das pessoas com a arte vai ser diferente.”
“Ainda tento fazer algumas gravações online e continuar dando aula, mas o resultado não está sendo bom. Uso as redes sociais para me promover e ver se consigo mais alunos, mas vejo que ninguém está pensando em gastar com aulas de música em tempos tão difíceis. Para ajudar na renda, apelei para os aplicativos de mobilidade urbana, como Uber, Cabify ou 99.”
O baterista conta que alguns alunos que não foram tão afetados pelo coronavírus continuam honrando o pagamento das aulas, mesmo sem tê-las no momento. “Do dia para a noite, minha renda foi praticamente a zero." Agora, Stortini segue rodando com os aplicativos de transporte para sobreviver e tentar olhar toda essa situação com o mínimo de esperança.
Com o avanço do coronavírus no Brasil, a compra no mercado online vem sendo a melhor alternativa para os consumidores que estão em quarentena. Segundo dados divulgados pela FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), a expectativa é que o setor de e-commerce cresça 12% e fature R$ 23,1 bilhões em 2020. Mas, de acordo com especialistas, esses números irão aumentar ainda mais, devido à situação em que o país se encontra.
Através das redes sociais, pequenos negócios online têm investido nessa ferramenta para interagir com seus consumidores, mostrando um outro lado da marca como estratégia para estimular as vendas.
Lançada há um ano, a loja Seja Sapê começou vendendo suas roupas leves e minimalistas através do Instagram. Com o slogan "liberdade de ser", a loja mostra para seus 2.400 seguidores o conceito por trás da roupa: a escolha cuidadosa dos tecidos, a produção artesanal e a união das mulheres na marca. E, nesta quarentena, a estratégia não seria diferente.
"Decidimos aumentar ainda mais nossas publicações mostrando o conceito da loja. Visto que as pessoas estão mais virtuais, estamos postando playlist de música, tiragem de tarô, rituais para fazer antes de dormir, exercícios de ioga… que são coisas que têm tudo a ver com a imagem da marca", conta Rafaella Ottaviani, uma das sócias da Seja Sapê. "Além de impulsionar as vendas, isso está criando uma corrente de vínculo com nossas clientes e mostrando que elas podem confiar no nosso trabalho", complementa.
De acordo com Guilherme Dietze, assessor econômico da FecomercioSP, essa é uma estratégia válida, considerando o perfil do consumidor no país. "O brasileiro tem o costume de provar as roupas que vai comprar. A loja online criar um vínculo com esse consumidor vai incentivar a compra, já que o setor de vestuários não é a maior procura neste momento de quarentena.”
Um estudo realizado pelo movimento Compre e Confie mostra que as categorias mais procuradas para compras no mercado online, desde o início da quarentena, foram saúde, beleza e perfumaria. Em comparação com o mesmo período no ano passado, o setor de saúde obteve um aumento de 65% mais vendas e de 111% no faturamento. Já o de beleza e perfumaria registrou um acréscimo de 57% mais vendas e de 83% no faturamento.
Mesmo que, segundo os dados, o setor de vestuários não tenha uma forte procura neste momento, no negócio de apenas quatro meses de Karina Ayache, a loja de roupa Kaz, o faturamento chegou a dobrar nessa quarentena. Com a produção parada no Brás, a loja se reinventou, reintroduzindo no catálogo peças da primeira coleção. "Nossa coleção programada teve que ser repensada, já que as produções pararam totalmente. Resolvemos trazer de volta peças que fizeram sucesso, e acabou que nossas visualizações aumentaram e mais pessoas apareceram interessadas nos produtos", conta Karina.
A segunda maior economia do planeta está enfrentando uma situação que ameaça todos: a desaceleração econômica, cujo principal agente causador é a pandemia da Covid-19. O surto da doença não atinge apenas o setor econômico, como também o social.
Em território chinês, estima-se que até o dia 20 de abril houve um total de 84.237 contaminados, 77.084 curados e 4.642 mortes. Diversas províncias foram bloqueadas, como Habei, cuja capital, Wuhan, foi o epicentro da doença e supostamente o local onde se originou o corona. Devido ao fechamento dessas províncias, muitas empresas e indústrias acabaram por demitir funcionários. É necessário lembrar que a China ainda é considerada um país em desenvolvimento, com mais de 5,5 milhões de pessoas abaixo da linha da pobreza extrema (estabelecida pelo governo em 2.300 iuanes, cerca de US$ 330 por ano). Além do aumento do desemprego, houve cortes de salários após o surto do coronavírus.

Com isso, o Partido Comunista da China provavelmente não conseguirá cumprir a promessa de transformar o país em uma “sociedade de classe média” até o fim deste ano e deve enfrentar uma instabilidade social jamais vista nas últimas quatro décadas. Entre dezembro e fevereiro, os dados oficiais do governo indicam um acréscimo de 5 milhões de pessoas no contingente de desempregados.
O banco Nomura, conhecido por sua visão pessimista dos fatos, estima perda de 18 milhões de vagas de emprego no setor de exportação chinês, que representa um terço da mão de obra. Essa possível explosão do desemprego afeta não somente o governo chinês, como os governos mundiais, visto que a China é grande parceira comercial de inúmeros países, como é o caso do Brasil.
Todas essas perspectivas trazem um fato: o PIB da China contraiu-se em 6,8% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados do Gabinete Nacional de Estatística. É o primeiro recuo desde 1976, ano da morte de Mao Tsé-Tung e de seu primeiro ministro Zhou Enlai, além de ao menos 250.000 pessoas, devido a um terremoto na região de Tangshan. Nessa ocasião o PIB encolheu 1,6%. O PIB registrado neste trimestre também representa a menor marca desde 1961, quando a economia chinesa despencou 27,3%, devido, segundo historiadores, a políticas equivocadas do líder da revolução.
Desde então, a economia do país tem passado ilesa e com índices extremamente positivos perante as últimas crises mundiais: “torres gêmeas em 2001” (+ 8%), “crise de 2008” (+ 9%) e a recente “guerra comercial com os EUA” (+ 6,7%). O declínio do primeiro trimestre, apesar de esperado, pode prenunciar uma crise sem precedentes.
Os setores que levaram a esse resultado no primeiro trimestre foram a indústria (que abrange atividades de manufatura, mineração e serviços públicos), com recuo de 13,5%, as vendas no varejo (-20,5%) e os investimentos em ativos fixos (despesas com itens que incluem infraestrutura, propriedades, máquinas e equipamentos), com queda de 24,5%. Esses números catastróficos, somados à desaceleração da economia em virtude da guerra comercial com os EUA, ligaram o alerta em Pequim.
Apesar dos dados ruins, o governo mantém um discurso otimista em relação à recuperação. As autoridades afirmam que as consequências da crise econômica são “de curto prazo e controláveis”.
O economista-chefe da China International Capital Corporation, Liang Huang, afirma que, se a situação se mantiver estável, o país conseguirá um crescimento na casa dos 6%. No entanto, agências internacionais calculam uma expansão de “apenas” 4,8%, o que seria o menor índice anual das últimas três décadas “Precisamos nos preparar para uma crise longa”, disse o conceituado economista Andy Xie, em entrevista ao Valor Econômico, alertando que a recuperação total da economia deverá demorar cerca de uma década.
O governo chinês também deverá se preocupar com o boicote de economias importantes, como Japão e EUA, que planejam remanejar empresas que hoje operam na China. O Japão inclusive já destinou cerca de US$ 2,2 bilhões do pacote recorde de US$ 1 trilhão em estímulos à economia após o baque causado pela pandemia do coronavírus.
Esses US$ 2,2 bilhões são divididos da seguinte maneira, US$ 2 bilhões serão destinados para empresas que desejem retornar ao Japão, e os outros US$ 200 milhões para empresas que desejem se mudar e se instalar em outros países. A situação dos americanos é parecida: no mesmo dia em que o Japão anunciou o pacote, o diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, Larry Kudlow, afirmou que os EUA devem pagar custos de mudança de qualquer empresa americana que decida sair da China.
A Covid-19 assombra o mundo: mortes, desemprego, prejuízos ao bem-estar (como saúde mental) estão sendo geradas pela pandemia. O momento é de reflexão e união. A China é acusada de ocultar dados sobre essa doença e enfrentará grande oposição dos líderes mundiais nos próximos meses. A pergunta que fica é: o que o futuro nos reserva? Ficaremos todos bem?
Num país em que 4,4 milhões de pessoas moram no campo e se sustentam da terra, não é novidade que a agricultura familiar é um dos setores econômicos que, notoriamente, sofrem com a ocorrência de uma crise como a atual, causada pela Covid-19. Segundo o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, a agricultura familiar é a fonte de renda para 70% dos brasileiros que vivem no meio rural, além de ser a principal responsável pela produção de alimentos no país, respondendo, por exemplo, por cerca de 70% da produção de feijão nacional, 34% da de arroz e 60% da de leite.
Com a crise e o isolamento social, o consumo de produtos agrícolas sofreu uma queda considerável. Segundo o agrônomo Eduardo Bellucci, a redução mais imediata se deu na compra de frutas e hortaliças, dois dos principais produtos da agricultura familiar. O profissional da área pontua que a paralisação de restaurantes e o menor movimento nas feiras de rua geraram um enorme impacto para o pequeno produtor, que tem esses dois lugares como principais pontos de venda. Eduardo lembra também que, sem carros nas estradas, esses produtores, que costumam vender suas mercadorias em acostamentos de rodovias, tiveram que interromper essa prática.
Segundo Maria Caze, da direção nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), apesar das inúmeras dificuldades enfrentadas devido à redução do consumo, agricultores não vão deixar de produzir. Mas, assim como lembra Maria, há outro fator preocupante que precede o consumo: a logística, concentrada em grandes empresas e quase exclusivamente no transporte rodoviário, no caso dos pequenos agricultores. Isso cria um risco de atraso nas entregas, caso haja, por exemplo, uma corrida aos supermercados em meio à crise.
Tendo em vista esse cenário, algumas medidas estão sendo tomadas pelo governo federal para que pequenos e médios produtores rurais continuem suas atividades. De acordo com a Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural (Agraer), produtores (principalmente os de flores, hortifrútis, leite, aquicultura e pesca) terão um auxílio para assegurar pequenas despesas que incluem desde sua estrutura produtiva a custeio de atividades. Essa assistência envolve também uma linha especial de crédito para agricultores familiares, o Pronaf, na qual, o limite por produtor será de R$ 20 mil. E, da mesma forma, foi também criada uma linha especial de crédito com limite de R$ 40 mil.
Medidas como essa são de extrema importância, afinal, como conclui Eduardo Bellucci, “se, a curto prazo, o efeito da crise já está sendo muito sentido, os efeitos a longo prazo são ainda maiores”. Maria Craze, por sua vez, nota que a Covid-19 surgiu em um cenário já desfavorável para a agricultura familiar.“Não podemos deixar de dizer que a chegada dessa pandemia, no momento em que o Brasil se encontra, período de estagnação econômica fruto do governo e suas ações, traz um prejuízo enorme para o campesinato dar conta da sua missão que é a produção de alimentos."
Em meio à crise mundial, os Estados Unidos se tornaram o epicentro do novo coronavírus, com mais de 80 mil vitimas fatais e 1,2 milhão de casos registrados no dia 11 de maio. A potência americana relutou bastante para admitir a gravidade do vírus e tomar as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mas acabou adotando a quarentena e o isolamento social. O presidente Donald Trump se desdobra para reduzir o número de contaminados e mortes, além de tentar salvar a economia do país de uma recessão muito forte nos próximos meses.

Os Estados Unidos já ultrapassaram a China e a Itália e estão vivendo um caos, causado pelo coronavírus. A população de Nova York, principal cidade afetada, relata um cenário apocalíptico, com prateleiras vazias e hospitais lotados. As normas de restrição são severas e devem ser seguidas por todos, já que a nova doença foi a segunda maior causa de mortes no país na segunda semana de abril. O grande fluxo de pessoas na cidade, a alta densidade populacional e a ausência de políticas públicas para controlar os níveis de transmissão da doença, somados à negligência do governo com relação ao vírus, contribuíram para essa situação nos EUA. Trump demorou para aceitar que a economia teria que ficar de lado por um tempo e que o isolamento social era imprescindível para conter a doença.
A administração atual tem no liberalismo econômico uma de suas bandeiras, mas, com o surto da doença, começou a intervir na economia. Trump aprovou um pacote de ajuda de mais de US$ 2 trilhões para amortecer os impactos da Covid-19, além de assinar um termo que obriga a General Motors a produzir respiradores para hospitais. Essas ações não são comuns em países neoliberais, com pouca interferência do Estado, e mostram uma preocupação com a pandemia.
O professor de economia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU) Julio Motta avalia que nesse momento os governos devem interferir na economia. “O papel do Estado em um regime capitalista é ser um agente estabilizador do sistema. Momentos como esse precisam de forte ação estatal. Esse deve vir com medidas de distribuição de renda, alívio tributário, facilitação de empréstimos via bancos públicos, entre outras medidas”, afirma.
Outra preocupação que os políticos americanos estão enfrentando são as eleições presidenciais, que ocorrem ainda este ano. Trump se viu preso no embate entre a crise humanitária e econômica e em como conseguir sair dessa situação para consumar seus votos no final do ano. Na visão de Motta, Trump pensou muito nas eleições quando começou a lidar com a crise. “No regime democrático, nada legitima mais um presidenciável do que o bom ambiente econômico. Tendo em vista que as eleições se aproximam, Trump tentou postergar a colheita dos resultados econômicos ruins que viriam a partir do isolamento”, diz.
Um consenso entre economistas é que a crise que virá será avassaladora em todo o mundo. O doutor em economia Paulo Gala prevê que os EUA vão passar por uma recessão imensa. “Vai ser uma crise do tamanho da crise de 29, ou maior, em termos de queda de PIB. Talvez dure menos tempo, porque o governo americano está reagindo.”
A previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI) é de que o PIB dos EUA caia 5,9% neste ano Ainda assim, Gala observa que não será desta vez que a China assumirá o posto de maior potência econômica do mundo. “A China vai ultrapassar os EUA, mas não agora, dentro de 30 a 40 anos, porque é uma economia muito maior, tem uma escala muito maior”, analisa. Ou seja, não seria por conta da crise da Covid-19, como apontam algumas teorias, mas por uma tendência assinalada há bastante tempo.
As atitudes recentes do governo americano não são condizentes com a política econômica liberal do país, que não apoia a intervenção do Estado. Mas, em situações de crise, dificilmente um governo não iria intervir na economia para tentar conter os impactos da recessão. Uma discussão que muitos cientistas políticos e econômicos estão tendo é se o liberalismo é um sistema viável para lidar com crises humanitárias e se existem modelos mais aptos para ajudar uma sociedade nesses momentos. Grande parte dos pensadores econômicos acredita que, independente do modelo de governo, o Estado é necessário em alguns casos, como uma pandemia. Paulo Gala afirma que o liberalismo é um sistema falho ao tratar de crises. “O liberalismo não é um sistema eficiente. O sistema de mercado é muito eficiente para criar riqueza, inovação e produtividade, mas ele é péssimo para distribuir”, complementa.