Especialistas comentam eficácia e limites da nova atualização
por
Marcelo Barbosa
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06/10/2025 - 12h

No início de outubro, o Banco Central do Brasil divulgou uma nova ferramenta para promover confiança nas transações bancárias. Chamado de “Botão de contestação”, o instrumento faz parte da série de medidas “autoatendimento do Mecanismo Especial de Devolução (MED)”  e poderá ser acionado em casos de fraude, golpe e coerção.

O MED foi criado em 2021 pelo Banco Central. Ele estabelece que a vítima solicite, em até 80 dias da data em que o PIX foi realizado, a devolução do dinheiro ao Banco. Funciona assim: Após receber a reclamação, a instituição avalia o caso. Se o banco entender que o MED se aplica, o golpista pode ter a conta bloqueada. As instituições deverão analisar a denúncia em até sete dias e, se for constatada fraude, a pessoa pode receber o dinheiro de volta em até 96h, caso haja dinheiro na conta do suspeito.

Com a nova funcionalidade, quem precisar fazer o pedido de devolução do dinheiro poderá realizar o processo de forma digital e assim, agilizar o bloqueio de recursos do golpista. Antes, o procedimento era intermediado por uma pessoa que fazia o atendimento.

De acordo com Heluan Santos, especialista em tecnologia da Valios Capital e autor dos livros “Além das Criptomoedas” e “Sempre Alerta” – ambos sobre segurança com dinheiro no ambiente on-line – o botão, apesar de aumentar a segurança e trazer mais confiança, ainda pode ser usado de maneira indevida, assim como ocorre em outras inovações.

Porém, segundo Santos, a expectativa é de que, com filtros e monitoramento, o novo recurso traga muito mais benefícios do que riscos, ainda que a centralização do sistema possa desembocar em decisões unilaterais. “A maior preocupação deve estar voltada para a engenharia social, que hoje é responsável pela maioria dos golpes. Esse tipo de fraude torna o processo de validação mais difícil e continua sendo o grande desafio”, destacou.

O termo "engenharia social" refere-se a uma técnica de manipulação usada por criminosos virtuais para convencer pessoas a revelarem informações pessoais.

Reprodução: Banco Central do Brasil | Imagem oficial do PIX
reprodução: Banco Central do Brasil | Logo oficial do PIX


Renato Cunha, especialista em meios de pagamento e segurança digital e proprietário da 3RMS, empresa de tecnologia para o varejo, lembrou que, mesmo no sistema anterior em que era preciso ligar para o correntista, essas tentativas de contestação fraudulentas já eram praticadas, assim como as tentativas de cancelar compras no cartão diariamente.

Segundo ele, os bancos e operadoras conseguem identificar comportamentos suspeitos e a maior parte dessas contestações sequer chega ao cliente final, pois são barradas antes pelos sistemas antifraude, com exceção de casos em que os criminosos estão dentro dos próprios bancos. "A facilidade na aplicação de golpes [ainda] será explorada. Porém, o número de sucesso nesses golpes é extremamente baixo. Geralmente, ele passa quando tem pessoas mal intencionadas de dentro dos bancos ou operadoras fazendo parte da quadrilha”, afirma Cunha.

Importante destacar que a contestação não poderá ser feita nos casos de desacordos comerciais, erros no envio do PIX ou quando houver arrependimento na transação. De acordo com o Banco Central, o novo botão será exclusivamente para evitar fraudes.
 

A festa que enche o Brasil de cores e os comerciantes de oportunidades
por
Nicole Domingos
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12/09/2025 - 12h

Por Nicole Domingos

 

O Carnaval, que se vende como festa e se compra como tradição, não é apenas desfile de rua, batuque de samba ou fantasia improvisada. É também uma virada de chave para o comércio, que transforma a purpurina em faturamento. Em janeiro de 2024, a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), publicou que o ano de 2025 movimentaria mais de R$9 bilhões, reforçando seu posto como uma das datas mais rentáveis do calendário econômico. Na contabilidade da festa, cada rua cheia de foliões é também um corredor de consumo. As farmácias que dobram as prateleiras de protetor solar, os supermercados que multiplicam o estoque de bebidas, as lojas de fantasia que expõem brilhos e lantejoulas como se fossem joias de temporada. Roberto Devidis, representante de vendas para armarinhos e lojas de customização na rua 25 de março,  considera que o carnaval é uma espécie de Natal fora de época.

Nos bastidores da festa, empresários calculam margens, fornecedores disputam espaço nas prateleiras e pequenos comerciantes fazem de cada esquina uma oportunidade. Para Marlene Batista, dona de loja de armarinhos, não existe nenhum período em que cresce as vendas como nesse tempo. Ela diz que antes mesmo da virada do ano já recebe pedidos de escolas de samba, tanto de produtos para a confecção dos carros, quanto para as roupas que serão usadas na avenida. Além disso,  o carnaval cria um ambiente de consumo que vai além da festa. Aumenta o fluxo em bares e restaurantes, multiplica reservas em hotéis e aplicativos de hospedagem, movimenta aplicativos de transporte, gera impacto até nos varejos de eletrodomésticos, com vendas de caixas de som, ventiladores e aparelhos de ar-condicionado. A folia, nesse sentido, extrapola o sambódromo e se infiltra em cada detalhe da vida cotidiana.

O ambulante que vende água, cerveja e todo tipo de bebida no bloco, a costureira que aceita ideias improvisadas de fantasias, o maquiador que tem que sempre ter uma ideia nova e cores vibrantes, todos compõem a cadeia econômica do carnaval. Em uma reportagem postada pelo Ministério da Cultura fica claro como não só os empresários com suas lojas têm a oportunidade de garantir uma boa renda, mas também aqueles que precisam de momentos como esse para sobreviver, como ambulantes que trabalham com eventos sazonais.

Outro ponto relevante é a geração de empregos temporários. Segundo a revista Forbes, a folia deve impulsionar, ainda, o mercado de trabalho, com a criação de 300 mil postos temporários, no interior e no litoral do Estado de São Paulo. O coordenador do Núcleo de Pesquisa da Fhoresp, Luís Carlos Burbano, destaca que esses empregos geram renda imediata para as famílias, contribuindo para a dinamização da economia local. Para muitos trabalhadores, o Carnaval representa a chance de garantir uma renda extra no início do ano. Essa circulação de dinheiro não apenas aquece os centros urbanos, mas sustenta muitas famílias que, durante os quatro dias de festa, encontram mais renda do que em meses inteiros de trabalho formal.

O contraste, no entanto, se mantém: se o brilho é abundante nas grandes cidades turísticas, os municípios sem tradição carnavalesca mal percebem a onda econômica. O comércio local, nesses lugares, vê pouco ou nenhum aumento expressivo nas vendas. Em pesquisas são sempre mostradas locais como o Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza e Minas Gerais. É como se o Carnaval, enquanto festa, fosse universal, mas enquanto motor econômico fosse seletivo. Ainda assim, mesmo de forma desigual, a festa gera reflexos nacionais, movimentando cadeias de produção que alcançam diferentes regiões.

No fim, a conta é simples: o País veste fantasia, mas o comércio veste números. O carnaval continua sendo um dos maiores espetáculos do mundo, já que a matéria da Forbes explica que lugares com a fama do Rio de Janeiro atraí não só turistas brasileiros como também internacionais para a festa. E de acordo com Enio Miranda, diretor de Planejamento Estratégico do Núcleo de Pesquisa da Federação dos Hotéis, Restaurantes e Bares do Estado de São Paulo (Fhoresp),  o Carnaval está cada vez mais consolidado no calendário de eventos dos turistas estrangeiros.

Na soma final, não se trata apenas de quatro dias de festa, mas de um ciclo econômico que começa semanas, ou até mesmo meses antes, se prolonga depois da Quarta-feira de Cinzas e reafirma a festa como um patrimônio não só cultural, mas também econômico do Brasil.

Indicador registrou crescimento da economia brasileira de 0,3% no segundo trimestre de 2025
por
Marcelo Barbosa
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20/08/2025 - 12h


O Banco Central (BC) divulgou nesta segunda-feira (18) os dados do IBC-BR (Índice de Atividade Econômica do Banco Central do Brasil) referentes ao mês de junho. Os números mostraram uma queda de 0,1% em relação a maio, mas o resultado do segundo trimestre de 2025 se manteve positivo, com um crescimento de 0,3%. O IBC-BR é um dos indicadores oficiais da economia brasileira. Ele faz uma estimativa de crescimento levando em conta três setores: agropecuária, indústria e serviços. O índice foi criado para trazer números frequentes sobre a atividade econômica do Brasil e tem influência sobre as decisões financeiras do país, servindo de auxílio para políticas monetárias, como a taxa de juros (Selic).

Por exemplo, quando a taxa de juros está em patamares elevados, isso reduz a atividade econômica, o que se reflete nos números do indicador. Por isso, atualmente, ele é lido pelo mercado como a "prévia do PIB".

 
 

Fachada do Banco Central do Brasil em Brasília — Foto: Marcello Casal/Agência Brasil
IBC-BR: agropecuária, indústria e serviços tem leve alta no segundo trimestre de 2025 (Marcello Casal Jr./ Agência Brasil)

 

 

Retração da economia

Após quatro meses seguidos de bons resultados, maio registrou a primeira retração do ano, de 0,7% em relação a abril. Em junho, a queda foi de 0,1%. De acordo com o professor de economia Renan Silva, do IBMEC Brasília, "a alta deu-se devido à Selic, que chegou ao patamar de 15%”. Ele explicou que "o que corrobora para essa questão da taxa de juros restritiva é o fato de que os indicadores de inflação vêm arrefecendo. No último relatório Focus, do Banco Central, o IPCA já registra uma inflação, em 2025, de 4,95%, ante os 5,30%, que as projeções vinham indicando”.

 

Os dados oficiais do Banco Central confirmam que a agropecuária foi o principal fator para a retração no trimestre, com uma diminuição de 3,1% no período. Por outro lado, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta que o destaque de junho foi o aumento de 0,3% no volume do setor de serviços. A produção industrial teve um recuo de 0,1% no mês, e as vendas no varejo também frustraram as expectativas, recuando 0,1% em comparação a maio. Sob a óptica do professor, o tarifaço de Donald Trump pode trazer efeitos adversos e "provocar uma redução intensa no segundo semestre”.

 

Nos últimos 12 meses, os números ficaram em 3,9%, o que representa uma desaceleração em face ao mesmo período, que marcou uma alta de 4,04%.

 

Para o futuro, Silva acredita que a retração na atividade econômica pode influenciar o COPOM (Comitê de Política Monetária) - órgão responsável por estabelecer as diretrizes da política monetária - a iniciar um novo ciclo na queda dos juros. "Esse ciclo restritivo já teve efeito, o que gerou como resultado a redução na atividade econômica”, conclui. A retração de 0,6% no terceiro trimestre de 2023 havia sido a última queda do indicador antes dos recuos registrados neste ano.

Alimentação e bebidas têm deflação em relação ao mês anterior, enquanto habitação sofreu alta devido ao aumento da conta de luz
por
Marcelo Barbosa P.
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13/08/2025 - 12h

O IBGE divulgou nesta terça-feira (12) o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação do país. Os dados apontam que houve um aumento de 0,26% no mês de julho, uma leve alta em comparação com a taxa de 0,24% registrada em junho. No ano, o IPCA já acumula desaceleração de 3,26% e, nos últimos 12 meses, de 5,23%.

De acordo com o gestor de investimentos e especialista financeiro da WFlow, Guilherme Viveiros, a inflação surpreendeu positivamente. "O índice deste mês veio com o valor de 0,26%, enquanto o mercado via uma elevação de 0,36%". O mês de agosto também deve apresentar queda, com índices negativos o que, segundo Viveiros, "fez com que o mercado começasse a sondar uma possível queda dos juros ainda em 2025".

Entre os setores da economia que apresentaram deflação, ou seja, queda de preços, estão o grupo Alimentação e bebidas (-0,27%), Vestuário (-0,54%) e Comunicação (-0,09%). Em contrapartida, entre os maiores destaques da alta estão os grupos Habitação (0,91%) e Despesas Pessoais (0,76%). A alta do grupo Habitação foi impulsionada pela energia elétrica residencial, com variação de 3,04% - o maior impacto individual no índice do mês. Esse número se deve ao fato de que a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica) confirmou a bandeira tarifária de agosto, que será a Vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Como consequência disso, haverá um acréscimo de R$ 7,87 para cada 100 kWh consumidos na conta de luz.

O grupo Transportes também teve aceleração, passando de 0,27% em junho para 0,35% em julho, impulsionado pela alta de 19,92% nas passagens aéreas. Por outro lado, os combustíveis tiveram uma queda de 0,64% no mês, com recuos no preço do etanol (-1,68%), do óleo diesel (-0,59%), da gasolina (-0,51%) e do gás veicular (-0,14%).

 Já o grupo Alimentação e bebidas, que tem o maior peso no IPCA, registrou baixa pelo segundo mês consecutivo. A queda em julho foi impulsionada pela alimentação no domicílio, que caiu 0,69% com destaque para redução nos preços da batata-inglesa (-20,27%), da cebola (-13,26%) e do arroz (-2,89%).

 

Reprodução: Tânia Rego/Agência Brasil | Pessoas andando em um mercado
Reprodução: Tânia Rêgo| Pessoas escolhem frutas em um mercado


Rafael Prado, economista e analista de macroeconomia da Go Associados, chama a atenção para o fato de que o valor da inflação deste mês ainda é elevado em relação à meta de 4,5% ao ano. Segundo ele, o resultado deste mês é prova de que a política monetária pode atuar de maneira enfática nos dados. "Quando nós olhamos para os números desagregados do IPCA, vemos que existem grupos, como Habitação que foi impactado pela energia elétrica, que influenciaram para o aumento de julho". Para ele, isso ressalta a importância de "continuar com uma política monetária restritiva, para que a inflação continue caindo e volte ao intervalo de tolerância."

Já o professor de economia João Gabriel Araújo, do Ibmec Brasília, destaca o efeito Trump na economia brasileira. Segundo ele, a guerra tarifária vai ser um dos fatores determinantes para a queda dos preços no Brasil. "Com o anúncio das medidas para o Brasil, especialmente a tarifa de 50% sobre as importações, os produtores nacionais aumentaram os estoques para o mercado interno, reflexo da diminuição das exportações para os Estados Unidos antes da implementação da tarifa e do consequente aumento da oferta de bens no mercado doméstico".

O cálculo do IPCA foi realizado a partir da comparação dos preços coletados entre 1 e 30 de julho de 2025 com os preços vigentes entre 30 de maio e 30 de junho de 2025. O IPCA abrange famílias com rendimento monetário de 1 a 40 salários-mínimos. Já o INPC, que considera famílias com rendimento de 1 a 5 salários-mínimos, teve alta de 0,21% em julho, com acumulado de 3,30% no ano.

A falta de renda fixa, escolaridade e educação financeira empurra jovens para ciclos longos de endividamento.
por
Maria Luiza Pinheiro Reining
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24/06/2025 - 12h

Entre boletos parcelados, cartões de crédito e ofertas de empréstimos rápidos, jovens brasileiros têm se tornado protagonistas de um fenômeno crescente: o superendividamento. Sem renda fixa, sem vínculo formal com instituições financeiras e com pouca ou nenhuma educação financeira, parte expressiva dessa população vê no crédito imediato uma resposta à sobrevivência, ainda que, a longo prazo, isso signifique um acúmulo impagável de dívidas.

A especialista em consumo e pesquisa de mercado, Eduarda Barreto, 27, chama atenção para a complexidade do problema. Para ela, não se trata apenas de comportamento individual, mas de um contexto social e estrutural. “Em 2022, uma pesquisa do Banco Central mostrou que 22% dos jovens entre 15 e 29 anos estavam fora da escola e do mercado de trabalho. Isso representa cerca de 11 milhões de jovens sem renda fixa ou escolaridade mínima para acessar melhores oportunidades”, afirma.

Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP
Eduarda Barreto em palestra na FEA-USP 

Esse grupo, segundo Eduarda, é o mais vulnerável a modalidades de crédito como empréstimos emergenciais ou cartões pré-aprovados. Com pouco conhecimento sobre juros e condições, esses jovens recorrem ao que está disponível mesmo que isso signifique aceitar taxas elevadas e prazos inflexíveis. Ela explica que não se trata de crédito para investir, mas para sobreviver. Muitas vezes, o empréstimo serve para pagar contas básicas como luz, gás e alimentação.

Eduarda destaca que esse ciclo é agravado pela ausência de políticas públicas consistentes de educação financeira desde os primeiros anos escolares. Jovens que não estão inseridos no mercado de trabalho ou na escola muitas vezes não têm qualquer orientação sobre orçamento, crédito ou endividamento. O resultado é um cenário em que decisões são tomadas no impulso da necessidade, sem planejamento ou capacidade de negociação com bancos.

A falta de vínculo estável com instituições financeiras também pesa. Quem não tem um histórico com o banco dificilmente acessa linhas de crédito com melhores condições. Barreto observa que, mesmo com juros altos, muitos jovens aceitam a única oferta disponível, pois não têm tempo nem suporte para tomar uma decisão mais estratégica. Eles precisam do dinheiro de forma imediata.

Embora programas de renegociação de dívidas e feirões "limpa nome" tenham ganhado força nos últimos anos, Eduarda pondera que eles não atacam o problema na raiz. O superendividamento juvenil é reflexo direto de um sistema que oferece crédito sem oferecer estabilidade, informação ou perspectivas.

Vendas estão em queda desde o início do isolamento social
por
Pedro Henrique Reis Satelis
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11/06/2020 - 12h

O setor do varejo (caracterizado pela venda de produtos ou comercialização de serviços em pequenas quantidades) tem sofrido forte impacto desde que a crise causada pelo novo coronavírus se instaurou no país, em meados de março. Para se ter uma ideia, estabelecimentos de setores importantes, como turismo, eletrodomésticos, vestuário e eletroeletrônicos, estão fechando ou precisando recorrer ao crédito, pois estão sofrendo uma queda de até 10% nas vendas.

O varejo brasileiro vende em média R$ 35 bilhões em um mês regular e emprega 1,3 milhão de trabalhadores formais. De acordo com o analista econômico Rafael Bianchini, esta crise está sendo vista por muitos economistas como a pior desde a Grande Depressão dos anos 1930. 

“Alguns setores estão sendo afetados de maneira mais profunda, outros de maneira menos profunda, mas todos vão perder”, diz Bianchini.

Segundo ele, até mesmo os ramos do comércio que tiveram algum crescimento no começo da pandemia, como farmácias, estão registrando queda nas vendas. “Difícil que algum setor passe imune nesta crise”, afirma.

Para amortecer os impactos, empresas de diferentes portes têm buscado diminuir os custos, renegociando itens como aluguel, contratos com estacionamentos e empréstimos bancários, para os quais pedem alongamento de prazos e redução das taxas de juros.

Segundo o economista Guilherme Dietze, representante da FecomercioSP, os órgãos que defendem os comerciantes de São Paulo têm apresentado medidas para ajudar os seus afiliados. “O que nós da Fecomercio temos sugerido ao governo é a postergação do pagamento de impostos, como, no caso do município de São Paulo, o IPTU, que não foi feito até agora. Mas as medidas do governo têm sido muito tímidas até o momento em relação ao que o varejo e o setor de serviços precisam”, comenta Dietzel.

De acordo com o economista, algumas medidas anunciadas, como a criação de linhas de crédito, não estão chegando aos comerciantes, pois os bancos contratados como agentes financeiros estão com receio de emprestar o dinheiro e sofrer com a inadimplência. Diante disso, a alternativa possível, segundo Dietzel, tem sido se valer das medidas provisórias 927 e 936, que flexibilizaram as relações de trabalho, permitindo, por exemplo, a redução de jornada com diminuição do salário ou a antecipação de férias e feriados.

Outra medida também adotada pelos comerciantes é a migração para o comércio eletrônico (e-commerce), cujo faturamento aumentou nas últimas semanas e deve continuar crescendo.

“O comércio eletrônico, em relação ao varejo físico, representa cerca de 4 ou 5%, um pouco mais quando ocorre a Black Friday, em novembro. É um mecanismo que está sendo muito explorado pelos consumidores, pois os Correios estão funcionando normalmente e até mesmo as entregas particulares estão sendo usadas. Porém, as pessoas agora estão conseguindo comprar, mas, se a crise permanecer em uma amplitude forte, com fechamento de lojas e desemprego, todos vão sofrer, até mesmo os supermercados e farmácias”, diz o economista da FecomercioSP.

Muitos lojistas já entendem que, no pior dos cenários, deverão fechar as suas lojas, principalmente os microempresários, que possuem menos recursos financeiros e capital de giro que possibilitem um funcionamento normal durante e depois da crise.

“Nessa crise vai haver uma seleção natural: quem estiver ruim vai acabar fechando sua loja e demitindo funcionários, e aqueles que estiverem relativamente melhor estruturados deverão conseguir se sobressair e até mesmo ter mais condições de ter crédito, pois, com as contas organizadas, consegue-se ter uma previsibilidade dos bancos para obter algum tipo de crédito”, avalia Bianchini.

Também é importante salientar que a crise afetará toda a economia brasileira e mundial, sem exceções. Sem a renda dos trabalhadores formais que estão sendo afetados pelas medidas de isolamento social implantadas pelo governo federal, o consumo consequentemente cairá mais do que o previsto, muito embora não se tenha indicadores fechados para todos os setores da economia.

Resta aos comerciantes neste momento pensar em estratégias e cuidar de seu capital de giro para que não tenham um prejuízo maior do que o já previsto e também consigam pagar as suas dívidas, contando com a boa vontade que o governo deve ter neste momento de calamidade.

Estimativas do mercado mostram IPCA abaixo do piso da meta; em maio, índice teve deflação pelo segundo mês consecutivo
por
Carolina Lopes
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07/06/2020 - 12h

Os impactos da pandemia do novo coronavírus são perceptíveis na economia brasileira. Um desses reflexos é a queda da taxa de inflação e suas previsões para este ano. No último Boletim Focus, divulgado pelo Banco Central (BC) no dia 8 de junho, a projeção do mercado para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2020 caiu para 1,53%. Um mês antes, a previsão estava em 1,76% e, no fim de 2019, em 4,04%.

Este declínio é um reflexo da crise desencadeada pela pandemia de Covid-19, que provocou uma restrição no poder de compra da população e, com isso, uma forte queda da demanda no país. O nível da atividade econômica está tão baixo, que, se antes mantinha a inflação sob controle, agora a direciona para baixo da meta, mesmo com a alta do dólar pressionando para cima os produtos importados ou influenciados pela moeda americana.

Para este ano, a meta do governo para o IPCA é de 4%, podendo variar 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, ficar entre 2,5% e 5,5%. A projeção atual do mercado, portanto, indica que o IPCA ficará abaixo do piso da meta deste ano. A meta é definida pelo Conselho Monetário Nacional, e fica sob responsabilidade do BC atingi-la, através de uma série de medidas.

Em situações de queda da inflação, a principal medida a ser tomada pelo BC é a redução da taxa básica de juros, a Selic. Essa é uma tentativa de reaquecer a economia, já que as condições de financiamento melhoram e crescem as possibilidades de compra. Atualmente, o juro básico está em 3%, mas, de acordo com as estimativas divulgadas no Boletim Focus, deve finalizar o ano em 2,25%

O economista Fábio Silveira, sócio-diretor da MacroSector Consultores, diz que, ao reduzir a taxa Selic, o Banco Central cumpre um papel importante de injetar liquidez na economia (ou seja, aumentar o dinheiro em circulação), em benefício das empresas e das famílias. Ele defende que a instituição seja ainda mais ousada, tomando como exemplo a atuação do FED, o banco central americano.

Para Claudemir Galvani, diretor da Metha Consultoria e professor do departamento de economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), a inflação baixa, ainda dentro da meta, é positiva pois preserva o poder de compra, principalmente das classes mais baixas. Ele considera que a margem de 2% a 5% para o índice geral de preços é razoável.

Levando em conta essa mesma margem, Silveira aponta ser um índice civilizado, que ainda demonstra certo vigor da economia. Para ele, apesar de estar em queda, o IPCA ainda não motiva preocupações. Mas o momento exige atenção para as formas de controle e para a retomada do piso da meta. Galvani pontua que, se por um lado considera que a inflação próxima de 2,5% pode ser benéfica, por outro, os motivos que levam a ela preocupam – no cenário atual, a crise econômica por conta do coronavírus. O índice da inflação baixo, dentro da meta, pode ser considerado positivo, desde que a economia como um todo não seja sacrificada por isso. “Antes do coronavírus, a inflação já estava sob controle, por conta da forte concentração de renda e da alta taxa de desemprego, e não por controles adequados”, acrescenta o economista.

Deflação

Em maio, o IPCA registrou variação negativa (deflação) de 0,38%, a menor taxa desde o início do Plano Real, em 1994, perdendo apenas para o recuo de 0,51% ocorrido em agosto de 1998. No acumulado de 12 meses, o IPCA tem variação de 1,88%. Ou seja, se o ano terminasse em maio, o índice ficaria abaixo do piso da meta. Dos nove grupos de preços que compõem o índice, apenas três tiveram variação positiva em maio: alimentação e bebidas (+0,24%), artigos de residência (+0,58%) e educação (+0,02%). A maior queda ocorreu no grupo transportes (-1,9%), influenciada principalmente pela redução do preço dos combustíveis.   .

A queda dos combustíveis está sendo determinada pela baixa histórica das cotações do petróleo. Com a demanda afetada pela crise da Covid-19, o produto passou a ter um excesso de oferta no mundo, o que derrubou o valor do barril. Além do petróleo, outras commodities têm pressionado a inflação para baixo.

As commodities são produtos de origem primária que possuem valor comercial e estratégico relevante no mercado mundial. Por serem primários, dependem diretamente dos setores para os quais são destinados, como a indústria, e seus preços são regidos pela oferta e demanda.

Considerado o medidor oficial da inflação, por ser o índice utilizado no regime de metas, o IPCA leva em conta nove grupos de produtos e serviços que fazem parte do orçamento de famílias com renda mensal de 1 a 40 salários mínimos.

Regime de metas

O regime de metas foi implantado no Brasil em 1999, a fim de orientar a política monetária do país. Esta, por sua vez, se caracteriza pelo controle do sistema econômico através da estabilização de preços.

Caso a inflação supere o teto ou fique abaixo do piso da meta – como é provável neste ano –, o presidente do Banco Central deve dirigir uma carta aberta para o ministro da Economia explicando as razões do descumprimento e esclarecendo possíveis novas ações.

Ao contrário do momento atual, durante a segunda metade do século 20 o Brasil registrou a inflação mais alta do mundo e enfrentou períodos de grandes oscilações. Em 1994, o estabelecimento do Plano Real conseguiu controlar a hiperinflação. “A inflação deixou de ser um grande problema da história do Brasil, e agora é o desemprego, a renda, e é em cima disso que as medidas cabíveis devem ser tomadas”, diz Galvani.

Com o fechamento do comércio gerado pela pandemia do novo Coronavírus, autônomos enfrentam a queda da renda e a incerteza.
por
Por Bruna Galati e Letícia Galatro
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02/06/2020 - 12h

A pandemia do COVID-19 se espalhou rapidamente, gerando dezenas de infectados e mortes. Segundo o ministério da Saúde, só no Brasil são 29 mil mortes até 01 de junho. Com isso, muitas cidades decretaram o fechamento dos comércios por tempo indeterminado, interferindo nas finanças de todos brasileiros.

Funcionários estão correndo o risco de serem demitidos ou terem seus salários reduzidos, junto com sua jornada de trabalho. Já os autônomos não sabem como manter seus negócios, uma vez que os gastos continuam e a renda diminuiu drasticamente. Muitas empresas não sabem quanto tempo vão conseguir se manter.

Advogados, médicos, dentistas, diaristas e pedreiros, são alguns dos profissionais que estão sentindo o efeito do isolamento e para quem não tem reserva de emergência, o aperto financeiro pode ser assustador. 

Para Rita Valéria Galatro, dona do posto de gasolina São José Auto Posto BR, a situação não está boa. Ela continua tendo demanda em seu estabelecimento, mas  o movimento é mínimo, "Estou com o número reduzido de funcionários, mas eu trabalho", afirma. 

Rita está fazendo o máximo para não demitir seus funcionários, embora tenha feito essa escolha algumas vezes. Outra decisão, foi dar férias para a metade dos funcionários em abril e para a outra metade em maio, ela imagina que no próximo mês, quando todos voltarem de férias será complicado. “Se o comércio não voltar, terá que demitir mais pessoas”, afirma. 

Assim como Rita, a dentista Débora Galatro, de São Paulo, está usando suas reservas de caixa, construídas ao longo da sua carreira, como renda. Seu consultório foi fechado, conforme foi imposto na Lei e segue as orientações do Ministério da Saúde de atender apenas os casos de urgência. "É muito difícil ter uma perspectiva do futuro frente a incerteza da doença. Penso que a crise econômica vai atingir a todos e isso realmente vai interferir nas relações comerciais e nos hábitos de consumo, o que provavelmente irá modificar o perfil de pacientes”, diz Galatro, que vê diminuição dos tratamentos estéticos.  


Como Galatro, o advogado Sergio Miniaci, sócio da empresa Miniaci & Canto Advogados, viu sua renda cair drasticamente, ficando pelo menos um mês sem conseguir trabalhar. “Eu consegui começar a trabalhar no dia 04/05, que foi quando voltou a fluir os prazos dos processos eletrônicos, mas o volume ainda é pouco porque o Fórum continua fechado e os processos físicos suspensos. A movimentação e o lucro diminuíram muito, mas o escritório continua sendo minha única fonte de renda”, ressalta Miniaci. 


Ana Paula Carvalho, dona de uma empresa que vende peças para caminhões, chegou a solicitar o auxílio emergencial para conseguir pagar as contas no prazo. A primeira vez que ela tentou retirar os R$ 600,00 foi negada por falta de informações, então ela atualizou os dados, pediu novamente e está apreensivamente aguardando a resposta. “Eu não sei se eu vou ter esse auxílio porque minha empresa não é Micro Empresa Individual (MEI). Trata-se de uma empresa individual que é administrada por pessoas que trabalham por conta própria.. Eu fiquei dois anos como empresa MEI, mas a partir de janeiro de 2020, subiu um grau, para Simples Nacional (regime tributário facilitado e simplificado para micro e pequenas empresas). Estou no aguardo. Espero conseguir porque vai me ajudar muito”, diz Carvalho.  


O futuro do comércio no Brasil é incerto para todos, mas no meio dessa situação tão caótica, ainda há esperança. Ana conta que a solidariedade de seus fornecedores e amigos  é o que tem mantido sua empresa funcionando: “Estamos em casa montando as buzinas e quando o cliente faz algum pedido, os caminhoneiros fazem entrega para nós sem custo algum. No mundo todo, as grandes empresas estão ajudando as médias e pequenas empresas. Os fornecedores que são grandes me falaram que eu posso pegar o que eu precisar na empresa e ir pagando conforme for recebendo. Eu acredito na ajuda das pessoas. Eu não acho que vai ter mais disso de um passar a perna no outro”. 


Todos os entrevistados para essa matéria estão confiantes que a suas empresas continuarão após a pandemia, mas cientes de que não será uma tarefa fácil, por isso é necessário calma e paciência.
 

Economistas veem com ressalvas possibilidade de controle, mas pandemia pode justificar exceções
por
Vittória Burattini
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31/05/2020 - 12h

 

Desde que os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados no Brasil, a população entrou em um combate para conseguir comprar os produtos que  controlam a contaminação. Com a alta procura, o preço de itens como álcool gel e mascaras aumentou drasticamente, fazendo com que muitas pessoas não conseguissem adquiri-los.

Por conta do alto valor e da escassez do álcool gel, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) sugeriu que o preço desta e outras mercadorias consideradas fundamentais ao combate do vírus fosse congelado. Na recomendação, entidade aconselhou ao governo federal o congelamento de preços do álcool gel, vitaminas, máscaras e luvas. A sugestão foi feita com o objetivo de evitar o aumento abusivo dos produtos e mantê-los acessíveis às pessoas de menor renda. 

Kléber Colares, presidente da subseção da OAB no Vale do Salgado (CE), responsável pela recomendação, disse que o intuito da proposta seria "preservar o direito do consumidor, tendo em vista o aumento que já está acontecendo com esses produtos". 

A estratégia de congelamento de preços, no entanto, é controversa entre os economistas. Muitos são contra políticas de controle, devido aos possíveis efeitos negativos que podem causar no mercado. Ainda assim, o atual contexto poderia justificar exceções, de acordo com especialistas ouvidos pela Agemt.

Segundo Silvio Campos Neto, economista-sênior da consultoria Tendências e professor das Faculdades Oswaldo Cruz, o congelamento de preços retira da economia aquilo que ela tem de melhor, que seria a negociação, o encontro entre oferta e demanda. "Quando você congela os preços, você distorce o sistema. Gera imperfeições que acabam prejudicando o próprio abastecimento, como a escassez, mercado negro", afirmou.

Entretanto, na situação atípica desta pandemia, Campos Neto disse que poderia haver um acordo entre produtores de álcool e entidades representativas de consumidores, negociando um preço que vigore por um tempo. “Poderia até se estabelecer um limite de compra de álcool gel, durante esse período, para que as pessoas não abusem. O que é negociado não sai caro", comentou, frisando a excepcionalidade do atual cenário. “Estamos possivelmente na maior pandemia da história da humanidade.”

Para José Luís Oreiro, professor de economia da Universidade de Brasília, o congelamento de preços em um cenário "normal" da economia é inviável. Contudo, na crise de saúde instaurada pelo novo coronavírus, a tática de controlar o valor do álcool gel não é uma má ideia. "O que temos, na verdade, é a especulação. Os distribuidores de álcool em gel retêm o estoque do produto e liberam em conta-gotas, para conseguir um preço mais alto. Então, o que se tem que fazer nessa situação é congelar o valor, para que não haja um aumento abusivo de preços", afirmou.

Imagem da capa: “Can you guess what this is?” | Daniel McGrotty | Sob a licença CC BY-2.0 - Creative Commons. Link: https://www.flickr.com/photos/165767995@N07/page2

 

por
Adriano Madruga
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27/05/2020 - 12h

Com o avanço do novo coronavírus, a perspectiva é de que o crescimento do país neste ano seja negativo, culminando em uma recessão sem precedentes. Neste novo cenário, o setor industrial, maior gerador de empregos do país, será duramente afetado. Os analistas do mercado financeiro já preveem uma queda de 6,5% para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020. Para o Banco Mundial, o recuo será ainda maior: 8%.      

Empresa industrial-Foto da página PXhere
Empresa industrial-Foto da página PXhere

Na indústria, a crise da Covid-19 representa, entre outras coisas, uma brutal queda de expectativas. No fim do ano passado, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgou a previsão de um aumento de 2,8% no PIB do setor. A taxa seria a maior expansão desde 2011 e confirmaria a recuperação da indústria, após os golpes provocados pela recessão de 2015 e 2016. Com o inicio da pandemia, no entanto, e as medidas de isolamento adotadas para conter a expansão do vírus, a produção industrial caiu 9,1% em março e, em abril, despencou 18,8%.    

Uma pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) mostrou que, no começo de março, 70% das empresas associadas já apresentam problemas com o abastecimento de componentes, que são produzidos majoritariamente na China e em outros países asiáticos.

Em entrevista ao portal G1, o diretor de estudos e políticas macroeconômicas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), José Ronaldo Souza Júnior, afirmou que é difícil prever os impactos que a crise terá na economia brasileira porque não há registros históricos de ocorrências semelhantes, mas disse que a pandemia gera problemas tanto pelo lado da oferta quanto da demanda.

“O choque na oferta ocorre pelos problemas de suprimento de algumas cadeias produtivas, como a da indústria eletrônica. Já pelo lado da demanda é porque os mecanismos usados para a contenção do vírus reduzem a interação humana, e isso tende a refletir no PIB. Para a indústria, existe também a preocupação com a contaminação de empregados. É um setor que utiliza mão de obra de forma intensiva”, analisou Júnior.

O sócio-diretor da produtora de linhas industriais Linhasita, Oscar William Rossi,  diz que a empresa vem apresentando resultados frustrantes há cinco anos. “Viemos em uma velocidade de produção muito grande, mas quando chegou em meados de 2015 a economia parou de repente e caímos em uma recessão muito forte, o que resultou na queda da nossa produção.”

O empresário conta que a produção caiu de 130 toneladas por dia para um volume entre 60 e 70 toneladas. Além disso, por causa da alta do dólar, as importações também caíram, o que prejudicou a empresa, que obtém parte de sua receita com a venda de insumos importados no mercado nacional.

William diz que, para a sua empresa, o ano começou com resultados empolgantes, mas o avanço do coronavírus alterou drasticamente a situação.  

“O faturamento  de janeiro e fevereiro foi surpreendente para nós. Março também vinha andando muito bem, mas então veio a parada repentina por causa da pandemia. Aí foi terrível a situação, porque simplesmente você foi a zero, e não se faturou nada.”

Linhas de uso industrial-Foto da página PXhere
Linhas de uso industrial-Foto da página PXhere

Questionado sobre a possibilidade de fechar o negócio, o empresário afirma: “Nós não chegamos a fechar totalmente as portas, mas, como a cadeia ficou comprometida, tanto a cadeia de fornecedores quanto a de clientes, que não estava trabalhando, nós tivemos um mês em que faturamos de um quarto a um quinto do nosso faturamento, sendo que, em um custo normal, você não paga as contas. Então tivemos que prorrogar muitos pagamentos de clientes e também tivemos que pedir muita prorrogação para fornecedores nossos”.

William demonstra preocupação com as perspectivas de uma retomada. “Eu acredito que seja impossível de ser 100% de novo, talvez 50% do que era, mas vai ser muito complicado porque a gente vê quais serão os novos custos nessa nova realidade e ainda temo que essas paradas ocorram novamente, porque não existe ainda nada que se diga sobre cura do vírus, nenhum remédio efetivo e vacina só a longo prazo. Então a gente pode esperar novas paralisações do mercado com certeza.”

Em relação a demissões e ao futuro da empresa, William afirma que existe uma insegurança muito grande por parte dos empresários, pois não sabem o que fazer diante de qualquer tipo de dívida. Mesmo com o governo apresentando medidas para amenizar o desemprego, ele acredita que logo serão tomadas providências em relação a isso.

“Hoje tenho ativos 280 funcionários, porém tenho clientes meus que têm 10 mil funcionários e que já mandaram 30% embora. A gente provavelmente vai ter que fazer o mesmo antes de tomar qualquer outra medida”, diz o empresário.