Diretor de política monetária discute estratégias econômicas adotadas pela autarquia durante live
por
Camila Aroulho Bucoff
|
07/04/2025 - 12h

O diretor de política monetária do Banco Central (BC), Nilton David, participou, na segunda (31), de uma live sobre “Conjuntura e Política Monetária” promovida pelo Itaú BBA. O evento foi moderado por Mário Mesquita, economista-chefe do Itaú. 

Na transmissão, David indicou que o principal objetivo da autoridade monetária é alcançar a meta de inflação de 3%. Também lembrou que o BC procura suavizar a oscilação de ciclos econômicos e a instabilidade econômica, sem prejudicar a meta. "O Banco Central vai buscar o caminho que for mais razoável para se chegar a esses 3% primeiro, claro que em vista das consequências que tem para os dois lados", disse. 

  Nilton David, diretor de política monetária do BC. Foto: Reprodução/LinkedIn
Nilton David, diretor de política monetária do BC. Foto: Reprodução/LinkedIn

Ciclo de aperto não acabou

No mês de março, o BC implementou a terceira alta seguida nos juros básicos, chegando a 14,25% ao ano, e indicou para a próxima reunião de política monetária, uma elevação em menor magnitude.

A elevação da taxa objetiva controlar a inflação, visto que o crédito mais caro reduz o consumo e força uma diminuição nos preços. Mesmo assim, segundo o Ministério da Fazenda, a inflação deve terminar 2025 em 4,9%, acima do teto da meta (4,5%). 

Segundo o diretor,  na reunião de março, a autarquia estava convicta de que o ciclo de aperto monetário não havia encerrado e que os movimentos à frente seriam menores do que os aumentos realizados anteriormente. A sinalização dada foi mais interessante para se ter uma saída do “forward guidance” suavizada - política monetária que sinaliza a trajetória dos juros futuros e outras medidas econômicas, minimizando volatilidades de interpretação.  Esse trabalho de minimização foi motivado pela inquietude do mercado em relação às três elevações consecutivas de 1 ponto percentual na Selic. 

Ele informou que o crédito incentivado existente no Brasil, uma linha de empréstimo que oferece condições mais favoráveis para estimular determinados setores da economia, faz com que a política monetária não tenha efeito equânime sobre todos os agentes. “O que acaba acontecendo é que o BC tem que colocar a taxa de juros um pouquinho acima para que todos estejam no nível restritivo”, disse David. 

O diretor também afirmou que as reservas internacionais brasileiras estão em níveis confortáveis e que não há razões para aumentá-las, dado que o BC apenas intervém no câmbio quando detecta alguma disfuncionalidade, seja no mercado à vista ou em derivativos.

Outro ponto comentado por David foi a elevação das expectativas de inflação acerca da valorização do câmbio, o que pode ser um indicador de que os agentes não perceberam que a alteração do patamar é permanente. Ele explica que as expectativas do mercado sobre a condução da política fiscal podem explicar o aumento da inflação. No entanto, a taxa de câmbio não possui relação mecânica com a política monetária. 


Impactos de guerra tarifária de Trump

David aponta que há mais incertezas do que definições sobre os impactos econômicos da guerra tarifária conduzida pelos Estados Unidos. Segundo ele, o aumento da hesitação tende a retrair investimentos, como mencionado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na reunião de março.

“Você vai ter um choque de oferta nos Estados Unidos com uma queda de renda disponível, vamos dizer assim, provavelmente uma queda de produtividade, que traria juros neutros lá na frente menores pela queda da produtividade, e um dólar fraco", afirma.

O diretor indica que o impacto das tarifas na inflação norte-americana tende a ser temporário, como avalia o presidente do Federal Reserve, banco central estadunidense, Jerome Powell. 

De acordo com David, os efeitos das tarifas dos Estados Unidos sobre as cadeias produtivas não podem ser devidamente estimados, sem se saber até onde o presidente americano, Donald Trump, está disposto a avançar. No caso de um impacto mais duradouro, “o Brasil estará preparado para enfrentar um cenário pior”, disse ele. 

 

Programa consignado privado 

David aponta que o BC permanece estudando possíveis efeitos do novo programa de estímulo ao crédito consignado para trabalhadores privados, no qual as parcelas do empréstimo são descontadas diretamente da folha de pagamento do tomador. “Nos nossos estudos, a gente ainda não tem uma conclusão com toda a convicção”, disse ele. Essa avaliação envolve a demanda pelos tomadores de empréstimos e o comportamento dos bancos. 

Segundo o diretor, “O RPM (Relatório de Política Monetária) que a gente publicou não tem nenhum impacto do consignado ainda, mesmo porque a gente ainda está tentando entender, e aqui não é simplesmente o comportamento do tomador, também deveria levar em consideração do doador do crédito, se ele está mais interessado em trocar ou em incrementar." 

 

Declarações podem ser entregues por programa disponível no site da Receita Federal ou de forma online pelo e-CAC;
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
26/03/2025 - 12h

 

A Receita Federal liberou acesso à Declaração Anual do Imposto de Renda na segunda (17). Será possível realizar a entrega até às 23:59 do dia 30 de maio. 

A Declaração desempenha um papel fundamental na captação de recursos para que o Governo tenha controle sobre a arrecadação de dinheiro que financia serviços públicos.

Dentre as principais mudanças neste ano estão: 

  • A ampliação de isenção para rendimentos tributáveis 

O valor de rendimentos tributáveis anuais que obrigam a entrega da declaração subiu de R$ 30.639,90 para R$ 33.888,00.
 

  • A declaração obrigatória para mais situações envolvendo bens e investimentos no exterior  

  • Trusts e contratos estrangeiros: Quem possuía trusts ou contratos similares no exterior em 31 de dezembro de 2024 agora precisa declarar;

  • Regime de Transparência Fiscal: Quem optou por declarar bens e rendimentos de entidades controladas no exterior como se fossem pessoais precisa informar na declaração;

  • Atualização de imóveis a valor de mercado: Quem optou por atualizar o valor dos imóveis no Brasil conforme a lei de bens e imóveis no exterior deve declarar essa escolha.

  • Declaração pré-preenchida mais completa

A Receita Federal ampliou o cruzamento de dados disponíveis na declaração pré-preenchida. Neste ano, informações sobre criptoativos e transações imobiliárias também estarão incluídas. 

  • Mudanças no pagamento e parcelamento 

O imposto pode ser parcelado em até 8 vezes, mas agora o débito automático só pode ser ativado até 9 de maio para a primeira parcela. Depois disso, só vale a partir da segunda parcela. Débitos abaixo de R$ 10,00 não precisam ser pagos imediatamente e podem ser acumulados para exercícios futuros.

  • Autorização para terceiros com novas regras

É possível, neste ano, autorizar apenas uma pessoa física para acessar e transmitir a declaração, com validade de até seis meses.

Quem deve declarar Imposto de Renda? 

 

  • É obrigatório a declaração das seguintes pessoas:

  • Quem recebeu rendimentos tributáveis acima de R$ 33.888,00 em 2024. O valor é um pouco maior do que o da declaração do IR do ano passado (R$ 30.639,90) por conta da ampliação da faixa de isenção;

  • Contribuintes que receberam rendimentos isentos, não-tributáveis ou tributados exclusivamente na fonte, cuja soma tenha sido superior a R$ 200 mil no ano passado;

  • Quem obteve, em qualquer mês de 2024, ganho de capital na alienação de bens ou direitos, sujeito à incidência do imposto, ou realizou operações em bolsas de valores, de mercadorias, de futuros e assemelhadas cuja soma foi superior a R$ 40 mil, ou com apuração de ganhos líquidos sujeitas à incidência do imposto;

  • Quem teve isenção de imposto sobre o ganho de capital na venda de imóveis residenciais, seguido de aquisição de outro imóvel residencial no prazo de 180 dias;

  • Quem teve, em 2024, receita bruta em valor superior a R$ 169.440,00 em atividade rural;

  • Quem tinha, até 31 de dezembro de 2024, a posse ou a propriedade de bens ou direitos, inclusive terra nua, de valor total superior a R$ 800 mil;

  • Quem passou para a condição de residente no Brasil em qualquer mês e se encontrava nessa condição até 31 de dezembro de 2024;

  • Quem optou por declarar os bens, direitos e obrigações detidos por entidade controlada no exterior (ou seja, uma empresa ou organização no exterior que é controlada direta ou indiretamente por uma pessoa física ou jurídica residente no Brasil), como se fossem detidos diretamente pela pessoa física;

  • Quem possui a titularidade de trust e demais contratos regidos por lei estrangeira com características similares;

  • Quem atualizou bens imóveis pagando ganho de capital diferenciado (forma específica de tributação sobre o lucro obtido na venda de vens ou direitos) em dezembro/2024;

  • Quem auferiu rendimentos no exterior de aplicações financeiras e de lucros e dividendos;

  • Quem deseja atualizar bens no exterior.

 

Como calcular a parcela que deve ser declarada? 

 

Para fazer o cálculo é importante saber o que significam as seguintes informações: base de cálculo, alíquota e parcela a ser deduzida. Base de cálculo: São os rendimentos tributáveis do contribuinte. Isto é, são os valores recebidos como salários, aluguel, pensão, remuneração por trabalho, investimentos, bônus etc.

Alíquota: Trata-se da porcentagem cobrada em cima dos seus rendimentos. A alíquota do Imposto de Renda é progressiva: quanto mais você ganha, maior a alíquota. 

Parcela a deduzir: Valor subtraído de sua renda para o cálculo do imposto ser proporcional à sua faixa de ganho.

A Receita Federal fornece uma tabela progressiva com os valores mencionados. 

 

Fonte: Ministério da Fazenda 

 

Depois de somar todos os seus rendimentos tributáveis (salário, pensão, bônus) recebidos mensalmente, verifique em que faixa você se enquadra e faça o seguinte cálculo: Salário x Alíquota - Valor a deduzir do IR. 

Por exemplo: uma pessoa que recebe R $2.730,50, já descontado os valores do INSS, se enquadra na faixa de alíquota de 7,5% e deve pagar, anualmente, R $743,85 de imposto de renda. 

Cálculo: 2.730,50 x 7,5/100 - 142,80 = 61,9875 (esse é o valor mensal de imposto que deve ser pago, multiplique por 12 e você terá  R $743,85 que é o valor anual a ser pago). 

Se você é um profissional com registro em carteira, a empresa desconta o pagamento do IR mensalmente do seu salário, então caso o valor que você tenha em receita seja superior ao valor que deve ser pago, você será restituído, caso contrário, deve pagar a diferença.

 

Como declarar? 

 

O aplicativo “Meu Imposto de Renda” não está mais disponível para download em dispositivos móveis. Para quem deseja realizar a entrega dessa forma, é necessário baixar o aplicativo da Receita Federal. Pelo computador você pode realizar o download do programa de Declaração de Imposto de Renda no próprio site da Receita.  A entrega também pode ser feita de forma online pelo  serviço “Meu Imposto de Renda” no Centro Virtual de Atendimento da Receita (e-CAC). A declaração pré-preenchida estará disponível para os contribuintes a partir do dia 1º de abril. 

 

Quais são os documentos necessários?

 

Para declarar o Imposto de Renda corretamente, é essencial reunir documentos que comprovem rendimentos, bens, direitos, dívidas e pagamentos. Isso inclui informes financeiros, comprovantes de salários, pró-labore, lucros, aposentadorias, pensões, aluguéis, doações e heranças. Também são necessários o Livro Caixa, DARFs( Documento de Arrecadação de Receitas Federais) do Carnê-Leão e informes de programas fiscais como a Nota Fiscal Paulista. Para quem opera com renda variável, é indispensável o controle de compra e venda de ações, apuração mensal do imposto e DARFs correspondentes.  

No caso de bens e direitos, devem ser apresentados documentos de compra e venda de imóveis, matrícula, IPTU e comprovação de participação acionária. Informações sobre dívidas e ônus também precisam ser incluídas. Já os pagamentos e deduções devem ser comprovados por recibos de plano de saúde, despesas médicas e odontológicas, educação, previdência, doações e pagamentos a prestadores de serviços. Caso haja empregada doméstica registrada, é necessário o recibo com o número NIT, um código que permite que trabalhadores autônomos contribuam para o INSS.

Além disso, são exigidos dados pessoais e de dependentes, endereço atualizado, cópia da última declaração entregue, dados bancários e atividade profissional. Dependendo dos bens, podem ser solicitadas informações complementares, como inscrição municipal e registro em cartório para imóveis, Renavam(Registro Nacional de veículos automotores) para veículos e CNPJ da instituição financeira para contas e aplicações. Reunir tudo antecipadamente facilita a declaração e evita problemas com a Receita Federal.

                                                                   Prioridade na restituição 

O processo de restituição ocorre para que os colaboradores recebam valores pagos em excesso ao longo do ano para a Receita Federal. As prioridades no procedimento segue da seguinte forma: 

  • Idosos acima de 80 anos; 

  • Idosos entre 60 e 79 anos, deficicientes ou portadores de moléstia grave; 

  • Contribuintes que possuem como a maior fonte de renda o magistério;

  • Quem optou pela declaração pré-preenchida e/ou receber a restituição pelo pix.

  • Outros contribuintes

 

Dentro de cada grupo de prioridade, recebe primeiro quem entregar a declaração mais cedo. 

Calendário de restituição:

1° lote: 30 de maio

2° lote: 30 de junho

3° lote: 31 de julho

4° lote: 29 de agosto 

5° lote: 30 de setembro
 

Quem não declarar o imposto até o dia estabelecido, corre o risco de pagar multa que corresponde a 20% do imposto em pendência, tendo como valor mínimo de R$ 165,74.

O governo federal apresentou, na terça-feira (18), uma medida que determina a faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até 5 mil mensais. O texto ainda precisa passar por votação no Congresso Nacional e ainda propõe descontos para quem recebe entre R$ 5 mil e R$ 7 mil e taxação mínima para alta renda.  

As cobranças estão previstas para 2 de abril
por
Marcelo Barbosa Prado Filho
|
10/03/2025 - 12h

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recuou mais uma vez. Nessa última quinta-feira (06), o  mandatário adiou, para 2 de abril, o tarifaço de 25% sobre importações do México e Canadá que entrou em vigor nesta mesma semana (04).

Segundo Trump, os importadores norte-americanos não precisarão pagar tarifas sobre nenhum produto que se enquadre no USMCA, um acordo de livre comércio entre EUA, México e Canadá negociado em seu primeiro mandato.

O tratado abrange uma gama extensa de produtos e serviços. Entre eles, produtos agrícolas, manufaturados e de tecnologia.

Na rede social Truth Social, Trump justificou a decisão afirmando que o México tem “trabalhado duro” para garantir a segurança na fronteira: "Nosso relacionamento tem sido muito bom e estamos trabalhando duro, juntos, na fronteira, tanto em termos de impedir que estrangeiros ilegais entrem nos EUA quanto, da mesma forma, impedir o fentanil".

O tarifaço aos países é uma retaliação de Trump que julga que ambos não fazem o suficiente para conter a entrada de  imigrantes e do fentanil - uma espécie de analgésico mais forte que morfina e heroína e que a dependência é um problema de saúde pública nos EUA.

Sobre o Canadá, Trump escreveu na noite de quarta-feira que conversou com o primeiro-ministro do país, Justin Trudeau, mas não está "convencido" de que o governo canadense atuou o suficiente para resolver os problemas de entrada de fentanil e de imigrantes ilegais nos EUA.

Trump confirmou em 10% a elevação na taxa de cobranças contra a China e elevou a alíquota total de taxas para produtos chineses a 20% neste mandato.


Na mira de Donald Trump:

Apesar de não ter sido taxado diretamente, o Brasil pode sofrer com a imposição geral  de 25% para importações de aço e alumínio, que deve entrar em vigor no dia 12 de março.

Segundo dados do Governo Federal, em 2023, os EUA compraram 18% de todas as exportações brasileiras de ferro fundido, ferro ou aço. Em 2024 o país foi o segundo maior fornecedor de aço para os EUA, em volume, de acordo com dados do Departamento de Comércio americano, atrás apenas do Canadá.

Além da taxa geral para esses produtos, Donald Trump também prometeu uma taxa recíproca a países que cobram dos EUA, citando o Brasil: "Em média, a União Europeia, China, Brasil, Índia, México, Canadá e inúmeras outras nações nos cobram tarifas muito mais altas do que cobramos deles, o que é extremamente injusto", disse Trump, em longo discurso no Congresso dos EUA, na terça-feira (4).”

Além de ferro e aço, o petróleo e o café são as principais exportações do Brasil para os estadunidenses.


Imagens: Agência Brasil

Medida irá impactar benefícios que excedem limite constitucional recebidos pelos “funcionários de elite
por
Marcelo Barbosa
|
06/12/2024 - 12h

 

O Governo enviou na segunda-feira (02), ao Congresso Nacional, a PEC que detalha uma série de medidas para conter os gastos das contas públicas. O intuito é gerar uma economia de mais de 300 bilhões até 2030.

A proposta visa alterações essenciais para aumentar a arrecadação e manter os limites do Arcabouço Fiscal. Uma das mudanças apresentadas está na redução dos chamados “supersalários” de servidores públicos.
 

Salário e adicionais no serviço público: regras e limites na teoria

Os servidores públicos têm um teto salarial estabelecido em R$44.008,52 mensais, além dos benefícios e adicionais, desde que observadas as regras específicas de cada caso.

O auxílio-moradia, por exemplo, é restrito a situações em que não haja imóvel funcional (cedido pela União para o funcionário público) disponível na localidade; o agente não more com outra pessoa que já ocupe um imóvel funcional ou receba o benefício; ou quando o servidor não possua residência própria na região.

Já o adicional de férias não pode superar um terço da remuneração e deve ser limitado a períodos de até 30 dias por exercício. Da mesma forma, as férias não aproveitadas só podem ser pagas em casos de demissão, aposentadoria ou falecimento, respeitando o limite de 30 dias por exercício.

Entre os auxílios mais comuns no cotidiano do servidor, o auxílio-alimentação tem seu valor máximo fixado em até 3% do teto salarial, o mesmo limite aplicado ao auxílio-transporte. Para filhos ou dependentes de até cinco anos, o auxílio-creche também é regulamentado, com um valor que não deve exceder 3% do teto por dependente.

Além disso, benefícios como o 13º salário, adicional noturno, remuneração por serviços extraordinários e aviso prévio proporcional ao tempo de serviço estão garantidos. Em ambientes de trabalho insalubres, o adicional de insalubridade é assegurado. Ressarcimentos relacionados ao exercício da função, como indenizações pelo uso de veículo próprio em serviço, são limitados a 7% do teto. Também está previsto o reembolso de mensalidades de planos de saúde, que pode chegar a até 5% do teto.

O salário-mínimo do trabalhador médio está em R$1.412 e, com as projeções do PIB para 2025, a previsão é de que chegue em R$ 1.525,00.  Professores, por exemplo, têm, em média, um salário de RS 4.250,00 reais, constatou o Glassdoor, uma plataforma online sobre o mercado de trabalho.  

No entanto, apesar do teto estabelecido ser de R$ 44.008,52 mensais, há diversas exceções e valores extras aos chamados “funcionários de elite”,  responsáveis por atuar em áreas específicas do setor público, como segurança, diplomacia e finanças, e que causam um rombo de até 3,9 bilhões de reais aos cofres públicos, de acordo com um estudo do CLP (Centro de Liderança Pública). 

 

Equipe econômica do governo Lula.
Projeto que pretende acabar com supersalarios enfrenta resistência de militares. Foto: Agência Brasil

Segundo dados do Tribunal de Contas da União (TCU), os salários dos militares reformados custam 16 vezes mais aos cofres públicos do que os aposentados do INSS. O gasto por pessoa com os militares foi de R$ 158,8 mil, enquanto o dos servidores públicos foi de R$ 69 mil e o dos aposentados do INSS foi de R$ 9.400.

A respeito do corte nos supersalários, a economista Cristina Helena Pinto de Mello pontua sobre o forte apelo público da proposta “Quando a gente pega o gasto do Governo com salários de toda a administração pública, incluindo o legislativo e o judiciário, que estão dentro dessa folha de pagamento, essa é uma das maiores despesas”, comenta, mas ressalta que os gastos com juros ainda ultrapassa o valor gasto com supersalários. 

Na segunda-feira (02) o presidente Lula se reuniu com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, outros três ministros do Palácio do Planalto e líderes do Congresso para discutir o tema. 

No caso da aposentadoria dos militares, a resistência das forças armadas fizeram com que o Ministério da Fazenda recuasse e retirasse, temporariamente, a regra da PEC. Entre os pontos do texto que seriam debatidos, estavam o fim da chamada "morte fictícia", que assegura pensão a militares expulsos ou excluídos das Forças Armadas e uma uma transição mais longa para a adoção da idade mínima de 55 anos para a aposentadoria dos militares (o projeto apresentado pela equipe econômica sugere ampliação de 50 para 55 anos). A ideia é implementar uma regra progressiva, permitindo que a exigência de 55 anos seja atingida apenas em 2030.

O Congresso tem apenas três semanas de atividades antes do recesso para apreciar essas medidas, além de outras propostas relevantes, como o projeto que finaliza a reforma tributária e a Lei de Diretrizes Orçamentárias.

Entenda proposta de corte de gastos de R$ 70 bilhões anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad
por
Beatriz Alencar
|
03/12/2024 - 12h

O texto do novo pacote de gastos e aumento da isenção do Imposto de Renda foi anunciado pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira (28), e movimentou opiniões dentro do setor econômico e social, com dólar batendo o valor histórico de R$ 6,11.

.

Ministro da Fazenda Fernando Haddad | Foto: Reprodução/Transmissão Ministério da Fazenda

Mas qual de fato é o objetivo desta pauta que demorou semanas para ser anunciada e o quê isso tem a ver com o salário mínimo e arcabouço fiscal?

Basicamente, a ideia de Haddad de fazer um pacote fiscal agora é tentar cortar R$ 70 bilhões para ajustar a explosão dos gastos públicos projetados para os próximos anos e garantir a sustentação do arcabouço fiscal, medida que tem como objetivo o equilíbrio entre arrecadação e despesas do governo, aprovada no ano passado. 

A primeira mudança citada pelo ministro para cumprir essas metas foi o reajuste no salário mínimo com a adequação aos limites do arcabouço fiscal e inflação, o que significa um ganho real entre 0,6% e 2,5%. Atualmente para o reajuste de salário, o Governo considera a inflação e o Produto Interno Bruto (PIB) do país . 

De acordo com o Economista e pesquisador Emerson Braz, o abono salarial e o teto do reajuste do salário-mínimo são medidas que representam direitos dos trabalhadores que hoje possuem menor representatividade no Congresso Nacional:“ [Isso] faz com que sejam medidas que não sofram ajustes significativos em seus textos na fase de aprovação”.

Braz acrescenta que esse reajuste pode ser uma perda de ganhos reais para os trabalhadores: “Imaginando um cenário em que o PIB possa estar estagnado e o arcabouço apertado, o salário-mínimo (SM) poderá não ter alterações e afetar a economia”, explica. O que pode gerar um problema considerável na desigualdade social ou na superação da pobreza. 

Com o novo pacote, o abono salarial, que é um benefício concedido uma vez por ano ao trabalhador que recebe até dois salários mínimos (R$2.824,00), seria limitado para quem recebe até R$2.640,00 e corrigido pelo INPC - Índice Nacional de Preços ao Consumidor. A medida, ao longo dos anos, irá reduzir a parcela beneficiada, já que o salário cairá gradualmente para um salário mínimo e meio por mês. 

Outra mudança que causou grande movimentação de opiniões foi a medida sobre o Imposto de Renda. Hoje, aqueles que ganham até R$ 2259,20 por mês não pagam imposto. A nova proposta prevê que a isenção será estendida para quem ganha até R$ 5 mil. Só essa alteração deve gerar um impacto de R$ 35 bilhões por ano nas contas da União.

“Essa é uma medida muito interessante e necessária. Pessoas que ganham até R$ 5 mil consomem a maior parte da sua renda e, ao sofrerem menos tributação, terão como destinar maior parte para o consumo, mantendo a economia aquecida”, argumenta o economista.

Como uma forma de cobrir essa isenção, o governo pretende aumentar a tributação para os rendimentos acima de R$50 mil e R$ 1 milhão mensais, como a forma “mais justa” de compensar a queda de arrecadação com a nova faixa de isenção, de acordo com Haddad.

“A alteração na alíquota do IR não deve ser vista apenas com o objetivo de equidade de renda, mas como um instrumento de manter a demanda (de mercado) aquecida”, acrescenta Braz.

O pacote também prevê a reforma das emendas parlamentares, que limita o crescimento das emendas impositivas ao arcabouço fiscal, estabelecendo um teto para o aumento das despesas parlamentares. Além disso, 50% dos recursos das emendas de comissão deverão ser destinados ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

Equipe Econômica, pacote fiscal - Esther Dwek, Fernando Haddad, Simone Tebet, Rui Costa e Alexandre Padilha | Reprodução/Foto: Diogo Zacarias/Ministério da Fazenda

O texto apresentado pela equipe econômica também propõe mudanças na aposentadoria de militares. A medida sugere uma padronização da contribuição dos militares ao Fundo de Saúde e o fim da chamada “morte fictícia”, que garante uma espécie de pensão vitalícia para a família de um militar que foi expulso das forças, na mesma condição de falecimento do servidor. 

Alterações nos benefícios sociais como o Bolsa Família, Benefício de Prestação Continuada (BPC), também foram citadas no texto. Agora, passarão a ter mais regulações, como comprovação por biometria do beneficiado.

“O fato é que a comunicação do Governo para anunciar medidas de austeridade e controle das contas públicas junto com a medida de isenção do IR tornou o cenário caótico”, comenta o economista.

Após um mês de reuniões e tratativas, o presidente do Congresso Nacional, senador Rodrigo Pacheco, explicou que o debate do pacote fiscal será prioridade nas próximas semanas, antes do recesso de fim de ano no Senado. A proposta ainda pode sofrer mudanças nas aplicações ou exclusões de medidas.

por
Maria Eduarda Cury
|
21/05/2020 - 12h

Quando Barack Obama assumiu a Presidência dos Estados Unidos, em 2009, chegou à Casa Branca com a proposta de aumentar a cobrança de impostos para os mais ricos do país. Muito criticado pela oposição, que representava, em grande medida, os interesses da elite americana, o presidente tinha como projeto econômico principal o financiamento de um novo sistema da saúde, a redução do déficit federal e a queda da desigualdade nos EUA.

Embora com um projeto com características de esquerda, o governo de Obama foi criticado, no geral, por ter que se adequar ao sistema republicano do país, levando em conta que grande parte do Congresso era formado por seus opositores políticos. Ainda assim, o presidente, que terminou o seu mandato em 2016, teve um influente papel em redefinir o modelo democrático do país, mais social do que antes.

Como acontece há anos nos Estados Unidos, o sucessor de um presidente democrata tende a ser um republicano, eleito com a expectativa de reequilibrar as forças políticas do país. Empossado em 2016, Donald Trump imprimiu uma mudança agressiva na política econômica, combinando medidas de caráter liberal, como a redução de impostos para corporações e pessoas físicas, com ações protecionistas. Com isso, Trump iniciava uma série de medidas que agradavam os mais conservadores, mas que seriam perigosas para os EUA no futuro.

Durante os três primeiros anos de seu mandato, Trump focou em impulsionar o crescimento econômico por meio de gastos externos e cortes de impostos, o que acabou aumentando bastante o déficit do orçamento federal. Seu protecionismo, especialmente para mercadorias trazidas da China, priorizando sempre o bem-estar dos Estados Unidos, independente de seus aliados, fez com que a renda do país crescesse – afinal, significava que mais produtos internos estavam sendo consumidos, e o cenário já era positivo com a saída de Obama. Além disso, nos três primeiros anos de seu governo, houve uma forte queda no desemprego e um aumento no Produto Interno Bruto (PIB).

Com um fim de governo tenebroso para as classes média e baixa, Trump pode deixar o país em uma situação negativa. Bernie Sanders, que recentemente desistiu da corrida presidencial, já chegou a ser seu principal concorrente – Sanders focava sua proposta econômica em tendências socialistas, assegurando que todos os residentes do país possuem direito a moradia, educação, saúde e aposentadoria. Ele ainda pediu uma Declaração de Direitos Econômicos deste século, garantindo que iria reforçar os direitos e a liberdade civil de cada estadunidense.

Sanders, que declarou ter como inspiração o mandato de 1944 de Franklin D. Roosevelt, focou sua campanha em garantir saúde para todos – especialmente durante a época da pandemia. Os EUA, que possuem um sistema de saúde elitista e caro, acaba impedindo que todos os residentes tenham atendimento de qualidade, o que os leva muitas vezes à prática de autoatendimento, prejudicial e perigosa.

Uma das propostas anunciadas por Sanders foi o cancelamento da dívida médica dos residentes dos Estados Unidos, que chega a US$ 81 bilhões, assim como a eliminação total da dívida estudantil, que fecha em cerca de US$ 1,6 trilhão – levando em conta todo o território do país. Sanders também declarou que aumentaria o salário mínimo federal – hoje de US$ 7,25 por hora – para US$ 15 dólares por hora.

Além disso, Sanders acrescentou em sua proposta que continuaria o projeto de Obama para taxar os mais ricos e as corporações dos Estados Unidos, com uma porcentagem proporcional à riqueza de cada pessoa ou companhia. Mas, devido ao fortalecimento de Trump e Joe Biden, que é de seu partido, Sanders acabou saindo da disputa para apoiar Biden, vice-presidente de Obama que hoje concorre ao cargo de presidente.

Biden, que já apareceu à frente de Trump em algumas pesquisas, promete reestruturar o sistema de inadimplência, o que significa que muitos dos indivíduos podem tentar sua reinserção no mercado de trabalho novamente e com mais facilidade.

Aproximando-se do modelo da senadora Elizabeth Warren, que desistiu da candidatura presidencial, Biden promete trabalhar para que as pessoas consigam adquirir seus direitos e aliviar as dívidas da população por meio do sistema de falência. Além disso, os estudantes poderão quitar suas dívidas, o que os ajudará a recomeçar suas vidas. Biden também se comprometeu a diminuir as disparidades raciais e de gênero presentes no sistema de inadimplência, além de cortar brechas que permitem que as corporações abusem dos estadunidenses em situação financeira negativa.

Como vice de Obama e atual representante democrata, Biden deve utilizar seu espaço para dar continuidade aos projetos do ex-presidente, com enfoque na situação atual. Enquanto promete dar uma nova cara ao projeto econômico estadunidense, ele também promete um melhor direcionamento para as políticas contra o coronavírus.

Uma resposta econômica decisiva que começa com licença remunerada de emergência para todos os afetados pelo surto e dá toda a ajuda necessária aos trabalhadores, famílias e pequenas empresas que são duramente atingidas por essa crise. Não se engane: isso exigirá um conjunto imediato de medidas econômicas ambiciosas e progressivas e mais ações decisivas para enfrentar o maior choque macroeconômico causado por esse surto”, diz o site de sua campanha.

As propostas de Biden, caso eleito, podem reestruturar a economia no modelo Obama/Sanders e, ainda, oferecer um melhor financiamento para estudantes e para estadunidenses gravemente afetados pelo coronavírus – um dos principais alvos de crítica no governo de Donald Trump atualmente.

Foto da capa: Em evento na Filadélfia, Joe Biden anuncia pré-candidatura à Presidência, em maio de 2019. Foto extraída do Facebook de Biden. 

por
Vanessa Loiola
|
21/05/2020 - 12h

A crise provocada pela  pandemia de Covid-19 representou um duro golpe para o setor aéreo. Após a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendar medidas restritivas para tentar conter a propagação do novo coronavírus, as empresas de aviação sofreram com o fechamento das fronteiras e o cancelamento e adiamento de voos. Para amenizar os impactos, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está coordenando, em parceria com o Banco do Brasil e um consórcio de bancos privados – integrado por Bradesco, Itaú e Santander – um pacote de financiamento para as três maiores empresas do setor:  (Gol, Latam e Azul). 

Os recursos serão destinados ao pagamento de fornecedores e despesas administrativas e fixas, como aluguel, manutenção, estacionamento dos aeroportos e salários de funcionários, a fim de evitar a falência das empresas. Outra medida usada para amenizar a crise na aviação é incentivar os funcionários a tirarem licença não remunerada, antecipar férias, reduzir de maneira temporária jornadas de trabalho e salários, inclusive de executivos, para assim impedir demissões em massa.

De acordo com a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), em matéria publicada no portal UOL em 11 de abril, cerca de 85 a 87% dos passageiros estão fazendo a prorrogação ou alteração da data das viagens.  De 13 a 15% dos viajantes, por sua vez, têm pedido reembolso. O prazo para que as empresas devolvam o dinheiro dos passageiros foi prorrogado por até 12 meses.

A Associação Brasileira das Operadoras de Turismo (Braztoa) divulgou um estudo que aponta que o cancelamento e adiamento de viagens causou um impacto de aproximadamente R$ 3,9 bilhões no turismo em relação ao mês de março, ou seja, 25% do faturamento de 2019. Os cancelamentos afetaram 98% das companhias aéreas. Para 36% das empresas, a suspensão das viagens ficou entre 70 e 100%. 

Em relação ao final de março e início de abril do ano passado, o volume de voos regulares está 48% menor e foram removidos mais de 20 milhões de assentos das empresas aeroviárias mundiais. A Latam anunciou redução de 95% das operações em abril deste ano e a Gol fez a suspensão de todos os voos internacionais até o fim de junho, além de uma redução das operações domésticas e internacionais em 70%.

A demanda por viagens aéreas domésticas registrou uma queda de 32,84% no mês de março, em comparação ao mesmo mês no ano de 2019, segundo dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O número de passageiros transportados em voos domésticos teve um recuo de 35,46% ainda em março, diante de igual período do ano passado. No total, foram transportados 4,9 milhões de pessoas, o que indica a menor quantidade para o mês desde 2009. 

Além disso, a procura por viagens aéreas internacionais entre as empresas de aviação nacionais recuou 45,38%, na comparação com o mesmo mês de 2019. Com isso, o estudo indica o menor volume de demanda para março desde 2010. Fazendo uma comparação no setor de transporte de carga e correio, a redução foi de 17,52% no segmento doméstico em relação a 2019. No mercado internacional a queda foi de 21,17%. 

Perspectivas para as companhias aéreas pós-pandemia

Fabio Falkenburger, sócio de infraestrutura do escritório de advocacia Machado Meyer e especialista no setor aéreo, analisa que todas as medidas anunciadas pelo governo para amenizar os efeitos da Covid-19 são essenciais para o restabelecimento do turismo. "Para voltar a ter um nível de receita, as empresas teriam de redimensionar o tamanho para ter uma operação lucrativa e rentável. Cada companhia vai ter de medir os impactos que teve", destaca.

Fabio diz que a retomada será tênue e que as pessoas começarão a perder o medo de viajar para fora aos poucos, encorajadas pela política de prevenção de cada empresa no período pós-pandemia. "A primeira onda de retomada vai ser de voos domésticos, relacionados a trabalho, e após, os voos de lazer", avalia. 

Levando em consideração as medidas adotadas até agora, o especialista projeta para o segundo semestre a retomada do transporte aéreo. Apesar do cenário incerto, Fabio  avalia que não há possibilidade de falência das empresas do setor e que será possível garantir a manutenção dos empregos e minimizar os impactos causados pela crise.




 

por
Luana Coggo
|
21/05/2020 - 12h

O novo coronavírus adentrou a sociedade global de forma brusca e inesperada, o que fez com que o modo de vida, as percepções e os valores da população mudassem completamente. De acordo com a Oxfam, entidade da sociedade civil que atua em cerca de 90 países, a crise econômica desencadeada pela Covid-19 pode levar mais de 500 milhões de pessoas para a pobreza e provocar uma recessão global.Para os trabalhadores de baixa renda e principalmente para as pessoas em situação de rua, as consequências serão ainda mais severas.

 

No ritmo de vida, a quarentena imposta tem como único objetivo salvar vidas. Nos jornais, o repertório replica massivamente a importância de ficarmos abrigados em casa, em ambientes desinfetados e sempre lavarmos as mãos. Apesar de todas as precauções tomadas serem essenciais, é preciso ampliar o olhar de preocupação por parte do governo e da população para aqueles que, sem escolha, ficam na linha de frente da vulnerabilidade e risco: os moradores de rua; afinal, eles não têm para onde ir e muito menos como tomar as medidas preventivas necessárias para continuarem em segurança.

 

Social

Atualmente, cerca de um quarto da população brasileira vive abaixo da linha da pobreza, segundo o IBGE. O elevado número de pessoas sem acesso à informação e insumos básicos faz com que os desafios da pandemia sejam ainda maiores. Só em São Paulo, 24 mil pessoas se encontram em situação de rua, de acordo com o último censo da prefeitura. Para essa população, o isolamento social não é uma opção. Com a cidade vazia, as dificuldades se agravam mais ainda: sem pessoas circulando, os moradores de rua encontram menos chances de gerar renda, obter alimento e informações sobre o que está acontecendo com o mundo. Instituições, religiosas ou laicas, que normalmente realizam missões de distribuição de alimentos e suprimentos básicos, pararam suas atividades e diminuíram ainda mais as chances de sobrevivência dessas pessoas.

 

A Prefeitura de São Paulo tem criado centros de acolhida emergenciais, banheiros para higienização, pias públicas, entre outras medidas. Essas ações, contudo, não têm a eficácia necessária, pois a maioria dos centros de acolhida tem proibido a permanência de usuários até as 16h e não suportam todas as pessoas que precisam de ajuda. Para a Arcah (Associação de Resgate à Cidadania por Amor à Humanidade), instituição que luta pela reintegração social e sobrevivência da população em situação de rua, "devemos ter a consciência de que somos todos um, e, diante de uma pandemia, devemos ser ainda mais solidários com os que estão ao nosso redor, especialmente a população em situação de rua, que é ainda mais vulnerável”.

 

Para ajudar no enfrentamento da crise, a instituição criou uma campanha para arrecadar itens de higiene e produtos de limpeza para serem distribuídos nos centros de acolhida da cidade de São Paulo. Além da ajuda social, a instituição oferece à população em situação de rua uma capacitação profissional e socioemocional pelo Horta Social Urbana, projeto principal da organização no momento. O objetivo é formar os cidadãos vulneráveis em agricultura urbana, para que eles, de alguma forma, consigam se inserir no mercado de trabalho; afinal, a economia é outro ponto fundamental da pandemia que tem afetado a população de rua.

Impactos econômicos

Assim como o impacto social, a população de rua deve ser triplamente afetada pelas consequências econômicas da disseminação do coronavírus. Segundo relatório do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia mundial registrará em 2020 o pior índice de desemprego desde a Grande Depressão, em 1929.

Esses dados significam um aumento considerável de pessoas perdendo suas fontes de sustento, ocasionando um maior fluxo de migração para as ruas. No novo relatório da Oxfam, a organização enfatiza: “Isso pode representar um retrocesso de uma década na luta contra a pobreza”. De acordo com o Valor Econômico, o desemprego em países emergentes pode atingir de 1,7 milhão a 7,4 milhões de pessoas extras, além do aumento de 14 milhões de trabalhadores em situação de miséria.

Para o economista Marcos Henrique do Espírito Santo, em um momento de pandemia como este, existe uma enorme necessidade de o poder público conter os impactos negativos. Para isso, o Estado deve gastar, inclusive se necessário imprimir moeda para financiar os gastos. “A renda das pessoas precisa ser garantida de alguma forma; se o mercado não está funcionando, o Estado precisa ampliar a dívida pública”, diz Espírito Santo.

O economista acrescentou que um dos principais problemas é o negacionismo do presidente da República, que se preocupa com os impactos econômicos a longo prazo para as grandes empresas e se esquece do trabalhador de classe baixa que não tem o que comer hoje. Espírito Santo acredita que o auxílio de R$ 600 para os trabalhadores, como medida provisória de minimização de impactos, seja correto, ainda que tenha sido proposto pela oposição no Congresso, e não pelo presidente da República, que a princípio sugeriu o valor de R$ 200. "Eu vejo essa medida como uma medida necessária, de curto prazo, mas insuficiente."

Enquanto isso, apesar de todos os problemas e necessidade de melhora no sistema, a população em situação de rua continua às margens, sem nenhum auxílio emergencial, assistência média, orientação psicológica, nada. Novamente, triplamente afetados. E, se o país continuar caminhando para esta direção, a situação, que hoje é problemática, ficará insustentável.  As ruas passarão a abrigar mais pessoas do que as casas existentes no país, e a fome irá adentrar a vida dos brasileiros de forma nunca antes vista. Olhar para as minorias sociais ao mesmo tempo em que se preocupa em salvar grandes empresas pode ser visto como banal ou perda de tempo para muitas pessoas da classe alta e do poder público, mas, se nada for feito, o Brasil estará fadado a enfrentar uma distopia incapaz de ser solucionada.

 

Foto de capa: "Contraste", de Luiz Alexandre, sob licença CC By 2.0 (https://creativecommons.org/licenses/by/2.0/?ref=ccsearch&atype=rich).

Link da foto: https://www.flickr.com/photos/15774988@N04/2333652473 

 

por
Vitória Macedo
|
19/05/2020 - 12h

O novo coronavírus encontrou a sociedade brasileira em uma situação frágil do ponto de vista econômico, social e político. Além das desigualdades latentes, o desemprego estava em alta e Brasília em chamas com a acirrada disputa entre os poderes Executivo e Legislativo. Como se não bastasse, o presidente Jair Bolsonaro e o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, expunham publicamente suas divergências. A pandemia traz grandes impactos não só para a economia, mas também para o sistema público de saúde.

Segundo a professora de economia da PUC-SP Cristina Amorim, estes impactos já são visíveis. Em entrevista à TV PUC, ela citou as demissões que estão ocorrendo em diversos setores e disse que, com indústria e comércio parados, há riscos de desabastecimento de produtos essenciais. “Os próximos dois ou três anos serão reflexo dessa violenta redução de demanda e de oferta. A retomada do crescimento e da renda dos consumidores não ocorrerá em poucos meses”, avaliou.

Em relação aos gastos públicos, muitas pessoas acreditam que a gestão dos Estados é similar à gestão individual, ou seja, quando o poder público gasta mais do que arrecada, assume uma dívida que põe em xeque o bem-estar social. No entanto, a professora explicou que o argumento é equivocado e não justifica a redução de investimentos na saúde.

“A dívida pública é um instrumento de política econômica, e não um indicador de Estado perdulário. Se a dívida é excessiva ou inadequada à economia, depende da percepção do credor, e não da sua relação como proporção do PIB”, disse Amorim, que pesquisa a economia e a gestão da saúde.

No atual cenário, o sistema público de saúde precisa mais do que nunca de investimentos. A economista afirmou que o Sistema Único de Saúde (SUS), disponível para qualquer pessoa em território brasileiro, tem uma capacidade única de diagnosticar e atender milhões de pessoas, coisa que nenhum plano de saúde faz. Por isso, ele é essencial para o enfrentamento do novo coronavírus.

“A Covid-19 é uma pandemia, ataca populações. O sistema privado de saúde não alcança os cidadãos, apenas os seus clientes”, afirmou Amorim, acrescentando que, apesar de o Brasil ser um país em desenvolvimento, o SUS é superior em relação ao sistema de saúde pública dos Estados Unidos e de muitos países da Europa.

Ainda assim, no Brasil há um processo cada vez mais acentuado de privatização da saúde. Em 2015, foi aprovada a participação majoritária de empresas estrangeiras no setor. Planos como a Amil foram comprados. Em função da pandemia, hospitais públicos e privados de muitos estados, como São Paulo, Rio de Janeiro e Ceará, já estão lotados.

O SUS enfrenta problemas há tempos, principalmente no que diz respeito ao financiamento. Em seu artigo “Sistema Único de Saúde (SUS) aos 30 anos”, publicado em 2018 na revista online Ciência & Saúde Coletiva, Jairnilson Silva Paim, do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, aponta que os municípios foram os entes que sustentaram o SUS para a população. “Mais de 40% dos estados não aplicam o mínimo de 12% na saúde, contudo 100% dos municípios aplicam acima do mínimo de 15% na saúde, chegando à média de 26%.” Diante disso, a estagnação econômica de muitos municípios agrava o problema do SUS, pois as prefeituras ficam à mercê das transferências da União.

Apesar de o SUS possuir conhecimentos acumulados e profissionais experientes, ainda depende do repasse do governo federal, cada vez mais restrito devido à lógica de eficiência, própria do capitalismo e do Estado neoliberal. Isso é expresso na Emenda Constitucional 95, que provocou a diminuição dos gastos públicos e significou uma perda de cerca de R$ 20 bilhões na saúde nos últimos dois anos. O bom funcionamento da rede básica de saúde pode ser essencial para evitar o colapso do sistema como um todo. “O que não pode faltar é a quantidade suficiente de recursos financeiros, materiais e humanos para o SUS tocar essa situação e ajudar a debelar a crise”, expõe a professora de economia.

Para que o sistema não fique sobrecarregado, a pesquisadora acredita ser fundamental o cumprimento do isolamento social recomendado pelo Ministério da Saúde, com base em critérios médicos e científicos. Amorim alertou que quanto menos infectados demandarem assistência médica e hospitalar, maior a capacidade de atendimento e menor o número de vítimas fatais.

A economia é afetada no mundo inteiro. O Fundo Monetário Internacional (FMI) pediu aos países do G20, os mais ricos do mundo, que suspendam o pagamento das dívidas dos mais pobres, e está abrindo linhas de crédito para economias que precisam de dinheiro. Amorim avaliou que para o Brasil é mais interessante recorrer a essas linhas de crédito do que vender as reservas cambiais.

“No Brasil, a União tem recursos para minimizar os efeitos da nossa crise tríplice de saúde, econômica e política. Há várias fontes de recursos. Primeiro a redução da taxa de juros dos últimos quatro anos reduziu o principal dreno dos recursos brasileiros, o custo da dívida interna, e é muito provável que a taxa de juros chegue a zero nos próximos meses”, explicou a economista.

Outra fonte importante de renda que ajuda a diminuir a crise é a emissão de moeda. Segundo Amorim, não há chance de inflação nesse ciclo econômico. “Sempre há outros recursos fiscais que poderiam ser realocados para o combate do coronavírus”, complementou. Mesmo que o Brasil tenha conhecimento em saúde pública e recursos financeiros, a professora acredita que “ a crise política e a decorrente falta de liderança é um entrave crítico para o enfrentamento da situação”.

por
João Pedro Calachi
|
19/05/2020 - 12h

Em função das recomendações de isolamento social da população de São Paulo, o volume de compras online  dos supermercados disparou. Na última semana de março, por exemplo, as entregas mais do que dobraram em relação à média. E esse aumento não indica que os consumidores estão comprando em excesso, mas sim que o delivery está ganhando cada vez mais espaço nestes tempos de quarentena.  

Desde o dia 24 de março, quando a recomendação de isolamento social passou a ser mais difundida entre os paulistas, os super e hipermercados do estado de São Paulo passaram a ser grandes alvos da população, que, em meio às incertezas da Covid-19, correu para  armazenar  mantimentos. A prática foi veementemente condenada por jornais e  nas redes sociais, mas o aumento no volume de compras não se limitou às lojas físicas:  77% dos mercados relataram forte alta nas vendas online entre os dias 16 e 22 de março.

No total, em comparação com a média dos três  meses anteriores, o aumento durante esse período foi de 74% e, consequentemente, 59% das empresas do ramo precisaram realocar mão de obra para o setor online, segundo a Associação Paulista de Supermercados (Apas).

A experiência de fazer compras pela internet, porém, não é  comum entre os brasileiros. Até 2019, apenas 15% dos consumidores faziam uso dos meios tecnológicos para as compras de supermercado, mas, em meio ao novo coronavírus, as novas formas de comunicação foram inevitáveis e necessárias para evitar a disseminação da nova doença. 

Entre os clientes que sempre optavam por comprar nas lojas físicas, está a aposentada Maria Elizete, 67, que se disse surpresa com a funcionalidade do aplicativo “James”, do Pão de Açucar, embora  ainda prefira escolher suas frutas pessoalmente. “Ah... confesso que fiquei com um pouco de medo no primeiro momento, mas, assim que meu neto me ensinou a mexer, deu tudo certo”, comentou. 

Com a boa aceitação, ainda que insubstituíveis para alguns, as compras presenciais perderam espaço para o e-commerce e, nestes tempos de reclusão, não é difícil entender o porquê. Após as primeiras semanas do vírus no estado de São Paulo e a aparente conscientização de parte da população, as vendas online atingiram o ápice de crescimento na última semana de março, ficando 107% acima da média. 

Surpreendidos pela demanda, 52% dos supermercados relataram que tiveram de suspender temporariamente os serviços online para evitar atritos com os clientes, segundo levantamento da Apas. A logística e a operação dos canais virtuais foram os principais problemas apontados pelas empresas do setor nesse período inicial. 

 

 

 




 

Porém, engana-se quem pensa que apenas as grandes redes se adaptaram por meio da tecnologia para manter as vendas e atender a clientela. Localizado na Vila Olímpia, o Mercadinho Nova Cidade, por exemplo, criou um WhatsApp para receber as encomendas. “Seguimos todas as medidas de higiene e estamos fazendo as entregas com luvas e máscaras”, contou Paulo Gomes, dono do estabelecimento. 

Com mais de 6.100 mortes causadas pelo coronavírus no estado de São Paulo, a população parece optar cada vez mais pelas alternativas tecnológicas para compras nos supermercados. De acordo com o levantamento da  Apas, durante a semana de Páscoa (06/04 a 12/04), houve um aumento de 81% no volume de vendas online, mas apenas 15% dos supermercados registraram aumento no volume total de compras, sinalizando assim que a tendência inicial de estocar mantimentos já não é mais realidade e que as compras online estão substituindo, mesmo que por ora, o comércio físico. 

Além disso, ainda em 2019, as previsões de crescimento nas vendas online para 2020 no estado de São Paulo eram de 12% (segundo a FecomercioSP). Após as mudanças comportamentais causadas pelo novo surto epidemiológico, o crescimento da modalidade  ainda não pode ser calculado, mas, a julgar pela aproximação da sociedade com essas tecnologias, assim como pela “familiaridade forçada” que tem ocorrido durante os dias de isolamento, é bem provável que  supere as expectativas.

Em nota, a Apas informou que continua negociando com os fornecedores para manter o abastecimento com preços justos e sugere aos consumidores que realizem compras conscientes e procurem produtos substitutos quando possível. No que diz respeito ao abastecimento dos mercados, a associação enfatizou que os consumidores precisam se programar para as compras online, mas que não é preciso fazer estoque.